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Obj 1
Definições
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave, complexo e muitas vezes debilitante, que
ocorre em cerca de 1% da população mundial'.
Foi Emil Kraepelin que, entre o final do século XIX e o início do XX, reuniu tais quadros sob o
termo dementia praecox, com base na observação de pacientes jovens que, após um período
psicótico, sofriam um enfraquecimento psíquico (VerblOdung, em alemão), o que corresponde,
hoje, à chamada deterioração cognitiva.
Partindo do ponto de vista de Kraepelin, Bleuler, entre 1908 e 1911, rebatizou a doença com o
nome de esquizofrenia e, embora a considerasse uma entidade clínica heterogênea ("o grupo das
esquizofrenias") procurou, para melhor definir seu diagnóstico, hierarquizar alguns dos seus
sintomas.
Aspectos epidemiológicos
Uma metanálise recente, envolvendo 55 trabalhos de 33 países mostrou que, ao contrário do que
se pensava, a incidência da esquizofrenia varia entre os países, apresentando em média cerca de
15,2:100.000 por ano, com uma proporção maior de homens em relação às mulheres (1,4:1),
havendo maior incidência no grupo de migrantes, além de predominância em áreas urbanas,
quando comparadas às rurais
• Já a prevalência varia de acordo com a medida adotada (expressa por 1.000 pessoas): a média
da prevalência pontual é de 4,6; a prevalência por período é de 3,3; e a prevalência por toda a
vida é de 4.
No caso da prevalência, não há diferença entre gêneros e urbanidade, porém, as taxas são
maiores em migrantes nos países desenvolvidos, nas maiores latitudes. A mediana por risco
durante a vida é de 7,2, e a mortalidade por qualquer causa é de 2,66. Entre as causas de
mortalidade, destaca-se o risco de suicídio, que na esquizofrenia é de 5%, enquanto na
população geral é de aproximadamente 1 %.
• Nas suas observações inicia is , Bleuler afirmava que 15 % das esq uizofre nias iniciavam-se
após os 40 anos, porém, estim a- se que a prevalência durante 1 a no de EIT seja de 0,6% e, no
caso da esquizofrenia de início muito tardio, gire em torno de 0,1 a 0,5%5. Para fin s didáticos ,
são apresentados os principais as pectos da es quizofrenia em crianças (EIP) , adultos (18 a 40
anos) e adultos co m mais de 40 anos ou mais de 60 anos (E IT) .
Obj 2
Etiologia e Fisiopatologia
As últimas cinco décadas foram testemunhas de um período impressionante de descobertas em relação à base neurobiológica da esquizofrenia. A pesquisa psiquiátrica atual produziu uma abundância de evidências apoia ndo a noção de que a esquizofrenia é um transtorno primariamente relacionado à disfunção cerebral. Consequentemente, o termo transtorno cerebral funcional, que era muito usado no passado para diferenciar esquizofrenia e outras doenças psiquiátricas de patologias cerebrais estruturalmente evidentes encontradas em condições neurológicas, tornou-se antiquado.
A convergência de diferentes técnicas investigativas modernas para essa questão identificou sinais importantes de base neurobiológica da esquizofrenia . Entretanto, apesar desses avanços, o total entendimento das causas e das vias bio lógicas que produzem esquizofrenia contin ua sendo um dos desafios mais resistentes que a medicina moderna enfrenta. Tal estado de incerteza é refletido pela presença de teorias concorrentes sobre a etiolo gia do transtorno. O objetivo desta seção é revisar e sintetizar essas importantes teorias e a evidência que as apoiam.
Antes de prosseguir, uma discussão de alguns dos princípios organizadores que orientam a pesquisa moderna da esquizofrenia será útil para orientar o le itor à pesquisa. Dois conceitos descrevem a estrutura geralmente aceita que reflete o atual entendimento da etio logia e fisiopatologia da esquizofrenia .
O primeiro é a visão de que a esquizofrenia é um transtorno do desenvolvimento neuronal, ou seja, que distúrbios no crescimento e amadurecimento normal de neurônios e de vias neurais produzem a doença.
A outra estrutura global é o modelo diátese-estresse da esquizofrenia. Esse modelo postula uma interação dinâmica entre fatores hereditários (diátese) e ambientais (estresse) para determinar se qualquer indivíduo desenvolve o transtorno. Ele é consistente com dados disponíveis mostrando que o risco de desenvolver esquizofrenia é fortemente influenciado pela genética, mas a eventual origem dessa doença também é modulada de forma consistente por fatores ambientais (D.A. Lewis e Levitt, 2002; Lie berman et al., 2001).
Genética
O fato de que a esquizofrenia tem um forte componente genético é uma noção prontamente aceita (ver Cap. 6, “Genética”, por Choudary e Knowles). O grau de risco é proporcional ao de genes compartilhados (Gottesman, 1991). Uma revisão de estudos com gêmeos mostrou taxas de concordância de 25 a 50% (Gottesman, 1991). Estudos de adoção indicaram um risco elevado para equizofrenia entre filhos de mães esquizofrênicas (Kety et al., 1971). A maneira exata como a esquizofrenia é herdada e a identidade dos genes específicos que podem dar origem ao transtorno, entretanto, continuam sendo temas de significativos debate e in certeza. É muito evidente que a esquizofrenia não segue os princípios de herança mendeliana simples (McGue e Gottesman, 1989).
Essa conclusão resulta da lógica de que padrões de herança de doenças que seguem a genética mendeliana simples são fáceis de detectar, e nenhum desses tipos de linhagem foi alguma vez descrito para esquizofrenia . Um modelo de transmissão genética complexa é muito mais provável no caso desse transtorno. Doenças complexas envolvem diversos genes, cada um com um efeito modesto sobre a herdabilidade, agindo em conjunto, de maneira linear ou sinérgica, para conferir um risco de doença global (Risch, 1990). Mais comple xidade pode surgir da penetrância parcial desses genes, das interações entre ele s e dos fatores neuroevolu tivos ou ambientais epigenéticos.
A possível complexidade de fatores genéticos e não genéticos na esquizofrenia é ilustrada por estudos de adoção de gêmeos. Vários foram publicados e, no total, ele s foram notavelmente consistentes em relatar uma taxa de concordância em torno de 50% para gêmeos monozigóticos. Esse resultado acentua a importância de fatores tanto genéticos como não genéticos no risco da doença. Mesmo se dois indivíduos compartilham constituição genética idêntica, a chance de que ambos desenvolvam esquizofrenia é de apenas 50%. Por conseguin te, causas não genéticas devem explicar essa falta de concordância total. Um estudo mais recente revelou que tal risco elevado pode ser influenciado em parte por um ambiente estressante (Tienari et al., 1994).
Modelos semelhantes de interação gene-ambiente levando à expressão de esquizofrenia receberam validação empírica em outros transtornos psiquiátricos (Moffitt et al., 2005). Nas seções seguintes, alguns dos fatores não genéticos mais comumente citados que parecem explicar essa taxa de concordância são revisados. Nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novos modelos de estudo e métodos de alto processamento, houve imensa proliferação no número de supostos genes de risco para esquizofrenia (Fig. 10-2). Um aspecto in teressante dessa lista é que muitos desses genes estão relacionados a processos de desenvolvimento neuronal envolvidos no estabelecimento de redes neurais (p. ex., migração neuronal e formação de sinapse ou regula ção de transmissão sináptica). Um desses genes que recebeu maior atenção foi a disbindin a DTNBP1 (Straub et al., 2002).
Tal produto genético liga-se a componentes do complexo de distrofina, considerado importante na media ção da estrutura e da função da sinapse neural. Outro suposto gene da esquizofrenia é a neuregulina (NRG1) (Stefansson et al., 2002), o qual está lo calizado no 8p21-22 e pode exercer vários papéis na transmissão neural, no desenvolvimento axonal e na sin aptogênese (Corfas et al., 2004). Um fato relevante é que reproduções de achados de estudos de ligação têm sido relativamente raras. Entretanto, isso pode ser atenuado já que diversos genes de risco estão envolvidos, cada um com efeito apenas modesto. Uma recente metanálise desses estudos de ligação mostrou certa sustentação em relação ao envolvimento de diversas regiões (Badner e Gershon, 2002; C.M. Lewis et al., 2003). Estudos de associação de acompanhamento em muitas dessas regiões foram promissores e identificaram vários genes canditatos para risco de esquizofrenia (Owen et al., 2005).
Fatores Ambientais
É bastante evidente pela revisão da literatura genética que fatores não hereditários ou ambie ntais provavelmente desempenham um papel significativo no risco de desenvolvimento de esquizofrenia. Nesta seção, são examinados estudos que id entificaram diversos fatores ambientais que podem aumentar o risco para o transtorno.
A ideia de que o desenvolvimento neural do feto representa um período especialmente vuln erável para a gênese da esquizofrenia é apoiada por observações de incidência mais alta de complicações obstétricas e perinatais em pacientes com esquizofrenia em diversos estudos.
1) complicações da gravidez;
2) crescimento e desenvolvimento do feto anormais, e
3) dificuldades no parto (Cannon et al., 2002).
A metanálise indicou que cada uma dessas categorias estava sig nificativamente associada a risco aumentado, mas que as dimensões do efeito foram geralmente modestas. Outra linha de estudos encontrou associação entre estado nutricional materno e esquizofrenia nos filhos. O estudo Dutch Famine examinou a prevalência de esquizofrenia entre uma coorte de nascimentos que ocorreu durante o inverno de 1944 a 1945, um período de subnutrição grave para a maioria dos cidadãos em uma região da Holanda (Susser et al., 1996).
O estudo mostrou um risco duas vezes maior de esquizofrenia associado à subnutrição pré-natal extrema. A maioria dos estudos epid emiológicos investigando fatores de risco ambientais para esquizofrenia é limitada pela forma retrospectiva da coleta de dados. Por exemplo, no caso de exposição materna à influenza, tal informação é geralmente obtid a por meio da lembrança dos participantes da infecção pela gripe durante a gravidez ou da associação de um surto desta doença conhecido em determinada comunidade com o período gestacional.
O estudo Prenatal Determinants of Schizophrenia tratou de tal limitação baseando-se em dados obtidos prospectivamente, que incluíam soro materno obtido durante visitas pré-natais e informação demográfica sobre os participantes (Susser et al., 2000). Dentre a coorte de aproximadamente 12 mil grávidas, casos potenciais de esquizofrenia foram id entificados a partir de registros médicos e farmacêuticos. Desses casos potencia is, avaliações diagnósticas face a face por psiquiatras pesquisadores resultaram na identificação de 71 indivíduos com esquizofrenia. Esse estudo concluiu que a infecção por influenza no terceiro trimestre está associada a um risco sete vezes maio r de esquizofrenia e transtornos relacionados (Brown et al., 2004).
Outros possíveis patógenos detectados nesse estudo foram a toxoplasmose e o chumbo. Outra linha de pesquisa apontou a importância do ambiente físico e das exposições fetais durante a gestação. A variação sazonal na prevalência de nascimentos levando à esquizofrenia foi identificada, as quais apresentam maior expressão no inverno e na primavera (G. Davie s et al., 2003). Várias teorias tentando explicar tal achado foram propostas: fatores ambientais predisponentes de esquizofrenia, como, por exemplo, temperatura do ambiente, exposição a agentes infecciosos e deficiências nutricionais; resistência aumentada a infecções; e outros eventos conferidos pela doença, ocasionando sobrevida aumentada nos meses de inverno.
Embora a prevalência mundial pareça ser equivalente entre as nações (Jablensky, 2000; Sartorius et al., 1977), inúmeros achados e teorias sugeriram uma relação direta entre os fatores sociais e culturais específicos e o desenvolvimento ou a gravidade de esquizofrenia. Alg uns desses fatores incluem situação de imigração, urbanidade e condição socioeconômica. Entretanto, os resultados de estudos foram inconsistentes ou complicados por aspectos que dificultam determinar se esses fatores são causas ou efeitos do transtorno (p. ex., declínio na condição socioeconômica causado por doença mental).
Fatores Neuroquímicos
A descoberta acidental do primeiro neuroléptico inaugurou a era moderna da psiquia tria. O efeito de tal achado foi visto não apenas no tratamento aprimorado para esquizofrenia, mas também na pesquisa. A possibilidade de que um agente farmacológico podia melh orar alg uns dos sintomas de esquizofrenia motivou os pesquisadores a tentar identificar as vias neuroquímicas afetadas por esses medicamentos na esperança de determinar a fisiopatologia subja cente da doença. Essa linha de pesquisa levou ao desenvolvimento de teorias influentes, como a da função alterada de neurotransmissores, que busca desvendar a esquizofrenia. Embora a maio ria dos pesquisadores reconheça agora que a etio logia da esquizofrenia não encerra sua compreensão somente na disfunção de neurotransmissores, é evidente que tal aspecto é importante na expressão desse transtorno.
Dopamina
A clorpromazina foi sintetizada originalmente na década de 1950 como um anti-histamínico para uso como agente pré-anestésico. Após o cirurgião francês Henri Laborit ter observado um efeito particularmente calmante sobre os pacientes, ele recomendou a clorpromazina a seus colegas psiquia tras para o tratamento de indivíduos agitados. Ele s rapid amente descobriaram os benefícios desse fármaco em pacientes com esquizofrenia, todavia observaram efeitos colaterais parkin sonia nos com doses mais altas.
Eles cunharam o termo neuroléptico, literalmente traduzido do francês como “tomar o neurônio”, por deduzirem que o mecanismo de ação do medicamento envolvia a modulação neural. A descoberta acidental da utilidade da clorpromazina na esquizofrenia levou fin almente ao desenvolvimento da hipótese da dopamina, uma das teorias mais in fluentes sobre a etiolo gia desse transtorno. Ela postula que os sintomas de tal doença são os subprodutos de disfunção da neurotransmissão de dopamina.
As principais linhas de evidência apoiando esse papel para a dopamina provêm do trabalho de Carlsson e Lin dqvist (1963), o qual determinou que a administração de fenotiazinas em animais blo queia os efeitos comportamentais de agonistas de dopamina (como a anfetamina) e resulta em turnover aumentado desse neurotransmissor. Inversamente, a admin istração de anfetamina, que era conhecida por aumentar os níveis sinápticos de dopamina, resultava em anormalidades comportamentais e sin tomas reminiscentes de esquizofrenia. Além desse, um estudo posterior especificou ain da que o receptor de dopamina mais importante pode ser o D2, na medida em que a potência clínica está mais bem correlacionada com ligação a esse subtip o de receptor (Cresse et al., 1976).
A neuroimagem contribuiu de forma significativa para o entendimento da base neuroquímica para a esquizofrenia. Modalidades de imageamento como tomografia de emissão de pósitrons (PET) e tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) estão permitindo que os pesquisadores avaliem o estado funcional de sistemas de neurotransmissores (Fig. 10-3). Uma linha de estudos de PET produziu uma hip ótese mais refinada de desregulação de dopamina. Essas investigações verificaram que o teor dopaminérgico associado à esquizofrenia pode ser mais comple xo do que se pensava. Essa hip ótese propõe um estado hip erdopaminérgico no sistema de D2 estriatal (Abi-Dargham et al., 2000), que dá origem a sintomas positivos e a um estado hip odopaminérgico no sistema de D1 pré-frontal associado a déficits cognitivos de ordem superior (Abi-Dargham et al., 2002).
Embora a hipótese da dopamina tenha sido muito importante para a pesquisa de esquizofrenia, a psiquiatria moderna avaliou suas limitações. O desafio da hipótese da dopamina vem prin cipalmente de duas linhas de evid ência . Primeira, a hipótese da dopamina não explica os sintomas negativos, que são agora reconhecidos como componentes essenciais do transtorno. Do mesmo modo, não foi demonstrado que agentes blo queadores da dopamina sejam efetivos no tratamento de sintomas negativos, nem que agentes dopaminérgicos induzam sintomas negativos. Segunda, os antipsicóticos atípicos, medicamentos eficazes na abordagem à esquizofrenia, parecem agir em vários sistemas de neurotransmissores, além da dopamina.
Outras Monoaminas
A observação de que o neuroléptico atípico prototípico clozapina é muitas vezes efetivo em pacientes com sintomas refratários aos agentes bloqueadores do receptor de D2 tradicionais e possui alta afin idade por diferentes receptores monoaminérgicos, incluindo os serotonérgicos, histaminérgicos, muscarínicos -adrenérgicos, além do de D2, levou à hipótese de que outros sistemas de neurotransmissores podem estar envolvidos na fisiopatologia da esquizofrenia . Um dos mais importantes desses outros neurotransmissores é a serotonina. Ela foi implicada pela eficácia clínica dos muitos agentes atípicos com alta afinidade por seus receptores. Há 14 subtipos de receptor de serotonin a, mas alguns dos mais envolvidos na esquizofrenia incluem os subtipos 5-HT2C, 5-HT2A e 5-HT1A.
O sistema de acetilcolina (ACh) foi implicado na fisiopatologia da esquizofrenia inicialmente com base na observação de que pacientes com o transtorno apresentam altas taxas de uso de produtos de tabaco. Isso sugeriu que a nicotina proporciona alguma melhora dos sintomas pela sua ação sobre o sistema de ACh. Tal hipótese recebeu apoio por um trabalho que examinou os efeitos da nicotin a sobre os déficits sensoriais precoces bem-documentados na esquizofrenia; essa substância normalizou medidas de bloqueio de prejuízo auditivo nesse transtorno (L.E. Adle r et al., 1992).
Glutamato e N-metil-D-aspartato
O glutamato é o neurotransmissor excitatório mais prevalente no cérebro. Por conseguinte, sua função é fundamentalmente diferente daquela da dopamina e dos outros neurotransmissores monoaminérgicos, que são a princípio moduladores de neurotransmissão excitatória ou in ibitória. O envolvimento do sistema de glu tamato na fisio patologia da esquizofrenia é deduzido sobretudo pela observação de que pessoas intoxicadas com agentes que agem no receptor desse neurotransmissor, como a fenciclidina (PCP) e a quetamina, frequentemente manifestam um transtorno do comportamento semelhante à esquizofrenia.
Curiosamente, esse transtorno do comportamento pode incluir sintomas positivos e negativos de esquizofrenia (Javitt e Zukin , 1991). A PCP e a quetamina ligam-se à classe de receptores de glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA), portanto o prin cipal foco da pesquisa desse neurotransmissor tem sido o NMDA. A regulação do receptor de NMDA é altamente complexa, com inúmeros sítios de modulação alo stérica. Na perspectiva da psicopatolo gia, um dos sítios mais importantes parece ser o de glicina. Diversas experiência s clínicas examinaram agonistas parciais (D-cicloserina) e totais (glicina, D-serina e D-alanin a) desse sítio.
As farmacodinâmicas da cicloserina com o receptor de NMDA são complexas, pois ela age como um agonista em baixas concentrações e como antagonista em altas. Um fato interessante é que, hoje, a cicloserina é usada sobretudo no tratamento de tuberculose, sendo administrada em altas doses e apresentando como efeito colateral relativamente comum o desenvolvimento de psicose. Os resultados de estudos clínicos investigando os efeitos de agonistas de glicina foram mistos, com alg uns mostrando benefício tanto para os sintomas positivos como para os negativos. Entretanto, devido ao número limitado de pesquisas, a confirmação da importância do sistema glu tamato/ NMDA na esquizofrenia ainda exige mais investigações.
Ácido -aminobutírico
O possível papel do ácido -aminobutírico (GABA) na fisiopatologia da esquizofrenia segue duas linhas de pesquisa separadas, mas relacionadas, envolvendo interneurônios inibitórios. Na primeira delas, acredita-se que os efeitos psicotomiméticos de antagonistas de NMDA, como a PCP, são media dos por sua ação sobre a liberação de GABA. Os receptores de NMDA são encontrados em interneurônios inibitórios GABAérgicos. A ativação desses receptores de NMDA resulta em liberação aumentada de GABA, que, por sua vez, causa supressão na liberação de glu tamato de células glutamatérgicas. A ligação de um antagonista no receptor de NMDA nos neurônio s inibitórios resulta em um estado hiperglutamatérgico, que supostamente produz sin tomas de psicose. Na segunda linha de pesquisa, alterações no circuito neural do córtex pré-frontal, envolvendo o GABA, parecem dar origem aos déficits cognitivos de ordem superior na esquizofrenia.
As teorias sobre disfunção de GABA na esquizofrenia centralizam-se no grupo de interneurônios inibitórios contendo parvalb umina. Estudos mostrando uma redução no número de célu las de parvalbumina e expressão baixa de descarboxilase do ácido glutâmico, uma enzima essencial na síntese GABAérgica (Akbarian et al., 1995; Volk et al., 2000), apontam déficit funcional no GABA no córtex pré-frontal. As célula s de parvalbumina podem ainda ser subdivididas com base em diferenças nas propriedades histológicas e supostas propriedades funcionais. Os axônios de células “em candelabro” visam ao segmento inicial do axônio de célu las piramidais no neocórtex e apresentam uma área de cobertura limitada. As células de arborização ampla buscam o soma e as porções proximais dos dendritos, e, como o nome sugere, seus axônios cobrem uma área extensa.
Com a posição privilegiada de seus cartuchos axonais, as células “em candelabro” parecem regular potencialmente o tempo de produção das células piramidais dentro de uma coluna, enquanto as células de arborização ampla parecem inibi-las em colunas adjacentes (D.A. Lewis, 2000). Além disso, as célu las “em candelabro” podem terminar em várias centenas de célula s piramidais, preparando o terreno para a sincronização de muitas delas (Fig. 10-4) (Cobb et al., 1995; Howard et al., 2005). Em conjunto, acredita-se que as células “em candelabro” e as de arborização ampla coordenem o controle preciso da sincronia e a extensão espacial da atividade da célu la piramidal no córtex pré-frontal. Dessa forma, seria esperado que a interrupção dessas funções na esquizofrenia ocasio nasse a perda de organização temporal e espacial na atividade neuronal necessária para processos cognitivos de ordem superior.
O advento de modernas técnicas de neuroimagem permitiu a análise detalhada de estruturas cerebrais e mold ou significativamente o entendimento a respeito da base neural da esquizofrenia. Anteriormente, volumes cerebrais podiam ser medidos de maneira confiável apenas com amostras de necropsia. A relativa facilidade de uso resultou em uma proliferação de análises volumétricas por neuroimagem in vivo.
Estudos de TC documentando o aumento significativo dos ventrículos cerebrais e a diminuição no volume cerebral total em esquizofrênicos (em relação a sujeitos saudáveis) forneceram os primeiros resultados de neuroimagem indicando que a esquizofrenia é um transtorno com base cerebral (Johnstone et al., 1976). Esses resultados contin uam sendo os achados volumétricos mais confiá veis e consistentes nessa doença, com uma redução média no volume ventricular estimado em 40% (Lawrie e Abukmeil, 1998).
Entretanto, apesar da grande diferença entre esquizofrênicos e grupo-controle, uma sobreposição substancia l é detectada entre os grupos, e tal medida não pode ser usada para diferenciar com segurança entre esses dois grupos de indivíduos. Em outras palavras, ainda não há um bom marcador dia gnóstico biológico para a esquizofrenia. Análises volu métricas de RM mais recentes confirmaram os resultados desses estudos de TC anteriores. Elas também id entificaram diversas regiões específicas de volume diminuído, inclu indo as estruturas temporais pré-frontal e medial, o córtex temporal lateral e o tála mo (Harrison, 1999).
A magnitude da diferença de volume entre esquizofrênicos e sujeitos saudáveis é geralmente modesta nessas regiõ es, e esses resultados não foram tão consistentes quanto os achados ventriculares e de todo o cérebro. Uma recente metanálise de estudos de RM envolvendo indivíduos de primeiro episódio mostrou reduções altamente significativas no volume cerebral total e aumentos no volume ventricular (Steen et al., 2006), sugerindo que esses achados não são resultantes apenas de cronicidade da doença ou exposição a medicamento. Os estudos de neuroimagem têm confirmado fortemente que as anormalidades cerebrais estão, na verdade, associadas à esquizofrenia. Consequentemente, o interesse na identificação de anormalidades neurais microscópicas foi renovado, com estu-dos de neuropatolo gia modernos identificando alterações despercebidas anteriormente nos cérebros de portadores de esquizofrenia .
Uma revisão da literatura mostrou achados consistentes, incluindo redução no tamanho neuronal cortical, diminuição na arborização axonal e dendrítica e decréscimo no número de neurônios talâmicos. Este estudo mostrou perda altamente significativa no número de neurônios no núcleo medial dorsal do tálamo, sobretudo naquele que se projeta para o córtex pré- -frontal dorsolateral (Popken et al., 2000). O recente desenvolvimento de imagem por tensor de difusão, uma técnica baseada na ressonância magnética, está permitindo que os pesquisadores meçam a integridade de fibras brancas no cérebro.
Tal técnica de imageamento foi rapidamente adotada por pesquisadores da esquizofrenia para examinar alterações nessas fib ras (Kanaan et al., 2005), testando, assim, a hip ótese de que o transtorno é resultado de conectividade diminuída entre regiões cerebrais. Um número cada vez maior de estudos está revelando perda de integridade das fibras brancas em muitas áreas, como nos tratos ligando os córtices pré-frontal e temporal (para uma revisão, ver Kubicki et al., 2007). Entretanto, como de praxe em novos métodos aplicados a uma doença complexa, uma grande quantidade de estudos ainda não reproduziu esses primeiros resultados. Consequentemente, o campo deverá aguardar por mais estudos com essa tecnologia promissora antes da avaliação da importância dessa linha de pesquisa.
A lógica é que anormalidades cognitivas representam déficits centrais da esquizofrenia e que o estudo desses déficits pode fornecer um melhor índice da disfunção neural subja cente. A constatação de que a cognição é um aspecto central da esquizofrenia vem de muitos aspectos. Primeiro, estudos documentaram uma correlação razoavelmente consistente entre déficits cognitivos e estado funcio nal. Isso contrasta com os sintomas psicóticos, que geralmente não se correlacionam bem com o estado funcio nal. Segundo, os déficits cognitivos são muito comuns entre portadores de esquizofrenia . Terceiro, esses déficits parecem constituir uma manifestação essencial desse transtorno, porque ele s antecedem o início de sintomas psicóticos e estão presentes em parentes de primeiro grau não afetados e gêmeos idênticos.
O estudo da cognição tem um benefício prático adicional: muitos paradigmas são receptivos a controles e manipulação experimental. Agora, muitas pesquisas indicam déficits proeminentes na cognição de ordem superior na esquizofrenia. Perturbações no controle cognitivo (a coordenação de pensamentos e ações), na atenção, na linguagem e na memória foram documentadas por diversos pesquisadores que usaram diferentes paradigmas. Alguns deles tentaram desenvolver modelo s cognitivos abrangentes do transtorno, que pudessem explicar muitos dos seus déficits e sintomas comportamentais.
Goldman-Rakic (1994) propôs que a memória de trabalho, a manutenção de informação “em operação” para orientar o comportamento, é o déficit fundamental na esquizofrenia. Ela indicou ainda que os déficits cognitivos e sintomas como desorganização na fala e ações são manifestações de prejuízos da memória de trabalho. Cohen e cola boradores (1999) sugeriram um modelo de déficit de processamento do contexto para esquizofrenia. Eles defin iram contexto como a conjunção de itens, regras e metas necessária para orientar o comportamento ou as decisões. Um exemplo de processamento do contexto é a capacidade de um turista norte-americano, ao visitar a Inglaterra, evitar ser atropelado por um carro ao atravessar uma rua.
Ele consegue isso percebendo que a pessoa precisa olhar primeiro para a direita e, então, para a esquerda antes de atravessar uma rua naquele país. Nesse exemplo, a conjunção de ver o sinal de cruzamento e conhecer as regras de trânsito da Inglaterra constitui o contexto no qual as ações (olhar primeiro para a direita e então para a esquerda) são determinadas. De acordo com o modelo de processamento do contexto, muitos dos diferentes déficits cognitivos vistos na esquizofrenia podem ser reduzidos à in capacidade dos pacie ntes de manter diferentes representações na mente.
Andreasen e colaboradores (1998) propuseram o modelo de dismetria cognitiva da esquizofrenia , no qual o déficit primário está na incapacidade dos pacientes de coordenar a atividade mental de forma rápid a e eficiente. A primeira geração de estudos da neurociência cognitiva focalizou-se principalmente em áreas tradicionais de pesquisa da cognição, ou seja, os processos cognitivos de ordem superior. Mais recentemente, as fronteiras de indagação ampliaram-se para incluir praticamente todas as esferas de processos mentais prejudicados na esquizofrenia. Por conseguinte, déficits de processamento de informação pode ser um termo mais geral e apropriado para descrever os diferentes estudos atualmente empreendidos por pesquisadores da esquizofrenia. Essas pesquisas estão identificando déficits precoces de processamento de informação no âmbito sensorial, afetivo e social.
Por exemplo, o mascaramento visual é um procedimento no qual a percepção de um obje to (alvo) apresentado brevemente é reduzida pela exibição de outro objeto (máscara) logo antes ou depois. Inúmeros estudos relataram que os esquizofrênicos apresentam déficits de mascaramento visual, o que significa que eles têm mais dificuldade, em comparação a sujeitos saudáveis, em perceber corretamente o alvo quando uma máscara é exibid a (M. Green e Walker, 1986). Foi demonstrado que o déficit de mascaramento visual está correlacionado a sintomas negativos (M. Green e Walker, 1986) e transtorno do pensamento formal (Perry e Braff, 1994). Uma outra linha de pesquisa encontrou correlatos neurais de déficits no processamento visual precoces.
Diversos grupos que usaram potenciais de resposta evocados (ERPs) detectaram anormalidades no componente P1 de respostas visuais evocadas na esquizofrenia. Na área auditiva, os déficits sensoriais precoces foram identificados por meio de ERPs auditivos. Os esquizofrênicos têm anormalidades na chamada supressão de P50. Em sujeitos saudáveis, dois sons apresentados em rápida sucessão produzem uma redução na amplitude do componente P50 do ERP auditivo evocado pelo segundo som (L.E. Adler et al., 1982). Isso pode ser visto como um tipo de habituação, na qual a repetição de um evento sensorial resulta em um enfraquecimento da resposta neural.
Foi demonstrado que os pacientes não apresentam essa supressão de P50 com o segundo estímulo auditivo. Isso foi in terpretado como a incapacidade dos esquizofrênicos de reter informação sensorial adequadamente. Os portadores de esquizofrenia também demonstraram prejuízos na negatividade desproporcional (Shelley et al., 1991). Em sujeitos saudáveis, a apresentação de um tom “excêntrico”, um tom desvia nte dentro de uma série de repetições breves de um tom-padrão, induz um ERP auditivo que é diferente da resposta evocada pelo tom-padrão. Com a supressão de P50, acredita-se que a negatividade desproporcional pode ser evocada independentemente da atenção prestada pelo indivíduo ao estímulo.
Processamento do Afeto
Com o reconhecimento da importância de sintomas negativos na esquizofrenia, cada vez mais atenção está sendo dispensada ao estudo do afeto e dos processos relacionados na esquizofrenia. Nos últimos 10 anos, houve um aumento exponencial no número de estudos focalizando esse aspecto da doença. Dentre esses estudos, há aquele s que enfatizam a expressão emocional, o reconhecimento de sin ais emocionais e a experiência subjetiva de emoções. Os déficits na expressividade emocional dos portadores de esquizofrenia (p. ex., afeto embotado ou in sípido) são talvez os sintomas isolados mais aparentes aparentes do transtorno. Alé m das manifestações de sofrimento associadas à psicose, é verificada uma diminuição marcada na expressividade e responsividade emocional da face (Berenbaum e Oltmanns, 1992). Em oposição à crença de que a expressão da emoção diminuída reflete sua experiência reduzida, os esquizofrênicos, em geral, parecem não apresentar déficit experiencial subjetivo (Berenbaum e Oltmanns, 1992; Earnst e Kring, 1999).
Isso é verdadeiro mesmo naqueles com déficits na expressividade emocio nal ou predominância de afeto embotado. Além de prejuízos na capacidade de expressar emoções, os indivíduos com esquizofrenia experimentam dificuldade em reconhecer afeto nos outros. Diversos estudos revelaram que quando uma série de figuras de rostos retratando as emoções básicas é apresentada, os esquizofrênicos têm dificuldade em nomear a emoção expressada (Kohler et al., 2000; Schneider et al., 2006). Alg uns pesquisadores postula ram que tal déficit é um dos problemas básicos de comunicação que os portadores de esquizofrenia enfrentam na vida diá ria. Um fator importante ainda a ser esclarecido nessa linha de trabalho é a especificidade do déficit de reconhecimento de afeto recém-descrito além de um prejuízo cognitivo generalizado, porque alg uns estudos detectaram a ausência de um déficit diferencial (Kohler et al., 2000; Sale m et al., 1996), enquanto outros, a presença (Schneider et al., 2006).
Cognição Social
Na esquizofrenia, como acontece com o afeto, o interesse em examinar déficits no funcio namento social aumentou muito. De certo modo, os prejuízos sociais também constituem um aspecto central desse transtorno, porque anormalidades nas funções sociais frequentemente ocorrem durante a fase prodrômica (Davidson et al., 1999), por ocasião do diagnóstico inicial e ao longo de todo o curso da doença (Addington e Addington, 2000). Estudos sobre a cognição social id entificaram duas áreas gerais de anormalidade na esquizofrenia: a teoria da mente e as percepções socia is (Pinkham et al., 2003). A teoria da mente refere- -se à capacidade de: 1) entender que o estado mental (crenças, intenções e perspectivas) de terceiros é separado e diferente do da pessoa e 2) fazer deduções sobre as intenções de outro indivíduo. As habilidades de teoria da mente são processos cognitivos de ordem superior que requerem a integração de estímulos sensoriais de vários canais com informação contextual. Estudos demonstraram que pacie ntes com esquizofrenia não possuem as habilidades de teoria da mente (Corcoran et al., 1995; Frith e Corcoran, 1996).
Também foi consistentemente evidenciado que a percepção social, ou a capacidade de reconhecer informações que governam o comportamento social adequado, é anormal na esquizofrenia. Os déficits de reconhecimento de afeto através de expressão facial discutidos anteriormente são um exemplo importante de disfunção da percepção social. Acredita-se que prejuízos no reconhecimento de afeto são a causa da incapacidade dos pacientes de decodificar o estado emocional dos outros. Curiosamente, foi apresentado que os déficits na percepção de indícios socia is são mais agudos na informação abstrata do que na não abstrata (Corrigan e Nelson, 1998).
Neuroimagem Funcional
A descoberta de que a atividade de regiões cerebrais específicas podiam ser imageadas em indivíduos acordados e ativos foi um dos desenvolvimentos mais importantes na história da pesquisa psiquiátrica e de esquizofrenia. Sobretudo com a disponibilidade de RM funcional, a neuroimagem funcional tem sido amplamente adotada por pesquisadores e, agora, é um método corrente na busca pela base neurobiológica desse transtorno. Ela permite que os pesquisadores id entifiquem regiões cerebrais doentes e processos cognitivos anormais na esquizofrenia, avaliando correlatos funcionais neurais e determinada tarefa cognitiva. A detecção de regiões disfuncionais fornece dados que podem ratificar, retificar ou descartar hip óteses em estudos que estão usando outros métodos de análise. Por exemplo, a descoberta de envolvimento anormal do córtex pré-frontal dorsolateral tem sido essencial para orientar estudos genéticos e de necropsia que visam à base celu lar e mole cular de déficits cognitivos de ordem superior na esquizofrenia.
Essa estrutura é considerada uma região-chave para os processos cognitivos de ordem superior, e, consequentemente, postula-se que ela seja um dos locais mais importantes de patologia na esquizofrenia. Ingvar e Franzen (1974), e mais tarde Weinberger e colaboradores (1986) e Berman e colaboradores (1986), verificaram que o córtex pré- -frontal dorsolateral encontra-se hipoativo na esquizofrenia. Esses resultados fornecem a base para a hip ótese de “hipofrontalidade” do transtorno. Nos últimos 20 anos, inúmeras análises de neuroimagem em geral apoiaram a presença de um córtex pré-frontal dorsolateral disfuncional na esquizofrenia entre diferentes modalidades de imagem e paradigmas cognitivos (Callicott et al., 2000; Manoach et al., 2000; Perlstein et al., 2001).
De modo geral, seguindo as teorias apresentadas por Goldman-Racik e outros, as quais defendem que:
1) a capacidade de manter a informação “em operação” constitui a base para muitos processos cognitivos de ordem superior e comportamentos e
2) o córtex pré-frontal dorsolateral é a região cerebral-chave para a manutenção de informação em operação, uma série de estudos de imagem funcional determinou que o grau de ativação do córtex pré-frontal dorsolateral na esquizofrenia é altamente correlacionado com as medidas clínicas de desorganização cognitiva e comportamental (Fig. 10-5).
Outras pesquisas recaem no esclarecimento da base neural de alucin ações auditivas e, desse modo, no fornecimento de um racio nal neurobioló gico para o tratamento efetivo desse sintoma. As alucin ações auditivas parecem ser resultado de ativação anormal do sistema neural que serve ao processamento sensorial auditivo. Em um estudo envolvendo esquizofrênicos com alu cinações auditivas, o início e a consequência das alucinações correlacionavam-se com o comprometimento e descomprometimento do córtex auditivo primário (Fig. 10-6) (Dierks et al., 1999).
Estudos de neuroimagem funcional, como o citado anteriormente, forneceram apoio para uma nova estratégia terapêutica direcionada a alu cinações auditivas refratárias a medicamentos. Análises de IRMf demonstram hiperativação no córtex temporoparietal durante as alucinações auditivas. Por conseguinte, seria ló gico postular que o tratamento de alucinações auditivas abordaria a desativação dessa região. Hoffman e cola boradores (2005) resolveram realizar tal intervenção por meio de estimulação magnética transcrania na repetitiva (rTMS). A rTMS é um procedimento em que pulsos repetitivos breves de um campo magnético são aplicados em uma regiã o do córtex. Acredita-se que a rTMS reduza a excitabilidade na regiã o aplicada. Um grande estudo clínico relatou que a rTMS da região temporoparietal esquerda é um método seguro e efetivo para diminuir a gravidade das alu cinações auditivas em indivíduos esquizofrênicos resistentes a medicamento (Hoffman et al., 2005).
ETIOPATOGENIA
Fatores de risco
Em termos do curso ou hi stória natural, a esquizofrenia pode ser dividida nas fases pré -mórbida,
prodrômica, progressiva e crônica (Figura 1 ).
A fase pré-mórbida é aquela que precede o início da doença. Nesta fase, já podem ser
observadas alterações, como atrasos no desenvolvimento motor e retardo na aqui sição da
fala.
O período prodrômico culmina muitas vezes com o primeiro episódio psicótico, e neste ponto
inicia-se a chamada fase progressiva do transtorno.
• Um dos grandes avanços na investigação dos fatores etiológicos da esquizofrenia foi a idéia de
que a base de sua fisiopatologia se deve a uma alteração do neurodesenvolvimento 10
• De fato, no princípio, a esquizofrenia era concebida como um transtorno do cérebro de curso
progressivo e deteriorante (demência precoce), tendo como base um processo
neurodegenerativo, sendo que os primeiros estudos de Alzheimer e Southard apoiavam essa
hipótese. No entanto, vários argumentos contradizem essa hipótese, como ausência de gliose,
alterações cerebrais estruturais não progressivas identificadas desde a infância ou a adolescência
e redução da arborização com aumento de densidade neuronal em áreas pré-frontais (áreas 9 e
46) - também chamada hipótese da redução do neuropil.
Dessa forma, ganhou força uma nova hipótese, a do neurodesenvolvimento, que propõe que
alterações previamente existentes ou precocemente adquiridas, ao interagir com fatores
desencadeantes, modificariam os circuitos cerebrais, determinando o aparecimento de quadros
psicóticos. Na realidade, esses dois processos ocorrem na esquizofrenia e a Figura 2 (adaptada
de Jarskog & Gilmore, 2006 11) ilustra os processos do neurodesenvolvimento associados aos
períodos pré-mórbido e prodrômico, ao passo que a partir da irrupção da psicose,
os processos neurodegenerativos passam a predominar.
Adultos
Pacientes com esquizofrenia têm baixo desempenho em tarefas cognitivas, como memória de
trabalho e funções executivas associadas à redução da atividade do córtex pré-frontal, que foram
identificadas inicialmente correlacionando-se o fluxo sanguíneo cerebral com o desempenho em
testes como o de Wisconsin. Vários estudos foram realizados posteriormente com técnicas como
a da tomografia por emissão de pósitrons (PET), e uma metanálise confirmou esses achados12
•
Há vasta literatura correlacionando redução da atividade pré-frontal cerebral em pacientes com
esquizofrenia e funções cognitivas. Tais anormalidades foram observadas em familiares de
primeiro grau, podendo estar associadas a um aumento da atividade dopaminérgica estriatal,
porém, elas não são exclusivas da esquizofrenia, podendo ser observadas em pacientes com
transtornos do humor13
.
Esquizofrenia de início tardio
Quando comparados com controles normais da mesma faixa etária, pacientes com EIT
apresentam desempenho inferior em várias funções neuropsicológicas, como aprendizado e
capacidades motora e verbal, porém são menos comprometidos em termos de funções
executivas.
Pacientes com início muito tardio (acima dos 60 anos) mantêm sua capacidade de aprendizado
preservada, o que os distingue de pacientes com demência. A EIT caracteriza-se por
sintomatologia paranoide, traços de personalidade pré-mórbidos, tendência à cronicidade e
melhora sintomática com antipsicóticos5
•
Alterações cerebrais: neuroimagem
Neuroimagem estrutural
Em adultos: alterações estruturais cerebrais, como dilatação ventricular e atrofia cortical, foram
observadas desde 1920 em cérebros de pacientes portadores de esquizofrenia, por meio de
técnicas de pneumoencefalografia. Essas alterações foram posteriormente confirmadas por
tomografia computadorizada.
O achado mais replicado na esquizofrenia é o alargamento do sistema ventricular, principalmente
dos ventrículos terceiro e laterais, quando comparados com controles saudáveis. Esse
alargamento ventricular já pode ser observado em crianças e adolescentes 14, representando um
argumento a favor da hipótese do neurodesenvolvimento da esquizofrenia. No entanto, a
dilatação ventricular também pode ser observada em pacientes com transtornos do humor
São frequentes também as reduções do volume cerebral total e da substância cinzenta cerebral.
Reduções volumétricas em regiões como córtex frontal, amígdala, cíngulo, hipocampo e giro
para-hipocampal, regiões mesiais do lobo temporal e giro temporal superior foram
consistentemente replicadas em estudos de pacientes com esquizofrenia, ganhando suporte
também de metanálises.
• EIT: os achados de alterações estruturais globais (p. ex., dilatação ventricular) ou focais (p. ex.,
redução do lobo temporal esquerdo) são muito semelhantes àqueles encontrados no adulto
normal. Quando comparados com pacientes portadores de transtornos do humor, pacientes com
EIT apresentam menores taxas de hipersinaJS.
Neuroimagem funcional
Fatores genéticos
Há clara influência de fatores genéticos associados à esquizofrenia, sendo que o risco de
desenvolver esse transtorno psiquiátrico aumenta quanto mais próximo for o parentesco com um
portador.
Ao longo da vida, o risco é de 1 % para população geral, 10% para quem tem um irmão com
esquizofrenia, 18% quando o irmão é seu gêmeo dizigótico e até quase 50% quando é
monozigótico, chegando a 80% quando a interação com o meio ambiente é considerada e 50%
para quem tem os dois pais afetados com esquizofrenia.
No entanto, 85% das pessoas com esquizofrenia não têm um parente de primeiro grau com a
doença. Para diferenciar as influências ambientais daquelas genéticas, diversos estudos com
gêmeos foram conduzidos, comparando-se gêmeos filhos de pais com esquizofrenia criados por
pais saudáveis e gêmeos filhos de pais sem esquizofrenia adotados por pais com a doença.
Observou-se que o risco para esquizofrenia estava relacionado à presença da doença nos pais
biológicos, mas não nos adotivos.
• Fisiopatologia
Hipótese dopaminérgica e suas versões
Na década de 1950, observou-se que nos primeiros pacientes tratados com clorpromazina, o
primeiro dos antipsicóticos, a melhora estava associada a uma sí ndrome parkinsoniana
(síndrome de impregnação) . A síndrome passou a se r considerada, na época, necessá ria para
o efeito terapêutico. Outras linhas de ev idênc ia mo straram que a doença de Parkinson estava
associada a uma diminuição de dopamina no estriado, e substâncias como a anfetamina, que
induzem ao aumento da dopamina (agonistas dopaminérgicos), produziam quadros psicóticos
semelhantes aos da esquizofrenia.
Tais aspectos forneceram evidências para a hip ótese dopaminérgica da esquizofrenia que, na
sua primeira versão, pode ser assim r esum ida:
Na chamada versão I, os sintomas psicóticos são exp licado s por um excesso de atividade
dopaminérgica subcortical, especialmente nas regiões límbicas .
Na versão II , os sintomas negativos são explicados pela diminuição de atividade dos receptores
dopaminérgicos Dl, abundantes no córtex frontal.
A proposta da versão III é da "teoria da saliência aberrante", que propõe que o aumento da
atividade dopaminérgica alteraria a percepção dos estí mulos , promovendo uma "saliência
aberrante" de certos esquemas cognitivos preexistentes, gerando, por exemplo, sintomas
psicóticos.
Hipótese glutamatérgica
Por outro lado, agentes moduladores do sítio glicinérgico dos receptores NMDA podem melhorar
sintomas cognitivos10
• Os sintomas negativos e cognitivos seriam então explicados pela hipoatividade dos receptores
NMDA nos interneurônios gabaérgicos do córtex pré-frontal1º.
Obj 3
Subtipos de Esquizofrenia
Com o passar dos anos, houve o crescente reconhecimento de que a esquizofrenia pode
constituir uma coleção heterogênea de diferentes condições. Isso impõe um desafio significativo
não apenas aos esforços de pesquisa que buscam revelar a etiologia da esquizofrenia, mas
também ao empenho para fornecer tratamentos dirigidos e específicos.
Por exemplo, eles demonstraram que, em comparação aos pacientes de não déficit, aqueles de
déficit têm funcionamento pré-mórbido e curso de doença piores, maior anedonia, menos
depressão e ideação suicida, maior probabilidade de terem parentes esquizofrênicos, efeitos de
estação de nascimento e maior prejuízo na cognição de ordem superior. O DSM-IV-TR contém o
sistema de classificação de subtipo mais usado na prática clínica. Todavia, com o passar do
tempo, a pesquisa empírica mostrou instabilidade substancial nos subtipos diagnósticos e
sobreposição significativa entre os sintomas de subtipo, indicando que a validade desse esquema
ainda precisa ser determinada. Contudo, ainda vale a pena familiarizar-se com tal sistema, dadas
as vantagens da terminologia compartilhada conferida pelo uso de termos com reconhecimento
quase universal na psiquiatria.
Esquizofrenia Paranoide
A marca registrada da esquizofrenia paranoide é a relativa proeminência de delírios paranoides e
alucinações auditivas em comparação com outros sintomas da doença. O mais importante é que
a presença de comportamento ou fala desorganizados, catatonia ou afeto insípido ou inadequado
impede esse diagnóstico. Talvez esse subtipo tenha recebido a maior parte da pesquisa de
validação, que sugeriu que os pacientes sob essa condição têm melhor funcionamento pré-
mórbido, início mais tardio, funcionamento social e ocupacional mais alto após o surgimento da
doença e menos déficits cognitivos e afetivos.
Esquizofrenia Desorganizada
Como o nome indica, o subtipo desorganizado enfatiza a presença de aspectos clínicos
relacionados à desorganização. De acordo com o DSM-IV-TR, todos os seguintes sintomas
devem ser proeminentes para o diagnóstico desse subtipo: fala e comportamento desorganizados
e afeto insípido ou inadequado. Além disso, os critérios diagnósticos para esquizofrenia
catatônica não devem ser satisfeitos. Acredita- se que esse subtipo represente uma forma mais
grave de esquizofrenia, com início mais precoce, níveis de funcionamento social e ocupacional
baixos e prognóstico de longo prazo insatisfatório. A presença de delírios ou alucinações não
exclui o diagnóstico desse subtipo, mas esses sintomas devem desempenhar um papel menos
proeminente na psicopatologia. O termo esquizofrenia hebefrênica, mais antigo, é sinônimo desse
subtipo.
Esquizofrenia Catatônica
A catatonia é uma síndrome clínica muito mal-entendida. O termo catatonia refere-se a estados
motores extremos de estupor ou hiperexcitação, que podem ocorrer independentemente de
esquizofrenia. No estupor catatônico, o paciente mantém uma posição corporal por um período
muito longo, sem falar ou reagir aos outros. Nesse estado, alguns indivíduos podem apresentar
flexibilidade cérea, na qual um membro ou uma parte do corpo é mantido em uma postura
passivamente posicionada por outro indivíduo.
Na excitação catatônica, o paciente inicia uma série de movimentos rápidos em princípio sem
sentido e exagerados, mas que podem incluir atos de comportamento violento minimamente
dirigidos. Entretanto, muitos médicos reconheceram uma diminuição significativa na prevalência
de estados catatônicos nos últimos anos, de modo que agora é relativamente raro encontrar
casos clássicos de catatonia. A razão para esse declínio não é clara. O diagnóstico de
esquizofrenia catatônica é feito quando a catatonia é o aspecto clínico mais proeminente e requer
a presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas: imobilidade (cataplexia ou estupor);
hiperatividade motora sem propósito ou influência externa; negativismo ou mutismo extremo;
movimento ou posturas voluntárias peculiares, movimentos estereotipados ou maneirismos ou
caretas proeminentes, e ecofenômenos (ecolalia ou ecopraxia).
Esquizofrenia Indiferenciada
A esquizofrenia indiferenciada inclui casos em que nenhum agrupamento de sintomas
constituindo os subtipos paranoide, desorganizado ou catatônico predomina no quadro clínico.
Consequentemente, o diagnóstico de esquizofrenia indiferenciada é feito quando o critério A para
o transtorno é satisfeito (ver Tab. 10-2), e os critérios diagnósticos para os subtipos paranoide,
desorganizado ou catatônico não são satisfeitos. Esse é o subtipo mais encontrado na prática
clínica.
Esquizofrenia Residual
Acredita-se que o subtipo residual represente um estado de esquizofrenia relativamente
atenuado, no qual os sintomas positivos são até certo ponto inativos ou menos sintomáticos.
Como a esquizofrenia indiferenciada, esse é um diagnóstico feito por exclusão, quando os
sintomas negativos persistem ou dois ou mais sintomas listados no critério A do DSM-IV-TR para
esquizofrenia (ver Tab. 10-2) estão presentes de forma atenuada, e delírios, alucinações, fala
desorganizada e comportamento maciçamente desorganizado ou catatônico proeminentes estão
ausentes. Muitos pacientes alcançam este subtipo clínico de relativa remissão após tratamento
efetivo.
Obj 4
Aspectos Clínicos
Como em outras doenças complexas com fisiopatologia indefinida, nenhum aspecto clínico por si
só é patognomônico para esquizofrenia. No decorrer dos anos, o campo da fenomenologia
enfatizou um conjunto de sintomas sobrepostos como determinantes essenciais desse transtorno.
Entretanto, não há consenso em relação ao que constitui esses aspectos fundamentais. Em vez
disso, a esquizofrenia é definida por um conjunto de sinais e sintomas em diversas esferas de
comportamento e processos mentais. Outrossim, a variabilidade dos aspectos clínicos com o
passar do tempo nos indivíduos com esquizofrenia aumenta ainda mais tal complexidade.
Embora continue um debate ativo sobre os méritos relativos e a validade dos vários sistemas de
classificação de sintomas propostos, este capítulo considera principalmente o esquema que
segrega achados clínicos em sintomas positivos, negativos e desorganizados (Tab. 10-1). Esse
sistema é simples e recebeu validação empírica em estudos de análise fatorial (Bilder et al., 1985;
Liddle, 1987).
Sintomas Positivos
Três sintomas positivos de esquizofrenia são geralmente reconhecidos: alucinações, delírios e
fala ou comportamento desorganizado (muitas vezes referido como transtorno do pensamento). O
fato de a presença de certos tipos de alucinações e delírios satisfazerem o critério A dos critérios
do DSM-IV-TR (American Psychiatric Association, 2000) para esquizofrenia (Tab. 10-2) reflete a
relativa importância dada a esses dois sintomas.
Alucinações
Embora as alucinações sejam encontradas em uma variedade de condições, elas têm sido
tradicionalmente consideradas um dos aspectos clínicos essenciais da esquizofrenia. As
alucinações são definidas como a percepção de um processo sensorial real na ausência de uma
fonte externa (p. ex., ouvir uma voz quando ninguém está falando). As qualidades perceptuais
das alucinações são variáveis. Em alguns casos, elas são percebidas como indistinguíveis de
experiências sensoriais reais, enquanto em outros, elas são descritas como próximas de tais
experiências.
É importante ter em mente que essa discussão sobre os aspectos perceptuais das alucinações é
diferente da questão de insight. Com insight suficiente, um paciente pode perceber que um
evento alucinatório de fato não é real, mesmo se ele reproduz totalmente as qualidades de uma
experiência sensorial genuína. As alucinações mais frequentemente relatadas são as auditivas.
Esse tipo de alucinação se manifesta por vozes ou outros sons comuns no ambiente, por
exemplo, cães latindo ou objetos retinindo.
Por exemplo, o DSMIV- TR especifica que uma alucinação auditiva, se for de uma única voz
comentando a respeito dos pensamentos ou das ações do paciente ou duas ou mais vozes
conversando entre si, é suficiente para satisfazer o critério A (ver Tab. 10-2). Também foi
proposto que alucinações auditivas que são percebidas como vindo de uma fonte externa, em
oposição a uma fonte interna, podem ser mais específicas de esquizofrenia. Entretanto, tal
proposição não foi validada (Goodwin et al., 1971).
Delírios
O segundo sintoma positivo essencial são os delírios, que são definidos como crenças falsas e
fixas. Uma crença é fixa quando o indivíduo não pode ser dissuadido de acreditar em sua
veracidade com evidência contraditória ou argumentos apontando implausibilidade. Outro aspecto
importante do pensamento delirante é a maneira ilógica na qual uma convicção é suposta. Os
delírios também podem ser vagos ou pobremente formados, por exemplo, ter um mau
pressentimento de que os outros estão com má intenção ou que existem conspirações, ou
altamente cristalizados, como os exemplos específicos apresentados posteriormente. O conteúdo
dos delírios também pode ser bastante variável e envolver quase todos os assuntos. Entretanto,
em geral, os delírios podem ser agrupados com base em seu conteúdo nos seguintes tipos:
paranoide ou persecutório, grandioso religioso e somático.
Os delírios paranoides ou persecutórios são talvez a variedade isolada mais comum. Eles
envolvem a convicção do paciente de que indivíduos, instituições ou forças estão tramando
prejudicá-lo. O grau do prejuízo pode ser bastante variável – de simplesmente ser espionado a
esconder-se ou isolar-se por acreditar que está sob morte ou tortura iminente. Exemplos comuns
de delírios paranoides incluem a convicção do paciente de que seu chefe está intencionalmente o
tratando mal, que um membro da família está tentando envenená-lo e matá-lo ou que o FBI
colocou-o sob vigilância com dispositivos de escuta e câmeras escondidas.
Os delírios religiosos envolvem temas ou conceitos teológicos como ser o filho de Deus.
Os delírios somáticos referem-se a crenças falsas sobre partes do próprio corpo ou órgãos
internos do paciente. Esses delírios comumente envolvem a crença de que determinada parte do
corpo ou algum órgão é disfuncional ou está causando dano ao paciente.
Os delírios somáticos também podem incluir crenças idiossincráticas sobre a função de uma parte
do corpo. Essas crenças falsas geralmente envolvem mais do que apenas percepções subjetivas
(p. ex., a certeza de que o próprio nariz não é atraente), como também convicções específicas
sobre a parte do corpo que é integrante de um sistema delirante mais elaborado. Os delírios
somáticos podem levar os pacientes a cometer autolesões grotescas na região do corpo
envolvida. É importante observar que o conteúdo delirante frequentemente envolve mais de um
tipo de delírio (p. ex., a crença de ser o messias reencarnado e por isso ser perseguido por
outros).
Os critérios do DSM-IV-TR (ver Tab. 10-2) especificam que um delírio bizarro é suficiente para
satisfazer o critério A. Uma classe especial de delírios, as ideias de referência, merecem especial
atenção devido a sua alta prevalência e importância histórica. Esquizofrênicos com ideias de
referência percebem erroneamente comunicações de outras pessoas ou entidades como
referindo-se a eles. Exemplos clássicos dessa classe de delírios incluem a crença de que as
declarações na televisão ou os trechos em artigos de jornais são, na verdade, mensagens
codificadas dirigidas ao paciente. Exemplos mais sutis incluem acreditar que uma pessoa em um
telefone celular está falando sobre o paciente.
As ideias de referência são uma classe de sintomas significativa, porque elas integram o que
Schneider referia como “sintomas de primeira linha”. Outros exemplos de sintomas de primeira
linha incluem delírios de inserção de pensamento, irradiação de pensamento, retração de
pensamento e controle externo de afeto e atos motores. Conforme já observado, os sintomas de
primeira linha eram antigamente considerados específicos à esquizofrenia. Entretanto, a pesquisa
subsequente não apoiou essa hipótese. O contexto cultural dessas expressões é extremamente
importante para determinar se elas qualificam- se como delirantes. Mesmo crenças
aparentemente bizarras a um observador externo não devem ser consideradas um delírio se ela
for compartilhada entre a comunidade. Um exemplo é a aceitação difundida em certas
comunidades cristãs evangélicas da possibilidade de ser possuído pelo Espírito Santo e “falar
línguas” ou a crença em espíritos, que é comum em muitas culturas.
Sintomas Negativos
Os sintomas negativos de esquizofrenia referem-se a aspectos clínicos supostamente resultantes
da ausência de funções mentais normais. Incluem déficits nas esferas afetiva, social e cognitiva.
Embora os sintomas positivos tenham tradicionalmente atraído mais atenção na avaliação e no
tratamento clínico de esquizofrenia, os sintomas negativos são há muito tempo reconhecidos
como um aspecto essencial desse transtorno. Por meio do trabalho de pesquisadores modernos
como William Carpenter, Nancy Andreasen e Timothy Crow, o campo da psiquiatria redescobriu,
nos últimos anos, a importância dos sintomas negativos. Uma vez que um estado psicótico agudo
seja estabilizado com tratamento, os sintomas negativos podem ser um indicador mais
consistente de incapacidade de longo prazo. Outra evidência de sua relevância é a atual ausência
de tratamentos claramente efetivos para esses sintomas.
Déficits Afetivos
Uma das manifestações clínicas mais evidentes de sintomas negativos em pacientes com
esquizofrenia é a perturbação nos processos afetivos normais. Embotamento do afeto é um termo
que descreve a diminuição na quantidade e variedade de expressividade afetiva. Esse termo
geralmente se refere a expressões faciais associadas a estados emocionais diminuídas ou
ausentes. Outros aspectos relacionados relatados são afeto embotado e contraído, que são
definidos respectivamente como uma total ausência de afeto e uma diminuição moderada na
expressividade afetiva.
Déficits Sociais
Os déficits no funcionamento social são cada vez mais reconhecidos como aspectos importantes
da esquizofrenia. O retraimento social do esquizofrênico é expresso pelo pouco interesse em
participar de eventos sociais e em interagir com pessoas, pois preferem ficar sozinhos. Eles
apresentam impulso social diminuído, uma vez que não obtêm prazer nas interações sociais que
a maioria das pessoas experimenta.
Déficits Cognitivos
Uma discussão mais completa sobre os muitos déficits cognitivos é apresentada na seção
“Prejuízo cognitivo”, a seguir. Aqui são descritos de forma breve os aspectos cognitivos que são
frequentemente agrupados como sintomas negativos. Alogia, ou pobreza de fala, ressalta a
diminuição significativa na quantidade de fala produzida por um paciente. Esquizofrênicos, com
pobreza de fala, dão respostas muito curtas e não elaboradas às perguntas. O entrevistador
comumente tem de guiar o paciente por meio de inúmeras perguntas explícitas para obter
respostas com detalhes suficientes.
Desorganização
O terceiro agrupamento de sintomas é a desorganização na linguagem e no comportamento. O
termo transtorno do pensamento formal foi definido de várias maneiras, mas aqui é usada uma
conceitualização mais restrita, ou seja, a desorganização da forma ou do fluxo de pensamento
evidente na produção de linguagem. Vários termos podem ser empregados no exame do estado
mental para descrever transtorno do pensamento formal, incluindo (em ordem de gravidade
crescente) circunstancialidade, descarrilamento, tangencialidade e salada de palavras. Esses
vocábulos tentam capturar a ruptura dos processos normais que governam a organização ou a
associação lógica, sintática ou semântica de palavras e ideias. Circunstancialidade refere-se à
preservação de uma ligação lógica entre cada frase consecutiva junto com um desvio progressivo
de ideias do tema original.
Prejuízo Cognitivo
Uma redescoberta recente importante foi em relação aos déficits cognitivos na esquizofrenia. Os
primeiros fenomenologistas da esquizofrenia como Kraepelin e Bleuler enfatizaram os prejuízos
cognitivos como um aspecto clínico essencial dessa doença. Na seção “Introdução a etiologia e
fisiopatologia”, é abordada a relevância dos déficits cognitivos para o entendimento da disfunção
neural subjacente da esquizofrenia. Nesta seção, são discutidos os aspectos clinicamente
importantes desses prejuízos.
Na pesquisa moderna, evidências substanciais e crescentes indicam uma prevalência mais alta
de déficits neurológicos sutis – os chamados sinais neurológicos leves (p. ex., má coordenação
motora) – em esquizofrênicos (Bombin et al., 2005) (Tab. 10-3). Em um dos estudos mais
interessantes que foram conduzidos nessa área, a análise cuidadosa de vídeos caseiros da
infância de indivíduos que posteriormente desenvolveram esquizofrenia revelou que eles
apresentavam taxas mais altas de disfunções motoras do que o grupo-controle (Walker et al.,
1994). Estudos documentaram que esquizofrênicos apresentam mais sinais neurológicos leves
(amplamente definidos) do que indivíduos saudáveis e que essa prevalência aumentada não
pode ser explicada por efeitos de medicamento ou variáveis demográficas. Correlações positivas
com índices clínicos como sintomas negativos – mas não os positivos – e déficits cognitivos foram
relatadas.
Período prodrômico
Os quadros psicóticos, especialmente a esquizofrenia, iniciam-se em geral com sintomas
inespecíficos ou com sintomas negativos, que constituem o pródromo. A DUP é variável conforme
o tipo de estudo e a doença avaliada, podendo durar vários meses ou anos8
• A maior DUP foi relacionada a pior prognóstico dos pacientes e a pior resposta ao tratamento
medicamentoso. Admite-se que durante o período de psicose não tratada ocorram disfunções
neurobiológicas importantes, possivelmente relacionadas a alterações da plasticidade sináptica,
acarretando alterações neurofuncionais e neuroanatômicas no sistema nervoso central, que
correspondem à deterioração clínica comumente observada nesse período8
Tais critérios são considerados mais restritos que os da CID-10, sobretudo em razão dos critérios
de exclusão, como o de uso de substâncias psicoativas e da presença de uma condição médica
associada, que, muitas vezes, são fatores de confusão diagnóstica.
C- Duração: sinais contínuos pelo período de 6 meses que deve incluir 1 dos sintomas do critério
A, podendo incluir sintomas prodrõmicos ou residuais. Sintomas prodrômicos ou residuais podem
incluir sintomas negativos ou sintomas "A" atenuados (p. ex., crenças estranhas, experiências
perceptuais incomuns).
Critérios de exclusão
D- Transtorno esquizoafetivo ou transtorno de humor com sintomas psicóticos:
(1) nenhum episódio depressivo maior, maníaco ou misto ocorreu durante a fase ativa ("A");
(2) se os episódios de humor ocorreram durante a fase ativa (sintomas "A") sua duração foi breve
com relação à duração dos períodos ativo e residual.
Não há critérios especiais para EIP ou EIT, por isso não são consideradas ainda entidades
clínicas distintas da esquizofrenia. Perspectivas para os novos critérios diagnósticos de
esquizofrenia de acordo com a DSM-V A futura classificação dos transtornos mentais da
Associação Psiquiátrica Americana (DSM-V) está em fase de elaboração, devendo ser lançada
em 2013. Basicamente as mudanças propostas serão as seguintes (www.dsmS.org):
Aparência
■ Esquizofrenia. Nos quadros apático-abúlicos, a aparência é descuidada. Nos hebefrênicos,
costuma ser bizarra, assim como em muitos quadros paranoides, em que a aparência reflete a
atividade delirante. Vallejo Nágera (1944) cita o uso de condecorações de papelão no peito e de
tiaras de papelão na cabeça como expressões de delírios de grandeza.
Atitude
■ Esquizofrenia. Nos quadros em que predominam os sintomas negativos ou na catatonia, pode
haver indiferença em relação ao exame. Na catatonia, encontram-se muitas vezes uma atitude de
oposição e a reação de último momento. Nos quadros paranoides, observa-se uma atitude
suspicaz, hostil, querelante, ou de fuga. É típica da hebefrenia uma atitude pueril.
Atenção
■ Esquizofrenia. Observa-se que os esquizofrênicos apresentam geralmente uma dificuldade de
concentração, pois são facilmente distraídos por estímulos irrelevantes. A atenção do
esquizofrênico algumas vezes está globalmente diminuída, em função de apatia e desinteresse,
nos casos em que predominam os sintomas negativos. No estupor do subtipo catatônico pode
haver aprosexia. Em síndromes alucinatórias, pode ocorrer tanto rigidez como labilidade da
atenção. Nos casos em que há delírios de perseguição e intensa ansiedade, a atenção
espontânea costuma se intensificar.
Sensopercepção
■ Esquizofrenia. A esquizofrenia apresenta grande riqueza alucinatória, especialmente na forma
paranoide. Predominam as alucinações cenestésicas e auditivas. As alucinações visuais são
raras. As pseudoalucinações parecem ser mais frequentes que as alucinações verdadeiras, mas,
na prática, a distinção pode ser difícil. A sonorização do pensamento, vozes que dialogam entre
si, vozes que tecem comentários sobre o comportamento do doente e sensações corporais
(cenestésicas) impostas foram os sintomas sensoperceptivos incluídos por K. Schneider entre os
de primeira ordem para o diagnóstico de esquizofrenia. Os quadros apático-abúlicos cursam com
hipoestesia.
Memória
■ Esquizofrenia. Na esquizofrenia é possível surgir uma hipomnésia de fixação, em virtude de
apatia e desinteresse quanto ao mundo externo, ou devido a um quadro de grande ansiedade e
agitação. Há uma hipermnésia seletiva para fatos que possam confirmar seus delírios e uma
hipomnésia para aqueles que possam contradizê-los. Lembranças podem ser distorcidas ou
criadas (alomnésias ou paramnésias, respectivamente), em consonância com a temática
delirante. Testagens neuropsicológicas mais detalhadas, realizadas em estudos recentes, têm
evidenciado que alguns esquizofrênicos podem apresentar distúrbios de memória semelhantes
aos encontrados nas demências.
Linguagem
■ Esquizofrenia. Na esquizofrenia podem ocorrer mussitação, solilóquio, jargonofasia,
neologismos, maneirismos, pararrespostas, aprosódia. Particularmente no subtipo catatônico,
podem ser observados mutismo, ecolalia e estereotipia verbal.
Pensamento 2 (delírio)
■ Esquizofrenia. Na esquizofrenia, tipicamente o delírio é bizarro, tem um conteúdo impossível e
é pouco sistematizado. Pode ser primário (quando intuitivo) ou secundário (à atividade
alucinatória). Hoje se acredita que o delírio primário, e mesmo os sintomas de primeira ordem de
K. Schneider, não seja exclusivo da esquizofrenia, podendo ser observado nas psicoses afetivas,
epilépticas etc. Em muitos casos, não em todos, o delírio é precedido por um quadro denominado
humor delirante difuso, esquizoforia (López Ibor) ou trema (Conrad). Este termo é usado no meio
teatral para se referir à sensação que o ator experimenta à boca de cena, antes que o pano se
abra. Refere-se à expectativa em relação a um acontecimento iminente, do qual não há fuga. O
trema é caracterizado por sentimentos de estranheza ou perplexidade, vivências de
despersonalização ou desrealização – ele ou o mundo está se transformando – e angústia. O
paciente tem a sensação de que algo terrível está por acontecer, mas não sabe o quê. O delírio
virá então dar um significado a essas vivências enigmáticas para o paciente, reduzindo assim sua
angústia.
Inteligência
■ Esquizofrenia. Na esquizofrenia há uma deterioração intelectiva, sobretudo nas formas
hebefrênica e residual, que pode estar relacionada às alterações formais e empobrecimento do
pensamento, ou ao embotamento afetivo. Além disso, os sintomas psicóticos – a perturbação do
contato com a realidade – costumam prejudicar o desempenho intelectivo. Por outro lado, é
possível que a deterioração intelectiva na esquizofrenia seja primária e esteja relacionada
diretamente a alterações estruturais no cérebro. Imaginação
Conação
■ Esquizofrenia. A hipobulia é considerada um sintoma negativo da esquizofrenia, sendo mais
característica dos subtipos simples, hebefrênico e residual. Na esquizofrenia, podem ocorrer atos
impulsivos, suicídio, ambitendência e, particularmente na forma catatônica, negativismo, reação
do último momento, sugestionabilidade patológica e obediência automática. Pragmatismo
Psicomotricidade
■ Esquizofrenia. Excetuando-se a apraxia, a forma catatônica da esquizofrenia pode exibir
qualquer uma das alterações quantitativas ou qualitativas da psicomotricidade. A catatonia, a
loucura da tensão muscular, foi descrita por Kahlbaum em 1873, sendo mais tarde incorporada
por Kraepelin à demência precoce. Em alguns casos de catatonia, momentos de grande agitação
psicomotora podem alternarse com estados estuporosos. A agitação do esquizofrênico reflete a
incoerência do seu pensamento: é despropositada, caótica, desorganizada e independente dos
estímulos externos. Maneirismos são comuns tanto na forma catatônica como na hebefrênica. A
expressão estupor catatônico, que é muitas vezes utilizada para se referir ao estupor na
esquizofrenia, é inadequada. Primeiro porque a presença de estupor vai sempre implicar a
descrição de uma síndrome catatônica; assim, estupor catatônico é praticamente um pleonasmo.
Em segundo lugar, a síndrome catatônica não é exclusiva da esquizofrenia, podendo ser
observada na depressão inibida, no parkinsonismo, na encefalite letárgica etc.
Afetividade
■ Esquizofrenia. O embotamento afetivo está entre os sintomas negativos da esquizofrenia. A
mória pode estar presente no subtipo hebefrênico. Em quadros delirantes ou de grande agitação,
a ansiedade pode ser proeminente, constituindo assim uma hipertimia. Podem ser encontradas
rigidez afetiva, paratimias, ambitimias e neotimias.
Orientação Alopsíquica
■ Esquizofrenia. Nos quadros paranoides da esquizofrenia, pode haver falsas orientações
delirantes, dupla orientação delirante – uma dupla cronologia ou uma dupla localização no espaço
– e, mais raramente, a síndrome de Capgras. Nos quadros apático-abúlicos, observa-se uma
desorientação apática. Pode haver ainda uma reificação do tempo, isto é, este é tratado não
como um conceito, mas como uma entidade concreta.
Consciência do Eu
■ Esquizofrenia. No trema, síndrome que muitas vezes precede a esquizofrenia, é frequente a
despersonalização. Quando a psicose já está instalada, a consciência do eu pode alterar-se em
todas as suas cinco características, especialmente nas formas catatônica e paranoide. Já foram
descritos em alguns catatônicos fenômenos como o riso e o choro simultâneos, ou o choro que se
limita a uma metade do rosto. Várias alterações da consciência do eu foram incluídas por K.
Schneider entre os sintomas de primeira ordem para o diagnóstico de esquizofrenia: sensações
corporais impostas; roubo, imposição e divulgação do pensamento; e sentimentos, impulsos e
vontades impostos ou controlados. Prospecção Consciência de Morbidade
Obj 5
Os casos que se apresentam com aspectos clínicos atípicos, como início tardio, embotamento do
sensório (i.e., estados confusionais), ou achados na história ou exame físico sugestivos de
condições médicas concomitantes devem alertar o médico a procurar causas alternativas da
doença. Os exames laboratoriais de rotina que ajudam o médico a excluir essas etiologias
incluem hemograma completo, painéis renais e metabólicos, análise de enzimas hepáticas, teste
da função tireoideana, análise urinária e testes sorológicos para sífilis e HIV. Imageamento
cerebral como ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC) e
eletroencefalograma (EEG) são indicados em casos típicos ou quando a história sugerir a
necessidade de excluir patologia intracraniana não relacionada ao transtorno psiquiátrico.
Obj 6
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial de esquizofrenia é um processo de evocar os sintomas cardeais
representados no Critério A e, então, determinar se esses sintomas podem ser indicativos de
outro transtorno.
O prejuízo funcional costuma ser uma das razões principais para que a pessoa procure por
atendimento médico.
Obj 7
TRATAMENTO
Tratamento farmacológico
A esquizofrenia é uma doença crônica com períodos de exacerbação e remissão, associada a
grande prejuízo social e funcional. O tratamento da esquizofrenia deve incluir, além da
abordagem medicamentosa, intervenções psicossociais e medidas para melhorar a adesão ao
tratamento e para evitar hospitalizações frequentes. Os passos para o tratamento da
esquizofrenia são definidos pelo algoritmo do IPAP (International Psychopharmacology Algorithm
Project) (Algoritmo 1), recomendado pela Organização Mundial de Saúde23
• Esse algoritmo tem como base a monoterapia antipsicótica, de modo que a politerapia
antipsicótica deve ser evitada, dada a ausência de evidências de sua eficácia.
Caso não responda ao primeiro tratamento, deverá tentar um segundo tratamento antipsicótico
por mais 4 a 6 semanas. Na ausência de resposta terapêutica adequada às duas tentativas
mencionadas, o paciente é considerado refratário e, neste caso, o terceiro antipsicótico a ser
administrado deve ser necessariamente a clozapina, que pode alcançar a dose máxima de até
900 mg/dia, sempre em monoterapia. De acordo com o IPAP, se não houver resposta adequada
à clozapina, o paciente é considerado respondedor parcial, e estratégias de potencialização da
clozapina podem ser tentadas.
A cada passo do tratamento devem ser considerados aspectos como: os riscos de suicídio, de
agitação ou violência, sintomas catatônicos, não adesão ao tratamento, sintomas depressivos,
abuso de substâncias e efeitos colaterais dos antipsicóticos. Para cada um deles, medidas
específicas podem ser tomadas, como a introdução de medicamentos apropriados para o
combate aos sintomas das manifestações.
Os critérios de remissão mai s utilizados atua lmente foram propostos por Andreasen et al. 26 e
utilizam as três grandes dim ensões psicopatológicas da esquizofrenia: positiva, desorganizadas
e negativa. Para alcançar remi ssão, o paciente deve apresentar, pelo período de 6 meses,
gravidade sintomatológica "suave " (grau 3 da escala) , que corresponde à existência do sintoma,
porém sem impacto na sua conduta.
O ideal é que o paciente não esteja tomando nenhum antipsicótico no momento em que iniciar a
clozapina. Caso isso não seja possível, é recomendável dar preferência a antipsicóticos de alta
potência, como a flufenazina ou o haloperidol, ministrados nas menores doses possíveis. Os
exames hematológicos devem ser semanais nas primeiras 18 semanas e quinzenais após esse
período, visto que aproximadamente 75% dos casos de agranulocitose ocorrem nas primeiras 18
semanas. Não se deve iniciar o tratamento em pacientes com nível de leucócitos < 3.500/ mm3
ou neutrófilos < 2.000/mm3•
Deve-se iniciar o tratamento com dose baixa, não mais que um ou dois comprimidos de 25 mg no
primeiro dia de tratamento. A dose deve ser ajustada individualmente, e o aumento da dose deve
ser bem lento, não mais que 25 a 50 mg a cada 2 dias. O aumento da dose deve ser lento para
melhorar a tolerabilidade, minimizando-se hipotensão e risco de convulsões. A faixa terapêutica
costuma se situar entre 300 e 600 mg/dia, mas essa dose pode variar de acordo com cada
paciente. Não devem ser utilizadas doses elevadas em pacientes que apresentem mioclonias, por
causa do risco de convulsões. É preciso ter cautela quando se ultrapassa a dose de 600 mg/dia,
por causa do maior risco de convulsões. A dose máxima de 900 mg/dia não deve ser
ultrapassada.
O cigarro, por ser indutor enzimático, pode reduzir em até 40% os níveis séricos de clozapina, o
que deve ser levado em consideração no ajuste de dose. O tratamento com clozapina deve ser
descontinuado imediatamente se a contagem dos glóbulos brancos for inferior a 3.000/mm3 ou se
a contagem de neutrófilos for inferior a l.500/mm3 durante as 18 primeiras semanas de
tratamento ou, ainda, se a contagem de leucócitos for inferior a 2.500/mm3 ou a contagem de
neutrófilos inferior a l.OOO/mm3 após as primeiras 18 semanas de tratamento.
• Biológicos
A estimulação magnética transcraniana (EMT) é um método não invasivo de investigação e
modulação da excitabilidade cortical, que altera a atividade cortical a partir de um campo elétrico
induzido por um campo magnético, que por sua vez é gerado por uma bobina colocada na
superfície do crânio. Alguns estudos demonstraram que a EMT, quando aplicada repetidamente
(EMTr) em baixa frequência ao córtex temporoparietal, reduz significativamente a intensidade das
alucinações. Porém, ainda não há nenhum consenso quanto à eficácia da EMTr no tratamento da
esquizofrenia, visto que os resultados reportados têm sido conflitantes e utilizaram diferentes
frequências33
• CONSIDERAÇÕES FINAIS
A esquizofrenia é um transtorno psicótico crônico, relativamente comum, de causas multifatoriais.
O transtorno incide em adultos jovens e, apesar de sua cronicidade, é tratável com antipsicóticos
e intervenções psicossociais. Muitos pacientes respondem bem ao tratamento e retomam suas
atividades normalmente. Os casos refratários devem ser identificados precocemente e res
pondem bem ao uso de clozapina. A EIP é relativamente rara, grave e tende à cronificação. O
surgimento da esquizofrenia antes da idade adulta está associado a alterações do
neurodesenvolvimento, como atrasos na aquisição da fala e no desenvolvimento motor. Seu
prognóstico é, geralmente, pior que o da esquizofrenia do adulto. A EIT também é rara e deve ser
tratada da mesma forma que a esquizofrenia de início no adulto. As doses dos antipsicóticos
devem, contudo, ser adaptadas, sobretudo em pacientes com início do quadro após os 60 anos
. Intervenção e Tratamento Medicamentos Antipsicóticos
O composto fenotiazina foi o primeiro medicamento para esquizofrenia a ser testado em estudos controlados por pla cebo, e o relato referencial de sua superioridade no tratamento desse transtorno foi apresentado vários anos mais tarde. Alé m disso, a reserpina (isolada da planta rauvólfia) foi in troduzida em 1954, mas a sua tendência a induzir ou pio rar sintomas depressivos levou ao exame de suas ações monoaminérgicas e à subsequente articulação da hip ótese da amina biogênica de depressão, que se compara à hipótese dopaminérgica da esquizofrenia . O halo peridol foi sin tetizado em 1958 e inserido no ano seguinte; ele continua sendo um dos medicamentos antipsicóticos mais ampla mente prescritos. Estudos subsequentes conduzidos a partir da década de 1960 especificaram ain da mais os sintomas- -alvo responsivos a tais medicamentos, as taxas de resposta clínica e o resultado funcional de pacientes que receberam esses tratamentos. Investigações cien tíficas básicas estabeleceram a base neuroquímica da eficácia clínica desses medicamentos. Inicialmente, Carlsson e Lindqvist (1963) verificaram que a administração desses compostos em
roedores produziu níveis aumentados de metabólitos de dopamina e antagonizou os efeitos comportamentais de agonistas desse neurotransmissor, como anfetamina e apomorfina. Isso estimulou Creese e cola boradores (1976) a mostrarem que a eficácia clínica de medicamentos antip sicóticos existentes estava diretamente relacionada a sua potência em bloquear receptores de dopamina, desse modo aprimorando a hip ótese dopaminérgica da esquizofrenia.
Mecanismo de Ação
Até o momento, mais de 30 medicamentos de 11 classes químicas diferentes foram direcionados para o tratamento de esquizofrenia (Ban, 2004). Esses são em geral identificados como antipsicóticos de primeira ou de segunda geração , também conhecid os como antipsicóticos “atípicos”. Os antip sicóticos de primeira geração (p. ex., haloperidol) têm em comum uma alta afinidade por receptores D2, e a eficácia clínica desses medicamentos está fortemente relacionada a sua afin idade a esses receptores (Seeman et al., 1976). Estudos usando PET revelaram que a melhora clínica ocorreu em doses nas quais a ocupação do receptor D2 estriatal foi de 65 a 70%, enquanto aquela maior que 80% estava associada à incidência significativamente aumentada de efeitos extrapiramidais (EEPs) (Remington e Kapur, 1999). Esses estudos também demonstraram que os antipsicóticos de primeira geração em doses terapêuticas bloqueiam os receptores tipo D2 em igual grau nas áreas corticais límbicas e no corpo estriado, que também é consistente com a variedade relativamente limitada de eficácia antipsicótica na ausência de EEPs (Xiberas et al., 2001). O aspecto
celular preciso de atividade dopaminérgica alterada, que é a base da eficácia clínica, continua sob investigação. Uma primeira hip ótese sugere que a administração aguda desses medicamentos esteja associada a antagonismo de autorreceptores D2 nos terminais nervosos dopaminérgicos, produzindo a inativação de despolarização de canais iônicos naqueles terminais e a in capacidade de propagar potenciais de ação para despolarizar mais o terminal, bloqueando cronicamente a liberação de dopamina na sinapse (Grace et al., 1997). Em comparação, os seis antipsicóticos de segunda geração atualmente disponíveis nos Estados Unidos são mais heterogêneos no perfil de antagonismo de receptor de dopamina. A risperidona, por exemplo, apresenta antagonismo de D2 que está dentro da sua variação para antip sicóticos de primeira geração e, consequentemente, em doses terapêuticas, está associada a taxas de EEPs intermediárias entre antipsicóticos de primeira geração e outros de segunda geração. Outros antip sicóticos de segunda geração, como clozapina e quetiapina, apresentam mínima ligação de receptor de D2 em doses terapêuticas (Miyamoto et
al., 2005). Esses medicamentos (incluindo olanzapina, ziprasidona e arip iprazol) possuem perfis de ligação muito heterogêneos em outros receptores de dopamina. A princip al hip ótese atual (a de “desligamento rápido”) sugere que a relativa falta de EEPs com o uso desses medicamentos pode ser resultado da taxa relativamente mais rápid a de dissociação desses agentes de receptores D2. Seria esperado que essa taxa de dissociação mais rápida acomodasse mais idealmente a transmissão de dopamina fisioló gica normal. Em comparação, uma hipótese concorrente de “atipicidade” enfatiza a atividade no receptor serotonérgico (antagonismo de 5-HT2A e 5-HT2C e agonismo de 5-HT1A) que é encontrado nos antip sicóticos de segunda geração. Essas ações estão associadas ao aumento de dopamina e glu tamato em regiões pré-frontais em relação a subcorticais, e, em particular, a razão entre blo queio 5-HT2A e blo queio de D2 pode prevenir EEPs e remediar sintomas negativos de esquizofrenia de maneira superior aos antipsicóticos de primeira geração (Meltzer et al., 2003). Além disso, o aripiprazol tem propriedades únicas como agonista parcial de D2, que
pode estabilizar taxas elevadas de transmissão de dopamina ao mesmo tempo que evita o grau de blo queio de dopamina desencadeador de EEPs. Todos os antip sicóticos (de primeira e segunda geração) têm ligação de alta afinidade em uma variedade de outros receptores de monoamina no cérebro, o que pode ser parcialmente responsável por sua eficácia, mas também base para muitos dos efeitos colaterais. Isso inclui antagonismo em receptores muscarínicos, histaminérgicos -adrenérgicos, com efeitos autônomos previsíveis. Ademais, os efeitos de blo queio do transportador monoaminérgico e agonismo ou antagonismo parcial do receptor de 5-HT1A demonstrado por alg uns antipsicóticos de segunda geração sugerem que esses medicamentos também podem exercer efeitos antidepressivos e ansiolíticos (Tab. 10-7).
Além disso, resultados do recente Clinical Antipsychotic Trials of Intervention (CATIE) sugeriram que a olanzapina em particular pode ser mais efetiva do que a perfenazina (um antipsicótico de primeira geração de potência intermediária) e os outros antipsicóticos de segunda geração risperidona, quetia pina e ziprasidona na manutenção de tratamento bem-sucedido de esquizofrenia crônica, inclu indo a redução de sintomas e taxas de reinternação hospitalar (Lieberman et al., 2005). Entretanto, a magnitude das várias diferenças de grupo de medicamentos relatadas em rela ção a efeitos clínicos foi em geral modesta, e alguma dessa melhora pode, na verdade, estar relacionada às taxas mais baixas de EEPs, que são frequentemente confundidas com sin tomas negativos em medidas clínicas. Certas evidências indicam que os antipsicóticos de segunda geração (em particular a clozapina) apresentam maior eficácia em pacientes com esquizofrenia refratária a tratamento (McEvoy et al., 2006; Miyamoto et al., 2005).
É importante notar que esses últimos estudos foram geralmente conduzidos em esquizofrênicos que tinham apresentado uma resposta clínica anterior insuficiente mais a antipsicóticos de primeira geração do que a de segunda, e ainda não é claro se taxas semelhantes de resposta a antipsicóticos de primeira geração seriam vistas após a ausência de resposta aos de segunda. Também foi proposto que os antip sicóticos de segunda geração exercem maiores efeitos no tratamento de déficits cognitivos na esquizofrenia, e isso constitui um aspecto fundamental de atip icalidade. No entanto, a literatura empírica tem sid o bastante inconsistente sobre essa questão. Embora cada um dos antipsicóticos de segunda geração tenham apresentado superioridade em relação a pla cebo e aos antipsicóticos de primeira geração (geralmente o haloperidol) em vários testes de atenção, memória, funções executivas, velocidade motora e outros aspectos cognitivos, estudos que não encontraram diferenças são comuns e difíceis de comparar devido a diferenças metodológicas (Harvey e Keefe, 2001). Os antipsicóticos de segunda geração podem envolver menor comprometimento
no desempenho cognitivo do que maior eficácia (comparados com os de primeira geração). Além disso, existe uma ausência de hip óteses que levem os pesquisadores do perfil de efeitos neuroquímicos a abordar a postula da eficácia cognitiva desses medicamentos.
Essa é uma área de pesquisa importante, pois é provável que novos medicamentos para esquizofrenia sejam desenvolvidos visando especificamente à disfunção cognitiva. Os futuros sistemas de neurotransmissores que são alvo tanto para tratamento sintomático como para cognitivo inclu em o glutamato, o GABA, a ACh, os sistemas de canabinoide e peptídeo e os fatores neurotróficos cerebrais (Miyamoto et al., 2005). Em comparação, as diferenças entre os antipsicóticos de segunda e de primeira geração em perfis de efeito colateral têm implicações clínicas significativas. Atualmente, a literatura empírica indica de forma consistente que os antipsicóticos de segunda geração são superiores aos de primeira na in cidência mais baixa de EEPs. Parece provável que a incidência de discinesia tardia – um distúrbio do movimento persistente, desfigurante e refratário a tratamento, que surge com terapia antipsicótica crônica e representa uma causa importante de falta de adesão – seja mais baixa com antipsicóticos de segunda geração.
Outros efeitos colaterais dos antipsicóticos de primeira geração que são mais leves ou inexistentes com os de segunda geração incluem hiperprolactinemia e alterações ocula res no cristalino e na retina. Em comparação, esses agentes como um grupo têm sid o cada vez mais associados a ganho de peso significativo, hiperlipidemia, resistência à insulina e início de dia betes melito, intervalo QTc prolo ngado e outras complicações cardiovasculares (Newcomer, 2004), os quais, em alg uns pacientes, podem ocasionar riscos de saúde de longo prazo consid eráveis, bem como falta de adesão ao tratamento e subsequente risco de recaída. Contudo, o tratamento com antip sicóticos de segunda geração parece estar associado a maior senso de bem-estar entre os pacie ntes, e isso parece ser um fator importante nas taxas ampliadas de adesão a esses medicamentos como um grupo em relação aos antipsicóticos de primeira geração (Naber et al., 2004).
Ainda precisa ser adequadamente testado se esses dois grupos de medicamentos apresentam benefícios diferenciais para emprego, produtividade e outras medidas de função psicossocial em portadores de esquizofrenia (Percudani et al., 2004). Em resumo, diversas revisões recentes concluíram que a vantagem global de antip sicóticos de segunda geração ou é de magnitude modesta ou é inadequadamente testada e que a influência da indústria farmacêutica sobre o modelo de estudo, a iniciação e o relato de experiências clínicas pode exercer efeito irregular na literatura empírica (Miyamoto et al., 2005; Tandon e Fleischhacker, 2005). Isso também pode ocorrer em determinações de eficácia comparativa entre os antipsicóticos de segunda geração (Heres et al., 2006). Os investigadores em geral enfatizam que os antipsicóticos, tanto de primeira como de segunda geração, são superiores ao placebo no tratamento da maioria dos aspectos de esquizofrenia, que a escolha de medicamentos para pacientes individuais continua a ser guia da largamente por perfis de efeito colateral e que a farmacopeia antipsicótica completa deve continuar sendo considerada na
abordagem direcionada a um indíviduo esquizofrênico específico.
Terapia Cognitivo-comportamental
Algumas das primeiras experiências documentadas com terapia cognitivo-comportamental (TCC) tratavam de casos de esquizofrenia. A TCC foi usada para tratar esquizofrenia no Reino Unido durante as décadas de 1970 a 1980, quando médicos nos Estados Unidos resolveram utilizá-la principalmente no tratamento de depressão, mas ela ain da continua sendo mais popular no Reino Unido como intervenção para a esquizofrenia (Turkington et al., 2006). A TCC foi prematuramente descartada nos Estados Unidos como abordagem terapêutica para esquizofrenia devido a uma reação generalizada contra a terapia psicanalítica (Turkington et al., 2006). Diversos aspectos das técnicas de TCC são altamente modificados para uso em pacientes esquizofrênicos. Por exemplo, uma ênfase rela tivamente maio r é dada ao desenvolvimento da alia nça terapêutica, na medida em que se origina da perspectiva do paciente. Isso pode inclu ir uma postura neutra a respeito do conteúdo delirante do paciente para promover descoberta e entendimento. Alé m disso, o terapeuta trabalha para identificar e desenvolver explicações alternativas de sintomas que sejam aceitáveis tanto
para o paciente como para o médico. Outra técnica envolve o uso de “questionamento periférico”, no qual o terapeuta facilita que o paciente elabore o sistema de crença, e uma abordagem relacio nada de “encadeamento de inferência”, na qual o significado per
sonalizado e a cadeia de lógica subjacentes a uma estrutura delirante são identificados. Essas estratégia s são empregadas com um teste de realidade graduado, com o obje tivo de in troduzir dúvida e possíveis hip óteses. O terapeuta cognitivo-comportamental tenta normalizar a experiência do paciente quando for adequado e, em geral, reduzir o efeito de sintomas positivos. A TCC não é aconselh ável quando o paciente apresenta-se paranoico, retraido ou prejudicado cognitivamente. Entretanto, ela não requer que o paciente aceite o diagnóstico de esquizofrenia a fim de produzir benefícios, porque ela é mais focalizada nos sintomas do que no diagnóstico em si. Ela também é muito compatível com abordagens biológicas para o entendimento e tratamento da esquizofrenia (Turkington et al., 2006). A TCC é geralmente muito receptiva à pesquisa empírica. Portanto, in úmeros estudos controlados e randomizados, demonstraram que essa abordagem está associada com uma melh ora maio r na gravidade do sintoma em rela ção à terapia de apoio, bem como ao tratamento usual (Dickerson e Lehman, 2006; Turkington et al., 2006). Além disso, pacientes com um
primeiro episódio de psicose parecem beneficiar-se da TCC com menos dia s de internação, melhor adesão ao tratamento e sintomas reduzidos, em rela ção às in tervenções de controle (Penn et al., 2005).
Reabilitação Vocacional
A taxa de emprego contínuo em um ambiente competitivo (fora de um ambiente de trabalho de reabilitação ou “protegido”) entre portadores de esquizofrenia é provavelmente muito abaixo de 20% na maioria das comunidades (Lehman, 1995). Isso representa, portanto, um obje tivo importante para a melhora do estado funcional na esquizofrenia. Ambientes de trabalho protegidos proporcionam aos pacientes uma situação em que as demandas de trabalho e sociais são manejáveis e o ambiente interpessoal aceita as limitações causadas pela transtorno. Um exemplo contemporâneo é a Compensated Work Therapy oferecid a em clínicas ambulatoriais do Department of Veterans Affairs. Outros serviços vocacionais incluem programas de treinamento profissional mais formais. Colocação individualizada, com certa acomodação das preferências; minimização de testes ou treinamento pré-admissão, e períodos contínuos de apoio são importantes para o sucesso profissional do paciente. O objetivo de longo prazo para muitos pacientes consiste em obter um emprego em ambientes competitivos na comunidade. Isso parece ser um resultado mais frequente com esses
tipos de reabilitação vocacional comparados com a reabilitação vocacio nal mais tradicional (Bustillo et al., 2001).
Terapia Familiar As intervenções que envolvem os familiares de portadores de esquizofrenia enfatizam a importância da família como o ambiente primário no qual a doença é expressa e modificada de maneira recíproca e a primeira linha de apoio para a maioria dos pacientes. Ambientes familiares intactos, funcionando de forma adequada, oferecem um importante mitigador de sintomas de esquizofrenia e estão associados a um prognóstico relativamente melhor para o paciente. Reduzir o sofrimento da família e estimular uma abordagem cola borativa ao tratamento envolvendo o paciente, a família e a equipe terapêutica são objetivos essencia is para esquizofrênicos em todos os estágios da doença. Estudos e modelos de interação anteriores em famílias de esquizofrenênicos focalizavam- se no constructo de emoção expressada, no qual altas taxas de manifestações críticas do paciente estavam associadas a taxas de recaída ele vadas. As abordagens a essas famílias frequentemente incluem psicoeducação e apoio psicológico, que ajudam os membros a antecipar a expressão de doença do paciente, e estratégias de resposta que auxiliam tanto o paciente como
os parentes a lidar de maneira ideal com o transtorno. As várias formas de terapia familiar são em geral igualmente eficazes (Penn e Mueser, 1996) para todos os pacientes com esquizofrenia e suas famílias. Uma revisão anterior de 14 estudos verificou que a terapia familiar reduziu as taxas de recaída consideravelmente (Carpenter, 1996), embora, de forma curiosa, os estudos mais recentes não rela tem benefício s para prevenção de recaída, o que pode ser resultado das taxas de recaída basais relativamente baixas nos grupos comparativos de tratamento que receberam terapia intensiva em alg umas pesquisas (Bustillo et al., 2001). Um fato importante é que alg uns dos benefícios da terapia familiar podem ser derivados da maior adesão a outros tratamentos concomitantes. Essa abordagem terapêutica parece custo- efetiva, pode ser útil em famílias de minoria étnica e cultural e, em alg uns casos, foi estruturada em manuais de tratamento, sugerindo um potencial para aplicação mais ampla na comunidade (Bustillo et al., 2001).
Psicoterapia Individual
Acompanhando os estudos referenciais de May e colaboradores (1981) e Gunderson e cola boradores (1984), nos quais nenhum benefício da terapia de orientação psicanalítica individual foi encontrado para pacie ntes com esquizofrenia , essa abordagem terapêutica foi abandonada em grande medida no tratamento de esquizofrenia. Atualmente, considera- se que a psicoterapia individual ele va o risco de descompensação psicótica, provavelmente devido a sua natureza não estruturada e geradora de ansiedade. Em comparação, as abordagens de terapia de apoio parecem ser superiores ao tratamento usual em estudos nos quais o foco primário é a rela tiva eficácia da TCC. A terapia de apoio é um conjunto distinto de abordagens ao paciente, contudo todas têm em comum o obje tivo de proporcionar reafirmação, orientação e um ambiente interpessoal que seja estável, previsível e tolerante em relação a expressão, sintomas e problemas de vida. Ela é geralmente menos sistemática e menos focalizada no sintoma do que a TCC. Uma abordagem em particula r, denominada terapia pessoal, desenvolvida por Hogarty e colaboradores (1995), usa técnicas
individualizadas para o paciente, com foco progressivo partindo da redução do estresse, seguida por reestruturação cognitiva e reabilitação vocacional, enquanto a ênfase acompanha o estágio de recuperação do pacie nte. As sessões, com duração de cerca de 30 a 45 minutos, são conduzidas semanalmente. A avaliação empírica verificou que a terapia pessoal exerce benefício relativamente maior para adaptação social comparada com outras formas de abordagem individual ou familiar (Hogarty et al., 1997).