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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


DISCIPLINA: CULTURA E MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
PROFESSOR: FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR
MESTRANDA: JOICIANE RODRIGUES DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA: A CONVENIÊNCIA DA CULTURA

RECIFE-PE
2023
Resenha por Joiciane Rodrigues de Sousa

Esta resenha foi feita a partir do capítulo "a conveniência da cultura", do livro "a
conveniência da cultura: usos da cultura na era global", de George Yúdice, no qual discorre
acerca da cultura como recurso, desenvolvimento, economia e a cidadania cultural, e a
conveniência da cultura como nova episteme da palavra. Mostra a ressignificação da palavra
cultura, de um modo de vida a um produto do sistema. Os artefatos culturais como a música,
vídeos, filmes passaram a fazer parte da indústria de entretenimento global, sem considerar as
diferenças de cada local, isso a partir do investimento de setores não governamentais.
Uma forma de convencer aos líderes governamentais, que é vantajoso investir em
atividades culturais, pode ocorrer através do argumento da possibilidade que tem em reduzir
conflitos sociais e contribuir para o desenvolvimento econômico, a partir da propriedade
intelectual. Defende-se uma melhoria na educação, abrandamento da rixa social, reverter à
deterioração urbana, criar empregos, diminuir a criminalidade e talvez gerar até lucros.
A cultura como recurso tem um significado amplo, voltado mais para um poder
disciplinar, com a imposição de normas e regras por instituições detentoras da racionalidade.
Os dominados podem usar por conveniência a sua cultura, com a finalidade de angariar força
em meio à hegemonia dos poderosos. Dessa maneira, pode destacar a luta dos grupos por uma
posição mais justa, seja oriundo de classe, gênero, raça, nacionalidade ou religião.
Houve uma mudança do comportamento humano na Europa do século XIX, artistas e
escritores começaram a surgir. Esse marco permitiu que a arte e a cultura favorecessem a
tolerância multicultural e a participação cívica dos cidadãos. O aparecimento de museus para
o turismo cultural levou a abertura de um grande número de franquias empresariais. Assim, a
globalização facilitou a disseminação de um pluralismo de ideias.
O patrimônio gera valor pra sociedade, seja por expressão natural ou construída. Esses
produtos da cultura podem ser financiados, mas para isso acontecer é necessário que os
investidores tenham confiança de que haverá retorno. Observa-se o quão comerciável a
cultura se tornou. Um exemplo, os concursos de música da Colômbia, que recebia pessoas de
toda parte do país, inclusive de regiões em guerrilha, o que dava como chance de retorno a
possibilidade do processo de pacificação dos conflitos, criando um ambiente mais seguro.
A cultura se transformou na própria lógica do capitalismo contemporâneo. A
criatividade de todas as nações tornou-se meio de produção. Para isso, houve acordos
comerciais e de propriedade intelectual. Após a segunda guerra mundial, a Hollywood
começou fazer investimentos, contratando do exterior, companhias de produção independente,
para prestar serviços como desenvolvimento de roteiros, elenco, cenários ou cinematografia.
O surgimento de inovações tecnológicas faz com que se propague uma nova
organização das cidades, em virtude da economia criativa, bares, restaurantes e encontros em
rua podem ser estruturados. Por outro ângulo, essas iniciativas pode ter como desvantagem o
deslocamento dos residentes, justificando-se pela diminuição do risco de violência na compra
e venda de experiências. No sistema de metrô de Bilbao, câmeras de segurança foram
colocadas em todas as estações para monitorar as tarefas dos viajantes. Até que ponto essas
ascensões sociais trazem pontos positivos para as culturas que estão vendendo seus produtos?
A cultura serve de base para as reinvindicações de direitos no terreno público,
transformando-a em recurso. Logo, destaca-se a sua conveniência para resolver os problemas
da comunidade, abrindo mão da sua especificidade, a fim de resolver problemas que antes era
de domínio da economia e da política. Para conseguir direitos à comunidade, multiplicam-se
as suas mercadorias. Não se trata de corrupção ou redução cínica dos modelos simbólicos ou
estilos de vida. A finalidade é controlar os fundos públicos que fluem através desses canais.
Desse modo, essa transformação de cultura representa o surgimento de uma nova episteme.
Com a globalização houve a expansão econômica, que produziu o encontro de
diversas tradições. Dessa forma, a cultura passou a não ser mais vista de forma isolada. O
alcance interventivo dos Estados Unidos e da Europa Ocidental foram caracterizados como o
imperialismo cultural. Percebe-se uma lavagem cerebral no mundo todo, ocasionada pela
ponte de Hollywood, entretanto, as minorias questionam a agressão simbólica do poder
imperial, e a juventude negra brasileira utiliza a música rap nos seus projetos antirracistas.
Nessa ótica, encontra-se o instrumento de internalização das normas por meio da
disciplina. Desse modo, o governo atua como regulamentador daquilo que pode ser calculado
e gerenciado. Conforme a globalização se aproxima de culturas diferentes para contato mútuo,
aumenta a necessidade das normas. As relações hegemônicas dependem de que o significado
de cada elemento do sistema social não esteja fixo, o sistema se alimenta da desordem.
O texto sintetiza, que a conveniência da cultura em qualquer invenção que seja da
tradição, se dar por um objetivo ou propósito. Há quem critica e diz que houve distorção da
verdade para seus próprios fins, e aqueles que defendem a cultura como recurso, ao
argumentarem que ela alterou os fatos dos acontecimentos, para tornar sua narrativa mais
atraente para resolver as situações difíceis do seu povo, determinando o valor de uma nação.
Este texto resenhado traga uma contextualização de suma importância, uma vez que os
leitores podem compreender a relação de conveniência entre a globalização e a cultura, no
sentido de que existem uma adequação ou pertinência entre elas. Os grupos minoritários
precisam se comportar conforme a dominação vigente, para que também possa adquirir mais
forças para lutar. E isso, torna-se possível com a comercialização de sistemas simbólicos.

REFERÊNCIA

YÚDICE, G. A conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Belo Horizonte:


Editora UFMG, 2006.

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