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Design numa perspectiva cultural

Design numa perspectiva cultural

Batista, Carla Cristina V.; Esp.; Universidade Federal do Amazonas


carlacvb7@gmail.com

Lima, Gean Flávio Araújo; Esp.; Universidade Federal do Amazonas


glima@i-sw.net

Resumo

Aprofundar e entender cultura é buscar a própria história da sociedade. Esta produz e


reproduz o espaço num determinado tempo e, consequentemente, construindo sua cultura. É
desta forma que o design intervém no meio social, e numa relação dialética de artefato e
objeto, objeto e produto, produto e consumo, dá significado as coisas. Pois, a cultura
compreende elementos materiais e materiais das sociedades humanas, das quais o designer
pode utilizar como fundamento para desenvolver projetos.

Palavras Chave: Cultura; sociedade; design.

Abstract

Deepen and understand culture is to seek the history of society. This produces and reproduces
a given time and space, thus building their culture. This is how the design involved in the
social environment, and a dialectical relationship of artifact and object, object and
commodity, product and consumption, gives things meaning. For the culture includes material
and materials of human societies, of which the designer can use as a basis for developing
projects.

Keywords: Culture, society, design.

O estudo em cultura é utilizado pelo design de maneira básica. Uma vez que esta
revela um sentido de pertença na qual a vida em sociedade é naturalmente vivida. Daí
percebe-se o quão é importante conhecer a sociedade que se está inserido. E os grupos sociais
existentes também possuem uma cultura, ou melhor, a sociedade constrói uma cultura.
Produzir e desenvolver produtos certos de que serão absorvidos pelos consumidores não é em
vão, e muito menos estético como rotulam o trabalho do designer. Dessa forma, abordar
cultura e design é relevante para entender a produção cultural emanada da sociedade.
Design numa perspectiva cultural

Introdução a Cultura1
As preocupações sistemáticas com o estudo sobre as culturas humanas remetem desde
o século passado, afirma Santos (1994). Principalmente para entender a sociedade moderna e
industrial que surgia e, algumas que desapareciam ou perdiam suas características originais
em virtudes dos contatos culturais. Nesse sentido, podemos entender por cultura como algo
dinâmico e renovável, dependendo dos grupos humanos que se relacionam positivamente ou
não com outros grupos.

Para definir o termo cultura leva-se em consideração toda a trajetória humana,


composta de encontros e desencontros de povos e culturas diferentes. Uma vez que a cultura
expressa às realidades apreendidas e vividas pela sociedade da época, no tempo e no espaço.
Assim, é preciso relacionar as expressões culturais nas suas mais variadas formas no contexto
que foi produzido. Isto é, a construção de uma „cultura‟ está ligada com a história das pessoas
numa relação geohistórica. Afinal, o espaço é a realização da história onde o homem deixa
sua marca na paisagem.

Os agrupamentos humanos que ocuparam os espaços existentes no mundo tiveram o


contato frequente com outras culturas, apesar de existirem grupos isolados e histórias
paralelas. Recentemente, os contatos e influências vêm aumentando e “os grupos isolados vão
desaparecendo com a tendência á formação de uma civilização mundial (Santos, 1994)”.
Desse modo, a utilização e transformação dos recursos materiais foram disponíveis
heterogeneamente. Isso significa que a ocupação de territórios habitáveis foi diferente
dependendo de cada povo que ali viveu e habitou. Assim, podemos afirmar que cada
indivíduo é agente de formação e transformação da cultura, seja pelo lugar que reside ou o
grupo de pessoas que convive e até mesmo pelas suas aptidões e gostos.

A relação de cultura, sociedade e formação de uma cultura


nacional
Ao longo da história nota-se a tentativa de superioridade imposta pelo Velho
Continente Europeu aos demais povos e/ou civilizações. Mas, é a partir desse prisma que a
evolução humana foi colocada em estágios e, infelizmente, a Amazônia com os indígenas
poderia ser classificada como selvageria. Estas e outras são idéias racistas na qual os povos
não europeus foram considerados inferiores. Assim também como a sua produção material e
cultural.

Segundo Santos (1994), “as culturas e sociedades humanas se relacionam de modo


desigual”. Um exemplo claro é a sociedade brasileira que foi constituída por pessoas oriundas
de várias partes do mundo, na qual se reflete no plano cultural do país. Entretanto, é
importante levar em consideração as particularidades culturais, já que cada sociedade se
desenvolveu dinamizada em contato com diversas culturas e nem por isso podem ser
menosprezadas. As culturas anteriores a chegada européia foram consideradas um mundo a
parte, onde sua importância só é relevante quando contribuem com elementos e características
de caráter particular – comidas, nomes, roupas, lendas – para a cultura nacional. Assim, a
produção humana é percebida numa outra perspectiva, de acordo com o que consomem ou
querem consumir e ainda com o que gostam, trabalham, comem e vivem.
1
Este artigo faz parte do primeiro capítulo do Projeto de Conclusão de Curso de Design da Faculdade Martha
Falcão intitulada Um toy art amazônico como valorização da cultura regional.
Design numa perspectiva cultural

Na verdade, as culturas que se sentem superioras e de certa forma, tornam-se


dominantes, queiram definir a cultura de uma sociedade para seu agrado. No entanto, a
cultura é mais abrangente, inclui as maneiras como o conhecimento é expresso por uma
sociedade como é o caso da arte, religião, esportes e jogos, tecnologia, ciência política,
segundo Santos (1994). E outra, também “inclui o estudo de processos de simbolização, ou
seja, de processos de substituição de uma coisa por aquilo que significa (Santos, 1994)”.
Permite que a experiência acumulada seja transmitida e transformada. Isto é, por mais que
haja contatos com uma variedade de culturas, a essência cultural daquela sociedade
permanece, justamente por ter um processo de construção.

De acordo com Hall (2005), “a formação de uma cultura nacional contribuiu para criar
padrões de alfabetização universais, generalizou uma única língua como meio de
comunicação e manteve instituições culturais como um sistema educacional nacional”. E
como a cultura é composta de símbolos e representações, a identidade nacional pode ser
considerada uma comunidade imaginada – encontrada nas narrativas contadas pelas histórias
e literaturas nacionais, na mídia e na cultura popular. O processo histórico garante a
veracidade de uma cultura nacional. Cabe salientar que o papel da cultura não pode fechar em
si mesma e nem resistir as mudanças, mas ser agente transformador e emancipador numa
perspectiva crítica.

Outro fator que causa impacto nas sociedades atuais são a ciência e a tecnologia. E na
dinâmica cultural dentro da relação espaço e tempo que as áreas do conhecimento se
interceptam e o design, recentemente percebido, dão formas e funções a objetos que são
utilizados no cotidiano dos indivíduos. É essa expressão que se pode abordar, pois a sociedade
a partir das suas necessidades e desejos provoca a criatividade e resgata a tradição. Com isso,
a realidade social que também é cultural se torna mais transparente.

Cultura e Design
O estudo em cultura atingiu a diversidade cultural, mas a abordagem do design e da
cultura material cabe a complexidade das inter-relações e influências que ocorrem no
processo cultural dentro da sociedade. Apesar das transformações temporais sofridas pelas
populações amazônidas, obtiveram alguma herança cultural dos indígenas e da miscigenação
(índio e branco). É nesse contexto que as sociedades modernas, a tradição é reinventada a
cada nova geração. Ono (2006) aponta que esta não está ligada diretamente com o seu
passado, sendo construída a luz das influências recebidas.

A partir daí percebemos os objetos como produção material das sociedades. Dessa
maneira, devemos tratar os objetos não somente como veiculação de informações, que apenas
comunicariam, mas também como sistemas estruturados de signos, ao qual chamamos de
cultura material. Nessa perspectiva, surge o ambiente artificial que oferece significados a
corpos disponíveis na natureza e os transforma em objetos para superar limites, afirma Dias
Filho (2007). Assim, é o trabalho do designer e do artesão, quando atribuem significados com
subjetividade aos artefatos, mesmo que tais objetos ainda que expostos ao consumo como
produtos venham a sofrer contínuas re-significações (apropriação). Portanto, “o consumo
pode ser compreendido como “uma atividade de manipulação sistemática de signos”, e um
objeto de consumo, por sua vez, como um “signo”, sujo significado é arbitrário (Ono, 2006)”.

Segundo Filho (2007), existem dois grupos de objetos no âmbito social: um ligado a
“modernidade movido pelo imperativo da inovação, tecnologia, design, usabilidade dentre
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outros – automóveis, eletrodomésticos, etc.”. E o outro está ligado “ao imaginário da tradição,
tendo a nostalgia, a natureza e a técnica nativa como fontes inspiradoras – artesanatos, por
exemplo, (Filho, 2007)”. No tocante, a cultura material atribui-nos a capacidade de
compreender melhor os objetos fabricados e consumidos em um sistema simbólico. Visto que
se a sociedade gera uma cultura, configura também os objetos por ela produzidos, formando
um sistema de objetos. Então, se faz necessário um estudo dos objetos. O que torna o
processo de design em uma das produções culturais mais importantes na atualidade, por
conceber e produzir signos.

Os bens culturais acumulados na história pertencem àqueles que dispõem de meios


para apropriar-se deles, não se constituindo, apesar de formalmente serem oferecidos
a todos, propriedade comum a sociedade, pois, para a sua compreensão, é necessário
a posse e a capacidade de decifrar seus códigos. (ONO, 2007, p. 48)

De acordo com Cardoso (2004), design vem do latim – designare – verbo que abrange
o sentido de designar e o de desenhar. É um termo ambíguo cujo “na maioria das definições
concorda que o design opera junção desses dois níveis, atribuindo forma material a conceitos
intelectuais (Cardoso, 2004)”. Uma atividade que gera projetos, no sentido objetivo de planos,
esboços ou moldes. Mas, o design na sua maturidade institucional tende a diferenciar de artes
plásticas e artes gráficas.

A princípio, as práticas dos designers eram vistos como atividades artísticas,


valorizando do profissional o seu compromisso como artífice. No segundo momento, entende-
se o design como criação, “um planejamento em que o designer tem o compromisso
prioritário com a produtividade do processo de fabricação e com a atualização tecnológica
(Dias Filho, 2007)”. E finalmente, na terceira opção Dias Filho aponta “o design como
macroprocessador de informações referente ao desenvolvimento do produto (2007)”. Mas, a
percepção do design vai além do objetivo, lida com o subjetivo.

Com isso, percebe-se que o estudo em cultura é fundamental para o trabalho do


designer. Este configura valores aos objetos a partir da cultura material resultante da produção
social. Nesta perspectiva cultural se prevê um ótimo resultado a qualquer coisa que o designer
venha a produzir. Uma vez que ele pode ter uma atividade criadora de signos – com a
capacidade de decifrá-los –, na qual está ligada intrinsecamente com a produção pós-moderna
baseado no valor intangível do produto. Pois, o trabalho do design embute valores culturais
nos objetos produzidos que são emanados pela sociedade, podendo ser percebido num
processo dialético – artefato e objeto, objeto e produto, produto e consumo. Nesse sentido, o
designer torna-se um elemento chave para criação de “coisas” nas mais variadas formas de
expressões ou manifestações culturais existentes.

Referências

CLAVAL, Paul. Campo e perspectiva da Geografia Cultural. In: Geografia Cultural. In:
Geografia Cultural: um século (3). Zeny Rosendahl e Roberto Lobato Corrêa (orgs). Rio de
Janeiro: Ed UERJ, 2000.
Design numa perspectiva cultural

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do Design. São Paulo: Edgard Blücher,
2004.

DENIS, Rafael. Design, cultura material e o fetichismo dos objetos. Revista Arcos. Design,
cultura.

FILHO, Clovis dos Santos Dias. Design numa perspectiva cultural. Trabalho apresentado
no III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os
dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da


Silva e Guacira Lopes Louro. 10ª edição. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

ONO, Maristela M. Design e cultura: sintonia essencial. Curitiba: Edição da autora, 2006.

ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 5ª edição. São Paulo: Brasiliense,
1994.

SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. 14ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1994 (coleção
primeiros passos).

SAUER, Carl Ortwin. Desenvolvimentos recentes em Geografia Cultural. In: Geografia


Cultural: um século (1). Zeny Rosendahl e Roberto Lobato Corrêa (orgs). Rio de Janeiro: Ed
UERJ, 2000.

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