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Gestão Cultural

Conceito

A Gestão Cultural pressupõe procedimentos administrativos e operacionais para a gerência


dos processos do campo da cultura e da arte. É a mediação de processos de produção material e
imaterial de bens culturais e mediação dos mais diversos agentes sociais. Essa mediação tem
como objectivo a criação, desenvolvimento e manutenção de bens culturais, bem como estimular
as práticas de coesão social e socialização.

Objectivamente, a Gestão Cultural articula o planeamento, operacinalização e mediação.


Planeamento de eventos, de programas, de acções, de processos e de políticas em cultura.
Operacionalização técnica, financeira, física e humana, Mediação de agentes diversos:
governamentais, não-governamentais e comunitários.

A Gestão Cultural pressupõe a formulação dos planos e dos conceitos que os norteiam. Nesse
processo actuam os planeadores e os usuários, buscando garantir a sustentabilidade das acções.
Na gestão trabalha-se por meio de acções integradas e estruturais, estruturantes e instituintes.
Compreende noções básicas de fomento cultural, de preservação, resgate e vitalização de
aspectos de sociabilidade e qualidade de vida, e a própria manutenção da vida co justiça social.

Gestão cultural como objeto de estudo

O universo das produções acadêmicas que tem como debate a gestão cultural é tão amplo
quanto é diversa a formulação do conceito que aparece com variações que incluem administração
cultural, gestão das artes e da cultura, gestão pública da cultura. Outras variáveis aparecem com
abrangência mais delimitada, como é o caso, por exemplo, da gestão do patrimônio cultural e da
gestão de equipamentos/espaços culturais.

Quando tratamos da gestão da cultura ela aparece ainda relacionada a períodos


governamentais e ações dos gestores designados para cargos. Embora existam várias concepções
para o entendimento do que vem a ser gestão cultural, esta, enquanto objeto de estudo, tem
aparecido de forma recorrente relacionada com o tema das políticas culturais o que, de certo
modo, segue um caminho natural se considerarmos que a gestão está inserida na política cultural
e faz parte do seu processo.

Algumas tentativas de conceituar convergem para a complexidade de definição, visto que a


gestão cultural não se restringe às competências administrativas, mas, para além delas, envolve
lidar com a cultura nas suas mais diversas manifestações.

Gestor Cultural

É alguém que estabelece relações de compartilhamento de gestão e de responsabilidades com


o seu objecto e com os sujeitos nele envolvidos. Alguém que entenda as práticas culturais como
processos – dinâmicos, ambíguos e sujeitos a significações diversas. Entendendo que a realidade
oferece a possibilidade descobrir potenciais, responder a anseios e até ampliá-los, reconhecer
diferentes e particularizados modos de agir e sentir. Capaz de planear segundo os fazeres e
quereres do quotidiano dos diversos indivíduos e grupos.

Cultura, territorialidade e direitos

A cultura se faz no território. É, geralmente, em um local específico, no bairro, no distrito,


na cidade que a produção cultural e artística acontece. As maneiras de fazer um bordado, uma
construção, uma horta ou uma festa, nos revelam algumas das facetas da cultura local, assim
como por meio das cenas musicais, literárias ou teatrais podemos conhecer melhor um
determinado território.

Ao longo do século passado, vivemos sob governos (democráticos ou não) que


consideraram a cultura um fator de unidade nacional. Havia a ideia da existência de uma
determinada cultura que submetia, um conjunto de outras para formar a chamada cultura
nacional. A ideia de um estado centralizado, no qual se originam um conjunto de decisões
sobre a oferta cultural para todo o país, reproduz um padrão de concentração do capital
simbólico.

O objetivo fundamental de uma política cultural deveria ser o de garantir o direito à cultura,
do qual goza o conjunto de cidadãos, segundo a Constituição. isso quer dizer que estamos
falando de práticas e de desejos de ser e de fazer, de questões materiais e imateriais. Dito de
outra forma, a política cultural deve ter em conta que as ações estão posicionadas nos campos
do real e do simbólico, do consumo e da fruição, do acesso e das práticas. É no lugar de
vivência cotidiana dos cidadãos, no território, que parte significativa desse direito se evidencia
e se materializa.

Nesse cenário, destaca-se o fato de que a questão cultural ocupa um lugar de maior destaque
nos programas e discursos de governo. Os produtores, os agentes, os gestores culturais, os
artistas das diversas áreas também passaram a buscar, a reivindicar, formas de participar e de
interferir nos processos de decisão no campo das políticas públicas culturais. Ressurgem
movimentos de valorização das manifestações culturais locais, que incentivam tanto a
redescoberta de artistas da comunidade como de novos atores e formas de produção artístico-
culturais. Aumentam também as demandas por uma maior formação e especialização dos
agentes culturais locais em todos os níveis, do artesão aos responsáveis pelas atividades
burocráticas, que devem implementar seus projetos buscando uma autonomia cultural.

Em análise recente sobre o lugar e o papel da gestão pública de cultura, Victor Vich chama a
atenção para a necessidade de se entender as políticas culturais como dispositivos que podem
activar novos processos sociais. em uma conjuntura de crise, ou na qual há uma despolitização
das ações cotidianas e uma espetacularização da política, talvez as políticas culturais possam
“ser as encarregadas de contribuir para a reconstituição da esfera pública” ao “demonstrar a
importância do simbólico na estruturação da vida cotidiana e buscar modificar formas
sedimentadas mediante as quais interpretamos a realidade social”. (VICH, 2014, p.21)
Capital social

Capital social está ligado à capacidade de interacção entre os indivíduos de um grupo,


inclusive com novos participantes, em diferentes situações. Envolve a circulação de ideias e
formulação e reformulação de práticas. Pressupõe reconhecer o outro, e os comortamentos, as
intenções, os valores, os conhecimentos que compõem o meio social e a capaciadade de
interagir em outros meios.

Está intrínseca nessas relações a compreensão do papel das isntituições nos meios sociais.
Efim, são essas relações entre as pessoas e delas com as instituições – mediadoras dessas
relações, tais como: igreja, família, governo, escola, etc. Isso implica a confiança e adesão a
normas e condutas, as quais se sujeitam os indivíduos em associações locais e em redes, tanto
as existentes quanto as potenciais; envolve o espírito gregário e de cooperação no interior dos
grupos sociais.

O capital social aponta para a capacidade dos grupos, bem como os indivíduos de um grupo,
se reconhecerem ou confiarem uns nos outros. É, portanto, um elemento fundamental para o
desenvolvimento de projectos colectivos.

viCh, víctor. Desculturalizar la cultura. La gestión cultural como forma de acción política. Buenos
aires: siglo vientiuno editores, 2014.

Gestão Cultural/ Juliana Carneiro e Lia Baron. (org.) Niterói: Niterói Livros, 2018.

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