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COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO
CURSO: SERVIÇO SOCIAL
TEXTO E CONTEXTO
1 Antropologia e Ciência
Eu não tinha interesse por bruxaria quando fui para o país zande, mas os
Azande tinham; e assim tive de me deixar guiar por eles. Não me
interessava particularmente por vacas quando fui aos Nuer, mas os Nuer
sim; e assim, tive aos poucos, querendo ou não me tornar um especialista
em gado (EVANS-PRITCHARD, 2005, p. 244-245).
5 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
3 Cultura e Política
3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Aculturação: processo por meio do qual o contato entre duas culturas faz com que
uma delas absorva a cultura da outra, gerando, assim, mudanças culturais.
Antropologia Hermenêutica ou Interpretativa: vertente antropológica proposta por
Clifford Geertz, cujo foco está no texto, na linguagem e no discurso. A analogia mais
comum é a de que esta perspectiva antropológica faz uma leitura das sociedades
como texto. De acordo com Geertz, a interpretação ocorre em todos os aspectos da
pesquisa, desde a sociedade (lida como texto), passando pela escrita do texto, até
chegar à interpretação daqueles que leem o texto antropológico sem ter passado
pela mesma experiência que o antropólogo.
Eufemismo: uso de um termo em substituição a outro para suavizar ou minimizar
um termo grosseiro ou politicamente incorreto, sem, no entanto, alterar seu sentido
original.
Racismo: refere-se a um tipo de preconceito que hierarquiza as pessoas em termos
de raça ou etnia. Para a Antropologia, raça não se refere a uma diferença biológica,
mas a uma naturalização das diferenças sociais. Deste modo, considera-se que,
frequentemente, o racismo é usado como forma de explicar diferenças sociais e
culturais a partir de diferenças tomadas como naturais.
Xenofobia: sentimento de desconfiança ou repulsa aos que vêm de fora,
principalmente aos estrangeiros em determinados países. No âmbito político, a
xenofobia se expressa nas políticas anti-imigração.
1 OS ESTUDOS CLÁSSICOS
3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
2 Política e Diferença
3 Identidade de Gênero
Com uma abordagem bastante distinta das que vimos até aqui, Clifford
Geertz inaugura, na segunda metade do século XX, uma antropologia interpretativa
ou simbólica. Ele considera que a religião é uma questão fundamental para se
compreender a vida social e se volta para o modo como os símbolos religiosos
induzem a uma disposição religiosa.
Uma de suas primeiras publicações, “Observando o Islã”, foi
fundamentada nos primeiros trabalhos de campo que realizou na Indonésia e em
Marrocos em vários períodos entre as décadas de 1950 e 1960.
O livro foi publicado em 1968 e aborda uma temática que até hoje
mobiliza reflexões antropológicas e políticas ‒ o sentido contemporâneo do
islamismo. Trata-se, também, de uma pesquisa sobre religião feita em duas
sociedades altamente complexas. Ao contrário das análises com base nas práticas
religiosas de pequenas sociedades indígenas, o trabalho de Geertz visava analisar
sociedades com alta densidade populacional e complexidade política. No campo
religioso, em específico, uma das questões políticas que se colocava era se as
tradições étnicas e religiosas tradicionais poderiam se acomodar às novas formas
políticas.
A obra de Geertz foi considerada, no período, inovadora, por fazer uma
crítica a uma visão, até então muito comum no Ocidente, de que o Islã seria
caracterizado pelo atraso, pela irracionalidade e pelos fundamentalismos. Ao
contrário disso, a análise dele aponta para a diversidade de práticas no interior de
uma mesma religião e para os distintos sentidos que uma religião ganha conforme
ela é atualizada em contextos sociais diversos.
Para Geertz, a religião é compreendida como um sistema cultural. O que
ele busca é estabelecer uma relação entre as características locais, regionais ou
mesmo nacionais do Islã e o ethos da civilização para a qual ele ganha sentido.
Dois conceitos são, então, fundamentais para compreendermos essa
reflexão: ethos e visão de mundo.
Ethos: refere-se à ação, à maneira como as pessoas fazem as coisas e gostam
que sejam feitas, são os aspectos morais (e estéticos) de dada cultura, os
elementos valorativos e o tom emocional de uma cultura.
Visão de mundo: centra-se na crença, nas noções de um povo sobre como as
coisas são, seus aspectos cognitivos e existenciais.
As duas dimensões são inseparáveis e, mais que isso, são reflexos
mútuos uma da outra. Os símbolos religiosos ligam essas dimensões de maneira
que elas se confirmem mutuamente.
Esses símbolos tornariam crível a visão de mundo e justificariam o ethos,
um em apoio ao outro. Os padrões religiosos têm, segundo Geertz, um duplo
aspecto. Eles são:
molduras da percepção: telas simbólicas pelas quais a experiência é
interpretada;
orientações para a ação: guias de conduta.
Geertz destaca que o ritual é o principal mecanismo por meio do qual as
pessoas aderem à religião e encontram não só uma visão de mundo, mas chegam a
adotá-la e a internalizá-la como parte de sua personalidade. Os símbolos sagrados
teriam a função de fundir ethos e visão de mundo. E ao fundi-los, a religião dá ao
conjunto de valores sociais uma aparência de objetividade. Assim, em rituais e nos
mitos, os valores aparecem não como preferências subjetivas, mas como condições
de vida.
A religião foi um tema de estudo importante na história da Antropologia e
ainda é fundamental para se analisar a vida social. A diversidade de crenças, o
modo como às religiões tradicionais se alteram e estão associadas às mudanças
sociais são temas fundamentais para se compreender o mundo contemporâneo.
Como instituição, as religiões possuem também um papel importante na
organização social, uma vez que fornecem um direcionamento para os
comportamentos e uma compreensão específica sobre os sentidos do mundo.
4 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
3 Outras alteridades
5 CONCEITOS FUNDAMENTAIS
REFERÊNCIAS
BRAH, Avtar. 2006. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu, n. 26, p. 329-
376, 2006.
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FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2004.
LEACH, Edmund. Nascimento Virgem. In: MATTA, Roberto da (Org.) Edmund Leach.
São Paulo: Editora Ática, 1983.
SAHLINS, Marshall. What Kinship Is—And Is Not. Chicago: University of Chicago Press,
2012.
_______, Marshall. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2003.
_______. O "pessimismo sentimental" e a experiência etnográfica: por que a cultura
não é um "objeto" em via de extinção (parte I). Mana, v. 3, n. 1, p. 41-73, 1997.