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INTRODUÇÃO
Epilepsia é uma condição neurológica crônica caracterizada por crises epilépticas recorrentes,
devido a atividade neuronal exacerbada no cérebro, geralmente autolimitada. As epilepsias têm etiologias
diversas, englobam várias síndromes com diferentes tipos de crises e podem ter repercussões
psicossociais em parte provocadas pela natureza imprevisível e incontrolável da sintomatologia epiléptica
(TEDRUS et al, 2009).
Historicamente, a epilepsia foi predominantemente atrelada à esfera religiosa, vista como uma
possessão divina ou demoníaca, a doenças contagiosas, ou como primórdios da loucura. Em 131 d.C.
Galeno atribuía a regulação das crises ao ciclo lunar, embora considerasse suas causas imediatas como
“humorais” ou tóxicas. Hipócrates foi o primeiro a sugerir que a epilepsia, assim como outras doenças, teria
uma causa natural e não sagrada. (OLIVEIRA & GOUVEIA, 2003).
Até a década de 1970, as pessoas com epilepsia eram excluídas de locais públicos e haviam leis
eugênicas proibindo o casamento de pessoas com epilepsia nos Estados Unidos. Até 1956 haviam 18
estados com leis eugênicas de esterilização para indivíduos com epilepsia. No Reino Unido, somente em
1970 foram revogadas leis proibindo o casamento de pessoas com epilepsia. Até os dias de hoje, em
algumas partes da Ásia, ocorre comumente a negação ou anulação do casamento devido a epilepsia
(MARCHETTI et al, 2005). Em trabalhos realizados na China, revelou-se que 31% das pessoas
consideraram que indivíduos com epilepsia não deveriam ser empregadas (KALE, 1997; WHO, 1997). O
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Estudos apontam que até 50% dos doentes epiléticos têm síndromes psiquiátricos, sendo os
distúrbios de humor cerca de 30%, de ansiedade 10 a 25% e psicóticos de 2 a 7%, os mais comuns
(BARROS, 2012).
Embora a epilepsia tenha um bom prognóstico, a maioria dos seus portadores não recebe
tratamento nos países em desenvolvimento. A porcentagem estimada da lacuna de tratamento – sendo
esta a diferença entre o numero total de pacientes com epilepsia ativa e o numero de pessoas em que ela
está sendo tratada – varia entre 60 a 90% nos países em desenvolvimento (GALLUCCI NETO &
MARCHETTI, 2005).
METODOLOGIA
Este trabalho é uma revisão bibliográfica, utilizando artigos científicos em português e inglês, livros,
dissertações e teses.
A obtenção dos recursos foi feita através de bibliotecas virtuais como BVS, Bireme, LILACS, Scielo,
Pubmed, MedLineUSP, UNIFESP, UFRS, UFRJ e UFSC. Também foram utilizados livros, teses e dissertações
disponíveis na internet.
DISCUSSÃO
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As comorbidades mais usuais em pacientes com epilepsia são os distúrbios psiquiátricos em geral,
depressão e sintomas depressivos em particular. Trabalhos sugerem que a depressão e a epilepsia tenham
um fundamento neurobiológica em comum, com envolvimento de estruturas anatômicas e de
neurotransmissores parecidos em ambas condições (KANNER, 2005). No entanto, apesar dos diversos
descobertas científicas no campo das neurociências, a ligação etiológica entre os dois quadros clínicos
ainda não foi esclarecida completamente (OLIVEIRA, 2007).
Dentro dos 30 a 50% dos pacientes epiléticos que apresentam algum tipo de comorbidade
psiquiátrica, as psicoses na epilepsia (PNE) são grande parte do foco no atendimento médico
(GUARNIERI, 2004).
A classificação das PNE é feita de acordo com a relação temporal dos eventos ictais em: psicose
ictal (PIC), psicose pós-ictal (PPI) e psicose interictal (PII). Dentro das PII, temos a PII crônica e a PII breve
(BARROS, 2012).
A PIC está associada com as descargas epiléticas do cérebro, sendo geralmente detectadas
anomalias no eletroencefalograma (EEG). Usualmente cursa com irritabilidade, agressividade, experiências
perceptuais, automatismos, fala pausada ou mutismo. Com frequência, a consciência está prejudicada.
Pode durar algumas horas até dias. É possível a persistência da psicose apesar da remissão do evento
ictal (KANNER, 2001), aumentando ainda mais sua significância no atendimento médico.
As PPI, representam aproximadamente 25% das PNE. Usualmente, as PPI aparecem após um
aumento da frequência das crises epilépticas. Ocorre na maioria dos casos um intervalo de lucidez de 12 a
72 horas entre o fim das crises e o início da psicose. (KANNER, 1996). Diversos sintomas são observados,
como alucinações auditivas, visuais ou táteis, comportamento sexual inadequado, delírios persecutórios,
místicos, somáticos ou de grandeza. Existe ainda uma tendência à ideia de perseguição, irritabilidade,
agressividade e depressão (GUARNIERI, 2004).
Já as PII são estados psicóticos duradouros, com características de paranóia, não associados com
os eventos ictais e não compromete a consciência. Ocorre em cerca de 9% dos pacientes epilépticos
atendidos nos ambulatórios. Os sintomas mais frequentes são delírios persecutórios e místicos, geralmente
de início insidioso, alucinações auditivas, maneirismos, falta de iniciativa, pensamento desorganizado,
agressividade e ideação suicida (MARCH, 2002). Dura desde algumas semanas (breve) até mais de três
meses (crônica). Positivamente, pode apresentar menor dano intelectual, sintomas negativos em menor
quantidade e maior preservação do afeto e da personalidade quando comparada a transtornos como a
esquizofrenia (LAMBERT & DAVID, 2001)
PÉREZ (2015) explica que convulsões originadas na área sensório-motora podem ser confundidas
com crises psicogênicas. Algumas características diagnósticas podem sugerir que a convulsão seja de área
sensório-motora como: curta duração (menos de 30 segundos a um minuto), natureza estereotipada,
tendência para ocorrer predominante ou exclusivamente durante o sono, e contração tónica dos braços em
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abdução. Como diferencial, períodos psicogênicos geralmente são de maior duração (de um a vários
minutos), são não estereotipados e ocorrem quando o paciente está acordado ou sonolento.
Um estudo brasileiro sobre pacientes com epilepsia e as psicoses associadas observou que, antes
de ocorrer surtos psicóticos, 63% dos indivíduos estavam envolvidos ativamente em atividades
profissionais. Após os surtos, esta porcentagem diminuiu drasticamente para 18%. Após o período da
psicose, cerca de 58% dos pacientes continuaram sem trabalho e estavam completamente dependentes da
ajuda de familiares (MARCHETTI, 2003).
Apesar do impacto significativo e sua alta frequência, os distúrbios mentais ainda são sub-
diagnosticados entre os pacientes com epilepsia (KANNER et al, 2000).
Para KANNER & BALABANOV (2002) a falha no diagnóstico e, como consequência, a falha no
tratamento dos transtornos mentais é em decorrência de inúmeros fatores como: propensão em atenuar os
sintomas, tanto por parte dos médicos quanto de pacientes, atribuindo caráter “reacional” ao processo de
adoecimento causado pela epilepsia; dificuldade no reconhecimento de sintomas não-habituais (atípicos)
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que são comuns na população epiléptica; tendência, por parte de pacientes, em minimizar queixas por
medo de serem estigmatizados; a preocupação de que os fármacos psiquiátricos diminuam o limiar
convulsivo, o que gera a receio na prescrição destas medicações.
CONCLUSÃO
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