Você está na página 1de 3

Governo e Sociedade na formulação de uma

POLÍTICA MUNICIPAL DE CULTURA


Giovanni Dias *

“É na cultura que o homem adquire sua condição


humana. Em qualquer sociedade, em qualquer tempo
histórico, a cultura possui um caráter essencial e
insubstituível...”
“ ... A cultura em seu sentido mais restrito, como arte,
participa tanto quanto a economia e a política de algo
essencial: construir a condição humana. Por isso não se
restringe a promoção de eventos.” (José Márcio Barros)

O planejamento dos governos locais raramente inclui uma política municipal de


cultura. O setor cultural não prevê uma estrutura que proporcione continuidade. É levado como um
conjunto de ações ou programas desarticulados (oficinas, exposições, festivais, etc.), simplesmente mais
um problema a ser equacionado, um fardo, para os prefeitos e secretários, e não é considerado
constitutivo da vida das comunidades, nem fundamental para o desenvolvimento social e a melhoria da
qualidade de vida.
Para se estabelecer um trabalho mais abrangente, é preciso definir uma política
municipal de cultura articulada com o desenvolvimento local e incluindo prioridades e estratégias no
plano de governo. Ou seja, a cultura no município deve ter lugar não apenas na secretaria ou órgãos
afins, nem deve se restringir às atividades culturais realizadas nos "templos" da cultura (URCA,
biblioteca, museu, etc.), mas transbordar para as casas, as ruas, os bairros, as escolas, as igrejas, a câmara
de vereadores, as secretarias, as associações e sindicatos. O papel da cultura é instigar o cidadão a
realizar sua cidadania e participar ativamente da dinâmica da cidade.

O QUE É POLÍTICA CULTURAL?

Política Cultural é a ação do poder público, ancorada em operações, princípios e


procedimentos administrativos e orçamentários. Esta política é orientada para melhorar a qualidade de
vida da população, através de atividades culturais, artísticas, sociais e recreativas. Precisa ter um escopo
amplo por se tratar de uma ação voltada para todo o município e não para alguns segmentos da
sociedade.
Essa ação, da maioria dos governos, quase sempre está pautada por uma
preocupação em conservar o patrimônio cultural e oferecer atividades de artistas consagrados. Ou seja,
ao proporcionar à população o acesso aos bens culturais, preocupa-se mais com a democratização da
cultura. Para isso, são promovidas atividades que valorizam, principalmente, os produtos da elite
cultural. O mercado de consumo de bens e serviços culturais e o circuito de distribuição dos produtos
culturais (teatros, salas de exposição, bibliotecas, auditórios) se desenvolvem e os grupos produtores de
cultura encontram apoio. A ênfase deste tipo de ação está na cultura ao alcance de todos. Isso pode ser
conseguido com a realização de shows públicos, ingressos a preços mais baratos, espetáculos teatrais
abertos ao público, facilidade de acesso aos equipamentos culturais, etc.
Apesar de muito importante, uma ação cultural desse tipo ainda é apenas um
primeiro passo para se chegar à Democracia Cultural, que significa possibilitar aos cidadãos
participarem da vida cultural do município, apropriando-se de instrumentos e meios necessários para
desenvolver suas próprias práticas culturais. A estratégia para esse caso é a promoção de atividades
culturais onde o público seja participante ativo, dinamizando a cultura local a partir de suas referências,
sem desconsiderar a arte chamada "erudita". O centro desta concepção é trabalhar com a cultura local,
enfatizando-se a cultura por todos. O mais importante deixa de ser o acesso aos bens culturais e passa a
ser a participação na criação e nos processos culturais.
Esses dois enfoques não são excludentes, mas se complementam conforme as
diversas dinâmicas culturais e sociais.
Para se implementar uma Política de Cultura voltada para a Democracia Cultural,
deve-se levar em conta o estabelecimento de alguns princípios que ajudam a nortear a ação:

1. Integrar a Política Cultural do município ao processo de desenvolvimento local


(econômico, social, político);
2. Reconhecer o pluralismo e a diversidade culturais, respeitando as diferentes identidades e
formas de expressão;
3. Levar em conta que o poder público não produz cultura, ou seja, não impõe pautas,
estéticas, gostos literários ou orientações culturais, mas considera a autonomia das diversas
manifestações culturais;
4. Descentralizar as atividades culturais;
5. Promover a integração da cultura no âmbito da vida cotidiana;
6. Compreender a participação da sociedade como principio constitutivo do processo de
formulação de políticas culturais.

A partir destes princípios, o governo local pode empreender ações tais como:

1. Implementar as diretrizes do Plano Nacional de Cultura, compromisso assumido pela


cidade de Poços de Caldas;
2. Fortalecer a participação dos agentes da cultura nas decisões públicas, através do Cunselho
de Cultura;
3. Criar um mecanismo de gerencia autônoma para o setor (Secretaria de Cultura);
4. Possibilitar o acesso aos bens culturais e aos equipamentos(criação de espaços alternativos,
aparelhamento dos já existentes);
5. Garantir infra-estrutura para atividades culturais comunitárias;
6. Democratizar a informação cultural no município;
7. Descentralizar os serviços culturais;
8. Resgatar as culturas de comunidades esquecidas, raízes e heranças culturais;
9. Integrar-se aos debates e intervenções relativos ao desenvolvimento municipal ou regional
(consórcios, câmaras, fóruns, etc.);
10. Apoiar grupos e movimentos na formação de redes e entidades culturais independentes;
11. Estimular a formação cultural da população e dos agentes culturais municipais
(bibliotecários, funcionários, trabalhadores e agentes de centros culturais);
12. Estimular a apropriação cultural de espaços públicos (praças, ruas, pontos de ônibus, etc.);
13. Descobrir e estimular o trabalho experimental das comunidades locais e de artistas não
consagrados.

Ao se formular uma política cultural, deve-se levar em conta o perfil e a composição


da população, reconhecendo a fisionomia cultural própria do município. Além disso, diagnósticos
elaborados a partir de pesquisa sobre a produção, as atividades e a dinâmica da cultura local podem ser
úteis para se elaborar uma política mais enraizada na história de cada lugar.
Para implementar estas ações, a prefeitura pode trabalhar com leis de incentivo e
fundos de cultura: que são uma boa maneira de alavancar a produção cultural local (teatro, música,
cinema, literatura, festas populares). Além deles, há outras formas de financiamento à cultura:

• Pode-se estabelecer parcerias com outras esferas de governo, como o Ministério da


Cultura através do “Plano Nacional de Cultura"; Secretaria de Estado da Cultura, através
da política estadual de cultura; também o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) que
vem financiando oficinas de formação cultural (artesanato, contador de história, literatura,
teatro de rua e outros) junto a governos estaduais e municipais.
• Trabalhar em conjunto com empresas que atuam com projetos culturais específicos pode
ampliar o campo de ação de uma política cultural, voltada para projetos sociais. Grande
exemplo tem sido a TOGNI MATERIAIS REFETÁRIOS, ALCOA ALUMÍNIO, DME,
MINERAÇÃO CURIMBABA e outras.
• Trabalhar em conjunto com as Ongs Culturais, as associações segmentadas, que possuem
um conhecimento de causa e condição de implementação dos projetos pertinentes à
política cultural, isso possibilita uma melhor gestão administrativa dos resultados a serem
alcançados.
• Os intercâmbios artístico-culturais, visando a instauração de Fóruns ou Consórcios
Intermunicipais de Cultura, valorizam a região e facilitam a promoção de eventos (peças,
festivais) que podem circular pelos diversos municípios envolvidos.
• A política cultural no município pode estabelecer um trabalho com outras secretarias para
viabilizar algumas ações, como por exemplo: Secretaria de Saúde (AIDS e cultura) ou
Meio Ambiente (cultura ambiental), Assistência Social e principalmente Turismo (O
turismo Cultural).

Ao estabelecer metas e ações a serem implementadas é importante que o poder


público possa contar com a participação da sociedade civil. Envolver diversas comunidades possibilita
uma visão de conjunto mais articulado com as necessidades locais. Este esforço coletivo ajuda também a
concretizar as prioridades estabelecidas. O processo deve ser acompanhado por técnicos da prefeitura,
tanto da área de cultura quanto de outras áreas como administração, planejamento, finanças.
Já a participação da sociedade civil, através de fóruns, comitês, conselhos e
conferências de cultura da cidade, deverão contar com o máximo de representantes das áreas culturais no
município. Estes mecanismos e formas de participação podem dar referências sobre as possibilidades de
se estabelecer uma política cultural mais democrática. A realização de Fóruns Municipais de Cultura,
através das câmaras setoriais ligadas ao Conselho Municipal de Cultura, tem demonstrado que a
participação nas decisões culturais possibilita ao poder público trabalhar com dados mais concretos
sobre a atividade cultural, além de proporcionar integração e interação entre os grupos culturais
considerados ‘sem voz’.
Uma das maiores dificuldades ao se tentar elaborar uma política cultural para o
município é convencer o conjunto do governo da necessidade de se considerar a cultura como prioritária
na gestão pública e não uma atividade menor em relação a outras necessidades da população. Outro
problema é estabelecer recursos próprios para implementar a política cultural planejada. Os gestores
culturais dos municípios se ressentem muito da falta de informações sobre financiamento a projetos
culturais.
A relação com a comunidade cultural também pode ser uma dificuldade. Em geral
há uma desconfiança das intenções do governo em manter as atividades culturais já existentes. É
fundamental, portanto, estabelecer um diálogo público sobre a atividade cultural, destacando a
necessidade de um trabalho conjunto entre a prefeitura, os grupos e os produtores culturais.

Cremos que esta proposta reflete nosso pensamento e nosso anseio por uma cidade
culturalmente desenvolvida, onde todos saiam ganhando, artistas, governantes e principalmente a
sociedade. E nos colocamos desde já a serviço deste horizonte, sonho há muito acalentado pela cidade,
sem vinculação política partidária, mas no compromisso com a política cultural e com o que
acreditamos.

Você também pode gostar