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PSICOPATOLOGIA GERAL

20 de Outubro de 2000

Doença mental – Numa primeira fase, a doença mental era explicada através
do sobrenatural, a loucura era algo a que transformava o sujeito num ser
quase não humano. A loucura era lidada com rituais e orações com o objectivo
de fazer desaparecer o sintoma.

Hipocrates – Tenta pela primeira vez explicar a doença mental sem ser através
do sobrenatural, mas através da teoria dos humores (460 AC). A perturbação
mental é o resultado de um desequilíbrio.

Com a influência islâmica, aprofunda-se a explicação da doença mental.

Século XIII (Idade média) - Assistimos a um retrocesso do pensamento


científico retomando-se o sobrenatural, a tortura assume então um papel
importante no “tratamento”.

Século XV – O louco ocupa o lugar do leproso, tem uma doença contagioso que
pode provocar um desequilíbrio social, eram colocados então em locais
isolados como asilos e prisões.

Com o Renascimento a loucura começa a ser retratada em livros e pinturas,


começa a divulgar-se muito o termo da loucura.

Pinel (1793) – Liberta os doentes mentais dos asilos e prisões e coloca-os em


sanatórios que eram locais privilegiados para a observação das doenças
mentais. Pinel deu um impulso muito grande para a humanização destes
sujeitos.

Na transição para o século XX, faz-se a recolha das observações e começa a


classificar-se as doenças.

Kraeplin (1883) – Classifica as doenças mentais, nomeadamente em 3


quadros:

Demência precoce – Mais tarde designada de Esquizofrenia


Psicose Maniaco – Depressiva - Agora designada perturbação bipolar
Paranóia – Agora incluída nas Psicoses delirantes

Os critérios que utilizou fora importantes, pois Kraeplin, identificava os


sintomas, o curso e prognósticos da doença e era assim que eram distinguidas
as doenças.
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Bleuer (1971) – O quadro de demência foi revisto e aparece o termos
“Esquizofrenia”

Esquizofrenia
Divisão Mente

Divisão da Mente

A psicopatologia aparece com Karl Jaspers, na primeira metade do século XX,


que reintroduz a pessoa no estudo da doença mental, utilizando neste estudo
dois métodos:

 Método explicativo: Estabelece relações causais entre o fenómeno

 Método compreensivo: Captação intuitiva das experiências do sujeito que


tem a doença mental, ou seja, o investigador tem que observar o
fenómeno tal qual ele aparece no sujeito, sendo este muito importante
porque a doença aparece de forma diferente para cada sujeito.

Sinal – Comportamentos directamente observáveis, sinais de alerta para uma


possível perturbação e surgem antes de uma queixa explicita do sujeito. O
sinal nem sempre é percebido pelo sujeito.

Síndrome – Conjunto de sinais e sintomas que se organizam de uma forma


única e particular. A especificidade da organização do sintoma é que confere a
singularidade do fenómeno.

Perturbação mental – Envolve um comportamento que é clinicamente


significativo, tendo em conta a persistência e a intensidade do sintoma.

Para haver uma perturbação mental tem que existir um síndrome (padrão) e o
risco aumentado pode levar à dor, morte ou perda significativa da liberdade,
para considerarmos doença mental o fenómeno não pode ser resposta
esperada a um acontecimento particular.

Vivência – Experiências que são vividas de forma única pelo sujeito que
tornam casos clínicos.

Duas Dimensões associadas à perturbação mental:

1. Limitação da liberdade e autonomia –Traduz-se ao nível da


capacidade de auto realização, capacidade do sujeito investir em si
próprio, limita a consciência de si próprio. Ao nível da limitação da
percepção da realidade, um sujeito deprimido dá ênfase aos factores
negativos.
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2. Vivência de sofrimento psíquico – As classificações podem ser


organizadas com base nos sintomas e com base na etiologia.

1.1 Organização com base nos sintomas:

Sistema de Kraeplin – Descrição pormenorizada dos sintomas, curso e


prognóstico da doença

Sistema de Bleuer – Organização com base nos sintomas, mas introduz 3 níveis
de sintomas:

a) Sintomas primários: derivam directamente da doença.


b) Sintomas secundários: resultam dos sintomas primários.
c) Sintomas fundamentais: Sintomas específicos que são mais ou menos
permanentes na doença.
d) Sintomas acessórios: Sintomas que poderão ou não aparecer na doença.

Sistema de Jaspers – Introduz o método explicativo e compreensivo, propõe


uma descrição rigorosa do fenómeno vivenciado pelo doente.

1.2 Organização com base na Etiologia:

Etiologia somática: Factores orgânicos/biológicos

Stress Psicossocial: Eventos desencadeadores do aparecimento do quadro, Ex.


Perca do emprego, divórcio etc.

Aproximação Psicodinâmica: Ex. Alguns quadros de depressão aparecem pelo


desaparecimento da figura materna antes dos 11 anos

Classificação Internacional das Doenças (CID 10) – Sistema Europeu

 Assenta numa classificação categorial

 Para cada perturbação é apresentada uma descrição dos principais


aspectos clínicos e outros que possam estar associados igualmente
importantes embora menos específicos.

 Recorre a critérios de diagnóstico: Lista de sintomas específicos


necessários para identificar a perturbação

Patognomónicos
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Sintomas Exclusivos

 Contempla aspectos etiológicos nomeadamente orgânicos

 Deixa de utilizar como princípio organizador, a divisão tradicional de


Neurose/psicose

Manual de diagnóstico e estatístico das Perturbações Mentais (DSM IV) Sistema


Americano

 Apresenta uma classificação categorial.

 Permite o acesso a critérios operacionais precisos através de


critérios/regras de inclusão e exclusão.

 Recorre a dados epidemiológicos nomeadamente à noção de prevalência


e incidência das perturbações.

 Sistema de classificação que tem como orientação o pragmatismo,


tentando ser o mais ateórico possível.

 Encontra-se especialmente subjacente ao modelo sindromético.

 Recorre a uma abordagem Multiaxial dividida em 5 eixos (grande


diferença entre o sistema europeu).
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Classificação das Perturbações

Abordagem multiaxial 5 eixos

Eixo I
Perturbação Clínica
Outras situações clínicas que podem ser foco de atenção médica

Eixo II
Perturbação de Personalidade
Deficiência Mental

Eixo III
Estado físico geral

Eixo IV
Problemas Psicossociais e Ambientais

Eixo V
Avaliação global do funcionamento

Árvores de decisão para diagnóstico diferencial – São fluxos de SIM e NÃO.

Quando é difícil estabelecer um diagnóstico, as árvores de decisão pode ser um processo que
vai ajudar a identificação.

Metodologia utilizada em Psicopatologia:

• Método Fenomenológico: Método empírico e como objectivo tentar apreender os


estados psíquicos que o sujeito descreve tal e qual, este método não recorre a teorias,
existe uma grande imparcialidade. Há uma descrição exaustiva do comportamento,
postura do sujeito e das suas descrições. Não existe interpretação. Para além das
manifestações, tenta-se também avaliar o sujeito a nível cognitivo.

Compreensão Explicação

Relação causal entre os fenómenos

• Método de estudo de comportamentos: Este método utiliza sobretudo a observação do


comportamento.

Dois Tipos de Observação:

 Observação Livre: é uma observação clínica ocasional (livre), tem a vantagem de


observar todo o tipo de comportamento o que pode comprometer o nosso objecto de
estudo.
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 Observação sistemática: Possibilidade de questionar (hipóteses), o que vamos observar
e depois verificar se o fenómeno ocorre ou não.

Método Experimental: Ex. Colocar o sujeito numa situação laboratorial e podemos observar
diferentes pessoas com a mesma perturbação e as suas reacções. O efeito de determinado
tratamento (medicação) a diferentes sujeitos com a mesma perturbação.

Entrevista: Técnica utilizada por excelência, que permite fazer uma aplicação directa no
sujeito.

Estrutura da entrevista: três tipos

 Estruturada: O papel do entrevistador é mais directo. A organização das questões são


previamente estruturadas no que diz respeito à sua sequência. Esta entrevista possibilita
objectivar mais os dados que se pretende.

 Não estruturada: É o oposto, a objectividade é menor, o entrevistado é o mais directivo,


os conceitos surgem de uma forma espontânea e as questões são mais abertas.

 Semi - estruturada: Há uma flexibilidade entre os papeis do entrevistado e do


entrevistador.

Ao nível do funcionamento da entrevista, eis alguns aspectos importantes:

1. Abertura da entrevista: Implica uma postura cuidada, ter em conta que o sujeito vem
com alguma dificuldade, desorganizado e confuso. A situação de ir ao Psicólogo não é fácil.
É importante saber como é que o sujeito veio à entrevista, de livre vontade, obrigado etc. ,
quais são as suas expectativas face à entrevista. Poderá facilitar a aproximação com
sujeito o facto do Psicoterapeuta ir de encontro ao individuo e não esperar que ele entre,
por outro lado, pode-se observar o paciente for a do ambiente de consultório, se está
ansioso, se veio sozinho ou não, etc.

Sempre que temos informações prévias sobre o sujeito, devemos comunicar-lhe na entrevista,
caso contrário a confiança que o sujeito tem no psicoterapeuta pode ficar abalada.

2. Papel do técnico em termos deontológicos: O tipo de relacionamento deverá ser


apenas um relacionamento clínico e profissional. Não se deverá permitir que o que se
trabalha na entrevista seja abordado for a do consultório.

3. Agressividade do Sujeito: toda a agressividade que o sujeito pode demonstrar na


primeira entrevista pode ter a ver com a ideia do sujeito sobre a Psicologia, a
obrigatoriedade de ir à entrevista etc. O técnico não deverá interiorizar a agressão.

4. Silêncio: é importante perceber o que está por detrás do silêncio, o sujeito pode ter receio
e exprimir-se ou então necessita de organizar-se antes de começar a falar.

5. Tempo de entrevista: Não existe um tempo estabelecido, mas há um tempo limite que o
sujeito é informado pois o limite de tempo faz com que o sujeito organize as suas ideias.
Uma entrevista não deverá ter menos de 30 minutos e não deverá ultrapassar 1:30 horas.

Dever ter-se cuidado com a duração da entrevista, pois esta deverá ser uniforme durante as
sessões.

6. Interpretação: Não devemos devolver interpretações nossas ao sujeito, pelo menos no


início de carreira, pois podemos criar situações complicadas, por outro lado o sujeito pode
não estar preparado para aceitar a interpretação.
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27 de Outubro de 2000

Estudo de caso – Permite sistematizar e organizar toda a informação recolhida sobre o


sujeito.

Há uma observação inicial e termina com uma proposta de intervenção no sujeito que pode
ser feita pelo técnico ou não. O objectivo principal do estudo de caso, é fazer uma
reconstrução histórica do individuo (Anamnese). Tem que se investigar todos os aspectos
relativos ao desenvolvimento do sujeito até ao momento em que este adoece, por Ex. Que tipo
de gravidez teve a sua mãe, se foi programada ou não, como foi amamentado, como foi a sua
entrada na escola, que tipo de brincadeiras tinha, enfim todos os detalhes possíveis até ao
memento em que o sujeito procura o técnico.

O objectivo é perceber como é que o sujeito era antes de adoecer.

O técnico tem que perceber a personalidade pré-mórbida do individuo, isto é, como era a
personalidade deste antes de adoecer. Na anamnese biográfica conta-se também com a
história médica do sujeito (Anamnese da história clínica) e como este vivenciou as doenças.

Exame Psicopatológico - Pesquisa-se toda a capacidade do sujeito.

Estabelecer diagnóstico – Com os dados recolhidos poderá fazer-se um prognóstico.

A proposta de intervenção encerra o estudo de caso.


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PERTURBAÇÕES DA SEMIOLOGIA

Consciência: Segundo Fish, é um estado do conhecimento do próprio e do ambiente que o


rodeia.

Quando nos deparamos com uma Consciência alterada, encontramos um sujeito com
dificuldades de reconhecer o meio ou a si próprio.

A Consciência tem 3 Dimensões:

I. Vigilidade (estado vigil): Permite ao sujeito estar alerta, estar pronto para a
acção. Este estado não é uniforme, ele está sujeito a vários factores:

a) O tipo de estimulo com que o sujeito se confronta provocam alterações na


vigilidade
b) A monotonia, o tédio, diminuem a vigilidade, a motivação, o interesse provocam
um aumento

 Claridade da Consciência (Lucidez): Só pode existir se a vigilidade estiver


intacta. Permite-nos apreender os estímulos internos e externos e saber identificar os
mesmos.

 Consciência do Eu: Permite reconhecer o


sujeito como pessoa, olhar-se no espelho e reconhecer-se, que quando está alegre ou
triste e continuar a perceber que é a mesma pessoa.

A consciência do Eu, só está intacta se as outras duas dimensões estiverem também intactas,
mas se a Consciência do Eu estiver perturbada não significa que as outras duas estejam
alteradas.

As alterações da Consciência podem ir da extrema agitação até à completa imobilidade


dependendo da alteração.

A) Alterações Quantitativas

Diminuição da Vigilidade

 Obnubilação: Falta de espontaneidade, pode haver uma pequena desorientação


espacial (estados de quando estamos a adormecer ou a acordar)
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 Sonolência: O sujeito está mais apático, mais lentificado que na obnubilação. A pessoa
também pode ser facilmente despertada tal como na obnubilação. Existe falta de
espontaneidade, o tónus muscular está descontraído, matem os estímulos de defesa e
reflexos.

 Estado Estupor: Ausência de resposta aos estímulos exteriores, o sujeito apresenta-se


imóvel, pode-se despertar o sujeito através de estímulos mais violentos e dolorosos, o
tónus muscular encontra-se muito diminuído e a respiração é lenta e profunda, face aos
estímulos dolorosos, o sujeito não reage gritando, podendo apenas mover os braços ou
pernas.

 Estado de coma: O sujeito não reage aos estímulos, tem as pupilas dilatadas, a
respiração com intervalos de apneia, o tónus muscular está intensamente diminuído.

As causas destas alterações podem ir do simples cansaço até ao AVC ou casos de epilepsia.

Aumento do grau de Vigilância

 Hiper vigilância (Expansão da Consciência): Há um aumento na captação do estímulo


quer do nível quantitativo quer do nível qualitativo, esta alteração não implica um
aumento cognitivo. Verifica-se um aumento na motricidade passando-se o mesmo ao
nível da linguagem.

B) Alterações Qualitativas

 Turvação ou dissolução da Consciência: Perca da equidade da apreensão do meio


externo e interno, passando também por uma degradação ao nível da Consciência. Há
uma lentificação de todos os processos mentais, verifica-se uma dificuldade em
distinguir as imagens mentais das reais, as imagens mentais adquirem o estatuto de
percepções reais, surgem então as alucinações. O sujeito apresenta-se receoso e
agitado, frequentemente interpreta o meio ambiente como algo ameaçador, tem a ideia
de perseguição.

Acontece em quadros de esquizofrenia ou ingestão de determinadas substancias tais


como haxixe ou LSD.

 Estreitamento do campo da Consciência: Há uma diminuição dos estímulos


apreendidos devido ao facto do sujeito polarizar uma vivência interna.

Ex.
a) Estados Crepusculares: O sujeito tem a consciência restringida a algumas
ideias, alucina, está agarrado a imagens internas apresentando uma amnésia
face a estas imagens internas
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b) Fuga: Tem a mesma característica dos Estados Crepusculares, mas o sujeito
tem uma conduta automática face à imagem interna, há um comportamento
divergente, o sujeito desloca-se sem se aperceber, também se regista uma
amnésia.

C) Alterações da Consciência do EU

 Eu Corporal
a) Anosognósia: Incapacidade de reconhecer uma perturbação evidente numa parte
do corpo, estas alterações remetem para uma alteração a nível neurológico

b) Membro fantasma: O sujeito tem uma experiência perceptiva de um membro


amputado. A forma como a amputação acontece provoca diferenças nesta
perturbação, está muito ligado ao esquema corporal do corpo do individuo.

c) Anosomatognosia: Incapacidade para reconhecer partes do corpo, em casos mais


graves há uma negação total do corpo.
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Orientação
Capacidade de orientação do corpo relativamente ao meio.

1-Orientação Temporal
Saber-se orientar relativamente ao momento do tempo.

2-Orientação Espacial
Saber-se orientar relativamente ao local onde o individuo se encontra ao espaço.

Quer na orientação espacial quer na temporal, temos parâmetros que são estáveis e outros
instáveis ( os que necessitam de ser constantemente actualizados)

3-Orientação Alopsiquica
Permite-nos estabelecer uma relação entre nós e o local onde nos encontramos.

4-Orientação Autopsiquica
Permite o individuo orientar-se a si enquanto individuo ( nome, papel social, objectivos, etc…

Alterações da orientação verificam-se a estes níveis:

-Espacial ( não sabe onde se encontra)


-Temporal ( não sabe o mês ou o ano)
-Alopsiquica ( não sabe o que faz aqui )
-Autopsiquica ( não sabe quem é ou o que faz)

As mais graves são efectivamente a orientações espacial e temporal. A desorientação


alopsiquica, pode acontecer, sem ser de forma patológica, quando a pessoa dorme em local
diferente, ao acordar, não sabe porque está naquele local, relativamente à autopsiquica, pode
verificar por ingestão excessiva de álcool, ou de substância psicotrópica.

Atenção e concentração

Atenção: Função psicológica que consiste em focar a actividade consciente num determinado
estimulo ou experiência.

Concentração: capacidade de manter um esforço de atenção ao longo do tempo. A atenção


permite-nos organizar os estímulos focalizando uns e inibindo outros.

Distratibilidade fácil. Perturbação ao nível da capacidade de selecção e valorização dos


estímulos.
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A atenção pode ser:

-Activa: depende da intenção, da motivação das pessoas.


-Involuntária: depende de um estimulo e é independente da vontade do agente.
O estado fisíco e emocional do individuo podem interferir no estado da atenção da pessoa.

Alterações da Atenção

A-Disprosexia Relacionado com a atenção voluntária e verifica-se uma diminuição e


lentificação na capacidade de concentração da atenção. Consegue concentrar-se mas leva
mais tempo, normalmente deve-se a estados emocionais e internos da pessoa.

B- Hipoprosexia Relacionada com a atenção espontanea ou involuntária e apresentando as


características da disprosexia. Deve-se essencialmente com o tipo e qualidade dos estímulos
que provêm do meio externo.

C-Aprosexia Ocorre em situações em que o nível de distratibilidade é muito elevado e a


pessoa não consegue manter qualquer nível de atenção.ex. situações de pânico, ansiedade,
tensão emocional ou carácter orgânico.

D-Hiperprosexia
Verifica-se um aumento dos níveis de focalização da atenção quer na captação da quantidade
ou na qualidade dos estímulos. Pode dever-se a factores emocionais ou de forma voluntária.

E- Paraprosexia
Aumento da atenção e simultaneamente um estreitamento da mesma. Aumenta , mas
focalizada para um determinado estimulo ou determinada vivência. Geralmente a pessoa está
num estado de alerta constante.

Alterações da Memória

Delimitação do conceito: Capacidade de reter, fixar e evocar experiências da pessoa.

Estádios da Memória (Fish, 1974)

1. Percepção adequada, compreensão e resposta ao material a apreender.

2. Mecanismo de curta duração de armazenagem (conservação)


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3. Formação de um traço (mnésico/vestígio) durável.

4. Consolidação: Traços são frequentemente modificados ou simplificados por


aprendizagem subsequente.

5. Reconhecimento de que certo material necessita de ser anulado ou recordado.

6. Isolamento da memória relevante

7. Material recordado é usado em situações novas

Tipos de Memória:

Fixação: Trata-se de um tipo de memória que permite a retenção imediata de


pequenas quantidades de informação e a sua retenção é a curto prazo e está ligado ao
estado emocional do sujeito.

Evocação: Trata-se de um tipo de memória com duração a longo prazo e a quantidade


armazenada é ilimitada.

Alterações da Memória podem ser:

Quantitativas

a) Amnésias: Perturbação ao nível do sujeito fixar ou evocar informação.


As Amnésias podem dividir-se em:

Amnésias orgânicas: Acompanham traumatismos orgânicos ou quadros de


Epilepsia, existe um acompanhamento orgânico.

Amnésias Psicogéneas: Surgem em situações afectivas excepcionais, os


factores emocionais impossibilitam que o sujeito se recorde dos factos, estão
associadas ao estreitamento da Consciência.

Hipermnésias: Hiper actividade da memória, há uma maior facilidade em


evocar os factos.

Amnésia Anterógrada ou de fixação: dificuldade em fixar novos


acontecimentos após um acidente.

Amnésia Retroanterógrada ou global: Dificuldade em fixar e evocar novas


situações. Acontece nos quadros demenciais terminais e acompanham situações
orgânicas graves.

Amnésia Lacunar: O sujeito não consegue recordar-se de um acontecimento


em concreto. Acontece nos casos de Fuga, estados crepusculares e coma.

Hipermnésia prodigiosa: Muito frequentemente está associada a uma


debilidade mental, há uma capacidade enorme de reter informação, mas o sujeito
não sabe utiliza-la.

Ecmnésia: Envolve uma perturbação cronológica dos eventos. O passado é


vivenciado novamente como se fosse o presente. Geralmente ocorre sem que haja
uma vontade própria do sujeito.
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Visões panorâmicas de existência: Situação que ocorre quando o sujeito está


numa situação de perigo conseguindo recordar nesse momento fases importantes
da sua vida de uma forma intensa num curto espaço de tempo.

Amnésias Qualitativas ou Paramnésias: Enquanto as quantitativas têm a ver


com a dificuldade em fixar ou evocar os acontecimentos, estes casos têm a ver com
o facto de o sujeito recordar os eventos de falseada ou distorcida.

Fabulação delirante (delírio de memória): Envolve acontecimentos


delirantes, o sujeito recorda eventos que não correspondem à realidade, o que este
recorda é bizarro. Podem ocorrer associados a alucinações, verifica-se a um falso
reconhecimento de pessoas e locais. O sujeito não tem reacção face à critica do
evento que relatou, este mantém a convicção do que “viu”.

Mitomania ou Fabulação não delirante: Há uma produção imaginária de


falsos acontecimentos, geralmente os acontecimentos relatados são plausíveis de
mas não são verdadeiros, podem ter um fundo de verdade mas o sujeito acaba por
exagerar os factos. Quando é confrontado face aos acontecimentos, o sujeito cede.
O plano afectivo está presente nesta situação, há uma necessidade do sujeito
sobressair sobre o grupo.

Confabulação: Existe também uma produção imaginária de acontecimentos


mas com o objectivo de preencher uma amnésia, o sujeito não se recorda de uma
situação, então conta outra coisa para preencher a parte que não se recorda. Há um
preenchimento da amnésia. Os acontecimentos são pouco consistentes pois
questionando novamente o sujeito, este preenche a amnésia com outra história.

Falsos reconhecimentos
“Dejá-vu”: Sensação de uma situação que é nova e o sujeito identifica-la como
familiar

“Jamais-vu”: É o oposto do anterior, a situações familiares, o sujeito identifica-as


como novas. Não é tão usual.
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Percepção
É a função psíquica que permite apreender o meio interno e externo. Fazemo-lo através dos
sentidos. A seguir à percepção de um estímulo, segue-se a representação do mesmo e depois
associamo-lo a uma conduta ou comportamento correspondente.

A percepção propriamente dita e a representação que fazemos é muito importante.

As alterações vão-se encontrar mais ao nível da representação que da percepção.

A percepção é também influenciada por outras funções nomeadamente pela afectividade.

Esquirol (1883): Fez a primeira grande distinção nas áreas das Percepções, Alucinações Vs
Ilusões.

Relacionadas com o
Funcionamento dos
Órgãos sensoriais (visão, audição)

Associadas às alterações
Ao nível do pensamento Percepção
(delírio)

Neurose
representação

Psicose

Hoje;
Vivência das percepções: Carácter de objectividade

Percepção Espaço objectivo externo

Vivência das representações: Carácter de subjectividade

Espaço subjectivo interno

Algumas alterações partem de um estimulo real-ilusão, outras partem da percepção de um


objecto que não está lá – Alucinação

Alterações da Percepção

 Distorções Perceptivas (Sensoriais): Envolvem sempre um estimulo perceptivo real


que deformado ao nível do tamanho, qualidade e intensidade.

Alterações quanto à Quantidade

Alterações face ao aumento da intensidade (hipertésias): Os elementos perceptivos tornam-se


mais ricos do que o habitual, cores mais intensas, cheiros mais fortes etc.
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Hiperacrisia: Aumento da intensidade ao nível dos sons, normalmente são sons
habituais com que o sujeito se depara no dia a dia.

Algesias: Aumento da sensibilidade à dor (quadros oncológicos)

Alterações face à diminuição da intensidade (hipotésias):Os elementos perceptivos tornam-se


menos intensos do que é habitual.

Analgésias: Diminuição da sensibilidade à dor normalmente verifica-se em Tumores


cerebrais

Anestesias: Adormecimento a nível do tacto

Alterações Quanto à qualidade

Alterações visuais ao nível cromático. LSD e Cocaína são substâncias que podem provocar este
tipo de alterações.

Xantópsia: distorção ao nível da cor amarela


Clorópsia: distorção ao nível da cor verde
Eritropsia: distorção ao nível da cor vermelha

Alteração da forma espacial (Dismegalópsia)

Atribui-se a uma forma diferente ao que o estímulo tem na realidade. Lesões no lobo ocular e
no lobo temporal.

Macrópsia: Percepciona o estímulo com um tamanho maior e/ou mais perto

Micrópsia: Percepciona o estímulo com tamanho menor e/ou mais longe.

Erros Perceptivos (sensoriais)

Podem ocorrer na presença de um estímulo real ou não.

Experiências próximas das alucinações:

 Pseudo Alucinações/Alucinações Endopsiquicas/Alucinações intrapsiquicas:


Traduz-se a nível visível ou mais geralmente ao nível auditivo. Envolve uma falsa percepção
mas que ocorre no espaço interno do sujeito. Ouve vozes mas dentro da cabeça, são pouco
claros e geralmente o sujeito não tem sentido crítico podendo também haver perplexidade.

 Ilusões: Há um estímulo real percepcionado com alteração. É corrigido através doutros


sentidos ou pelo raciocínio lógico. É sempre acessível à crítica, verifica-se ansiedade e
medo.

 Alucinose: Não existe estímulo perceptivo real. Percepção sem objecto. Pode também
corrigir esta falsa percepção. É sempre acessível à crítica.

 Pareidolias: O objecto real é percepcionado, mas o sujeito distorce-o de forma voluntária.

 Imagens Eidéticas: São quase sempre visuais, traduzem-se na visão de um


acontecimento passado. Há uma visão nítida de um objecto ausente. Ocorre
espontaneamente sem que haja vontade do sujeito para que o fenómeno aconteça.
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Alucinações: Ausência de um objecto ou estímulo perceptivo real. As características ao nível


sensorial são muito próximas do real. Ausência de crítica e existe uma convicção absoluta da
realidade por parte do sujeito.
As alucinações ocorrem sempre no espaço externo. O comportamento do sujeito é congruente
com a actividade alucinatória, ou seja este reage de acordo com o estímulo.

1.Alucinações auditivas – elementares (Acuasmas)

2.Alucinações acústicas – verbais

3.Alucinações visuais – Estados confusionais, epilepsia, após LSD, privação do sono

3.1 Alucinações visuais elementares – Ver luzes, cores, estrelas, linhas, o fundo é
percepcionado

3.2 Alucinações visuais de figuras – O sujeito vê figuras humanas, objectos, o fundo


é percepcionado

3.3 Alucinações visuais cénicas – Tudo o que o sujeito vê são alucinações.

3.4 Zoópias – O sujeito vê insectos, répteis Alcoolismo

3.5 Alucinações visuais liliputianas – O sujeito vê figuras humanas de pequenas


dimensões Cocaína, estados confusionais.

3.6 Alucinações visuais Guliverianas – O sujeito vê humanos de grandes dimensões.

3.7 Autoscopia – O sujeito vê-se a ele próprio por inteiro ou apenas partes do seu
corpo.

4.Alucinações Olfactivas – Ao sujeito cheira-lhe odores mais desagradáveis do que


agradáveis, quando estão ligadas a ideias delirantes, estas organizam-se e reforçam o delírio é
frequente na esquizofrenia.

5. Alucinações Gustativas – Tal como o nome indica o sujeito tem o gosto de algumas coisas

6. Alucinações Tácteis – duas formas:


Activa: Sensação de que tocou em algo
Passiva: Sensação de ter sido tocado

7. Alucinações vestibulares – Sensação de voar ou rodopiar


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8.Alucinações extracampinas – Alucinações que ocorrem fora dos limites do campo


perceptivo, Ex. Sentir na escola o cheiro do rio Tejo.
9. Alucinações Hipnagógica – Ocorrem ao adormecer, as mais frequentes são as visuais.
10. Alucinações Hipnopômpica – Ocorrem ao acordar
11. Alucinações Cinestésicas – Sensação de movimento, por exemplo, o sujeito sente os
órgãos do corpo, leva a comportamentos de isolamento.
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Alterações do Pensamento
-alterações do curso
-alterações do conteúdo
-alterações da forma

Alterações do curso do Pensamento


-remetem todas para a velocidade de progressão do pensamento e com inflexões/mudanças de
direcção do pensamento. Pode ocorrer com ou sem perda da meta do pensamento.
Fisch ( 1974)
.alterações do ritmo
.alterações da continuidade

A- Alterações do Ritmo

A1) Pensamento inibido: a progressão do pensamento é lenta, é hesitante e de certa forma


irregular; discurso lento e arrastado. Esta diferença é vivenciada / sentida pela pessoa e tenta
lutar contra esta dificuldade mas não consegue ultrapassar. Verifica-se pelo tempo de latência
entre pergunta e resposta (aumento). É muito frequente nos estados progressivos.

A2) Pensamento lentificado: tem algumas características do 1º, lentidão ao nível do


discurso, aumento de latência das respostas. O individuo não sente esta dificuldade.

A3) Rapidez anormal na sucessão de ideias ; discurso muito rápido, verbaliza muitas
coisas num espaço curto de tempo. O tempo de latência diminui. A meta do pensamento é
atingida. ex. situações de grande tensão, grande ansiedade, euforia.

A4) Fuga de ideias: a associação é rápida mas é superficial; aceleração dos processos do
pensamento; a criança muda frequentemente de discurso, perde a meta do pensamento.ex:
muito frequente nos estados maníacos ( grande exaltação dos estados de humor, grande
euforia).Existe sempre o pensamento acelerado ( mas o pensamento acelerado pode ocorrer
sem fuga de ideias ).

A5) Pensamento automático (“mentismo”):A sucessão de ideias faz-se duma forma


precipitada . É um pensamento que não pode ser reprimido nem contido, é incoercível. Muitas
vezes a pessoa sente os pensamentos desadequados, mas a pessoa não os consegue evitar.
Como se determinadas imagens se impusessem ao pensamento das pessoas. Ex.: nalguns
casos de esquizofrenia ajuda ( que surgem um espaço curto de tempo)

A6) Pensamento Digressivo: grau ligeiro de fuga de ideias, aparece nos hipomaniacos
( quadros maníacos mas menos acentuados).

A7) Pensamento Circunstanciado ( circunstancia, trivial, banal): pensamento que se


desgasta em detalhes, a pessoa não é capaz de distinguir o que é necessário. Atinge uma meta
mas perde muito tempo, são pormenores banais, triviais, circunstancial, Ex.: traços de
personalidade obsessivos.

A8) Pensamento Prolixo ( prolixidade); pensamento circunstanciado , muitas vezes surge a


redundância, falta de sentido de algumas ideias, o tipo de detalhes são geralmente detalhes
arabescos, usa palavras que soam melhor do que fazem sentido, esta relacionado com a
progressão do pensamento, vai repetindo as mesmas ideias.

A9) Pensamento em Torpel: a pessoa faz associação de ideias através de saltos aleatórios,
diferentes linhas de pensamento, não há nada que justifique esses saltos.

B-Alterações de continuidade

B1) Pensamento empobrecido: redução ao nível dos conteúdos ideativos, a pessoa queixa-
se de diminuição de interesse pelas coisas. ex: depressão.
20
B2) Pensamento Perseverante: preservação , insistência em determinados conteúdos,
ideias, a pessoa repete sistematicamente a mesma ideia e o mesmo assunto, no entanto não
implica que repita frases ou palavras. Para alguns autores diz-se que é um pensamento
empobrecido com grau mais intenso.

B3) Perseveração verbal: falta de fluidez ao nível da associação de ideias e por vezes
perdem o sentido, é raro em esquizofrenia, Ex.: ligado à perturbação mental.

B4) Estereotipia Verbal: repetição de palavras de frases mas que nunca tiveram sentido ,
independentes da situação em que são produzidas.

B5) Pensamento bloqueado: suspensão súbita / brusca do pensamento, pode ser vivenciada
pela pessoa , a pessoa fala, para e quando começa o assunto não tem nenhuma associação
lógica, quando esta alteração é claramente diagnosticada pode ser indicativo dum quadro de
esquizofrenia ( para alguns autores), Ex.: estados ansiosos.

Alterações do curso do Pensamento

Pensamento Incoerente

As ideias associam-se sem qualquer relação entre si, mas a estrutura gramatical das frases
está correcta, em termos globais, o discurso não faz sentido. Pode surgir na Esquizofrenia, em
estados confusionais e alterações da Consciência.

Pensamento desagregado

Verifica-se a perda da estrutura gramatical das frases, é uma “salada de palavras”. Não existe
lógica entre as frases não existindo também uma estrutura gramatical nas mesmas. Aparece
nos quadros de esquizofrenia com evolução crónica.

Alterações do conteúdo do Pensamento

Tipo de ideias que aparecem, são convicções que não correspondem à realidade.

Ideias e Crenças irracionais: O sujeito apresenta ideias e pensamentos que em


termos de conteúdo é compreensível ao observador, no entanto, correspondem a falsas
convicções, ou seja, não correspondem à realidade. Surgem no contexto de Perturbação do
Humor.

O sujeito por um período de tempo vai ter dúvidas se as ideias que tem são verdadeiras ou
falsas, São ideias irracionais, pois o sujeito não vivenciou nenhuma experiência que leva à ideia
que está a ter. São ideias acessíveis à crítica, reconhecendo o sujeito que as ideias são
desadequadas.

Ideias Sobrevalorizadas: São ideias que geralmente e em virtude da sua carga


afectiva, sobressaem sobre outras. Podem ser ideias verdadeiras ou falsas e quando são
falsas podem-se confundir com ideias delirantes.
21
Nos casos de Anorexia nervosas, podem haver ideias sobrevalorizadas face à comida e corpo.

Ideias Fóbicas: Envolvem um medo claro, é irracional face às situações que o cria, é
persistente. Levam a um comportamento de evitamento ou de fuga. Podem ocorrer duas
situações quando o sujeito está perante este medo:
ou
Foge ou
Evita

A imposição com que as ideias aparecem, bem como a tomada de consciência da


desadequação do medo é que difere de outras fobias.

Ideias Obsessivas: São ideias persistentes que se impõem ao pensamento e o sujeito


considera-as desadequadas mas não consegue deixar de pensar nelas. São muito
frequentes nas Perturbações obsessivas e nas depressões.

Ideia Delirante: As ideias delirantes são compostas por 3 dimensões (Jaspers):

a) Certeza Subjectiva: Uma convicção extrema de que a ideia é verdadeira e é esta


convicção que permite manter o delírio.

b) Incorrigibilidade: Estas convicções não são acessíveis à contra argumentação


lógica

c) Conteúdo impossível: Os delírios evocam representações irreais

Segundo Kurt Schneider, existe uma distinção entre delírio primário e delírio secundário, então

Delírio Primário: Não tem origem identificável e é incongruente com o Humor.

Delírio Secundário: Tem origem numa perturbação do humor ou da personalidade e é


congruente com o Humor.

Conrad – Debruça-se sobre os delírios na Esquizofrenia

Identifica duas formas de Esquizofrenia:

 Paranoide
 Catatónica

Ideia delirante:

Ψ Trema: Conjunto de vivências relacionadas com a tensão e inquietação, desespero, o


sujeito sente-se isolado, incapaz de comunicar com os outros mas não consegue
explicar este sentimento. Há uma desorganização do pensamento.
22

Ψ Apofonia: O sujeito vivência como estando num mundo alterado que o observa e
avalia, que o submete à prova. O sujeito não consegue explicar este sentimento.

Ψ Anástrofe: O sujeito sente-se como se fosse o centro do Universo, tudo o que se passa
à sua volta tem a ver consigo (não se trata de egocentrismo).

Principais Características das Ideias delirantes

Ψ Qualquer ideia delirante envolve um juízo falso que se baseia numa inferência
incorrecta de realidade.
Ψ Todas as ideias delirantes são sustentadas por uma convicção extraordinária de
certeza.
Ψ Têm um conteúdo inaceitável para os outros
Ψ Esta falsa convicção não cede a qualquer argumentação nem à experiência.

Segundo Fish, (1974) há uma divisão entre o delírio primário e o delírio secundário

1. Vivências delirantes Primárias

 Humor delirante (Pressentimento delirante): É uma espécie de trema, há uma


desorganização do pensamento normal. O sujeito sente uma mudança mas não
consegue explicar. Algo está para acontecer, este fenómeno serve de pano de
fundo para outros delírios.

 Percepção delirante: Existe um estímulo perceptivo adequado mas é dado um


significado incorrecto no sentido da auto – relacionação. O significado que o
sujeito atribui tem um carácter revelador. A percepção delirante vai de certa
forma organizar o pensamento.

 Intuição ou ocorrência delirante: Surge uma convicção imediata na ausência


de qualquer dado perceptivo. Surge uma revelação ao sujeito intuída. É
frequente na Esquizofrenia e perturbação bipolar.

2. Vivências delirantes secundárias: Ao contrário das primárias, aqui as ideias


aparecem organizadas e associadas com uma lógica interna, o sujeito constrói o delírio
com base na vivência nas várias situações e experiências. As ideias catatónicas são
ideias delirantes acompanhadas de um tipo de humor depressivo.

 Ideias delirantes de auto relacionação ou de auto-referência:

Tipo Anástrofe
Podem ser pano de fundo para outros delírios do tipo de perseguição ou de grandeza

 Ideias delirantes de prejuízo ou perseguição: O sujeito tem a ideia que alguém o


quer prejudicar, sente-se alvo de ameaça, injúria etc. O individuo sente-se observado
por um grupo de pessoas ou organizações que este não sabe muito bem identificar,
também pode haver a identificação clara de quem o persegue ou prejudica. É
frequente na esquizofrenia tipo paranoide ou quadros depressivos.
23

 Ideias delirantes de ciúme (delírio celotípico): Existe a convicção de traição pelo


parceiro, por vezes resulta para a passagem ao acto. Aparece nos quadros de
alcoolismo; o sujeito interpreta de forma tendenciosa os indícios que aparecem.
Muitos crimes passionais têm a ver com estes delírios.

Alterações do Conteúdo do Pensamento

 Ideias Delirantes de Culpa: Aparecem frequentemente nos quadros depressivos graves,


o sujeito tem a ideia de que cometeu uma falha grave e irrecuperável, sente-se culpado de
algo que aconteceu mas sobrevalorizado. Tem a ideia de que deve ser castigado.

 Ideias Delirantes de Ruína: O sujeito tem a convicção de estar num estado de desespero
que está associado à situação de não ter dinheiro, família, amigos, há uma sensação de
perca social e económico.

 Ideias Delirantes Hipocondríacas: O sujeito tem a certeza de que é portador de uma


doença grave e nada que o médico lhe possa dizer vai alterar o seu sentimento.

Não é raro aparecerem doenças que não existem nas situações mais graves, verifica-se uma
grande vivência de morte. Aparecem nos quadros depressivos graves.

 Ideias Delirantes de Grandeza: Existe uma sobrevalorização do sujeito, que pode ser
a nível social ou a nível económico. Aparecem associados à Perturbação Bipolar na fase
maníaca.

Existem Duas temáticas nas Ideias Delirantes de Grandeza:

1. Delírio Místico: O sujeito pensa que representa Deus na Terra, este delírio remete para as
questões religiosas.

2. Delírio de Filiação: Tem a ver com o sujeito ter a ideia de que tem laços de sangue com
figuras públicas.

 Ideias Delirantes Somáticas: Têm a ver com o funcionamento e aparência do corpo,


aparecem associadas às ideias delirantes hipocondríacas.

Alterações da forma do Pensamento

Estão relacionadas com a capacidade de conceptualização e abstracção.

Estas alterações ocorrem na ausência de lesão orgânica

Para se identificar esta alteração, o sujeito já teve antes a capacidade de conceptualização e


abstracção.

Bleuer: Estudou estas alterações em doentes com Esquizofrenia. A característica essencial


nestas alterações são as perturbações das associações que remetiam numa dificuldade na
organização do pensamento de uma forma lógica e sequencial, este fenómeno acontecia
devido a 3 processos:

 Condensação: O sujeito conjugava duas imagens ou ideias diferentes numa só, formando
um falso conceito
24

 Deslocação: Uma determinada ideia ou conceito normal é substituído por outro, por
exemplo: “O retroprojector serve para secar o cabelo”,

 Utilização imperfeita da simbologia: O sujeito atribui ao símbolo o seu significado


concreto, por exemplo: Está a chover canivetes, por isso se saio espeto-me todo”

Segundo Cameron, há um dissociação das ideias nesta alteração

 Pensamento assindético: Há uma perda de conexões adequadas de diferentes


pensamentos.

O sujeito tem o surgimento na sua mente de vários pensamentos que podem estar mais ou
menos relacionados, mas que o sujeito não os consegue organizar de forma lógica, dando
origem à condensação de várias ideias.

 Pensamento Metonímico: A sua principal característica é a utilização de metonimias,


isto é, trata-se da substituição de conceitos comuns por conceitos subjectivos e imprecisos,
por exemplo: O branco que para nós é uma cor, para o sujeito pode estar associado a um
carro ou um lenço etc. “Tens um branco para eu me assoar?”

 Hiperinclusividade do Pensamento: Há dificuldade em restringir as operações do


seu pensamento face a algo que lhe é colocado.

(Fora dos conceitos de Cameron)

 Neologismos: Criação de palavras novas que só têm significado para o sujeito, também
pode tratar-se de frases, é muito frequente na Esquizofrenia.

Alterações da Vivência do EU

Remetem para duas situações:

 Perturbações de identidade e de unidade do Eu


em tempos atrás quando apareciam estas alterações, Desrealização e Despersonalização,
colocava-se a hipótese de uma Esquizofrenia
Estas alterações também se chamavam Fenómenos Dissociativos.

Desrealização: Há um sentimento de estranheza face ao ambiente envolvente, este tem uma


aparência irreal e fantástico. O sujeito não reconhece o meio, esta perturbação aparece
associado ao Humor Delirante.

Despersonalização: O sujeito tem uma sensação de mudança face a si próprio, por vezes
este pode ter a ideia que mudou de identidade. Aparece com alguma frequência na
Esquizofrenia.

 Perturbações ao nível das fronteiras que delimitam o Eu ao Mundo externo


25
1. Transitivismo: O sujeito projecta no exterior algo que ocorre nele próprio, por exemplo: O
sujeito vê a sua sombra, assusta-se e grita e depois admira-se como é que a sua sombra
grita.

2. Apropriação: O sujeito interioriza nele algo que ocorre no exterior, por exemplo: O sujeito
está a bater num tapete e depois relata que lhe bateram.

3. Síndrome de influenciamento (Delírio de influência): O sujeito tem a sensação que os


seus sentimentos/ pensamentos são controlados por uma entidade externa. Os seus gestos
e acções são para este controlados por um entidade que o sujeito não consegue controlar e
identificar.

Alterações da Vivência do Eu

 Difusão do Pensamento: Invasão dos pensamentos do sujeito

a) Leitura do pensamento: O sujeito julga que vai na rua e as pessoas


conseguem ler os seus pensamentos.

b) Divulgação do segredo do Pensamento: O sujeito tem a ideia de que toda a


gente sabe os seus pensamentos.

c) Eco do Pensamento: O sujeito tem a ideia de que os seus pensamentos


conseguem ser ouvidos em voz alta. Aparece muito em quadros de Esquizofrenia
paranoide

 Roubo, subtracção ou expropriação do Pensamento: O sujeito refere que


alguém não reconhecido lhe rouba e se apodera das suas ideias, o individuo queixa-se que
os seus pensamentos desaparecem porque alguém os roubou. Por vezes aparece no
bloqueio do pensamento, por exemplo: “Eu não sei o que ia agora dizer porque alguém me
roubou o pensamento”. É uma alteração frequente em quadros de Esquizofrenia.

 Imposição ou intromissão do Pensamento: O sujeito queixa-se que há alguém que


lhe coloca ideias na cabeça que não são suas, também é frequente verificar-se nos
quadros de Esquizofrenia.

Perturbações do Sono
26
Anorexia nervosa

Existem três factores importantes desta Patologia:

 Comportamento persistente para se controlar o que se come


 Medo de engordar que se traduz pela dificuldade em sentir o corpo
 Ciclo menstrual alterado

Causas: Não se sabe exactamente a causa, há dificuldades no sistema endócrino e a influência


social contribui para o desenvolvimento desta Patologia.

Existem dois tipos de Anorexia:

 Anorexia restritiva: Verifica-se um grande controlo na ingestão de alimentos

 Anorexia bulimica: Ingestão convulsiva, há um controlo muito grande na ingestão de


alimentos durante o dia e depois verifica-se uma ingestão enorme de alimentos que é
incontrolável, este fenómeno dá origem ao vómito auto provocado.

O sujeito ingere medicamentos laxantes ou diuréticos, há um excesso de exercício físico na


tentativa de perder peso.

Há um terror por parte do sujeito em ganhar peso, este apresenta uma baixa auto estima
pois acha sempre que está gordo.

Existe um desagrado na mudança do corpo na adolescência, na passagem de criança para


adolescente, o sujeito tem dificuldade na inserção no grupo de jovens e no contacto com os
rapazes.

Por vezes verificamos uma auto agressão, o sujeito tem dificuldade em aceitar o seu corpo
tendo assim necessidade de o agredir. A nível de comportamento, assistimos ao isolamento
dos amigos e da família.

A família sente um grande sofrimento, há um receio em insistir muito com o sujeito no que
diz respeito às refeições, pois está sempre presente o medo que este deixe mesmo de
comer, o importante será compreender a situação e manter o diálogo, numa fase inicial é
complicado levar o sujeito ao médico, mas a negociação com este face às refeições é muito
importante.

No que diz respeito à cura eis os dados estatísticos em Portugal :

• 45% Recuperam completamente


• 35% Melhoram
• 20% Têm um curso crónico

Sinais de Alarme:

• Problema da dieta: quando há uma excessiva preocupação sobre o peso


• Preocupação excessiva com a necessidade de prática desportiva
• Alterações menstruais
• Preocupação com a obesidade em determinadas partes do corpo, tais como seios e ancas
• Isolamento com a preocupação excessiva nas questões da alimentação, reuniões de
amigas que falam sobre este tema, afastamento dos rapazes
• Súbito interesse pela culinária
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O acompanhamento deve ser feito:

• Tratamento médico
• Tratamento psiquiátrico

Psicoterapia individual: Resolve as questões da auto estima e


gosto pelo corpo.

Psicoterapia familiar: Ajuda a família a lidar com a situação.


28
Perturbações do Humor

Alterações associadas às emoções:

A diferença entre emoção e humor é que na primeira é uma questão mais interna e oscila mais
que o humor e é menos intenso que este.

Indiferença emocional: é caracterizada pela perca de capacidade de reagir emocionalmente


aos estímulos, o sujeito não sente culpa, remorso, por exemplo: os toxicodependentes são
capazes de provocar sofrimento às pessoas mais próximas e existe uma grande indiferença
emocional, também pode aparecer nalguns quadros de Esquizofrenia.

Monotonia ou rigidez afectiva: Também aparece nalguns quadros depressivos, o sujeito


apresenta a mesma resposta emocional perante diferentes estímulos. Nalguns quadros
demenciais esta perturbação pode estar presente.

Hiperemotividade ou incontinência afectiva: O sujeito apresenta uma desproporção entre


a intensidade dos estímulos e a resposta emocional, há uma perca de controle ao nível da
resposta afectiva, pode surgir na Histeria, Depressão e nalguns quadros orgânicos.

Labilidade emocional ou afectiva: Aparece muito frequentemente na Histeria. Há uma


oscilação subtil e muito rápida de estados afectivos opostos.

Ambivalência afectiva: Ao contrário da anterior, há a coexistência de dois afectos ao mesmo


tempo, por exemplo: tristeza e alegria em simultâneo

Discordância afectiva ou paratímica: O sujeito apresenta uma reacção desadequada face


ao contexto.

Alterações associadas ao Humor:

Humor depressivo: a alteração nuclear é a tristeza , mas dentro do humor depressivo esta
tristeza pode variar na sua intensidade, associado aparece o desanimo, a falta de iniciativa, o
desinteresse, etc.

Anedonia: Incapacidade de sentir prazer com algo que anteriormente dava prazer.

Humor Ansioso: Aparece associado a um medo difuso, não tem um objecto concreto, o
sujeito apresenta-se inquieto, pode aparecer em quadros de Esquizofrenia e estados
confusionais.

Humor eufórico ou elação do Humor: Há uma alegria patológica, o sujeito tem um


excessivo bem estar, uma energia excessiva.

Esta alegria é desadequada e interfere na relação com os outros, com esta alegria está
associado uma certa desinibição. Com a reacção negativa dos outros, pode aparecer a
agressividade, aparece associado ao consumo de drogas, álcool etc.

Humor disfórico: caracteriza-se por sentimentos de irritabilidade, susceptibilidade e uma


certa tensão.
29
Quadros Clínicos

SÍNDROME CONFUSIONAL OU DELIRIUM

 Características Clínicas:

A característica principal é a presença de um delirium, é uma Perturbação da


Consciência, que não pode ser atribuída a uma demência persistente ou em evolução.
A perturbação da consciência desenvolve-se num curto período de tempo (horas ou
dias) e tende a flutuar ao longo do dia, isto é, não se manifesta por uma redução de
claridade da consciência e de percepção do meio ambiente.

 Verifica-se uma diminuição da atenção e concentração.


 Diminuição da memória:

a) De fixação (é a mais perturbada)


b) De evocação

 Alterações ao nível da Orientação:

a) Temporal
b) Espacial
c) Auto-psíquica
d) Alopsíquica

 Perturbações da Percepção: Interpretações incorrectas (erros perceptivos),


ilusões, pseudo – alucinações, alucinações (mais as visuais)

 Perturbações do Humor: Ansiedade, depressão, labilidade, agitação e/ou


perplexidade

 Perturbações do Pensamento: Curso (incoerências): Nem sempre é mito


evidente.

 Características e Perturbações Associadas:

 O Delirium pode estar associado a uma Perturbação do Sono (sonolência diurna),


agitação nocturna e insónia inicial.

 Psicomotricidade: Inquietação psicomotora, lentificação, estado estupor.

 Actividade Delirante com conteúdos ameaçadores ou Estados delirantes transitórios.


30

 Dados Etiológicos:

a) Delirium devido a um Estado Físico Geral


 Presença de uma associação temporal entre o início, a exacerbação ou remissão
de um estado físico geral e o Delirium.

 Perturbações Metabólicas
 Doença hepática ou Renal Estados
Físicos
Gerais
 Estados pós – operatórios
 Sequelas de traumatismos cranianos

b) Delirium Induzido por substâncias

 Intoxicação com substâncias: Cannabis, cocaína, alucinógeneos, geralmente o


Delirum desaparece após a desintoxicação.

 Abstinência da Substância: “Delirium Tremens”


 Efeitos adversos de medicação ou exposição a tóxicos, anestésicos, relaxantes
musculares, monóxido de carbono, insecticidas

 Causas do Delirium

 Doenças Cardio – Vasculares


 Doenças Gastro intestinais
 Intoxicações
 Doenças neurológicas

 Prevalência e Evolução

 A idade de início depende da etiologia mas surge sobretudo nas idades


superiores a 65 anos (quando hospitalizados devido a estados físicos gerais).

 O Delirium desenvolve-se geralmente em horas ou dias

- Início abrupto
31
- Os sintomas progridem para um quadro de Delirum durante um período de 3
dias (mais frequentemente).

 Diagnóstico diferencial:

Uma das maiores dificuldades está relacionada com a distinção entre Delirum e Demência.

Características Delirium Demência


Início Agudo ou Sub agudo Insidioso
Curso Flutuante Persistente
Duração Limitada Crónica
Pensamento Incoerente Empobrecimento
Memória Alteração da memória Alteração da memória
recente recente e de evocação
Consciência/Vigilidade Diminuída com flutuações Geralmente intacta
diárias
Ciclo Sono/Vigília Alterado Normal tendo em conta a
idade
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SÍNDROME DEMENCIAL

A Demência pode ser progressiva, estática ou remitente. A reversibilidade da demência está


relacionada com a Patologia subjacente e da acessibilidade e aplicação oportuna de
tratamento eficaz.

 Características Clínicas:

 A característica essencial da Demência é o desenvolvimento de deficits


cognitivos humanos que incluem:

a) Diminuição de memória e pelo menos uma das seguintes perturbações


cognitivas:

 Afasia
 Apraxia
 Agnósia
 Perturbação da capacidade de execução

Diminuição da Memória: Há uma diminuição da capacidade para aprender material novo


(memória recente ou de fixação) ou para recordar material previamente aprendido (memória
de evocação), este fenómeno aconte à medida que o quadro vai evoluindo.

Afasia: Pode estar presente devido ao tipo de lesão


 Deteriorização da linguagem Ex. Dificuldade em nomear pessoas ou objectos.
 Discurso vago ou vazio: Uso excessivo de referências indefinidas por exemplo “a coisa”
“aquilo”
 Dificuldade ao nível da compreensão da linguagem escrita e falada.
 Nos quadros mais graves pode haver mudez ou ecolália.

Apraxia: Envolve dificuldade na execução da actividade motora sem ter nenhum Deficit
motor, a função sensorial e compreensão estão intactas, por exemplo, escovar o cabelo,
dentes, vestir-se etc.

Agnósia: Deteriorização da capacidade para reconhecer ou identificar objectos apesar da


função sensorial estar intacta.

Perturbações da capacidade de Execução:


 Dificuldades ao nível da capacidade de abstracção, planear, sequenciar um
comportamento complexo
 Dificuldade em lidar com novas tarefas, evitando situações que requerem o
processamento de informação nova e complexa.

 Características e Perturbações associadas:

 Desorientação: Temporal, Espacial, Alopsíquica e autopsíquica


 Insight (consciência mórbida) diminuída ou mesmo ausente, o sujeito não se apercebe
dos seus sintomas.

 Perturbações psicomotoras: Marcha (podendo originar quedas)


33

 Negligência de higiene pessoal


 Desinibição excessiva por exemplo excessiva familiaridade com estranhos
 Alterações da Percepção (alucinações), sendo as mais frequentes as visuais
 Ideias Delirantes: Temas de perseguição
 Ansiedade, Perturbação do Humor, Perturbação do sono, nomeadamente as insónias
 Pensamento empobrecido e lentificado

 Dados Etiológicos:

 Doenças Generativas do Sistema Nervoso Central


 Alzheimer
 Piek
 Huntington
 Parkison

Doenças Vasculares
Demência de multienfartes

 Doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais


Hipotiroidismo
Demência de diálise

Lesões expansivas cerebrais


Aneurisma
Linfoma e Leucemia

Infecções
Sífilis
HIV
Meningites

 Intoxicações
 Álcool
 Barbitúricos

 Epilepsia

 Traumatismo craniano
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 Prevalência e Evolução

 Idade de início depende da etiologia, mas geralmente é tardia, com o aumento da


prevalência, a idade superior a 85 anos.

A forma de início e evolução subsequente depende também da etiologia


subjacente.

 Nível de incapacidade:
- Gravidade dos deficits Cognitivos
- Suportes sociais disponíveis

 Demência avançada, o sujeito requer cuidados cosntantes, sendo susceptível a


acidentes e doenças infecciosas que muitas vezes se revelam fatais.

Classificação Clínica e distinção entre Demência Cortical e Subcortical

Demência Cortical:

Caracteriza-se por deficits ao nível de:


• Capacidade de abstracção
• Orientação
• Memória
• Perturbação nas áreas de associação cortical
• Linguagem (Afasias)
• Psicomotricidade (Apraxia)
• Reconhecimento sensorial (Agnósias)
Apatia pouco evidente

Apatia pouco evidente


• Incapacidade de executar operações mentais complexas
• Labilidade e hiper emotividade emocionais, por exemplo, doença de Alzheimer

Demência Subcortical:

Caracteriza-se pela ausência de:

• Afasia
• Apraxia
• Agnosia

Dificuldades ao nível da:

• Memória Ocorre sobretudo uma diminuição


• Abstracção em vez de uma perda total das
• Orientação das funções como na Demência Cortical

• Lentificação motora
• Descuido com a aparência
• Apatia elevada

• Isolamento, diminuição das relações interpessoais


35
• Dificuldades de concentração, distratibilidade elevada
• Desmotivação
• Hipofonia (diminuição do volume do tom de voz), Disartria (dificuldade de articulação)
por exemplo Doença de Parkinson

Função Demência Cortical Demência Subcortical


Velocidade de
processamento da Normal Diminuída
informação
Linguagem Alterada (Pseudo afasia) Mantida
Memória de fixação Alterada Alterada
Memória de Evocação Marco temporal presente Marco temporal ausente
Humor Depressão rara Depressão frequente
Consciência Mórbida
Ausente Presente
(Insight)
Apatia Pouco comum Muito Comum
Normal até fases
Articulação da linguagem Disartia inicial
avançadas
Normal até fases
Função psicomotora Lentificação
avançadas
Normal até fases
Postura Alterada
avançadas
Normal até fases
Marcha Alterada
avançadas
Acalculalia (Dificuldade
Cálculo Relativamente mantida
em fazer cálculos)
Ligeira
Alterações da percepção
Grave
visual
36

SÍNDROME
ANSIOSO

Spielberg (1972)

Ansiedade Estado: Tem a ver com uma resposta a uma situação actual
• Situação actual afectiva
• Valorização do conteúdo mental no momento presente, Ex. Perturbação de pânico

Ansiedade Traço: Tendência habitual de o sujeito para reagir de forma ansiosa.


• Variável associada à personalidade, Ex. Perturbação de ansiedade generalizada

Shuhan (1982)

Ansiedade Exógena: Surge em relação a conflitos externos de natureza pessoas e


psicossocial
• Responde à Psicoterapia, Ex. Perturbação de ansiedade generalizada

Ansiedade Endógena: Autónoma e independente de estímulos ambientais, surge por


alterações metabólicas em sujeitos geneticamente predispostos com antecedentes familiares
• Responde à farmacoterapia Ex. Perturbações de Pânico.

Lewis (1993)

Estado Emocional subjectivamente vivido com uma ansiedade de medo.

Emoção desagradável que pode ser vivenciada como uma sensação de morte eminente.

Antecipação de uma ameaça futura

Ruiloba Vallejo (1997)

Ansiedade normal
• Existencial e reactiva – Medo

Ansiedade Patológica

a) Primária:
Reactiva: Perturbação de adaptação com humor ansioso
Nuclear: Perturbação de ansiedade generalizada, Perturbação de Pânico

b) Secundária: Síndromes depressivos, síndromes esquizomorfos, síndrome obsessivos,


síndromes orgânicos.

Falamos de Ansiedade Patológica, quando a frequência duração e intensidade interfere com o


bem estar do sujeito.

12 de Janeiro de 2001

SÍNDROME ANSIOSO (Continuação)


37
 Classificações Clínicas:

- Perturbações da Ansiedade generalizada


- Perturbações de Pânico
- Agorafobia, Fobia simples, Fobia social ou Perturbação da ansiedade social
- Perturbação obsessivo-compulsiva
38

Perturbação de Ansiedade Generalizada

 Características Clínicas:

 Preocupação excessiva e incontrolável com a quase totalidade dos aspectos do quotidiano,


e são estes:
 Tensão motora: Tremores, inquietação, dores musculares, fadiga
 Hiperactividade autonómica: Palpitações, sudorese, diarreia e dores abdominais
 Expectativa e apreensão: Tensão interna, sensação de ameaça, medos difusos e
insegurança
 Vigilância e alerta: Impaciência, irritabilidade, diminuição da tensão e
concentração, hipervigilidade, insónia inicial etc.

 Dados Epidemiológicos:

 Maioria dos doentes são do sexo feminino (55%/60%)


 Faixa etária: 16-20 anos

 Curso/Evolução:

 Instalação progressiva com evolução crónica e flutuante


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Perturbação de Pânico

Caracteriza-se pela presença de um ataque de Pânico. Há um período discreto de medo ou de


desconforto intenso e durante o qual 4 ou mais dos seguintes sintomas se desenvolvem
abruptamente e atingem o seu pico em 10 minutos:

 Palpitações, batimento cardíaco acelerado


 Suores
 Dificuldade em respirar
 Sensação de sufoco
 Desconforto ou dor no peito
 Náuseas ou mal estar abdominal
 Sensação de tontura, desequilíbrio, cabeça oca
 Desrealização ou despersonalização
 Medo de morrer
 Parestesias (formigueiros)
 Sensação de frio ou de calor

 Características Clínicas:

 Presença de ataques inesperados de pânico e recorrentes.

Não estão associados a nenhum estímulo (desencadeador situacional)

 Preocupação constante acerca de ter novos ataques de pânico


 Preocupação acerca das implicações dos ataques ou das suas consequências(Ex. Perder o
controlo, enlouquecer, ter um ataque cardíaco)
 Alteração significativa no comportamento em virtude dos ataques de pânico

Subtipos de Ataques de Pânico

 Independentemente da situação (inesperado/situacional)


 Situacional: ocorre imediatamente após a exposição a um estímulo situacional
 Predisposto pela situação: Pode decorrer perante a exposição a determinados
estímulos.

 Dados Epidemiológicos:

 Maior incidência no sexo feminino


 Distribuição bimodal (18-20 anos e 30 anos)

 Curso/Evolução

 Curso crónico e flutuante:


Período de remissão
Período de sintomatologia intensa
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 12% de remissão ou seja recuperam totalmente

AGORAFOBIA

O sujeito tem medo dos espaços abertos e de não haver ninguém que o ajude em caso de
perigo.

 Características Clínicas:

 Tríade fóbica: objecto/estímulo definido/ansiedade antecipatória e evitamento.

 A ansiedade em relação a lugares ou situações nos quais a fuga possa ser difícil (ou
embaraçosa) ou nos quais possa não ter ajuda disponível no caso de ter um ataque de
pânico ou sintomas semelhantes ao pânico por exemplo: atravessar uma ponte, viajar de
comboio)

 As situações são evitadas ou enfrentadas com intenso mal estar ou ansiedade de vir a ter
um ataque de pânico.

 Comportamento de evitamento pode comprometer o funcionamento social e/ou


ocupacional do sujeito.

Fobia Simples/específica

 Características Clínicas:

 Medo acentuado e persistente que é excessivo ou irracional, desencadeado pela presença


ou antecipação de um objecto ou situação específica.

 Exposição ao estímulo – resposta ansiosa imediata

 Sujeito reconhece que o medo é excessivo e irracional.

 Situações fóbicas:
Evitadas
Enfrentadas com intensa ansiedade ou mal estar

 Evitamento, antecipação ansiosa ou mal estar na situação temida

Interfere significativamente com as rotinas normais do sujeito

 Dados Epidemiológicos

- Maior percentagem no sexo feminino


- Distribuição bimodal (Infância e 25 anos)
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Fobia social ou perturbação de Ansiedade Social

 Características Clínicas:

Caracteriza-se por um medo acentuado e persistente

Situações sociais e de desempenho. Está exposto a pessoas


desconhecidas

Comporta-se de medo humilhante ou embaraçador

 Exposição à situação temida – Ansiedade (pode levar a um ataque de pânico)

 Sujeito reconhece que o medo é excessivo e irracional

 Comportamento de evitamento ou intensa ansiedade e mal estar

 Ansiedade e evitamento

Interferem significativamente com as rotinas normais do funcionamento ocupacional do sujeito.

 Curso/Evolução:

Início: Infância (5 anos) – História infantil de inibição social e timidez

Evolução contínua, pode flutuar com as exigências ou acontecimentos de vida stressantes.


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Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC)

1)Antecedentes históricos

* Luys (1833) e Falret (1889) que falou da -“Loucura da dúvida”

* Karl Westphall (1877) , foi o 1º a falar em “neurose obsessiva”

* Janet (1903), falou em “Obsessões e Psicastenia” , traços de personalidade pré-mórbida nos


indíviduos com POC, dúvida, insegurança, indecisão, meticulosidade, perfeccionismo.

* Freud (1917), recupera o termo neurose obsessiva.


Verifica-se uma mente ocupada com pensamentos que não interessam ao individuo;
sentimento de impulsos que parecem alheios a si próprio, o individuo sente-se impotente para
resistir , como se fosse impelido a executar determinados actos, pensamentos desprovidos de
sentido e sem qualquer interesse para o individuo.

1) Características clínicas

A) Manifestações psíquicas
. pensamentos obsessivos
. compulsão

Pensamentos Obsessivos:
.Ideias, pensamentos ou imagem que interferem e são experimentados como uma forma
particular de preocupação de modo insistente e repetido, com um carácter intrusivo.
.Os pensamentos podem ser simultaneamente incómodos e atraentes, odiados, desejados,
fascinam e aterrorizam, pelo que surge a luta, a ansiedade e a tensão.
.Ideias obsessivas: Egodistónicas ( conteúdo estranho e fora do controlo que o individuo
preferia não ter)
.Surgem frequentemente duvidas relacionadas : é ou não pecado, devo fazer ou não, é ou não
obrigatório, quando não ponderadas repetidamente, estas ideias ou preocupações dão origem
a ruminações.

Compulsões
.Impulsivos irracionais para uma determinada acção que não se chega a realizar.
.Apesar de uma tensão elevada, o desejo e o receio neutralizam-se, pelo que o individuo
continua a sua luta, esgotando a sua energia em tentativas simultâneas de sim ou não.
( indivíduos ruminativos)

B) Manifestações de conduta

 Traduzem-se por actos impulsivos ( aqueles que dão expressão ao impulso)


 O obsessivo não passa ao acto, a não ser de modo simbólico uma vez que esta tendência
para a acção está geralmente carregada de agressividade.
 Surgem assim, actos organizados ( comportamentos impulsivos/rituais) cujo objectivo é
diminuir a ansiedade. São actos repetitivos, constantes e portadores de sofrimento
 Tipos de rituais: verificação e lavagem
 Classificação sintomatologia obsessiva por Costa ( 1971)
-Fenómenos obsessivoides normais
-Neurose Obsessiva
-Doença Obsessiva
-Sintomas Obsessivos
*ver: acetato-Costa ( 1971, in Valleijo 1991, p. 389, 390
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2) Perturbações e características associadas

 Evitamento de situações que implicam conteúdo das obsessões ( Ex. Sujidade ou


contaminação, evitar casas de banho publicas, evitar apertar a mão a pessoas que
desconhece)
 Preocupações hipocondríacas: visitas repetidas ao médico
 Utilização excessiva de álcool, hipnóticos, ansioliticos
 Limitações ao nível conjugal, ocupacional, social

3) Dados Etiológicos

 Participação genética sujeita a influencias ambientais


o -alteração processamento da informação
o -alteração mecanismos de excitação – inibição centrais
o -possibilidade de patologia frontal
o -alterações bioquímicas centradas especialmente na serotonina.
 Meio familiar
o -valores educacionais exagerados ( limpeza, religião, moral, culpa,
perfeccionismo)
 Personalidade Pré-mórbida
-Janet- traços de personalidade subjacentes ao aparecimento da POC

5) Dados Epidemiológicos

- % igual nos homens e mulheres


- inicio: nos homens aparece por volta dos 6-15 anos e nas mulheres é por volta dos 20-29
anos

6) Curso / Evolução

 Inicio geralmente gradual


 Evolução crónica com flutuações: aumento e diminuição dos sintomas. O aumento está
relacionado com períodos de stress.
 70% dos casos são moderados-ambulatórios
 30% dos casos são graves e obrigam a internamento

Indicadores de bom prognóstico

-Ausência de personalidade pré-mórbida obsessiva


-Atipicidade ( quadro sem sintomatologia característica e bem definida)
-Ausência de sinais motores ( tiques, estereotipias)
-Inicio por factores desencadeantes
-Duração curta dos sintomas
-Intensa carga afectiva associativa

Indicadores de mau prognóstico

-Presença de personalidade pré-mórbida obsessiva


-Alterações neuróticas infantis
-Antecedentes familiares
-Educação rígida
-Gravidade clínica ( tipicidade)
-Sintomas motores
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-Inicio precoce, sem factores desencadeadores
-Pouco suporte social

Síndromes Depressivos

 Na antiguidade, era considerada a doença do Rei Saul ( antigo testamento)


 No séc. IV a.c. (Hipócrates) - Melancolia, Teoria dos humores

Classificações : Síndrome Depressivo

*Binárias
-Endógena / Exógena
-Psicóticos/ Neuróticos
-Vitalizadas/Personalizadas
-Primárias / Secundárias

*Múltiplas
-Endógena / Exógena / Mista
-Autónoma/ Reactiva /Evolutiva
-Somatógenea / Endógena / Psicógena
-Endógena / Neurótica / Situacional / Sintomática

Episódio depressivo maior ( características melancólicas e / ou psicóticas)

*Actuais: ICD-10/DSM IV
-Perturbação depressiva recorrente
-Perturbação persistente do humor ( distimia )
-Perturbação adaptação com humor depressivo
-Perturbação humor secundária ( estado físico geral ou substancias)

Sintomas psicológicos

-Humor depressivo: tristeza, abatimento , angústia


-Anedonia: desinteresse, perca de prazer
-Abragmatismo: perda de iniciativa
-Défice Cognitivo , menor atenção e concentração
-Redução da Auto-estima
-Culpabilidade e auto- desvalorização ( mais graves, ideias delirantes de culpa
-Diminuição da memória de fixação
-Ansiedade, irritabilidade, agressividade
-Apatia/ Indiferença emocional
-Pensamento lentificado
-Conteúdo do pensamento:
Tríade Cognitiva de Beck:
.ideias de desespero (hopelessness)
.ideias de abandono (helplessness)
.ideias de auto-desvalorização ( worthlessness)
-Ideação suicida ( intencionalidade, letalidades)
-Lentificação psicomotora

Sintomas Somáticos

-Anorexia/ Bulimia ( secundárias)


-Emagrecimento
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-Amenorreia
-Obstipação
-Insónia/Hipersonolência
-Algias generalizadas ( Ex.: cefaleias)
-Redução da libido ( Anafrodisia)
-Fadiga ( falta de energia)
-Alterações gastro- intestinais

Tipos Depressivos

- Estupor Depressivo

-predomina a acinésia
-ausência de resposta comportamental
-interferência de hiperactividade

- Depressão Mascarada

-semiologia somática
-factores culturais

- Perturbação Afectiva Sazonal (SAD)

-inicio Outono/Inverno ( resolução na primavera)


-avidez de hidratos de carbono
-hipersónica

- Depressão agitada

-inicio tardio (6ªdécada)


-hipercinésia
-delírio

-Depressão neurótica ( distímia)

-perturbação persistente
-problemática vivencial conflitual

Co-morbilidade- 2 sintomas ⇒ Ango-Depressão-Sindromes mistos de ansiedade e depressão

Depressão Bipolar / Depressão Unipolar

Bipolar: apresenta um quadro clínico no qual estão presentes episódios de melancolia que
alternam com episódios maníacos ou hipomaníacos.

Unipolar: apresenta um quadro depressivo endógeno, no qual estão presentes várias fases
melancólicas consecutivas sem episódio maníaco ou hipo-maníaco intercorrente.
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