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Londrina
2023
MARIANA BORGES ALVES DE LIMA
Londrina
2023
MARIANA BORGES ALVES DE LIMA
BANCA EXAMINADORA
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Orientadora: Profa. Dra. Carla Delgado de Souza (UEL)
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Profa. Dra. Leila Sollberger Jeolas (UEL)
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Profa. Dra. Maria Carolina de Araújo Antonio (UEL)
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Prof. Dr. Flavio Braune Wiik (UEL)
O presente ensaio toma uma obra literária como campo de pesquisa. Trata-se
do romance Garotas de Vidro (2012), de Laurie Halse Anderson, que conta
com Lia como personagem principal. No livro, encontramos Lia, uma jovem
anoréxica, e a partir de sua trajetória constrói-se um debate sobre as
concepções de corpo e processos de subjetivação a partir do referencial da
Antropologia, bem como sobre as dinâmicas relacionais observadas nas
vivências da personagem, e que são atravessadas pelo acentuado quadro de
transtorno alimentar que ela experiencia. A discussão aqui proposta caminha
através das relações entre etnografia, literatura e sociedade, e chega à
discussão sobre comportamentos de risco na juventude, num diálogo com as
ideias propostas por Le Breton.
This essay takes a literary work as a research field. This is the novel Winter
Girls (2012), by Laurie Halse Anderson, which presents Lia as the leading
character. In the book, we find Lia, a young anorexic, and throughout her
trajectory, a debate is built on the conceptions of body and subjectivity within
the framework of Anthropology, as well as on the relationships' dynamics that
can be observed in the character's relationships, and which are crossed by the
accentuated picture of eating disorder. The discussion proposed here goes
through the relationships between ethnography, literature and society, and leads
us to the discussion about risk behaviors in youth, in a dialogue with the
proposed ideas by Le Breton.
sobre ele, sobre mim, sobre os corpos em geral, sobre as maneiras como esse
sintoma pode ser definido, e quais os ambientes propícios para que se
desenvolva - tanto num aspecto privado, dentro de núcleos familiares, como
num âmbito coletivo.
Ingressei na turma de 2020, que teve seu percurso atravessado pela pandemia
de COVID-19, com a impossibilidade de encontros presenciais e a inviabilidade
de encontros de forma remota. Assim, reingresso em 2022, com o mesmo
projeto de antes, que buscava compreender a constituição dos transtornos
alimentares como um processo coletivo, tendo como base para o debate,
naquele momento, algumas discussões apresentadas por Silvia Federici, em
seu livro Calibã e a Bruxa (2017).
Dessa forma, navegando pelo livro Garotas de Vidro (2012), que traz a
trajetória de Lia e Cassie, duas adolescentes que lidam com a problemática da
anorexia e bulimia, respectivamente (e que serão apresentadas mais
detalhadamente adiante), este trabalho apresenta a etnografia de um texto
literário onde pretende-se discutir a constituição do corpo na perspectiva
antropológica; as dinâmicas relacionais de jovens que vivenciam os transtornos
alimentares com as pessoas a sua volta e com suas próprias vidas - e também
com a assustadora proximidade da própria morte - a partir de uma
apresentação resumida da história e de uma análise relacional das
personagens, em diálogo com as ideias de Turner (1974); as condutas de risco
na juventude, a partir das discussões propostas por Le Breton (2012) e por
Jeolás (2007), pensadas como maneiras de produção de sentidos e valores
diante da vida pelos próprios jovens; bem como as contribuições de Daniela
Ferreira Araújo Silva, tanto a partir de sua dissertação Do outro lado do
espelho: anorexia e bulimia para além da imagem - um etnografia virtual
(2004), quanto a partir de sua tese Histórias de vida com transtornos
alimentares: gênero, corporalidade e a constituição de si (2011).
(...) levar a sério, pois, o que os sujeitos têm a dizer sobre si e sua
trajetória, de considerar que as formas pelas quais interpretam o
mundo estão intimamente relacionadas a seus modos de viver e agir
sobre ele, sendo, portanto, não apenas um objeto pertinente à
investigação antropológica, como também um de seus fundamentos
heurísticos, umas das condições da produção do próprio
conhecimento”. (SILVA, 2011, p. 3).
Assim, a história de Lia, da maneira como ela nos conta sobre si, será
aqui lida e sentida como um drama social no qual a própria personagem marca
sua experiência do transtorno como um momento em que ela deixa de ser
“uma garota de verdade” como era antes, e passa a ser uma “garota de vidro”;
as crises subsequentes reforçam e ampliam essa quebra da vivência, nos
momentos em que “as ações simbólicas atingem sua expressão máxima”
(TURNER, 1984, p. 41, tradução nossa) e em que Lia se vê praticamente
afogada num vórtex de novas verdades, de novas maneiras de se defender da
vida, sendo a magreza extrema o principal eixo; a ação corretiva se desenrola
em mais de um momento, conforme observamos as dinâmicas de cuidado e
controle que vão se fazendo necessárias e possíveis; e a reintegração do fator
perturbado, aqui personificado pelo transtorno, no final de sua história, quando
a personagem consegue, a partir de uma relação com a própria realidade, tecer
um caminho de retorno à uma vida enquanto “uma garota de verdade”, sendo
capaz de construir um próprio sentido para sua existência (mesmo que isso
exigisse lidar com o que não faz sentido), não mais recorrendo aos
comportamentos de risco para que pudesse sentir-se viva.
A ficção com a qual trabalho neste artigo é baseada no livro "As garotas
de vidro", de Laurie Halse Anderson1. Trata-se de uma literatura juvenil e
tornou-se rapidamente um best seller nos Estados Unidos da América, local
onde mora a autora. Publicado em 2009 com o título "Wintergirls", foi
rapidamente traduzido para língua portuguesa, sendo publicado pela editora
Novo Conceito em 2012. A recepção estadunidense ao livro foi impressionante,
recebendo reconhecimentos públicos da ALA (American Library Association) e
da YALSA (Young Adult Library Services Association) e sendo listado como um
best seller por jornais como New York Times, Chicago Tribune e The Guardian.
É conhecido como um dos trabalhos mais impactantes da autora,
especialmente por suas qualidades narrativas.
Essa garota aqui treme e engatinha para debaixo das cobertas ainda
totalmente vestida, e cai sobre um livro que está devendo para a
biblioteca, um conta de fadas com ratos e tutano e maldições
terríveis. As frases constroem uma cerca ao seu redor, uma barricada
de Times Roman corpo 10, para evitar que as vozes espinhosas em
sua cabeça cheguem perto demais. (Lia apud ANDERSON, 2012, p.
36).
relato vai chegar e tenta, de alguma forma, não ouvir e se fechar, mas percebe
que já é tarde demais. Ainda assim tenta se blindar o máximo que consegue,
pois entende que a madrasta não vai perceber que ela "nem está ali" e que vai
achar que estão, de fato, se comunicando. Jennifer está preocupada, diz que
conversou com Chloe, a mãe de Lia, e as duas pensam ser uma boa ideia
antecipar sua consulta com a Dra. Parker, a psicóloga, para que possa falar
sobre isso, já que as duas eram melhores amigas. Lia mente e insiste em dizer
que está bem, pontuando que já nem eram mais tão amigas assim e que pode
deixar sua consulta para o dia normal.
(cada vez menor) que quer ver na balança, quanto no movimento de aparentar
uma melhora, quando manipula os números que Jennifer anota toda vez que a
pesa. Notamos também que ela conta as calorias, de forma praticamente
automática, de tudo o que come e do que vê os outros comendo, e de tudo o
que gostaria de comer, mas não come porque quer ficar limpa por dentro, pois
"o vazio é bom. O vazio é forte" (Lia apud ANDERSON, 2012, p. 11).
realidade, estragado e sujo, mofado, ou que a pessoa comendo aquilo que ela
também gostaria de comer vai passar mal, pois aquilo é ruim. Há uma espécie
de deslocamento da atenção, como se ao controlar tudo o que come e se
sacrificar, não comendo o que quer, Lia nem se afetasse pelos acontecidos em
sua própria vida.
Em seu quarto, Lia tem uma outra balança escondida (que é muito mais
precisa), a partir da qual consegue acompanhar seu progresso diante de seus
três objetivos:
Com 43 quilos, vou ser pura. (...) Com 40 quilos, vou planar. Esse é o
Objetivo Número Três. (Lia apud ANDERSON, 2012, p. 54)
Lia vai até o motel onde a amiga morreu e conhece Elijah, que foi a
pessoa que encontrou o corpo de Cassie e que deixou o recado em sua
secretária eletrônica. O que também acontece e fortalece esse movimento de
investigação é que ela começou a ver o fantasma da amiga, que aparece à
noite em seu quarto ou enquanto ela está se pesando com a "balança
verdadeira". Nessas aparições, Cassie parece querer desencorajar Lia de
seguir vivendo e convencê-la a desistir, como se quisesse que a amiga fosse
lhe fazer companhia, encorajando Lia a seguir nesse caminho em busca de
uma magreza cada vez mais acentuada. Percebemos que o desejo de Lia de ir
ao velório e ao enterro é também fortalecido pelo desejo de ver o corpo da
amiga sendo enterrado para que tenha certeza de que ela estará plantada na
terra, e não esperando por ela em seu quarto escuro.
As semanas seguem e nos trazem uma Lia que entra em conflito com
seu processo de luto, pois ela quer entender o que aconteceu com a amiga, o
que Cassie sentiu naquela noite e se sofreu, mas já é machucada o suficiente
para saber que perguntar "por que?" é perguntar errado. Lia sabe que "por que
não?" é a pergunta mais profunda e mais difícil quando nos deparamos com a
ideia de abrir mão da própria vida - ou com o flerte com a morte, mas ela ainda
não consegue acreditar que a amiga tenha ficado sem respostas antes que ela.
De alguma forma, a competitividade entre as duas está presente também
quando o assunto é deixar de viver.
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Ela se questiona o tempo todo sobre o que a amiga pode ter sentido,
num misto de curiosidade de quem também deseja a morte, mas tem medo de
perder o controle. As duas eram "irmãs secretas" (Lia apud ANDERSON, 2012,
p. 12) que partilhavam angústias e crises, conseguiam se ouvir e conseguiam
falar sobre como seus pais não entendiam nada e sobre como as batalhas que
enfrentavam com seus corpos e com as comidas faziam delas mais fortes.
Dentro de Lia havia um turbilhão:
Por quê? Você quer saber por quê? Entre em uma cama de
bronzeamento artificial e fique fritando lá por dois ou três dias. Depois
que a sua pele está coberta de bolhas e começa a descascar, role em
sal grosso, e então coloque uma peça única que cubra o corpo todo,
trançada com fibra de vidro e arame farpado. Por cima de tudo isso
vão suas roupas normais, contanto que sejam justas.
Fume pólvora e vá para a escola para pular por dentro de aros, pedir
e fingir de morta quando mandam. Escute os sussurros que se
enrolam na sua cabeça à noite, te chamando de feia e gorda e vaca e
biscate e o pior de tudo: “uma decepção”. Vomite e passe fome e se
corte e beba porque você não quer sentir nada disso. Vomite e passe
fome e se corte e beba porque você precisa de um anestésico, e
funciona. Por um tempo. Mas então o anestésico vira veneno e a
essas alturas é tarde demais porque você está seguindo essa estrada
diretamente para a sua alma. Você está apodrecendo e não consegue
parar. (Lia apud ANDERSON, 2012, p. 157).
Lia retorna para casa da mãe dois dias antes do Natal, pois já está num
quadro estável e também porque a clínica de tratamento de transtornos
alimentares, a New Seasons, onde ela já ficou internada, só terá vaga na
próxima semana. Nesse meio tempo vai a uma consulta com sua psicóloga e
consegue contar tudo - o que pensa de si, as vozes em sua cabeça que a
humilham e proíbem de comer, as interações que tem com o fantasma Cassie
e o medo de morrer, pois recentemente vem percebendo que quer viver, mas a
amiga parece não deixar.
A Dra. Parker aponta que ela fez muitos avanços ali, ao conseguir
relatar com honestidade o que vem passando, e sugere que a estadia numa
clínica psiquiátrica seria um caminho de tratamento mais adequado para este
momento. A Dra. Parker explica a Lia que ela criou uma realidade metafórica
paralela para lidar com os últimos acontecimentos e, conforme os delírios e
alucinações estiverem sob controle, ela conseguirá lidar melhor com as
questões de corpo e comida.
A cidade está sob uma forte tempestade de neve e ela pede um táxi e
vai ao motel onde Cassie morreu, pedindo refúgio a Elijah, que planeja sair
viajando pelo país dali a poucos dias; Lia quer que ele a leve junto na viagem.
Em outras ocasiões, Elijah já havia lhe contado mais sobre Cassie, dizendo
que o recado era sobre Lia ter ganhado algum tipo de aposta. Elijah e Lia se
encontraram algumas vezes e Lia sempre levava comida para ele; ela queria
saber mais sobre tudo o que Cassie havia dito e também ficava em sua
dinâmica de observar alguém comendo e se sacrificar ao não se entregar
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Quando Lia chega ao hotel depois da sessão com a Dra. Parker, Elijah
se assusta com seu estado físico quando ela mostra os pontos que levou nos
cortes e o quão magra está debaixo de todas as roupas largas que usa, e se
nega a levá-la com ele na viagem pois considera que ela está correndo riscos e
que isso poderia se tornar um problema para ele.
Enquanto ela dorme (dopada com calmantes, que tomou para tentar
relaxar), ele foge com o dinheiro e o cartão de crédito dela. Conforme acorda e
percebe estar abandonada no motel vazio, Lia entende que, se quisesse
mesmo, poderia morrer ali, totalmente sozinha, exatamente como a amiga. Ela
fica nesse sono induzido por remédios por dois dias.
Ainda cambaleante sob o efeito dos remédios, e muito fraca por não se
alimentar desde que chegou ali, Lia vaga pelo motel e chega no quarto em que
Cassie morreu; vê o fantasma da amiga sentado na cama. As duas têm uma
conversa bastante angustiante, na qual Cassie tenta acalmá-la dizendo que já
está acontecendo, que ela estará morta em breve e tudo será bom.
Lia sai do quarto e chega ao escritório, conseguindo ligar para sua mãe
dizendo que está "finalmente viva, mas que ela deveria vir rápido" (Lia apud
ANDERSON, 2012, p. 265). Lia é socorrida e passa dez dias no hospital
dormindo, mas sem sonhar. Depois, é transferida pela terceira vez para New
Seasons, e nesse momento, pela primeira vez em sua terceira internação ali,
Lia não tenta sair de lá o mais rápido possível, como se fosse uma maratona,
ficando internada até meados de abril, quando iniciam um plano de transição
"para que possa passar da Lia do hospital para a Lia de verdade" (Lia apud
ANDERSON, 2012, p. 268). Pela primeira vez Lia encara sua condição como
algo que precisava de e merecia cuidados, e não mais como uma habilidade
refinada de ser poderosa e de deter o controle, que é como se sentia quando
se comprometia a ser a garota mais magra.
Comer era difícil. Respirar era difícil. Viver era o mais difícil. Eu queria
engolir as sementes amargas do esquecimento. Cassie também. Nós
nos apoiamos uma na outra, perdidas no escuro e vagando em
círculos sem fim. Ela ficou cansada demais e dormiu. De alguma
maneira, eu me arrastei para longe do escuro e pedi ajuda. (Lia apud
ANDERSON, 2012, p. 269).
As trajetórias em relação:
I - As amigas entre si
Lia e Cassie iniciam sua amizade quando Cassie se muda com os pais
para a casa em frente à que a família de Lia morava; nesse momento as duas
garotas têm entre nove e dez anos. No desenrolar da história podemos notar
como a preocupação com o que se come, o medo do corpo e do engordar vão
gradualmente se tornando parte do cotidiano das meninas conforme vão
adentrando a adolescência. Diferente de Lia, Cassie era uma garota bastante
expansiva e extrovertida, e se envolvia na comunidade escolar, onde
participava das equipes de esportes, clubes de debate e do grupo de teatro
(ANDERSON, 2012).
Uma postura ideológica que se difundiu pela internet nos últimos anos
e que, de maneira geral, questiona o caráter patológico da anorexia e
da bulimia, considerando-as como estilos de vida que podem ser
voluntariamente adotados. O argumento principal dessa postura é o
de que a magreza é o elemento essencial de uma boa aparência
física e, que por sua vez, a boa aparência física é determinante na
obtenção da felicidade e do sucesso. Assim, valeria à pena procurar a
magreza a qualquer custo, mesmo colocando a saúde em risco. (...)
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Nesses momentos em que a amiga lhe pedia ajuda para parar com os
comportamentos bulímicos, Lia tecia comentários sobre o próprio corpo, sobre
como estava gorda (mesmo em momentos em que não se sentia assim ou que
sabia que estava mais magra do que Cassie) ou sobre como aguentava ficar
várias horas sem comer e depois fazer bastante exercício físico. Lia se lembra
de acompanhar Cassie nos momentos de compulsão e de, depois,
acompanhá-la até o banheiro, para que pudesse se libertar daquilo tudo,
confessando que “nós nos transformamos nas garotas geladas e, quando ela
tentou ir embora, eu a puxei de volta para a neve porque estava com medo de
ficar sozinha”. (Lia apud ANDERSON, 2012, p. 99).
II - As amigas e os pais
Ela age como se tivesse entendido e “aceitado” que jamais seria aquela
garota que os pais desejavam que fosse, e seu duelo com a comida e a fome
se torna mais um duelo diante de algo que é exigido dela: o corpo dói e padece
de fome, e ela se sente mais forte cada vez que não satisfaz essas sujas
necessidades. A guerra contra a comida se torna um importante lugar onde Lia
consegue ativamente dizer não e se afirma a partir de suas próprias vontades,
ainda que esse seja um comportamento que a coloca em risco. A jovem não é
e não quer ser o que esperam dela e estende esse “não” a tudo - até mesmo à
própria vida, afinal “‘Comida é vida’. E esse é o problema.” (Lia apud
ANDERSON, 2012, p. 267) e assim pune seu corpo nas tentativas de, em meio
a tantos nãos, construir e entender quem se é. Le Breton comenta que
amigos, atividades” (Chloe apud ANDERSON, 2012, p. 157) e jogou tudo isso
fora.
Abri minha boca durante as primeiras visitas e dei a ela uma chave
para abrir minha cabeça. Que erro gigante. Ela trouxe sua lanterna e
um capacete e um monte de corda para se aventurar por minhas
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Dessa vez não minto para as enfermeiras. Não discuto com elas, nem
jogo nada, nem grito. Discuto com os médicos porque não acredito na
marca da mágica deles, não cem por cento, e é algo sobre o qual
preciso falar. Eles escutam. Fazem anotações. Sugerem que eu anote
o que acho de tudo isso. Pelo menos eles não acham que sou louca
porque vejo fantasmas. (Lia apud ANDERSON, 2012, p. 268).
quando esta vai visitá-la depois de alguns meses, ainda na clínica, a psicóloga
diz a Lia que não importa muito o nome que queiram dar para o que aconteceu;
“você está conversando. Você está desabrochando. Isso é que importa” (Dra.
Parker apud ANDERSON, 2012, p. 268). A história não traz grandes detalhes
acerca das relações de Cassie com aqueles que compuseram, no passar dos
anos, sua equipe de cuidados. Lia rememora somente que foi um de seus
médicos que fortaleceu a crença de que a amizade das duas era um problema,
e que deveriam se afastar.
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Na trajetória de Lia podemos também perceber isso, uma vez que sua
travessia pelos caminhos da anorexia e das condutas de risco acaba por
levá-la até a construção de uma vida em que ela gosta de viver, chegando mais
perto de uma vida como que feita à mão:
Considerações finais
REFERÊNCIAS
WOODMAN, Marion. A coruja era filha do padeiro. São Paulo: Cultrix, 1980.