Doutoranda em Psicologia Clínica e Cultura – UnB Linha de Pesquisa – Psicanálise, Subjetivação e Cultura DEFINIÇÃO Campbell (1986) define a psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação.
Karl Jaspers (1913/1979), um dos principais
autores da psicopatologia, afirma que esta é uma ciência básica, que serve de auxílio à psiquiatria, a qual é, por sua vez, um conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta.
Raízes na tradição médica, nutre-se de uma
tradição humanística (filosofia, literatura, artes, psicanálise). DEFINIÇÃO A psicopatologia, em acepção mais ampla, pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano.
Pathos (origem grega) – sofrimento;
doença.
Lógos (origem grega) – ciência.
Psicopatologia – estudo dos processos de
sofrimento ou adoecimento psíquico. O CAMPO DA PSICOPATOLOGIA Inclui um grande número de fenômenos humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença mental.
São vivências, estados mentais e padrões
comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências dos doentes mentais possuem dimensão própria, genuína, não sendo apenas “exageros” do normal).
E, por outro, conexões complexas com a
psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um mundo totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”). LIMITES DA PSICOPATOLOGIA Embora o objeto de estudo seja o homem na sua totalidade (Jaspers, 1913/1979), os limites da ciência psicopatológica consistem precisamente em que nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos.
Não se pode compreender ou explicar tudo o
que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos. Sempre resta algo que transcende à psicopatologia e mesmo à ciência. FORMA E CONTEÚDO DOS SINTOMAS A forma dos sintomas: sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, idéia obsessiva, labilidade afetiva, etc.)
O conteúdo dos sintomas: aquilo que
preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). É geralmente mais pessoal, dependendo da história de vida do paciente, de seu universo cultural e da personalidade prévia ao adoecimento. Relacionam-se aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), religiosidade, entre outros. A ORDENAÇÃO DOS FENÔMENOS EM PSICOPATOLOGIA Fenômenos semelhantes em todas as pessoas: fome, sede ou sono. O medo de um animal perigoso, a ansiedade perante uma prova difícil.
Fenômenos em parte semelhantes e em parte
diferentes: todo homem comum pode sentir tristeza, mas a alteração profunda, avassaladora, que um paciente com depressão psicótica experimenta é apenas parcialmente semelhante à tristeza normal.
Fenômenos qualitativamente diferentes: São
praticamente próprios apenas a certas doenças e estados mentais. Os fenômenos psicóticos, como alucinações, delírios, turvação da consciência, alteração da cognição nas demências, entre outros. O CONCEITO DE NORMALIDADE O conceito de saúde e de normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia.
Quando se trata de casos extremos, cujas
alterações comportamentais e mentais são de intensidade acentuada e de longa duração, o delineamento das fronteiras entre o normal e o patológico não é tão problemático.
Entretanto, há muitos casos limítrofes, nos
quais a delimitação entre comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil. Nessas situações, o conceito de normalidade em saúde mental ganha especial relevância. APLICAÇÃO DA CIÊNCIA PSICOPATOLÓGICA
Psiquiatria legal ou forense
Epidemiologia psiquiátrica Planejamento em saúde mental e políticas de saúde Orientação e capacitação profissional Prática clínica CRITÉRIOS DE NORMALIDADE Normalidade como ausência de doença – normal seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. Critério bastante falho e precário, além de redundante, baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, defini-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas por aquilo que ela não é.
Normalidade ideal – a normalidade é tomada
como uma certa “utopia”. Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio”, mais “evoluído”. Tal norma é, de fato, socialmente constituída e referendada. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE Normalidade estatística – o normal passa a ser aquilo que se observa com mais freqüência. É um critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o que é freqüente é necessariamente “saudável”, e nem tudo que é raro ou infreqüente é patológico (sintomas ansiosos e depressivos leves, o uso pesado de álcool etc.).
Normalidade como bem-estar – a Organização
Mundial de Saúde definiu em 1946, a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença (utopia).
Normalidade funcional – o fenômeno é
considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, produz sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE Normalidade como processo – aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários.
Normalidade subjetiva – percepção subjetiva do
próprio indivíduo em relação a seu estado de saúde, às suas vivências subjetivas (fase maníaca ou sujeito que sente-se bem mas provoca um mal- estar no outro).
Normalidade como liberdade – doença mental
(perda de liberdade existencial; “tenho que...” ou “não posso...”).
Normalidade operacional – definição prévia;
arbitrariedade. CRITÉRIOS DE NORMALIDADE Portanto, pode-se concluir que os critérios de normalidade e de doença em psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha e, também, de acordo com as opções filosóficas do profissional.
Além disso, em alguns casos, pode-se utilizar a
associação de vários critérios de normalidade ou doença, de acordo com o objetivo que se tem em mente.
Essa é uma área da psicopatologia que exige
postura permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais. PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA E PSICOPATOLOGIA DINÂMICA Para a psiquiatria descritiva, interessa fundamentalmente a forma das alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas, aquilo que caracteriza a vivência patológica como sintoma mais ou menos típico.
Já para a psiquiatria dinâmica, interessa o
conteúdo da vivência, os movimentos internos de afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos.
A boa prática em saúde mental implica a
combinação hábil e equilibrada de uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva do doente e de sua doença. MANUAIS DE CLASSIFICAÇÃO
CID 10 – Classificação Estatística Internacional
de Doenças, 10ª edição (Organização Mundial da Saúde). Classifica as doenças gerais.
DSM 5 – Manual de Diagnóstico e Estatístico
dos Transtornos Mentais, 5ª edição (Associação Americana de Psiquiatria). Classifica e descreve os transtornos mentais. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Dalgalarrondo, P. (2019). Psicopatologia e
semiologia dos transtornos mentais. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed. (Cap. 2, 3 e 4).