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autora
REGINA BRAGA DE MOURA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
isbn: 978-85-5548-524-4
Substâncias ergásticas 83
Substâncias ergásticas orgânicas 83
Substâncias ergásticas inorgânicas 84
Microtécnica vegetal 86
Corte à mão livre e montagem de lâmina temporária 86
Esclerênquima 115
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Definições,
legislação e
controle de
qualidade de
plantas medicinais
Definições, legislação e controle de qualidade
de plantas medicinais
OBJETIVOS
• Reconhecer os principais conceitos relacionados a plantas medicinais;
• Apontar a RDC 26/2014 como fonte de conceitos relativos às plantas medicinais;
• Relacionar fatores do ambiente ou do ciclo de vida da planta à produção de fitocomplexos;
• Estabelecer os critérios de amostragem, de acordo com o tipo e quantidade de droga vegetal;
• Aplicar as técnicas corretas de análise de pureza e de umidade;
• Reconhecer a Farmacopeia Brasileira como fonte de parâmetros para o controle
de qualidade.
capítulo 1 • 10
Definições usadas em plantas medicinais
capítulo 1 • 11
Outros fatores que têm contribuído para efeitos nocivos de plantas, é a utili-
zação de partes incorretas da planta para o preparo do fitoterápico. A substituição
de espécie autêntica, com suas virtudes terapêuticas reconhecidas por outras espé-
cies sem registro de ação medicinal segura também podem trazer efeitos tóxicos
ao usuário.
Para o estudo e o trabalho com plantas medicinais é fundamental o domínio
de definições e conceitos relacionados ao assunto. Para não haver equívocos ou
inconsistências, recomenda-se que os conceitos e definições sejam oficiais, prefe-
rencialmente estabelecidos pela legislação vigente. Atualmente, a legislação que
normatiza a produção e o uso de plantas medicinais é a RDC 26 de 13 de maio
de 2014. A seguir, são apresentadas as principais definições relacionadas às plantas
medicinais (BRASIL, 2014a):
capítulo 1 • 12
Substância ou classe de substâncias (ex.: alcaloides, flavonoi-
des, ácidos graxos etc.) utilizada como referência no controle
da qualidade da matéria-prima vegetal e do fitoterápico, pre-
ferencialmente tendo correlação com o efeito terapêutico. O
MARCADOR marcador pode ser do tipo ativo, quando relacionado com a
atividade terapêutica do fitocomplexo, ou analítico, quando
não demonstrada, até o momento, sua relação com a atividade
terapêutica do fitocomplexo.
capítulo 1 • 13
É importante destacar que os medicamentos fitoterápicos, obrigatoriamente,
têm que ser registrados na ANVISA, enquanto os produtos tradicionais fitoterápi-
cos podem ser registrados ou notificados. Tanto para registro, como para notifica-
ção, há requisitos mínimos estabelecidos pela ANVISA. Os produtos tradicionais
fitoterápicos são de dois tipos: os chás medicinais e os produtos associados a ex-
cipientes e formas farmacêuticas. Os chás medicinais são constituídos apenas de
drogas vegetais e só podem ser notificados, enquanto os outros tipos de produtos
tradicionais fitoterápicos, como xaropes, cápsulas, pomadas etc. podem ser notifi-
cados ou registrados (BRASIL, 2014a).
Ainda é importante destacar que os produtos tradicionais fitoterápicos não
podem ser relacionados a condições de doenças ou distúrbios considerados graves.
Além disso, não podem conter matérias-primas em concentrações de risco tóxico
e nunca devem ser administrados por vias injetável e oftálmica (BRASIL, 2014a).
A detecção de qualquer substância ativa isolada ou purificada, ainda que de
origem vegetal, natural ou sintética desqualifica os medicamentos fitoterápicos e
os produtos tradicionais fitoterápicos (BRASIL, 2014a).
capítulo 1 • 14
Na Europa, o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais chegou no
séc. XIII, permanecendo por 4 séculos, quando começou a ruptura com o cará-
ter mágico e divino do poder de cura das plantas medicinais. A fitoterapia atual
teve a contribuição mais recente da “Teoria das Assinaturas”, criada pelo Botânico
Robert Turner. Segundo esta teoria, “Deus imprimiu nas plantas, ervas, flores e
frutas hieróglifos que são a própria assinatura de suas virtudes”. Turner queria
dizer com isto que as características morfológicas das partes das plantas teriam
relação com sua utilização nos sistemas do organismo humano (DEVIENNE;
RADDI; POZETTI, 2004).
Foi a partir do século XIX que o homem dominou a diversidade terapêuti-
ca dos vegetais. Os primeiros trabalhos de investigação e busca por recursos de
origem vegetal são de 1803 e 1805, com a descrição do ópio a partir da papoula
(Papaver somniferum). Em 1818, a partir da espécie Strychnos nux-vomica foi
isolada a estriquinina e identificada a quinina, usada no tratamento da malária. A
partir daí vários estudos foram desenvolvidos, contribuindo com a descoberta de
importantes substâncias de valor terapêutico, como: salicina (Salix sp), atropina
(Atropa belladona), digitoxina (Digitalis lanata), escopolamina (Datura stramo-
nium) e efedrina (Ephedra sp) (DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2004).
Os estudos com plantas medicinais têm como objetivos:
• A confirmação da autenticidade botânica (identificação);
• Identificação da composição química, obtenção, identificação e análise dos
princípios ativos (estudos fitoquímicos);
• Determinação dos efeitos no organismo (estudos farmacológicos), bem
como de propriedades tóxicas (estudos toxicológicos).
Nas três últimas décadas do século XX, os avanços nos estudos com plan-
tas medicinais proporcionaram a descoberta de substâncias de atividade bioló-
gica antineoplásica significativa: vimblastina e vincristina (Catharantus roseos),
taxol (Taxus brevifolius e Taxus baccatus), lapachol e β-lapachona (Tabebuia
heptaphyllai) entre outras. Segundo dados do final do século passado, divulgados
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população mundial, carente
de atendimento básico de saúde são dependentes de produtos à base de plantas
medicinais (DEVIENNE; RADDI; POZETTI, 2004). Ainda hoje, este cenário
parece não ter se alterado significativamente.
capítulo 1 • 15
No Brasil, o acervo de plantas utilizadas no tratamento de doença tem três
origens principais: indígena, europeia e africana. Na época em que o Brasil foi
colonizado, os indígenas que aqui viviam já tinham a cultura de tratamento de
enfermidades com a flora local (ALMEIDA, 2011).
As moradias dos indígenas estão sempre associadas à mata, de onde eles reti-
ram os vegetais necessários para a construção de suas casas, uso no tratamento de
doenças, fabricação de utensílios, como cestos, arcos, ornamentos e objetos para
seus rituais. São alguns exemplos de plantas utilizadas por indígenas:
capítulo 1 • 16
Utilizam-se as folhas e vagens. Tem ação laxa-
tiva e purgativa. Ajuda a regular o trânsito intes-
SENE tinal, e é indicado para cólicas biliares, gases,
(CASSIA ANGUSTIFÓLIA) prisão de ventre, obesidade, doenças da pele
e dos olhos, hemorroidas, febre e fissura anal.
capítulo 1 • 17
tem ampliado de forma positiva e crescente as indicações de uso da fitoterapia
dentro do Sistema Único de Saúde, na atenção básica:
– Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, através da
Portaria 971/2006, (BRASIL, 2006)
– Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS-Renisus
(BRASIL, 2009a)
– Normas de execução e de financiamento da Assistência Farmacêutica
na Atenção Básica, implantada pela Portaria 2982/2009, contendo 8 medi-
camentos fitoterápicos de referência (BRASIL, 2009b)
– Padronização de bulas de medicamentos, incluindo os fitoterápicos,
através da RDC Anvisa 47/2009 (BRASIL, 2009c)
– Rotulagem de medicamentos, considerando também os fitoterápicos,
através da RDC Anvisa 71/ dez 2009 (BRASIL, 2009d)
– Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos, com especificações tam-
bém para os fitoterápicos (RDC Anvisa 17/2010a).
– Farmacopeia Brasileira, volumes I e II, com a inclusão de mais fitoterá-
picos de espécies brasileiras, como a pitangueira (BRASIL, 2010b).
– Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2011)
– RENAME 2014, contemplando 12 fitoterápicos (BRASIL, 2015)
– Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
(Brasil, 2016)
capítulo 1 • 18
de suas virtudes terapêuticas pelas autoridades oficiais de saúde e careciam de uma
legislação própria. Muitas delas, utilizadas pela população como recurso terapêuti-
co eram tratadas por legislação de chás, com abrangência apenas para a rotulagem,
onde era proibida menção de qualquer finalidade terapêutica.
Em 9/3/2010, após muitas discussões e publicações de estudos revelando a má
qualidade de produtos para chá de espécies sabidamente medicinais pela medicina
popular, foi publicada a RDC 10/2010 reconhecendo as virtudes terapêuticas de
uma lista de 66 espécies, determinando sua notificação junto a ANVISA e padrões
mínimos de qualidade para garantir ao consumidor a eficácia e a segurança no seu
uso, quando na forma de droga vegetal. Além disso, determinou a padronização
do rótulo e do folheto informativo contendo uma série de informações impor-
tantes para o uso seguro. Através desta RDC, as 66 plantas secas listadas eram
chamadas de drogas vegetais e não havia destaque para a informação de que a sua
utilização estava baseada no uso tradicional. Por esta norma, estes produtos não
eram considerados fitoterápicos (BRASIL, 2010c).
No dia 13 de maio de 2014, a ANVISA publicou a RDC 26/2014, que englo-
bou em uma só norma os requisitos mínimos para registro ou notificação de pro-
dutos à base de plantas medicinais. Através da RDC 26/2014, todos os produtos
obtidos a partir de plantas medicinais passaram a ser chamados sob a designação
de fitoterápico. Foram criadas duas categorias de fitoterápicos: os medicamentos
fitoterápicos e os produtos tradicionais fitoterápicos (BRASIL, 2014a).
A diferença entre estas duas categorias está basicamente na comprovação da
efetividade e segurança de seu uso. Para os medicamentos fitoterápicos, é necessá-
rio comprovar através de estudos clínicos, enquanto os produtos tradicionais fito-
terápicos têm sua segurança e efetividade confirmados através da tradicionalidade
de uso, comprovado pela literatura técnico-científica (BRASIL, 2014a).
A partir da RDC 26/2014, as plantas secas, antes designadas como drogas
vegetais pela RDC 10/2010, agora são chamadas de chás medicinais, dentro
da categoria de produtos tradicionais fitoterápicos e continuam a necessitar de
notificação para a sua produção industrial e comercialização (BRASIL, 2014a).
Convenhamos que esta é uma denominação correta para que o leigo reconheça
o produto que está acostumado a usar e adquirir comercialmente. Não há mais
uma lista de espécies possíveis para a produção de chás medicinais. A Instrução
Normativa nº 2, de 13 de maio de 2014 estabelece a “Lista de medicamentos fito-
terápicos de registro simplificado” e a “Lista de produtos tradicionais fitoterápicos
de registro simplificado” (BRASIL, 2014b).
capítulo 1 • 19
A publicação da RDC 10/2010 e depois da RDC 26/2014 foram gran-
des avanços para a consolidação do uso de plantas como recurso terapêutico.
Entretanto, é importante destacar que as normas se restringem às plantas ou suas
partes secas usadas para os chás medicinais. O uso de plantas frescas ou in natura
para a preparação de chás, embora amplamente difundido para alguns casos, ainda
não tem uma normatização.
REFLEXÃO
O emprego de plantas como recurso terapêutico é amplamente difundido nas comuni-
dades não tradicionais, principalmente como uma forma “natural” de tratamento. Entretanto,
é muito comum as pessoas usarem as plantas em comunidades não tradicionais, pela indi-
cação de amigos, vizinhos ou parentes. Esta prática pode levar ao mau uso ou ainda ao uso
incorreto do remédio, podendo causar mau a quem o consome.
Com determinação da OMS sobre a ampliação nas práticas alternativas na atenção bá-
sica, o Brasil vem normatizando o setor de plantas medicinais e fitoterápicos, com a preocu-
pação de garantir a segura e a eficácia no tratamento com este tipo de recurso terapêutico.
ATIVIDADES
01. Faça um levantamento entre alguns membros da sua família, buscando saber se usam
plantas medicinais, quais plantas usam, para quais enfermidades, que partes da planta usam
e como preparam. Depois de terminar as entrevistas, analise os dados e especifique quais as
plantas medicinais mais utilizadas, quais as doenças mais tratadas e qual a forma de preparo
mais empregada.
02. A partir da publicação da RDC 26/2014, o conceito de fitoterápico tomou uma nova
amplitude, diferente do conceito de fitoterápico de legislações anteriores (RDC 14/2010;
RDC 10/2010). Explique a diferença no entendimento do que é fitoterápico hoje, para o que
era entendido nas legislações anteriores.
capítulo 1 • 20
Controle de qualidade de drogas vegetais
Determinação da amostra
Número de embalagens
capítulo 1 • 21
QUANTIDADE DE EMBALAGENS QUANTIDADE DE EMBALAGENS
DISPONÍVEIS RETIRADAS PARA AMOSTRA
1 a 10 1a3
10 a 25 3a5
25 a 50 4a6
50 a 75 6a8
75 a 100 8 a 10
capítulo 1 • 22
x
x
Figura 1.1 – Quarteamento para amostragem de drogas vegetais íntegras ou em fragmen-
tos maiores do que 1cm.
de 10 a 100 Kg 500 g
Tabela 1.2 – Relação entre o peso total de droga vegetal a ser amostrada e a quantidade
de amostra a ser retirada.
capítulo 1 • 23
Figura 1.2 – Aparelho de amostragem para material em fragmentos de até 1 cm
ou pulverizado.
de 10 a 100 Kg 250 g
Tabela 1.3 – Relação entre o peso total de material a ser amostrado e o peso da amostra
a ser retirado.
capítulo 1 • 24
Análise macroscópica
capítulo 1 • 25
OLIVEIRA.; WAISSMANN, 2004; COSTA; GUIMARÃES; VIEIRA, 2015). É
possível notar, pela figura 1.3, que as folhas de M. ilicifolia podem ser facilmente
diferenciadas das folhas de S. bonplandii, principalmente pelas estruturas do bor-
do. Uma outra forma de diferenciar é pelas nervuras, na região dorsal das folhas;
em S. bonplandii, elas são bem proeminentes.
Outro caso onde também pode ser observada substituição, ocorre com os
diferentes tipos de boldo: boldo do Chile, cuja espécie autêntica é Peumus boldus;
boldo falso, também conhecido como boldo brasileiro (Plectranthus barbatus) ou
boldo baiano (Vernonia condensata). As características diagnósticas da morfologia
são suficientes para fazer a distinção entre elas (figura 1.4). Na comparação entre
as três, pode-se observar diferenças na margem, na distribuição das nervuras, no
ápice e na base. Além disso, as texturas das superfícies são bem distintas. Neste
caso, todas têm efeitos já confirmados.
Figura 1.4 – Folhas de diferentes tipos de boldos. A- Peumus boldus (boldo do Chile); B-
Plectranthus barbatus (boldo brasileiro); C- Vernonia condensata (boldo baiano).
capítulo 1 • 26
Quando a análise macroscópica é insuficiente para dar segurança sobre a au-
tenticidade da droga vegetal, deve-se seguir com a análise microscópica. Para a
análise microscópica, deve-se preparar as lâminas histológicas de acordo com as
técnicas usuais descritas pela microtécnica vegetal. Os dados diagnósticos da ana-
tomia de cada órgão são importantes para se fazer, por exemplo, a distinção entre
fragmentos de caules e raízes ou entre fragmentos de folhas de diferentes espécies.
A monografia de cada droga vegetal traz a descrição detalhada das suas carac-
terísticas microscópicas. Na ausência de monografia da droga vegetal, devem-se
considerar descrições publicadas em literatura técnico-científica.
A análise microscópica de folhas deve levar em consideração as característi-
cas da epiderme, especialmente dos tipos e distribuição de estômatos e tricomas.
Além da epiderme, a organização dos tecidos no mesofilo é um importante dado
diagnóstico na análise microscópica foliar. A disposição dos tecidos condutores,
bem como a presença de cristais ou estruturas secretoras são detalhes importantes
na análise microscópica.
Costa; Guimarães; Vieira (2015) detectaram a presença de adulterantes entre
as espécies estudadas, através da anatomia foliar.
Em caso de insuficiência de dados microscópicos para a confirmação da auten-
ticidade, ou em caso de droga vegetal pulverizada, um outro recurso é a histoquí-
mica, que vai evidenciar a presença do marcador químico da droga vegetal. Para
isso, utilizam-se reagentes específicos no pó ou nos cortes histológicos, que evi-
denciarão a presença do marcador químico, facilmente observável ao microscópio.
A monografia de cada droga vegetal descreve o marcador químico e os reagentes
específicos a serem utilizados no controle de qualidade.
Quando a autenticidade não é confirmada, deve-se reprovar o material e de-
volver ao fornecedor. Se há confirmação da espécie autêntica, as análises do con-
trole de qualidade devem prosseguir. A etapa seguinte vai verificar a pureza do
material. Em drogas vegetais, a pureza é verificada através de elementos estranhos
à droga vegetal. É fundamental saber qual a parte da planta que corresponde à
droga vegetal, pois os elementos estranhos serão aqueles que não correspondem à
droga vegetal. A análise de pureza compreende a verificação dos teores de: matéria
estranha, umidade e de cinzas.
capítulo 1 • 27
Presença de matéria estranha
capítulo 1 • 28
Além das análises de autenticidade e de pureza, o próprio consumidor de chás
medicinais pode testar a qualidade do produto exigindo, por exemplo, o folheto
informativo, que é obrigatório estar junto ao produto, de acordo com a RDC
26/2014, caso as frases obrigatórias e informações sobre o produto não estejam na
embalagem (BRASIL, 2014).
REFLEXÃO
O controle de qualidade de drogas vegetais é uma etapa importante no processo de
produção e distribuição deste material. Seja para consumo na forma de chá medicinal, ou
como matéria prima para produção de fitoterápicos pela indústria, as drogas vegetais têm
que apresentar os padrões mínimos de qualidade para garantir a eficácia e a segurança do
consumidor. A má qualidade pode comprometer o efeito esperado, vulnerabilizando a con-
fiança dos consumidores neste tipo de recurso terapêutico.
ATIVIDADES
Faça a leitura do artigo científico “Venda livre de Sorocea bomplandii Bailon como Es-
pinheira Santa no município de Rio de Janeiro - RJ” Coulaud-Cunha, S.; Oliveira, R. S. e
Waissmann, W. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 14, 2004, disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2004000300019&lng=
en&nrm=iso>.
A partir da leitura, responda as seguintes perguntas:
03. Qual foi o objetivo do estudo dos autores, que resultou no artigo de Couloud-Cunha;
Oliveira; Weissmann (2004)?
06. Quais as espécies botânicas que os autores mencionam serem chamadas popularmente
de “espinheira santa”?
capítulo 1 • 29
07. Que estudos foram feitos com S. bonplandii, e o que verificaram?
08. Por que os autores afirmam que S. bonplandii não pode substituir M. ilicifolia?
09. Faça a análise da autenticidade e de pureza do chá medicinal de espinheira santa vendi-
da em seu bairro. Analise o conteúdo de uma embalagem vendida em banca de jornal e outra
vendida em farmácia de manipulação. Primeiramente, pese o conteúdo de cada embalagem
separadamente e anote. Compare a morfologia das folhas com as folhas apresentadas na
figura 3 desta unidade. Após esta análise, verifique se tem matéria estranha e separe-a das
folhas. Pese a matéria estranha separada e calcule o teor de matéria estranha, fazendo uma
regra de 3 simples. Responda se o material está aprovado ou não e por quê.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. BRASIL. Ministério de Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Instrução
Normativa n° 02 de 13 de maio de 2014 Publica a “Lista de medicamentos fitoterápicos de registro
simplificado” e a “Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado”. Diário Oficial
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(RENISUS). 2009a.
capítulo 1 • 30
BRASIL. Ministério de Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução da
Diretoria Colegiada (RDC) n° 26 de 13 de maio de 2014. Dispõe sobre registro de medicamentos
fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília-DF, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2982 de 26 de novembro de 2009. Aprova as normas
de execução da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica. Brasília – DF – Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, nº 228, Seção 1, p. 771 a 773, 2009b.
BRASIL. Resolução-RDC ANVISA Nº 47, DE 8 DE SETEMBRO DE 2009. Estabelece regras para
elaboração, harmonização, atualização, publicação e disponibilização de bulas de medicamentos para
pacientes e para profissionais de saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Nº 172,
Seção 1, p. 31, 2009c.
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Estabelece regras para a rotulagem de medicamentos. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília-DF, 2009d.
BRASIL. Resolução-RDC ANVISA Nº 17, DE 16 DE ABRIL DE 2010. Dispõe sobre as Boas Práticas
de Fabricação de Medicamentos Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília-DF,
2010a.
BRASIL. ANVISA. Farmacopeia Brasileira. 5 ed. v. 1-2. 2010b
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 60 de 11 de novembro de 2011 – Aprova.
Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
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de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Portaria GM, nº 1 de 02 de janeiro de 2015.
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: RENAME 2014 , 9 ed. – Brasília: Ministério da
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de Assistência Farmacêutica. Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
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COSTA, R.P.C.; GUIMARÃES, A.L.A.; VIEIRA, A.C.M. Avaliação da Qualidade de Amostras de Plantas
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COULAUD-CUNHA, S.; OLIVEIRA, R. S.; WAISSMANN, W. Venda livre de Sorocea bomplandii
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capítulo 1 • 31
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comercializado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 19, n.
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capítulo 1 • 32
2
Elementos de
sistemática filogenética
de vegetais; regras de
nomenclatura botânica;
coleta de material
botânico; herborização e
preparação de exsicata
Elementos de sistemática filogenética de
vegetais; regras de nomenclatura botânica;
coleta de material botânico; herborização e
preparação de exsicata
capítulo 2 • 34
OBJETIVOS
• Apontar as características usadas na organização da sistemática filogenética;
• Identificar as categorias taxonômicas hoje empregadas na organização dos táxons;
• Relacionar o trabalho da taxonomia à sistemática filogenética.
• Apontar o International Code of Nomenclature for algae, fungi and plants como a referên-
cia para nomenclatura e descrição botânica.
• Relacionar as normas de nomenclatura com as respectivas classes taxonômicas
• Identificar as categorias taxonômicas a partir dos nomes dos táxons
• Apresentar as bases virtuais para atualização de nomenclatura botânica e autoria de táxons
• Indicar o material testemunho adequado para coleta botânica;
• Listar o material necessário e dominar as técnicas para a coleta de material botânico;
• Listar o material necessário para a herborização;
• Preparar o material adequadamente para secagem em jornal;
• Montar adequadamente uma exsicata.
capítulo 2 • 35
(JUDD et al., 2002). Assim, um sistema de classificação apresenta categorias
taxonômicas (figuras 2.1 e 2.2) que seguem uma hierarquização, em que se reco-
nhecem nos grupos o compartilhamento de características.
A Figura 1 representa o conjunto de categorias taxonômicas mais abrangentes:
Reino, Filo e Classe. Repare que os filos podem ter diferentes representantes da
categoria classe. Os filos 3 e 4 têm 3 classes, enquanto o filo 1 tem 6 classes. O
posicionamento dentro de cada categoria vai depender dos estudos feitos sobre
cada táxon. Táxon é o grupo de vegetais que pertence a uma determinada categoria
(JUDD et al., 2002; RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014).
REINO
FILO 1 FILO 2 FILO 3 FILO 4
CLASSE CLASSE C CLASSE C CLASSE A
L L
A A
S S
S S
E E
C CLASSE B
L C
A L
CLASSE S
CLASSE A
S S
E S
E
C CLASSE C
L C
A L
S A
S S
E S
E
Figura 2.1 – Esquema da hierarquização das categorias taxonômicas entre Reino e Classe.
Não estão representadas as relações de ancestralidade. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 2 • 36
CLASSE A
SUBCLASSE
ORDEM 1 ORDEM 2
FAMÍLIA D
FAMÍLIA A
GÊNERO
FAMÍLIA C
GÊNERO
FAMÍLIA E
FAMÍLIA B
G
Ê G
N Ê
E N
R E
O R
O
capítulo 2 • 37
como ferramentas auxiliares. Nenhuma característica é priorizada em comparação
às demais; todas têm o mesmo peso ou valor. Isto significa que o fato de um grupo
vegetal produzir uma resina com uma certa composição não é mais importante
do que o fato de alguns representantes deste grupo possuírem tecido suculento
recobrindo a semente (JUDD et al, 2002).
O trabalho em sistemática vegetal está diretamente associado a outros estudos
sobre a planta, que dão subsídios para se chegar à proposta de história evolutiva e
das relações parentais entre os grupos vegetais: Taxonomia, que é o estudo sobre
um determinado táxon que o descreve detalhadamente, atribui nome, identifica
e classifica. Desta forma, a taxonomia e a sistemática estão intimamente ligadas
(JUDD et al, 2002).
O trabalho descritivo da taxonomia está relacionado, em primeira instân-
cia, aos atributos morfológicos dos vegetais, especialmente das características da
morfologia externa, facilmente visíveis e identificáveis numa análise do vegetal.
Entretanto, também podem fazer parte da descrição a anatomia e a caracteri-
zação química (JUDD et al, 2002). A atribuição de nome aos táxons tem re-
gras extremamente rígidas e deve seguir rigorosamente o Código Internacional
de Nomenclatura Botânica (CINB ou ICBN) vigente à época da sua descrição
e nomeação.
CONEXÃO
Consulte o Código Internacional de Nomenclatura Botânica, para conhe-
cer quais são as regras que regem a nomenclatura botânica, disponível em:
<http://www.iapt-taxon.org/nomen/main.php>.
capítulo 2 • 38
As briófitas (Bryophyta) representam o grupo vegetal entre representantes
completamente aquáticos e os vasculares terrestres. A ausência de rigidez na pa-
rede celular manteve estas plantas com um corpo bastante pequeno. Apresentam
uma fase esporofítica, efêmera e outra gametofítica, que é dominante. O esporó-
fito apresenta-se sempre não ramificado, enquanto o gametófito (figura 2.3) pode
apresentar-se como um talo ou com ramificações dicotômicas. Carecem de orga-
nização tecidual; não possuem raízes; a absorção é feita pela superfície do corpo
ou através da simbiose com fungos e cianobactérias. São totalmente dependentes
da água para a reprodução sexuada (JUDD et al., 2002; RAVEN; EICHHORN,
EVERT, 2014).
Figura 2.3 – Gametófito maduro de musgo (seta 1) e esporófito de corpo simples e folhas
pequenas de musgo (seta 2). Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 2 • 39
Figura 2.4 – Diversidade de samambaias: A - feto arborescente jovem; B - renda portuguesa;
C - samambaia chorona; D - avenca. Autor das fotos: Regina Moura.
capítulo 2 • 40
Embora tenham estruturas especializadas para a reprodução sexuada indepen-
dente da água, os óvulos ficam desprotegidos sobre as escamas em estruturas chama-
das estróbilos, originando sementes também desprotegidas, denominadas “sementes
nuas” (JUDD et al., 2002; RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014) (figura 2.6).
Figura 2.7 – Diferentes representantes das Gimnospermas arbóreas. Autor das fotos:
Regina Moura.
capítulo 2 • 41
As angiospermas serão estudadas mais
detalhadamente, porque é neste grupo onde
são encontrados muitos recursos terapêuticos
vegetais. Portanto, a maior parte de estudos
e do próprio controle de qualidade é feita
entre representantes deste grupo. A principal
característica deste grupo é a presença da flor
((JUDD et al., 2002; SOUZA; FLORES;
LORENZI, 2013; RAVEN; EICHHORN,
EVERT, 2014). Além da flor, as angiosper-
mas produzem frutos; estas são características
exclusivas das angiospermas (figura 2.8).
Figura 2.8 – Angiosperma florida.
Autora da foto: Regina Moura. A sistemática filogenética apresentada pelo
APG III (2009), considera as angiospermas
divididas em dois grupos, de acordo com características relacionadas ao ances-
tral, como a forma de inserção das peças florais no eixo, fusão dos carpelos do
gineceu e outras: angiospermas basais e angiospermas centrais. As angiospermas
basais são aquelas que compartilham maior número de características ancestrais
e estão representadas por ninfeias, anis estrelado, entre outros. As Magnolideas,
embora apresentem muitas características ancestrais, são consideradas entre as an-
giospermas centrais. São representantes das Magnolideas: louro, pimenta do reino
e canela da Índia.
Com a inclusão de vários dados desde 2009, a APG IV (2016), passa a consi-
derar as Magnolideas dentro das Angiospermas basais e as angiospermas centrais
ficam divididas em dois grupos: Monocotyledoneae e Eudicotyledoneae. As
monocotiledôneas têm como características diagnósticas os grãos de pólen com
uma abertura (monoaperturado) ou derivada desta, peças florais cíclicas e um
cotilédone nas sementes entre outras. São representantes das monocotiledôneas:
gengibre, cana do brejo, alho e chapéu de couro. As eudicotiledôneas tem como
características diagnósticas gerais: grão de pólen com três aberturas (triapertu-
rado) ou derivadas desta, peças florais cíclicas e sementes com dois cotilédones.
Representantes medicinais de eudicotiledôneas são: ipê roxo, carqueja, camomila,
melissa e guaco.
Antes da sistemática filogenética do APG, as magnolianeas formavam um só
grupo com as eudicotiledôneas, chamado dicotiledôneas. A principal característica
capítulo 2 • 42
que sustentava este agrupamento era a presença de dois cotilédones nas sementes.
Com o aprofundamento dos estudos filogenéticos, outras características foram
consideradas nas análises e o conjunto de vegetais que compartilham esta e outras
características encontradas no ancestral formaram o grupo das angiospermas ba-
sais. As demais plantas passaram a formar o grupo das Eudicotiledôneas (RAVEN;
EICHHORN, EVERT, 2014).
Neste livro, a abordagem vai priorizar as angiospermas centrais, visto que este
grupo contém o maior número de plantas medicinais. Assim, o quadro 1 apresen-
ta as características gerais diferenciais entre monocotiledôneas e eudicotiledôneas.
tetrâmeras
Trímeras
ou pentâmeras
FLORES QUANTO AOS
VERTICILOS FLORAIS
Monoaperturado Triaperturado
ABERTURA DO GRÃO
DE PÓLEN
Reticuladas
Paralelinérveas
DISPOSIÇÃO DAS
NERVURAS FOLIARES
pivotante, axial
adventício, fasciculado
SISTEMA RADICULAR
capítulo 2 • 43
CARACTERÍSTICA MONOCOTYLEDONEAE EUDICOTYLEDONEAE
Desorganizados, dispersos Organizados, forman-
na matriz fundamental do um cilindro, com o
aspecto de um anel
DISTRIBUIÇÃO DOS
FEIXES VASCULARES
NO CAULE
REFLEXÃO
A sistemática filogenética contribui para que estudiosos de plantas de todas as áreas se-
jam capazes de reconhecer os vegetais e consigam relacionar uns com os outros. Especial-
mente em plantas medicinais, o conhecimento sobre as relações químicas entre as plantas
pode auxiliar, por exemplo, na seleção de determinadas plantas para a descoberta de novas
moléculas bioativas. É importante salientar que o trabalho da sistemática filogenética hoje é
feito de forma colaborativa, entre pesquisadores especialistas de todo o mundo, o que traz
avanços rápidos e significativos no entendimento das relações entre os vegetais.
A proposta de sistemática filogenética atual reconhece quatro grupos distintos de ve-
getais: briófitas (sem representantes entre as plantas medicinais), plantas vasculares sem
sementes (com poucos representantes medicinais), gimnospermas (com algumas plantas
medicinais) e as angiospermas (com muitas plantas medicinais). As angiospermas são re-
presentadas por um grupo de angiospermas basais, com muitas características ancestrais;
e outro de angiospermas centrais com muitas características derivadas daquelas ancestrais.
Para os estudos de plantas medicinais, é importante saber distinguir dentro das angiosper-
mas centrais as monocotiledôneas das eudicotiledôneas, cujas características diagnósticas
podem ajudar no controle de qualidade de matéria prima vegetal.
capítulo 2 • 44
ATIVIDADES
01. Antes da proposta filogenética atual, as angiospermas eram divididas em dois grupos:
monocotiledôneas e dicotiledôneas. Atualmente, são reconhecidos dois grupos: monocotile-
dôneas e eudicotiledôneas, e ainda as Magnolideae relacionadas a elas. Explique o que foi
considerado na nova configuração das angiospermas, relacionando as características com
os grupos vegetais.
02. Aponte uma característica compartilhada entre as plantas vasculares sem sementes e
as gimnospermas.
( ) ( ) ( )
capítulo 2 • 45
Assim, o código que antes era denominado International Code of Botanical
Nomenclature, atualmente é apresentado como International Code of Nomenclature
for algae, fungi and plants. Por ter sido discutido e definido na cidade de
Melbourne, na Austrália, na ocasião do Congresso Internacional de Botânica, é
conhecido como Código de Melbourne e está em vigor desde 2012 (PRADO;
HIRAI; GIULIETTI, 2011).
O Código de Melbourne estabelece uma série de regras para descrição e atri-
buição de nomes a todos os táxons. A descrição de um táxon deve ser feita em
latim, assim como o seu nome. Há regra para a nomenclatura de cada categoria
taxonômica, expressa pela terminação do nome, ou pela forma de escrever, de
forma que pelo nome do táxon já se sabe de qual categoria taxonômica se trata.
Considerando a nomenclatura de táxons a partir de ordem, as regras são as seguin-
tes (MCNEILL et al., 2012):
Nome simples que não tem terminação definida, mas deve ser
GÊNERO destacado com itálico ou sublinhado – Ex.: Baccharis, Maytenus,
Cymbopogon, Matricaria
Todos os nomes científicos das espécies devem trazer o seu autor, quando
escritos pela primeira vez num texto. Ex.: Mangifera indica L. Quando conhece-
mos o gênero, mas não sabemos afirmar com certeza qual é a espécie, indicamos o
nome do gênero seguido de “sp.”, para indicar, Ex.: Vernonia sp.
As embalagens de fitoterápicos devem apresentar a nomenclatura científica
correta (BRASIL, 2014). É importante ressaltar que os estudos em sistemáti-
ca vegetal têm proporcionado novas circunscrições e posicionamentos de dife-
rentes táxons. Isso tem feito com que uma espécie que era considerada em um
determinado gênero pode passar a ser considerada em outro gênero. Para isso é
capítulo 2 • 46
necessário haver mudanças em seu nome, que também seguem regras do Código
de Melbourne, e devem ficar indicadas no novo nome. Tomemos como exemplo a
planta medicinal capim limão, cujo nome científico era Molina trimera Less., hoje
tem o nome científico Baccharis trimera (Less.) DC. Repare que o nome do autor
do antigo nome fica mantido entre parênteses e que o autor do novo nome o segue
(MCNEILL et al., 2012).
É importante destacar que as mudanças de nome ocorrem mais comumente
entre as espécies, porém há casos de gêneros inteiros que são transferidos para den-
tro de outros com todas as suas espécies. Sendo assim, é importante sempre con-
firmar os nomes científicos válidos das plantas medicinais e também atualizá-los
periodicamente. Os nomes científicos são fundamentais para designar a espécie
exata que se quer estudar, trabalhar, produzir um fitoterápico etc. cada espécie
só tem um nome válido, mas pode ter alguns ou muitos sinônimos (RAVEN;
EICHHORN; EVERT, 2014). Tais sinônimos ocorrem em consequência das mu-
danças de nomenclatura e também de novas circunscrições e reposicionamento
dentro de grupos taxonômicos.
Para nos auxiliar na confirmação de nomes científicos válidos em nível de es-
pécie, podemos consultar as bases online The Plant List ou Tropicos, onde é infor-
mado o nome válido da espécie, os sinônimos associados àquele nome e os autores.
O nome científico deve ter a sua grafia e autoria escritos de forma correta, porque
assim ele é reconhecido em qualquer parte do mundo. Nas embalagens de fito-
terápicos é possível inserir o nome vulgar, mas este não deve ser priorizado nos
estudos, trabalhos ou produtos com plantas medicinais, pois podem variar de lugar
para lugar.
Os nomes vulgares, ou populares, quando usados, podem causar o emprego
de uma espécie não autêntica, do ponto de vista medicinal. Isto pode ocorrer,
porque espécies diferentes podem ter o mesmo nome vulgar, assim como a mesma
espécie pode ter mais de um nome. Ex.: Melissa officinalis L. (nomes vulgares:
melissa, cidreira, erva cidreira, capim cidreira). Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.
(capim cidreira, erva cidreira, capim cheiroso) (SAAD et al., 2009).
Pelos exemplos anteriores percebemos que cada espécie tem mais de um nome
popular e que o mesmo nome pode ser usado para se referir a mais de uma espé-
cie. Por isso sempre se deve usar o nome científico correto das espécies, seja em
pesquisas, estudos ou rotulagem de fitoterápicos.
capítulo 2 • 47
CONEXÃO
Consulte o Código Internacional de Nomenclatura Botânica, para conhecer quais são
as regras que regem a nomenclatura botânica e aplicá-las adequadamente, disponível em:
<http://www.iapt-taxon.org/nomen/main.php>. Consulte também a base The Plant List,
disponível em: http://www.theplantlist.org/ e a base Trópicos, disponível em: <http://www.
tropicos.org/>, para confirmação de posicionamentos taxonômicos de plantas, além de no-
menclatura e autoria em Botânica.
ATIVIDADE
Reflita e aponte duas razões para os nomes vulgares não serem usados em estudos,
pesquisas ou rótulos de fitoterápicos:
04. Indique a categoria taxonômica para os táxons listados a seguir: Ruta graveolens; Celas-
traceae; Solanales; Morus; Plectranthus barbatus; Poaceae; Zingiberales;
capítulo 2 • 48
espécies. Quando a amostra for de ervas pequenas, deve-se coletar uma amostra
fértil completa, com raiz, caule e os demais órgãos (PEIXOTO et al., 2013).
As coletas de material botânico devem ser planejadas e feitas de forma siste-
mática, com procedimentos técnicos. Devem-se levar em consideração as caracte-
rísticas do local de coleta e das plantas a serem coletadas. São itens básicos e indis-
pensáveis para coletas de material testemunho botânico (ROTTA; BELTRAMI;
ZONTA, 2008; PEIXOTO et al., 2013):
capítulo 2 • 49
A prensa de madeira (Figura 9A) tem a finalidade de per-
mitir a correta secagem das amostras no processo de her-
PRENSA DE borização. Deve ser levada a campo, para que o processo
seja feito ainda no campo. A prensa ideal é a de treliça de
MADEIRA VASADA madeira, que permite a passagem do ar quente, para a se-
COM CINTA OU cagem mais rápida e uniforme. A prensa compreende duas
CORDA pranchas de treliça de madeira ou uma prancha de treliça e
outra que pode ser de compensado inteiro e corda ou cinta
de algodão.
capítulo 2 • 50
celulares, o material fresco deve ser trabalhado logo que seja coletado. Todos
os órgãos vegetais podem ser fixados e conservados, desde que sejam realiza-
dos os procedimentos adequados (AZEVEO et al., 2003; CUTLER; BOTHA;
STEVENSON, 2007).
Em geral, o material vegetal coletado para anatomia é fixado no local e depois
conservado, para posterior utilização. Os estudos anatômicos têm como objeti-
vo a caracterização dos tecidos vegetais e sua organização dentro de cada órgão
(CUTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007). Entretanto, xilema e epiderme são
tecidos que comumente podem receber técnicas especiais para serem estudados ou
analisados individualmente.
Formalina (formaldeido 37%) 5mL; ácido acético glacial 5mL e álcool etílico
a 50% (ou 70%) 90mL.
capítulo 2 • 51
Componentes do Navaschin
Cada órgão da planta terá uma técnica própria para a sua coleta, dependendo
da finalidade do estudo ou análise. Raízes e caules são órgãos que podem apre-
sentar dois tipos de crescimento: primário e secundário; logo, terão técnicas de
coleta diferentes. Da mesma forma, folhas, flores e frutos também recebem téc-
nicas diferentes, de acordo com suas características. Qualquer que seja o órgão,
assim que coletado, deve ser submerso no fixador e ficar ali por 48-72 horas,
para que haja tempo suficiente para a fixação de todos os tecidos. Órgãos mais
delicados, como folhas e flores, podem ficar por 48 horas. Órgãos mais suculentos
ou rígidos, devem permanecer por mais tempo, 72 horas. Após a fixação, todo o
material deve ser submerso no álcool 70%, para conservação por tempo indeter-
minado. Periodicamente, o álcool 70% deve ser trocado (CUTLER; BOTHA;
STEVENSON, 2007).
É importante destacar que as amostras da mesma espécie podem ficar juntas
em um mesmo frasco, devidamente identificado.
capítulo 2 • 52
amolecedora. A partir de uma semana, é preciso ir verificando diariamente para
verificar se já está no ponto de passar para a solução conservante. A mesma técnica
se aplica às cascas, mas elas não necessitam tantos dias na solução amolecedora.
Coleta de folhas
As folhas indicadas para estudos anatômicos são as que estão plenamente ex-
pandidas, obtidas entre o 4º e o 6º nó. Folhas que tenham um tamanho compatí-
vel com o frasco, podem ser fixadas inteiras. Não se deve dobrar as folhas inteiras,
para não danificar. Folhas que sejam grandes ou maiores do que o frasco, podem
ser cortadas transversalmente em 2, 3 ou 4 fragmentos (figura 2.10), dependendo
do tamanho da folha. Folhas muito grandes, como as de bananeira, por exem-
plo, devem ser fragmentadas para fixação nas regiões usuais de cortes anatômicos
(figura 2.11).
Figura 2.10 – folhas inteiras e cortadas para fixação. Autor das fotos: Regina Moura.
Figura 2.11 – Regiões de corte de folhas para fixação e estudo. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 2 • 53
Coleta de flores e frutos
Os estudos anatômicos das flores para análise das peças florais, devem ser fei-
tos em botões florais jovens. Da mesma forma, os frutos devem ser coletados ainda
em início de desenvolvimento.
Cuidado especial deve ser tomado para coleta de material para extração de óleo
essencial. Em período chuvoso, deve-se aguardar 2 a 3 dias sem chuva para coletar,
pois a chuva pode romper os tecidos secretores de óleo essencial e haver perda.
Não há distinção de técnica de coleta entre os diferentes órgãos vegetais para
análise de extrato. É preciso apenas tomar cuidado com a técnica de secagem do
material antes da extração; se à temperatura ambiente ou em estufa. Se for em
estufa, a temperatura deve ser controlada e não ultrapassar 55°C. A secagem de
folhas e flores deve ser feita com os órgãos soltos do caule.
REFLEXÃO
A coleta de amostras botânicas é necessária para que se obtenha de forma adequada o
material para o estudo que se pretende, bem como o material que servirá de referência para
a identificação e autenticidade da amostra. As coletas exigem um conjunto de utensílios
adequados para a obtenção das amostras, para que não se perca tempo nem material.
Em qualquer tipo de coleta, seja de material testemunho, para anatomia ou para fito-
química, todas as técnicas e utensílios utilizados têm por objetivo a obtenção das amostras
conservadas no seu estado mais próximo do que apresentava quando estava viva.
ATIVIDADES
05. Em uma turma de Farmacobotânica, foi proposto o estudo anatômico das cascas da
aroeira (Schinus terebinthyfolia). O professor pediu que fossem feitas duas coletas: uma do
material testemunho e outra do material para a anatomia. Descreva como deve ser feita cada
uma das duas coletas.
capítulo 2 • 54
06. Um grupo de cinco estudantes está realizando um levantamento etnofarmacológico em
uma comunidade tradicional. Eles obtiveram a autorização adequada e no primeiro dia, cada
membro do grupo entrevistou um informante e coletou amostras das plantas indicadas. Ao
final do primeiro dia, se reuniram para discutirem sobre as informações obtidas e para prepa-
rarem o material indicado pelos 5 informantes. Verificaram que todas as plantas medicinais
indicadas pelos entrevistados tinham como parte utilizada as folhas. Todos coletaram as fo-
lhas para material testemunho, além de terem feito as devidas anotações. Perceberam que
havia plantas com os mesmos nomes vulgares indicadas pelos diferentes entrevistados, o
que julgaram como plantas repetidas e decidiram que só preparariam um material testemu-
nho para todas. Analise as ações dos estudantes no primeiro dia do levantamento e critique
cada procedimento adotado pelo grupo.
CONEXÃO
Consulte o Manual de prática de coleta e herborização, elaborado pelos pesquisadores
da EMBRAPA, para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto e auxiliá-lo, quando
precisar realizar coleta. Ele está disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/
bitstream/doc/315636/1/Doc173.pdf>.
A herborização é um processo que deve ser iniciado ainda no campo, para que
sejam preservadas as características morfológicas da melhor forma possível, bem
como para que folhas e flores não caiam dos ramos. A finalidade da herborização
é a obtenção de material adequado para a montagem de exsicatas. São materiais
indispensáveis para uma herborização eficiente (PEIXOTO et al., 2013):
• Prensa de madeira;
• Corrugado de alumínio;
• Papelão ondulado;
• Borrifador com álcool comercial (92°-94°);
• Estufa de circulação de ar ou de lâmpadas;
• Freezer.
capítulo 2 • 55
Uma boa técnica de herborização começa com a disposição do material sobre
o jornal. Isto significa que o material herborizado, após a montagem da exsicata
será capaz de fornecer todas as informações a quem for consultá-lo, sem que seja
necessário desmontar a exsicata (PEIXOTO et al., 2013).
Quando a amostra for de tamanho menor ou igual ao do jornal, deve-se aco-
modá-lo em diagonal no jornal, para que se possa arranjar as folhas sem dobrá-las.
Quando o material for maior do que o jornal, deve-se dispô-lo em V ou em N,
dependendo do tamanho da amostra (PEIXOTO et al., 2013).
Ao dispor o material sobre o jornal, deve-se tomar o cuidado de arrumar as pé-
talas de duas ou três flores para expor da melhor forma as estruturas reprodutoras.
As sépalas também devem ficar visíveis em duas ou três flores. Além das flores, as
folhas também devem ser cuidadosamente dispostas de maneira a deixar visíveis as
características, tanto da face superior, quanto da face inferior. Para isso, algumas
folhas devem ser acomodadas com a face inferior voltada para cima e outras para
baixo (figura 2.12) (JUDD et al., 2002; PEIXOTO et al., 2013).
Figura 2.12 – Disposição de amostra botânica em jornal para herborização. Duas folhas
estão com a face inferior voltada para cima e as pétalas da flor estão cuidadosamente arran-
jadas. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 2 • 56
amostras e a cada três acomodadas na prensa, deve-se depositar um corrugado
de alumínio. Na ausência do corrugado, pode-se usar o papelão com ondulação
(JUDD et al., 2002; PEIXOTO et al., 2013).
Depois que todo o material estiver arrumado na prensa, deve-se prender com
cintas ou cordas de algodão bem apertadas, para que o material fique bem com-
primido dentro da prensa e seque adequadamente (figura 2.13). A prensa devida-
mente presa deve ser levada logo para a estufa. O tempo que o material vai ficar
submetido ao calor vai depender da textura e da quantidade de água presente no
material. Amostras mais finas e delicadas costumam ficar por 48 horas na estufa,
enquanto as mais suculentas, como frutos, bromélias, cactos podem ficar vários
dias. É importante que o material seja verificado todos os dias, para que não res-
seque além do necessário e se evite torna-lo quebradiço e inútil para a exsicata
(JUDD et al., 2002; PEIXOTO et al., 2013).
Figura 2.13 – Prensa contendo material botânico para herborização. Observe as folhas de
papelão ondulado entre as amostras. Autora da foto: Regina Moura.
Após seco, o material pode ser levado à refrigeração em freezer, para que or-
ganismos como fungos e insetos sejam mortos. Estes organismos podem danificar
e inutilizar as amostras, se sobreviverem. No freezer, o material deve ser colocado
em saco plástico bem fechado para não receber umidade. Sob refrigeração o ma-
terial deve permanecer por uma semana, quando estará pronto para a montagem
da exsicata.
capítulo 2 • 57
Montagem de exsicata
capítulo 2 • 58
Depois que a amostra estiver costurada, a ficha deve ser colada apenas pela
borda esquerda, em um dos cantos inferiores da camisa. Caso tenha caído alguma
folha ou flores, estas devem ser depositadas em um envelope pequeno de papel
vegetal, que fica colado no canto superior esquerdo da camisa. A ficha deve ser
cuidadosamente preenchida com todos os dados anotados na caderneta de coleta.
Se o material foi identificado, também deve ser escrito o nome científico. O ideal
é que seja preenchido o nome científico a lápis, para não haver danos na ficha, caso
venha a ocorrer mudança de nomenclatura (PEIXOTO et al., 2013).
É importante que a amostra seja identificada antes de ser montada a exsicata, a
não ser que o material tenha o objetivo de ser encaminhado para um taxonomista
fazer a identificação. O ideal é que ele seja encaminhado ainda no jornal, após
a herborização.
CONEXÃO
Consulte o Manual de procedimentos para herbário, para aprofundar seus conhecimen-
tos sobre herborização e montagem de exsicatas. Você poderá encontrá-lo em: <http://inct.
florabrasil.net/wp-content/uploads/2013/11/Manual_Herbario.pdf>.
Para observar exsicatas prontas e todas as informações que elas contêm, sugiro que na-
vegue pelo Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (online), disponível em: <http://
jabot.jbrj.gov.br/v2/consulta.php>.
REFLEXÃO
Todos os trabalhos que envolvem plantas só têm validade e tornam-se adequados para
publicação, se o material botânico estiver corretamente identificado, registrado e depositado
em um herbário. Por isso, é importante que o processo de herborização seja cuidadoso e
realizado com as técnicas corretas.
A montagem de exsicata é uma tarefa que será realizada, dependendo do local onde o
material será depositado. Quando realizada, deverá preservar a amostra por um longo tempo
e permitir a análise sem que seja necessário a retirada de partes do material, já que isso não
é permitido.
capítulo 2 • 59
ATIVIDADES
07. Muitos herbários hoje disponibilizam suas coleções para consulta online. É possível
acessar as coleções e fazer análises através do computador. Visite o herbário virtual do Jar-
dim Botânico do Rio de Janeiro, Jabot, através do site <http://jabot.jbrj.gov.br/v2/consulta.
php> e observe as exsicatas de espécies de Podocarpus, família Podocarpaceae e de Bro-
melia, família Bromeliaceae. Note a disposição das amostras e da ficha na camisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 161, p. 105–121, 2009.
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flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 181, p. 1-20, 2016.
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Diretoria Colegiada (RDC) n° 26 de 13 de maio de 2014. Dispõe sobre registro de medicamentos
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capítulo 2 • 61
capítulo 2 • 62
3
Citologia,
substâncias
ergásticas e
microtécnica
vegetal
Citologia, substâncias ergásticas e
microtécnica vegetal
Este capítulo trata do estudo da célula vegetal, com ênfase nas estruturas que
as diferenciam das células animais. São essas estruturas que permitem o vegetal
realizar, por exemplo a fotossíntese, resistir a ataques de patógenos e ainda contro-
lar entrada e saída de água.
As substâncias ergásticas também são conhecidas como inclusões celulares, e
são produtos do metabolismo celular. Muitos são produtos de reserva, alguns são
substâncias de defesa e outros são produtos de excreção. São conteúdos não pro-
toplasmáticos, principalmente armazenados na parede celular, plastídios, vacúolo
ou dispersos pelo citoplasma (CUTTER, 2002; EVERT, 2007).
Microtécnica vegetal é o termo usado para designar o conjunto de técnicas de
preparação das amostras vegetais e seu processamento para a confecção de lâminas
para o estudo da morfologia interna do vegetal. A anatomia vegetal é uma impor-
tante ferramenta com aplicações na descrição da morfologia interna do corpo do
vegetal, no controle de qualidade de plantas medicinais, na paleobotânica, botâ-
nica forense, taxonomia, adulteração e contaminação de alimentos entre outras
(CUTTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007).
OBJETIVOS
• Diferenciar metabólitos primários de metabólitos secundários;
• Listar os principais tipos de metabólitos primários e secundários;
• Identificar a parede celular celulósica como um atributo diagnóstico das células vegetais;
• Apontar o vacúolo como organela que controla a osmose nas células e como característica
diagnóstica das células vegetais;
• Relacionar a presença de plastídios com a realização da fotossíntese, e armazenamento de
pigmentos e outras moléculas orgânicas e a sua presença como característica diagnóstica
das células vegetais;
• Distinguir os três tipos de plastídios encontrados nas células vegetais. Identificar os cristais
como substâncias ergásticas importantes no controle de qualidade de drogas vegetais;
• Relacionar substâncias ergásticas com efeitos farmacológicos e aplicação na produção de
produtos farmacêuticos;
capítulo 3 • 64
• Apresentar a técnica de corte à mão livre;
• Habilitar para a confecção de lâminas histológicas semipermanentes;
• Relacionar as diferentes técnicas ao que se pretende observar na amostra.
Citologia
Teoria celular
Célula vegetal
capítulo 3 • 65
Moléculas orgânicas da célula vegetal
Mais da metade da matéria viva é constituída por água. Nos vegetais, a presen-
ça da água é bem mais significativa, pois a maioria dos tecidos tem 90% do peso
representados por água. Além da água, íons K+, Mg2+ e Ca2+ estão presentes em
proporção bem baixa, em torno de 1%. O restante da constituição química do
organismo é de moléculas orgânicas, que nos vegetais correspondem a cerca de
10.000 tipos diferentes (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Desses milhares de tipos, quatro são responsáveis pela maior proporção do
peso seco, depois da água: carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos.
Além de carbono, estas quatro moléculas apresentam em sua composição hi-
drogênio e, a maioria, oxigênio. Nitrogênio, enxofre e fósforo também fazem
parte da composição de algumas moléculas orgânicas (RAVEN; EICHHORN;
EVERT, 2014).
Carboidratos
capítulo 3 • 66
H
H C O H C OH
H C OH CH2OH C O
HO C H H O OH HO C H
H
H C OH OH H H C OH
OH H
H C OH H C OH
H OH
H C OH glicose cíclica H C OH
H H
glicose linear frutose
capítulo 3 • 67
como caules, raízes e sementes (ESAU,1990). O amido é um polímero de glico-
se, constituído de amilose e de amilopectina (RAVEN; EICHHORN; EVERT,
2014). A amilose é um polímero não ramificado (figura 3.3) e a amilopectina,
ramificado (figura 3.4). A combinação entre estas duas formas pode ser a respon-
sável pela forma lamelar dos grãos de amido (ESAU, 1990).
CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH
H O H H O H H O H H O H H O H H O H
H H H H H H
OH H O OH H O OH H O OH H O OH H O OH H O
H OH H OH H OH H OH H OH H OH
Amilose
CH2OH CH2OH
H O H H O H
H H
OH H O OH H
O
H OH H OH
CH2OH CH2OH CH2OH
H O H H O H H O H
H H H
OH H O OH H O OH H
H OH H OH H OH
amilopectina
capítulo 3 • 68
importante papel estrutural na parede celular (KRAUS et al., 2006). A celulose
(figura 3.5) é um polímero de glicose, assim como o amido. Entretanto, os monô-
meros do amido são α-glicose e da celulose são β-glicose (figura 3.6). Embora seja
uma riquíssima fonte de energia, apenas alguns poucos organismos são capazes de
obtê-la, como traças, cupins e ruminantes, porque possuem microrganismos no
trato digestivo capazes de hidrolisar a celulose. É esta diferença estrutural que faz
com que as enzimas quebrem com facilidade o amido e não consigam quebrar a
celulose para liberação da glicose (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
CH2OH OH CH2OH OH
O O
O OH O OH
OH O OH
HO O O OH
OH CH2OH OH CH2OH
celulose
Figura 3.5 – Fórmula estrutural da celulose. Autora das figuras: Regina Moura.
CH2OH CH2OH
H C O H H C O OH
H H
C C C C
OH H OH H
HO C C OH HO C C H
H OH H OH
a- glicose b- glicose
Figura 3.6 – Fórmulas estruturais de α-glicose e β-glicose. Autora das figuras: Regina Moura.
Lipídios
capítulo 3 • 69
Glicerol Ácidos graxos
H O H H H H H H H H H
H C O H + H O C C C C C ..... C C C C C H
H H H H H H H
O H H H H H H H H H
H C O H + H O C C C C C ..... C C C C C H
H H H H H H H H H
O H H H H H H H H H
H C O H + H O C C C C C ..... C C C C C H
H H H H H H H H
H O H H H H H H H H H
H C O C C C C C ..... C C C C C H
H H H H H H H
O H H H H H H H H H
H C O C C C C C ..... C C C C C H
H H H H H H H H H
O H H H H H H H H H
H C O C C C C C ..... C C C C C H
H H H H H H H H
capítulo 3 • 70
gorduras estruturais, como a cutina, a cera e a suberina estão associadas às pare-
des celulares, conferindo impermeabilização aos tecidos (RAVEN; EICHHORN;
EVERT, 2014).
Entre os lipídios produzidos por vegetais, os esterois se destacam como com-
ponentes das membranas. O sitosterol (figura 3.8) é o esteroide mais abundante
entre as plantas (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
CH3
H3C CH3
CH3 H
CH3
CH3 H
H H
HO
Proteínas
capítulo 3 • 71
Além da função estrutural, na constituição de membranas, por exemplo, exis-
te um tipo especial de proteínas, que agem como catalisadores nas reações quími-
cas que ocorrem dentro das células: são as enzimas. São conhecidas hoje cerca de
2.000 enzimas diferentes, capazes de catalisar diferentes reações, cada uma delas
(RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Ácidos nucleicos
capítulo 3 • 72
2012). São conhecidas três classes principais de fitocomplexos: os alcaloides, os
terpenóides e os compostos fenólicos (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Alcaloides
capítulo 3 • 73
como estimulante cardíaco, como antídoto contra envenenamento por gases asfi-
xiantes (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Terpenoides
capítulo 3 • 74
Outro grupo de terpenóides importantes é o dos glicosídeos cardioativos. São
originados de esteróis e podem causar ataques cardíacos em humanos, quando
usados em teores excessivos. Se usados dentro das concentrações terapêuticas, têm
efeito regulador dos batimentos cardíacos. A digoxina e a digitoxina são os dois
principais glicosídeos cardioativos, extraídos da dedaleira (Digitalis purpurea e
Digitalis lanata). Em espécies como Nerium apocynacea, tem efeito foliar contra
herbivoria (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Ação na fotossíntese (carotenoides) e hormonal (giberelinas, ácido abscísico)
são encontradas entre os terpenóides no corpo das plantas.
Compostos fenólicos
capítulo 3 • 75
O ácido salicílico já era usado pelo homem desde a antiguidade como anal-
gésico pelos gregos. Sua ação era obtida através do chá de casca de espécies de
salgueiro (Salix spp.). Na planta, promove a resistência sistêmica adquirida (SAR),
quando produzido nos tecidos atacados por fungos, bactérias ou vírus, induzindo
todo o corpo da planta a uma proteção duradoura contra o ataque desses patóge-
nos. Durante a floração, pode promover aumento de temperatura nos tecidos que
secretam óleos essenciais, fazendo a sua liberação para atração de polinizadores
(RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Parede celular
capítulo 3 • 76
A parede celular é rígida, delimitando o tamanho e a forma das células vege-
tais. Esta propriedade previne o rompimento da membrana plasmática quando a
célula se enche de água (EVERT, 2007; RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
A celulose é o principal componente das paredes celulares dos vegetais. As
moléculas de celulose se organizam em microfibrilas, que se entrelaçam formando
o arcabouço da parede (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014). As paredes pri-
mária e secundária diferenciam-se, não só no momento da sua formação, mas na
sua constituição também, especialmente quanto ao teor dos componentes e em
sua organização estrutural (EVERT, 2007).
De 20% a 30% do peso seco da parede primária são constituídos por micro-
fibrilas de celulose, formando um arcabouço entrelaçado, mergulhado em uma
matriz de moléculas não celulósicas, constituída de polissacarídeos (hemicelulose
e pectina) e proteínas estruturais chamadas glicoproteínas (EVERT, 2007).
As hemiceluloses variam muito de acordo com o tipo de célula ou de gru-
po vegetal. Xiloglucanas são as principais hemiceluloses da parede primária das
Eudicotyledoneae e de metade das Monocotyledoneae (EVERT, 2007). As hemi-
celuloses estão firmemente presas às microfibrilas de celulose, limitando a extensi-
bilidade da parede (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
A pectina é responsável por 30 a 50% do peso seco das paredes primárias
das Eudicotyledoneae e por apenas 2 a 3% do peso seco das paredes primárias
das Monocotyledoneae. É um polissacarídeo altamente hidrofílico que forma um
gel, em que está mergulhada a rede formada pelas microfibrilas de celulose e as
hemiceluloses. A água que entra na parede celular contribui para a elasticidade
da parede primária. A parede primária possui diminutos poros, formados pelo
arranjo das pectinas na parede celular e não pela celulose e hemicelulose. Esta po-
rosidade previne a entrada de vírus, que tem um tamanho maior do que os poros,
enquanto substâncias como sais, açúcares, aminoácidos e fitormônios são capazes
de ultrapassar a barreira da parede celular (EVERT, 2007).
As glicoproteínas são proteínas estruturais que representam 10% do peso
seco das paredes primárias vegetais, cuja função biológica é pouco conhecida.
Os estudos já realizados envolveram principalmente as paredes primárias de
Eudicotyledoneae e mostraram seu envolvimento na interação célula a célula du-
rante a diferenciação celular e na lignificação de células do xilema (EVERT, 2007).
As paredes primárias podem apresentar diferentes espessuras, dependendo do
tecido que a célula constitui. O espessamento pode ser homogêneo ou heterogê-
neo. Apresentam regiões onde ocorre menor deposição de microfibrilas de celulose
capítulo 3 • 77
e, portanto, são mais finas. Essas regiões são denominadas campos de pontoações
ou campos de pontoação primária. Nos campos de pontoação primária são obser-
vados diminutos canalículos revestidos por membrana plasmática, que atravessam
a parede primária e a lamela média. Estes canalículos são denominados plasmo-
desmos e através deles passam projeções de retículo endoplasmático liso, conec-
tando as células adjacentes (KRAUS et al, 2006). A ligação entre células vizinhas
através da membrana plasmática e do citoplasma constitui o simplasto, por onde
ocorre o movimento simplástico de água e substâncias (RAVEN; EICHHORN;
EVERT, 2014). Os plasmodesmos podem estar presentes em todos os tecidos,
ocorrendo numerosos nos campos de pontoação primária e mais esparsamente nas
outras regiões da parede primária (EVERT, 2007).
Comparativamente, a parede secundária apresenta maior rigidez do que a pa-
rede primária, com 40 a 60% do seu peso seco representados pelas microfibrilas
de celulose. As hemiceluloses são representadas pelas xilanas nas Angiospermas e
pelas glucomananas nas Gimnospermas. As pectinas geralmente estão ausentes na
parede secundária. A parede secundária é produzida pelo protoplasto no final do
crescimento celular (EVERT, 2007) e é depositada entre a membrana plasmática e
a parede primária. Sua estrutura apresenta de 2 a 3 camadas de fibrilas de celulose,
orientadas em direções distintas. Esta organização proporciona maior resistência e
rigidez (KRAUS et al, 2006).
Durante a formação da parede secundária, nos campos de pontoação primária
não há formação de parede secundária, mantendo-se os plasmodesmos e a comu-
nicação entre as células adjacentes. Estas regiões são chamadas de pontoações.
Podem ocorrer dois tipos de pontoações: simples e areoladas.
Protoplasto
capítulo 3 • 78
Trataremos das características e funções dos componentes do protoplasto, dando
maior destaque aos plastídios e ao vacúolo, por serem exclusivos de célula vegetal.
O núcleo é delimitado por duas membranas lipoproteicas e armazena a maior
parte do material genético da célula vegetal. A membrana externa tem ribosso-
mos aderidos e é contínua com o retículo endoplasmático (KRAUS et al, 2006).
A maioria das células vegetais contém um núcleo, mas as células dos laticíferos,
por exemplo, apresentam vários núcleos (ESAU, 1990; KRAUS et al, 2006;
RUDALL, 2007). O núcleo é responsável pelo controle de todo o metabolismo
celular. Comanda a síntese ribossomal, exceto os que estão presentes em mitocôn-
drias e plastídios (KRAUS et al, 2006).
O vacúolo é uma organela característica das células vegetais, delimitado por uma
membrana lipoproteica, denominada tonoplasto. Seu interior é preenchido pelo suco
celular ou suco vacuolar, constituído por água e diferentes componentes dissolvidos,
que vão variar de acordo com a planta, o tecido, a célula ou o estado fisiológico de
desenvolvimento da planta. São componentes comuns do suco vacuolar: íons, ácidos
orgânicos, açúcares e aminoácidos. Pode haver a formação de cristais no interior do
vacúolo, como os de oxalato de cálcio. Em geral, os componentes presentes no suco
vacuolar são sintetizados em outras partes do citoplasma e acumulados dentro do va-
cúolo. O pH do suco vacuolar é ligeiramente ácido (5), mas vai depender da natureza
das substâncias dissolvidas nele. Nos frutos cítricos, por exemplo, é bastante ácido,
tornando o sabor azedo (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Células meristemáticas ou em estágio de crescimento apresentam numerosos
pequenos vacúolos, denominados provacúolos (TAIZ; ZEIGER, 2010) que vão se
fundindo, à medida em que a célula vai crescendo e amadurecendo (KRAUS et al,
2006; RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014). Uma célula madura apresenta um
só vacúolo que pode ocupar até 90% da célula madura. O vacúolo desempenha
diferentes funções metabólicas, que vão depender do tecido em que a célula está.
As principais funções são: controle osmótico; armazenamento de ácidos orgânicos
formados na primeira etapa da fotossíntese de plantas CAM; digestão de organelas
do citoplasma; armazenamento de substâncias, como açúcares, metabólitos secun-
dários, pigmentos, como as antocianinas e proteínas (KRAUS et al, 2006).
Os plastídios ou plastos são organelas responsáveis pelo processo metabólico
mais importante realizado pelas plantas: a fotossíntese. Caracterizam-se por apre-
sentarem um envoltório de dupla membrana e um sistema interno de membranas
denominado tilacóide, mergulhado numa matriz chamada estroma. O sistema
tilacóide está relacionado com a captação de energia luminosa e o estroma com
a incorporação do carbono na molécula de açúcar, no processo de fotossíntese
capítulo 3 • 79
(TAIZ; ZEIGER, 2010). O grau de desenvolvimento do sistema tilacóide vai
depender do tipo de plastídio (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Os plastídios possuem DNA próprio, responsável pela síntese de proteínas
próprias do plastídio e pela sua duplicação. Os plastídios variam em forma, ta-
manho e organização da sua estrutura interna. São classificados em três grupos,
de acordo com a presença de pigmentos ou o tipo de substância que armaze-
nam: cloroplastos, cromoplastos e leucoplastos (KRAUS et al, 2006). Os plastí-
dios originam-se de proplastídios, que irão se diferenciar em um dos três tipos,
dependendo do órgão e da função que este desempenhe. Após estarem maduros,
os três tipos podem interconverter-se entre si (TAIZ; ZEIGER, 2010; RAVEN;
EICHHORN; EVERT, 2014).
Os cloroplastos armazenam clorofilas e carotenoides, respectivamente pig-
mentos principal e acessório no processo da fotossíntese. São encontrados em
todas as partes verdes das plantas (TAIZ; ZEIGER, 2010), com concentração
maior nas folhas, onde podem ser encontrados cerca de 500.000/mm2 (RAVEN;
EICHHORN; EVERT, 2014). Os cloroplastos podem acumular amido de assi-
milação, além de aminoácidos e lipídios (KRAUS et al, 2006).
Os cromoplatos são plastídios que armazenam carotenoides, que proporcio-
nam a coloração amarela, laranja ou vermelha de folhas, flores, frutos e algumas
raízes. No processo de senescência das folhas e da maturação dos frutos, os cloro-
plastos sofrem degradação da clorofila, acumulando carotenoides. Desta forma, as
folhas e frutos perdem a cor verde e ganham coloração amarela e laranja (TAIZ;
ZEIGER, 2010).
Os leucoplastos são plastídios incolores, que têm função de armazenamento
de diferentes substâncias. Os principais leucoplastos conhecidos são os amiloplas-
tos, que armazenam amido em raízes e caules de reserva, principalmente. Seu
sistema tilacoide é pouco desenvolvido. Também são encontrados nos vegetais os
proteinopastos, leucoplastos que armazenam proteína (KRAUS et al, 2006).
Microcorpos são duas organelas muito pequenas encontradas no citoplasma
das células vegetais, chamadas peroxissomos e glioxissomos. Ambas desempenham
funções específicas nas folhas e sementes, respectivamente. Os peroxissomos, em-
bora estejam presentes em células fotossintetizantes, são encontrados em todos
os organismos eucarióticos. Têm a função de remover o hidrogênio de substratos
orgânicos, consumindo O2, originando água e oxigênio ao final da reação em
presença de catalase (TAIZ; ZEIGER, 2010). Estas reações ocorrem nas folhas,
onde os peroxissomos estão associados às mitocôndrias e cloroplastos (RAVEN;
capítulo 3 • 80
EICHHORN; EVERT, 2014). Os glioxissomos são encontrados nas sementes
oleaginosas e estão associados à conversão de ácidos graxos em açúcar que promo-
verá o desenvolvimento de plântulas (TAIZ; ZEIGER, 2010). Glioxissomos são
importantes na germinação de sementes de amendoim (Arachis hipogea), girassol
(Helianthus annus) e coco-da-baía (Cocos nucifera) (KRAUS et al, 2006).
Os corpos oleaginosos, também chamados de esferossomos ou oleossomos
(KRAUS et al, 2006) são gotículas lipídicas esféricas, que dão uma aparência gra-
nulosa ao citoplasma. São abundantes em frutos e sementes que armazenam lipí-
dios, como azeitona e amendoim (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Os ribossomos são partículas desprovidas de membrana, formadas por uma
porção proteica e outra de RNA ribossômico. Estão dispersos no citoplasma, ou
associados à membrana nuclear e do retículo endoplasmático. Também ocorrem
em plastídios e mitocôndrias (KRAUS et al, 2006). Agrupam-se formando os
polissomos, para desempenhar importante função na síntese proteica, unindo os
aminoácidos (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
As mitocôndrias são organelas de forma ovalada, menores do que os plastí-
dios, delimitadas por dupla membrana lipoproteica. Internamente, apresentam
um sistema de membranas denominado crista, mergulhado na matriz mitocon-
drial. Assim como os plastídios, as mitocôndrias têm seu próprio genoma e se au-
toduplicam (KRAUS et al, 2006). Assim como nos animais, as mitocôndrias são o
local onde ocorre a respiração (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Nas células vegetais, o retículo endoplasmático (RE) é uma extensa rede
interna de dupla membrana lipoproteica, ligada à membrana nuclear. São ob-
servadas regiões tubulares e desprovidas de ribossomos, denominadas Retículo
Endoplasmático Liso (REL), e regiões achatadas, formando cisternas, denomina-
das Retículo Endoplasmático Rugoso (RER). O REL é o principal local de sínte-
se de lipídios de membranas e dos corpos oleaginosos (RAVEN; EICHHORN;
EVERT, 2014), enquanto o RER é responsável pela síntese de proteínas de mem-
brana e proteínas que serão secretadas para fora da célula ou armazenadas no
vacúolo (TAIZ; ZEIGER, 2010).
O complexo de Golgi das células vegetais é uma estrutura dinâmica formada
por uma ou mais pilhas denominadas corpo de Golgi ou dictiossomo. Cada pilha
é constituída de sacos achatados, ou cisternas e uma rede irregular de tubos e vesí-
culas (TAIZ; ZEIGER, 2010). Nas células vegetais, o complexo de Golgi desem-
penha importante função na síntese de polissacarídeos não-celulósicos da parede
celular (pectinas e hemicelulose). A mucilagem secretada por diferentes plantas,
capítulo 3 • 81
constituída de polissacarídeos ácidos, é dependente da atividade do complexo de
Golgi (KRAUS et al, 2006).
O citoesqueleto, assim como nas células animais, é composto nas células ve-
getais por microtúbulos, microfilamentos e filamentos intermediários (KRAUS
et al, 2006). Os três tipos são constituídos de proteína filamentosa, diferindo na
estrutura, espessura e comprimento. Os microtúbulos são filamentos ocos de pro-
teínas globulares denominadas tubulinas, enquanto os microfilamentos são sóli-
dos, constituídos de actina globular. Os filamentos intermediários são helicoidais,
compostos de queratina (TAIZ; ZEIGER, 2010).
Microtúbulos e microfilamentos participam no crescimento e diferenciação
celular. Os microtúbulos são importantes na organização das microfibrilas de ce-
lulose na formação da parede celular. Também participam da formação do fuso
mitótico (KRAUS et al, 2006). Os microfilamentos estão associados ao movimen-
to da corrente citoplasmática ou ciclose (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Os filamentos intermediários parecem ter função na reorganização do envoltório
nuclear durante a divisão celular (KRAUS et al, 2006).
REFLEXÃO
As células vegetais apresentam características comuns às células animais, porém têm
estruturas próprias, que devem ser usadas para a sua identificação: parede celular, plastídios
e vacúolo. Em um controle de qualidade de drogas vegetais, a parede celular é a estrutura
que deverá se manter íntegra, a despeito do processo de secagem. O estudo da função que
os plastídios desempenham nas plantas mostram a importância destas organelas para a
manutenção da vida na Terra.
ATIVIDADES
01. Monte um quadro comparativo mostrando as diferenças entre a parede primária e a
parede secundária das células vegetais:
03. Dê 3 exemplos de plantas que armazenam amido em amiloplastos, dizendo o órgão onde
é armazenado:
capítulo 3 • 82
Substâncias ergásticas
Amido
Inulina
capítulo 3 • 83
Aleurona
Aleurona é o nome dado a grãos proteicos de forma definida, que são ar-
mazenados no vacúolo das células. Podem ser encontrados na região periférica,
sob a casca da batata inglesa. São menores do que a maioria dos grãos de amido
(CUTTER, 2002). Podem ser encontrados em sementes de abóbora, linho, mos-
tarda e em frutos de erva-doce e funcho. Aaleurona diminui a calciúria, sendo
recomendada nas hipercalciúrias e litíases renais. No desenvolvimento do embrião
durante a germinação da semente, a camada de aleurona tem papel importante na
produção de α-amilase, que digere o amido, liberando glicose para ser absorvida
pelo embrião para seu desenvolvimento (TAIZ; ZEIGER, 2010).
Óleos e gorduras
capítulo 3 • 84
Cristais de oxalato de cálcio
Figura 3.10 – Esquema de epiderme (a) com litocisto (b) contendo cistólito (seta branca).
Autora da figura: Regina Moura.
capítulo 3 • 85
Cristais de sílica
Entre as plantas com semente, as gramíneas são o grupo onde ocorre maior
depósito de cristais de sílica, sendo uma característica diagnóstica importante
no controle de qualidade de espécies desta família. Os corpos silicosos ocorrem
principalmente no citoplasma de folhas, raízes, frutos e sementes. Têm função de
proteção das plantas contra-ataque de fungos e herbivoria de insetos (EVERT,
2007) e podem apresentar uma diversidade de formas, que podem ser observadas
no estudo de Mercader et al.( 2009), disponível em: <https://academic.oup.com/
aob/article/104/1/91/122935/Phytoliths-in-woody-plants-from-the-Miombo>.
Microtécnica vegetal
O corte à mão livre será considerado, pois é o que proporciona maior faci-
lidade de execução, além de ser o mais barato e rápido na obtenção das lâminas
(AZEVEDO et al., 2004). As amostras a serem utilizadas podem ser frescas, quan-
do se quer observar conteúdo celular, movimento citoplasmático ou fazer análise
histoquímica. Para observação da forma, tamanho e características da parede ce-
lular, além da histologia, a amostra adequada é a fixada (CUTTLER; BOTHA;
STEVENSON, 2007).
Amostras delicadas, sem rigidez devem ser cortadas com o auxílio de um su-
porte, para que as seções obtidas sejam adequadas, isto é, bem finas e retas. Os
cortes espessos e enviesados não proporcionam boa visualização das estruturas que
se quer observar nas células, nem da organização dos tecidos.
capítulo 3 • 86
Material utilizado para os cortes à mão livre
• Amostras vegetais
• Lâmina de aço de barbear
• Suporte, que podem ser: medula do pecíolo de imbaúba ou de cenoura
ou isopor
• Pincel nº 2
• Pinça
• Placa de petri com água
A B C
Figura 3.11 – Preparo de suporte para corte à mão livre. A- Suporte íntegro; B- corte do
suporte ao meio; C- suporte com a canaleta para amostras cilíndricas. Autora da figura:
Regina Moura.
capítulo 3 • 87
Tipos de cortes de amostras vegetais
Figura 3.12 – Cortes à mão livre em folhas. A- corte paradérmico; B- corte longitudinal; C-
corte transversal. Autora da figura: Regina Moura.
capítulo 3 • 88
Depois que já houver cortes bem finos e retos suficientes para ter bom mate-
rial de análise, deve-se começar o preparo do material para a montagem das lâmi-
nas. As placas e o vidro de relógio devem ficar enfileirados (Figura 14), para que
a passagem dos cortes da amostra pelos reagentes e água seja rápida e eficiente. É
recomendável que se identifique cada recipiente, pois todas as soluções são trans-
parentes, com exceção do corante.
Figura 3.14 – Sequência de soluções para coloração de cortes de amostra vegetal. Autora
da foto: Regina Moura.
Somente após estar com todos os cortes feitos, deve-se começar o processo
para coloração. Os cortes deverão ser passados por cada solução com o uso do
pincel. Abaixo, estão especificados os tempos que os cortes deverão permanecer
em cada solução:
• Hipoclorito 20% - corresponde à etapa de clareamento ou diafanização.
Os cortes devem permanecer até que estejam completamente transparentes.
• Água – tirar o excesso de hipoclorito por 1 minuto
• Ácido acético 1% - etapa de neutralização do hipoclorito. Os cortes devem
permanecer mergulhados por 2 minutos.
• Água – retirar o ácido acético
• Corante – o tempo de permanência vai depender do corante usado.
• Água – retirar o excesso de corante. Devem permanecer pelo menos por
2 minutos.
capítulo 3 • 89
É importante destacar que a etapa de coloração deve ser cuidadosa, para que
não se perca cortes de amostra mergulhados no corante. É recomendável que se
core um a um.
Análises histoquímicas
capítulo 3 • 90
REFLEXÃO
O preparo de boas lâminas histológicas vegetais pode proporcionar ferramenta impor-
tante no controle de qualidade microscópico de drogas vegetais. O uso dos corantes adequa-
dos auxilia na identificação de substâncias secretadas e armazenadas nas células vegetais,
bem como na natureza estrutural das paredes celulares.
ATIVIDADE
04. Raspe o cotilédone da semente de feijão com o auxílio de uma lâmina de barbear; es-
palhe o material sobre a lâmina e pingue 1 a 2 gotas de água; coloque a lamínula e observe
ao microscópio. Repita o procedimento, substituindo a água por 1 ou 2 gotas de lugol. O que
é observado na amostra após o acréscimo do lugol? Por que? Desenhe os grãos de amido
que são observados.
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capítulo 3 • 92
4
Histologia vegetal:
desenvolvimento
vegetal, sistemas
dérmico, fundamental
e vascular e
estruturas secretoras
Histologia vegetal: desenvolvimento vegetal,
sistemas dérmico, fundamental e vascular e
estruturas secretoras
A estrutura do corpo dos vegetais, embora complexa, segue um padrão bem
definido em cada órgão. Isto facilita o reconhecimento, por exemplo, no controle
de qualidade microscópico. O estudo do desenvolvimento do corpo do vegetal
ajuda a compreender porque as plantas têm crescimento indeterminado e quais os
padrões encontrados para cada sistema de tecidos e sua distribuição e organização
em cada órgão da planta.
O sistema dérmico compreende os tecidos que revestem os órgãos da planta
(CUTTER; 2002) e, portanto, fazem o contato do corpo do vegetal com o meio
ambiente. Este contato faz com que adquira características associadas com as par-
ticularidades de cada ambiente (ALQUINI et al, 2006). Especialmente no corpo
primário é de enorme importância para o controle de qualidade e autenticação de
drogas vegetais.
O sistema fundamental dos vegetais tem as funções de seus tecidos relaciona-
das com as atividades metabólicas e de sustentação do corpo da planta. São três os
tecidos que compõem o sistema fundamental: parênquima, colênquima e escle-
rênquima. Embora tenham a mesma origem meristemática e sejam tecidos sim-
ples, suas características e funções são muito bem definidas e é fácil distingui-los.
O parênquima é responsável por todo o metabolismo da planta, especialmente a
fotossíntese. O colênquima tem a importante tarefa de sustentar regiões jovens de
corpo primário, para que não percam sua integridade. O esclerênquima sustenta
com muita força o corpo da planta, permitindo que ela viva e cresça em ambientes
bastante diversos (SCATENA; SCREMIN-DIAS, 2006).
O sistema vascular é formado por dois tecidos: xilema e floema. No corpo
primário, são produzidos pelo procâmbio e no corpo secundário, pelo câmbio
vascular (RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014). São responsáveis pelo trans-
porte de substâncias à longa distância, necessárias à manutenção da vida da planta
(CUTTER, 2002). Através do xilema são conduzidos água, minerais, íons que são
retirados do solo, num movimento denominado acrópeto, desde as raízes até as
folhas. O floema conduz os açúcares produzidos pela fotossíntese, das folhas para
todas as partes da planta, em especial para os órgãos de armazenamento, através
do movimento chamado basípeto. Ambos são tecidos contínuos através de todos
capítulo 4 • 94
os órgãos vegetativos e reprodutivos do corpo da planta (COSTA et al., 2006).
Xilema e Floema são responsáveis também pela circulação de hormônios vegetais.
No controle de qualidade de matéria prima de origem vegetal, xilema e
floema podem contribuir para a detecção de adulterações, seja pelo seu arranjo nos
órgãos ou, isoladamente, pelas características dos tipos celulares que apresentam.
A secreção é a liberação de substâncias produzidas no protoplasto para fora da
célula (ESAU, 1990). Essas substâncias podem ser úteis à planta, como hormônios
e enzimas, ou podem não ser mais úteis, denominadas excreção. Muitas secreções
são de grande importância econômica, como a borracha. As estruturas secretoras
podem ser células, tecidos ou espaços intercelulares onde secreções são armazena-
das e de onde são liberadas (CUTTER, 2002).
No controle de qualidade de drogas vegetais, as estruturas secretoras são im-
portantes na autenticação das espécies vegetais.
OBJETIVOS
• Relacionar a presença de meristemas ao crescimento indeterminado;
• Correlacionar os meristemas primários e secundários aos respectivos tecidos que originam;
• Identificar as características diagnósticas dos tecidos do sistema dérmico;
• Relacionar as características da epiderme com o ambiente de origem da planta;
• Apontar as características diagnósticas de parênquima, colênquima e esclerênquima;
• Distinguir os diferentes tipos de parênquima, colênquima e esclerênquima;
• Distinguir xilema e floema pelas características de suas células;
• Identificar os diferentes tipos de feixes vasculares;
• Distinguir os diferentes tipos de estruturas secretoras externas e internas;
• Associar a secreção à respectiva estrutura secretora.
Desenvolvimento vegetal
capítulo 4 • 95
desigual, originando uma célula de menor tamanho, que continuará se dividin-
do, originando o embrião (EVERT, 2007). A outra célula formada, de tamanho
maior, sofrerá sucessivas divisões transversais, originando o suspensor com poucas
células (RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014).
Logo no início do desenvolvimento do embrião já é observada a polarida-
de. Na sua formação inicial, o embrião é constituído de uma massa de células
totalmente indiferenciadas, denominadas pró-meristema. Conforme as divisões
celulares progridem, começam a se formar as regiões com células pouco diferen-
ciadas, denominadas meristemas. Os meristemas são os responsáveis pela produ-
ção dos tecidos definitivos do corpo das plantas (CUTTER, 2002). A partir do
desenvolvimento do embrião, observa-se a formação do plano do corpo da planta,
organizado em dois padrões simultâneos: padrão apical-basal e padrão radial. O
padrão apical-basal consiste no eixo do caule com seu ápice e no eixo da raiz com
seu respectivo ápice. No padrão radial, observa-se a distribuição concêntrica dos
sistemas de tecidos (figura 4.1) (RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014).
Protoderme
Cotilédone
Meristema
Chanfro fundamental
Hipocótilo B
Procâmbio
Suspensor
Nesta etapa, o embrião ainda não tem os tecidos diferenciados, nem os me-
ristemas apicais de caule e raiz organizados. O chanfro é a região onde se formará
o meristema apical de caule. Na base do hipocótilo-raiz, se formará o meristema
apical de raiz. Conforme o embrião vai se desenvolvendo, o eixo vai se alongan-
do, as regiões apicais de raiz e de caule se distanciam e formam-se as regiões de
capítulo 4 • 96
meristema apical de caule e de raiz. Na sua estrutura, os meristemas apicais sempre
permanecem com uma região de células totalmente indiferenciadas, denomina-
da promeristema e os meristemas primários (ESAU, 1990). Abaixo dos meriste-
mas apicais são identificados os tecidos primários, diferenciados a partir dos seus
respectivos meristemas (figura 4.2). Toda região da planta composta por tecidos
primários mais os meristemas primários constitui o corpo primário da planta
(CARMELLO-GUERREIRO; APEZZATTO DA GLORIA, 2006).
Promeristema
Protederme + = Meristema
apical de caule Tecidos
Meristema Moristemas primários
fundamental primários
Procâmbio
Procâmbio
Moristemas
Tecidos Meristema
primários
primários fundamental
Meristema = +
aplical de raiz Protederme
A Promeristema
Figura 4.2 – Esquema de trecho do corpo primário de uma planta. A- ápice de caule, sem os
primórdios foliares. B- ápice de raiz. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 4 • 97
Meristemas e tecidos primários
Funções metabólicas,
Parênquima
reserva e preenchimento
Sustentação com
Meristema fundamental Colênquima
flexibilidade
Tabela 4.1 – Meristemas primários e os tecidos que originam no corpo primário da planta.
capítulo 4 • 98
Figura 4.3 – Pimenteira. Gema axilar (seta) e gema apical (círculo). Autora da foto:
Regina Moura.
capítulo 4 • 99
vascular e o felogênio desenvolvem-se a partir de tecidos já existentes no corpo
maduro da planta (RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014).
As células do câmbio vascular vão se originar do procâmbio já existente entre o
xilema e o floema primários e, nos caules, também do parênquima interfascicular.
Desta forma, tanto no caule, quanto na raiz, o câmbio vascular formará um cilin-
dro. O felogênio pode se originar da epiderme, do parênquima cortical e a partir
do câmbio vascular (EVERT, 2007). A formação dos meristemas secundários se dá
por desdiferenciação e rediferenciação de células de tecidos já existentes e maduros
do corpo da planta (figura 4.4).
CÉLULA TOTALMENTE
DIFERENCIADA
Desdiferenciação
CÉLULA INDIFERENCIADA
Rediferenciação
CÉLULA DO MERISTEMA
SECUNDÁRIO
capítulo 4 • 100
Em algumas Monocotiledôneas, diz-se que se espessam, mas não possuem um
crescimento secundário verdadeiro, pois não há formação de câmbio vascular nem
na raiz, nem no caule (ESAU,1990).
REFLEXÃO
No cultivo de plantas medicinais, a poda é muito importante. Nas espécies medicinais
cujas partes de uso são as folhas ou a casca, existe uma relação direta com a presença de
gemas axilares. Quanto mais gemas axilares se desenvolvem, maior a disponibilidade de
folhas em cada planta. Da mesma forma, a exploração das cascas das plantas com emprego
medicinal pode ser feita de modo sustentável, já que cada gema axilar originará um novo
ramo que terá o seu corpo secundário, com sua respectiva casca. Assim, a aplicação da
técnica de podas para exploração das folhas e das cascas permitirá a manutenção de todos
os indivíduos do cultivo.
ATIVIDADE
01. A cana de açúcar é um vegetal que tem grande importância na economia nacional, seja
pelo setor alcooleiro, ou pelo setor açucareiro. Na safra 2013/14, em âmbito nacional, a cul-
tura da cana-de-açúcar teve expansão. A área cultivada com cana-de-açúcar nessa safra foi
de cerca de 8.799.150 hectares, distribuídas em todos os 23 estados produtores. Alguns dos
aspectos de maior importância para se ter boa produtividade final ou bom estande de plantas
de cana de açúcar estão relacionados com as práticas de plantio, levando em consideração
fatores indispensáveis à otimização da cultura (JADOSKI et al., 2010). Essas práticas vão
interferir diretamente na capacidade de brotação da cana-de-açúcar, entre outros fatores.
Na plantação comercial de cana de açúcar, a propagação é assexuada, feita mediante o uso
do colmo (caule) cortado em pedaços de aproximadamente trinta centímetros, possibilitando
a brotação. O desenvolvimento do sistema radicular inicia-se logo depois do plantio. Assim
como a cana de açúcar, muitas plantas, inclusive medicinais, são cultivadas assexuadamente
pelo processo de brotação (Adaptado de Manhães et al., 2015).
Explique porque a brotação é possível nas plantas como forma de obtenção de novas
plantas e por que o caule é o órgão preferencialmente usado para este fim.
capítulo 4 • 101
Sistema dérmico
Epiderme
Figura 4.5 – Detalhe de células ordinárias (setas brancas) e estômato (círculo) da epiderme
de Plectranthus barbatus (boldo brasileiro). Autores da foto: Elder Ferreira e Regina Moura.
capítulo 4 • 102
As células epidérmicas ordinárias podem apresentar paredes finas
(figura4. 6-A) ou espessas (ESAU, 1990; EVERT, 2007). Na sua estrutura, a epider-
me pode conter uma ou mais camadas de células. Quando ocorre apenas uma cama-
da, é denominada epiderme simples ou uniestratificada; quando há mais de uma ca-
mada de células, denomina-se epiderme pluriestratificada ou múltipla (CUTTER,
2002). Em muitas espécies de ambientes áridos, abaixo da epiderme são formadas
algumas camadas que se originam no meristema fundamental, chamadas hipoder-
me. A epiderme múltipla tem função de retenção de água no órgão (EVERT, 2007).
A epiderme pode ser revestida por uma camada de cutícula ou cera. Estas
gorduras têm função de proteção contra a perda de água ou ataque de microrga-
nismos, fungos e insetos (CUTTER, 2002; ALQUINI et al., 2006).
Estômatos
Os estômatos estão presentes na epiderme que reveste a parte aérea do corpo das
plantas, mas predominam nas folhas e caules jovens (CUTTER, 2002). O estômato
tem função na saída de água na forma de vapor, chamada de transpiração e nas trocas
gasosas; que é a saída de O2 proveniente da fotossíntese e entrada de CO2 atmosférico
para o processo da fotossíntese. Um estômato é constituído de duas células guarda
clorofiladas que formam o poro ou fenda estomática (figura 4.7), também chamado
de ostíolo. Em vista frontal da epiderme, as células guarda têm formato reniforme na
maioria das plantas, e forma de halter nas gramíneas. Denomina-se complexo estomá-
tico ou aparelho estomático o conjunto de células guarda, ostíolo e as células subsi-
diárias (figura 4.7) que circundam as células guarda e são diferentes das demais células
epidérmicas em observação da epiderme em vista frontal (ALQUINI et al., 2006).
1
3 3 1
4
2
capítulo 4 • 103
A combinação da distribuição de células guarda e células subsidiárias pode va-
riar, fornecendo complexos estomáticos de formas variadas em vista frontal. Esta
característica constitui um caráter taxonômico distintivo (ALQUINI et al., 2006;
EVERT, 2007). Em razão disto, os estômatos têm grande importância no controle
de qualidade e na autenticação de drogas vegetais e de plantas medicinais.
São encontrados quatro tipos de estômatos mais comuns entre os vegetais
(ALQUINI et al., 2006; EVERT, 2007):
Além destes quatro tipos mais comuns, ainda são encontrados em algumas
espécies os estômatos
capítulo 4 • 104
a b c d
e f g
Litocistos
Células buliformes
Estas células são maiores do que as demais células epidérmicas, com parede
celular fina e grande vacúolo armazenando água. Podem constituir inteiramente a
epiderme superior das folhas ou ficarem isoladas entre as nervuras. São encontra-
das menos frequentemente na epiderme inferior das folhas. São encontradas nas
Monocotiledôneas, principalmente nas Gramíneas. São facilmente reconhecidas
em cortes transversais pelo seu formato de leque (ALQUINI et al., 2006), com
uma célula central mais alta.
capítulo 4 • 105
Células silicosas
Tricomas
Figura 4.9 – Diferentes tipos de tricomas em epiderme abaxial (A;B) e adaxial (C) de
Plectranthus barbatus. TGP-tricoma glandular pluricelular; TGU- tricoma glandular unicelular;
TTR; tricoma tector reto; TTU tricoma tector uncinado. Autores das fotos: Elder Ferreira e
Regina Moura.
Periderme
capítulo 4 • 106
da casca. A função de proteção pode ser observada nos caules e raízes em cresci-
mento secundário de, além de frutos. A cicatrização através de periderme ocorre
em superfícies danificadas por ferimento, ataque de parasitas, queda de folhas,
frutos ou galhos (MAZZONI-VIVEIROS; COSTA, 2006).
A periderme tem uma estrutura de três regiões distintas sobrepostas: súber ou
felema, felogênio e feloderme. A região mais externa é o súber, que pode variar
no número de camadas. Abaixo do súber está o felogênio, meristema secundário
responsável por produzir células que compõem o súber e a feloderme. Mais inter-
namente fica a feloderme (RUDALL, 2007).
Felogênio
Feloderme
capítulo 4 • 107
Lenticela
Ritidoma
Casca
Deve-se tomar o cuidado para não confundir periderme com a casca. A pe-
riderme é um dos componentes da casca, sendo a camada mais externa da casca
(CUTTER, 2002). Chama-se casca ao conjunto de tecidos externos ao câmbio vas-
cular, podendo incluir tecidos primários e secundários (MAZZONI-VIVEIROS;
COSTA, 2006). As cascas de várias espécies são importantes recursos terapêuticos
na medicina popular, como as cascas de unha de gato (Uncaria tomentosa), aroeira
(Schinus terebinthifolia) ou murici (Byrsonima sericea).
REFLEXÃO
O sistema dérmico é importante para a vida da planta, uma vez que está associado com
a sua proteção contra a perda de água, ataques de patógenos, trocas gasosas e transpiração
entre outras. Do ponto de vista das drogas vegetais, o sistema dérmico fornece dados impor-
tantes no controle de qualidade, devido à sua complexidade estrutural. Estômatos, tricomas
capítulo 4 • 108
e outros tipos celulares da epiderme, são características relevantes para a autenticação de
drogas vegetais, especialmente aquelas constituídas de folhas. A periderme, também com
sua complexidade estrutural e diversidade química, pode contribuir também para a autentica-
ção e controle de qualidade de drogas vegetais constituídas de cascas.
ATIVIDADE
02. Pitanga e eucalipto são dois representantes farmacopeicos da família Myrtaceae. Bus-
que a descrição da epiderme de pitanga e de eucalipto na Farmacopeia Brasileira e indique
as diferenças que podem ser observadas entre elas.
Sistema fundamental
Parênquima
capítulo 4 • 109
Parênquima de preenchimento
capítulo 4 • 110
Figura 4.10 – Mesofilo de Chrysobalanus icaco (abajeru). E- epiderme; H- hipoderme; PL-
parênquima lacunoso; PP- parênquima paliçádico. Autora da foto: Regina Moura.
Figura 4.11 – Pecíolo de Jatropha multifida. Medula (Pm) e córtex (Pc) com parênquima re-
gular. Ca- Colênquima angular; Cr- cristais; Fv- Feixe vascular. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 4 • 111
Figura 4.12 – Parênquima plicado. Autora do desenho: Regina Moura.
ar c
c
ar
Figura 4.13 – Parênquima braciforme. Espaços com ar entre as células (c) com projeções.
Autora do desenho: Regina Moura.
Parênquima de reserva
capítulo 4 • 112
• Parênquima amilífero: Este tecido armazena em suas células grãos de ami-
do em amiloplastos. Parênquima amilífero é encontrado em caules subterrâneos,
como tubérculos de batata inglesa e rizomas de inhame, assim como em raízes de
mandioca e batata doce.
• Parênquima aerífero ou aerên-
quima (figura 4.14): É um parênquima pr
especializado no armazenamento de ar
entre as suas células. Possui grandes es-
paços intercelulares onde o ar é arma-
zenado. Está presente em folhas, caules ar
e raízes de plantas aquáticas ou de am- ar
bientes periodicamente alagados.
co
ep
capítulo 4 • 113
Um outro tipo de células parenquimáticas importantes, que são mais especia-
lizadas, são as células de transferência. Estas células são responsáveis pelo trans-
porte de solutos a curta distância sendo, portanto, associadas ao floema. As células
de transferência possuem a parede com invaginações, aumentando a superfície de
contato com a membrana, facilitando o transporte dos solutos a curta distância
(SCATENA; SCREMIN-DIAS, 2006).
Colênquima
a b c d
Figura 4.16 – Diferentes tipos de colênquima, segundo o espessamento da parede primá-
ria: a- angular; b- lamelar; c- anelar; d- lacunar. Autora do desenho: Regina Moura.
capítulo 4 • 114
• Colênquima angular: As células dispõem-se agrupadas, encostadas umas
nas outras, com o espessamento maior na região entre as células (figura 4.16a).
• Colênquima lamelar: As células se põem numa organização aproximada-
mente enfileiradas, encostadas umas nas outras lateralmente. O espessamento maior
da parede ocorre na região tangencial entre as fileiras de células (figura 4.16b).
• Colênquima lacunar: Ocorre em espécies de Asteraceae. O espessamento é
produzido em torno de um espaço intercelular (figura 4.16c).
• Colênquima anelar: Neste tipo de colênquima, a irregularidade do espes-
samento é bem sutil. As células dispõem-se de forma mais espalhada e ocorre
espessamento da parede em torno de toda a célula (figura 4.16d).
Esclerênquima
capítulo 4 • 115
As fibras (figura 4.18) são células longas, com as extremidades afiladas e pare-
des muito espessadas. Geralmente ocorrem em feixes, comuns nos tecidos vascu-
lares (EVERT, 2007).
Figura 4.18 – Fibras da entrecasca de Uncaria tomentosa (unha de gato). A- vista do corpo
da fibra com a parede espessada (os) e seta branca; b- detalhe da extremidade característica
das fibras de U. tomentosa (seta branca). Autoras da foto: Adriana Zanelli e Regina Moura.
Sistema vascular
Xilema
Elementos traqueais
capítulo 4 • 116
Os traqueídes são células condutoras do xilema de Pteridófitas, Gimnospermas,
exceto da ordem Gnetales, e também das Angiospermas, enquanto os elementos
de vaso são células condutoras do xilema das Angiospermas e das Gnetales. Isto
significa que em uma análise microscópica de fragmentos de cavalinha (Equisetum
arvensis), por exemplo, não podem ser encontrados elementos de vaso, já que ela
é uma Pteridófita (RAVEN; EICHHORN, EVERT, 2014).
Os traqueídes são células desprovidas de perfurações, apresentando, porém, pa-
res de pontoações ao longo da parede das suas células. São, em geral células longas
com as extremidades afiladas. Enquanto observa-se um tipo de traqueíde, os ele-
mentos de vaso são células que variam em comprimento e largura. Podem ser curtas
e largas, até longas e estreitas, como os traqueídes. Entretanto, os elementos de
vaso apresentam perfurações nas extremidades, formando as placas de perfuração,
característica distintiva entre os dois tipos de elementos traqueais (EVERT, 2007).
As placas de perfuração podem variar de forma, de acordo com o arranjo das
perfurações e podem ser uma característica distintiva entre táxons. Os traqueídes
se juntam pelas extremidades afiladas, enquanto os elementos de vaso conectam-
se pelas placas de perfuração das extremidades, formando vasos (EVERT, 2007).
Traqueídes e elementos de vaso possuem pares de pontoações ao longo da pare-
de secundária, que podem ser simples, areoladas ou simples-areoladas. A distribui-
ção dos pares de pontoações pode variar ao longo da parede secundária, formando
arranjos distintos (EVERT, 2002). O fluxo de água entre os traqueídes ocorre atra-
vés dos pares de pontoações, enquanto entre os elementos de vaso ocorre através
das suas extremidades conectadas pelas placas de perfuração (COSTA et al., 2006).
A parede secundária dos elementos traqueais pode ser depositada em diferen-
tes graus, formando padrões distintos. Os padrões conhecidos com menor propor-
ção de parede secundária são: anelar e helicoidal, enquanto os tipos escalariforme,
reticulado e pontuado apresentam maior proporção de parede secundária cobrin-
do a célula (COSTA et al., 2006).
Parênquima
capítulo 4 • 117
Na nervura principal das folhas de sombra de Chrysobalanus icaco (abajeru),
o xilema é fechado em arco, formando uma medula parenquimática (figura 4.19).
Esclerênquima
O esclerênquima está presente no xilema através das fibras, que têm função
de sustentação no tecido. São células alongadas no sentido longitudinal do órgão,
com extremidade afilada e parede secundária espessa e lignificada (ESAU, 1990).
Floema
capítulo 4 • 118
são denominadas metafloema (ESAU, 1990). No corpo primário é produzido pelo
procâmbio e no corpo secundário, pelo câmbio vascular (EVERT, 2007).
Elementos crivados
Figura 4.20 – Elemento de tudo crivado (etc) com placa crivada composta (pc) de Uncaria
tomentosa (unha de gato). p- parênquima. Autoras da foto: Adriana Zanelli e Regina Moura.
capítulo 4 • 119
Parênquima
Esclerênquima
Figura 4.21 – Floema secundário condutor de Uncaria tomentosa (unha de gato). Ff- feixe
de fibras; rp- raio parenquimático. Autoras da foto: Adriana Zanelli e Regina Moura.
capítulo 4 • 120
vasculares em que ocorre uma faixa de floema e outra de xilema é classificado
como feixe colateral (figura 4.22), e o floema fica voltado para a periferia do órgão
cilíndrico. Nos órgãos laminares, como as folhas, o floema fica voltado para a
face inferior.
Estruturas secretoras
capítulo 4 • 121
posição em que elas estão no corpo da planta. Seguiremos a classificação adotada
por ESAU (1990), que classificou as estruturas secretoras em externas e internas.
capítulo 4 • 122
Figura 4.24 – Célula secretora com cris-
tal do tipo drusa em parênquima clorofiliano
de Jatropha multifida (Círculo branco). Setas
brancas- parênquima paliçádico; setas ver-
des - parênquima lacunoso. Autora da foto:
Regina Moura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 4 • 123
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Cambridge University Press, 2007, 159 p.
capítulo 4 • 124
5
Caracterização
morfológica e
anatômica dos
órgãos vegetativos
e reprodutivos das
angiospermas
Caracterização morfológica e anatômica
dos órgãos vegetativos e reprodutivos das
angiospermas
Angiospermas são vegetais ditos completos, pois apresentam todos os órgãos
vegetativos e reprodutivos constituindo o seu corpo. Estes apresentam morfologia
variável e compatível com as suas respectivas funções.
A morfologia representa a forma e a aparência da planta. As características
morfológicas são facilmente observáveis e são práticas nas descrições dos táxons.
O estudo da morfologia externa dos vegetais fornece elementos para uma iden-
tificação prática das plantas e foram, por muito tempo, usados como fontes de
evidências taxonômicas no início dos estudos de sistemática vegetal.
As raízes, enquanto órgão de absorção e de fixação têm uma caracterização
anatômica compatível ao desempenho destas funções. Além disso, por ser órgão
que apresenta crescimento primário e secundário, saber diferenciá-los é importan-
te no controle de qualidade para se evitar adulterações de matéria prima.
O caule, tal como conhecemos, é o órgão da planta que fica para fora e cresce
perpendicularmente ao solo. Entretanto, outros tipos de caule, que se desenvol-
vem em baixo da terra e mesmo na água também existem e fazem parte do acervo
de plantas medicinais e drogas vegetais. Sua morfologia é mais diversa do que a
das raízes, mas as características diagnósticas peculiares facilitam o seu reconhe-
cimento. A anatomia caulinar apresenta os mesmos sistemas de tecidos que são
encontrados nas raízes, tanto no corpo primário, quanto no corpo secundário.
Entretanto, sua organização e distribuição não deixam dúvidas na distinção entre
estes dois órgãos vegetais.
As folhas representam o órgão das plantas mais utilizado na medicina popular.
A abundância de sua ocorrência nas plantas e a velocidade com que são renovadas,
propiciam o seu uso prevalente. As folhas são órgãos predominantemente verdes,
de formato laminar, o que otimiza a captação e aproveitamento da luz solar. Se
originam dos ramos, no meristema apical e em sua axila encontra-se a gema. As
folhas são distribuídas ao longo do eixo caulinar numa organização denominada
filotaxia, que pode variar tanto no número de folhas por nó, quanto no ângulo en-
tre elas nos nós consecutivos (SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013). São órgãos
que respondem tanto na morfologia, quanto na anatomia às pressões do ambiente,
apresentando variações que, através da anatomia, é possível se distinguir o tipo de
capítulo 5 • 126
ambiente em que a planta vive (CUTTER, 2002). Todos estes detalhes devem ser
considerados quando se faz a análise de drogas vegetais constituídas por folhas.
A flor é uma das características diagnósticas mais importantes das Angiospermas
(SOUZA; FLORES;LORENZI, 2013). As flores têm sido estudadas como ferra-
menta para possibilitar a determinação taxonômica nos estudos com plantas. Seu
caráter conservativo, tanto na anatomia, quanto na morfologia externa possibilita
posicionar um táxon com segurança dentro de um grupo taxonômico. Os frutos
e as sementes têm servido à humanidade como fonte alimentar, e com este propó-
sito vêm sendo estudados (CUTTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007). Flores,
frutos e sementes, são as partes da planta com menor representatividade dentro da
medicina popular, se comparados com folhas e caules. Entretanto, sua relevância
como elementos de identificação dos táxons merecem a atenção de quem estuda
plantas medicinais.
OBJETIVOS
• Apontar as características diagnósticas da morfologia da raiz e do caule;
• Diferenciar anatomicamente raiz em crescimento primário de raiz em crescimento secundário;
• Diferenciar anatomicamente caule em crescimento primário de caule em crescimento
secundário;
• Identificar raízes e caules de Monocotiledônea e de Eudicotiledônea, através da anatomia;
• Distinguir Monocotiledôneas de Eudicotiledôneas através da morfologia foliar;
• Identificar os diferentes tipos de filotaxia;
• Associar a anatomia foliar ao tipo de ambiente em que a planta vive;
• Classificar as flores, de acordo com seus verticilos protetores e reprodutivos;
• Distinguir Eudicotiledôneas de Monocotiledôneas, a partir das características florais;
• Classificar diferentes frutos a partir das características do pericarpo;
• Distinguir sementes de Eudicotiledôneas das sementes de Monocotiledôneas.
capítulo 5 • 127
Caracterização morfológica e anatômica das raízes
São aquelas que completam o seu ciclo de vida em até um ano, ha-
PLANTAS vendo um só episódio reprodutivo. Após a liberação das sementes, a
ANUAIS planta morre
São plantas que vivem mais de dois anos e apresentam vários episó-
dios reprodutivos. São perenes também, porém com a denominação
PLANTAS de vivaz, as plantas de cerrado que perdem a parte aérea durante a
PERENES estação seca e permanecem vivas através de estruturas subterrâ-
neas como bulbos, rizomas e xilopódios. Quando chega a estação
chuvosa, o xilopódio rebrota e a planta recomeça o ciclo.
O hábito das plantas está relacionado com seu porte ou aparência e também
com a estrutura do corpo. As plantas são classificadas da seguinte forma, segundo
o seu hábito (GONÇALVES; LORENZI, 2007):
capítulo 5 • 128
ERVAS Plantas de pequeno porte, que não possuem lenhosidade.
Morfologia da raiz
A raiz é o órgão pelo qual as plantas absorvem água e minerais do solo. Também
é da raiz a função de fixação das plantas no substrato (GONÇALVES; LORENZI,
2007; SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013). Além destas funções, as raízes também
podem ser responsáveis pela reserva de água, armazenamento de alimentos, como
amido (SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013). Em geral, reconhecemos as raízes
como um órgão subterrâneo, por apresentarem geotropismo positivo, mas muitas
raízes são aéreas, além de serem aclorofiladas (GONÇALVES; LORENZI, 2007).
Todas as raízes apresentam uma estrutura morfológica básica, com o corpo
não segmentado, pela qual pode ser reconhecida (figura 5.1).
capítulo 5 • 129
Figura 5.1 – Estrutura básica de uma raiz. A- esquema; B- raiz de aguapé (Eichhornia sp.).
Autoras da foto: Regina Moura e João Carlos.
capítulo 5 • 130
uma camada protetora contra o atrito para o meristema apical de raiz (SOUZA;
FLORES; LORENZI, 2013).
Através da aparência geral do sistema radicular principal da raiz, é possível
distinguir entre as Eudicotiledôneas e as Monocotiledôneas. Assim, o sistema ra-
dicular pode ser classificado em pivotante ou fasciculado. O sistema pivotante
(figura 5.2A) é aquele que teve origem a partir da radícula embrionária, e per-
manece em desenvolvimento ao longo da vida da planta. Este desenvolvimento
proporciona uma raiz com um eixo principal mais longo e mais espesso do que
as raízes laterais, tomando uma forma axial (GONÇALVES; LORENZI, 2007;
SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013; RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014);
é o sistema radicular das Eudicotiledôneas (VIDAL; VIDAL, 2004).
O sistema fasciculado é formado por raízes não embrionárias, mas de raí-
zes adventícias que se originam na base do caulículo e que também se ramifi-
cam (GONÇALVES; LORENZI, 2007; SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013;
RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014). Deste modo, não há desenvolvimento de
um eixo principal, tomando a forma fasciculada ou em cabeleira (figura 5.2B); é
o sistema radicular característico das Monocotiledôneas (VIDAL; VIDAL, 2004).
capítulo 5 • 131
As raízes podem ser classificadas quanto ao ambiente em que se desenvolvem
como (VIDAL; VIDAL, 2004):
Anatomia da raiz
capítulo 5 • 132
corpo primário da raiz é revestido por uma epiderme uniestratificada. Apenas nas
raízes assimiladoras, ou fotossintetizantes, a epiderme é pluriestratificada, deno-
minada velame (CUTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007).
Abaixo da epiderme, observa-se o córtex, constituído exclusivamente de pa-
rênquima, região mais ampla do corpo primário da raiz. Suas células são aclorofi-
ladas, mas contêm grande quantidade de amiloplastos. O córtex apresenta células
interconectadas por plasmodesmos, bem como espaços intercelulares, por onde a
água e minerais fluem em direção ao cilindro vascular, pelas vias simplástica e apo-
plástica, respectivamente (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014). Algumas es-
pécies, especialmente as Monocotiledôneas (CUTLER; BOTHA; STEVENSON,
2007), apresentam uma região externa do córtex diferenciada, com uma ou duas
camadas de células com espessamento suberizado da parede celular, denominada
exoderme (APPEZZATO-DA-GLORIA; HAYASHI, 2006). A exoderme tem a
função de redução da perda de água pela raiz e proteção contra os ataques de mi-
crorganismos (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Na região mais interna do córtex, uma ou duas camadas de células arranjam-
se de forma compacta e apresentam espessamento suberizado da parede primária,
muitas vezes lignificado também. Este espessamento é denominado estria ou ban-
da de Caspary, que força a passagem da água para o cilindro vascular apenas pela
via simplástica (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
Plantas de ambiente aquático ou de lugares alagados apresentam aerênquima
no córtex, enquanto as raízes de plantas de locais secos, mas com boa umidade têm
o córtex compacto, como em ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha). A presença
e a distribuição de esclereídes, fibras, idioblastos contendo tanino, mucilagem e
cristais encontrados entre as células do parênquima cortical em várias famílias
botânicas pode ter importância na distinção entre espécies (CUTLER; BOTHA;
STEVENSON, 2007).
O cilindro vascular é delimitado pelo periciclo, constituído de uma ou duas
camadas de células parenquimáticas, originárias do procâmbio. O periciclo terá
função importante durante o crescimento secundário, originando câmbio vascular
nas regiões opostas aos raios de protoxilema e, em algumas raízes, o felogênio. Na
zona tuberosa, o periciclo é responsável pela origem das ramificações das raízes
(APPEZZATO-DA-GLORIA; HAYASHI, 2006).
Os tecidos vasculares, xilema e floema, apresentam uma organização bem carac-
terística no cilindro vascular das raízes. Nas raízes pivotantes das Eudicotiledôneas,
o xilema forma 2, 3, 4 ou mais raios de protoxilema projetados em direção ao peri-
ciclo, enquanto o metaxilema preenche toda a região central do cilindro vascular.
capítulo 5 • 133
Nas raízes adventícias das Monocotiledôneas, a região central é preenchida por
medula parenquimática, de onde partem vários raios de metaxilema, terminan-
do com protoxilema projetando-se também em direção ao periciclo. Intercalados
com os raios de protoxilema, estão alojados os cordões de floema. Entre o floema
e os raios de xilema o procâmbio permanece produzindo células para os tecidos
vasculares (RAVEN; EICHHORN; EVERT, 2014).
CONEXÃO
Para visualização dos detalhes da anatomia do corpo primário da raiz, consultar o Álbum
didático de anatomia vegetal, disponível em: <http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamen-
tos/Botanica/album_didatico_de_anatomia_vegetal.pdf>.
capítulo 5 • 134
CONEXÃO
Para visualização dos detalhes da anatomia do corpo secundário da raiz, consultar o
Álbum didático de anatomia vegetal, disponível em: <http://www.ibb.unesp.br/Home/Depar-
tamentos/Botanica/album_didatico_de_anatomia_vegetal.pdf>.
REFLEXÃO
Embora apresente pouca complexidade e diversificação na sua morfologia e na sua ana-
tomia, é importante saber reconhecer fragmentos de raízes pelas suas características tanto
da morfologia externa, quanto da anatomia, para se evitar adulterações em drogas vegetais.
A análise da anatomia radicular é capaz de fornecer dados sobre o grupo taxonômico, bem
como o estágio de desenvolvimento da planta.
ATIVIDADE
01. Sabe-se que as raízes principais da ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha) são muito uti-
lizadas para o tratamento da tosse em populações tradicionais, razão pela qual houve drástica
redução do número de indivíduos na natureza. Esta planta é um arbusto de Eudicotiledônea,
que vive em matas da região Sudeste do Brasil. Aponte características que deverão ser en-
contradas nas raízes de ipecacuanha, que possam auxiliar na sua autenticação.
Morfologia do caule
capítulo 5 • 135
Figura 5.3 – Ramo vegetativo de pimenteira. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 5 • 136
Classificação do caule quanto à ramificação
Caules aéreos
capítulo 5 • 137
Desenvolvem-se perpendicularmente à superfície do solo. Ex.:
palmeira, boldo, espinheira santa. São tipos de caules eretos
(VIDAL;VIDAL, 2004; SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013):
haste – é um caule, pouco resistente, encontrado no estágio
inicial do desenvolvimento de qualquer vegetal e também em
plantas anuais herbáceas. Ex.: erva de santa Maria; camomila,
arnica montana.
estipe – é um caule lenhoso, resistente, normalmente cilíndri-
co, mais frequentemente não ramificado, mas também ocor-
re em espécies ramificadas. É facilmente reconhecido por
apresentar nós e entrenós bem marcados e evidentes através
das cicatrizes foliares. Outra característica é a concentração
ERETOS OU das folhas nos ápices dos caules. Ex.: palmeira, mamoeiro,
ERGUIDOS imbaúba.
colmo – É um tipo de caule que também apresenta os nós e
os entrenós bem visíveis, pouco ramificado e pouco flexível,
mesmo quando espesso. Os entrenós podem ser ocos (de-
nominados colmo oco ou fistuloso) ou maciços (denominados
colmos cheios). Ex.: cana de açúcar (colmo cheio); bambu (col-
mo fistuloso).
tronco – É um caule bastante robusto, resistente e rígido, en-
contrado em árvores e arbustos. Ex.: espinheira santa, pata de
vaca, ipê roxo.
escapo – é um caule reprodutivo, que emerge de caules sub-
terrâneos ou reduzidos. Ex.: palma de santa Rita.
Um outro tipo de caule trepador, que não tem uma denominação própria é
o caule que se apoia na planta suporte através das raízes grampiformes. Ex.: hera,
jibóia.
capítulo 5 • 138
desenvolvem-se sobre a superfície do solo. Podem apresentar ou
não raízes adventícias de pontos em pontos.
estolões – São caules que apresentam uma projeção lateral lon-
ga sem ramificação que toca o solo num ponto distante e emite
uma roseta de folhas e raízes adventícias, ocasionando uma pro-
RASTEJANTES pagação vegetativa. Ex.: morangueiro, grama.
Sarmentosos – São caules rastejantes que apresentam gavi-
nhas. Esta terminologia é a mesma para caules trepadores. A
diferença estará no tipo de desenvolvimento que a planta terá.
Ex.: abóbora, melancia
Caules subterrâneos
capítulo 5 • 139
Especializações dos caules
Anatomia do caule
A anatomia caulinar deve ser estudada em duas etapas, já que o caule apre-
senta crescimento primário e secundário. Em geral, a anatomia caulinar pode ser
estudada em três regiões distintas do caule: ápice, nó e entrenó. Os estudos anatô-
micos da região apical do caule são realizados para observação e acompanhamento
da ontogenia, formação e caracterização dos meristemas e tecidos primários. Na
região do nó observa-se anatomicamente a migração de tecidos vasculares do caule
para as folhas. Na região do entrenó é possível observar a distribuição organizada
de todos os tecidos que o constituem, tanto no corpo primário, como no corpo
secundário. Desta forma, daqui em diante, trataremos apenas da caracterização da
anatomia da região do entrenó.
capítulo 5 • 140
Qualquer caule primário terá estes mesmos sistemas de tecidos, entretanto, a
sua organização geral vai variar, dependendo da classe taxonômica do vegetal: se
Monocotiledônea ou se Eudicotiledônea. A seguir serão caracterizados os tecidos
do caule primário, e quando houver diferença significativa entre as classes taxonô-
micas, será observado, já que estes elementos são importantes para um eficiente
controle de qualidade de plantas medicinais.
Epiderme
Tecidos fundamentais
capítulo 5 • 141
As Eudicotiledôneas apresentam um cilindro vascular com organização eus-
télica, isto é, os feixes vasculares estão organizados lado a lado, próximos ou afas-
tados entre si, formando um cilindro. Desta forma, limitam claramente a medula
parenquimática, que possui células bem maiores do que as células do córtex. A
região parenquimática entre os feixes vasculares é denominada região interfasci-
cular, e terá importância na origem de câmbio vascular durante o início do cres-
cimento secundário das Eudicotiledôneas. A medula também poderá estar ausen-
te, em caules ocos ou fistulosos das Eudicotiledôneas (SAJO; CASTRO, 2006;
CUTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007).
Tecidos vasculares
capítulo 5 • 142
do procâmbio dos feixes vasculares e da bainha amilífera da região interfascicular
(SAJO; CASTRO, 2006).
Nas Monocotildôneas, não há formação de um câmbio vascular, razão
pela qual diz-se que não há um crescimento secundário verdadeiro (RAVEN;
EICHHORN; EVERT, 2014), mas forma-se um meristema de espessamento
secundário, que produzirá parênquima para a região cortical e parênquima e fei-
xes vasculares para o cilindro vascular. Desta forma, o espessamento se dará por
acréscimo de tecidos primários (SAJO; CASTRO, 2006; CUTLER; BOTHA;
STEVENSON, 2007).
Tanto nas Monocotiledoneas, quanto nas Eudicotiledôneas, o reves-
timento do corpo secundário é uma periderme, que pode ser espessa ou fina.
Nas Eudicotiledôneas, como os eucaliptos, pode haver a formação de ritidoma
(CUTTER, 2002).
A periderme vai constituir a casca, estrutura muito usada na medicina popular
(ALMEIDA, 2011). A casca é constituída por todos os tecidos externos ao câmbio
vascular das Eudicotiledôneas (CUTTER, 2002). Na unha de gato (Uncaria to-
mentosa), por exemplo, o princípio ativo está no floema secundário funcional ou
entrecasca (GATTUSO et al., 2004).
O xilema secundário, também denominado lenho, é produzido para a par-
te interna do câmbio vascular. Conforme a planta vai envelhecendo e que o es-
pessamento vai aumentando, o lenho vai preenchendo todo o cilindro vascular.
Através da produção das camadas de xilema secundário, é possível observar-se os
anéis de crescimento, tanto em plantas de ambientes temperados, quanto tropicais
(CUTTER, 2002).
REFLEXÃO
O caule é um órgão da planta que pode ser usado na medicina popular através de suas
cascas, ou em conjunto com outros órgãos aéreos (ALMEIDA, 2011). A anatomia caulinar
pode contribuir para o controle de qualidade de drogas vegetais, seja na distinção entre cau-
les primários e secundários; de Monocotiledôneas e de Eudicotiledôneas; seja na distinção
entre caules e raízes.
capítulo 5 • 143
ATIVIDADE
02. O bambu é uma Monocotiledônea que tem o caule fistuloso. Faça um desenho esque-
mático do corte transversal do entrenó de um bambu, numa região de corpo primário.
Figura 5.4 – Partes constituintes das folhas. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 5 • 144
Figura 5.5 – Tipos de folhas quanto às partes constituintes. A- peciolada; B- invaginante;
C- séssil. Autora das fotos: Regina Moura.
Por ser uma estrutura laminar, o limbo tem duas faces: uma superior, também
denominada adaxial ou ventral e outra inferior, também denominada abaxial ou
dorsal. Sua forma pode variar enormemente entre os táxons, mas é uma caracte-
rística determinada geneticamente. Além disso, apresenta uma margem ou bordo,
que também pode variar enormemente entre os grupos taxonômicos, assim como
a base e o ápice (figura 5.6).
capítulo 5 • 145
O padrão como as nervuras se distribuem no limbo foliar, denominado ner-
vação ou venação, também merece uma classificação própria e podem ser caráter
distintivo entre grupos taxonômicos. Diferentes autores apresentam nomenclatu-
ra para caracterização dos tipos de forma de limbo, ápice, base, bordo e nervação
foliar (RADFORD, 1986; RIZZINI, 1977; VIDAL;VIDAL, 2004; SOUZA;
FLORES; LORENZI, 2013). Qualquer um destes pode ser consultado, pois os
tipos são variados. Serão apresentados a seguir os tipos mais comuns para cada
parte de classificação do limbo, baseado em Souza; Flores; Lorenzi (2013).
Formas de limbo – classifica-se a partir da observação da região mais alargada
da folha.
• Folhas mais largas próximo à base
o Lanceoladas – pouco alargadas, como as folhas do eucalipto
(figura 5.7A)
o Ovais ou ovadas – muito alargadas, como o manjericão
(figura 5.7B)
Figura 5.7 – Folhas largas na base: A- lanceolada; B-ovada Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 5 • 146
• Folhas largas próximo ao meio, com as margens arredondadas.
o Elípticas – mais estreitas, como as do café ou da canela
(figura 5.9)
capítulo 5 • 147
Figura 5.11 – Bordo crenado (bd) de boldo brasileiro. Autores da foto: Elder Ferreira;
Regina Moura.
Figura 5.12 – Nervação foliar: A- paralelinérvea; B- reticulada. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 5 • 148
O limbo foliar tem ainda uma classificação quanto à sua divisão. Ele pode ser
inteiro, mesmo sendo lobado, formando uma lâmina única, ou pode ser dividido
em subunidades. Quanto à subdivisão do limbo, a folha pode ser classificada em:
• Simples: quando o limbo é inteiro, mesmo que lobado (figura 5.13)
Figura 5.13 – Folhas simples. A- inteira; B- lobada. Autora das fotos: Regina Moura.
capítulo 5 • 149
Figura 5.15 – Folha recomposta. Autora da
foto: Regina Moura.
Figura 5.16 – Filotaxia alterna. A- dística; B- espiralada; C-rosulada. Autora das fotos:
Regina Moura.
capítulo 5 • 150
Figura 5.17 – Filotaxia oposta. A- dística; B- cruzada. Autora da foto: Regina Moura.
Anatomia foliar
capítulo 5 • 151
vasculares. As características destes tecidos e a forma como estarão organizados de-
penderão das condições impostas pelo ambiente (CUTTER, 2002; MENEZES;
SILVA; PINNA, 2006; CUTTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007). A seguir
serão detalhadas as características de cada tecido foliar.
Epiderme
capítulo 5 • 152
• Anfiestomáticas - Folhas que apresentam estômatos em ambas as faces.
Ex.: folhas de boldo brasileiro (figura 5.20).
Figura 5.20 – Estômatos das faces abaxial (A) e adaxial (B) das folhas de boldo brasileiro.
As setas brancas apontam as paredes celulares com contornos diferentes nas duas faces.
Autores das fotos: Elder Ferreira e Regina Moura.
capítulo 5 • 153
O mesofilo pode ser um elemento diagnóstico na distinção entre folhas de
Eudicotiledôneas e de Monocotiledôneas (CUTTLER; BOTHA; STEVENSON,
2007). De um modo geral, as Eudicotiledôneas têm um mesofilo diferenciado
em parênquima paliçádico e parênquima lacunoso ou esponjoso. O parênquima
paliçádico caracteriza-se por ter células longas, observadas em corte transversal do
mesofilo, com poucos espaços intercelulares. O parênquima lacunoso ou espon-
joso tem células de formas e tamanhos variados, caracterizando-se por apresen-
tar numerosos espaços intercelulares (MENEZES; SILVA; PINNA, 2006). Nas
folhas de Monocotiledôneas o mesofilo também pode estar diferenciado entre
dois tipos de células, mas com o paliçádico ausente. É comum o mesofilo de
Monocotiledôneas apresentar o mesmo tipo de células. Tanto entre as células que
compõem o paliçádico, quanto o lacunoso há diferentes tipos celulares, como as
células plicadas do paliçádico lobado e as células braciformes do parênquima es-
ponjoso (CUTTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007).
Desta forma, o mesofilo pode ser classificado, segundo o tipo de células fotos-
sintetizantes que o constituem (MENEZES; SILVA; PINNA, 2006):
• Homogêneo - Quando o mesofilo é formado por um só tipo de células.
Ex.: Pinus sp. (Ilustração pode ser vista no Álbum didático de Anatomia Vegetal,
figura 212, disponível em <http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/
Botanica/album_didatico_de_anatomia_vegetal.pdf>).
• Dorsiventral ou bifacial - Quando o mesofilo é formado por uma região de
parênquima paliçádico voltada para a face adaxial, e uma região de parênquima espon-
joso, voltada para a face abaxial. Ex.: erva baleeira (Cordia curassavica) (figura 5.21).
capítulo 5 • 154
• Isobilateral ou isolateral - Quando o parênquima paliçádico está pre-
sente abaixo da epiderme nas duas faces da folha. Ex.: Yuca sp. (Ilustração pode
ser vista no Álbum didático de anatomia vegetal, figura 188, disponível em:
<http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Botanica/album_didatico_de_
anatomia_vegetal.pdf>)
Tecidos vasculares
capítulo 5 • 155
camadas de hipoderme, por exemplo, e não pelo surgimento de um novo tecido
(CUTTLER; BOTHA; STEVENSON, 2007).
Por outro lado, é possível se diagnosticar o tipo de ambiente originário de
uma determinada espécie pela estrutura e organização dos tecidos de suas folhas.
Abaixo são apresentadas características gerais da anatomia foliar, de acordo com o
ambiente (MENEZES; SILVA; PINNA, 2006).
As plantas apresentam adaptações de acordo com as suas necessidades de água
e assim, são classificadas em: xerófitas (estão adaptadas a longos períodos de estia-
gem, ambiente seco, árido); mesófitas (adaptadas para ambiente úmido, tanto no
solo, quanto no ar) e hidrófitas (adaptadas para um ambiente aquático ou enchar-
cado) (MENEZES; SILVA; PINNA, 2006).
capítulo 5 • 156
REFLEXÃO
As folhas são o principal órgão vegetal usado como recurso terapêutico. Ao mesmo
tempo, é o órgão que apresenta enorme plasticidade fenotípica, variando conforme as pres-
sões ambientais. O domínio do conhecimento sobre as características das folhas associadas
às condições do ambiente onde a planta vive pode auxiliar no controle de qualidade deste
tipo de material vegetal medicinal. Embora apresentem grande diversidade e plasticidade, as
folhas possuem em sua morfologia e anatomia características geneticamente determinadas
que são importantes na diagnose e distinção entre táxons.
ATIVIDADE
03. Leia o artigo “O abajurú (Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia Casar.) comer-
cializado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil”, de Silva; Peixoto (2009) e descreva duas
características relacionadas às folhas do abajurú que servem de diagnose para um eficiente
controle de qualidade.
CONEXÃO
Imagens da anatomia foliar podem ser observadas no Álbum de anatomia vegetal, dispo-
nível em: <http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Botanica/album_didatico_de_
anatomia_vegetal.pdf>
capítulo 5 • 157
verticilos protetores e reprodutores não é simples, mas é fundamental para determi-
nação de táxons através de chaves de identificação (SOUZA; LORENZI, 2007).
Uma flor, em sua estrutura básica apresenta verticilos protetores e reproduto-
res inseridos em uma base caulinar denominada receptáculo (figura 5.22).
Cálice
Verticilos protetores Corola
Bráctea Androceu
Gineceu
Androceu Corola
Verticilos reprodutores Cálice
Gineceu Receptáculo
Pedúnculo
Figura 5.22 – Esquema básico de uma flor. Autora da ilustração: Regina Moura.
Figura 5.23 – Flores simétricas. A-zigomorfa; B- actinomorfa. Autora da foto: Regina Moura.
capítulo 5 • 158
Verticilos protetores: classificação das flores
Anteras
Estilete
Conectivo
Filete Placenta
Óvulos
Ovário
A B
capítulo 5 • 159
A diversidade de combinações entre as características dos estames e dos pistilos
origina a classificação quanto aos verticilos reprodutores (VIDAL;VIDAL, 2004;
SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013).
• Bissexuadas ou andróginas - Apresentam androceu e gineceu simultaneamente
• Unissexuadas - Apresentam apenas um dos verticilos reprodutores: so-
mente o feminino (flores pistiladas ou carpeladas) ou somente o masculino (flo-
res estaminadas).
• Quanto ao androceu - A classificação quanto ao androceu é bastante diver-
sificada e leva em consideração: número de estames em relação às pétalas, tamanho
dos estames, fusão dos estames, presença de filete, soldadura do filete às anteras,
forma de abertura das anteras. Para aprofundamento sobre os termos usados nesta
classificação, consultar Souza; Flores; Lorenzi (2013).
• Quanto ao gineceu - Considera muitos aspectos de cada componente do
aparato feminino de reprodução. O gineceu é uma característica importante para
auxiliar na identificação taxonômica. A posição como ele está inserido no receptá-
culo, número e fusão de carpelos, número de lóculos (cavidades) do ovário, posi-
ção da placenta, número de óvulos, são características que resultam em diferentes
classificações. Para aprofundamento sobre os termos usados nesta classificação,
consultar Souza; Flores; Lorenzi (2013).
capítulo 5 • 160
Inflorescências
capítulo 5 • 161
CONEXÃO
Imagens da morfologia e classificação das flores podem ser obtidas em Vidal; Vidal
(2004) e da anatomia floral podem ser observadas no Álbum de anatomia vegetal, dispo-
nível em: http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Botanica/album_didatico_de_
anatomia_vegetal.pdf
capítulo 5 • 162
aurantium) é empregado na produção de anorexígenos, pela presença de substân-
cia anorexígena (AREAS; MOURA, 2012).
Os frutos são classificados considerando-se diferentes aspectos de sua constitui-
ção e formação (VIDAL; VIDAL, 2004; SOUZA; FLORES; LORENZI, 2013).
• De acordo com a quantidade de sementes, os frutos são classificados em:
monospérmicos (uma semente), como o abacate; dispérmicos (duas sementes),
como o café; trispérmico (três sementes), como a seringueira e polispérmico (mais
de três sementes), como o tomate, o mamão, o limão. Os frutos partenocárpicos
não possuem sementes.
• Os frutos são classificados quanto á sua consistência. Se forem suculentos,
são classificados como carnosos, como a manga; quando não possuem suculência
ou pouca umidade, são denominados secos, como a noz.
• A classificação quanto à deiscência, considera a abertura espontânea dos
frutos para exposição das sementes. Assim, frutos que se abrem espontaneamente
são classificados como deiscentes, como o melão de são Caetano; quando não se
abrem para exposição das sementes, são classificados como indeiscentes, como
a melancia.
• A classificação quanto a composição do fruto leva em consideração núme-
ro e fusão de carpelos e associação de outras partes florais na formação do fruto.
Assim, frutos simples são aqueles formados por um ovário de uma só flor (Ex.:
jiló, quiabo, laranja). Os frutos múltiplos ou agregados são formados pelos ová-
rios (carpelos livres) de uma só flor (Ex.: framboesa, fruta de conde). Os frutos
complexos ou infrutescências são frutos formados pelos ovários de várias flores de
uma inflorescência, que se fundem (Ex.: abacaxi, amora). Os frutos complexos ou
pseudofrutos são formados pela hipertrofia de partes da flor, além do ovário (Ex.:
morango, maçã).
capítulo 5 • 163
longo do desenvolvimento do fruto. Assim, um fruto carnoso como o pêssego,
desenvolverá um epicarpo epidérmico fino, enquanto o endocarpo será formado
por células de paredes espessas e esclerificadas (RUDALL, 2007). Paralelamente
ao desenvolvimento do pericarpo, as sementes também vão se desenvolvendo. As
regiões carnosas e suculentas são formadas por tecido parenquimático (SOUZA;
MOSCHETA; MOURÃO, 2006).
CONEXÃO
Imagens da morfologia e classificação dos frutos podem ser observadas em Vidal; Vidal
(2004) e da anatomia dos frutos podem ser observadas no Álbum de anatomia vegetal,
disponível em: <http://www.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Botanica/album_didati-
co_de_anatomia_vegetal.pdf>.
Tegumento Testa
ou casca Tegmen ou tegma
Radícula
Semente Caulículo
Embrião Gêmula
Cotilédones
Amêndoa
Albume ou
Reserva endosperma ou
perisperma
capítulo 5 • 164
As sementes são classificadas de acordo com a constituição do tegumento:
bitegumentadas possuem um tegumento formado por testa (externa) e tegma (in-
terna) (Ex.: sementes de Angiospermas); unitegumentadas possuem tegumento
simples (Ex.: sementes de Gimnospermas). As Loranthaceae possuem sementes
ategumentadas, com a amêndoa protegida pelo pericarpo. Algumas sementes po-
dem apresentar um tegumento suplementar que podem ser diagnósticos, como
arilo, ariloide ou carúncula (VIDAL; VIDAL, 2004).
As sementes podem apresentar diferentes tipos de reserva: albume ou endos-
perma secundário é triploide, formado pela dupla fecundação; perisperma ori-
ginado durante a formação do albume; endosperma primário tecido de reserva
formado antes da fecundação. Quanto à presença de albume, a semente pode
ser classificada em albuminada (quando possui tecido de reserva); exalbuminada
(quando não possui tecido de reserva) (VIDAL; VIDAL, 2004).
O embrião perfeito é formado por uma radícula (raiz rudimentar), gêmula
ou plúmula (primórdios foliares), cotilédones (primeiras folhas das plantas com
flores) e caulículo (região caulinar).
Anatomia da semente
REFLEXÃO
Os órgãos reprodutivos são bastante complexos na sua estrutura e formação. As flo-
res e, em alguns casos, os frutos, possibilitam a identificação de espécies vegetais, funda-
mental em qualquer estudo ou trabalho com plantas medicinais. Embora haja uma comple-
xidade enorme, grupos taxonômicos podem ser reconhecidos na natureza, ou mesmo em
controle de qualidade por características simples das flores, como a organização trímera
das Monocotiledôneas.
capítulo 5 • 165
Os estudos anatômicos dos órgãos reprodutivos estão mais voltados para sua ontogenia
e desenvolvimento, mais do que descrição de tecidos e características anatômicas que pos-
sam auxiliar no controle de qualidade.
ATIVIDADE
04. Separe em sua fruteira 3 ou 4 frutos e o mesmo em sua geladeira. Use todos os critérios
de classificação do quadro a seguir para cada um e depois compare entre eles.
CLASSIFICAÇÃO
FRUTO Nº DE CONSISTÊNCIA TIPO DE Nº DE
SEMENTES DO PERICARPO FRUTO CARPELOS
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ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 168