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WBA0939_v1.

APRENDIZAGEM EM FOCO

PSICOPATOLOGIA
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: André Pereira Gonçalves
Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso

A disciplina Psicopatologia é de extrema importância para nossa


atuação profissional. Eventualmente, vamos nos deparar com
pacientes que possuem um comportamento que desvia do
padrão social e seremos desafiados a identificar a existência
ou não de alguma psicopatologia. Nesta disciplina, você terá
acesso a conteúdos para compreender o histórico da loucura
em diferentes fases da nossa história, bem como conteúdos do
processo de construção para chegarmos na psicopatologia como
a conhecemos hoje. Devido à complexidade e diferentes formas
de compreender a psicopatologia, você terá acesso a diferentes
concepções sobre o tema e como cada uma pode contribuir para a
compreensão e atuação profissional atualmente. Discutiremos o que
é considerado saudável (normal) e patológico na nossa sociedade.
Serão apresentados os principais manuais de diagnósticos, a nível
nacional e mundial, como o Manual de Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-V) e a Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde
(CID-11) para diagnóstico das psicopatologias. Estes manuais são
a base para nossa atuação prática na área da saúde mental. Além
disso, será apresentado um modelo proposto no ano de 2017
como uma alternativa a estes modelos tradicionais, The Hierarchical
Taxonomy of Psychopathology (HiTOP), que sugere uma nova
proposta para a compreensão dos transtornos mentais de uma
forma dimensional. Por fim, serão apresentadas as psicopatologias
mais prevalentes na população, critérios diagnósticos e como avaliá-
las. Esperamos que, ao final da disciplina, você esteja preparado
para identificar as principais psicopatologias que acometem a
população atualmente.

2
INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 1

Concepções epistemológicas em
Psicopatologia Geral
______________________________________________________________
Autoria: André Pereira Gonçalves
Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso
DIRETO AO PONTO
A forma como a loucura foi vista durante os diferentes períodos
da história foi sendo alterada e ajustada às crenças e contextos.
Um exemplo das crenças sobre a loucura na Grécia Antiga era a
ousadia do homem em tentar obter o controle do seu destino,
o que despertava a ira dos deuses, e por isso era castigado.
Outros acreditavam que os loucos tinham dons especiais que
lhes davam a habilidade de comunicar com o divino e ter acesso
a verdade absoluta. Hipócrates, médico grego considerado o
pai da Medicina, apresentava uma visão diferente, indicando
que o homem teria quatro fluidos corporais (bile negra, bile
amarela, sangue e fleuma), e que o equilíbrio destes é o que
definia o saudável e o patológico. Galeno também seguia a ideia
dos fluidos corporais, e esta perspectiva perdurou por muitos
anos, mas, perdeu espaço novamente por crenças religiosas e
punições divinas. Um marco histórico era a Nau dos Loucos. A
Nau dos Loucos consistia em se livrar dos loucos e vagabundos
– outro termo utilizado, na época, para pessoas consideradas
loucas, que vagavam pelas cidades – colocando-os em barcos e
vagando com eles até deixá-los em terras distantes. Apenas no
ano de 1786, Pinel começo a propor tratamentos para pacientes.
A psicopatologia como disciplina surgiu apenas em 1913.

Atualmente, a psicopatologia pode ser definida como uma grande


área da ciência que estuda as manifestações desajustadas no
campo da saúde mental. Essa área estuda quais são os fatores que
contribuem para o surgimento e desenvolvimento de quadros,
bem como quais são os métodos de diagnóstico e intervenção
para os problemas relacionados à saúde mental. Destaca-se que o
conhecimento sobre psicopatologia necessita da cientificidade e de
dados empíricos. Com a quantidade de informações disponíveis,
não temos mais espaços para achismos e decisões pautadas
em misticismo. Na Tabela 1 estão apresentados os tipos de
psicopatologias mais estudadas.

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Tabela 1 – Tipos de psicopatologias

Tipos de
Definição
psicopatologias

Investigação e compreensão da psicopatologia


por meio da descrição das formas de alteração
Psicopatologia
psíquicas, as estruturas dos sintomas. A tarefa aqui
Descritiva
é buscar, identificar e classificar os sintomas e dar
um nome a este agrupamento de sintomas.
Foca nas vivências dos sujeitos e na experiência
Psicopatologia
individual do sujeito. Não tem o foco apenas no
Dinâmica
patológico, mas também na vivência saudável.

Foco no corpo humano, biológico. Nesta perspectiva,


Psicopatologia
as psicopatologias são compreendidas como o
Médica
mal funcionamento biológico do cérebro.
Compreende o paciente como um ser singular e suas
experiências como únicas. Na visão existencial, o
Psicopatologia
transtorno mental é visto como uma maneira única
Existencial
de existência, que pode ser dolorosa e trágica, um
modo muito particular de existir no mundo.
Foco no comportamento e na cognição manifestadas no
Psicopatologia
mundo. O funcionamento patológico seria a combinação
Comportamental
de comportamentos e pensamentos disfuncionais
e Cognitivista
aprendidas e reforçadas pelas experiências com o meio.
Visão do homem dominado pelo desejo. O sintoma é visto
Psicopatologia como um acordo entre os desejos inconscientes, as normas
Psicanalítica culturais e as possibilidades de satisfação. O resultado
desse conflito é que seria o sintoma psicopatológico.
Compreende as psicopatologias como doenças
Psicopatologia
mentais específicas que tem fronteiras bem
Categórica
demarcadas, ou seja, de maneira individualizada.
Psicopatologia Haveria dimensões em que se torna difícil estabelecer
Dimensional fronteiras entre os diversos quadros patológicos.
Enfatiza aspectos cerebrais, neuroquímicos ou
Psicopatologia neurofisiológicos das doenças e dos sintomas mentais.
Biológica A base de todas as alterações são mecanismos neurais
e de determinadas áreas e circuitos cerebrais.
Transtornos mentais são comportamentos
desviantes que surgem a partir de certos fatores
Psicopatologia socioculturais. Discriminação, migração, estresse
Sociocultural ocupacional, conflitos familiares, desigualdades
sociais etc. A cultura é elemento fundamental na
determinação do que é normal e patológico.

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Trata-se do modelo adotado pelas
Psicopatologia classificações de transtornos mentais. DSM-
Operacional IV e a CID 10. Não são questionadas as
naturezas da doença.
Proposto pelo psicanalista francês Pierre Fedida. Centra
a atenção sobre os fundamentos de cada conceito
Psicopatologia psicopatológico. Dá ênfase a noção de doença como áthos
Fundamental (sofrimento, paixão, passividade). É um sofrimento-paixão
que ao ser narrado se transforma em experiência e
enriquecimento.

Fonte: Dalgalarrondo, (2018).

Referências bibliográficas
CECCARELLI, P. Psychic suffering from the fundamental psychopathology
perspective. Psicologia em Estudo, 10(3), p. 471-477, 2005.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.
Porto Alegre: Artmed Editora, 2018.

PARA SABER MAIS

Em muitos casos, identificar uma psicopatologia não é uma tarefa


fácil. O limiar entre o que é patológico e o que é saudável (normal)
é uma linha muito tênue e difícil de identificar. A dificuldade é mais
destacada em casos que estão situados no limiar, na divisão entre
uma psicopatologia e um funcionamento saudável. Por exemplo,
um paciente que está passando por uma perda de um parente ou
de um amigo, é comum que ele se sinta mais desmotivado, triste,
choroso e tenha uma perda de interesse por coisas que antes ele
gostava de fazer. Este paciente, devido ao ocorrido, pode ou não
vir a desenvolver uma psicopatologia como transtorno depressivo
mais leve e encontrar o limiar entre os sintomas esperados para
uma perda, e quando isto vira um transtorno depressivo maior, é
um desafio para o profissional, principalmente considerando que as
ferramentas disponíveis para a avaliação psicológica vão mensurar a
7
intensidade dos sintomas, que estão presentes em ambas situações,
em caso de uma tristeza devido à perda e, também, em um caso de
transtorno depressivo maior leve.

Encontrar este limiar em casos mais graves não é tão complexo.


Por exemplo, um paciente com sintomas de alucinação e delírio,
caso chegue no consultório para sua avaliação psicológica,
dificilmente haverá dificuldades em concluir que ele apresenta um
funcionamento patológico, que é característico da psicose.

Vários fatores podem explicar o que é saudável (normal) e o que é


patológico. Diferentes visões sobre o que seria o normal e patológico
são indicadas na literatura. O normal pode ser visto como ausência
de doença, algo inalcançável e utópica, como estatística, como o
nível de bem-estar, como a capacidade para ser funcional. Ou seja,
a normalidade tende a funcionar como um processo e que ela é
subjetiva. Todas estas perspectivas do que seria o normal busca
contribuir para a construção do conceito de normalidade (saudável).

Referências bibliográficas
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.
Porto Alegre: Artmed Editora, 2018.

TEORIA EM PRÁTICA

Um paciente procura o Centro de Atenção Psicossocial com sintomas


característicos de transtorno depressivo maior. Ele relata insônia,
humor deprimido, ganho de peso acentuado, perda de interesse
por coisas que antes tinha prazer e dificuldade para dormir. O
paciente apresenta sofrimento e prejuízos por sua condição.
Quando um psicólogo presta seus serviços em ambientes de
saúde pública, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ele

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necessariamente trabalhará com o diagnóstico de psicopatologias,
e no caso relatado, terá que fechar um quadro diagnóstico para o
paciente. Para isso, o profissional deverá utilizar como base para
sustentação do diagnóstico a Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Qual tipo
de psicopatologia é investigado neste caso, e quais são as limitações
encontradas por utilizar este tipo de psicopatologia?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

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Indicação 1

No texto sugerido, os autores buscam conduzir os leitores à


compreensão do conceito psicopatologia. Trazem, ainda, uma
importante discussão sobre as contradições que são observadas na
área. Para acessar o artigo, busque na internet pelo título indicado.

MORAES, F. C. F. S.; MACEDO, M. M. K. A noção de psicopatologia:


desdobramentos em um campo de heterogeneidades. Ágora (Rio J.),
Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 83-93, 2018.

Indicação 2

No texto sugerido, o autor busca trazer duas críticas a uma


importante obra para a área da psicopatologia, o livro A História da
Loucura de Michel Foucault. A contestação do internamento como
a única solução encontrada para lidar com a loucura e o domínio
exercido pelas concepções médicas em seu tratamento.

VIEIRA, P. P. Reflexões sobre A História da Loucura de Michel


Foucault. Revistas Aulas, Campinas, v. 1, n. 3, 2007.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

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1. Durante o período da Renascença, uma prática de exclusão social
dos loucos chamou atenção. Para “limpar” as cidades, muitas
cidades europeias trancafiavam os loucos e os ditos vagabundos
em instituições de isolamento. Porém, o que mais chamou
atenção como forma de exclusão e de livrar a cidade dos loucos e
que ficou marcado na história foi/foram:

a. As fogueiras em que as pessoas com desajustes eram jogadas


e que foi chamado de período da inquisição.
b. A Nau dos Loucos, que eram embarcações em que os loucos
eram depositados e condenados a vagar pelas águas até
serem despejados em uma terra desconhecida.
c. Os hospitais lotados em que os loucos eram jogados e
maltratados.
d. Os loucos não eram excluídos nessa época, mas acolhidos
pela sociedade.
e. Uma corrente enxergava os loucos como seres divinos que
tinham acesso a verdade absoluta dos deuses.

2. Ao longo da história, os loucos eram excluídos do convívio


social sem nenhuma proposta de tratamento. Quando isto
começou a mudar e quem foi o responsável por olhar para
estes pacientes com mais humanidade?

a. A partir do surgimento da Psicanálise e Freud que os pacientes


começaram a ser tratados de forma mais humana.
b. Não há um nome de destaque para a virada de percepção dos
loucos; isso aconteceu devido as diferentes abordagens em
Psicologia.
c. Philippe Pinel foi pioneiro em tentar algum tipo de intervenção
para amenizar os sintomas e sofrimento dos pacientes com
alguma psicopatologia.

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d. Os loucos, ainda hoje, são segregados, e não existem
tratamentos adequados para as psicopatologias.
e. Os padres foram os primeiros a acolher os loucos e a buscar
tratamento pautado na ciência para a loucura.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: Destaca-se na literatura da visão do louco no
período Renascentista a prática de pôr os loucos em barcos
para que eles fossem para longe das cidades. Era uma forma de
se livrar e enviar o problema para longe, para que outra cidade
pudesse ser responsável por eles.
Questão 2 - Resposta C
Resolução: Philippe Pinel foi pioneiro no tratamento dos
portadores de sofrimento mental no ano de 1786. Pinel foi
psiquiatra no asilo de Bicêtre e Salpêtrière, hospitais franceses
que viriam a ser parte do hospital geral. Com Pinel, nasceu
uma psiquiatria que pela primeira vez pretende tratar o louco
como um ser humano. Por meio de estudos e observações de
comportamentos, ele propunha intervenções nestes pacientes.

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 2

Terminologia geral em
psicopatologia
______________________________________________________________
Autoria: André Pereira Gonçalves
Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso
DIRETO AO PONTO

O conhecimento sobre os principais termos utilizados em


psicopatologia é fundamental para a atuação do profissional. Muitos
erros na atuação acontecem devido à falta de informação correta sobre
a diferenciação, por exemplo, de delírio e alucinação ou o que fazem
com que algo seja classificado como doença, síndrome ou transtorno.
Na Tabela 1 estão apresentados os principais termos e conceitos.

Tabela 1 – Principais conceitos em Psicopatologia

Termos Conceitos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs uma definição
ampla para a saúde que não abrange apenas a ausência
de uma doença instalada, mas, sim, que a saúde seria um
Saúde uma condição de bem-estar físico, mental e social. Pode-se
perceber que o amplo conceito de saúde abrange questões
mentais, ou seja, um sujeito com transtornos mentais não
preencheria os critérios de saúde preconizados pela OMS.
Descrição por parte do paciente, sobre alguma coisa que esteja
sentindo. Descrição de algo que o incomode, tanto na sua
Sintomas
descrição quanto no seu funcionamento mental, que passa
a ser patológico por meio da observação do profissional.
Ordenação e classificação das doenças. É uma taxonomia
Nosologia
que visa auxiliar profissionais para o diagnóstico.
Nosografia Ordena as enfermidades por um o aspecto meramente descritivo.
Estudo das causas, ou seja, o que causa o surgimento
Etiologia
e manifestação de determinada psicopatologia.
Sintomas específicos que provocam alterações no organismo e
Doença
que podem ser observadas ou verificadas por meio de exames.
Síndrome Podem ser multifatoriais e não são propriamente identificadas.
Manifestações psicológicas associadas a comportamentos
Transtorno
disfuncionais e desajustados. Conjunto sindrômico.
O diagnóstico é uma ferramenta científica com objetivo de
identificar e classificar um conjunto de sintomas e sinais. Ou seja,
Diagnóstico por meio do conjunto de sintomas chegar a uma conclusão se
um paciente tem ou não um quadro psicopatológico. Em caso
positivo, deve-se identificar qual é a psicopatologia do paciente.
Crenças fixas e rígidas que não são superadas mesmo
Delírio quando demonstrada para o paciente, com evidências de
que estas crenças não são compatíveis com a realidade.

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Alucinações são experiências similares à percepção com
Alucinação
as diferenças que ocorrem sem um estímulo externo.

Fonte: APA (2014) e Dalgalarrondo (2018).

Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. O Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. São Paulo: Artmed Editora, 2014.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.
Porto Alegre: Artmed Editora, 2018.

PARA SABER MAIS

Entrevistas são ferramentas importantes dentro dos atendimentos


de pacientes com problemas relacionados à saúde mental. Estas
podem acessar algumas informações que contribuem para a
compressão global do fenômeno, bem como possíveis alterações
devido a questões orgânicas e possíveis hereditariedades em
algumas psicopatologias.

Um instrumento muito utilizado dentro do contexto de saúde


mental é a anamnese. Muitos profissionais acabam associando
qualquer entrevista inicial com o termo anamnese, porém, essa
entrevista tem características específicas.

A anamnese é uma entrevista completa que visa investigar histórico


de psicopatologia, histórico de doenças e condições que podem
estar interferindo na saúde mental do paciente. Uma anamnese
tradicional é composta por:

1. Identificação.
2. Queixa principal (QP).
3. História da moléstia atual (HMA).

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4. Revisão de sistemas.
5. História patológica pregressa.
6. História familiar.
7. História social/hábitos de vida.

Anamnese é uma ferramenta muito útil na saúde mental, e em


outras problemáticas que o paciente venha a apresentar. Faz-se
necessária a diferenciação da anamnese com versões específicas
para crianças e outra específica para adultos, considerando as
particularidades de cada faixa etária. As crianças e adolescentes
necessariamente devem estar acompanhadas dos pais ou
responsáveis legais. Alguns pacientes adultos, a depender do nível
de prejuízos que apresentam, também devem ser acompanhados
por uma pessoa capaz de responder os itens da anamnese para o
paciente.

TEORIA EM PRÁTICA

Um paciente procura atendimento relatando estar sendo


perseguido. Ele conta que já foi a polícia, deu queixa, porém, a
polícia não fez nada e o encaminhou para o Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS). Indica que essa perseguição começou no
início da fase adulta e já dura por 3 ou 4 anos. Conta que não sabe
exatamente o que o segue, nunca conseguiu ver a pessoa, mas
sabe que é alguém que quer prejudicá-lo. Diz suspeitar de alguém
do trabalho que quer seu cargo. Não existe nenhuma evidência
de que o paciente esteja realmente sendo seguido. Chamado um
familiar, este confirma que o paciente já teve comportamento
parecido anteriormente, e nunca ninguém o seguia. Trata-se de um
delírio ou uma alucinação? Qual transtorno tem esse sintoma como
características? Você usaria anamnese com paciente ou familiar?

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Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,
acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O artigo traz informações importantes sobre a construção do


conceito de saúde. A compreensão desse conceito é fundamental
para todas as áreas da saúde, e para psicopatologia não é diferente.
Para acessar o artigo, busque na internet pelo título indicado.

SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Physis: Revista de saúde


coletiva, Rio de Janeiro, 17(1), p. 29-41, 2007.
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Indicação 2

O artigo indicado traz importante contribuição na área da


psicopatologia por tratar de dois sintomas que são a base da
esquizofrenia. Este transtorno configura-se como um dos mais
graves, trazendo prejuízos para o paciente em diversas áreas da
vida. Para acessar o artigo, busque na internet pelo título indicado.

SOUZA BRITTO, I. A. G. Sobre delírios e alucinações. Revista


Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo,
6(1), p. 61-71, 2004.

QUIZ
Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a
verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Sintomas específicos que provocam alterações no organismo,


que podem ser observadas ou verificadas por meio de exames.
Refere-se a:

a. Sintoma.
b. Doença.
c. Transtorno.
d. Síndrome.
e. Saúde mental.

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2. A anamnese é uma entrevista completa que visa investigar
o histórico anterior de psicopatologia, histórico de doenças
e condições que podem interferir na saúde mental do
paciente. Não faz parte de uma anamnese tradicional:

a. Queixa principal.
b. Histórico social.
c. História familiar.
d. Relacionamentos amorosos.
e. Identificação.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: Sintomas específicos que provocam alterações no
organismo, que podem ser observadas ou verificadas por meio
de exames é a definição do termo doença.
Questão 2 - Resposta D
Resolução: Os relacionamentos amorosos não fazem parte
de uma anamnese tradicional. Em casos da necessidade de
investigar esse problema, necessita buscar formas alternativas
de anamnese ou outras entrevistas.

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INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 3

Sistemas de classificação diagnóstico


– Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM-V) e
Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados
com a Saúde (CID11)
______________________________________________________________
Autoria: André Pereira Gonçalves
Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso
DIRETO AO PONTO

O diagnóstico em saúde mental tem como base teórica fundamental


os manuais diagnósticos como sistemas de classificação diagnóstico
o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V)
e a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde (CID-11).

O DSM-V é um manual desenvolvido pela Associação Americana


de Psiquiatria (APA), sendo a versão mais recente publicada. O
DSM-V foi oficialmente publicado no ano de 2013 e é a versão mais
atual do manual. Foram cerca de 12 anos de estudos, pesquisas e
observações que embasaram a construção do DSM-V. O objetivo
de seu desenvolvimento foi atualizar com inclusão, reformulação e
exclusão de diagnósticos que foram indicados por pesquisadores,
por meio dos seus estudos, como defasados. Ao todo, mais de 300
categorias diagnósticas foram inseridas nessa versão do manual.

O DSM-V traz uma importante modificação, ele rompe com o


modelo multiaxial que foi adotado no DSM-III e mantido no DSM-IV.
Nos manuais anteriores, os transtornos eram distribuídos em eixos
com a justificativa de que, com isso, ofereceria uma avaliação mais
completa do paciente, passando por transtornos de todos os eixos.
Essa divisão em eixos não apresenta justificativas ou diferenças para
a realização do diagnóstico o que não justificava sua manutenção
no manual. Outro avanço, muito importante, foi a inclusão de um
modelo alternativo para avaliação dos transtornos da personalidade,
que foi reportado na sessão II do DSM-V, com objetivo de atualizar o
manual em perspectivas mais atuais e empíricas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou a primeira edição


da CID em 1900. Desde a publicação da primeira versão, revisões
foram feitas a cada 10 anos e uma nova edição era publicada com
as atualizações. Uma exceção foi a décima edição, que se manteve
21
atual por 30 anos. Apenas em 2019 uma nova versão da CID foi
publicada, a CID 11.

A classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados


à Saúde (CID) que inclui uma variedade de doenças, transtornos e
síndromes, incluindo os transtornos mentais. Não temos no Brasil,
até determinado momento, CID-11, portanto, a referência no país é
a CID-10, que pode ser utilizada até o ano de 2022.

Ambos os manuais foram construídos em uma visão categórica


dos transtornos mentais. A visão categórica vê os sintomas como
presente ou ausente, ou seja, na dicotomia, a pessoa apresenta
ou não critérios relacionados a uma psicopatologia. Por exemplo,
para diagnóstico de transtorno da personalidade borderline e
necessário a presença de cinco dentre nove critérios listados no
DSM-V. Em caso de o paciente apresentar apenas quatro critérios,
ele não recebe diagnóstico; em caso de apresentar cinco, ele recebe
diagnóstico para transtorno da personalidade borderline. Algumas
críticas que são direcionadas para o modelo categórico são listadas
como a heterogeneidade dos diagnósticos, o alto números de
comorbidades, e a arbitrariedade na definição de quais seriam os
critérios diagnósticos para cada transtorno mental.

Figura 1 – Exemplo do modelo categórico

Fonte: elaborada pelo autor.

22
Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. O Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais 5. ed. São Paulo: Artmed Editora, 2014.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CID-10: Classificação Estatística
Internacional de Doenças com disquete. v. 1. São Paulo: Edusp, 1994.

PARA SABER MAIS

The Hierarchical Taxonomy of Psychopathology (KOTOV et al, 2017) é


um modelo alternativo para compreensão dos transtornos mentais
proposto por um consórcio de pesquisadores renomados no campo
da saúde mental. Este modelo surge com base em estudos que
fazem críticas aos modelos tradicionais que são empregados nos
manuais como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-V) e a Classificação Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID).

O HiTOP, diferentemente dos modelos tradicionais aplicados


no DSM e CID, compreende os transtornos mentais como algo
dimensional. Nesta perspectiva, não é a ausência ou presença de
sintomas que ditam se um paciente tem ou não um diagnóstico
psiquiátrico. No dimensional, todos tem todos os traços ou
sintomas, o que diferencia é o nível em cada traço. Por exemplo,
todos nós temos o traço de personalidade manipulação em
algum nível, porém, níveis extremos neste traço é visto como um
funcionamento patológico da personalidade. O HiTOP apresenta
um modelo hierárquico, em que os transtornos são agrupados
por apresentaram características em comum. Na Figura 2 está
apresentado um exemplo de como o modelo dimensional
compreende os traços e sintomas.

23
Figura 2 – Exemplo de modelo dimensional

Fonte: Kotov et al. (2017).

Na Figura 2, o sintoma humor deprimido, representado pelo traço e


as chaves, mostram os níveis que seriam considerados saudáveis e
patológicos. No modelo dimensional, é a quantidade que importa, já
que todos as pessoas apresentam todas as características.

Referências bibliográficas
KOTOV et al. The Hierarchical Taxonomy of Psychopathology (HiTOP): A
dimensional alternative to traditional nosologies. Journal of Abnormal
Psychology, 126(4), p. 454–477, 2017.

TEORIA EM PRÁTICA

Um paciente procura ajuda do profissional com queixa de que não


consegue manter-se em nenhum emprego, além de ser muito instável
emocionalmente e ter muitas dificuldades nos relacionamentos
interpessoais. No ambiente de trabalho, acredita que as pessoas não
gostam dele, tem pouca paciência perdendo o controle facilmente
com colegas de trabalho, além de atrasos e faltas constantes.
Nos relacionamentos interpessoais, apresenta oscilação entre
amor e ódio pelo outro, além de excessivo apego com familiares

24
e amigos que se sentem incomodados e acabam por afastar do
paciente. Estes comportamentos seguem com o paciente desde a
adolescência acentuando na idade adulta. O profissional verifica que
o paciente apresenta prejuízos e sofrimento com sua condição. A
hipótese diagnóstica do profissional é que se trata de um paciente
com transtorno da personalidade borderline. Porém, ao verificar os
critérios diagnósticos elencados na sessão II do DSM-V, percebe que
o paciente não apresenta critérios suficientes para um diagnóstico de
transtorno da personalidade borderline. Qual seria o procedimento
correto do profissional: Enviar o paciente para casa sem nenhum
diagnóstico? Ou tratar o paciente mesmo que ele não apresente o
número de critérios indicado no modelo categórico do DSM-V?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.
25
Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da
nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

O texto indicado é um artigo científico que vai passar pela história


da Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados
à Saúde (CID). Além disso, traz as principais alterações para a última
versão que será a referência a partir de 2022. Para acessar o artigo,
busque na internet pelo título indicado.

ALMEIDA et al. Classificação Internacional das Doenças -11ª revisão:


da concepção à implementação. Revista de Saúde Pública, São
Paulo, 54, 104. 2020.

Indicação 2

O texto indicado traz as principais alterações realizadas no DSM-5,


detalhando cada aspecto que foi atualizado. É um texto útil para
quem ainda não conhece a fundo o DSM-V e a forma como pode
contribuir para o diagnóstico. Para acessar o artigo, busque na
internet pelo título indicado.

ARAUJO, Álvaro C.; LOTUFO NETO, Francisco. A nova classificação


Americana para os Transtornos Mentais: o DSM-5. Rev. bras. ter.
comport. cogn., São Paulo, v. 16, n. 1, p. 67-82, 2014.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber

26
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. Sobre o modelo categórico, escolha a opção correta:

a. É um modelo de diagnóstico em que todas as pessoas têm


todos os sintomas/traços e o que diferencia são os níveis.
b. É o modelo proposto pelo HiTOP, em que as pessoas são
classificadas conforme apresentam critérios suficientes.
c. É o modelo proposto pelo HiTOP, em que as pessoas têm
diferentes níveis e o que determina se é patológico é a
ausência de saúde.
d. É o modelo utilizado nos manuais como DSM-V e CID-11, em
quem todas as pessoas têm todos os traços e sintomas.
e. É o modelo utilizado nos manuais como DSM-V e CID-11 quem
que o resultado é dicotómico, ou a pessoa tem o diagnóstico
ou não tem. O que determina é o número de critérios
diagnósticos alcançados.

2. Sobre o modelo alternativo apresentado na sessão III do


DSM-V, escolha a opção correta.

a. É um modelo puramente dimensional.


b. É um modelo puramente categórico.
c. Não utiliza aspectos dos modelos categóricos e dimensional.
d. É um modelo híbrido entre modelo categórico e dimensional.
e. O DSM-V não apresenta um modelo alternativo para
transtornos da personalidade.
27
GABARITO

Questão 1 - Resposta E
Resolução: O modelo categórico que é utilizado nos
manuais psiquiátricos utiliza da visão categórica. Nesta visão,
os pacientes precisam apresentar um número de critério
estabelecido e indicado no manual. O resultado é sempre
dicotômico, ou a pessoa tem ou não um transtorno.
Questão 2 - Resposta D
Resolução: Neste modelo apresentado na sessão III do DSM-V,
o diagnóstico de transtornos da personalidade é feito com base
nos modelos categórico e dimensional. Primeiro, avalia-se o
critério A que vai indicar se a pessoa tem ou não um transtorno
da personalidade. O critério B é composto por 25 traços, e a
depender do nível das pessoas nestes traços é que torna-se
possível saber qual perfil patológico o paciente se encaixa.

28
INÍCIO TEMA 1 TEMA 2 TEMA 3 TEMA 4

TEMA 4

Principais transtornos mentais


______________________________________________________________
Autoria: André Pereira Gonçalves
Leitura crítica: Rogério Adriano Bosso
DIRETO AO PONTO

A atuação do profissional na saúde mental é um desafio contínuo


que necessita da dedicação e experiência do profissional. Desafios
surgem diariamente que demandam conhecimento sobre diversos
transtornos mentais para que o profissional possa realizar o
diagnóstico corretamente. Neste ponto, serão apresentados alguns
dos transtornos mentais e o modo geral de funcionamento.

Tabela 1 – Principais transtornos mentais


Caracterizado pela presença de ansiedade e
preocupações exageradas; sensação de incapacidade
Transtorno
de controlar suas preocupações. Apresentam-se
de ansiedade
juntamente com sintomas fisiológicos (por exemplo,
generalizada
tensão muscular e perturbação do sono) e psicológicos
(irritabilidade, dificuldade de concentração).
Corresponde a um surto repentino e inesperado de medo
Transtorno e preocupação ou desconforto intenso. O nível mais
do pânico alto de desconforto é alcançado em poucos minutos. O
evento desencadeador pode ou não ser reconhecido.

Corresponde à dificuldade de relacionamentos nos mais


Transtorno de diversos contextos. Medo e preocupação excessiva de
ansiedade social ser julgado pelos outros. Comportamento de evitação
social para não sofrer com os desconfortos.
É a manifestação mais clássica da depressão. Para
caracterização de um transtorno, e necessário que o
Transtorno
paciente esteja passando pelo menos pelo segundo
depressivo maior
episódio depressivo. Em caso de primeiro ou único
episódio, caracteriza-se o episódio depressivo maior.
Uma forma mais longa e crônica da depressão que pode
atingir entre 3 e 6% da população. A intensidade dos
Distimia
sintomas é menor do que em outros quadros depressivos,
dificultando a identificação, porém são mais duradouros.
São transtornos que, em grande parte dos casos,
configuram-se pela cronicidade. Configura-se pela
Transtornos
presença de sintomas como delírio e/ou alucinação,
Psicóticos
discurso consideravelmente desorganizado,
comportamentos desajustados e sintomas negativos.

30
O transtorno bipolar apresenta aspectos tanto de
transtornos de humor quanto de transtornos psicóticos.
O transtorno bipolar tem uma prevalência entre 1
e 2% da população, e é caracterizado por episódios
Transtorno Bipolar
de alteração do humor de difícil controle. Nessas
alterações, o paciente passa por momentos de profunda
depressão e estados de extrema mania (transtorno
bipolar tipo I) ou depressão e hipomania (bipolar II).

Fonte: adaptada de APA (2014).

PARA SABER MAIS

Os transtornos da personalidade são negligenciados e dificilmente


diagnosticados no Brasil, ou seja, são subdiagnosticados. Estima-
se que cerca de 10% da população apresente um transtorno de
personalidade, podendo chegar a 20% em grupos clínicos (ex.:
depressão; ansiedade). Algumas hipóteses para isso são as grades
dos cursos de Graduação que não trabalham os transtornos
da personalidade. Geralmente, as disciplinas de Psicopatologia
têm o foco nos demais transtornos mentais. Essa deficiência de
profissionais afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes
que, em muitos casos, não têm suas condições diagnosticadas.
Estima-se que pelo menos 7% da população no Brasil apresente
algum diagnóstico de transtorno de personalidade, mas, em sua
maioria, não são identificados (SANTANA et al., 2018).

Utilizando a sessão II do DSM-V, que tem como base para


diagnóstico o modelo categórico, e ainda hoje é o modelo oficial
para diagnósticos de Transtornos da Personalidade, existem dez
transtornos passiveis de serem diagnosticados, a saber: paranoide;
esquizoide; esquizotípico; antissocial; borderline; histriônico;
narcisista; evitativo; dependente; e obsessivo compulsivo (APA,
2014). Na Tabela 2 estão apresentadas as principais características
de cada um dos dez transtornos da personalidade.
31
Tabela 2 – Principais características dos transtornos de
personalidade

Esquizoide Afastamento social e restrita expressão emocional.

Antissocial Desrespeito às leis e regras e comportamentos agressivos.

Narcisista Sentimento de grandiosidade e falta de empatia.

Inibição social, sentimento de inadequação


Evitativa
e uma avaliação negativa de si.

Borderline Instabilidade nas relações e impulsividade acentuada.

Dependente Submissividade e apego excessivo ao outro.

Dificuldade nas relações, distorções cognitivas/


Esquizotípica
perceptivas e comportamento excêntrico.

Desconfiança e suspeita de que o outro


Paranoide
está sempre a prejudicá-lo.

Obsessivo-
Preocupação com ordem, perfeccionismo, controle e rigidez.
compulsiva

Histriônica Intensidade emocional elevada e busca por atenção.

Fonte: adaptada de APA (2014).

Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. O Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais 5. ed. São Paulo: Artmed Editora, 2014.
SANTANA, G. L. et al. The epidemiology of personality disorders in the Sao
Paulo Megacity general population. PloS one, 13(4), 2018.

32
TEORIA EM PRÁTICA

José é um paciente de 23 anos que preenche critérios diagnósticos


para transtorno depressivo maior, e está no seu segundo episódio
depressivo. Foi diagnosticado em um processo de avaliação
psicológica por meio de observações, entrevistas e aplicação de
testes psicológicos. O profissional responsável pelo tratamento,
experiente no tratamento de quadros depressivos, inicia o
tratamento que está acostumado e que tem bons níveis de sucesso
na clínica. Além disso, encaminha o paciente para que possa ter um
tratamento medicamentoso concomitante a psicoterapia. O paciente
faz o uso correto da medicação e tem assiduidade na psicoterapia.
A família fornece todo o suporte bem como a faculdade em que José
está inserido. Porém, o tempo passa e os resultados não têm sido
satisfatórios. O profissional muda o tratamento, tentando adequar
as necessidades do paciente, entretanto, o tratamento ainda não
surte o efeito esperado. Quais as hipóteses para o tratamento não
estar funcionando?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo professor,


acesse a videoaula deste Teoria em Prática no ambiente de
aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Prezado aluno, as indicações a seguir podem estar disponíveis


em algum dos parceiros da nossa Biblioteca Virtual (faça o log
in por meio do seu AVA), e outras podem estar disponíveis em
sites acadêmicos (como o SciELO), repositórios de instituições

33
públicas, órgãos públicos, anais de eventos científicos ou
periódicos científicos, todos acessíveis pela internet.

Isso não significa que o protagonismo da sua jornada de


autodesenvolvimento deva mudar de foco. Reconhecemos
que você é a autoridade máxima da sua própria vida e deve,
portanto, assumir uma postura autônoma nos estudos e na
construção da sua carreira profissional.

Por isso, nós o convidamos a explorar todas as possibilidades da


nossa Biblioteca Virtual e além! Sucesso!

Indicação 1

Nesta obra indicada é possível verificar informações sobre o


transtorno bipolar e as especificidades de funcionamento do
paciente com este transtorno. Além disso, estão descritas as
diferenças entre Transtorno Bipolar tipo I e Transtorno Bipolar tipo
II. Para acessar o artigo, busque na internet pelo título indicado.

LIMA, M. S. D. et al. Epidemiologia do transtorno bipolar. Archives of


Clinical Psychiatry (São Paulo), 32, p. 15-20, 2005.

Indicação 2

O texto indicado apresenta os transtornos mentais mais frequentes


em mulheres e homens. Esta informação pode ser útil para atuação
profissional e na formulação de hipótese diagnóstica. Para acessar o
artigo, busque na internet pelo título indicado.

HIANY, N. et al. Perfil epidemiológico dos transtornos mentais


na população adulta no Brasil: uma revisão integrativa. Revista
Enfermagem Atual In Derme, Rio de Janeiro, 86(24), 2018.

34
QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes neste
Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em Foco
e dos slides usados para a gravação das videoaulas, além de
questões de interpretação com embasamento no cabeçalho
da questão.

1. O transtorno de personalidade atinge cerca de 7% da


população no Brasil. Considerando estudos em outros países,
este número é consideravelmente maior em população
clínicas, podendo chegar a 30%, ou seja, a cada 10 pessoas
com algum outro transtorno mental, 3 também teria um
transtorno da personalidade. Sobre os problemas para
identificar os transtornos de personalidade no Brasil, assinale
a alternativa correta.

a. No Brasil, o número de pessoas com transtornos mentais é


baixo comparado a países de primeiro mundo. Com isso, o
número de transtornos de personalidade como comorbidades
são baixos.
b. Os cursos na área têm maior foco nos outros transtornos e
são insuficientes no ensino de transtornos da personalidade,
o que impacta na capacidade do profissional em identificar
estes transtornos.
c. Não existe problema de subdiagnóstico de transtornos da
personalidade no Brasil.

35
d. No Brasil, a indústria farmacêutica não tem interesse no
diagnóstico de transtornos da personalidade.
e. Os transtornos da personalidade não fazem parte dos serviços
públicos de saúde mental.

2. Apenas uma das características a seguir não está incluída


nos critérios diagnósticos para Transtorno de Personalidade
Borderline. Identifique:

a. Instabilidade emocional.
b. Impulsividade.
c. Tomada de Risco.
d. Suspeita de que o outro quer o prejudicar.
e. Apego.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: Os cursos de Graduação têm pouco foco no
ensino de transtornos da personalidade. A grade tem mais o
foco em teorias da personalidade e menos na praticidade de
identificação destes transtornos.
Questão 2 - Resposta D
Resolução: Suspeita de que o outro quer o prejudicar não
faz parte das características do paciente com transtorno da
personalidade borderline e sim do paranoide.

36
BONS ESTUDOS!

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