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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À PROD. CIENTÍFICA
PROFESSOR: DR. ELIANA BARROSO

RESENHA CRÍTICA DO DOCUMENTÁRIO


“RUBEM ALVES, O PROFESSOR DE ESPANTOS”

Alunas do 1º semestre:
Jamilly Muniz Evangelista
Mylene Freitas de Oliveira

Fortaleza, Ceará
Outubro de 2018
RUBEM Alves, o professor de espantos. Direção: Dulce Queiroz. Produção: João GallO.
Brasília (DF) TV Câmara, 2013.
O documentário introduz, de forma resumida, o mineiro Rubem Alves, filósofo, pedagogo,
psicanalista, cronista, teólogo, educador, contador de histórias, professor universitário e
anarquista de Boa Esperança, cidade do interior de Minas Gerais. Ao mudar-se para o Rio de
Janeiro, ainda criança, foi vítima de bullying pelos colegas de turma, região na qual não
chegou a encontrar amparo, fazendo com que o mesmo se encontrasse cada vez mais na
igreja, onde conquistou esse apoio. Ingressou no seminário presbiteriano aos vinte anos, mas a
“fé se transformou em questionamento”, conforme as próprias palavras do curta-metragem, ao
pensar sobre a bíblia e como e por quem ela havia sido “montada”.

Mesmo com inúmeras dúvidas ao tratar-se da religião, posteriormente tornou-se pastor e deu
ênfase a ajudar pessoas que moravam na periferia. No ano de 1964, quando ocorreu o golpe
civil-militar, Rubem acreditou ser mais importante tentar salvar o Brasil do que mostrar às
pessoas o caminho do céu, onde observou que sua fé também havia se transformado em fonte
política, tornando-o pastor e protestante. Nesse mesmo período, foi acusado de subversivo
pelas autoridades da igreja — em sua maioria, composta por pessoas conservadoras — e
quando retornou do exterior, foi informado que existiam duas denúncias contra ele. Mais
tarde, Alves descobriu que uma delas havia sido feita por um de seus melhores amigos e a
lembrança o faz chorar, o ocorrido levando-o a desligar-se da igreja.

Ademais, ganhou uma bolsa para desenvolver seu doutorado no exterior, tendo em vista sua
tese que acabou se transformando em um livro conhecido como “Teologia da Esperança” —
que de início era intitulado como “Teologia da Libertação” —, o qual tem como proposta
combater a injustiça e a desigualdade social sob um viés cristão. Além disso, foi convidado a
se tornar professor em uma universidade em Rio Claro, e depois, na UNICAMP. Junto com
Paulo Freire, se tornou um dos maiores críticos do sistema educacional, afirmando que a
escola poderia se tornar uma gaiola por não incentivar os alunos a desenvolverem a
inteligência.

O documentário que destrincha a vida pessoal, acadêmica e intelectual de Rubem Alves, por
conseguinte, o faz de forma sucinta e completa. Além de abordar, curta e organizadamente, as
visões do escritor acerca de cada área do conhecimento presente em seu longo currículo, não
provocando fadiga ou cansaço aos espectadores, conta com uma trilha sonora suave,
majoritariamente baseada em acordes de piano, que facilita o processo de concentração
daqueles que recebem as informações expostas, as quais são distribuídas em ritmo acessível
ao extenso e variado público alvo. Com breves palavras, Rubem Alves explicita a realidade
do sistema escolar atual, o qual não incita seus alunos a buscarem os valiosos benefícios
trazidos pela obtenção de conhecimento, tais mecanismos constantemente abandonando a arte
e a subjetividade em um processo que acaba por se tornar o oposto de prazeroso e que,
concomitantemente, é base para a ascensão intelectual e financeira. Outrossim, o escritor
também entra em méritos teológicos para os quais qualquer fundamentalista deveria se manter
aberto ao alegar que “Deus nos deu asas, mas as religiões inventaram gaiolas” e, ao mesmo
tempo, intercala a religião com a luta social.

De fato, em muito a teologia tem prejudicado o empenho das minorias em conseguir o pleno
exercício de seus direitos, impondo determinadas regras que, regularmente, são coniventes
com certos preconceitos os quais essa parcela populacional busca combater no intuito de
melhorar suas condições de vida e as dos seus semelhantes. Talvez por tocar em assuntos
delicados e considerados “tabus” em uma sociedade tão retrógrada e presa a ideais
conservadores, seus escritos sejam duramente taxados de “revolucionários”, uma vez que a
defesa de direitos básicos não deve ser considerada rebeldia, e, sim, o mínimo que compõe o
que é ser humano.

Em suma, o documentário de aproximados 45 minutos é uma forma positivamente plena de


introduzir o grande teólogo, psicanalista, escritor e educador Rubem Alves para aqueles que
não o conhecem ou possuem pouco estudo acerca de seus feitos em vida. É um vídeo
acessível a todos os públicos que desejam adquirir qualquer conhecimento sobre esse
intelectual importantíssimo para a história do Brasil, embora possua um significado especial
para os profissionais e estudantes envolvidos direta ou indiretamente com a área da Educação,
como pedagogos, licenciados ou psicólogos, e, ainda, para os teólogos aderentes da corrente
baseada em sua obra “Teologia da Libertação”.

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