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O QUE É SEMIOLOGIA

PSIQUIÁTRICA
Objetivo da aula
1 - esclarecer o que é semiologia;
2 – compreender seu emprego no
exame psíquico.
Um dia escrevi que tudo é autobiografia, que a
vida de cada um de nós a estamos contando em
tudo quanto fazemos e dizemos, nos gestos, na
maneira como sentamos, como andamos e
olhamos, como viramos a cabeça ou apanhamos
um objeto no chão. Queria eu dizer então que
vivendo rodeados de sinais, nós próprios somos
um sistema de sinais.
José Saramago (Cadernos de Lanzarote, 1997)
A semiologia, segundo Ferdinand
Saussure, é o estudo da vida dos
signos no seio da vida social; ela
engloba a lingüística e se integra na
psicologia, como ramo da
psicologia social.
Ferdinand Saussure
Notável lingüista suíço, nasceu em 1857, em Genebra (Suíça), e
faleceu em 1913.
O que é semiologia?
Semiologia é a parte da medicina relacionada ao estudo dos sinais e
sintomas das doenças humanas e animais. Vem do grego
σημειολογία (semeîon, sinal + lógos, tratado, estudo).

A semiologia é muito importante para o diagnóstico da maioria das


enfermidades.
O que é sintoma?
Sintoma é toda a informação subjetiva descrita pelo paciente.
Não é passível de confirmação pelo examinador, já que é
uma sensação do paciente (dor de cabeça, por exemplo).
Refere-se, unicamente, à percepção de uma alteração por
parte do doente.

A anamnese ou em nosso caso, o exame psíquico, é a parte


da semiologia que visa revelar, investigar e analisar os
sintomas.

Cerca de 80% dos diagnósticos são realizados baseados nessa


parte do exame, na chamada história clínica do paciente.
O que é sinal?
Sinal refere-se a toda alteração objetiva, que é
passível de ser percebida pelo examinador (uma
mancha na pele, um sopro cardíaco, por
exemplo).
A semiologia médica estuda, também, a maneira
de revelar (anamnese, exame clínico, exames
complementares) e de apresentar (observação,
tabelas, síndromes, entidades nosológicas) esses
sintomas, com o propósito de se estabelecer um
diagnóstico.
O signo é um elemento nuclear da semiologia, é
um sinal especial, um sinal é sempre provido de
significação.

Em psicopatologia, se trata particularmente dos


sinais que indicam a existência de sofrimento
mental, transtornos e patologias.
Os signos de maior interesse para a
psicopatologia são:
1 - os sinais comportamentais objetivos,
verificáveis pela observação direta do
paciente;
2 - e os sintomas, isto é, as vivências
subjetivas relatadas pelos pacientes,
suas queixas, aquilo que o paciente
experimenta e, de alguma forma,
comunica a alguém.
O que é diagnóstico?

di.ag.nós.ti.co: s. m. Qualificação dada por um médico a uma enfermidade ou


estado fisiológico, com base nos sintomas que observa; diagnose.

O que é prognóstico?
prog.nós.ti.co: s. m. 1. Conjetura sobre o que deve acontecer. 2. Med. Parecer do
médico acerca do seguimento e desfecho de uma doença. 3. Agouro, presságio.

Fonte(s): Dicionário Michaelis


Síndromes: agrupamentos relativamente
constantes e estáveis de determinados
sinais e sintomas. É puramente uma
definição descritiva.
Entidades nosológicas: doenças ou transtornos
específicos nos quais se pode identificar, ou ao
menos presumir, com certa consistência
determinados fatores causais, um curso
relativamente homogêneo, estados terminais
típicos, mecanismos fisiopatológicos e
psicopatológicos característicos, antecedentes
genético-familiares específicos e respostas a
tratamentos mais ou menos previsíveis.
Em psicopatologia se trabalha muito mais com
síndromes do que com doenças específicas.
A coleta de sinais e sintomas são realizados por
procedimentos semiotécnicos por meio da
anamnese , do exame psíquico e do exame
físico.

Esta coleta pode configurar um diagnóstico


clínico, elencado na CID-10, que é o Classificação
Internacional de Doenças, elaborado pela
Organização Mundial da Saúde e abrange todo o
espectro de doenças humanas.
TEMAS QUE FREQUENTEMENTE SE
EXPRESSAM NO CONTEÚDO DOS
SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS
TEMAS EXISTENCIAIS QUE FREQUENTEMENTE SE EXPRESSAM NO
CONTEÚDO DOS SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS

Temas centrais para o ser humano O que busca e deseja

sexo prazer
alimentação
conforto físico

dinheiro segurança/Controle sobre o outro


poder
prestígio
TEMORES QUE FREQUENTEMENTE SE EXPRESSAM NO CONTEÚDO DOS
SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS

Temores centrais para o ser humano Formas comuns de lidar com tais
temores
Morte Religião/mundo místico
Continuidade pelas novas gerações

Ter uma doença grave Vias mágicas/medicina/psicologia,


Sofrer dor física ou moral etc.
Miséria

Falta de sentido existencial Relações pessoais significativas


FUNÇÕES PSÍQUICAS:

1- Consciência
2- Orientação Funções primárias
3- Atenção
4- Memória
5- Sensopercepção
6- Pensamento
7- Afeto
8- Linguagem
9- Inteligência
10- Conduta
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS
CONFORME OS
TRANSTORNOS
FUNÇÕES PSÍQUICAS MAIS AFETADAS
NOS TRANSTORNOS PSICORGÂNICOS
- Consciência
- Atenção
- Orientação
- Memória
- Inteligência
- Linguagem
FUNÇÕES PSÍQUICAS MAIS AFETADAS
NOS TRANSTORNOS AFETIVOS,
NEURÓTICOS E DE PERSONALIDADE

- Atenção (quadros afetivos: mania)


- Afetividade
- Vontade
- Psicomotricidade
- Personalidade
FUNÇÕES PSÍQUICAS MAIS AFETADAS
NOS TRANSTORNOS PSICÓTICOS

- Sensopercepção
- Pensamento
- Vivência do tempo e do espaço
- Juízo de realidade
- Vivência do eu
- Linguagem
SITUAR O CURSO
A avaliação psicológica é uma avaliação que visa ao
estabelecimento de um diagnóstico psiquiátrico/psicológico,
à criação e ao desenvolvimento de uma aliança de trabalho,
um planejamento terapêutico e um prognóstico do paciente.

A avaliação psicológica deve fazer um corte longitudinal da


vida do paciente, obtendo dados referentes à sua biografia e
à história de sua doença atual.

Em seguida, obtêm-se os dados de um corte transversal


(Exame psíquico), referentes ao estado do paciente no
momento do exame.

O exame psíquico, correspondente a um corte transversal na


vida do paciente, compreende as funções psíquicas que
devem ser observadas e/ou deduzidas para a realização de
um diagnóstico.
RETOMANDO .....
Para a realização de um psicodiagnóstico é necessário:
 
Realizar exame do estado mental do paciente
Colher a história do paciente
Aplicação de técnicas psicológicas específicas (testes,
escalas, etc.)
 
Obs.: - não há exames para confirmar o
psicodiagnóstico
- o diagnóstico é importante para definir o
tratamento.
 
 
Estrutura da anamnese
 
1. Identificação:- sexo, idade, procedência, estado civil, residência, profissão
  
2. Queixa e Duração : queixa (terreno a ser explorado inicialmente), início do quadro
atual
 
3. História da moléstia atual: Quando a doença começou ? Houve algo que
precipitou ? Como a doença evoluiu ? Qual a gravidade ?
 
4. Antecedentes familiares: hereditariedade, influência do ambiente familiar
 
5.Antecedentes Pessoais: Gestação, parto, nascimento, infância, adolescência, vida
escolar, situação sócio-econômica.
 
6. História Médica/Uso de Medicamentos : Quando, como, por que, quais?
Obs: atenção especial aos aspectos neurológicos e endócrino(T3, T4, TSH)
 
7. Uso de Drogas: Quando, padrão de uso, quais?
Obs: ponderar o diagnóstico
ANAMNESE
A anamnese envolve:
 
- Aspectos objetivos: sensopercepção do profissional
- Aspectos subjetivos: empatia: compreensão intuitiva do mundo
interno do outro.
 
A anamnese depende:
 
- estilo pessoal
- estrutura da anamnese
- conhecimento de psicopatologia
- atitude do profissional em relação ao paciente
- cooperação do paciente (confiança)
- auxílio de informantes
 
 

EXAME PSÍQUICO
Através do exame psíquico se obtém a expressão da doença em determinado
momento.
 
Examina-se:
 
1- Apresentação e Comportamento
- Cuidados pessoais, atitudes em relação ao entrevistador
 
2 - Funções Psíquicas
A- Consciência - atividade integradora das funções mentais
 
B - Orientação - capacidade de situar-se
 
C – Atenção:- capacidade de focalizar os estímulos
 
D – Memória:- capacidade de guardar informações
E – Inteligência:- capacidade de abstração, resolver novos
problemas (levar em conta a educação)
 
F – Pensamento: sucessão de idéias
 
Curso do Pensamento: - aceleração, - lentificação, - bloqueio ou
interceptação
 
Forma do Pensamento: -fuga de idéias, - desagregação
 
Conteúdo do Pensamento
- depressivo (culpa, ruína, doença, morte)
- grandeza (capacidade, riqueza)
- místico-religioso
- persecutório
G – Linguagem: - exteriorização do pensamento
-Observar alterações neurológicas: afasia, agrafia
-Observar alterações psiquiátricas: logorréia ou taquifasia, bradifasia,
mutismo, ecolalia, neologismo, verborragia
 
H – Juízo: - capacidade de atribuir valores a fatos e objetos
 
I– Crítica: - Juízo sobre o estado mórbido
 
3. Afetividade:-possibilidade de vivenciar experiências e emoções
 
A) Humor: - estado emocional basal ( Euforia, depressão)
 
B) Afeto - qualidade emocional que acompanha uma representação mental
 
4. Sensopercepção: - percepção resultante de um estímulo físico (Alucinação,
iilusão)
 
5. Psicomotricidade:- projeção do modelo psíquico para a ação (aumento,
diminuição)
Discussão de casos
CASO 1
Paciente do sexo masculino, 19 anos, solteiro, estudante, natural de SP, trazido ao
Instituto de Psiquiatria encaminhado da Unidade Básica de Saúde de seu bairro.
Aos 16 anos de idade, o paciente começou a apresentar alteração do
comportamento; começou a vestir-se de forma esdrúxula, com cera de abelha no
cabelo, camisa social de manga longa abotoada até o colarinho e por vezes
calçando chinelos. Nesta época, começou a faltar muito nas aulas com
justificativa que precisava ler e pesquisar mais sobre Freud e Heidegger; passou
também a colecionar recortes sobre Raul Seixas e Paulo Coelho, cogitando como
poderia montar uma sociedade alternativa no interior do estado. Esta fase foi
interpretada por seus pais como sendo uma expressão da adolescência. No
entanto, com o passar do tempo, as mudanças se intensificaram; ele passou a
apresentar fala por vezes confusa , misturando diversos assuntos num só, além
de comportar-se de forma pueril, com risos imotivados e inquietação
psicomotora.
Desde então, passou a ficar a maior parte do tempo em casa, sem estudar,
colecionando diversos recortes de jornais a respeito de rock e religiões. Desconfia
que seu vizinho “tem pacto com o diabo” e evita sair na rua para não encontrar
tal pessoa. Relata ainda que recentemente converteu-se para o espiritismo, após
ter tido “uma visão” há 2 meses atrás; atualmente, diz ter desenvolvido a
capacidade de “psicografar espíritos”.
AP: Fuma maconha esporadicamente há 2 anos; nega uso de outras drogas.
AF: Avô paterno fez tratamento psiquiátrico, tendo sido internado por
diversas vezes.
Ao exame psíquico, apresenta-se consciente, orientado, higiene descuidada,
com o cabelo "empastado de gel". Veste-se de forma bizarra, com camisa e
gravata e bermuda, e uma saboneteria no bolso que diz ser “seu telefone
celular”. Fica inquieto na sala, levantando e sentado da cadeira de forma
muito peculiar e repetidas vezes Atenção voluntária prejudicada, distraindo-
se o tempo todo durante o exame. Memória para fatos recentes prejudicada.
Afeto pouco ressoante com mímica facial empobrecida, por vezes com risos
inadequados. Humor discretamente exaltado ao relatar os acontecimentos
recentes. Pensamento desorganizado, apresentando diversos assuntos ao
mesmo tempo, por vezes tomando a forma de "salada de palavras". Expressa
idéias de auto-referência, desconfiando dos seus familiares. Aparentemente
sem alteração da senso percepção. Sem crítica em relação ao seu estado
prejudicada.
 
CASO 2
Paciente M., sexo feminino, 29 anos, separada, 1 casal de filhos. Formada
em Direito, trabalha atualmente com telemarketing.
Familiares a trazem ao médico em vista de quadro de agressividade e
agitação psicomotora iniciado há 3 dias. Neste mesmo período, a paciente
também vinha apresentando dificuldades para dormir, passando a maior
parte das noites fumando e ouvindo músicas para “relaxar”. Queixa-se de
muito “estresse”, o qual justifica pelo excesso de trabalho e separação do
marido, efetivada há 4 meses.
A família relata que M. também vem apresentando há algumas semanas
muita desconfiança em relação às pessoas. Afirma que há, no ambiente de
trabalho, um complô organizado contra ela. Passou a proibir que usassem
o telefone em casa, justificando que o mesmo estaria “granpeado". Por
diversas vezes é vista falando sozinha, inclusive gritando e xingando sem,
aparentemente, haver ninguém por perto.
Durante a consulta, a paciente fica desconfiada do médico, dizendo que a
forma com que ele pisca é um sinal de que vai atestar a “loucura” dela.
Teme que, com isto, possa perder a guarda dos filhos.
A mãe da paciente diz que a primeira crise de agitação se iniciou aos 26
anos de idade, também de forma abrupta. Desde então, a paciente
apresentou dois outros períodos de crise. Depois do primeiro quadro,
começou a apresentar dificuldades na Faculdade, e por pouco não
conseguiu concluir o curso de direito. Desde então, passou a ficar mais
calada e isolada das pessoas. Seus familiares também relatam que depois
destas crises, Mônica ficou mais "preguiçosa".
Tabagista (2 maços/dia), etilista social. Nega uso de outras drogas.
Ao exame psíquico, mostra-se consciente, orientada, com higiene
descuidada; as vestes apresentam diversos adereços, como chapéu e
pulseiras. Hiper-vigilante, havendo momentos nos quais desvia a atenção,
olhando para o canto da sala. Memória preservada. Humor irritável,
mostrando-se impaciente com as explicações lógicas dos familiares.
Discurso monotônico, expressando idéias de que outras pessoas irão
prejudicá-la, como punição por ter participado no desencadeamento da
"guerra no Iraque". Diz ainda que as pessoas não acompanham seu
raciocínio, e que consegue ler os pensamentos dos outros. Insiste que o
seu problema é apenas cansaço e que alguns dias de férias resolveriam a
questão, não havendo necessidade de tratamento médico.
CASO 3

Paciente J., 45 anos de idade, solteiro, atualmente morando em albergue da


prefeitura municipal de São Paulo. J. mora neste albergue há 11 anos, após
ter sido abandonado pelos familiares em hospital psiquiátrico no interior do
estado.
Os dados de prontuário descrevem um indivíduo que aproximadamente aos
21 anos de idade apresentou alterações de comportamento, com alucinações
auditivas incluindo vozes de pessoas que conversavam a seu respeito, e
alucinações olfativas (como "cheiro de podridão" no seu nariz). Sua doença
evoluía em crises, nas quais ficava bastante agressivo e ameaçando seus
familiares com objetos cortantes. Teve acompanhamento médico de forma
sempre irregular, com diversas internações psiquiátricas, sendo abandonado
pelos familiares em hospital. Desde então, vive em albergue da prefeitura,
passa a maior parte do tempo fumando e andando de um lado para outro, se
relaciona pouco com os demais moradores e não se engaja em nenhuma
atividade de trabalho.
CASO 3

Ao exame psíquico, apresenta-se consciente, orientado no espaço,


porém desorientado no tempo; higiene prejudicada, com os cabelos
despenteados e barba descuidada. Atenção voluntária diminuída,
com dificuldade de lembrar-se de fatos mais antigos. Apresenta
latência de resposta com discurso lacônico, empobrecido e
desorganizado. Afeto gravemente prejudicado com mímica facial
empobrecida e lentificação psicomotora. Apresenta solilóquios, e
quando perguntado porque se encontra naquele local, responde
que, quando era jovem começou a ler um livro do Freud e virou o
"protalogista" da história. Sem crítica de seu estado mental.
Questão para o portfólio:

Pesquise e escreva sobre o


exame psíquico e suas
finalidades.

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