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Apostila de Sociologia – 2° ANO

Professor: Jonas Batista


Tema Central: Cultura

Cultura no senso comum


Quem nunca ouviu falar algum dia “Fulano de Tal não têm cultura”?! No senso comum a
cultura ganha um significado diferente.
O significado de cultura no senso comum costuma vir atrelado a uma ideia de conhecimento,
conhecimento esse que se adquire por meio de condições sociais. Por exemplo, “Fulano de Tal é tão
culto! Estudou no exterior e fala cinco línguas diferentes”. Ao modo que tudo que é mais popular se
torna menos significante nesse sentido, por exemplo, “Fulano de Tal não tem cultura, ele ouve funk”.
Quando utilizamos essa forma de definição, estamos nos referindo a pessoas que não tiveram acesso a
determinadas informações e saberes durante sua vida, e acabando por classificar esses conhecimentos
ou saberes entre mais ou menos “sofisticados”.
Sob essa óptica, cultura se torna um termo para classificar os indivíduos, as pessoas com as
mesmas afinidades ou até grupos inteiros, de modo generalizante. Cultura se torna sinônimo de um
projeto de civilidade.
A sociologia entra a partir daqui para refutar esse sentido preconceituoso de se tratar a cultura.
Aos olhos da sociologia cultura é tudo aquilo que vêm da criação humana, como por exemplo, ideias,
costumes, leis, crenças e até as vestimentas. A cultura é todo esse apanhado de conhecimento
proveniente do convívio social, por tanto, só os seres humanos possuem cultura, e não existe um ser
humano sequer que não tenha cultura.

Diferentes visões sobre o que é


cultura

Cultura é um termo de
origem latina e que tem ligação com
o verbo “cultivar”, no sentido de ser
um meio de se buscar o crescimento
– daí, por exemplo, a palavra
agricultura. Essa ideia de se “buscar
o crescimento” em termos de
formação intelectual do homem,
desejada como a mais ampla que se
pudesse alcançar, foi utilizada de
maneira usual a partir do
Iluminismo, na Europa do século
XVIII. “Cultura compreendia, então,
tudo aquilo que um indivíduo
deveria adquirir para se tornar uma
pessoa moral e intelectual, no sentido mais pleno possível” (SIMÕES; GIUMBELLI, 2010, p.188).
Daí, afirmarmos que alguns “têm mais cultura” do que outros, em razão do seu acesso a essa
“formação intelectual mais ampla”, que pode incluir não somente a educação formal, adquirida nas
escolas, como também, como um aperfeiçoamento posterior desse saber – e acessível a um número
bem menor de pessoas –, o gosto “refinado” pelas artes plásticas, pela literatura, pela música clássica.
Voltando mais ainda no tempo histórico, podemos dizer que o ato do ser humano de
transformar a natureza pode ser entendido como uma primeira definição de cultura. Afinal, os homens
e as mulheres são diferentes dos animais, pois eles são “inventores do mundo”. Isto significa dizer que
os seres humanos são os únicos que não se submeteram totalmente à natureza, mas sim a transformam.
Cultura, portanto, pode ser definida por oposição à natureza. Assim, o ser humano, ao contrário dos
animais, não vive de acordo com seus instintos, mas sim a partir da sua capacidade de pensar a
realidade que o cerca e de construir significados. Estes são realizações culturais, que se transformam
em símbolos. Os símbolos são representações dos homens sobre a sua realidade, e não estão presentes
em todas as sociedades da mesma forma, variando de acordo com o tempo histórico e com o espaço
físico e geográfico. Essa é outra forma de definir cultura, ou seja, como uma representação da
realidade ou da ação dos indivíduos.
A representação da realidade acontece muitas vezes por meio dos símbolos. O termo símbolo
tem sua origem no grego (sýmbolon), que designa um elemento representativo que está no lugar de
algo que tanto pode ser um objeto como um conceito ou ideia.
O símbolo é um elemento essencial na comunicação e nas culturas, e é difundido no cotidiano
pelas mais variadas formas da realidade e do saber humanos. Alguns símbolos são reconhecidos
internacionalmente e outros, só em um determinado grupo ou contexto religioso, cultural etc...
Podemos resumir símbolo como alguma coisa que representa algo para alguém, e ele será um
dos elementos centrais das culturas. Por meio dos símbolos, os indivíduos representam a realidade em
que vivem e formam a sua cultura, cultivam e inventam formas de se relacionar uns com os outros,
formam uma visão sobre o mundo. Portanto, diferentemente do senso comum, a cultura como forma
de representar a realidade existe em todos os lugares e indivíduos, não havendo, portanto, pessoas que
têm e pessoas que não têm cultura. Todos nós temos uma cultura, que se expressa em símbolos – as
formas de se vestir, as formas de falar, as formas religiosas, as formas artísticas etc.

Cultura e o significado antropológico

No sentido antropológico, cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e
deve ser classificado.
A Antropologia é uma Ciência Social que nasceu no século XIX, como um projeto de ciência
que consistia em reconhecer, conhecer e compreender a diversidade das manifestações culturais dos
povos no tempo e no espaço. A Antropologia nos permitiu descobrir que aquilo que pensávamos ser
natural em nós mesmos é, na verdade, cultural, ou seja, ficamos perplexos e conscientes de que o
menor de nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente
nada de natural. Enfim, a Antropologia nos diz que o conhecimento de nossa cultura passa
inevitavelmente pelo conhecimento de outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que
somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única.
Para entendermos melhor o significado antropológico de cultura, vamos nos reportar ao
antropólogo brasileiro Roberto DaMatta que elaborou uma síntese de algumas dessas definições.
Segundo ele, cultura “é um mapa, um receituário, um código, através do qual, as pessoas de um dado
grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas” (DaMATTA, 1986, p. 123).
Em outras palavras, a cultura é o “cimento” que dá unidade a certo grupo de pessoas que divide os
mesmos usos e costumes, os mesmos valores. Deste ponto de vista, portanto, podemos dizer que tudo
o que faz parte do mundo humano é cultura. Concretamente, podemos falar de culturas, ao invés de
cultura, no singular.
Assim, referimo-nos a uma cultura indígena, com seus modos de vestir, dormir, caminhar, se
relacionar etc., como a uma cultura chinesa, japonesa, francesa, cigana, nordestina... Enfim, quando
estudamos e identificamos traços de comportamentos, personalidades, simbologias comuns, atitudes
comuns em determinados grupos, comunidades ou nações, podemos dizer que há uma cultura
específica desses indivíduos que compõem grupos, comunidades ou nações.

Resumindo:
• No decorrer da História, os instintos originais do homem foram secundarizados pela cultura;
• A cultura é produzida pelo homem em qualquer meio geográfico;
• A cultura permitiu que o homem se adaptasse ao meio, como também que este se adaptasse ao
próprio homem e suas necessidades;
• A herança cultural prevalece sobre a herança genética do homem, pois este aprende hábitos e
costumes através da sua cultura;
• A cultura é acumulada socialmente a partir da experiência histórica vivida pelas gerações anteriores;
• A cultura estabelece regras que determinam como o mundo pode e deve ser classificado;
• A cultura condiciona o comportamento humano e pode servir como justificativa para todas as suas
ações;
• A cultura dá unidade a grupos de pessoas que compartilham os meus usos, costumes e valores; •
Uma cultura se modifica (e modifica) no contato com outra cultura.

Cultura Erudita e Cultura Popular

Ao analisar o “Renascimento”, movimento cultural surgido no norte da Itália, nos séculos XIV
e XV, percebemos que ele estava ligado a uma determinada parcela da população da Europa: a
burguesia. A burguesia era formada por comerciantes que tinham como objetivo principal o lucro,
através do comércio de especiarias vindas do oriente. Esse segmento da sociedade conquistou não
apenas novos espaços sociais e econômicos, mas também procurou resgatar ou fazer renascer antigos
conhecimentos da cultura greco-romana. Daí o nome Renascimento. Desde a sua origem, a burguesia
preocupou-se com a transmissão desse conhecimento a seus pares. A partir daí, então, foram surgindo
instituições como as universidades, as academias e as ordens profissionais (advogados, médicos,
engenheiros e outros). Com o passar dos séculos e com o processo de escolarização, a cultura dessa
elite burguesa tomou corpo, desenvolveu-se com base em técnicas racionalistas e científicas. Surgiu
assim a cultura erudita. Essa cultura “erudita”, ou “superior”, também designada de “elite”, foi se
distanciando da cultura, da maioria da população, pois era feita pela e para a burguesia. Por isso, ao
pensarmos em cultura erudita, imediatamente concluímos que seus produtores fazem, parte de uma
elite política, econômica e cultural que pode ter acesso ao saber associado à escrita, aos livros, ao
estudo.
A cultura popular, por sua vez, mais próxima do senso comum e mais identificada com ele, é
produzida e consumida pela própria população, sem necessitar de técnicas racionalizadas e científicas.
É uma cultura em geral transmitida oralmente, registrando as tradições e os costumes de um
determinado grupo social. Da mesma forma que a cultura erudita, a cultura popular alcança formas
artísticas expressivas e significativas. Vale ressaltar que, ao afirmar que os produtores da cultura
erudita fazem parte de uma elite não significa dizer que essa cultura seja homogênea, é impossível
definir cultura erudita, porque não podem ser homogeneizados os elementos culturais produzidos por
intelectuais, fazendeiros, empresários, burocratas, etc. porém, é igualmente impossível definir cultura
popular, dada às populações culturais diferenciadas de camponeses, operários, classe média baixa, etc.
Meios de Comunicação de Massa – Instrumentos de Poder

Vivemos em uma era interligada em que pessoas de todo o planeta participam de uma única
ordem informacional uma situação que é, em grande parte, resultado do alcance internacional das
comunicações modernas. As transformações na mídia ou nas comunicações de massa contribuem
radicalmente na alteração da vida das pessoas e suas relações no meio sociocultural.
Quando se fala em mídia de massa ou comunicação de massa está se referindo a uma ampla
variedade de formas de meios de comunicação que abrange um volume de audiência enorme e que
envolve milhões de pessoas em toda uma sociedade moderna e globalizada como a nossa. São meios
de comunicação de massa: a televisão, os jornais, o cinema, as revistas, o rádio, a publicidade, vídeos
games, CDs, internet, celulares e etc.
A mídia de massa não pode mais ser vista como um simples meio de entretenimento, como se
fosse algo que não interferisse na vida das pessoas; as comunicações de massa são instrumentos de
informação que influencia em nossa forma de pensar e agir, atingindo o comportamento individual,
social, cultural e institucional; como o caso da alteração de valores sociais dos jovens, as banalidades
de questões sociais (pobreza, desemprego, violência, corrupção) e a opinião pública (posicionamento
reflexivo e prático das pessoas em determinadas situações específicas sobre questões
socioeconômicas, política-jurídico e cultural-ideológica).
Os donos dos meios de comunicação de massa são os novos donos de um poder moderno e
tecnológico, pois eles têm em suas mãos instrumentos que podem influenciar, controlar, manipular ou
interferir nas estruturas sociais, seja nas instituições sociais, econômicas ou políticas; a mídia de
massa tem dono, são grupos de pessoas que vivem de lucro, logo suas empresas estão a serviço de
seus interesses, que com certeza não é o da sociedade como um todo. Os meios de comunicação de
massa se relacionam intimamente com o capitalismo. A mídia exerce seu poder de uma forma
ideológica, camuflando suas intenções através da exposição de marketing sistematicamente e
intensivamente visando incutir na cabeça das pessoas perspectivas alheias aos seus próprios interesses.
Isso acontece, por exemplo, na veiculação de comerciais, novelas, filmes, desenhos, programas, séries,
telejornais ou jornais escritos, revistas, rádios e etc. (PIERRE BOURDIEU).

Identidade

A identidade é um conceito importante que devemos entender. Todas as pessoas se identificam


com alguma coisa e, também, recorrentemente usamos essa palavra em nosso cotidiano. Mas, para as
ciências sociais o que ela significa?
Vamos pensar nos seguintes termos: o que define um povo, apesar de isto compor sua cultura,
não é uma mera demarcação territorial ou sua língua, mas, todo um conjunto de características –
sociais, políticas e culturais – que o fazem um grupo indenitário, se diferenciado, assim, de outros
grupos.
Logo, o que faz um determinado povo se diferenciar de outro é justamente a identidade.
Portanto, a identidade:
Propicia a sensação de pertencimento, fazendo com que cada indivíduo dívida a sociedade em
dois grupos: nós e eles. Os que são como eu e os que não são. Desse modo, sabemos quem somos por
sabermos que não somos o outro. A identidade, portanto, é definida pela diferença, estabelecida por
uma marcação simbólica relativa a outras identidades (ARAUJO, 2012).
A identidade está internalizada em nós. Assim, muitas vezes, suas características passam
despercebidas, a ponto de indivíduos perceberem que fazem parte de um grupo somente quando são
postos à frente de um outro grupo indenitário.
Na modernidade, a consolidação de grandes identidades coletivas foi uma marca importante,
principalmente aquelas originadas pelas condições de existência, como as identidades de classe ou
nacionais. Entretanto, nas últimas décadas, as transformações sociais ocorridas em todas as sociedades
modificaram os elementos constituintes das identidades. Nesse contexto, identidades são construídas
em relação a demandas específicas de diferentes grupos, definidos com base em critérios como etnia,
gênero etc.
Para a Antropologia, a identidade ela não é inata, sendo a mesma construída. Ela é construída,
justamente, por intermédio de nossas relações sociais, crenças e costumes. Logo, no próprio indivíduo
várias identidades podem ter espaço. Por exemplo, uma pessoa pode se identificar como “homem”,
“católico” e “de esquerda”. Todas essas formas de enxergar o mundo, são identidades. As identidades,
para a antropologia, não devem ser hierarquizadas, umas como mais evoluídas do que outras.
Continuando, a identidade não deve ser apenas uma questão de uso de objetos. Por exemplo, se
identificar enquanto “índio” não deve ser interpretada como uma questão de usar arco, flecha e pintar
o rosto. Ser “índio” é muito mais do que isso. Para os antropólogos, a temática tange a um modo de
ser e não um modo de aparecer. Ou seja, o índio não deixa de ser índio por não usar coisas ligadas a
tradição, e muito menos deixa de ser por usar coisas advindas de outras culturas. Nós, brasileiros, por
exemplo, usamos uma série de coisas de outras culturas e não deixamos, ainda, de ser brasileiros.
Eduardo Viveiros de Castro (2006), ilustra bem a questão:
A identidade designava para nós um certo modo de devir, algo essencialmente invisível, mas
nem por isso menos eficaz: um movimento infinitesimal incessante de diferenciação, não um estado
massivo de “diferença” interiorizada e estabilizada, isto é, uma identidade. (Um dia seria bom os
antropólogos pararem de chamar identidade de diferença e vice-versa.) A nossa luta, portanto, era
conceitual: nosso problema era fazer com que o “ainda” do juízo de senso comum “esse pessoal ainda
é índio” (ou “não é mais”) não significasse um estado transitório ou uma etapa a ser vencida. A ideia é
a de que os índios “ainda” não tinham sido vencidos, nem jamais o seriam. Eles jamais acabariam de
ser índios, “ainda que”... Ou justamente porque. Em suma, a ideia era que “índio” não podia ser visto
como uma etapa na marcha ascensional até o invejável estado de “branco” ou “civilizado”
(VIVEIROS DE CASTRO, 2006).
Isto é, a questão da identidade é uma questão múltipla. Novas identidades estão sempre com a
possibilidade de surgir, devido ao contato entre as culturas. Contudo, as “antigas” identidades também
estão presentes no espaço. Cabe somente ao indivíduo perceber e pensar como se situar perante a este
fator.

Ideologia

O estudo das ideias produzidas em uma sociedade aparece nos escritos de Marx como uma
problematização da noção de consciência. Marx procurou demonstrar que ideias, representações da
realidade, pensamentos e conceitos não são frutos espontâneos da consciência humana, os reflexos
ideológicos das relações sociais (dadas pelas relações de produção de bens materiais) concretas entre
seres humanos. Sob esse ponto de vista, só é possível entender as ideias dominantes em cada período
histórico com análise das relações concretas entre os indivíduos, como as relações de poder e
dominação entre senhores e escravos, reis e súditos, patrões e empregados.
Por meio da ideologia, os interesses da classe dominante se transformam nos interesses de toda
a coletividade e constituem a ideologia de uma época. Foi assim que, com o triunfo do liberalismo no
século XIX, defendeu- se a bandeira da liberdade, mesmo que tal liberdade seja desfrutada apenas por
uma pequena parcela da população, aqueles que não são submetidos à exploração.
Para Marx, as ideologias seriam representações do mundo, elaboradas pelas classes
dominantes, que visam à manutenção e à reprodução das relações de dominação. Outros teóricos
abordaram a questão da ideologia de forma diferente. O filósofo e político italiano Antônio Gramsci,
por exemplo, afirma que as classes dominadas também possuem sua própria ideologia, já que
ideologia seria sinônimo de visão de mundo de um grupo ou classe social.

Relativismo cultural

Franz Boas foi um antropólogo americano e um dos pioneiros e revolucionários da


antropologia moderna. Boas critica os métodos anteriores existentes utilizados para estudar o
surgimento da cultura (evolucionismo, determinismo, difusionismo).
O evolucionismo por ser uma teoria etnocêntrica, que coloca os europeus no topo, onde tudo
era comparado a eles. E já que cultura como vimos anteriormente é uma soma dos traços de
determinada sociedade, entendemos que elas são únicas, por tanto não devem ser comparadas.
Ao determinismo por obviamente ser uma teoria racista e muito fácil de ser refutada, por
exemplo, se pegar um bebê chinês e cria-lo na Alemanha, com uma família alemã, independente de
suas características físicas e biológicas, ela vai crescer de acordo com a cultura dessa família alemã.
Ao difusionismo por não terem provas suficientes que sustentem essa teoria.
A partir de então Boas Propõe o relativismo cultural. Que propõe o entendimento de
determinados povos através deles mesmos, através de suas próprias crenças. Aqui já não há mais
comparações.
De acordo com a teoria de Boas, as culturas são únicas e estão em constante transformação, em
um permanente estado de fluxo.

Relativismo: Não há verdade absoluta. Propõe uma abordagem cultural e moral sem julgamentos
preconcebidos.

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