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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: PSICOLOGIA - CIÊNCIA E PROFISSÃO
PROFESSOR: FÁBIO PINHEIRO PACHECO

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “O QUE É PSICOLOGIA?”

Alunas do 1º semestre:
Aline Nascimento dos Santos
Jamilly Muniz Evangelista
Mylene Freitas de Oliveira

Fortaleza, Ceará
Setembro/2018
SÍNTESE DA OBRA

“O Que É Psicologia” é uma obra escrita pela autora Maria Luiza Silveira Teles, a qual sua
primeira edição de 1989 fora impressa pela 14ª vez pela editora Brasiliense em 2003 no
estado de São Paulo. O texto, por sua vez, apresenta elementos introdutórios sobre o campo
da Psicologia, enfatizando as particularidades do ser humano, seus comportamentos e
mecanismos. Além disso, explica brevemente a subdivisão dessa Ciência, as chamadas
abordagens, e o papel do psicólogo.

O exemplar de 58 páginas possui seis capítulos conectados entre si, de leitura clara, acessível
e objetiva visando um maior alcance do seu público alvo, o qual é formado por indivíduos de
qualquer idade, sexo ou naturalidade que buscam compreender melhor ou saciar uma
curiosidade particular no âmbito da Psicologia.

O texto começa abordando as preocupações em torno do ser humano, que sempre estiveram
presentes ao longo da História da humanidade. Contudo, a época de rápidas transformações e
de massificação em que estamos inseridos fizeram surgir novas questões, propícias ao
surgimento da ciência psicológica.

Logo após, a autora continua fazendo um recorte histórico e filosófico das principais correntes
ideológicas que foram base para, futuramente, o advento das teorias utilizadas pela Psicologia
contemporânea, entre elas, o racionalismo de Descartes e o empirismo de Locke.

Diante disso, a escritora foca no ser humano como principal objeto de estudo dessa Ciência,
destacando seus mecanismos, como os instintos inatos, e processos complexos, como o de
aprendizagem. Ademais, destaca a relação intrínseca da Psicologia com a Sociologia e
ressalta que enquadrar a Psicologia nos moldes das ciências experimentais seria empobrecê-la
demais, já que seu objeto de estudo, o ser humano, é um ser especial da natureza.

Logo em seguida, a obra expõe o que torna o humano um ser especial, destacando que essa
característica vai além do raciocínio e do polegar opositor. O seu ambiente (a sociedade)
também é peculiar, pois, o ser humano já o encontra pronto, com um acervo cultural e
tecnológico, e seu grande desafio é apreender essa realidade e enquadrar-se nela.
Ou seja, a autora destaca características ingênitas e individuais que fará do ser humano único
entre os outros animais, além de outras características e complicações que serão adquiridas
pelo convívio em sociedade.

Além disso, enfatiza a linguagem, a sua importância para a área da Psicologia e traz reflexões
acerca da sociedade que impõe seus conceitos e padrões, enquanto o “eu” tenta preservar sua
individualidade, gerando conflitos que ocasionam ansiedade e frustração. O texto ainda fala
sobre algumas abordagens psicológicas (Psicanálise, Humanismo, Behaviorismo e Psicologia
Transpessoal).

Por fim, o livro se encerra com uma análise do papel do psicólogo não apenas no mercado de
trabalho, mas também na sociedade moderna na qual está inserido. Ademais, a autora
questiona a Ciência em pauta de forma crítica, exigindo de seus profissionais uma maior
reflexão diante do Sistema em vigor e de sua interferência no que a Psicologia tem a oferecer
para melhorar a sociedade ao seu redor.
SOB UM VIÉS CRÍTICO

Em suma, “O Que é Psicologia?” possui conteúdos interessantes para aqueles que não
possuem nenhum conhecimento na área e uma linguagem acessível para todos os públicos,
embora deixe muito a desejar nesse mesmo quesito e na escrita na qual fora baseada. Suas
ideias são boas individualmente, porém incompletas quando postas juntas. A autora faz uso
das abordagens, mas em nenhum momento deixa claro o que realmente é Psicologia, ou ao
menos que não existe apenas uma Psicologia, e sim uma vasta quantidade de correntes
teóricas as quais podem ser aplicadas em qualquer área de atuação.

Outrossim, a Filosofia Moderna é valorizada em detrimento da contextualização histórica do


nascimento da própria Psicologia. O advento dessa Ciência de tamanha importância em solo
brasileiro é, de forma ainda mais agravante, desconsiderado, assim como a abordagem
psicológica histórico-cultural não é exposta ou destrinchada pela autora no decorrer do texto.
Além de todos esses fatores mencionados anteriormente, a obra ainda traz um exemplo
explícito de violência contra a mulher o qual, além de reafirmar um estereótipo feminino,
apenas reforça que o comportamento masculino é agressivo por natureza e que os homens não
conseguem evitar um ou dois atos de hostilidade.

Sob outra perspectiva, há, entretanto, na conclusão do texto de Maria Luiza Silveira Teles,
uma reflexão essencial para a Psicologia e, principalmente, para os leitores interessados em
ingressar na área: o debate sobre o verdadeiro propósito da Ciência. O psicólogo, seja qual for
sua abordagem ou campo de atuação, tem uma função e uma responsabilidade social. A
profissão deve estar em constante renovação, além de sempre refletir sobre seus métodos,
evitando a alienação ao Sistema, a elitização, a massificação e a mecanização. A Psicologia
precisa, acima de tudo, ter compromisso com o indivíduo.
A PSICOLOGIA NO BRASIL

Em sua obra introdutória ao estudo da Psicologia, Ana Mercês Bahia Bock, juntamente a seus
coautores, traz um questionamento fortemente abrangido na primeira fração do livro: “Por trás
de qualquer produção material ou espiritual, existe história” (Psicologias, p. 31, 2009). Tendo
tal frase como um ponto de partida, pode se chegar a numerosas outras indagações. Por
exemplo, como compreender um mecanismo, fenômeno, processo, comportamento, corrente
ideológica ou, ainda, teoria científica sem um conhecimento prévio acerca do passado
histórico existente por trás de cada um desses pontos?

A História tem seu conceito básico, apesar de ter sido interpretada de diferentes formas
através dos séculos. Aristóteles, que viveu entre, aproximadamente, 380 e 320 a.C., destacou
a verdadeira semelhança entre historiadores e poetas; já Karl Marx, filósofo e sociólogo do
século XIX, relacionou essa área do conhecimento com a luta de classes e com a
subjetividade presente em cada realidade. Ambos os pensadores diferem, por sua vez, da
autora contemporânea do exemplar Psicologias, embora, todos convirjam para um só ponto,
que é o objetivo da História como um todo.

História vem do grego historie, que significa “conhecimento através da investigação”, e é uma
Ciência Humana a qual, por meio da análise de variáveis históricas, obtêm conhecimentos
acerca de diferentes povos, culturas e períodos anteriores. Esse conhecimento é utilizado para
uma melhor interpretação da realidade atual, de suas complicações, qualidades e defeitos.

Portanto, de onde vem a Psicologia brasileira? O que essa Ciência abrange? Quais foram as
influências recebidas por tal campo de estudo? Perguntas como essas encontram suas
respostas por meio de uma profunda e válida exploração do passado histórico da Psicologia.

Por conseguinte, a Lei que tornou os psicólogos profissionais autônomos, em agosto de 1962,
representa um grande marco para a consolidação dessa Ciência em solo brasileiro. Entretanto,
a história da Psicologia e de suas inúmeras variações no Brasil tem seus primórdios em uma
época consideravelmente anterior a essa.

No Período Colonial, já existiam preocupações acerca dos fenômenos psicológicos — uma


vez que ainda não podia se falar de Psicologia como uma verdadeira Ciência — em obras de
autores brasileiros especialistas em outras áreas: emoções, sentidos, adaptação, fantasias,
instintos e aprendizagem são alguns dos conceitos abrangidos por obras da Teologia, da
Medicina, da Política e até mesmo da Arquitetura.

Essas preocupações, por sua vez, se refletiam no contexto de colonização, no qual os nativos,
chamados de índios pelos Portugueses, eram coagidos ao trabalho e tinham seus costumes e
tradições substituídos pela cultura europeia. Tais mecanismos psicológicos eram usados para
favorecer esses processos de aculturação e escravidão por meio da condenação do ócio, do
desenvolvimento de técnicas de persuasão, da cura de qualquer emoção que comprometesse a
produtividade, da dominação política e da alfabetização com o único propósito de disseminar
a ideologia dominante. A base da Psicologia brasileira nasce, então, como um instrumento de
manipulação e apropriação.

Posteriormente, no século XIX, a vinda da corte portuguesa para o Brasil e a transição de


Colônia para Império trouxeram consigo uma variedade de mudanças: o maior rigor
metodológico e a abertura do país para outros conhecimentos não provenientes de Portugal
favoreceu o crescimento da Psicologia, embora que ainda embutida em outras áreas. Na
Educação, houve a criação dos Cursos Superiores e, consequentemente, o aumento da atenção
relacionada a questões como o desenvolvimento e a aprendizagem. Na Medicina, por outro
lado, conceitos de sexualidade, amor e gratidão eram abordados pela Psiquiatria e pela
Neurologia.

Além disso, foi um contexto de intensas epidemias, e a ideologia burguesa se disseminava de


forma unida com a ideia de domínio sobre a conduta humana. As complicações e as doenças
da mente, inerentes aos seres humanos em determinados momentos e sob determinadas
circunstâncias, causavam repulsa aos integrantes da sociedade, que tentavam, ao máximo,
higienizar e normalizar o meio que compartilhavam. Os considerados loucos, assim como os
idosos, foram marginalizados, e, para eles, foram construídos asilos e manicômios, trazendo o
isolamento, a vigilância, a repressão, o controle comportamental e o afastamento social,
usando técnicas que envolviam uma Psicologia ainda em seu processo de construção. Mais
uma vez, a dominação e a posse se fizeram presentes.

Já no fim do século XIX, com a emergência da industrialização e da urbanização, nasce no


Brasil um sentimento de busca pelo progresso e pela modernização. O abundante
desenvolvimento da plantação do café, além do intenso crescimento da região Sudeste do
país, contribuiu significantemente para o nascimento da Psicologia como Ciência. No mesmo
período, a área psicológica conquistou o Estatuto de ciência autônoma com Wundt, na
Alemanha, e com os avanços nos Estados Unidos, berço das teorias comportamentais.
Somado a todos esses fatores mencionados anteriormente, ocorreu o agravamento dos
problemas sociais no âmbito brasileiro, criando um solo fértil para o advento da Psicologia
como Ciência independente, a qual possuía o objetivo de contribuir com soluções para as
questões da saúde, da educação e do trabalho em uma sociedade defasada e precária.

Aos poucos, após acentuado avanço dessa área durante a virada do século em quesitos como
abordagens, pesquisas e práticas, a Psicologia adquiriu autonomia ao separar-se dos campos
aos quais, antes, era mesclada, delimitando, cada vez mais, seus objetos de estudo e esferas de
atuação. Os primeiros psicólogos do Brasil eram médicos, educadores, bacharéis em Direito e,
até mesmo, profissionais de países exteriores que por aqui ficaram.

Portanto, após muita reivindicação e um passado histórico gradativo, apenas em 27 de agosto


de 1962, a Lei 4.119 é aprovada, reconhecendo a Psicologia como profissão.
ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL

Surge no auge de uma crise revolucionária russa, julgando que o contexto em questão fosse
propício para uma Psicologia que pudesse romper com concepções deterministas,
mecanicistas e idealistas, a respeito do conhecimento psicológico. Se tornou notória a partir
do momento em que Vygotsky descreveu o ser humano como algo que é construído pela sua
história, pelo social e pela cultura na qual se encontra inserido. Apresentando-se
indubitavelmente diferente da Psicologia tradicional, tal abordagem marca uma quebra
perdurável com as ideias psicológicas presentes e retrata a existência de um novo olhar sobre
a idealização de sujeito para essa Ciência.

Tais pensamentos transformadores não conseguiram encontrar naquele cenário histórico


científico teorias psicológicas, o fundamento epistemológico para o estudo e pesquisa sobre a
pessoa histórica e concreta. As correntes psicológicas até aquele momento não o ajudaram a
atender sua nova perspectiva sobre o comportamento humano, sobre a consciência e sobre os
processos psicológicos superiores. Lev Vygotsky encontrou no método dialético, baseado na
teoria marxista, uma revolucionária oportunidade metodológica para suas concepções. Nessa
viabilidade, esses fundamentos foram aplicados aos novos estudos psicológicos sobre o ser
humano.

Ao dar início a seu ofício de apuração, Vygotsky não busca criticar as ideias teóricas vigentes
na Psicologia com o intuito de discordar ou destacar suas afirmações e conceitos, no entanto,
mostra a impraticabilidade de tais teorias sustentarem seu novo olhar metodológico para uma
Psicologia universal.  Por ser caracterizada por estar baseada filosoficamente na concepção
marxista, no período de ditadura militar no Brasil, a abordagem — assim como qualquer
teoria envolvendo ideais comunistas — foi censurada por ser considerada uma ameaça. Anos
mais tarde, a reinserção da democracia no país trouxe consigo a volta de tal abordagem,
contudo, ainda assim, até os dias atuais, como resquício da ditadura, não se escuta falar muito
da mesma.
REFERÊNCIAS

TELES, Maria Luiza Silveira. Coleção Primeiros Passos: O Que é Psicologia. 14 ed. São
Paulo: Brasiliense, 2003.

ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A Psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua
constituição. São Paulo: EDUC, 2014.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao


estudo de psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

SILVA, J. C.; HAI, A.A. A Psicologia histórico-cultural e o marxismo: em defesa do


desenvolvimento humano integral. Maringá: 2011.

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