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TRABALHO DO FILME “CURTINDO A VIDA ADOIDADO”

Equipe: Fulano 1
Fulano 2
Fulano 3

INTRODUÇÃO

O presente trabalho irá tratar a respeito da temática comportamental dos


personagens contidos no filme “Curtindo a Vida Adoidado. Este filme retrata o
comportamento de seus personagens em um dia, explicitando a notável diferença
comportamental dos personagens.
O protagonista, sendo um jovem de 17 anos, possui características ímpares,
em relação à sua própria irmã, e seu melhor amigo, não demonstrando
responsabilidade e conseguindo sempre “se dar bem”. O percurso metodológico para
elaboração do trabalho utilizou o método da pesquisa bibliográfica, sendo esta
elaborada a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas
por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.
Portanto, este trabalho utilizou a revisão bibliográfica com exclusividade em sua
metodologia, abordando o tema sobre a Análise Comportamental, conceitos utilizados
na Psicologia como causalidade do comportamento e Behaviorismo Radical.

O FILME “CURTINDO A VIDA ADOIDADO”

O filme é do gênero Comédia Dramática dirigido por John Hughes, no ano de


1986. Expõe a vida de Ferris Bueller, um adolescente de 17 anos que não transmite
seriedade nem responsabilidade. É um rapaz mimado por seus pais que mente que
está doente para não ir à escola e sair, pois quer “curtir” a vida e não “perder tempo
estudando”.
Ferris Bueller tem uma irmã mais velha, Jeanie, que não possui as mesmas
regalias que ele, e, portanto, mostra-se revoltada com a situação, uma vez que
conhece bem as artimanhas de Ferris que apronta todas e nunca é pego.
O diretor da escola (Ed Rooney) também já percebeu boa parte das
malandragens elaboradas por Ferris Bueller, porém nunca conseguiu provar, pois o
filme dá o entendimento de que o rapaz sempre consegue se safar dos flagrantes.
Ferris Bueller também tem um amigo confidente, chamado Cameron, que
apresenta um comportamento bem diferente dele, sendo mais reservado, tímido e
manipulável do que Ferris. Cameron é um rapaz inseguro e distante de seus pais, não
tem namorada e sempre é manipulado psicologicamente por Ferris, e ele sente que
depende de Ferris, pois este é alguém mais forte que ele.
Outra personagem é a namorada de Ferris Bueller (Sloane) que se apresenta
como uma moça “dentro da normalidade” no filma, pois não expõe nenhum diferencial
ou personalidade dominante ou subalterna.
O enredo gira em torno do protagonista Ferris Bueller que, como se pode
compreender, falta mais um dia (de muitos) à aula, e mente para os seus pais que
está doente e vai ficar em casa descansando. Sua irmã Jeanie tenta impedir alertando
seus pais, mas é em vão, eles acreditam em Ferris, e o deixam em casa para irem
trabalhar e sua irmã vai à escola. Na escola o diretor desconfia de mais uma falta e
vai no decorrer do filme tentar desvendar as mentiras de Ferris Bueller.
Enquanto isso Ferris sai de casa, com sua namorada Sloane, e seu melhor
amigo Cameron, para “curtir a vida”, comendo em restaurante caros (se passando por
outra pessoa), desfrutando de lugares, piscinas, etc. com mentiras e malandragens,
se divertindo, e a seu ver, sendo feliz, pois a vida passa rápido.
O clímax da história acontece já no final, quando por muito pouco Ferris Bueller
não é pego chegando à sua casa por seus pais, e ainda recebeu ajuda de sua irmã,
que “aprendeu” a conviver com ele.

A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO FILME “CURTINDO A VIDA ADOIDADO”

“Curtindo a Vida Adoidado”, além de ser um filme que marcou uma geração,
apresenta personagens com personalidades bastante diferentes, o que o torna um
ótimo pano de fundo para se discutir um dos mais importantes e controversos
conceitos utilizados na Psicologia: causalidade do comportamento. (MOREIRA, 2007,
p. 02). A análise deste filme será pautada no Behaviorismo Radical, proposto por
Skinner e algumas considerações e conceitos referentes à psicologia. Skinner
conceitua Behaviorismo Radical:

O Behaviorismo Radical não nega a possibilidade da auto-observação


ou do autoconhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a
natureza daquilo que é sentido ou observado e, portanto, conhecido
(...). Restaura a introspecção, mas não aquilo que os filósofos e os
psicólogos introspectivos acreditavam "esperar", e suscita o problema
de quanto de nosso corpo podemos realmente observar. (...). O
behaviorismo radical restabelece um certo tipo de equilíbrio. Não
insiste na verdade por consenso e pode, por isso, considerar os
acontecimentos ocorridos no mundo privado dentro da pele (...). Um
organismo comporta-se de determinada maneira devido à sua
estrutura atual, mas a maior parte disso está fora do alcance da
introspecção. (SKINNER, 1974, p. 18-20).

Zilio (2010, p. 60) afirma que o behaviorismo radical é uma filosofia da ciência
cujo foco de análise é o objeto de estudo e os métodos da psicologia e, para Skinner,
o objeto de análise da psicologia é o comportamento e os métodos adequados para o
seu estudo são os apresentados pelo behaviorismo radical. Assim, a psicologia seria
a “ciência do comportamento” – uma ciência que pode ser enquadrada no âmbito das
ciências naturais.
Tendo em vista as definições dos autores, entende-se que o Behaviorismo
Radical explica um comportamento, buscando suas consequências, pois uma pessoa
reage de determinada maneira devido às consequências (alterações no ambiente)
desse comportamento que serão responsáveis pelas ocorrências do mesmo.
Diversas abordagens psicológicas e escolas filosóficas fazem distinções,
muitas vezes confusas, entre comportamento e “coisas” como emoções, sentimentos,
pensamentos e processos cognitivos, entre dezenas de outras “coisas” desse tipo.
Para o behaviorista, tudo isso é comportamento (SKINNER, 2003, p. 178).
O autor também relata que o ambiente afeta o organismo de várias maneiras
que não podem ser convenientemente classificadas como “estímulos” e, mesmo no
campo da estimulação, apenas uma parte das forças que agem sobre o organismo
eliciam respostas no modo invariável da ação reflexa. Ignorar inteiramente o princípio
do reflexo, entretanto, seria igualmente desarrazoado. (SKINNER, 2003, p. 54).
No contexto da definição de Skinner (1938/1966 apud Zilio, 2010, p.66), o
mundo externo é o ambiente, ou seja, o que não é a própria ação. É pertinente
ressaltar que o ambiente, ou o mundo externo, não é o oposto, o que está fora da
pele, enfim, não é o que circunda o organismo. O termo “externo” apenas indica que
o ambiente é externo à ação. Em suma, o ambiente é qualquer evento que afete o
organismo, podendo ser tanto os estímulos eliciadores ou discriminativos quanto os
eventos consequentes da ação. (ZILIO, 2010, p. 69).
A análise do comportamento, como toda e qualquer ciência natural, não se
propõe a “inventar” novos princípios. Sua tarefa é descrever regularidades existentes
no mundo (e que provavelmente existem desde que o mundo é mundo),
especificamente nas interações comportamento- ambiente, formulando leis científicas
que nos ajudem a entender melhor o mundo, prever certos eventos e alterar a
probabilidade de ocorrência de alguns deles. (TODOROV E MOREIRA, 2009, p. 409).
A respeito das diferenças muito grandes no comportamento dos personagens
do filme:
Numa análise behaviorista, conhecer outra pessoa é simplesmente
conhecer o que ela faz, fez ou fará, bem como a dotação genética e
os ambientes passados e presentes que explicam por que ela o faz.
(...); isso não significa, porém, que aquilo que permanece
desconhecido seja de natureza diferente. (SKINNER, 1974, p. 152).

Portanto, entende-se que não é porque uma pessoa apresenta um


comportamento diferenciado, que ela “é” alguém “diferente”, pois o que pode
determinar os comportamentos dessa pessoa é em parte o conhecimento adquirido e
os ambientes (internos e externos) do passado e presente desta pessoa, não devendo
ser taxada ou rotulada desta ou daquela forma, levando em consideração apenas o
momento, esse tipo de “taxação” são mentalismos.
Skinner (1974, p. 17) relata que as explicações mentalistas acalmam a
curiosidade e paralisam a pesquisa. É tão fácil observar sentimentos e estados
mentais, num momento e num lugar, que fazem parecer sejam elas as causas, que
não nos sentimos inclinados a prosseguir na investigação. Uma vez, porém, que se
começa a estudar o ambiente, sua importância não pode mais ser negada.
Moreira (2007, p. 17) discute que várias abordagens psicológicas explicariam
as diferenças entre os personagens do filme, e “também poderiam ser usados como
explicações processos psicológicos diferentes resultantes de diferentes estruturações
das personalidades dos personagens”, apresentando que há basicamente, dois
caminhos: “filho de peixe, peixinho é” (hereditariedade); ou “me diga com quem tu
andas que ti direi quem tu és” (aprendizagem a partir de interações), onde,
fundamentando-se no behaviorismo, descarta o primeiro caminho, relatando que o
segundo caminho, o da aprendizagem, é quase sempre a melhor opção (sobretudo
para psicólogos). O autor descreve:

Nesse ponto, a principal diferença entre a Análise do Comportamento


e as demais abordagens psicológicas reside no seguinte fato: para as
demais abordagens, as interações de uma pessoa com seu mundo
determinam sua personalidade (...), e sua personalidade determina
seu comportamento; em Análise do Comportamento, como a estrutura
da personalidade só pode ser inferida a partir da história de interações
do indivíduo ou a partir do próprio comportamento do indivíduo,
considera-se desnecessário inferir a existência de estruturas ou
processos psíquicos para explicar o comportamento.

Portanto, para compreendermos o motivo de Ferris, Cameron e Jeanie serem


pessoas com personalidades tão diferentes, deve-se olhar para suas relações
passadas e presentes, com o mundo à sua volta.
Este autor relata ainda que apesar de o filme abordar apenas um dia da vida
dos personagens, a análise funcional pode ser feita, pois geralmente o fazemos
analisando as condições atuais, presentes. Desta forma, sabendo por que o
comportamento ocorre hoje, podemos formular hipóteses de como se desenvolveu
este comportamento, e também afirmar que o comportamento não mudará no futuro
se as circunstâncias permanecerem inalteradas.
No caso da diferença comportamental entre Cameron e Ferris, os fatores estão
ligados às relações anteriores e atuais do próprio ambiente. Cameron dá a entender
que não possui proximidade com seus pais, e que e o casal também não se dá bem.
Pelo que o personagem relata o seu pai só tem interesse por suas conquistas
materiais, não tendo tempo nem mesmo interesse pelos assuntos de Cameron. Ele
então que se tornou frágil, influenciável, introvertido e inseguro psicologicamente, não
possuindo habilidades sociais como Ferris, não conseguindo lidar adequadamente
com situações que poderiam trazer problemas ou ser constrangedora, desta forma
qualquer situação de conflito é difícil e um evento extremamente aversivo para ele.
Consequentemente, Cameron tende a fugir sempre destas situações, temendo
muito seu pai e não enfrentando a realidade dos seus problemas, porém no filme,
Cameron perderá esse medo.
Ferris já possui um comportamento mais corajoso, extrovertido, carismático e
inteligente. Possui tem um bom relacionamento com seus pais, e estes demonstram
muita atenção e cuidado com Ferris, e sua mãe até o defende das acusações de faltas
às aulas feitas pelo direto Ed Rooney.
Nesse caso, o comportamento social de Cameron sempre foi “anulado” desde
a infância, já o de Ferris, contrariamente, foi estimulado, isto causou, como cita
Moreira, um efeito “bola de neve”, e é complicado sair desse efeito, pois as habilidades
sociais de Ferris tornam mais prováveis consequências reforçadoras (nada dá errado),
ao passo que as de Cameron não.
No caso das grandes diferenças de Jeanie e Ferris, sendo irmãos, morando na
mesma casa, tendo os mesmos pais, a mesma educação, escola, convívio, etc., as
considerações são outras. Jeanie é um ou dois anos mais velha que Ferris e se
apresenta como uma pessoa arrogante, que está sempre irritada, e tem poucos
amigos. Ela sente ciúmes de Ferris porque ele é popular e sempre consegue tudo o
que quer.
O relacionamento de Jeanie com os pais não é tão bom quanto o de Ferris,
sendo considerada, pelos pais, uma filha rebelde. Considerando que
“comportamentalmente falando, dizer que Ferris e Jeanie foram criados na mesma
casa, pelos mesmos pais e estudaram na mesma escola, não é equivalente a dizer
que interagiram com o mesmo ambiente”.
Cabe ressaltar que Jeanie, sendo irmã mais velha de Ferris, nascidos em
momentos diferentes, não estão intimamente ligados pela questão temporal. Isto
divide os momentos paternais dos “pais de Jeanie” dos “pais de Ferris”, onde as vidas
de seus pais não seriam iguais em cada nascimento dos filhos, podendo haver antes
ou depois problemas financeiro, trabalho, conjugais, etc.
O ciúme pode ter sido algo construído por anos, pois Jeanie teve toda a atenção
dos pais por quase dois anos, e depois teve que dividir essa atenção. A questão do
gênero também pode pesar, pois sendo homem Ferris poderia ter alguns privilégios
desde criança.
Assim, o conceito de ambiente é muito mais sutil do que possa parecer
inicialmente, e muito mais sutil do que este texto consegue representar, e desta forma,
cada organismo é substancialmente e relacionalmente único. Essa unicidade confere
a ele o caráter subjetivo de sua existência. A subjetividade é intransponível, o que
significa que não podemos ser outro organismo porque estamos presos à nossa
própria existência, e é por isso que há a inefabilidade. (ZILIO, 2010, p. 271).
Como cada ser humano vive situações internas e externas diferentes, é
impossível haver personalidades e comportamentos iguais, pois as experiências em
vida são singulares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho relatou a respeito das diferentes formas do comportamento humano,


entendendo-se que o comportamento, na visão Behaviorista Radical, ocorre em
conjunto com as consequências (alterações no ambiente) desse comportamento,
sendo estas alterações responsáveis pelas ocorrências do mesmo.
É interessante observar o quanto as interações de alguém com seu ambiente
são fundamentais para a formação de sua personalidade e de sua subjetividade,
devendo-se olhar para suas relações passadas e presentes, com o mundo à sua volta.
A visão atual é reflexo do que já ocorreu ou vem ocorrendo de longa data,
portanto, se soubermos por que o comportamento ocorre hoje, podemos formular
hipóteses de como se desenvolveu este comportamento, e desta forma fica mais
compreensível a análise comportamental do indivíduo em questão, sabendo que este
é único pois viveu e sentiu momentos singulares em sua vida, pois os momentos e as
relações também são únicos.

REFERÊNCIAS

SKINNER, B. F. The behavior of organisms: an experimental analysis. Nova


York: Appleton‑Century‑Crofs, 1966. (Obra original publicada em 1938).

__________. Sobre o behaviorismo. B. F. S kinner; tradução: Maria da Penha


Villalobos. Cultrix, 1974. 216p.

__________. Ciência e comportamento humano. B. F. S kinner; tradução: João


Carlos Todorov, Rodolfo Azzi. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 489p.
MOREIRA, M. B. (2007). Curtindo a vida adoidado: personalidade e causalidade
no behaviorismo radical. In A. K. C. R. De-Farias & M. R. Ribeiro (Eds.), Skinner
vai ao cinema (pp. 11-29). Santo André, SP: ESETec.

MOREIRA, M. B., E MEDEIROS, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do


comportamento. Porto Alegre: Artmed.

TODOROV, J. C.; MOREIRA, M. B. Psicologia, Comportamento, Processos e


interações psicologia: reflexão e crítica, vol. 22, núm. 3, 2009, pp. 404-412 Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

ZILIO, D. A natureza comportamental da mente: behaviorismo radical e filosofia


da mente [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
294 p. ISBN 978-85-7983-090-7. Disponível em:
http://static.scielo.org/scielobooks/vsgrn/pdf/zilio-9788579830907.pdf. Acesso em:
set. 2015.

YOUTUBE. Curtindo a vida adoidado. 109 min. Disponível em: <


https://www.youtube.com/watch?v=eSe60ajE2k8>. Acesso em: set. 2015.

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