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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


DISCIPLINA: CULTURA E MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
PROFESSOR: FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR
MESTRANDA: JOICIANE RODRIGUES DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA: PARADIGMAS DOS ESTUDOS CULTURAIS

RECIFE-PE
2023
Resenha por Joiciane Rodrigues de Sousa

Esta resenha foi feita a partir do capítulo "Estudos Culturais: dois paradigmas", do
livro "Da Diáspora: identidade e mediações culturais", de Stuart Hall, no qual discorre sobre
as mudanças de perspectivas nos estudos culturais, em que velhas correntes de pensamento
são rompidas, e novas premissas e temas surgem, devido à dialética de poder e conhecimento.
As transformações históricas é que dão garantia as correções do trabalho intelectual.
Aspectos densos e concretos do estudo de Hoggart, sobre a cultura da classe
trabalhadora e da reconstrução histórica da formação da cultura de classe e das tradições
populares, em conjunto com Thompson, constituíram a ruptura e definiram um espaço para
brotar uma nova área de estudo e prática. Inicialmente no centro de Birmingham, e depois se
espalhou por meio de cursos e publicações provenientes de diversas fontes e lugares.
Williams propõe duas maneiras distintas de conceituar cultura, a primeira se relaciona
a soma de descrições disponíveis pelas quais as sociedades dão sentido e refletem as suas
experiências comuns, pelo qual levanta e retrabalha a conotação do termo cultura com o
domínio das ideias. Já a segunda é mais deliberadamente antropológica e enfatiza o aspecto de
cultura que se refere às práticas sociais, de uma forma mais simplificada como modo de vida
global, o uso mais documental do termo é ser descritivo ou até mesmo etnográfico. A cultura
não é uma prática, nem a soma descritiva dos costumes e culturas populares das sociedades.
Várias revisões radicais dessa postura têm sido realizadas e estas têm contribuído para
a redefinição de como os estudos culturais são ou deveriam ser. Williams leva em conta a
crítica de Thompson segundo a qual nenhum modo de vida global existe sem a sua dimensão
de luta e confronto com modos de vida opostos, e tenta pensar as questões-chave de
determinação e de dominação através do conceito de hegemonia de Gramsci. Nenhuma
cultura dominante, de fato, esgota a prática, a energia e as intenções humanas.
O paradigma dominante se opõe ao papel residual e de mero reflexo atribuído ao
cultural. Em suas várias formas, conceitua a cultura como algo que se entrelaça a todas as
práticas sociais, e essas práticas por sua vez, como uma forma comum de atividade humana.
Essa linha de pensamento prefere a formulação mais ampla, a dialética entre o ser e a
consciência social, inseparáveis em seus polos distintos, o qual define cultura ao mesmo
tempo como os sentidos e valores, que nascem entre classes e grupos sociais diferentes.
No estudo de Oosterbaan e Jaffe (2022), foi apresentado que as artes visuais e a
música e dança, podem ser utilizados como formas estéticas de constituir e normalizar uma
ordem sócio-política. Demonstrando assim, que esses artefatos culturais podem representar os
sentidos e valores de um determinado grupo, no caso apresentado se tratou de organizações
criminosas, pelo qual se apropriavam dos mesmos para alcançar os seus objetivos. No
entanto, são usados também por outros grupos ao mesmo tempo e com outras finalidades.
A vertente culturalista dos estudos culturais foi interrompida pela chegada dos
estruturalismos. Possivelmente mais diversificados, todavia compartilhavam de orientações e
posições que tornavam sua designação não totalmente equivocada. Suas intervenções foram
articuladas em torno da linhagem marxista. O marxismo senão o próprio Marx, com
frequência excessiva, usou uma lógica que pressupunha que as práticas sucedessem
diretamente à práxis. Sem questionar a primazia das infraestruturas, é possível destacar que
sempre há um mediador entre a práxis e as práticas, independente do esquema conceitual.
Lévi-Strauss conceituou cultura como categorias e quadros de referência linguísticos e
de pensamento através dos quais as diferentes sociedades classificam suas condições de
existência, também pensou como essas categorias e referenciais mentais eram produzidos e
transformados, em grande parte por meio de uma analogia com a própria linguagem, e ainda
abandonou a questão da relação entre práticas significantes e não significantes.
Enquanto no culturalismo a experiência era o terreno vivido, em que interagiam a
condição e a consciência, no estruturalismo a experiência não poderia ser fundamento de
coisa alguma, pois só se podia viver e experimentar as próprias condições nos quadros de
referência de cultura. Nem o culturalismo nem o estruturalismo em suas atuais manifestações,
se adaptam à tarefa de construir um estudo de cultura como domínio conceitual definitivo.
As vantagens do culturalismo podem ser derivadas das deficiências da posição
estruturalista e de seus silêncios e ausências estratégicas. Insistiu corretamente no momento
afirmativo de desenvolvimento da organização e da luta consciente como elemento necessário
à análise da história, ideologia e consciência, contrariamente ao seu persistente rebaixamento
no paradigma estruturalista. O culturalismo restaura adequadamente a dialética existente entre
o inconsciente das categorias culturais e o momento de organização consciente.
Paradigmas podem ser empregados diante das fraquezas radicais ou deficiências dos
que se oferecem como pontos de convergência alternativos. Podem estar voltados ao
seguimento lógico, mais do que temporal, à tentativa de retorno aos termos de uma economia
política de cultura mais clássica, e ainda está intimamente relacionado à iniciativa
estruturalista, mas seguindo caminho da diferença até a heterogeneidade radical. Enfatiza-se,
que embora culturalismo, nem o estruturalismo bastem, como paradigmas autossuficientes,
eles são centrais para o campo da cultura, o que falta em outros, porque em si nas suas
divergências e convergências, eles enfocam no que deve ser o problema central de pesquisa.
Esta resenha trás uma reflexão importante acerca da definição do termo cultura, que
sofreu diferenciações conforme os paradigmas dos diversos pesquisadores. Mesmo
convergindo em torno dos termos da mesma problemática, podem apresentar uma teoria
dicotômica, e com isso não tem como seguir as várias ramificações ao mesmo tempo, uma vez
que os debates e argumentos não possibilitem o consenso de discussão entre eles.

REFERÊNCIA

HALL, S. Da Diáspora: identidade e mediações culturais. Editora UFMG: Brasília, 2003.

OOSTERBAAN, M.; JAFFE, R. Arte Popular, Crime e Ordem Urbana Além do


Estado. Teoria, Cultura e Sociedade , v. 39, n. 7, p. 181-200, 2022.

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