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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


DISCIPLINA: CULTURA E MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
PROFESSOR: FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR
MESTRANDA: JOICIANE RODRIGUES DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA: INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS CULTURAIS

RECIFE-PE
2023
Resenha por Joiciane Rodrigues de Sousa

Esta resenha foi feita a partir dos três primeiros capítulos, do livro introdução aos
estudos culturais, de Armand Mattelart e Érik Neveu, no qual apresenta a evolução do
conceito de cultura no universo literário desde a última metade do século XX, apresentando a
concepção de autores como Carlyle, Arnold, Leavis, Hoggart, Williams e Thompson. Durante
o texto aborda a comunicação através do destaque ao impacto da mídia televisiva e imprensa.
O primeiro capítulo se trata da crítica cultural à sociedade burguesa, no qual os
intelectuais citados denunciaram os estragos da vida mecanizada, como efeito da civilização
moderna. As obras dos mesmos podem ser utilizadas como fonte de reflexão das mazelas
impostas pela classe dominante. Carlyle critica a industrialização precoce da Inglaterra.
Arnold é autor de ensaios sobre igualdade, democracia e a função da crítica da vida pública.
Leavis faz a consagração acadêmica dos English Studies, introdução dos estudos ingleses no
currículo normal das universidades. Hoggart abriu o leque das teorias e das práticas culturais
dos setores críticos. Williams e Thompson com inspiração marxiana apresentaram a ideia de
resistência à ordem cultural industrial, por meio das relações de poder e mudança social.
Um dos temas abordados é a cultura de massa, no qual seria necessário explicar que a
imprensa popular só estava presente por razão de lucro, um produto inevitável da sociedade
industrial. Com isso, os partidários da educação tiveram que escolher entre apoiar ou não a
classe operária, através de uma abordagem sociológica que buscasse mobilizar pessoas.
Assim, propostas foram feitas para um controle democrático da mídia, a fim de sair de uma
visão essencialmente instrumental da mídia, para reduzir a influência das propagandas.
No fim dos anos 1950 houve uma contribuição, na difusão dos autores e seus objetos
de estudo do mundo cultural. Nesse período havia pessoas de origens populares formadas pela
primeira vez nas faculdades, que chegavam a cargos executivos e tornavam-se professores.
Da marginalidade a solidariedade, possibilitou a inclusão de figuras deslocadas no mundo
universitário britânico, em que possuíam experiência da diversidade de culturas. Com isso,
emergiram editores de revista de esquerda e feminista, possibilitando avanços na área.
No segundo capítulo, mostrou o auge dos estudos culturais com a criação do Center
for Contemporary Cultural Studies (CCCS) na universidade de Birmingham. O centro levou a
junção de teorias, trabalhos inovadores com objetos julgados até então como indignos na
academia, que levou a produção de vários trabalhos. Os métodos e os instrumentos da crítica
textual e literária deslocaram para o universo das práticas culturais populares.
Esses novos estudos se mostraram sensíveis às dinâmicas sociais, observando as
subculturas e significação dos estilos de vida, que deram origem a uma gama de monografias
desde o início dos anos de 1970. As subculturas britânicas como bikers, hippies, mods, punks,
rastas, rockers, ruddies, skinheads e teddy boys, no qual analisava os marcadores
vestimentares e capilares desses grupos. Pode se fazer uma analogia ao artigo "Era um
Biquíni de Bolinha Amarelinha tão Pequenininho”: análise de um artefato cultural de moda e
sua [re]significação a partir dos Estudos Culturais", ao apresentar o biquíni como força
política de afirmação social e de resistência para a identidade das mulheres. Esses costumes
foram e continuam sendo forma de estigmatizar os comportamentos e os seus autores.
Foi discutida a questão dos jovens dos meios populares com a instituição escolar. Em
uma abordagem etnográfica, Paul Willis esclarece a tensão do comportamento rebelde dos
boyzinhos e dos manos, marcado por modos diversos de submissão, uma masculinidade
agressiva, recusa a se comportar com os valores intelectuais e a docilidade requerida pelas
instituições. Além disso, a mancha de óleo destacou as extensões de gênero e raça, em que
nota que os personagens são quase sempre homens brancos. Também verifica as atividades
das classes populares, para interrogar as funções que assumem perante a dominação social,
tais como frequentar um pub, assistir ao jogo de futebol e participar de festas populares.
O objeto cultura é pensado em uma problemática de poder, a noção de ideologia faz
parte do legado marxista que inspira a maioria dos pesquisadores dessa corrente. Discursos e
símbolos dão aos grupos populares uma consciência de sua identidade e de sua força, ou
participam do registro alienante das ideias dominantes. Tudo a começar pela desigualdade é
funcional, que seria a principio numerosas práticas culturais. A teoria do movimento
comunista estabelece relação entre classe e produção, mercado capitalista e lutas sociais.
No terceiro capítulo discorre sobre as ambivalências dos canteiros da recepção, um
deslocamento feito em 1980 rumo a um estudo das modalidades diferenciais de recepção da
mídia pelos diversos públicos, sobretudo, os programas de televisão. Nesse contexto, os
pesquisadores buscaram métodos de observação e de compreensão dos públicos reais,
especialmente por meio de técnicas etnográficas, e ainda de grupos focais.
Para entender a evolução dos estudos culturais colocou sobre ênfase não apenas o puro
mundo das ideias e dos métodos, todavia explorar mudanças da economia e do Estado, os
desafios das identidades, as tensões entre global e local. Os estudos feministas sobre a mídia
ganharam destaque, enfatizando os fatores de sexualidade, beleza e corpo retratados nos
programas ou publicações destinados a mulheres, a fim de compreender os consumos.
Os equilíbrios autocomplacentes podem ser reequilibrados, não há impedimento de
que os estudos culturais e o neofuncionalismo se alinhem em oposição aos que persistem em
pensar a interpenetração das culturas, das economias e das sociedades através do
reconhecimento da troca desigual entre essas culturas, e das lógicas de exclusão inerentes ao
processo de integração mundial dos sistemas técnicos e econômicos.
O livro resenhado é de suma importância para que os leitores possam refletir acerca de
problemas da sociedade, que se perpetuaram ao longo dos anos, como o poder exercido pelas
classes dominantes e o comportamento impregnado nas pessoas, que pode ser influenciado
pelas fontes de comunicação de massa. Poderá contribuir principalmente para futuros
pesquisadores do campo, uma vez que expõe os autores e acontecimentos importantes, como a
observância de convergências nos movimentos epistemológicos de pesquisa dos partidários
dos estudos culturais, a terceira geração se aproximou dos tradicionais dos anos de 1970.

REFERÊNCIAS

LACERDA, C. C. de O.; PAIVA JÚNIOR, F. G. de; MELLO, S. C. B. de. “Era um Biquíni


de Bolinha Amarelinha tão Pequenininho”: análise de um artefato cultural de moda e sua [re]
significação a partir dos Estudos Culturais. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 9,
n. 2, 83-113, 2020.

MATTELART, A.; NEVEU, E. Introdução aos Estudos Culturais. São Paulo: Parábola
editorial, 2004.

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