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Psicopatologia

• PSICOPATOLOGIA

- Ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental - suas causas, as mudanças
estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação (Campbel, 1986)

- Conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano

- Não inclui critérios de valor, dogmas ou verdades a priori

- Busca apenas (1) observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença


mental (2)
1) uma leitura da psicopatologianão é passível de neutralidade absoluta
2) O estudo da psicopatologia pode/deve propor também uma compreensão do funcionamento
psíquico

- Fenômenos humanos - especificidade psicológica (dimensão própria, não apenas “exagero”


do normal) e conexões complexas com a psicologia do normal (não é um mundo estranho às
vivências tidas como normais). Exemplo: Psicopatologia da vida cotidiana (Freud, 1901)
Psicopatologia

• PSICOPATOLOGIA

- Não é prolongamento da neurologia (funções relacionadas ao cérebro) nem da psicologia


(funções mentais)

- Karl Jaspers (1883-1969): ciência básica que serve de auxílio a outros campos do saber,
conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta

- Limites da psicopatologia: nunca se pode reduzir inteiramente o ser humano a conceitos


psicopatológicos – sujeito oculta algo, é portador de um enigma (abordado por outras vias)

- Forma e conteúdo dos sintomas/manifestações psíquicas:


1)Forma: estrutura básica – alucinações, delírios, ideia obsessiva (organizam-se a partir de certa
estruturação psíquica – processo que diz respeito a todos os seres humanos)
2) Conteúdo: temas centrais da existência humana – morte, sexualidade, agressividade,
sobrevivência, ideais (Psicanálise: enigmas do universo humano, tabus irrepresentáveis com os
quais lidamos ao longo da vida sem conseguirmos elaborar em sua totalidade - “não se pode
dizer tudo”)
Semiologia – Sinais e Sintomas

Semiologia psicopatológica é o estudo dos sinais e sintomas dos


transtornos mentais. O signo é um sinal especial, um sinal sempre
provido de significação. Os signos de maior interesse para a
psicopatologia são os sinais comportamentais objetivos, verificáveis
pela observação direta do paciente, e os sintomas, isto é, as vivenĉ ias
subjetivas relatadas pelos pacientes, suas queixas e narrativas, aquilo
que o sujeito experimenta e, de alguma forma, comunica a alguém.
Além de tal dimensão de indicador, os sintomas psicopatológicos, ao
serem nomeados pelo paciente, por seu meio cultural ou pelo
médico, passam a ser “símbolos lingüísticos” no interior de uma
linguagem.
Psicopatologia

• SEMIOLOGIA

- Semiologia = ciência ou estudo dos signos

- Semiologia médica = estudo dos sinais e sintomas (permite identificar alterações físicas e
mentais, ordenar fenômenos observados, formular diagnósticos e empreender terapêuticas)

- Proposta para a disciplina: semiologia dos transtornos mentais – estudo dos signos que dizem
da estruturação e funcionamento psíquico do sujeito (curso habitual e alterações)
Habitual: certa continuidade, “padrão” / experiência singular do sujeito (ex: deficiência)
Alterações: em relação à norma, ao “esperado” / em relação à expectativa do sujeito (ex: usar
drogas, fumar) / indicador de sofrimento psíquico(perspectiva ética do psicólogo)

- Ferdinand de Saussure (1916) – Linguística: “Pode-se, então, conceber uma ciência que estude a
vida dos signos no seio da vida social; [...] chamá-la-emos de semiologia (do grego semeion,
“signo”). Ela nos ensinará em que consistemos signos, que leis os regem”.

- Lacan (1953) – Psicanálise: “Inconsciente se estrutura como uma linguagem”


Psicopatologia

• SEMIOLOGIA

- Signo = sinal provido de significação

- Roman Jakobson (1962) – Linguística: signo composto por significante e significado


Significante: suporte material, veículo do signo
Significado: conteúdo, aquilo que é designado e que está ausente (representado pelo signo)

- Psicopatologia – principais signos: sinais (observáveis) e sintomas (vivência subjetiva


experimentada pelo sujeito)

- Dimensão dupla do sintoma em psicopatologia: indicador e símbolo

- Valor simbólico do sintoma e sua relação com os sinais: “o sentido e valor de um símbolo
dependem necessariamente das relações que ele mantém com os outros símbolos do sistema
simbólico total”.
Ex: Histeria – século XIX e XX / Depressão – século XXI
Psicopatologia

• SEMIOLOGIA

- Sintoma enquanto símbolo: comporta uma dimensão significante (pode desdobrar diferentes
significados na cadeia discursiva do sujeito. Ex: galo de rinha – galo da fazenda – fazendeiro

- Sinais e sintomas não se produzem de forma aleatória – surgem em certas associações


(inclusive e principalmente a nível do funcionamento psíquicoinconsciente)

- Síndromes = definição descritiva de um conjunto momentâneo e recorrente de sinais e


sintomas

- Entidades nosológicas / doenças / transtornos específicos = fenômenos nos quais se podem


identificar (ou pelo menos presumir) um curso relativamente homogêneo, mecanismos
psicológicos e psicopatológicos característicos, antecedentes genético-familiares específicos,
respostas a tratamentos mais ou menos previsíveis.

- Em psiquiatria, trabalha-se muito mais com síndromes do que com entidades nosológicas
específicas
Psicopatologia

• CONCEITO DE NORMALIDADE EM PSICOPATOLOGIA

- Questão controversa no campo da psicopatologia: especialmente nos casos menos graves


(Ex: determinação da tensão arterial para diagnóstico de hipertensão, ou da glicemia para
diabete)

- Definições de saúde e doença mental influenciam e são influenciadas por diferentes


práticas: psiquiatria legal ou forense; epidemiologia, psiquiatria cultural, planejamento em
saúde mental e políticas de saúde, orientação e capacitação profissional, prática clínica

- Critério de normalidade: dependem da perspectiva filosófica, ideológica e pragmática do


profissional:

1) Normalidade como ausência de doença: ausência de sinais ou sintomas


2) Normalidade como ideal: utopia, norma estabelecida como ideal (definida por quem?
Sempre, de alguma forma, será sociocultural)
3) Normalidade estatística: frequência de determinada condição (perspectiva quantitativa)
Psicopatologia

• CONCEITO DE NORMALIDADE EM PSICOPATOLOGIA

4) Normalidade como bem-estar: conceito de saúde pela Organização Mundial da Saúde


5)Normalidade funcional: patológico está relacionado a um fenômeno disfuncional, que causa
sofrimento
6)Normalidade como processo: considera aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial,
transformações, “crises” e reestruturações ao longo do tempo (crianças e adolescentes; idosos)
7) Normalidade subjetiva: percepção subjetiva do sujeito em relação a seu estado de saúde
8)Normalidade como liberdade: possibilidade de transitar sobre o mundo e sobre o próprio
destino
9) Normalidade operacional: critério arbitrário, com finalidades pragmáticas

- Conceito de saúde e normalidade exige postura crítica e reflexiva dos diferentes profissionais
Psicopatologia

Psicopatologia na contemporaneidade: reflexões

O livro sobre nada


(Manoel de Barros)

Tudo que nãoinvento é falso.


Há muitasmaneirassériasde nãodizernada, massó a poesia é verdadeira.
A vida existe na medida em que pode ser contada, narrada. E toda linguagem implica uma
dimensão inventiva, de criação.

Temmaispresençaemmim o que me falta.


O que nos falta diz mais de nós do que aquilo que temos. O que nos faz caminhar em frente
é a busca de algo. Nesse sentido, o que nos falta é motivador de nossos investimentos, de
nosso caminhar.

Melhorjeito que acheipra me conhecerfoifazendoo contrário.


Soumuito preparado de conflitos.
Des-conhecer, liberar-se do a priori, suspender os pré-conceitos, o pré-visível, o pré-dizivel.
Psicopatologia

Psicopatologia na contemporaneidade: reflexões

O livro sobre nada


(Manoel de Barros)

Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.

A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais
fundos desejos.
Escolher trabalhar com o humano é aventurar-se no campo e na experiência da linguagem
“desarrumada”, imprevisível e desconexa que, justamente por isso, pode ser surpreendente.

Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.


“Profanar” a vida para encontrar os caminhos possíveis a cada sujeito.

O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.


Seria um erro da natureza positivista, da natureza científica?

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