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Apresentando o autor:
II
Nessa direção, ele diz que “vestir a capa do etnólogo” é realizar duas tarefas: a)
transformar o exótico no familiar e/ou b) transformar o familiar em exótico. E são essas
transformações que permeiam momentos críticos da historia da disciplina. A primeira
transformação, corresponde ao movimento de origem da antropologia, quando os
pesquisadores buscavam os enigmas sociais em universos de significação
incompreendidos pelo seu meio social em comunidades isoladas, e foi assim que o kula
se tornou um sistema de trocas compreensível. A segunda transformação, que ele diz
corresponder “ao momento presente”, o texto é de 1978, é quando a pesquisa se volta
para a nossa própria sociedade, ou seja, ao invés de buscar “praticas primitivas” em
outros povos, buscamos isso nas nossas próprias instituições, práticas políticas e
religiosas. Nessa transformação o problema é de “tirar a capa de membro de uma
classe/grupo social específico para poder estranhar alguma regra social familiar e
descobrir (ou recolocar) o exótico naquilo que está petrificado em nós”.
Ele argumenta que essas duas transformações estão relacionadas de forma intrínseca, a
primeira transformação leva ao encontro daquilo que, na cultura do pesquisador, cabe
no envelope do bizarro, é o trabalho de buscar as regras, valores e ideias do outro. Na
segunda transformação, ele compara com uma viagem do xamã, um movimento drástico
onde de forma paradoxal não saímos do lugar, são viagens para dentro ou para cima,
mas que também conduz para um encontro com o outro e ao estranhamento.
Ele pontua então, que a área básica dos anthropological blues como a do elemento que
se insinua na pratica etnológica, mas que não era esperado. Ele traz vários exemplos,
mas achei mais interessante a passagem sobre a etnografia de Maybury-Lewis que fala
apenas no ultimo paragrafo sobre a lagrima nos olhos de seu interlocutor. É como se a
graduação nos preparasse para sistemas políticos, matrimonial, parentesco, mas não
para o fato de que as situações etnográficas não acontecem num vazio.
Sua conclusão sobre isso é que o etnólogo nunca está só. Quando ele adentra em um
sistema de regras ainda exótico, ele está relacionado e ligado a sua própria cultura.
Quando aquele sistema de regras se torna familiar, ele retorna a própria cultura, ele traz
imagens e relatos daquelas pessoas com as quais conviveu, que fora do alcance imediato
do mundo dele instigam uma ligação nostálgica do anthropological blues.
III
A última parte do texto são deduções dos aspectos que ele apresentou que formam o
anthropological blues.
“Uma dedução possível, entre muitas outras, é a de que, em Antropologia, é preciso
recuperar esse lado extraordinário e estático das relações entre pesquisador/nativo. Se
este é o lado menos rotineiro e o mais difícil de ser apanhado da situação antropológica,
e certamente porque ele se constitui no aspecto mais humano da nossa rotina”
E esse aspecto, ele diz, é o que permite escrever uma boa etnografia, invocando a
questão de Geertz de distinguir um piscar de olhos e uma piscadela de comunicação. Pra
essa distinção é necessário passar pelos processos de marginalidade, solidão e saudade.
E conclui que a antropologia é um mecanismo de deslocamento da própria
subjetividade.