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Texto: A antropologia no quadro das ciências. Roberto Damatta.

Parte um:

Na primeira parte, o epílogo –o autor trata de duas pesquisas; os Apinayé e os Gaviões. Inicia
falando sobre a antropologia no campo das ciências, estabelecendo semelhanças e diferenças entre
as ciências sociais e ciências naturais. Sendo estas formadas por fatos que se repetem, e por isso as
teorias
podem ser testadas, enquanto aquelas, as ciências sociais; trabalham com fenômenos complexos,
pretende estudar fatos humanos, e fatos que não estão mais ocorrendo entre nós, ou que não podem
ser reproduzidos em condições controladas, embora possam ser observados. São eventos
complexos, que podem ocorrer em ambientes diversos, por isso podem mudar sua significação.

Para Da Matta; a antropologia social possui três esferas de interesse definidos: uma delas é o estudo
do homem enquanto ser biológico, com um percurso evolutivo definido. Essa é a área da chamada
antropologia biológica, ou física. A segunda esfera diz respeito ao estudo do homem no tempo, por
meio das cristalizações, vestígios das suas relações sociais e valores naquilo que usou ao longo do
tempo, esse estudo é chamado de arqueologia. A terceira esfera é chamada de antropologia social,
Tipos de cultural ou etnologia, que vai além do estudo do homem enquanto produtor e transformador da
Antropologia natureza é a visão do homem enquanto membro de uma sociedade e de um dado sistema de valores.
O homem não inventa apenas para vencer os desafios da natureza, a cultura
não é uma resposta, apenas, a esses desafios, mas a expressão do entendimento da realidade sob a
qual se encontra; esses desafios, o seu invento e a si próprio.

A antropologia social possui dois planos: o instrumental, dado na medida em que um sujeito
responde a um desafio de um ambiente ou de outro grupo, e o plano cultural ou social, que a
etnologia permite tomar conhecimento. O mundo humano é formado por uma dialética, onde as
respostas aos desafios da natureza possibilitam tomar consciência da natureza e da resposta dada, ou
seja, ter
consciência da própria consciência.

No texto são destacados os três planos da consciência, enfatizando que o mais importante é o plano
da linguagem, que é responsável pela transmissão de todo o conhecimento e cultura, e que está
incluído nos demais planos, indiretamente.

O autor fala sobre os fatores biológicos em oposição aos sociais, aonde se diz que o biológico é algo
intrínseco, que não é controlado pela consciência, o homem apenas responde aos elementos
naturais, estando o homem em oposição à natureza, atuando de forma ativa e não contemplativa,
visando o seu domínio. Essa é visão instrumentalista, sendo as atitudes humanas meras respostas
aos desafios. Possui também uma visão evolucionista, a qual o natural é anterior ao biológico, que é
anterior ao social e que antecedi o individual. Neste ponto, pode-se dizer, o texto expressa suas
limitações e isso tem a ver com a postura teórico-metodológica apresentada na pesquisa
desenvolvida por DaMatta. O evolucionismo e estruturalismo expresso pelo pesquisador, já não
mais respondem aos desafios da pesquisa antropológica, mas ainda assim, o texto se constitui um
referencial importante a iniciação, como se pretende.

Na perspectiva desenvolvida pelo autor no texto; o social é oposto ao biológico. Biologicamente


fala-se de homem, quando o que se tem são sociedades e culturas, generalizando, e deixando de
lado a explicação das diferenças. Falasse como se o homem não contemplasse, nem pensasse, ele
apenas reagia ao ambiente natural. O texto também trata da diferença entre social e cultural, sendo
ambos, inseparáveis. A cultura é uma tradição, que é transmitida de geração a geração, o que torna
uma sociedade única, diferente da outra. Pode existir cultura sem sociedade, por meio de
cristalizações, objetos deixados por ela.
Porém não se pode conceber uma sociedade sem cultura, necessária para individualizá-la. O social e
cultural estão relacionados, mas nenhum reproduz totalmente o outro. O antropólogo social começa
suas pesquisas observando os sistemas sociais, entendendo-os e assim chegando aos valores.

No final da primeira parte o autor trata da “fábula das três raças” ou o “problema do racismo à
brasileira”, com o objetivo de mostrar como a perspectiva sociológica encontra resistência na
sociedade brasileira, por causa de teorias deterministas, que tomam-lhes a frente, como o racismo.
Nesta abordagem da temática do racismo, o autor faz uma análise do credo racista norte-americano
frente ao da sociedade brasileira. Na sociedade norte-americana as três raças estão esquematizadas
paralelamente, lado a lado, não se ligando, estando o negro e o índio próximos e o branco mais
afastado, para garantir a sua igualdade, Não podendo as raças se misturar, visto que a mistura
representa o atraso. Na sociedade brasileira as três raças estão esquematizas em forma de um
triangulo, onde se ligam, formando outras, o negro e o índio estando na parte de baixo do triângulo
e o branco a cima. Essa ligação se dá por que a sociedade encontra-se apresentada numa hierarquia
naturalizada, na qual o branco vai ser sempre superior. Nos Estados Unidos não importa se o negro,
ou o índio tenha poder econômico, eles nunca se igualarão ao branco. No Brasil se o negro, ou o
índio tiver poder econômico acontece um branqueamento, igualando-se ao branco. Por meio do
sistema de hierarquia brasileira foi que passou-se a estudar as raças separadamente e não as relações
entre elas, dificultando o conhecimento das culturas que são formadas por relações.

Parte três:

Na terceira parte ele fala sobre o método para fazer o trabalho de campo na antropologia social, mas
cada pesquisador pode fazer sua pesquisa de campo de uma forma, pois não tem um método
perfeito para o trabalho de campo, tem o método que o pesquisador mais se identifica. Foi com o
funcionalismo que a pesquisa de campo tornou-se fundamental importância ao trabalho do
antropólogo, utilizando-se da coleta de dados, para conhecer o exótico, a cultura do nativo e
produzir interpretações das diferenças, comparando com a cultura da sociedade do pesquisador. O
antropólogo deve aprender a ouvir o nativo, e a enxergar os costumes como o “selvagem” percebe,
para compreender a lógica da sociedade a partir do ponto de vista do nativo.

Um dos problemas enfrentados pelos pesquisadores ao fazerem o trabalho de campo, é o chamado


rito de passagem, no qual o antropólogo se isola da sua sociedade e passa a fazer parte de outra, se
ressocializando, deixando os seus preconceitos, por meio da absorção dos costumes do outro
universo social, transformando o exótico em familiar e o familiar em exótico. O termo familiar e
exótico possui varias interpretações, sendo complexos os seus conceitos, o autor usou o familiar
como algo que poderia ser parte do universo social diário. O exótico seria o oposto algo estando
fora do universo social e ideológico diário. Porém é um equívoco dizer que tudo que é conhecido,
íntimo, próximo seria familiar. E tudo que é desconhecido, exótico. Para transformar o familiar em
exótico é necessário questionar, para situar os eventos do mundo diário à distância, do mesmo jeito
questiona-se o exótico, descobrindo nele o conhecido e o familiar.

No epílogo o autor fala sobre suas experiências, porque ele decidiu ser antropólogo social, como ele
fez as suas pesquisas de campo, citando os estudos feitos com a tribo Apinayé, com a tribo dos
Gaviões e fala sobre os grupos Jê do Brasil Central. É quase um estudo biográfico do trabalho
desenvolvido enquanto antropólogo; revelando que era estudante de história, mas não gostava de
como os problemas sociais eram abordados pela história e acreditava que a antropologia cultural os
discutiria da forma que ele almejava, assim ele seguiu esse caminho. Nas suas pesquisas, para obter
os dados sociológicos ele exalta o diário de campo, onde anotava tudo que acontecia ao longo do
dia. Fez amigos, para conhecer a aldeia, elaborou um mapa e um censo da aldeia, por que por meio
dele saberia os padrões de idade, de sexo, formas de casamento, população. Diz, ainda, que o
etnólogo deve utilizar sempre uma caderneta, para anotar fatos interessantes, podendo substituir por
um gravador de bolso, possibilitando captar maior informação.

Muitos aparelhos, principalmente se forem sofisticados podem atrapalhar as observações. Na última


parte do texto fala sobre as teorias de contato. Que nos estudos sobre os Gaviões percebeu as
ligações tribais com a sociedade brasileira. E diz que na pesquisa sobre contato cultural têm-se que
localizar as agências que atuam na situação, estudar as ideologias delas, como elas se relacionam
com as tribos que estão em contato. No término do livro o autor vai falar que para produzir
suas problemáticas que possibilitaria descobrir a estrutura social dos Apinayé ele utilizou as teorias
de Numuendaju, Lévi-Strauss, e de Maybury-Lewis, sobre as formas de parentesco e os sistemas
classificatórios, pois para fazer etnologia deve possuir uma base teórica, e não deve ter medo de
divergir de alguns teóricos de autoridade no assunto, por que a antropologia social não é feita de
cristalizações, as teorias mudam no decorrer do tempo, conseguindo novos dados. Os seus estudos
fez cair algumas teorias sociológicas, conseguindo novos dados que possibilitaram ter outras
percepções sobre os grupos Jê.

Foi o jeito de Roberto Da Matta relacionar e de relativizar que o permitiu desenvolver a visão
antropológica social que expôs no livro. O livro é de fácil compreensão, sabendo-se que as
questões da antropologia social não é um assunto fácil para iniciantes, ao contrário trata-se de algo
complexo para ser tratado de forma simples, mas Roberto Da Matta imprimiu uma linguagem
acessível a leitores iniciantes. Realmente é uma verdadeira introdução, indicado para quem está
começando a atuar no campo da Antropologia. Trata da experiência de ser pesquisador; suas
dificuldades e, de como, no caso específico, o pesquisador sobre contornar essas dificuldades.
Defende em todo o contexto do livro a necessária postura da relativização, que torna possível
perceber a relação das coisas do mundo, deixando de lado os preconceitos e focando nas diferenças,
não hierarquizando, ou tendo uma como superior, e outra, como inferior. Assim o texto conclui por
uma crítica ao evolucionismo e ao historicismo na Antropologia, e igualmente pela forma como
essas posturas tratam o método comparativo na Antropologia.

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