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Vol. 7 Nº1 págs. 57-71.

2009
https://doi.org/10.25145/j.pasos.2009.07.005
www.pasosonline.org

Políticas da cultura em Portugal e Espanha

Marta Anico ii
Universidade Técnica de Lisboa (Portugal)

Resumo: Este artigo incide sobre as políticas culturais, um âmbito que articula dois conceitos centrais
das ciências sociais: cultura e poder. Apesar do retraimento do investimento nas políticas sociais dos
Estados, a análise do campo da cultura revela a sua crescente penetração nos contextos nacionais e
cenários internacionais. São múltiplas as razões apontadas para justificar a intervenção pública dos
Estados, partindo sobretudo da existência de uma necessidade colectiva que resulta na produção de
discursos sobre a cultura enquanto bem público, que contribui para o progresso e coesão e
desenvolvimento integral dos cidadãos. A premissa de que a cultura constitui um factor de união situado
no cerne do desenvolvimento humano é, pois, recorrente, conforme ilustra a análise dos casos português
e espanhol.

Palavras-chave: Cultura; Poder; Políticas culturais; Portugal; Espanha.

Abstract: This paper discusses the subject of cultural politics, combining two key concepts for the social
sciences: culture and power. Despite de decrease in the public investment in social politics, the analysis
of the cultural field reveals an increase in its presence in both national and international spheres. There
are many reasons that account for the public intervention of states in culture, which are mainly con-
cerned with the assumption that it is a collective good that should be shared and accessed by all citizens.
This results in the production of social and political discourses concerning the benefits of culture regard-
ing social cohesion, development and progress, as shown by this analysis of the cultural politics of both
Portugal and Spain.

Keywords: Culture; Power; Cultural politics; Portugal; Spain.

ii
• Marta Anico. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (Universidade Técnica de Lisboa). E-mail:
manico@iscsp.utl.pt

© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121


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Poder e cultura. Génese dos estudos de políticas, das práticas e dos produtos
políticas culturais culturais (Baldwin et al., 2004).
O poder encontra-se presente em todos
A temática das políticas culturais os níveis e dimensões das relações sociais,
articula dois conceitos fundamentais para por vezes sob a forma de uma força coerciva
as ciências sociais, a saber, cultura e poder. mas, em muitas ocasiões, emerge de um
A formalização desta relação entre cultura modo bastante mais subtil, consentido e
e poder reporta-se em termos históricos ao consensualizado. Assim sendo, dada a
século XVII, período em que a cultura natureza processual da cultura e o seu
emerge na esfera pública e se inscreve no papel na articulação dos elementos que
quotidiano das populações, à medida que se formam parte das formações sociais, a
reconhece as suas potencialidades cultura, na sua dimensão relacional e
transformadoras e reformadoras, enquanto negocial surge inevitavelmente vinculada
mecanismo de controlo e regulação social ao poder (Barker, 2000).
(Bennett, 1998). No entanto, as suas Não sendo o nosso propósito debater o
origens são mais recuadas já que, ao longo conceito de cultura, não poderíamos deizar
da história, o desejo de acumular, expressar de mencionar que as reflexões em torno
e exercer o poder tem marcado presença em deste conceito revelam a sua extraordinária
todas as sociedades e, neste contexto, a complexidade, uma complexidade que se
cultura apresenta-se como um recurso traduz na multiplicidade de significados
particularmente eficaz no cumprimento que lhe têm sido atribuídos ao longo da
deste propósito. Com efeito, se recuarmos à história e que Raymond Williams (1963)
antiguidade clássica iremos encontrar procurou sistematizar em três categorias
inúmeros exemplos de sacerdotes, príncipes fundamentais: i) definições de cultura
e chefes militares que utilizavam os seus referentes ao domínio das artes e das
“tesouros” com uma finalidade actividades artísticas: ii) a cultura
propagandística, de objectificação de poder, entendida na sua acepção antropológica,
geralmente associada à conquista e enquanto modo de vida; e, finalmente, iii) a
dominação de outros povos.1 Os objectos cultura enquanto processo de
transformavam-se, assim, em símbolos de desenvolvimento, de crescimento, de
poder político, militar, ideológico e social, transformação das capacidades de
marcadores de distinção entre aqueles que indivíduos e de grupos sociais.
detinham a sua propriedade e exibiam as Tendo percorrido um longo caminho
suas riquezas privadas na esfera pública e desde a antiguidade clássica a que fizemos
a restante população, de quem se esperava referência anteriormente, a cultura deixou,
uma atitude de reverência, subordinação e por isso, de ser entendida como um
admiração, perante os objectos e os seus património ou um direito exclusivo de
proprietários.2 determinadas elites sociais. A cultura
Este artigo pretende, pois, debruçar-se generalizou-se, e é hoje encarada como um
sobre as qualidades intrínsecas da cultura, instrumento de intercâmbio, de
mas antes reflectir sobre as relações entre aprendizagem, de progresso e de
cultura e poder, bem como sobre os conhecimento de si mesmo e do Outro. Por
significados que as políticas culturais nos outro lado, a articulação de conceitos como
revelam acerca das sociedades e dos actores cultura e desenvolvimento, cultura e poder,
responsáveis pela sua definição, execução e cultura e economia, bem como o
avaliação. A cultura, enquanto processo estabelecimento de relações de
social, resulta da interacção entre diversos interdependência a nível supranacional
grupos sociais e actores individuais e, como entre Estados e organizações são alguns
tal, é moldada pelas relações de poder que dos factores que contribuíram para a
operam nas sociedades em função dos transformação dos debates e as reflexões
interesses dominantes em cada momento e sobre a cultura em algo prioritário nas
em cada formação social. Neste sentido, o agendas das sociedades contemporâneas,
poder configura-se como um elemento não só no âmbito académico mas, também,
incontornável na interpretação das na esfera política.

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Do ponto de vista da análise social e políticos fundados sobre a reificação e


cultural, como qualquer outra produção mitificação da cultura enquanto bem
humana, as políticas culturais revelam público, um bem público que contribui para
importantes pistas acerca das condições o progresso e coesão social, para a
históricas, sociais, económicas e ideológicas formação, educação e desenvolvimento
em que são produzidas, e fornecem integral dos cidadãos, essencial para
informações pertinentes sobre os aspectos garantir os princípios e os valores dos
que, em cada momento, são mais Estados democráticos como a liberdade, a
valorizados pelos diferentes grupos sociais. justiça ou a igualdade. Neste cenário, a
Neste sentido, as políticas culturais intermediação surge como o espaço político
definidas e formalizadas pelos Estados têm natural para o Estado que, mediante a
registado transformações significativas nos formulação de políticas culturais e através
últimos anos. Assim, para além dos da sua intervenção e relação com
objectivos clássicos de defesa e protecção do instituições e agentes, que produzem e
património e da memória colectiva, as administram a forma e os conteúdos dos
políticas culturais têm vindo a incorporar produtos culturais (museus, bibliotecas,
muitos outros propósitos relacionados com centros culturais, fundações, teatros, etc.),
a promoção e a expressão artística, com a interfere quer na esfera da produção, quer
integração e coesão social ou o respeito pela na esfera do consumo.
criatividade e diversidade cultural.3 A intervenção pública no sector cultural
Por outro lado, os espaços e os âmbitos parte, portanto, da assumpção da
de intervenção dos agentes culturais existência de uma necessidade colectiva à
ampliaram-se e surgiram novos desafios e qual o Estado deve dar resposta, o que
oportunidades em áreas como as novas pressupõe, simultaneamente, a construção
tecnologias, o direito, a fiscalidade, a e a veiculação de um discurso legitimador
participação do sector privado, para citar dessa mesma intervenção, baseado na
apenas alguns exemplos. A própria enunciação das suas vantagens, de modo a
complexidade do sector da cultura, cada vez justificar as opções tomadas por cada
maior, e a diversidade de instrumentos e Estado e por cada Governo. A cultura, as
mecanismos de implementação das suas produções, manifestações e expressões
políticas culturais, aliadas às crescentes contribuem, por isso, com importantes
exigências no sentido da articulação de elementos para a governação relacionadas
necessidades e interesses das múltiplas com o tipo de valor que lhe é reconhecido
comunidades que coexistem nas sociedades pelas sociedades. Com efeito, a cultura
contemporâneas, evidenciam as mudanças encerra não só um valor económico, se
operadas neste domínio da intervenção tivermos em consideração as suas
pública. potencialidades em termos da criação de
Neste contexto, os próprios paradigmas emprego, da comercialização de produtos,
relacionados com as políticas culturais, ou da promoção do turismo cultural, como
sobretudo no que concerne às perspectivas também apresenta um valor estético, um
baseadas nas teorias da distinção valor espiritual, um valor histórico, um
(Bourdieu, 1984[1978]), foram objecto de valor simbólico e um valor social. Sempre
revisões críticas no plano teórico, que falamos de cultura falamos,
concomitantes com as próprias mudanças necessariamente, em algo simbólico e os
operadas na contemporaneidade associadas estudos sobre políticas culturais não podem
a fenómenos como a globalização, a crise do ignorar esta dimensão.
modelo político do Estado-Nação e do Assim, ao mesmo tempo que persiste a
modelo assistencialista do Estado- noção de que existem falhas no mercado
Providência, a fragmentação política, o que só o Estado pode corrigir e de que a
reordenamento geopolítico mundial, o cultura funciona como um elemento que
aparecimento de novos movimentos sociais, pode potenciar e atrair outras actividades
a crescente ênfase nas filações locais e económicas, por outro lado prevalece a ideia
regionais, entre muitos outros. de que a cultura apresenta uma natureza
Consequentemente, entramos na esfera simbólica, imaterial e que a relevância dos
da produção e circulação de discursos seus benefícios sociais que requer a

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intervenção do sector público (Henriques, outras coisas para a continuidade e


2002). Esta ideia surge directamente sustentabilidade dos valores políticos e
vinculada à noção de que a cultura é um culturais sobre os quais assenta o Estado
bem público, partilhado por um colectivo democrático, associados a um ideal de
social, que cria benefícios para um conjunto sociedade que se pretende fomentar no
amplo e diversificado de actores. Nesta presente e projectar para futuro. Este ideal
óptica, a cultura apresenta-se como um corresponde a uma imagem associada a
bem gerador de importantes benefícios valores de justiça, igualdade e progresso,
sociais que escapam às regras de profundamente influenciados pelos ideais
funcionamento do mercado, na medida em humanistas da Ilustração, segundo os quais
que a utilidade de que se reveste para um a formação, a educação e o desenvolvimento
indivíduo não diminui o benefício retirado individual se configuram como pilares
por todos os outros. A cultura é, portanto, fundamentais para garantir o
algo que pertence a todos, da qual todos. É desenvolvimento integral das sociedades, e
qualquer coisa a que todos devem poder que continuam a influenciar as políticas
aceder, participar e beneficiar em culturais dos Estados na
igualdade de condições, cabendo ao Estado, contemporaneidade.
através da sua intervenção pública, A presença da cultura no exercício da
assegurar esse princípio de igualdade. governação dos Estados é uma matéria que
Neste sentido, a política cultural pode tem sido amplamente analisada por Tony
ser entendida como um conjunto Bennet (1992, 1998), tendo por base as
estruturado de intervenções protagonizadas contribuições teóricas de Michel Foucault
por um ou vários organismos públicos na (1979, 1980) no que se refere à temática da
vida cultural, de forma a satisfazer as governamentalidade, entendida como o
necessidades culturais dos cidadãos, conjunto de práticas, instituições e
mediante a utilização dos recursos sistemas de classificação que permitem
disponíveis numa sociedade, num dado inculcar nas populações determinados
momento (Fernández, 1991). Ao abordar a valores, crenças, competências, hábitos e
temática das políticas públicas da cultura formas de conduta. De acordo com esta
estamos, pois, a referir-nos a um conjunto abordagem, a cultura seria integrante das
de estratégias que são definidas e tecnologias de poder que caracterizam as
implementadas pelos Estados com o sociedades modernas e que permitem
propósito de estabelecer uma relação entre organizar e moldar a vida social e as acções
os cidadãos e a cultura. Mas mais dos indivíduos, produzindo configurações de
importante do que fomentar o acesso e o poder/conhecimento específicas, que
consumo, são as possibilidades que estas exercem um efeito reformador, civilizador e
estratégias possam oferecer no sentido da regulador das populações a que se
participação destes mesmos cidadãos nos reportam.
mecanismos de decisão e da sua Esta é uma visão partilhada pelos
intervenção na concretização das teóricos da Escola de Frankfurt,
responsabilidades sociais dos Estados, quer nomeadamente por Theodor Adorno e Max
seja através de um envolvimento directo Horkheimer (1979), que sustentam que os
nos processos de produção, distribuição, produtos culturais que aparentemente se
promoção e consumo cultural, quer seja de apresentam como democráticos,
forma mais indirecta, noutros domínios de individualistas e diversificados, e que
participação cívica na vida social e política correspondem às chamadas indústrias
das sociedades. culturais são, na realidade, autoritários,
Estas considerações fundamentam-se no massificados e altamente estandardizados.
potencial simbólico da cultura, entendida Como tal, a aparente democratização
enquanto conjunto de valores e potenciada pela cultura não passa, na
conhecimentos partilhados pela sociedade opinião destes autores, de uma ilusão à
(Geertz, 1973) que, ao fomentar a união, a qual os cidadãos não podem escapar e que
partilha e o sentimento de pertença a um acaba por estruturar o pensamento,
colectivo, promove diferentes níveis de estimular o conformismo e produzir
coesão social e, deste modo, contribui entre reacções, que podem ser antecipadas e

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controladas pelos grupos detentores do


poder. Não só se trata de uma visão Origens e percursos das políticas culturais
bastante pessimista, determinista e em Portugal e Espanha
monolítica da cultura, que rejeita as
possibilidades processuais de criação e A participação das instituições de poder
interpretação de significados que no domínio da cultura, designadamente no
caracterizam as teorizações culturais mais que concerne ao Estado, apresenta um
recentes (Hall, 1997), como também não se longo percurso histórico, com origens e
apresenta adequada às características das sentidos partilhados em diferentes
sociedades contemporâneas, com a sua contextos nacionais. Nos casos de Portugal
fragmentação, heterogeneidade, e Espanha, as primeiras responsabilidades
segmentação e diversidade. e medidas políticas assumidas pelo Estado
Consideramos, por isso, que pese no domínio das artes e da cultura remetem-
embora a participação do Estado e de nos para a criação de instituições culturais
outros grupos de poder na definição e e artísticas públicas, como bibliotecas,
implementação das políticas culturais, não teatros e museus, equipamentos que
podemos considerar que se trata de um começam a surgir a partir do século XVII,
processo de imposição de valores, crenças e um pouco por toda a Europa, e se
comportamentos numa perspectiva top- expandem com maior intensidade já no
down, à qual se sucede uma reacção, seja século XVIII.
ela de aceitação, consensualização ou, pelo No estudo da relação entre cultura e
contrário, de contestação, num sentido poder, em geral, e na análise das políticas
bottom-up e numa lógica de acção-reacção. culturais, em particular, a Ilustração
Obviamente que a cultura é sempre política configura-se como uma referência histórica
e é sempre ideológica, na medida em que incontornável. O decréscimo da influência
traduz um conjunto de relações de poder e exercida pela Igreja na sociedade e a
muitas vezes “naturaliza” a ordem social e consequente laicização do Estado,
os valores culturais vigentes, mas tal não juntamente com a criação de instituições
acontece de uma forma meramente como museus, bibliotecas e academias, e a
hegemónica e impositiva, sendo antes fruto promoção de valores associados a uma
de um processo negocial. Como tudo o que cultura clássica datam, precisamente, deste
se prende com a cultura, as políticas período, igualmente marcado pela crescente
culturais configuram-se como um campo assumpção de responsabilidades por parte
processual, simultaneamente constitutivo e dos Estados ao nível da protecção do
expressivo, no qual circulam práticas e património histórico e cultural de cada
representações que se retro-alimentam e país, e que se traduziram na publicação de
influenciam reciprocamente, e onde leis e regulamentos de protecção de ruínas,
participam múltiplos actores, com edifícios e monumentos, bem como na
interesses muito diversificados. adopção de medidas relacionadas com a
Não obstante, a premissa de que a inventariação e conservação do património.
cultura se configura como um factor de Assim, e apesar das diferenças e
união, integração e coesão, situado no cerne singularidades próprias de cada contexto
do desenvolvimento humano, é recorrente nacional, reflectidas na implementação de
nos vários âmbitos das políticas culturais diferentes estratégias ao nível da
definidas pelos Estados. Por outro lado, e concretização e da implementação das
num cenário global de interpenetração de primeiras iniciativas em matéria de política
fluxos e de processos económicos, cultural, os exemplos aqui mencionados
comunicacionais e migratórios, a cultura evidenciam o progressivo envolvimento dos
tem sido chamada a desempenhar um papel Estados neste sector.
fundamental na criação de novos espaços Mas para além da partilha destes
geopolíticos e na criação de plataformas antecedentes históricos mais recuados, as
internacionais e transnacionais de semelhanças observadas entre os casos
participação, que operam como canais de português e espanhol na actualidade
comunicação e de intercâmbio de revelam uma considerável proximidade,
experiências e de conhecimentos. quer em termos das concepções, quer em

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termos dos mecanismos de implementação Central, que distribui competências e meios


dos modelos de políticas culturais, que pela Administração Regional e, sobretudo,
poderá estar relacionada com a história pela Administração Local, o modelo
recente de ambos os países. Portugal e espanhol é um modelo concorrencial no que
Espanha viveram sob regimes políticos se refere às competências em matéria de
ditatoriais durante grande parte do século cultura, que resulta numa dispersão de
XX, caracterizados por uma política recursos, meios e iniciativas entre os
cultural fortemente centralista e diferentes níveis de administração do
centralizadora, definida e organizada de Estado, a saber, o nível central, o
forma a celebrar as expressões e os valores autonómico e o municipal.
culturais tradicionais respectivos. Em Enquanto que em Espanha o nível
ambos os casos, assistiu-se à administrativo e político das Comunidades
implementação de instrumentos políticos Autónomas assumiu um forte
de planificação centralizados, destinados a protagonismo, conferindo às políticas
controlar as actividades e manifestações culturais um enfoque territorial, em
artísticas e culturais, bem como à difusão Portugal persiste um modelo concentrado a
de uma concepção estética formalizada no nível nacional, com uma relativa
sentido da reprodução na esfera pública dos homogeneidade territorial (ainda que os
valores ideológicos que norteavam os casos das cidades de Lisboa e Porto possam
regimes políticos de António de Oliveira ser considerados excepcionais), embora
Salazar e de Francisco Franco. simultaneamente considerado
A própria história contemporânea revela descentralizado, quer em termos de
igualmente pontos de convergência. investimento, quer em termos da atribuição
Salvaguardadas as devidas diferenças, uma de competências. No caso português, pese
vez que em Portugal a transição embora a Administração Local,
democrática se processou para um regime designadamente as Autarquias,
republicano (1974) e em Espanha para uma desempenhem um papel incontornável no
monarquia parlamentária (1975), ambos os campo da cultura, o panorama é bastante
processos de mudança de regime político diferente do observado no caso espanhol.
decorreram praticamente em paralelo, tal Na medida em que não existe, em termos
como a publicação dos respectivos textos administrativos e territoriais, um nível
constitucionais (1976, em Portugal e 1978 equivalente às Comunidades Autónomas e
em Espanha). A esta alteração dos regimes aos respectivos Estatutos de Autonomia, o
políticos seguiu-se um outro acontecimento modelo de descentralização da
com um profundo impacto nos dois Estados: administração cultural do Estado
a adesão conjunta à União Europeia (1986), português apresenta diferenças
cujas implicações vieram reforçar ainda consideráveis em relação ao modelo
mais as semelhanças já existentes entre os espanhol.
dois países. Como tal, no que diz respeito Observadas estas diferenças, podemos
aos modelos e objectivos genéricos da classificar o caso espanhol como um modelo
política cultural seguida pelos dois Estados, regionalista, e o caso português como um
e não obstante as diferenças decorrentes da modelo de política cultural descentralizada,
existência de modelos administrativos e cuja definição e implementação visa
territoriais diferenciados, podemos alcançar propósitos de descentralização,
considerar que as semelhanças prevalecem democratização e formação de públicos. Não
sobre as diferenças, num quadro global que se trata, contudo, como sucede no caso
se caracteriza pela convergência e espanhol, de uma transferência de
proximidade. competências jurídicas da Administração
Em termos organizativos e Central para as Comunidades Autónomas,
administrativos, as realidades dos dois mas antes de uma descentralização cultural
países são bastante diferenciadas. que se concretiza na atribuição de algumas
Enquanto que Portugal dispõe de uma responsabilidades aos municípios,
organização centrada em torno do Estado, sobretudo em áreas tradicionais como o
concentrando grande parte dos recursos património, e com particular destaque para
humanos e financeiros na Administração a criação e manutenção de museus

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municipais, mas também nos domínios das países.


bibliotecas, da formação ou da dinamização Mas as similitudes entre estes dois
cultural. Neste contexto, as redes de contextos de análise prosseguem
equipamentos e actividades culturais, que igualmente a um outro nível, que se prende
incluem a Rede de Leitura Pública, a Rede com a própria estrutura organizacional do
de Teatros, a Rede de Museus e a Rede de Ministério da Cultura, e com o facto de, em
Arquivos, configuram-se como um exemplo ambos os casos, se observar uma
de descentralização da vida cultural no descontinuidade em termos da inclusão
qual participam o Estado, as Autarquias e deste Ministério nas legislaturas dos vários
os concessionários privados, responsáveis governos que se sucederam no poder nas
pela manutenção e funcionamento destes últimas décadas. Com efeito, quer em
equipamentos culturais. Outra das Portugal, quer em Espanha, o Ministério da
diferenças entre ambos os modelos prende- Cultura engloba sob a mesma direcção sub-
se com a existência das Delegações sectores com trajectórias e lógicas de
Regionais de Cultura, organismos públicos actuação muito diferenciadas, como podem
que fazem parte da orgânica do Ministério ser os casos do cinema, do teatro, ou do
da Cultura português, que procuram património. E não só as trajectórias e
assegurar a homogeneidade da lógicas denotam diferenças significativas,
administração das políticas do Estado para como a própria representação pública e as
o sector cultural em todo o território práticas de relação entre cada um destes
nacional e que não têm correspondência no sectores e o Estado oscilam bastante. Esta
caso espanhol. diversidade de campos, que caracteriza a
Contudo, se nos posicionarmos numa esfera cultural dos dois países, dificulta
outra perspectiva de análise, verificamos enormemente a definição de uma política
que as semelhanças entre ambos os países cultural coerente e de objectivos comuns,
são bastante expressivas. O recurso à conduzindo à identificação de propósitos
criação de um Ministério da Cultura na generalistas e de carácter mais abstracto,
sequência da instauração da democracia, a como sejam, a democratização e o
centralidade conferida ao património, a desenvolvimento cultural, a igualdade de
prevalência da oferta sobre a procura, o oportunidades de acesso, a participação da
valor do financiamento público da cultura sociedade civil e do sector privado, entre
(com a atribuição de 1% do PIB a este outros.
sector), a produção legislativa em áreas Por outro lado, a criação de um
como a protecção do património ou os Ministério da Cultura não significa que a
direitos de autor, o apoio à produção cultura e a acção cultural se restrinjam à
cinematográfica, os planos nacionais de esfera de intervenção exclusiva deste
leitura, os incentivos à criação artística e organismo. Assim, e embora estejamos
literária, os investimentos na construção de perante uma administração integrada da
grandes equipamentos e projectos culturais cultura, na medida em que existe uma
(ex: Casa da Música, ampliações do Museu instituição claramente dominante em
do Prado e do Centro de Arte Reina Sofia), termos de definição e implementação da
bem como as dificuldades de articulação política cultural nos dois países, existem
entre os diferentes campos e níveis de múltiplos domínios de intervenção que se
actuação, e de coordenação entre o sector processam fora do âmbito do Ministério que
público e o sector privado, são alguns dos tutela este sector mas que, não obstante, se
indicadores de proximidade entre as cruzam e complementam as políticas
políticas culturais adoptadas por Portugal e culturais formalizadas pelos Estados
Espanha nas últimas décadas. Claro que, o através de um ministério com competências
simples facto de se observarem estas específicas neste sector. Podemos apontar
convergências não deve ser interpretado como exemplos paradigmáticos as relações
como um sinónimo de uniformidade ou culturais internacionais, que em ambos os
homogeneidade destas políticas, uma vez países se concretizam através da acção
que a forma como estas são implementadas desenvolvida por outros ministérios, como
e concretizadas no terreno conduz a sejam, o Ministério de Negócios
divergências significativas entre os dois Estrangeiros (em Portugal) e o Ministério

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de Assuntos Exteriores e Cooperação (em política cultural, venha a registar


Espanha), bem como a educação artística e alterações significativas num futuro mais
a formação de públicos escolares, que ou menos imediato. Neste sentido, podemos
remetem para o envolvimento dos antecipar uma mudança no modelo
Ministérios de Educação, que constituem intervencionista adoptado pelos Estados de
alguns dos exemplos mais evidentes desta Portugal e Espanha, exigida pelas
articulação e da transversalidade da transformações operadas na economia e na
cultura.4 sociedade à escala global, às quais os
Estados não podem permanecer alheios.
Políticas da cultura em Portugal e Mais do que uma mudança radical, o que se
Espanha. Desafios e oportunidades da perspectiva é, então, uma adaptação das
cultura no espaço ibérico políticas culturais de Portugal e Espanha
aos condicionalismos e circunstâncias
Um dos principais desafios que se particulares de cada momento.
colocam no campo da cultura em Portugal e Como tal, a partilha de
Espanha prende-se com a necessidade de responsabilidades entre o sector público e o
articular os objectivos e os interesses de sector privado e a racionalização das opções
diferentes actores. Contudo, conciliar a e prioridades deverão constituir, a curto
oferta e a procura, a necessidade de obter prazo, dois dos princípios orientadores das
uma rentabilidade económica e o políticas culturais no espaço ibérico, sem
pressuposto dos benefícios sociais inerentes que no entanto se processem alterações
a este campo nem sempre é fácil e produz, substanciais em termos do modelo e do
muitas vezes, a coexistência de dinâmicas volume de financiamento público da
contraditórias. Um dos exemplos mais cultura. De salientar que, no que diz
claros destas incoerências remete para a respeito ao modelo de financiamento da
persistente adopção por parte dos Estados cultura, pese embora a existência de alguns
de um modelo de política cultural em que matizes introduzidos por uma presença
prevalece um entendimento da cultura mais significativa do sector privado no caso
enquanto bem colectivo, que produz espanhol, designadamente através do
benefícios extensíveis a toda a população e patrocínio, do mecenato e do protagonismo
que, como tal, que deve ser gerido e de algumas fundações privadas, o peso da
tutelado pelo Estado, de modo a garantir a acção dos Estados a este nível constitui
igualdade no acesso e a participação de outro indicador da proximidade e das
todos os cidadãos. Mas, ao mesmo tempo, semelhanças partilhadas entre as políticas
são implementadas medidas de outra da cultura de Portugal e Espanha.
natureza, que visam estimular a Por outro lado, os últimos anos têm
participação da sociedade civil e do sector revelado uma crescente exigência dos
privado, com o propósito de promover a cidadãos em relação à transparência dos
diversificação e fomentar a processos políticos e à eficácia das medidas
profissionalização do sector e, não raras implementadas pelos Estados sendo que, no
vezes, alcançar um resultado económico caso específico das políticas culturais, as
positivo. dificuldades de gestão inerentes à
Apesar de se observar uma tendência no transversalidade da cultura e à sua
sentido da contenção das despesas públicas consequente presença em diversos âmbitos
e do incentivo aos privados no das políticas sectoriais dos governos tornam
financiamento e na oferta de cultura, não ainda mais difícil a avaliação dos processos
existem indicadores objectivos que apontem e da eficácia das medidas adoptadas. Neste
para uma retirada do Estado, conducente a cenário de desafios e oportunidades, em que
uma total privatização da cultura, como se reconhece e se assume publicamente a
sucede noutros contextos nacionais, importância da cultura nos mais diversos
designadamente nos países anglo- domínios da acção governativa, nem
saxónicos. No entanto, é expectável que sempre foram desenvolvidos esforços no
esta tendência de continuidade da sentido de debater e reflectir sobre o
participação pública no campo da cultura, significado desta presença, quer seja ao
associada a um modelo intervencionista de nível da acção pública dos Estados, quer

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seja ao nível dos organismos internacionais, concretas, a mobilização do sector privado,


uma situação que coloca dificuldades e a crescente introdução de critérios
entraves à definição de estratégias comerciais na gestão pública da cultura, a
coerentes e à estruturação de medidas e produção e revisão da legislação específica
acções no âmbito das políticas culturais. para os diferentes sectores da cultura, o
Quer no caso português, quer no caso respeito pela criatividade e diversidade,
espanhol, estamos perante um modelo de bem como a inclusão da dimensão cultural
política cultural claramente nos diversos campos da actuação dos
intervencionista, que pode ser governos, constituem outras das apostas
inclusivamente caracterizado como das políticas culturais dos Estados de
assistencialista no que se refere a alguns Portugal e Espanha, que não só revelam
sectores específicos do campo da cultura. uma ampliação dos espaços e âmbitos de
Trata-se de um modelo inspirado numa intervenção das políticas da cultura, como
acepção de cultura enquanto recurso, também denotam a convergência dos
enquanto bem colectivo, cujas qualidades modelos adoptados por estes dois contextos
intrínsecas contribuem para o políticos e nacionais.
desenvolvimento, crescimento e As semelhanças prosseguem, ainda, ao
transformação de indivíduos e grupos nível dos mecanismos e processos inerentes
sociais. A intervenção pública no sector da à definição das políticas culturais, bem
cultura deriva, portanto, da assumpção de como no plano das estruturas públicas com
uma necessidade colectiva à qual o Estado responsabilidades neste campo. Como já
deve dar resposta, uma resposta que aqui foi mencionado, quer em Portugal,
emerge sob a forma de um conjunto quer em Espanha, os governos optaram
estruturado de intervenções protagonizadas pela criação de um organismo público, um
por organismos públicos ainda que, em Ministério, responsável pela definição e
alguns casos, essa intervenção se concretize implementação de uma política cultural
em colaboração com o sector privado e a global e coordenada a nível nacional. No
sociedade civil. entanto, o Ministério da Cultura não é o
Deste modo, e partindo deste princípio único organismo público com competências
teórico subjacente à definição das políticas neste campo. Por um lado, existem claros
culturais em muitos estados europeus indicadores da transversalidade da cultura
(Portugal, Espanha, França, Itália), no que e da sua consequente inclusão noutros
diz respeito à definição de prioridades e domínios da política governativa dos
objectivos das políticas culturais, observa- Estados, com particular destaque para
se uma aposta de ambos os países nos áreas como a política externa, a política
domínios clássicos de intervenção dos educativa, a política económica ou a política
Estados na esfera da cultura e que se social. Por outro, a cultura está também
prendem com as áreas do património, da presente nos diferentes níveis da
criação, da descentralização e administração pública, o que pressupõe
democratização. Com efeito, as uma partilha de responsabilidades e uma
preocupações em torno da defesa, distribuição de competências que é, no
conservação e valorização do património, o entanto, muito mais visível e significativa
investimento em acções de apoio à criação e no caso espanhol do que no caso português.
a adopção de medidas encaminhadas para a Apesar de em Portugal existirem, tal
descentralização de equipamentos e da como Espanha, três níveis administrativos,
oferta cultural, visando favorecer o acesso e o protagonismo da Administração Central
a participação do maior número possível de tem sido absoluto no que se refere à
cidadãos, constituem os eixos estratégicos definição da política cultural nacional,
definidores das políticas culturais no espaço provocando um desequilíbrio territorial em
ibérico na actualidade. termos de processos administrativos e
Paralelamente, o investimento na políticos, concentrados e centralizados na
promoção e projecção internacional das capital do país e na estrutura
culturas nacionais, o apoio à valorização e organizacional do Ministério da Cultura. As
qualificação dos equipamentos, dos competências da Administração Regional e
profissionais e da programação de acções Local são, pois, bastante reduzidas e a

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66 Políticas da cultura em Portugal e Espanha

descentralização de órgãos do Estado é concerne, por exemplo, à protecção do


ainda incipiente. O caso da Administração património nacional, à produção legislativa
Local, sendo paradigmático em termos do em sectores específicos da esfera da
papel desempenhado ao nível da oferta de cultura, ou no domínio das liberdades de
programação cultural e da criação e gestão criação e expressão. Mas, em muitas outras
de equipamentos, revela alguma dispersão áreas, o protagonismo dos processos e das
e desarticulação relacionadas com a decisões cabe, em definitivo, às
influência exercida por lógicas político- Comunidades.
eleitoralistas e pelos condicionalismos e A este propósito parece-nos interessante
circunstâncias que caracterizam cada salientar que são, precisamente, as
contexto particular, pese embora tenham Comunidades culturalmente mais
assumido um papel incontornável no campo diferenciadas, as que mais investiram na
da cultura, desde a instauração da definição de políticas culturais regionais,
democracia em Portugal, e, muito um investimento que se traduziu na criação
concretamente, desde a publicação da lei de departamentos com competências
das autarquias em 1979 que estabelece as exclusivas sobre a cultura, enquanto que
suas competências e responsabilidades. nas restantes Comunidades a cultura foi
Em Espanha são também três os níveis integrada em departamentos mistos,
da administração pública do Estado juntamente com áreas como a educação ou
(Administração Central, Administração o desporto. Em qualquer dos casos, a
Autonómica e Administração Local), mas as definição e implementação de políticas
diferenças em relação ao caso português são culturais regionais passa,
substanciais. Assim sendo, se a política fundamentalmente, pela aposta em
cultural a nível nacional se enquadra na sectores como a protecção do património, o
esfera de competências do respectivo fomento e promoção das culturas locais,
Ministério (cujo reduzido número de pelas questões linguísticas, (no caso das
estruturas administrativas é revelador do comunidades com línguas co-oficiais), bem
entendimento do Estado espanhol em como pela articulação entre as políticas
relação à administração pública da culturais, as políticas educativas e de
cultura), as Comunidades Autónomas informação a nível autonómico.
emergem como entidades político- A administração pública da cultura em
territoriais com competências específicas e, Espanha passa ainda por um terceiro nível,
em alguns casos, exclusivas, na definição de o da Administração Local. Os municípios
políticas regionais, entre as quais se espanhóis, à semelhança do que sucede no
incluem as políticas culturais. Deste modo, caso português, assumem
a análise do caso espanhol revela a responsabilidades na gestão e
existência de uma transferência de implementação de políticas culturais de
competências jurídicas da Administração âmbito local, criando para este efeito
Central para as Comunidades Autónomas, departamentos e fundações públicas
consagrada quer pela Constituição, quer especificamente vocacionadas para a gestão
pelos Estatutos de Autonomia das dos assuntos culturais locais. Os patronatos
Comunidades, que explica o facto de de cultura e as fundações locais são, neste
existirem diversas políticas culturais contexto particular, as estruturas
dentro do Estado espanhol, tantas quantas responsáveis pela promoção e fomento da
as Comunidades, que evidenciam cultura a nível local, uma acção que se
assimetrias regionais consideráveis, traduz na dinamização dos equipamentos e
relacionadas com a influência exercida por na oferta de uma programação cultural,
variáveis como o grau de definição cultural quase sempre em articulação com as
e linguístico, os recursos disponíveis ou os dinâmicas criadas pelo tecido associativo
conteúdos específicos dos respectivos local.
Estatutos de Autonomia que determinam Mas a cultura não só se configura como
os âmbitos das competências de cada um âmbito específico da acção governativa
Comunidade. É claro que o Estado, a dos Estados de Portugal e Espanha,
Administração Central, manteve algumas concretizado na definição de políticas
responsabilidades exclusivas, no que culturais de âmbito nacional, regional ou

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Marta Anico 67

local, como também constitui uma com o propósito de consolidar o


dimensão transversal a diversos domínios posicionamento e influência de ambos os
de actuação pública, emergindo como uma países nos contextos internacionais.5
ferramenta particularmente útil para a A participação de Portugal e Espanha
criação de instrumentos que permitam em organizações internacionais, como a
responder aos desafios e oportunidades UNESCO,6 o Conselho da Europa,7 a
suscitadas pelas novas realidades políticas, União Europeia, a Comunidade de Países
sociais e culturais que caracterizam as de Língua Portuguesa ou a Organização de
sociedades portuguesa e espanhola. Neste Estados Ibero-americanos, a realização de
sentido, a adopção de medidas destinadas a iniciativas como a celebração de acordos
promover o pluralismo e a representação da culturais com outros Estados,8 a criação de
diversidade cultural, o apoio a diferentes redes de centros culturais no exterior,9 ou a
formas de expressão cultural, o recurso às inclusão da esfera cultural nas políticas de
novas tecnologias de informação e cooperação e desenvolvimento,10 constituem
comunicação, a diversificação e alguns exemplos das estratégias adoptadas
especialização legislativa, a aposta na por ambos os países para a concretização
cultura para a promoção do diálogo e das respectivas políticas culturais externas,
cooperação internacional, a valorização das bem como para o desenvolvimento das
identidades culturais nacionais e regionais, potencialidades da cultura no quadro de
e a promoção exterior destas mesmas uma política global destinada a promover a
identidades são apenas alguns dos diversidade, apoiar a criatividade e
exemplos das iniciativas adoptadas pelos estimular a criação de um sentimento de
Estados em resposta às transformações pertença a colectivos mais alargados.
operadas nas respectivas sociedades, e que Assim sendo, e depois de uma primeira
obviamente reflectem os cenários fase em que a participação dos Estados nos
observados à escala mundial. organismos internacionais se traduzia na
Podemos então constatar que a cultura mera ratificação de resoluções e
se encontra presente aos mais diversos recomendações, no presente, a sua
níveis das agendas políticas nacionais e, colaboração é muito mais activa e
também, internacionais. Com efeito, a expressiva, e concretiza-se aos mais
cultura não só constitui um sector de diversos níveis e em diversas iniciativas
intervenção autónomo, como se articula que se prendem com o desenvolvimento de
com outras políticas sectoriais dos Estados, conceitos e a produção de instrumentos
para além de se configurar como o objecto normativos padronizados, mas que também
central de diversos organismos e englobam uma vertente mais prática,
instituições internacionais e fazer parte dos relacionada com a assistência técnica e a
processos de negociação bilaterais e implementação de projectos e programas
multilaterais que decorrem nos cenários específicos, para além da realização de
mundiais. No que concerne a esta dimensão investigações sobre temáticas culturais,
específica da cultura, podemos considerar bem como estudos de prospectiva e
que se configura, simultaneamente, como avaliação.
um elemento de oportunidade e desafio, No que diz respeito especificamente à
mas também pode constituir um obstáculo União Europeia, pese embora a definição de
ou um entrave para o diálogo e a uma política cultural comunitária ter sido
cooperação internacional. É precisamente bastante tardia na história desta
por esta razão que os Estados de Portugal e instituição, a cultura configura-se hoje
Espanha têm vindo a apostar na política como uma dimensão fundamental para a
cultural externa e no reforço das relações implementação de um modelo de
culturais internacionais, quer seja através desenvolvimento sustentável no espaço
dos canais de comunicação e cooperação europeu. Assim sendo, e a partir do
institucionais (participação em fóruns, momento em que a cultura foi formalmente
programas e projectos internacionais), quer assumida como um dos sectores sob a
seja mediante a criação de uma imagem, de responsabilidade política da EU,11 foram
uma representação nacional, fortemente criados diversos mecanismos de apoio à
associada à cultura e à identidade cultural, implementação de projectos nesta área. As

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68 Políticas da cultura em Portugal e Espanha

possibilidades oferecidas pelos colocam, as dificuldades surgem


financiamentos disponibilizados através relacionadas, sobretudo, com a transição de
dos fundos estruturais e regionais, e pela um plano discursivo para um nível
posterior criação de programas sectoriais e pragmático, de implementação de medidas
programas-quadro para a cultura,12 e de acções concretas que, muitas vezes, se
permitiram que Portugal e a Espanha processam sem a prévia definição de um
tivessem investido na qualificação e plano ou de uma estratégia global e
diversificação do sector. O crescimento do concertada no domínio das políticas
número de candidaturas e o alargamento culturais.
dos âmbitos a que se reportam os projectos A necessidade de combater esta
apresentados por estes países reflecte, representação das políticas da cultura como
precisamente, o reconhecimento por parte políticas que denotam uma falta de
dos Estados e da sociedade civil em relação articulação entre os diferentes sectores
às oportunidades oferecidas por estes culturais, entre os diferentes níveis da
programas para a concretização dos administração pública, entre os diferentes
objectivos das respectivas políticas âmbitos de intervenção das políticas
culturais nacionais. públicas, entre o sector público e o sector
Por outro lado, existem claros privado constitui, simultaneamente, uma
indicadores de uma aposta e reforço da oportunidade e uma dificuldade. Assim
cooperação cultural bilateral entre os dois sendo, consideramos que o principal desafio
países. A celebração de acordos culturais que se coloca no âmbito da cultura no
entre Portugal e Espanha,13 a inclusão da espaço ibérico, se prende com a necessidade
vertente cultural nas reuniões celebradas de definir um conjunto de objectivos,
ao mais alto nível, de que são exemplo as estratégias e programas que envolvam e
cimeiras luso-espanholas, e a apresentação estimulem a participação dos diferentes
de candidaturas conjuntas a programas actores que protagonizam os processos e as
europeus, constituem algumas das dinâmicas culturais. Aliás, se esta
iniciativas protagonizadas por estes preocupação não estiver presente no
Estados que contribuem para estreitar momento da definição das políticas
laços e fomentar o conhecimento mútuo das culturais, corre-se o risco de uma total
culturas que se encontram presentes nas desarticulação entre as propostas dos
sociedades portuguesa e espanhola e que, Estados e as características e necessidades
como sabemos, são cada vez mais plurais e das sociedades, com consequências óbvias
diversificadas, em consonância com a ao nível da concretização das medidas que
heterogeneidade e fragmentação que são propostas.
caracteriza o contexto mais vasto das Não obstante estas ameaças e
sociedades contemporâneas. dificuldades, podemos assinalar com algum
Posto isto, podemos concluir que a optimismo, o facto de existirem sinais de
cultura se apresenta como uma área de abertura a este tipo de abordagem. Parece-
investimento político fundamental que nos, por isso, legítimo considerar que se
nenhum governo pode ignorar. As perspectiva uma aposta de ambos os
crescentes exigências dos cidadãos em governos na continuidade do investimento
relação ao desempenho dos Estados, ao nível dos mecanismos formais de
confrontados com a necessidade de determinação das políticas culturais
responder às transformações sociais, nacionais mas, também, uma crescente
políticas, económicas e, também, culturais, tendência para a criação das condições
operadas no âmbito dos seus limites necessárias para o incremento da presença
territoriais, bem como nos espaços e participação da sociedade civil nos
simbólicos mais alargados em que se processos de definição e, sobretudo,
inserem, transformaram a cultura num implementação das políticas culturais. Só
recurso e num instrumento utilizado para assim será possível cumprir com os
alcançar propósitos relacionados com a objectivos tradicionais das políticas da
união, a coesão ou a identificação com cultura, de desenvolvimento, crescimento e
novos espaços e referentes. Contudo, face transformação de indivíduos e grupos
aos desafios e oportunidades que se sociais, que se encontram no cerne do

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Marta Anico 69

modelo de política cultural adoptado pelos moderne, Paris: Fallois.


Estados de Portugal e Espanha. Geertz, Clifford
1973 The interpretation of cultures, New
Bibliografia York:, Basic Books.
Hall, Stuart
Adorno, Theodor y Horkheimer, Max 1997 “Introduction”. En Hall, Stuart (Ed.)
1979 Dialetic of enlightment, London: Representation. Cultural representa-
Verso. tions and signifying practices, (pp. 1-12),
Alonso Fernández, Luís London: Sage/Open University.
1999. Museología y museografía, Barcelo- Henriques, E.
na., Ediciones del Serbal. 2002 “Novos desafios e orientações das
Baldwin, Elaine et al. políticas culturais: tendências das
2004 Introducing cultural studies, Harlow: democracias desenvolvidas e
Prentice Hall. especificidades do caso português”,
Barker, Chris Finisterra, 37 (73): 61-80.
2000 Cultural studies. Theory and practice, Nivón, Eduardo
London: Sage. 2006 La política cultural. Temas, proble-
Bennet, Tony mas, oportunidades, México: Intersec-
1992 “Putting policy into cultural studies”. ciones.
En Grossberg, Lawrence et al. (Eds.) Rubio Aróstegui, J. Arturo
Cultural Studies, (pp 23-37), London:, 2003 La política cultural del Estado en los
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Bennet, Tony Trea.
1998 Culture. A reformer’s science, London: Santos, Maria de Lourdes
Sage. 1998 As políticas culturais em Portugal,
Bonet, Lluis et al. Lisboa: Observatório das Actividades
1992 La política cultural en España ante el Culturais.
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Ministerio de Cultura. 1996 L’invention de la politique culturelle,
Bonet, Lluis Paris: La Documentation Française.
1999 “La politique culturelle en Espagne: Williams, Raymond
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Bourdieu, Pierre Penguin.
1984[1978] Distinction. A social critique of
the judgment of taste, Cambridge: Har-
vard University Press. NOTAS
Coelho, Eduardo P.
1999 “La politique culturelle portugaise 1
Alonso Fernández (1999) refere, a este propósito, a
depuis la révolution démocratique”, Pôle exibição do saque protagonizado pelos Elenitas na
Sud, 10: 45-57. Babilónia, no século XII a.C., e a exposição de troféus
Dubois, Valérie bélicos na cidade de Assur, no século IX a.C. Em
1999 La politique culturelle. Génese d’une Roma, regressar de uma batalha sem o respectivo saque
catégorie d’intervention publique, Paris: era interpretado como uma privação de um património
Belin. cultural crescente, que conduziria à perda de prestígio e
estatuto social, que apenas poderia ser assegurado e
Fernández Prado, Enrique
salvaguardado mediante a exposição de objectos
1991 trazidos dos cenários de batalha.
La política cultural: qué es y para que 2
Para além dos troféus de guerra, os elementos das
sirve, Gijón: Trea. classes dominantes investiam igualmente nas suas
Foucault, Michel próprias bibliotecas e pinacotecas, contribuindo para a
1979 “Governamentality”, Ideology and emergência dos primeiros especialistas em arte, com a
Consciousness, 6: 5-21. missão de produzir réplicas de obras originais e, ao
Foucault, Michel mesmo tempo, orientar o gosto dos coleccionadores,
numa sociedade cada vez mais ávida de arte, dando
1980 Power/Knowledge, Brighton: Harve-
início não só à reprodução de obras de arte, mas
ster. também às reconstruções de cenários e paisagens
Fumaroli, Marc culturais
1991 L’Etat culturel. Essai sur une religion

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70 Políticas da cultura em Portugal e Espanha

3
As crescentes preocupações com as questões da diferentes formas de expressão artística e cultural,
igualdade de género e com a integração de minorias estimulando e apoiando a presença de artistas e
étnicas constitui um exemplo do alargamento do âmbito criadores em mostras e eventos internacionais. Do
de actuação das políticas culturais. mesmo modo, o Instituto Cervantes (criado em 1991)
4
Os exemplos de articulação e transversalidade não se contribui para a promoção da língua e cultura espanhola
esgotam nestes exemplos e se estendem aos domínios no exterior. Inspirado em modelos de sucesso como o
do ambiente, das tecnologias, da segurança social, do British Council ou o Institut Français, e com uma forte
turismo e do emprego, entre outros. presença no continente europeu, o Instituto Cervantes
5
O contributo a este nível do Instituto Espanhol de concentra a sua actividade não só no ensino da língua e
Comércio Exterior e do Instituto de Comércio Externo nos serviços de documentação e biblioteca, mas
Português não podem ser ignorados. No caso espanhol também na organização de uma programação cultural
podemos ainda destacar a acção da Sociedade Estatal diversificada, destinada a promover a riqueza e a
para a Acção Cultural Exterior, uma instituição pública vitalidade da cultura espanhola no exterior.
10
criada pelo Conselho de Ministros (2000), com o Para além da acção desenvolvida pelo Ministério da
propósito de organizar exposições internacionais Cultura, o Ministério que mais tem contribuído para a
itinerantes, que contribuam para a projecção da imagem definição de uma política cultural externa é o MAEC,
do país no exterior vinculada à representação da história através da Sub Direcção Geral de Programas e Acordos
de Espanha, passada e presente. Culturais e Científicos, no âmbito da Secretaria de
6
Criada em 1946 no âmbito da ONU, a UNESCO é Estado da Cooperação Internacional, e da Direcção-
uma organização internacional que tem por objectivo de Geral de Relações Culturais e Científicas, na
contribuir para a paz e a segurança no mundo através da dependência da Agência Espanhola de Cooperação
promoção da colaboração entre as nações, nos domínios Internacional. Responsável pela política de cooperação
da educação, ciência, cultura e comunicação, com o internacional, plasmada no Plano Director da
propósito de fomentar o respeito pelos direitos Cooperação Espanhola 2005-2008, a AECI incorpora a
humanos, pela justiça e pelas liberdades fundamentais, cultura nas suas competências e âmbitos de intervenção,
na qual participam os estados de Portugal e Espanha. quer enquanto sector em si mesmo, quer numa
7
Sedeado em Estrasburgo, o Conselho de Europa foi perspectiva transversal, assinalando a importância da
criado em 1949 com o propósito de unir os países do sua presença no conjunto diversificado das actuações
continente europeu sob os princípios da democracia que desenvolve. Em Portugal, esta acção concretiza-se,
política. No que se refere especificamente à cultura, o sobretudo através da Comunidade de Países de Língua
órgão responsável por esta área é o Comité da Cultura, Portuguesa, organismo criado em 1996 que constitui
através do Secretariado da Divisão de Acção e Política um fórum privilegiado para a concertação política e
Cultural, que coordena e põe em prática as actividades diplomática e para a cooperação em domínios que
propostas neste domínio, com recurso a metodologias incluem a educação, a ciência e tecnologia, ou a
de trabalho inter-governamentais. Desde a sua criação comunicação social. De salientar que no ano em que se
que o património tem sido a área de intervenção celebraram os seus 10 anos de existência, a
privilegiada por este organismo através de iniciativas programação cultural ocupou um papel de destaque nas
como as Jornadas Europeias do Património ou os comemorações oficiais, com a apresentação de diversas
Itinerários Culturais Europeus. exposições, conferências, festivais, feiras do livro,
8
Em Espanha, a concretização de uma política cultural prémios, etc.
11
exterior de cooperação cultural e científica com O Tratado de Roma (1957) que instituiu a criação da
diferentes países, situados em diferentes regiões UE não continha qualquer capítulo ou parágrafo
geopolíticas, passa ainda pela acção desenvolvida por referente ao campo da política cultural europeia,
instituições como a Fundação Euroárabe (1995), A existindo apenas uma breve alusão, no seu preâmbulo,
Fundação Carolina (2000), a Casa da América (1992), ao seu papel enquanto “elemento unificador dos povos”
Casa Ásia (2001), Casa África (2006), ou Casa Sefarad- e “motor de desenvolvimento sócio-económico”. Foi
Israel (2007). necessário esperar quase quatro décadas para que em
9
Refira-se a este propósito o papel desempenhado por 1992, com o Tratado de Maastricht, a cultura obtivesse
organismos como o Instituto Camões e o Instituto finalmente uma base jurídica e se transformou numa
Cervantes. Criado em 1992, o Instituto Camões esfera de intervenção e numa competência comunitária,
contribui para a divulgação da língua e cultura com a inclusão do artigo 128º (151º).
12
portuguesa, desenvolvendo a sua actividade sob a tutela A crescente importância da cultura na esfera de
do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e em estreita competências da UE tornou-se particularmente visível a
articulação com os Ministérios da Cultura, da partir do momento em que as acções neste sector
Educação, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. deixaram de ser apoiadas no quadro dos fundos
Beneficiando de uma rede de centros culturais criados estruturais (1994-1999) e passaram a ser objecto de
no âmbito das representações diplomáticas, bem como programas específicos para os diferentes campos da
de leitorados de língua e cultura portuguesa, o Instituto cultura, como foram os casos dos programas Rafael,
Camões participa igualmente na negociação de acordos Ariane e Caleidoscópio. No entanto, as acções
culturais, de programas de cooperação, no desenvolvidas pelos vários programas eram dispersas,
estabelecimento de parcerias, bem como na concessão descoordenadas e com um volume de financiamento
de bolsas, subsídios e apoios, na produção de edições e insuficiente para os objectivos que pretendiam alcançar.
materiais de divulgação e no apoio à promoção de Em face desta situação, a política comunitária no

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Marta Anico 71

domínio da cultura foi objecto de uma revisão que


resultou no primeiro Programa-Quadro para a Cultura,
Cultura 2000 (2000-2006), que agrupava os anteriores
programas num único quadro de referência para o
sector. O novo Programa quadro segue a mesma lógica
e compreende o período 2007-2013.
13 O Acordo Cultural entre Portugal e Espanha,
assinado pelos governos de ambos os países em 1970,
destinado a regulamentar as relações culturais e
científicas entre os dois Estados, reconhecia a
necessidade de fortalecer os laços de união e a
cooperação ibérica. Para a prossecução destes
objectivos genéricos, cada país comprometia-se a
favorecer o conhecimento da cultura do outro Estado no
seu território, um compromisso que se mantêm ainda
hoje vigente. Com efeito, a Reunião de Alto Nível
Espanha-Portugal, celebrada em 2004, e a posterior
reunião entre as Ministras da Cultura em exercício no
ano de 2005, resultaram na definição de um Programa
de Cooperação Cultural que contempla a
implementação de um conjunto de medidas destinadas a
fomentar e reforçar as relações culturais ibéricas, de
modo a consolidar a relação de cooperação que remonta
ao acordo celebrado em 1970. Entre as iniciativas mais
emblemáticas que foram propostas no âmbito do actual
programa de colaboração encontra-se a celebração do
ano de Espanha em Portugal (2006) e do ano de
Portugal em Espanha (2007).

Recibido: 4 de mayo de 2008


Reenviado: 30 de octubre de 2008
Aceptado: 21 de diciembre de 2008
Sometido a evaluación por pares anónimos

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