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Antropologia, cultura e sociedade

A antropologia é o estudo do outro, o estudo do homem e de suas relações


sociais e culturais. É ela se divide em várias áreas como por exemplo, a
antropologia biológica que estuda as características do comportamento
humano em sentido biológico, ou seja, sua origem, evolução e suas variações
físicas. E existem muitas outras áreas como: arqueologia, linguística,
antropologia cultural, antropologia social, etc.

É possível dizer que o inicio do pensamento antropológico começou com as


grandes navegações e o trabalho que os viajantes faziam de relatar os
aspectos físicos dos lugares em que eles visitavam, bem como escrever sobre
seus habitantes, modos de se vestir, comunicar e relacionar entre si. E embora
os viajantes não tivessem formado uma escola antropológica eles contribuíram
muita para o surgimento delas.

Os evolucionistas foram a primeira escola antropológica e eles buscavam uma


legitimação da antropologia como ciência, por isso faziam uso da biologia, já
que esse era um campo de estudo visto com respeito. Autores como Henry
Morgan, James Frazer e Edward Taylor propunham que as culturas passavam
pelo mesmo estágio evolutivo, o primeiro deles é a selvageria, segundo
barbárie e por fim Civilização, no qual esse último seria o estágio mais
avançado de determinada sociedade humana. Estes antropólogos são
chamados de antropólogos de gabinete, pois eles não iam a campo realizar
suas pesquisas, apenas liam as anotações e os as cartas escritas pelos
viajantes e faziam uso do método comparativo em que eles escolhiam um
elemento comum entre esses povos e faziam uma comparação entre eles, ao
invés de estudar a importância desse elemento em uma comunidade
especifica, ou seja, os evolucionistas faziam observações mais amplas e
generalizadas.
O antropólogo Franz Boas que fazia parte da escola culturalista norte
americana fez duras críticas aos evolucionistas culturais e as suas noções de
determinismo biológicos e geográficos, da mesma forma que se posiciona
contra os antropólogos de gabinetes e suas generalizações, pois ele defendia
que os elementos culturais não tinham relações geográficas ou biológicas e sim
na interação entre os indivíduos e a sociedade. Uma das principais
contribuições do Boas foi a ideia de etnocentrismo que consiste em estudar
cada cultura individualmente de acordo com seus próprios termos.

Boas também defendia o relativismo cultural no qual ele acredita que cada
cultura é diferente e tem suas particularidades, portanto é preciso observa-las
dentro de seu próprio contexto sem se apegar a pressupostos advindos de
outras culturas. Desta forma o culturalismo americano de Boas contribuiu para
a quebra de paradigma de que existem raças superiores a outras, demostrando
que para se estudar o outro é preciso se desprender de seus próprios
conceitos civilizatórios e pensar que a cultura não é algo abstrato e sim relativo.

Outro antropólogo que contribuiu bastante para tornar a antropologia como é


hoje foi Bronisław Malinowski um dos grandes representantes do funcionalismo
que consistia em observar os povos estudados em todos os aspectos, pois
para eles tudo que existia nessas sociedades tinha uma razão de ser. É
possível dizer que a maior contribuição que o Malinowski deixou foi a etnografia
que se caracteriza por uma observação participativa, ou seja, fazer a
comunidade parte do processo construtivo.

Émile Durkheim, embora sociólogo também teve certa relevância nos estudos
antropológicos, sua ideia de que a sociedade é mais que a soma das partes e
sim uma coletividade que é diferente da soma dos indivíduos e que diversas
ações humanas são consideradas um fato social, como por exemplo, o suicídio
que é comum a todas as sociedades, Durkheim defendia que os fatos sociais
devem ser tratados como coisa e que sua explicação está na sociedade e não
nos indivíduos. Marcel Mauss sobrinho de Durkheim sofreu influência e de
certa forma deu um aprimoramento a obra de seu tio, no qual ele acredita que
as características que conduzem as ações sofrem influências de várias partes
valores diversos e da mesma forma importantes. Para Mauss as diversas
esferas da vida social e psicológica são ligadas de forma complexa pelo o que
ele denomina como “fatos sociais totais".

Em sua obra Ensaio da dádiva Mauss faz referências a conceitos


evolucionistas principalmente por analisar a sociedades através de relatos.
Este livro influenciou grandes antropólogos como Claude Lévi-Strauss, nele o
autor trata da característica simbólica da dádiva e de como através dela pode-
se criar alianças e de certa forma alicerçar as relações sócias de determinadas
sociedades.

O estrutural funcionalismo de Radcliffe Brown faz críticas aos métodos


evolucionistas por compreender que as organizações sociais existem por
serem funcionais às necessidades dos povos e não por advirem de um
passado em que esses povos se originaram. O estrutural-funcionalismo de
Brown se diferencia do funcionalismo de Malinowsky, pois o primeiro estuda a
sociedade como um sistema de instituições que existem independentemente
do indivíduo., enquanto o segundo está focado nas funções sociais e os
elementos dessa função ou fato cultural que tem relação com o individuou e
com a sociedade como um todo.

E por fim Lévi Strauss foi o principal antropólogo do estruturalismo, nessa


escola, as culturas se caracterizam como sistemas de signo, estruturados e
compartilhados por princípios que definem o funcionamento intelectual. Para
Laplantine, “Foi a partir do estudo do parentesco que se constituiu o
estruturalismo de Lévi-Strauss. O parentesco para ele, é uma linguagem onde
não basta conhecer os seus termos, é necessário conhecer as relações entre
esses termos, regidas por leis de troca análogas às leis sintáticas da língua.
Quando se estuda o parentesco, a linguagem ou economia das trocas estamos
diante de diferentes modalidades de uma única e mesma função: a
comunicação (ou a troca), que é a própria cultura.”

Lévi-Strauss se destacou nos estudos sobre parentesco. No livro Estruturas


elementares do parentesco, ele aplica a visão estrutural, para demonstrar que
o incesto é um tabu em quase todas as sociedades, na qual existem regras e
proibição para tal prática. O tabu pode ser entendido como um mecanismo de
social que reflete o domínio da cultura diante da natureza. Para Strauss a
linguagem é o princípio de tudo, pois é algo inerente ao homem, todas as
sociedades têm a capacidade de se comunicar e desenvolver uma linguagem
própria e o próprio sistema de parentesco se configura uma linguagem, pois ele
tem como destino garantir um certo tipo de comunicação entre os indivíduos.
Enfim para Lévi Strauss a cultura é um conjunto de sistemas simbólicos, entre
os quais se incluem a linguagem, as regras matrimoniais, a arte, a ciência, a
religião e as normas econômicas.

Referências

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. SP, Brasiliense, 2007

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