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APONTAMENTOS DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

RECOMENDADO PELO PROFESSOR ERNESTO KAMBALI, 2021 -2022

Introdução:
a) Objecto da Introdução ao Estudo do Direito
Fornece conhecimentos básicos, gerais e comuns a qualquer área do Direito.
Estuda noções fundamentais para a compreensão da ciência jurídica, isto é,
diversos conceitos científicos utilizados no Direito, com finalidades
pedagógicas.
A Introdução ao Estudo do Direito leva o estudante a uma visão global da
linguagem jurídica, de todo o conteúdo existente na área do Direito, que é difícil
obter através do estudo isolado das disciplinas/ou ramos do Direito.
b) O que é o Direito?
A palavra direito intuitivamente nos outorga a noção do que é certo, correto,
justo, equânime (Jean Patrício da Silva, 2014) 1.
Historicamente, o termo Direito é equivalente do latim “ius”, iuris. O termo
“ius” com significado de Direito começo a ser usado pelos juristas romanos:
Ulpianus (228) e Paulus (226), segundo o testemunho do Digesto (ver Corpus
Iuris Civilis, justinianus = 530 a 565). Ius, chama-se assim porque vem de
“Iustitia”, como definido por Celsus2, Ulpiano define o direito como a arte do
bom e do justo.
Os romanos usaram o termo ius com muitos significados e múltiplos.
Exemplos:
 D.1.1.1pr. (livro, titulo, fragmento, paragrafo) (Ulp. 1 inst.): Celsus definit,
ius est ars boni et aequi: direito como ciência, saber jurídico
 D.50.17.54 - Nemo plus iuris transferre potest quam ipse habet
“Ninguém pode transferir mais direito do que ele próprio tem”: direito
como poder, faculdade;
 D.5.2.17.1 – “ius fieri ex sententia iudicis”: o direito determina-se bem
por uma sentença do juiz – direito com o significado de “iussum”=
ordem, realidade justa – aquilo que os romanos designavam por “natura
rerum” = natureza das coisas.
 Lei das XII tábuas3 – “Si ni ius vocat, ito”= se alguém é chamado ao
Tribunal, vai”.
1
Instituto de Educação Superior da Paraíba, Brasil.
2
Celso fez parte do conselho do imperador Adriano (Publius Aelius Hadrianus, 117 a 138 DC). Ulpiano foi
o primeiro assessor do prefeito do pretório Papiniano, durante os governos de Septímio Severo e
Caracala. Depois do assassinato de Caracala em 217, o seu sucessor, imperador Heliogábalo passou a
perseguir Ulpiano. Já o sucessor de Heliogábalo, Alexandre Severo, o tornou encarregado de
suprimentos e comandante da guarda pretoriana em 222, sendo o principal conselheiro do imperador.
Impopular com a guarda pretoriana, por ter diminuído seus privilégios concedidos por Heliogábalo,
Ulpiano foi morto pelo liberto Epagate [en], sob o olhar de Alexandre Severo, no final de 223.

1
Noção genérica: direito é tudo aquilo que tem especiais atinências com o
iustum (justo, exacto, o devido).
Contudo usavam estes muitos significados e múltiplos, para indicar quer o
direito objectivo quer o direito subjectivo.
Direito objectivo - É o conjunto de regras gerais, abstractas e imperativas,
vigentes num determinado momento, para reger as relações humanas, e
impostas, coactivamente, à obediência de todos. Os Códigos Penal, de
Processo, Civil etc., bem como qualquer uma de suas regras, são exemplos de
direito objectivo.
Direito subjectivo – É constituído pelos poderes, posições de privilégio ou
faculdades que as normas de direito objectivo atribuem às pessoas de modo a
que estas possam salvaguardar os seus legítimos interesses: direito à vida,
direito à integridade física, direito ao bom-nome e à privacidade, direito ao
casamento, etc.
Etimologicamente, o termo Direito vem do latim “Directum” do verbo “dirigere”
(dirigir-orientar-endireitar), significando aquilo que é “recto”, “direito” ou
“conforme à razão”.
Didacticamente, o Direito é o ramo da ciência que estuda as regras gerais,
abstractas e imperativas do relacionamento social, criadas pelo Estado e por
este impostas, se necessário, de forma coerciva. Deveres e obrigações
impõem-se à conduta de todas as pessoas no convívio familiar, na vida laboral
e nas relações sociais em geral. A solução dos conflitos, com base no Direito e
mediação do Estado, torna possível a vida em sociedade.
Assim, Direito não é somente o conjunto de normas gerais, abstractas
obrigatórias e coercitivas (normas jurídicas) que regulam, ordenam ou
disciplinam os aspectos mais relevantes da vida societária mas é também o
ramo da ciência que tem por objecto o estudo dessas normas. A ciência
jurídica tem por objecto discernir, de entre as normas que regem a conduta
humana, as que são especificamente jurídicas. Ou seja, “o Direito não se limita
a apresentar e classificar regras, mas tem como objetivo analisar e estabelecer
princípios para os fenômenos sociais tais como os negócios jurídicos; a
propriedade; o casamento, etc.4”
Ao contrário de outras normas sociais, as normas jurídicas caracterizam-se
pelo seu carácter coercitivo, pela existência de sanção imposta pela autoridade
do Estado no caso de não observância voluntária. O Direito regula uma enorme
e crescente gama de relações humanas e rege-se, em todo o mundo civilizado,
por numerosos princípios e regras cuja validade é imposta e aceite como
condição da própria sobrevivência social. Tal ordenamento compulsório
estabeleceu-se em lenta e trabalhosa evolução, ao longo de séculos, como se
3
Primeiro trabalho de codificação das leis que vigoravam na era da Monarquia (surgiu 451, 449?), feito
por um colégio de 10 magistrados Formava o cerne da constituição da República Romana e do mos
maiorum (antigas leis não escritas e regras de conduta).
4
Jean Patrício da Silva, 2014, apontamentos, pág. 3.

2
verá em seguida, através de uma breve referência às suas matrizes históricas
mais conhecidas, para uma melhor compreensão dos sistemas jurídicos
vigentes na actualidade.
c) Funções do Direito na ordem social
Enquanto forma de ordenação da vida na sociedade, a ordem jurídica cumpre
duas -funções primordiais:
a) Função primária ou prescritiva: a ordem jurídica funciona como princípio
de acção ou conduta do Homem (coloca os cidadãos num plano de igualdade
jurídico-social, atribuindo-lhes direitos e poderes e prescrevendo-lhes deveres
e responsabilidades) e como critério de sanção (prevê as consequências da
violação das normas jurídicas, ou seja as punições).
b) Função secundária ou organizatória: a ordem jurídica estabelece as
regras de organização da sociedade e das instituições sociais. Para que a
ordem jurídica se materialize, ela precisa estabelecer as suas instituições,
determinando-lhes o estatuto funcional e organizando os processos jurídicos de
actuação da função primária.
d) Valores fundamentais do Direito:
Desde que foi assumido como uma das dimensões mais importantes da
cultura, o Direito está ligado ao esforço histórico de realização de valores
fundamentais na convivência social, a saber:
i) - Justiça:
É o fim último do Direito5. O filósofo Aristóteles define a justiça como sendo
uma “disposição da alma” que todas as pessoas têm, a qual caracteriza como
certa aptidão em “fazer o que é justo, a agir justamente e a desejar o que é
justo6”. O pensamento de Aristóteles consiste em examinar a justiça a partir da
análise do comportamento justo e injusto, no que se refere ao modo de
tratamento entre as pessoas7. É “na justiça que se resume toda a excelência”.
Diz ainda que as disposições naturais presentes no caráter da pessoa
humana como a inteligência, o discernimento, a intuição. São acções
consideradas como Virtude ou Excelência, que Aristóteles subdivide em
intelectual e moral.

Aristóteles versa sobre a justiça que se manifesta do convívio entre os homens,


na maneira pelo qual se orientam à prática do bem (no sentido do bom), do que
é considerado correcto na sociedade em que vivem (idem). Estas pessoas
5
Segundo Felice Battaglia (1902-1977), só o suum cuique tribuere tem origens gregas, na senda de
Pitágoras, Sócrates e Platão. E são os romanos que acrescentam os outros dois, acentuando o aspecto
volitivo da justiça, como virtude essencialmente prática, onde o honeste vivere vem de Zenão e o
alterum non laedere, de Epicuro.
6
ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos. p. 91, STACCIARINI, Samantha, nota a seguir
7
STACCIARINI, Samantha. Teoria da justiça em Aristóteles. Revista Eletrônica Direito e Política,
Itajaí, v.2, n.1, 1º quadrimestre de 2007. Disponível em: www.univali.br

3
realizam acções como bondade, honestidade, justiça, moderação,
coragem, prudência e humildade, as quais são designadas como virtude ou
excelência, que reflete atitudes do bem, as quais se fundam no próprio caráter
do ser humano.
A Excelência Intelectual é entendida como a virtude que nasce e se aperfeiçoa
com a experiência e com o tempo. Funda-se em dois tipos de conhecimento
sendo o primeiro o conhecimento teórico (que formula ideias universais) e o
segundo, o conhecimento pela experiência (que produz ideias limitadas ao
particular). A partir das próprias potencialidades do ser humano, ambos os
conhecimentos são desenvolvidos pela Educação, a qual nasce no âmbito das
orientações familiares e/ou transmitidos pela Instrução, através do ensino, do
ato de educar8, que Se expressa por meio de acções habituais voltadas para o
bem, para o aperfeiçoamento intelectual da pessoa não só individualmente,
como também de toda sociedade (idem, nota 8)).
No entanto, a Excelência Moral apresenta-se de maneiras diversas, mas seja
qual for esta maneira, a excelência moral não se constitui pela natureza. Ao
contrário, nasce do hábito, entendido como repetição consciente de ato, uso ou
costume. Assim a natureza atribuiu ao homem uma aptidão mental “de
inteligência para desenvolver a excelência moral” tornando-o capaz de
modificar-se pelo hábito, tanto para o caminho do bem como para o mal. Neste
sentido a pessoa é livre para escolher qual caminho irá seguir (idem, nota 8).
Excelência moral busca sempre o meio-termo. Segundo ARISTÓTELES,
este meio-termo significa o igual, pois em cada tipo de acção em que existe
um “mais” e um “menos” existe também um “igual”.
No mundo romano, como vem definida por Celsus (apud Ulpianus) “Justitia
est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuere (A justiça é a
vontade constante e perpétua de dar a cada um o que é seu). A justiça reflecte-
se nos tria praecepta iuris dos romanos: o honeste vivere, o alterum non
laedere e o suum cuique tribuere.
Designa, segundo alguns autores (como Leibniz, 1646-1716, alemão),
proporção, ponderação, adequação, correspondência a um fim . Na Grécia
Antiga, a Justiça fazia-se equivaler à igualdade; na tradição judaico-cristã,
supõe conformidade do agir humano com a vontade divina; expressa-se
também no conceito de carácter social que diz respeito à repartição dos
bens escassos entre os homens.
A Justiça é ainda encarada em função do tipo de relações que se estabelecem
entre os indivíduos (justiça comutativa) entre os indivíduos e a sociedade, em
termos de sujeição às normas fixadas pelo Estado (justiça geral ou legal) e
entre o Estado e os indivíduos, tendo estes direitos em relação àquele (justiça
distributiva).
Como dizia Aristóteles, cada tipo de acção em que existe um “mais” e um
“menos” existe também um “igual”. E a justiça distributiva ou justiça em
8
SILVA, Moacyr Motta da. Direito, justiça, virtude moral & razão: p. 47-48.

4
sentido estrito, revela-se na distribuição de funções elevadas de governo, da
honra, do mérito das pessoas, de dinheiro, da fixação de critérios sobre
tributos, distribuição de cargos, ou de outras coisas que devem ser divididas
entre os membros da sociedade política, visto que a participação de uma
pessoa pode acontecer de maneira igual ou desigual à de outra.
Ou seja, a Justiça comutativa (natural) exige que cada pessoa dê a outra o que
lhe é devido. A Justiça distributiva manda que a sociedade dê a cada particular
o bem que lhe é devido. A Justiça geral, social ou legal (politica) determina que
as partes da sociedade dêem à comunidade o bem que lhe é devido 9.
Para poder vigorar na sociedade, o Direito deve impor uma ordem de
convivência justa. A validade do Direito reside na Justiça, isto é, na justeza da
ordem jurídica.
ii) - Equidade: para Aristóteles, o conceito de equidade está interligado ao
conceito de justiça: dar a cada pessoa o que é proporcionalmente igual. No
entanto, o equitativo é considerado o mais justo, não de acordo somente
com a lei, e sim como uma correção da justiça legal que não deixará lacuna
sociais – pois irá prever particularidades e diferenças não observadas pelo
tratamento generalizado da lei.
Significa procurar ou promover a justiça, tendo em devida conta as
desigualdades sociais, o que implica dar tratamento diferenciado a situações
desiguais, dentro de parâmetros legalmente aceitáveis. Para o ser realmente, a
Justiça exige a consideração dos casos concretos na aplicação das normas,
não podendo cingir-se a uma aplicação cega. Por isso, o Juiz, na sua função
de julgar, obedece à lei mas também à sua consciência, além de considerar o
convencionado pelas partes, sempre que as normas o permitam.
Equidade, significa dar às pessoas o que elas precisam, de modo que todos
tenham, realmente, acesso às mesmas oportunidades. A igualdade é baseado
na premissa de que ninguém deve ter menos oportunidades em razão da cor,
origem, família, sexo, etc.
iii) - Segurança: Quer dizer que aos cidadãos deve ser dada a necessária
confiança na estabilidade (ou permanência) das normas jurídicas. As normas
jurídicas não podem ser alteradas a cada dia que passa, a fim de garantirem
aos cidadãos a possibilidade de orientar a sua conduta presente e futura com a
necessária estabilidade. É assim que as leis novas só devem em princípio
dispor para o futuro (princípio da irretroactividade da lei).
iv) - Certeza Jurídica: Significa que aos cidadãos deve ser dada a
possibilidade de terem um conhecimento preciso acerca do sistema de normas
jurídicas vigentes na sociedade, para orientarem convenientemente a sua
conduta e defenderem os seus interesses. Os cidadãos devem estar em
condições de gerir e prever os efeitos da sua conduta com base em normas
jurídicas vigentes e do conhecimento geral. Por isso, em regra, as normas

9
João Baptista Herkenhoff, http://www.dhnet.org.br

5
jurídicas, escritas de forma clara, com rigor e objectividade, devem ser
publicadas.
“O fim atribuído ao Direito não é o de criar uma ordem ideal, mas uma ordem
real de convivência” Thomas Hobbes (1588 1679)10.

PRIMEIRA PARTE:
O HOMEM, A SOCIEDADE E O DIREITO
I – A problemática da ordem social:
1. A natureza social do Homem
O Homem sempre viveu em comunidade: clã, tribo, família, cidade (polis),
Sociedade e Estado são, entre outras, formas organizativas em que se tem
manifestado a natureza societária ou a sociabilidade do homem ao longo da
História.
Já na Grécia Antiga, o Homem tomara consciência de que a sua vida social
(política) lhe conferia uma condição superior à Natureza (mineral, vegetal,
animal). Aristóteles dizia que “o Homem, mais do que qualquer outro animal
que viva em enxames ou rebanhos, é, por natureza, um animal social (zoon
politikon) ”.
Podem ser agrupadas em dois grandes grupos as tentativas de explicação da
razão de ser da vida do Homem em sociedade 11, segundo diversos autores:
a) Concepção naturalista da sociedade: Autores como Aristóteles, Cícero, S.
Tomás de Aquino, Stº Agostinho, Leão XIII, etc., acreditam na origem natural
da sociedade, isto é, entendem que a origem da sociedade tem o seu
fundamento ou explicação na natural sociabilidade do homem, na tendência
natural para o homem conviver com outros homens de modo a satisfazer as
suas necessidades e realizar-se como pessoa.
b) Concepção contratualista da sociedade: Segundo autores como John
Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, a origem da sociedade
baseia-se no contrato social. Pare eles, a vida do Homem em sociedade não
era natural, mas antes resultava de um acordo de vontades entre os homens.
Defendem que, antes de viverem em sociedade, os homens viviam num estado
pré-social ou “estado de natureza” (status naturalis), caracterizado por uma
vida solitária e errante, sem vínculo comunitário, em que não havia leis nem
10
Apud Jean Patrício da Silva, 2014, apontamentos, pág. 4
11
Entendemos aqui Sociedade como um conjunto de indivíduos que produzem e reproduzem as
condições de sua sobrevivência, relacionando-se uns com os outros, com base em determinadas regras,
para a satisfação de suas necessidades individuais e colectivas. Para a satisfação de determinadas
necessidades (nomeadamente as de segurança e bem estar), a sociedade tem de se organizar a um nível
superior, dotando-se de uma Autoridade capaz de empregar os meios para se impor, se necessário, de
força coerciva, a toda a colectividade, de modo incontornável. Tem-se, assim, a Sociedade Política, que
aglutina e se impõe a todas as sociedades ditas primárias ou de primeiro grau, como a família,
vizinhança, clubes, associações, etc., que visam satisfazer necessidades de menor alcance...

6
autoridade. A passagem à vida em sociedade ou ao “estado de sociedade”
(status civilis), com regras e princípios de convivência colectiva, processar-se-
ia mediante um contrato social ou acordo de vontades em que os homens
prescindiram da vida errante (ou do estado da natureza) em que viviam
anteriormente. Por esse contrato social os homens criam um ente regulador da
vida em sociedade tendo em vista o bem comum, surgindo, desta forma, o
Estado e, com ele, as normas que constituem o Direito (normas jurídicas).
Estas duas explicações sobre a origem da sociedade não são de todo
incompatíveis, antes se complementam, contribuindo para melhor se
compreender a natureza social da vida humana. Na verdade, o Homem é um
ser eminentemente social, na medida em que não consegue viver só ou isolado
dos outros homens: ele tende a viver em sociedade, porque só assim pode
desenvolver todas as suas capacidades. Viver em sociedade é uma
necessidade inata do Homem e representa a mais elementar e natural forma
de convivência humana.
Em suma, a natural sociabilidade do Homem é o fundamento da sua vida em
sociedade, a qual é regulada por uma diversidade de normas, de entre as quais
as normas jurídicas, como veremos adiante.
2. A necessidade da existência do Direito
A necessidade do Direito no mundo social Já na Antiguidade se dizia que onde
existe o Homem existe Sociedade (ubi homo, ibi societas). Mas também se
dizia que onde houver Sociedade haverá Direito (ubi societas, ibi ius).
Com efeito, sendo a sociedade indispensável à vida do Homem, a convivência
humana em sociedade exige que se defina e prevaleça uma ordem, a que a
todos se submetam, isto é, um conjunto de regras gerais e padrões que
orientem de forma imperativa o comportamento do Homem e estabeleçam as
regras de organização dessa sociedade bem como as instituições que dela
fazem parte. Dessa ordem social, destaca-se a ordem jurídica, ou seja o
Direito.
A ordem jurídica é, pois, a ordem social regulada ou constituída pelo Direito, ou
seja, por um conjunto de normas gerais, abstractas e imperativas, cuja
observância pode ser assegurada de forma coerciva pelo Estado.
A sociedade é, ao mesmo tempo, a forma de vida por excelência do Homem e
uma realidade ordenada pelo Direito. De facto, o meio social ordenado em que
vive o homem (a sociedade) é instituído pelo Direito, através da definição de
regras de conduta e padrões de comportamento individual e colectivo e de um
sistema organizativo em que se estrutura e funciona a sociedade.
O Direito regula, assim, um conjunto de relações que poderíamos figurar num
“triângulo normativo” da seguinte forma: relações entre cidadãos (linha de
base), que têm lugar num plano de igualdade jurídico-social; relações entre os
cidadãos e o Estado (linha ascendente), determinando-se aquilo que os
cidadãos devem à sociedade (Estado) como contribuição para o bem comum;

7
relações entre o Estado e os cidadãos (linha descendente), em que o primeiro
(Estado) aparece com obrigações face aos seus segundos (cidadãos). As
linhas da estrutura da ordem jurídica esboçada correspondem, assim,
respectivamente, às três intenções normativas clássicas da Justiça: justiça
comutativa, justiça geral ou legal; justiça distributiva.
O carácter societário do Direito fica assim evidente: esse carácter societário
determina-se pela ligação estreita e necessária entre o Direito e a Sociedade.
OBS: estes apontamentos são Extractos da obra de Bartolomeu Varela,
Introdução ao Estudo do Direito, 2ª edição, revista, Praia: Uni-CV, 2011,
versão digital disponível em http://unicv.academia.edu/ Bartolomeu Varela

3. As diversas ordens sociais normativas


Ao contrário da ordem natural, em que os fenómenos ocorrem segundo uma
sucessão invariável (ciclo de reprodução animal, marés, ciclo de água,
movimentos da terra, etc.), a ordem social é constituída por uma rede complexa
e mutável de regras provenientes de ordens normativas de diversa índole, a
saber:
a) A ordem moral – aponta normas ou regras que tratam de influenciar a
consciência e moldar o comportamento do indivíduo em função daquilo que se
considera o Bem e o Mal; As normas morais visam o indivíduo e não
directamente a organização social em que se integram; a ordem moral tem
como sanção a reprovação da formação moral da pessoa ou a má reputação;
b) A ordem religiosa – tem por função regular as condutas humanas em
relação a Deus, com base na Fé;
c) A ordem de trato social – aponta normas que se destinam a permitir uma
convivência agradável entre as pessoas mas que não são propriamente
indispensáveis à subsistência da vida em sociedade. Inclui normas sobre a
maneira de estar e se comportar em acontecimentos sociais (normas de
etiqueta e boas maneiras, de cortesia e urbanidade); normas sobre a forma de
vestir (moda), normas típicas de uma profissão (deontologia), normas de uma
determinada região (usos e costumes), etc.;
d) A ordem jurídica - é constituída pelas normas mais relevantes da vida em
sociedade e, ao contrário, das outras ordens normativas, serve-se da coacção
como meio de garantir a observância das suas normas, caso estas não forem
acatadas voluntariamente. É, pois, um conjunto de normas que regulam as
relações sociais, impondo-se aos homens de forma obrigatória e com recurso à
coercibilidade.
Mas, note-se bem: todas as ordens sociais enunciadas têm em comum o facto
de as suas normas (normas morais, religiosas, de trato social e jurídicas)
serem gerais, abstractas e obrigatórias. A generalidade, a abstracção e a
imperatividade ou obrigatoriedade são, pois, características comuns às

8
mesmas. No entanto, e como marca diferenciadora, só a ordem jurídica (ou de
Direito) se caracteriza pela coercibilidade, assegurada pelo Estado em caso de
não cumprimento voluntário das suas normas (normas jurídicas).
Relações entre Direito e Moral
A vida social só é possível se forem efectivas as regras determinadas para o
procedimento dos homens. Tais regras, de cunho ético, emanam,
fundamentalmente, da Moral e do Direito, que procuram ditar como deve ser o
comportamento de cada um. Sendo ambos – Moral e Direito – normas de
conduta, evidentemente apresentam um campo comum. Assim, aquele que
estupra uma menor infringe, ao mesmo tempo, norma jurídica, contida no
Código Penal, e norma moral (neminem laedere = não prejudicar a ninguém).
Miguel Reale elucida que "o Direito representa apenas o mínimo da Moral
declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem todos
podem ou querem realizar de maneira espontânea as obrigações morais, é
indispensável armar de força certos preceitos éticos, para que a sociedade não
soçobre. A Moral, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de
maneira espontânea, mas, como as violações são inevitáveis, é indispensável
que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão das regras que a
comunidade considerar indispensáveis à paz social".
Haveria, portanto, um campo de acção comum, sendo mais amplo o da
Moral. Mas seria correcto dizer-se que todas as normas jurídicas estão
contidas no plano moral? A resposta é, obviamente, negativa.
Acções existem, entretanto, que interessam apenas ao Direito, como ocorre,
por exemplo, com as formalidades de um título de crédito. Existem outras que
são indiferentes ao Direito, mas que a Moral procura disciplinar. É o que
acontece, v.g., com a prostituição. Com efeito, a mulher que se dedica à
prostituição não sofre qualquer sanção jurídica, posto que a prostituição, em si,
não é crime. Contudo, como salienta Bassil Dower, é considerada como
“câncer social” e a mulher que a prática, por um motivo de ordem ética, fica
marginalizada, sujeitando-se à repulsa geral.
Conquanto tenham um fundamento ético comum, as normas morais e jurídicas
possuem caracteres próprios que as distinguem, embora as regras da Moral
exerçam, normalmente, enorme influência sobre as de Direito.
Esses caracteres distintivos podem ser sistematizados sob um tríplice aspecto:
em razão do campo de acção, da intensidade da sanção que acompa
nha a norma em cada caso ou dos efeitos de cada uma delas.
Sob o aspecto do campo de acção, a Moral actua, sobretudo, no foro íntimo
do indivíduo, enquanto o Direito se interessa, essencialmente, pela acção
exteriorizada pelo homem, ou seja, por aquilo que ele fez ou deixou de fazer na
vida social. Assim, a maquinação de um crime, podendo ser indiferente ao
Direito, é repudiada pela Moral, encontrando reprovação na própria
consciência. Já a exteriorização desse pensamento, com a efectiva prática do

9
crime, importa em conduta relevante para o Direito, que mobiliza o aparelho
repressivo do Estado para repor o equilíbrio social.
Quanto à intensidade da sanção, a Moral estabelece sanções individuais e
internas (remorso, arrependimento, desgosto) ou de reprovação social (ex.: a
prostituta é colocada a margem da sociedade). O Direito estabelece sanção
mais enérgica, consubstanciada em punição legal (ex.: aquele que mata fica
sujeito a uma pena de prisão maior).
Quanto aos efeitos, observa-se que da norma jurídica decorrem relações de
carácter bilateral, ao passo que da regra moral deriva consequência unilateral,
isto é, quando a Moral diz a um que ame o seu próximo, pronuncia-o
unilateralmente, sem que ninguém possa reclamar aquele amor; quando o
Direito determina ao devedor que pague a prestação, proclama-o
bilateralmente, assegurando ao credor a faculdade de receber a dita prestação.
De forma sucinta, podemos fazer a distinção entre a ordem jurídica (Direito)
e a ordem moral de acordo com os seguintes critérios:
a) Critério do “mínimo ético”: O Direito só acolhe e impõe as regras morais
cuja observância é imprescindível para a subsistência da paz, da liberdade e
da justiça em sociedade. O Direito constitui aquele mínimo ético ou moral, que
resulta da coincidência das suas normas com as regras morais. Isto equivale a
dizer que o Direito não se propõe, como seu fim essencial, garantir certa
concepção ética da sociedade, mas tampouco ignora as normas morais; na
verdade, o Direito não prescreve condutas imorais;
b) Critério da coercibilidade: As normas morais só têm relevância para a
consciência de cada um, enquanto as normas jurídicas se impõem ao indivíduo
na medida em que são coercivas, ou seja, podem ser impostas pela força;
c) Critério da exterioridade: Ao Direito, que se preocupa essencialmente com
a conduta externa ou visível do homem, basta que o indivíduo cumpra as
normas em vigor, enquanto a Moral exige, além disso, uma adesão íntima
(interior) aos valores éticos que prescreve. Têm sido ainda referidos na
doutrina outros critérios distintivos, como:
i) O critério teleológico, segundo o qual a Moral visa a perfeição a pessoa
humana, enquanto o Direito tem por objectivo a realização da justiça na vida
social;
ii) O critério do objecto, conteúdo ou matéria, segundo o qual a Moral
regula toda a conduta humana, individual e social, interessando-lhe
inclusivamente o que é puramente interno, enquanto o Direito respeita
exclusivamente aos comportamentos sociais;
iii) O critério da perspectiva, conforme o qual a Moral considera a conduta
preferentemente “do lado interno”, enquanto o Direito considera sobretudo o
lado externo, a conduta exteriorizada.

10
Pode dizer-se, em suma, que as condutas que nem todas as condutas
humanas entram na esfera do Direito, mas sim aquelas que são susceptíveis
de pôr em causa a ordem social de convivência, os fundamentos da própria
sociedade.
Todavia, entre as diversas ordens sociais normativas estabelecem-se relações,
influenciando-se reciprocamente, como facilmente nos damos conta no
quotidiano.
4. O Direito como produto cultural
Trata-se de uma questão colocada pela Sociologia Jurídica, disciplina científica
que investiga o fenômeno social jurídico diante da realidade social, se
ocupando do direito enquanto facto social (vide: SOUTO, Cláudio; SOUTO,
Solange. Sociologia do direito: uma visão substantiva. 3. ed. rev. e atual, Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 2003, p. 80-89).
Dentre os precursores da Sociologia Jurídica, destaca-se o jurista alemão
Eugen Ehrlich (1862-1922). A sua principal obra, intitulada Fundamentos de
Sociologia do Direito, é referência obrigatória para aqueles que se dedicam ao
estudo da Sociologia Jurídica.
Em sua obra, Ehrlich busca demonstrar que a verdadeira Ciência do Direito
deve ser feita por meio da análise do direito no momento de sua aplicação na
vida social. Para Ehrlich, o verdadeiro direito, ou ainda, o direito como ele
realmente é, é o direito “vivido” na sociedade por meio dos fatos sociais, ou
seja, o direito da sociedade, independentemente de ser ele legislado, cujo
objetivo é a organização social pacífica (MALISKA, Marcos Augusto. Introdução
à sociologia do direito de Eugen Ehrlich. Curitiba: Juruá, 2001, p. 71).
O direito é um bem cultural, uma vez que é produto da cultura humana, sendo
criado e desenvolvido em meio às relações sociais. Segundo Machado Neto, o
direito é objeto cultural “porque criação do homem na convivência social”;
criador de cultura “porque submete a inteira extensão do planeta a um
sistema de regulamentação jurídica e, possibilitador de cultura porque
“sem a relativa margem da segurança que o ordenamento jurídico
desenvolve e garante, impossível se faria a norma realização da cultura”
(Machado Neto, Antônio Luís. Sociologia jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p.
158-159).

5. O Direito e a evolução social


As diversas e múltiplas mudanças culturais, sociais, económicas e políticas
caracterizam a evolução social. Ou seja, esta processa-se pela ocorrência
daqueles factores.
De facto, hoje assiste-se um grande desenvolvimento económico e tecnológico.
Com efeito, os problemas culturais gerados pelo desenvolvimento assumem
uma escala mundial, colocando problemas muito delicados, tais como a

11
desertificação, a poluição dos rios, as alterações climáticas, inseminação
artificial, homossexualismo, etc., que perigam o equilíbrio ecológico e o futuro
da própria Humanidade.
A nível internacional, o contacto e a troca de experiências trazem novos
desafios, tais como a assimilação de costumes, tradições e culturas entre todos
os povos. De facto, no relacionamento entre povos em estádios diferentes de
evolução socioeconómica e de sistemas políticos tende-se a uma evolução
social no sentido global.
Além disso, a estrutura e organização das sociedades sofrem, por vezes,
transformações associados a eventos revolucionários (ex. Revolução do 25 de
Abril) que rompem com os princípios ideológicos vigentes e abrem novos
horizontes culturais, sociais e políticos às sociedades.
Neste contexto, o Direito não fica indiferente às dinâmicas da sociedade e sofre
a influência das novas realidades socioeconómicas, políticas ideológicas e
culturais. Além disso, sendo um fenómeno cultural, o Direito é influenciado
pelos valores e ideologias dominantes em cada sociedade. Por isso, o
legislador, atento a essas mudanças, é chamado a adaptar as leis às novas
realidades, criando novas normas jurídicas.
Por outro lado, o Direito pode provocar a mudança de valores e mentalidades,
estimulando novas práticas e modelos de comportamento. Neste caso, o
Direito faz com que a sociedade se adapte a novas realidades, criando leis que
sejam factores de progresso e de dinamismo da sociedade e surgindo nos
ramos de Direito (o Direito do Ambiente, O Direito do Consumo e o Direito da
Informação).

6. A PESSOA, FUNDAMENTO E FIM DA ORDEM JURÍDICA


O Direito existe para regular as relações entre pessoas. As relações sociais
(relações entre pessoas), uma vez reguladas pelo Direito, transformam-se em
relações jurídicas. Entende-se, pois, por relação jurídica toda a relação entre
pessoas a que o Direito atribui efeitos. Na verdade, qualquer relação da vida
social que seja juridicamente relevante.
Enquanto formas de conduta social reguladas pelo Direito, as relações jurídicas
produzem efeitos jurídicos sobre as pessoas, pois que estas são os sujeitos de
toda a relação jurídica. Pessoa, em sentido jurídico, é o sujeito susceptível de
direitos e obrigações, isto é, titular de personalidade jurídica.
1. Noção de personalidade jurídica
47. Personalidade jurídica é a susceptibilidade (a possibilidade) de qualquer
pessoa ser titular de relações jurídicas, ou seja, de direitos e obrigações.
Compete à lei estabelecer quem tem personalidade jurídica. De acordo com o
Código Civil, a personalidade adquire-se no momento do nascimento completo
e com vida e cessa com a morte. Assim, todos os seres humanos têm
personalidade jurídica e, desde logo, os direitos de personalidade como: o

12
direito à vida e à integridade física, direito ao nome, ao bom-nome e à
reputação, direito à honra, direito à imagem, direito à reserva sobre a
intimidade privada, etc.
Se a personalidade jurídica significa a susceptibilidade de a pessoa ser titular
de direitos e obrigações, e sendo certo que todas as pessoas podem gozar
direitos (a capacidade de gozo de direitos é dada a todos os que tem
personalidade jurídica), a verdade é que nem toda a pessoa é efectivamente
capaz de exercer total ou mesmo parcialmente os seus direitos e responder
pelas suas obrigações (a capacidade de exercício de direitos pode ser maior ou
menor). A medida em que uma pessoa pode ser sujeito de relações jurídicas,
ou seja, titular de direitos e obrigações é dada pela sua capacidade jurídica.
2. Capacidade jurídica
Capacidade Jurídica é, pois, é a capacidade ou faculdade que o ordenamento
jurídico confere a uma pessoa para ser sujeito de quaisquer relações jurídicas,
salvo disposição legal em contrário. Qualquer sujeito de relações jurídicas é
titular de direitos e poderá dispor deles desde que não sofra de qualquer
incapacidade prevista na lei, como a menoridade ou a anomalia psíquica 12.
Se tal acontecer, o incapaz deve ter um representante legal que actuará em
seu nome e defenderá os seus direitos. A capacidade jurídica envolve, assim, a
capacidade jurídica de gozo de direitos, que em regra todos possuem, e
capacidade jurídica de exercício de direitos, que é maior ou menor
consoante os casos e conforme a lei.
1. Direitos da personalidade.
Persona, vem da expressão prósopon que foi utilizada em um primeiro
momento para designar as máscaras utilizadas no teatro. Superada esta
acepção passou a significar o papel encenado pelo ator em uma peça.
Posteriormente passou a significar a função ocupada pelo indivíduo na
sociedade, sem, contudo, significar o indivíduo em si mesmo.

A noção de pessoa como subjetividade humana, de que decorre a


sedimentação dos Direitos da Personalidade, surge com a tradição teológico-
cristã e sua reflexão sobre a trindade e a origem do homem. A este homem,
12
A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique actos da vida civil, desde que assistido por seu
representante legal, sob pena de anulabilidade. A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do
exercício, por si só, do direito. O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do
absolutamente incapaz. A inobservância dessa regra provoca a nulidade do ato. A inabilitação aplica-se
a indivíduos que, devido a anomalia psíquica, surdez-mudez, cegueira, habitual prodigalidade, uso de
bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem incapazes de reger convenientemente o seu
património (artigo 152º do Código Civil) (suprimento: assistência= curadoria e representação- quando
os bens são dados ao curador). A interdição tem em vista todos aqueles que por anomalia psíquica,
surdez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de governar suas pessoas e bens (artigo 138º, nº 1, do
Código Civil) (representação= menores, tutela e poder paternal. Os surdos e mudos podem ter
capacidade matrimonial e de testamento). A inabilitação e a interdição são decretadas pelo tribunal, no
âmbito de um processo especial.

13
feito à imagem do divino, deve se reconhecer os Direitos da Personalidade,
afinal este é um indivíduo dotado de racionalidade.

Os direitos de personalidade são vários modos de ser físico, ou morais da


pessoa humana. São absolutos (oponíveis erga omines= todos são chamados
a respeitar), indisponível (excluído do livre arbítrio do seu titular, relativamente
indisponíveis), não patrimoniais (não avaliáveis em dinheiro),
intransmissíveis (não se transmite inter-vivo ou por morte), irrenunciável
(não se pode renunciar), imprescritíveis (não se perdem pelo não uso). São
eles: direito ao nome, à imagem, à vida, integridade pessoal (moral =
reputação, prestigio ou decoro, crédito; integridade intelectual = pensamento,
autoria; integridade física), à liberdade, privacidade, etc.

7. Direito Constitucional – conceito e importância


O Direito Constitucional é um ramo de direito público que estuda o conjunto de
normas que regulam a organização, funcionamento e limites do poder do
Estado, garantindo um equilíbrio entre a força coerciva deste e a autonomia e
liberdade da comunidade em nome da qual aquele poder é exercido e
estabelece também os direitos das pessoas que pertencem à respetiva
comunidade política.
É importante porque posiciona o poder público na sua dimensão de suprema
autoridade soberana, regulando os seus poderes, bem como as relações com
as pessoas e outros poderes e estabelecem as orientações da vida colectiva
de uma determinada sociedade.
1. Os direitos fundamentais dos cidadãos
São os Direitos do Homem em vigor num ordenamento jurídico concreto num
dado momento histórico. Um catálogo de direitos fundamentais dos cidadãos
que têm fundamento na dignidade da pessoa humana, na liberdade, na
fraternidade e na igualdade do Homem.
2. Direitos, Liberdades e garantias (Breve referência)
A actual Constituição angolana consagra a velha ou/e tradicional divisão
dicotómica e dogmática dos direitos fundamentais em dois grandes grupos: por
um lado, os «direitos, liberdades e garantias» e, por outro, os «direitos
económicos, sociais e culturais», também designados, abreviadamente, por
direitos sociais.
Tradicionalmente, os direitos, liberdades e garantias são direitos de
natureza tendencialmente «defensiva» e «negativa», ou seja, são, em geral,
“direitos de liberdade, cujo destinatário é o Estado, e que têm como obrigação
de abstenção do mesmo relativamente à esfera jurídica-subjectiva por eles
definida e protegida; estando-lhe vedada toda e qualquer possibilidade de
interferência ou intromissão no sentido da limitação do exercício destes
direitos, cuja função imediata é a protecção da autonomia da pessoa,
salvaguardando, deste modo, bens jurídicos fundamentais, indispensáveis à
concretização da dignidade da pessoa humana (Canotilho, Gomes, Direito

14
Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª Edição, Almedina Editora, 2003, p.
399).
Ex. O Direito à vida, Garantia é a proibição da pena de morte (art. 59.º),
o direito de antena, direito à identidade, à privacidade e à intimidade (art.
32.º/1) – os direitos à identidade pessoal, à capacidade civil, à
nacionalidade, ao bom-nome e reputação, à imagem, à palavra e a
reserva da vida privada”; o direito à inviolabilidade do domicílio (art. 33.º)
e o direito à inviolabilidade da correspondência e das comunicações (art.
34.º) – este direito, tal como o anterior, são “invioláveis”, pois ambos
visam a protecção de bens jurídicos fundamentais comuns, como a
dignidade da pessoa, o desenvolvimento da personalidade, e, sobretudo,
a garantia da liberdade individual, da autodeterminação existencial, a
garantia da privacidade, nos termos do art. 32.º; os direitos relativos à
família, ao casamento e a filiação (art. 35.º) – consagração importante no
âmbito do reconhecimento e garantia dos direitos relativos à família, ao
casamento e a filiação; o direito à liberdade física e à segurança pessoal
(art. 36.º) – relativamente ao direito à liberdade, a Constituição consagra
algumas garantias ou meios específicos de garantia, designadamente no
que toca à lei criminal, às penas e medidas de segurança; a extradição e
expulsão; o direito de asilo; o direito ao processo criminal e o habeas
corpus (neste âmbito seria verdadeiramente importante a positivação de
uma outra garantia intimamente ligada ao direito à liberdade, ou seja, a
prisão preventiva, desprovida de dignidade constitucional em face da
nova Constituição angolana, e constitui ao nosso ver, um retrocesso
relativamente a Lei Constitucional anterior, que consagrava este direito,
nos termos dos arts. 37.º e 38.º da LCA de 92). Quanto ao direito à
segurança “representa mais uma garantia de direitos do que um direito
autónomo” . A liberdade de expressão e de informação (art. 40.º) – estes
dois direitos ou “conjunto de direitos” (n.º 1) – têm como uma das
consequências mais importantes a proibição da censura em sentido
amplo, ou seja, é proibida “todo tipo ou forma de censura” (n.º 2); o direito
de consciência, de religião e de culto (art. 41.º) – etc.

3. A problemática dos Direitos Humanos


Os Direitos do Homem são direitos aceites como válidos por toda a
Humanidade (para todos os povos e todas as épocas), com base no carácter
inviolável, intemporal e universal da natureza da pessoa humana. Derivam da
natureza da pessoa humana, fazem parte da essência da Humanidade
(entendida aqui como uma comunidade de gerações presentes e futuras).
Fazendo parte da essência da Humanidade e sendo conaturais ao próprio
Homem, os Direitos Humanos têm por objectivo a protecção da personalidade
humana na sua dimensão social e impõem limites à autoridade e soberania dos
Estados modernos. Os Direitos Humanos têm um carácter universal e
indivisível e a Comunidade Internacional possui organizações (como a Amnistia

15
Internacional) e normas, tratados ou convenções que visam a sua protecção ou
salvaguarda (como a Declaração Universal dos Direitos do Homem) A
condenação generalizada da pena de morte, da tortura e da prisão por motivos
políticos ou religiosos, do racismo e da xenofobia, do genocídio e da violação
do princípio da autodeterminação dos povos constitui expressão do combate
universal em prol da promoção dos Direitos Humanos.
8. Norma Jurídica

Conceito de normas jurídicas: são regras de conduta social gerais,


abstractas e imperativas, adoptadas e impostas de forma coercitiva pelo
Estado, através de órgãos ou autoridades competentes.

a. Estrutura
Estrutura da norma jurídica A norma jurídica tem uma estrutura interna
constituída, amiúde, por três elementos, a saber:
a) Previsão: a norma jurídica regula situações ou casos hipotéticos da vida que
se espera venham a acontecer (previsíveis), isto é, contém, em si mesma, a
representação da situação futura;
b) Estatuição: a norma jurídica impõe uma conduta a adoptar quando se
verifique, no caso concreto, a previsão da norma:
c) Sanção: a norma jurídica dispõe os meios de coacção que fazem parte do
sistema jurídico para impor o cumprimento dos seus comandos.
As sanções jurídicas apresentam diversas modalidades, destacando-se as
seguintes: - Sanções civis – têm por fim impor o cumprimento das obrigações
e ou o ressarcimento de danos morais e materiais causados por quem age em
violação das normas a que está obrigado. Traduzem-se, designadamente, na
reconstituição do interesse lesado, ou uma indemnização, destinada a cobrir os
prejuízos ou danos causado, - Sanções criminais (ou penais) – visam
responsabilizar o criminoso perante a sociedade em virtude de actos ou
omissões que violem normas imperativas de convivência social, podendo as
penas revestir-se as mais diversas formas: pena de multa, privação da
liberdade (pena de prisão), imposição de medidas de segurança,
indemnizações (nalguns casos), etc.; - Sanções disciplinares – traduzem-se
na aplicação de sanções a indivíduos pela violação de normas que disciplinam
a conduta no seio de organizações a que pertençam esses mesmos indivíduos.
As penas disciplinares podem ser de mera censura, pecuniárias (multas),
suspensivas (suspensões) e expulsivas (aposentação compulsiva e demissão).
Nas sanções jurídicas revela-se a coercibilidade que se traduz na associação
entre o Direito (Justiça) e a Força. Entretanto, não é imprescindível a utilização
da Força em todos os casos para se assegurar o cumprimento das normas
jurídicas. Com efeito, na maioria das vezes, o acatamento destas a acontece
de forma voluntária ou natural, sem a intervenção da Força.

16
b. Características
Características da norma jurídica A partir da própria definição acabada de
apresentar, podem extrair-se as características mais marcantes da norma
jurídica, que são:

a) Generalidade: Todos os cidadãos são iguais perante a lei, razão por que a
norma jurídica se aplica a todas as pessoas em geral. As normas jurídicas são
válidas para todos e a todos obrigam de igual forma;

b) Abstracção: As normas jurídicas aplicam-se a um número abstracto de


situações, a situações hipotéticas em que poderão enquadrar-se as condutas
sociais e não a um indivíduo ou facto concreto da vida social;

c) Imperatividade: As normas jurídicas são de cumprimento obrigatório;

d) Coercibilidade: As normas jurídicas podem impor-se mediante o emprego


de meios coercivos (ou da força) pelos órgãos estaduais competentes, em caso
de não cumprimento voluntário.

A norma jurídica, ao revestir as características de imperatividade e


coercibilidade, limita a liberdade do indivíduo, impelindo-o a conter os impulsos
pessoais e a eleger as condutas a seguir de modo a não pôr em causa a
liberdade dos outros e as bases de convivência social. Assim, para que a
norma jurídica possa ser observada efectivamente, a par da sua justeza
intrínseca, joga um papel importante a responsabilidade do indivíduo, que pode
levá-lo a ter uma conduta conforme ao direito. O acatamento voluntário ou
natural dos deveres jurídicos afasta a necessidade de coerção na aplicação da
norma jurídica.

Bilateralidade: O Direito existe sempre vinculado a duas ou mais pessoas,


atribuindo poder a uma parte e impondo dever à outra.

A regra jurídica deve reunir os três requisitos de validade: fundamento


(valor); eficácia social, em virtude de sua correspondência com o querer
coletivo (facto) e validade formal ou vigência, por ser emanada do poder
competente, com obediência aos trâmites legais (norma).

9. O DIREITO E A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE

a. Direito Público e Direito Privado


É discutível a divisão do Direito entre Direito Público e Direito Privado. A
distinção entre Direito público e Direito privado tem sido polémica ao longo dos
tempos, sendo vários os critérios propostos pelos vários autores de que se
destacam: Critério da natureza dos interesses, Critério da qualidade dos
sujeitos, Critério da posição dos sujeitos na relação jurídica. Esta ultima
tem maior consenso.

17
Direito Público:
Direito constituído por um conjunto de normas que regulam relações em
intervenham o Estado ou outro ente público, doptado de ius imperii. Tem
ramos, designadamente o Direito Constitucional (tem por objecto fixar a
estrutura do Estado e estabelecer os direitos fundamentais da pessoa
humana); o Direito Administrativo (que estabelece os preceitos relativos à
administração pública), o Direito Penal (que define as condutas criminosas,
visando preveni-las e reprimi-las), o Direito Financeiro (que cuida da
organização das finanças do Estado), o Direito Processual Civil e Penal, (que
tratam da realização da Justiça, regulando o processamento das acções
perante o Poder Judicial) Direito Tributário (tem por objecto de estudo o
conjunto de normas que regulam a actividade de arrecadação das receitas,
efectuada essencialmente através de impostos (prestações unilaterais
estabelecidas por lei e calculadas com base nos rendimentos auferidos pelos
cidadãos e entregues ao Estado) e taxas (prestações efectuadas pelos
cidadãos como contrapartida de serviços que lhes são prestados pelo Estado
ou pela utilização de bens do domínio público), Direito Fiscal (que se ocupa do
sistema de normas jurídicas que disciplinam as relações de imposto e definem
os meios e processos através dos quais se realizam os direitos emergentes
daquelas relações). Direito Económico (que se ocupa do estudo do conjunto
de normas jurídicas reguladoras das relações de realização e de direcção da
actividade económica, tendo em vista a produção e a distribuição de bens e a
prestação de serviços susceptíveis de satisfazer as necessidades de
subsistência e desenvolvimento da sociedade).
Direito privado: constituído por normas que regulam as relações que se
estabelecem entre os cidadãos, entre estes e o estado ou qualquer ente
público, desde que seja despido de ius imperii.
O Direito Privado, por seu turno, compreende, essencialmente, o Direito Civil
(regula os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas,
aos bens e às relações que as pessoas estabelecem entre si e a respeito dos
bens: dto das obrigações, dtos reais, dto da família, dto das sucessões,
especializações: dto do autor, dto das associações, dto do trabalho ) e o
Direito Comercial (que regula a profissão dos comerciantes, seus actos ou
contratos = especializações: dto marítimo, bancário, dos seguros, propriedade
industrial, dos transportes, do consumo).
Com o fenómeno de iuspublicização e iusprivatização, a divisão dto publico
e privado tem sofrido influências mútuas (dto do trabalho e dto administrativo
em matéria dos contratos). Ademais, dado o fenómeno de convergência (dto
publico e privado a caminharem no mesmo sentido), há certos ramos do direito
que não cabem nos limites formais da distinção entre dto público e dto privado.
Ex: o Dto do Ambiente, o Dto do Ordenamento do Território. Incluímos neste
tópico O Direito internacional privado

18
b. Noção e elementos do Estado
O Estado é uma figura abstrata criada pela sociedade. O Estado é uma
sociedade política criada pela vontade de unificação e desenvolvimento do
homem, com intuito de regulamentar, preservar o interesse público. Conjunto
de pessoas doptado de soberania e situado num determinado território. O
Estado originou-se da vontade de preservação desse interesse ou bem
comum, posto que a sociedade natural não detinha os mecanismos
(regulamentação) necessários para promover a paz e o bem-estar de seus
membros. Assim, a única forma de preservação do bem comum foi a
delegação de poder a um único centro, o Estado.
O Estado seria uma organização social, dotada de poder e com autoridade
para determinar o comportamento de todo o grupo (SILVA, Enio Moraes da. O
estado democrático de direito. a.42 n. 167. Brasília: Revista de Informação
Legislativa, jul/set 2005, p. 216).
O Estado possui três elementos constitutivos, sendo que a falta de qualquer
elemento descaracteriza a formação do Estado. Para o reconhecimento do
Estado perfeito se faz necessária a presença do povo, território e soberania
(MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 23).

c. Poderes e funções do Estado


O Legislativo: estabelece normas que regem a sociedade. Cabe a ele criar leis
em cada uma das três esferas e fiscalizar e controlar os atos do Poder
Executivo. O presidente da República também pode legislar, seu principal
instrumento é a medida provisória.
O Executivo: é responsável pela administração dos interesses públicos,
sempre de acordo com nossa carta magna e as ordenações legais.
O Judiciário: possui duas tarefas principais, a primeira é a de controlo de
constitucionalidade, ou seja, é a averiguação da compatibilidade das normas
com a Constituição da República, pois só assim serão válidas. A segunda
obrigação é justamente solucionar as controvérsias que podem surgir com a
aplicação da lei.

d. Órgãos de soberania
Nos termos do artigo 105º da constituição, são órgãos de soberania o
Presidente da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais, que devem
respeitar a separação e interdependência de funções, cujo abaixo se
descrevem:
Presidente da República
O Presidente da República é o Chefe de Estado, o titular do Poder Executivo e
o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas. O Presidente da

19
República simboliza a unidade nacional e representa a nação no plano interno
e internacional. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal,
directo, igual e secreto, por um período de cinco anos, entre os cidadãos
angolanos maiores de 35 anos, bem como garante o direito constitucional.
O Presidente da República exerce o poder executivo, auxiliado por um Vice-
Presidente, Ministros de Estado e Ministros. O Vice-Presidente é um órgão
auxiliar do Presidente da República no exercício da função executiva.
O poder executivo é exercido pelo Presidente da República, Vice-presidente e
pelo Conselho de Ministros, sendo os governadores das 18 províncias
nomeados pelo Chefe de Estado e executam as suas directivas.
Assembleia Nacional
A Assembleia Nacional é o parlamento da República de Angola. É um órgão
unicamaral, representativo de todos os angolanos, que exprime a vontade
soberana do povo e exerce o poder legislativo do Estado.
Os Deputados são eleitos por sufrágio universal, periódico pelos cidadãos
nacionais maiores de dezoito anos de idade residentes no território nacional, no
estrangeiro.
Os deputados são eleitos por círculos eleitorais, para um mandato de cinco (5)
anos, existindo um círculo eleitoral nacional e círculos eleitorais
correspondentes a cada uma das províncias. Para a eleição dos Deputados
pelos círculos eleitorais é fixado o seguinte critério:
• Um número de 130 Deputados é eleito a nível nacional, considerando-se o
País, para esse efeito, um círculo eleitoral nacional único;
• Um número de 5 Deputados é eleito em cada província, constituindo, para
esse efeito, um círculo eleitoral provincial.
Qualquer cidadão Angolano (maior de 18 anos) pode ser Deputado. A lei
eleitoral prevê algumas excepções que decorrem da natureza de certas
funções, tais como as de Magistrado, Militar no activo, Diplomata, entre outras.
Cada Ano Parlamentar é designado por Sessão Legislativa e inicia-se a 15 de
Outubro. Sendo que, uma Legislatura corresponde a 5 Sessões Legislativas. O
mandato dos Deputados só termina com a primeira reunião da Assembleia
após novas eleições. Direcção: o Presidente da Assembleia Nacional,
coadjuvado por vice-presidentes, comissões parlamentares.
Tribunais
Os tribunais são órgãos de soberania com competência de administrar a justiça
em nome do povo. Compete aos tribunais dirimir conflitos de interesses público
ou privado, assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos,
bem como os princípios do acusatório e do contraditório e reprimir as violações
da legalidade democrática. Todas as entidades públicas e privadas têm o dever
de cooperar com os tribunais na execução das suas funções, devendo praticar,
nos limites da sua competência, os actos que lhes forem solicitados pelos

20
tribunais. No exercício da função jurisdicional, os Tribunais são independentes
e imparciais, estando apenas sujeitos à Constituição e às leis. Neste particular,
os Tribunais superiores da República de Angola são o Tribunal Supremo, o
Tribunal Constitucional, o Tribunal de Contas, o Supremo Tribunal Militar e a
Procuradoria-Geral da República.

10. FONTES DE DIREITO


Fontes de Direito são os meios pelos quais se formam ou se revelam as
normas jurídicas.
São várias as classificações das fontes do Direito. "A mais importante
divide-as em fontes directas ou imediatas e fontes indirectas ou mediatas.
Fontes directas ou imediatas são aquelas que, por si só, pela sua própria
força, são suficientes para gerar a regra jurídica”. São a lei, o Costume e o
Tratado Internacional.
Fontes indirectas ou mediatas são as que não têm tal virtude, porém
encaminham os espíritos, mais cedo ou mais tarde, à elaboração da norma.
São o costume, a doutrina e a jurisprudência, os usos, os princípios gerais do
Direito".
1. Fontes imediatas ou directas:
Como vimos, são fontes imediatas a lei, o costume e o tratado internacional.
A Lei: Para dirimir uma questão submetida à apreciação do Poder Judicial, a
primeira fonte de que se lança mão é a lei. Em países como o nosso, em que o
Direito é escrito, a lei assume papel de suma importância, figurando como a
principal fonte do Direito.
Lei é uma regra geral, que, emanando de autoridade (estadual) competente, é
imposta, coactivamente, à obediência de todos". Com efeito, ela caracteriza-se
por ser um conjunto de normas dotadas de generalidade, isto é, que se dirigem
a todos os membros da colectividade, sem exclusão de ninguém. A lei é ainda
provida de coacção, com o objectivo tornar induzir os indivíduos a não violar os
seus preceitos.
A mais importante das Leis é a Constituição, que contém as normas
jurídicas superiores, às quais se subordinam as normas contidas em leis e
outros actos legislativos e normativos.
Lei, em sentido restrito, é aprovada pelo Parlamento, órgão legislativo,
Assembleia Nacional.
A Constituição: o termo “Constituição” é definido por certos autores em vários
sentidos:

21
a) Como ordem de formação e funcionamento dos órgãos do poder do
Estado, independentemente da essência social do regime estatal estabelecido
e sem ter em conta as bases deste regime (a lei, o costume, ou a coerção
directa) nem a existência ou falta de formalização directa do mesmo e seu
procedimento de alteração. Neste caso, a Constituição é entendida como
estrutura das sociedades que sempre está constituída de alguma maneira
(organização do trabalho, distribuição, relações sociais, políticas, ideológicas,
etc.);
b) Como o procedimento da regulação jurídica das bases da vida do
Estado. Neste sentido, a Constituição é o conjunto de normas jurídicas que
legalizam as bases do sistema social e económico e da organização política da
sociedade.
c) Como a Lei Fundamental do Estado, como o acto que regula as bases da
vida estatal. Pode ser que o Estado não tenha a Constituição como uma Lei
Fundamental única, sistematizada. Porém, desde a aparição da burguesia,
existe sempre a Constituição no sentido do conjunto de normas que
consolidam as bases da organização social e estatal.
De acordo com diversos autores, nomeadamente Miranda, a Constituição
pode ser encarada de várias perspectivas, designadamente: a) –
Perspectiva formal - em que se atende à disposição das normas
constitucionais ou do seu sistema em face das demais normas ou do
ordenamento jurídico em geral. Assim, fala-se da Constituição em sentido
formal, como conjunto de normas formalmente qualificadas de constitucionais
e revestidas de força jurídica superior à de quaisquer outras normas;
Perspectiva material - em que se atende ao objecto, conteúdo ou função da
Constituição. Assim, fala-se da Constituição em sentido material, como
conjunto de normas que se referem aos fins e titularidade do poder político,
órgãos que o exercem e direitos que o limitam.
Por outras palavras, existe Constituição sentido material quando se está
perante normas (escritas ou não, e até dispersas que versem matéria
considerada constitucional (estabelecimento e funcionamento das instituições
políticas, regulamentação do sistema de governo, direitos individuais e sociais,
etc.
Perspectiva institucional, em que se fala de Constituição institucional,
porque qualquer Estado, por ser Estado, e seja qual for o seu sistema político,
a implica, porquanto possui normas jurídicas superiores que regulam a
formação e o funcionamento das instituições do Estado;
Perspectiva instrumental, em que se toma a Constituição como o documento
onde se inserem ou se depositam normas constitucionais. Neste sentido se fala
de Constituição em sentido instrumental, como todo e qualquer texto
constitucional, seja ele definido material ou formalmente, ou como qualquer
texto que contenha normas formal ou materialmente constitucionais.

22
Perspectiva substancial (que pode reconduzir-se à perspectiva anterior), em
que se toma a Constituição como fonte originária do ordenamento jurídico,
como fundamento de validade das demais normas jurídicas estaduais. Assim
se tem o conceito genético da Constituição, como conjunto das normas cuja
validade ou eficácia não se fundamenta em nenhuma outra do mesmo
ordenamento jurídico, como conjunto de normas conexas com o exercício do
poder constituinte que, portanto, não podem deixar de se ligar à definição do
Estado e do poder político em geral.
As leis da Assembleia Nacional, Decretos presidenciais, Decretos
legislativos presidenciais, Regulamentos, Decretos Executivos,
Despachos, Avisos, etc. ver CRA.

O Tratado Internacional
O Tratado Internacional é o acordo de vontades entre estados e outros sujeitos
internacionais13. Por força constitucional, os tratados fazem parte da ordem
jurídica. Para tanto, devem ser aprovados (a aprovação pode ser, consoante os
casos, da competência do Governo ou da Assembleia) e ratificados
(confirmados) pelo Presidente da República. Há diferentes tipos de Tratados:
tratados normativos (que definem normas ou regras de Direito), tratados-
contratos (que visam a realização de uma operação concreta, extinguindo-se
os seus efeitos com o término dessa operação), tratados colectivos (que
envolvem mais do que dois estados) e tratados particulares ou bilaterais (que
envolvem dois estados).
2. Fontes mediatas ou indirectas:
O Costume: Norma não escrita que resulta de prática reiterada e habitual,
acompanhada da consciência ou convicção colectiva acerca do seu carácter
obrigatório.
Nas sociedades primitivas, antes que se conhecesse a escrita, as normas se
traduziam pela repetição de práticas que se entranhavam no espírito social e
passavam a ser entendidas como obrigatórias ou normativas.
No Direito Romano, desde a fundação de Roma (753 a.C data presumível) até
meados do século V a.C, o costume foi a única fonte do direito. A Lei das
XII Tábuas surge como uma representação dos costumes. A partir de então os
costumes passam a desempenhar um papel menor no Direito Romano.
Apesar da predominância da lei como fonte em nosso ordenamento jurídico, o
costume desempenha papel importante, principalmente porque a lei não tem
condições de predeterminar todas as condutas e todos os fenômenos. O uso
reiterado de uma prática integra o costume.
Na verdade, as leis escritas não compreendem todo o Direito. Há normas
costumeiras, também chamadas consuetudinárias, que obrigam, igualmente,
13
6 São sujeitos internacionais os Estados, as Organizações Internacionais e outros sujeitos
internacionais.

23
ainda que não constem de preceitos votados por órgãos competentes.
Realmente, havendo lacuna na lei, não se segue que a ordem jurídica seja
lacunar, e então a questão será resolvida mediante recursos aos costumes, a
segunda fonte mediata do Direito.
A obediência a uma conduta por parte de uma colectividade configura um uso.
A reiteração desse uso forma o costume, que vem a ser a regra de conduta
criada espontaneamente pela consciência comum do povo, que a observa por
modo constante e uniforme, e sob a convicção de corresponder a uma
necessidade jurídica.
É o produto de uma elaboração entre os homens. O emprego de uma
determinada regra para regular determinada situação, desde que se repita
reiteradamente, quando igual situação se apresente de novo, constitui uma
prática, um uso, cuja generalização através do tempo leva a todos os espíritos
a convicção de que se trata de uma regra de Direito. Esse hábito que
adquirem os homens de empregar a mesma regra sempre que se repete a
mesma situação, e de segui-la como legítima e obrigatória, é que
constitui o costume.
Nestas condições, e como pondera Ricardo Teixeira Brancato, "algumas
normas há em nossa sociedade que, embora não escritas, são obrigatórias.
Tais normas são ditadas pelos usos e costumes e não pode deixar de ser
cumpridas, muito embora não estejam gravadas numa lei escrita. Aliás, mais
cedo ou mais tarde determinados costumes acabam por ser cristalizados em
uma lei, passando, pois, a integrar a legislação do país.
Para que um costume seja reconhecido como fonte de Direito deve reunir
determinados requisitos. Assim, é preciso: a) que seja contínuo (factos
esporádicos, que se verificam vez por outra não são considerados costumes);
b) que seja constante (a repetição dos factos deve ser efectiva, sem dúvidas,
sem alteração); c) que seja moral (o costume não pode contrariar a moral ou
os bons hábitos, não pode ser imoral); d) que seja obrigatório, isto é, que não
seja facultativo, sujeito a vontade das partes interessadas".
A Doutrina
Do latim, docere (ensinar, instruir, mostrar), em sentido jurídico a doutrina é
entendida como o conjunto de princípios explanados nos livros de Direito, onde
se materializam teorias e analisam interpretações quanto às ciências jurídicas.
Savigny denominava doutrina como "Direito científico" ou "Direito dos juristas".
É o conjunto de opiniões, estudos e pareceres jurídicos elaborados por
professores e técnicos de Direito de reconhecida competência sobre a forma
adequada e correcta de aplicar, articular e interpretar as normas jurídicas.
Não possui carácter vinculativo; a doutrina resulta de investigações e
reflexões teóricas e de princípios metodicamente expostos, analisados e
sustentados pelos autores, tratadistas, jurisconsultos, no estudo das leis.

24
Como salienta Caio Mário da Silva Pereira, "em determinadas fases da cultura
jurídica sobressaem escritores, a cujos trabalhos todos recorrem de tal forma
que as suas opiniões se convertem em preceitos “obrigatórios 14”... Com efeito,
é de grande valor o trabalho dos doutrinadores na elaboração e na aplicação
do direito objectivo, já que, analisando criticamente as diferentes opções
jurídicas, apontando as falhas, os inconvenientes e defeitos da lei vigente,
ajuda o legislador na feitura de lei mais perfeita e o aplicador do direito na
procura das soluções mais adequadas aos casos em apreço.
A Jurisprudência
A palavra Jurisprudência é derivada do latim jus (direito) e prudentia
(sabedoria), ou seja aplicação do direito com sabedoria, devendo ser entendida
como a forma de revelação do direito através do exercício da jurisdição,
mediante uma sucessão de decisões harmônicas (em um mesmo sentido) dos
tribunais, aplicadas a casos concretos que apresentem similitude.
A Jurisprudência é o resultado da actividade jurisdicional, atribuída aos
magistrados por força da jurisdição (juris + diccio - dizer o direito = poder legal
dos magistrados de conhecer e julgar os litígios). A Jurisprudência evidencia-
se, pois, através de regras gerais que se extraem das reiteradas decisões
de tribunais (em geral, de maior hierarquia) num mesmo sentido, numa
mesma direcção interpretativa. Sempre que uma questão é decidida
reiteradamente no mesmo modo surge a jurisprudência. Como fonte indirecta
do Direito, não vincula o juiz, mas costuma dar a este importantes subsídios na
solução de cada caso.
A Jurisprudência é um conjunto de regras gerais e orientações que se retiram
das decisões judiciais emanadas dos tribunais da mais alta hierarquia para
efeitos de consideração ulterior no julgamento de casos semelhantes
submetidos a outros tribunais de igual ou menor nível. Com efeito, as
sentenças ou acórdãos dos tribunais superiores sobre determinados casos
servem de referência no julgamento de casos idênticos, contribuindo para uma
interpretação e aplicação uniformes (ou tendencialmente uniformes) das
normas jurídicas.
Os princípios gerais de Direito
A Ciência Jurídica costuma enunciar ainda como Fonte de Direito os chamados
Princípios Gerais do Direito, que são os pressupostos lógicos em que se
baseiam as diferentes normas jurídicas. No seu livro “Lições preliminares de
Direito”, Miguel Real considera que os princípios gerais do Direito são
enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a
compreensão do ordenamento jurídico em sua aplicação e integração ou
mesmo para a elaboração de novas normas. Podem considerar-se como os
alicerces do ordenamento jurídico, informando o sistema independentemente
14
“Obrigatórios” no sentido de que essas orientações são pacificamente seguidas, pela sapiência
revelada pelos doutrinadores e pela consistência e razoabilidade de suas tomadas de posição. Em todo o
caso, entre nós, e nos sistemas romano-germânicos em geral, a Doutrina não é uma fonte de direito de
carácter vinculativo, tal como acontece, também, com a Jurisprudência

25
de estarem formalizados na norma legal. Assim, admitem-se como princípios
gerais.
 Não condenar alguém se não se pode provar sua culpa;
 A ninguém é permitido causar dano a outrem e, se o fizer, deverá
indemnizá-lo;
 Não se pode punir ninguém pelos seus pensamentos;
 Ninguém pode ser obrigado a citar os dispositivos legais em que se
apoia a sua pretensão, pois parte-se do pressuposto de que o julgador
os conhece;
 A ninguém é obrigado fazer o impossível;
 Não há crime nem criminoso se não houver lei anterior que o prescreva
como tal.
Assim, a justiça, a igualdade, a equidade, a liberdade, a legalidade, o direito à
vida, à defesa e à resistência contra a opressão – tais são alguns desses
princípios cuja relevância na configuração e na realização do Direito é
indiscutível, mas que, no entendimento de muitos autores, não constituem
mais uma fonte de Direito, porquanto: não constituem propriamente uma via
pela qual o direito “nasce” ou “se dá a conhecer”;
11. CONTROLO DA LEGALIDADE
O controlo da legalidade traduz-se em assegurar a não violação da lei e
processa-se através da:
a) Tutela privada (excepcional)
b) Tutela pública
Tutela privada ou autotutela (excepcional) é realizada pelos
Por tutela entende-se a protecção que é atribuída pela ordem jurídica
às posições jurídicas dos sujeitos. Nestes termos, pode ser necessário disponib
ilizar mecanismos para que uma pessoa “faça valer” situações jurídicas que lhe
são reconhecidas (p. ex. anular um negócio) e/ou acautelar a sua violação, ou
ainda assegurar a reparação dessas mesmas situações jurídicas, se já tiverem
sido lesadas.
Admissibilidade da autotutela dos particulares, estes podem actuar manu
militari na defesa dos seus direitos:
1. Estado de necessidade
2. Legítima defesa
3. Acção directa
Não são, contudo, admissíveis:- Tutela privada preventiva, salvo em caso de
agressão iminente – Desforço, o castigo do infractor pela vítima ou por terceiro,
Excepção:- Tutela da posse, ex. possuidor esbulhado pode restituir-se por sua
própria força, Direito de retenção: interessado aplica uma sanção à sua conta e
risco.

26
Os meios de Autotutela - Pressuposto comum: carácter subsidiário, isto é, só
são concedidos perante a impossibilidade de recurso em tempo útil
à autoridade pública: autoridades administrativas, policiais ou judiciais.
Necessidade de verificação cumulativa de todos os requisitos legais.
Estado de necessidade, art. 339º. É reacção sobre a esfera jurídica de
outrem contra ameaça de um perigo actual- Sacrifício de um bem alheio
para defesa de um interesse ou bem manifestamente superior -
Exclusão de ilicitude do acto em estado de necessidade : agir
altruisticamente - Pressupostos: Remoção de um perigo [iminência de um
dano. Só pode incidir sobre coisa ou direito patrimonial [do agente ou de
terceiro]. destruição / danificação de coisa alheia [conduta típica].
proporcionalidade mínima [ponderação de danos]. objectivo: evitar a
consumação ou a ampliação de um dano.
Consequência: prejuízo provocado em estado de necessidade deve
ser indemnizado pelo agente ou por aqueles que tiraram proveito do acto .
Legítima defesa, art. 337º- CC. Pressupostos: agressão ilegal, injusta ou
ilícita e actual, já iniciada, não consumada. Objectivo: obstar a que o mal se
consuma. Pode ser pessoal, pode ser patrimonial - do próprio ou de terceiro.
Necessidade ou racionalidade dos meios de defesa. Proporcionalidade mínima
[ponderação de danos
Acção directa, art. 336º CC- Meio de autotutela que visa assegurar o próprio
direito, e não o direito de outrem- Admitida em termos cautelosos -
Pressupostos: defesa de um direito próprio [a agressão já é finda e
consumada - justiça privada repressiva] conduta típica: apropriação,
destruição ou deterioração de uma coisa, racionalidade dos meios
empregados: proporcionalidade directa [em caso algum pode excedê-la] -
quando não existe outro meio de impedir a perda do direito.
Tutela pública
A pública é controlada pelo estado, e pode ser administrativa, quando é
tratada pela administração pública, ou judiciária, quando é tratada pelos
tribunais.
Tutela judiciária é o processo que protege os interesses dos particulares,
exercendo não só entre os particulares mas também entre os particulares e o
estado. Existe para que não haja violações do princípio da legalidade,
fiscalizando a garantia dos direitos e controlando a sua actuação com os
seguintes meios: Tribunais, Provedores da Justiça, Presidente da Republica,
Procuradoria-Geral da Republica.
Dentro da tutela pública existe a tutela preventiva ou cautelar, esta funciona
antes da violação das normas jurídicas suceder, através de medidas de
segurança e de procedimentos cautelares, ou seja destina-se a prevenir a
violação da ordem jurídica ou ajudar no cumprimento das regras.

27
No conjunto de meios destinados a ajudar salientam-se a atuação da
autoridade pública- ou seja a intervenção das forças policiais. Os processos
cautelares- são um conjunto de medidas que tentam evitar danos num
dificilmente reparáveis no direito, como por exemplo acontece na prisão
preventiva, na qual uma pessoa é presa para prevenir mais danos do que já
pode ter causado. As medidas de segurança- estas medidas existem para
categorizar pessoas que têm probabilidade de no futuro vir a cometer uma
ilegalidade, e por isso estas medidas têm por objetivo impedir que estas
pessoas cometam crimes, normalmente o que é feito é afastar as pessoas de
tentações, situações ou pessoas. Para isto é necessário haver indícios de
prejuízo, para depois ser posto em prática um procedimento cautelar ate a
acção principal ser tomada.
12. MECANISMOS DE DEFESA DO CIDADÃO PERANTE A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O Estado de Direito surge da necessidade ou como contestação ao poder
ilimitado do Rei, o soberano absolutista. O poder antes atribuído ao soberano
pelo divino para seu exercício na terra, passa ser uma expressão da soberania
popular. O princípio básico do Estado de Direito é o da eliminação do arbítrio
no exercício dos poderes públicos com a consequente garantia dos direitos dos
indivíduos perante esses poderes” (Canotilho).
A fórmula encontrada é que todos fossem tratados de forma igual, de forma
distinta se em situações distintas foi a submissão de todos à vontade da lei.
Mediante o mecanismo de representação e do processo legislativo, a vontade
popular, expressa no texto da lei, passou a ser o limite para a liberdade dos
indivíduos e para a acção dos governantes (Canotilho).
Assim, o fazer e deixar de fazer não mais depende do comando ou da intenção
pessoal dos governantes, mas daquilo que se infere do texto da lei.
Por isso, o primeiro mecanismo de defesa do cidadão perante a administração
pública é o conhecimento da lei, dos seus direitos e garantias constitucionais.
Através de garantia administrativas (direito de apresentar petições, queixas
ou reclamações, representações perante qualquer órgão de soberania ou
entidade publicas).
Garantias jurisdicionais (tribunais cíveis, recursos contenciosos, acção
popular, indemnização)
Meios de tutela pessoal (greves).

13. A RELAÇÃO JURÍDICA

1. Noção de Relação Jurídica


Toda a relação social que é disciplinada pelo direito. A relação jurídica é fruto
de vínculo, elo entre pessoas, tutelado pelo Direito, por criar direitos e deveres.

28
Elementos da Relação Jurídica
O conceito de relação jurídica pressupõe um conjunto de elementos cuja
sistematização tradicional é a seguinte:
Deste modo, o titular activo da relação jurídica pode recorrer aos meios
coercivos que a lei põe à sua disposição para obter a satisfação do seu direito,
no caso de violação ou de ameaça de violação do mesmo.
Exemplificação: A Joana vendeu à Maria um veleiro. Estabeleceu-se, assim,
entre ambas uma relação jurídica em que se distinguem os seguintes
elementos:
Sujeitos: Joana e Maria
Objecto: Veleiro
Facto Jurídico: O contrato de compra e venda
Garantia: A faculdade que cada um dos sujeitos dispõe de recorrer ao tribunal
para obrigar o outro a cumprir a sua obrigação, no caso de recusa.

O Objecto
O objecto da relação jurídica é tudo aquilo sobre que incidem os poderes d
titular activo da relação. É corrente identificar-se o objecto da relação jurídica
com o objecto do Direito subjectivo, que constitui o lado activo da mesma
relação. Diferente do objecto é o conteúdo do Direito subjectivo, que se traduz
no conjunto de poderes ou faculdades que este comporta.
Exemplo: No direito de propriedade, o conteúdo é o conjunto de poderes ou
faculdades que cabem ao proprietário. O objecto será o bem sobre o qual
recaem esses mesmos poderes.
Modalidades de objecto da relação jurídica
Esta distinção entre objecto imediato e mediato nem sempre se verifica, pois
nos direitos reais não há intermediário entre o titular do direito e o bem. O
proprietário está em contacto directo com o objecto do seu direito, como vimos
no primeiro exemplo.
Porém, a distinção verifica-se nas obrigações de prestação de coisa certa e
determinada. Nestas, o objecto imediato de direito do credor é o
comportamento do próprio devedor, isto é, a prestação do devedor e o objecto
mediático é a própria coisa. Assim, entre o credor e a coisa intromete-se a
pessoa do devedor como vimos no segundo exemplo.

Possíveis objectos da relação jurídica


Pessoas

29
No Direito Moderno, as pessoas só podem ser objecto da relação jurídica nos
determinados poderes-deveres ou poderes funcionais, que não são
verdadeiros direitos subjectivos. Exemplos desta figura:
O poder paternal;
O poder tutelar.
Os direitos inseridos no poder paternal ou no poder tutelar não conferem
qualquer domínio sobre a pessoa do filho ou do pupilo, no interesse dos pais
ou do tutor. São meramente direitos que conferem poderes destinados a
habilitarem os pais e os tutores ao cumprimento dos deveres que lhes são
impostos por lei. Por isso, as pessoas são sempre sujeitos da relação juridica

Prestações
Denomina-se prestação à conduta a que o devedor está obrigado. Exemplo:
Nos direitos de crédito, o objecto não é rigorosamente uma coisa, mas, sim, o
comportamento do devedor.
Artigo 762º do Código Civil
(Princípio geral)
O devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a que está
vinculado.
Coisas Corpóreas
São as coisas físicas, isto é, aquelas que podem ser apreendidas pelos
sentimentos. Artigo 202º do Código Civil. Diz-se coisa, tudo aquilo que pode
ser objecto de relações jurídicas. Está neste caso o objecto dos chamados
direitos reais, maxime do direito de propriedade, que é o direito real por
excelência.
Artigo 1302º do Código Civil: Objecto do direito de propriedade
Só as coisas corpóreas, móveis ou imóveis, podem ser objecto do direito de
propriedade regulado neste código. Exemplo: Propriedade sobre um
automóvel.
Coisas Incorpóreas
Não são mais do que valores da natureza que não podem ser apreendidos
pelos sentidos. São concebidos apenas pelo espírito. Assim, o objecto de tais
direitos é a respectiva obra na sua forma ideal e não as coisas materiais que
constituem a sua corporização exterior, como o livro, o filme, etc.
Exemplo: Um determinado autor pode adaptar a sua obra literária ao cinema e
daí auferir lucros, mas pode também mantê-la inédita ou impedir que depois de
publicada seja posteriormente reproduzida com modificações. Assim, apenas a
obra na sua concepção ideal é o objecto de direitos.

30
Direitos Subjectivos
Também podem ser objecto da relação jurídica. Exemplo: Penhora de Direitos
(acto de apreensão judicial dos bens do devedor em acção executiva. Os bens
são entregues a um depositário nomeado pelo juiz no despacho que ordena a
penhora). Ao relacionarmo-nos com outras pessoas sejam físicas ou jurídicas,
estamos mantendo consciente ou inconscientemente uma Relação Jurídica.

2. Direito subjectivos e dever jurídico


A Estrutura Interna da Relação Jurídica
A Estrutura Interna da Relação Jurídica é o seu conteúdo e integra um Direito
subjectivo e um dever jurídico ou uma sujeição, Direito potestativo e sujeição.
Dever jurídico: é o comando imposto pelo direito objectivo, através do qual o
sujeito deve observar determinada conduta, sob pena de sanção, trata-se de
gênero do qual obrigação é espécie. Obrigação: É um termo restrito, aplicável à
relação credor-devedor, seu objeto é a prestação, que via de regra é aplicável
aos contratos.
Sujeição: O estado de sujeição se opõe a um direito potestativo (aquele que
não admite contestações), que pode ser exercido sem a concordância, ou
mesmo contra a vontade da outra parte.
Por exemplo, a revogação de um mandato ou demissão do emprego.
Direitos potestativos: aquele exercido pelo titular per si, não depende da
conduta de ninguém.
Direito potestativo é um direito que depende da vontade exclusiva de uma
das partes, ou seja, não admite contestações. É prerrogativa jurídica de impor
a outrem a sujeição ao seu exercício. É o imperativo da vontade que gera um
estado de sujeição na outra parte.
Direitos Subjectivos absolutos ou relativos: São aqueles que se impõem a
todas as pessoas (erga omnes), às quais corresponde um dever geral de
respeito, a que também se costuma chamar obrigação passiva universal.
Exemplo : os direitos reais sobre coisas, como o direito de propriedade .
relativos: São aqueles que se impõem apenas a determinada ou determinadas
pessoas, às quais corresponde o dever de realizar uma conduta que é devida
ao titular do direito. Exemplo: os direitos de crédito .
Direitos Subjectivos patrimoniais não patrimoniais ou pessoais: São
aqueles direitos subjectivos que são redutíveis a dinheiro. Exemplos: os direitos
reais, direitos de crédito. Pessoais: São aqueles direitos sub-jectivos que não
31
são susceptíveis de expressão pecuniária. Exemplos: os direitos de
personalidade, os direitos de família.
Direitos Subjectivos inatos e não inatos: São direitos subjectivos que
nascem com a pessoa, que, assim, não necessita de os adquirir. Exemplo: a
generalidade dos direitos de personalidade – direito à vida, direito à integridade
física, direito à liberdade. Não inatos: São os restantes direitos subjectivos que
não se adquirem com o nascimento, mas posteriormente. Exemplo: os direitos
de personalidade – direito ao nome e os direitos de autor.
O Facto jurídico:
Noção de facto jurídico
Facto jurídico é todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente
relevante. Esta relevância jurídica traduz-se, principalmente, senão mesmo
necessariamente, na produção de efeitos jurídicos. Nem todos os factos reais
ou sociais são factos jurídicos.
Classificação dos factos jurídicos
A primeira grande classificação dos factos jurídicos é a que se pode
estabelecer entre factos jurídicos voluntários e factos jurídicos
involuntários (stricto sensu). Os primeiros resultam da vontade como
elemento juridicamente relevante; são manifestação ou actuação de uma
vontade. Os segundos são estranhos a qualquer processo subjetivo - ou
porque resultam de causas de ordem natural, ou porque a sua eventual
voluntariedade não tem relevância jurídica.
Os factos jurídicos voluntários podem ser lícitos e ilícitos. Os actos ilícitos
são contrários à ordem jurídica e por ela reprovados; importam uma sanção
para o seu autor (infractor de uma norma jurídica). Os actos lícitos são
conformes à ordem jurídica e por ela consentidos.
Os factos voluntários também se podem distinguir em negócios
jurídicos e simples actos jurídicos. Os negócios jurídicos são factos
voluntários cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações de
vontade, a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes
com o conteúdo da vontade das partes, tal como este é objetivamente (de fora)
apercebido. Os simples atos jurídicos são factos voluntários cujos efeitos se
produzem mesmo que não tenham sido previstos ou queridos pelos seus
autores, embora muitas vezes haja concordância entre a vontade destes e os
referidos efeitos.
Dentro dos simples actos jurídicos é usual fazer-se uma distinção entre: quase-
negócios jurídicos, que se traduzem na manifestação exterior de uma
vontade (interpelação do devedor, gestão de negócios, etc.); e operações
jurídicas (materiais) que se traduzem na efetivação ou realização de um
resultado material ou factual a que a lei liga determinados efeitos jurídicos
(acessão industrial, ocupação de animais ou coisas móveis, etc.).

32
Os Negócio podem se unilateral e bilateral. Unilateral: acontece quando há
declaração de vontade de apenas uma das partes (ex: testamento, promessa
pública, oferta pública).
Negócio bilateral - ocorre com a declaração de vontade de ambas as partes,
tendo efeitos no momento por elas determinadas enquanto vivas. São os
chamados contratos, que podem ser unilaterais e bilaterais, dependendo se
ambas as partes no contrato ficam ou não adstritos a uma obrigação.
A Garantia
À infração dos deveres que as normas jurídicas impõem, segue-se um
procedimento sancionatório, a aplicação de sanções jurídicas. A sanção em
matéria de direito privado não actua geralmente por iniciativa directa do Estado,
mas a solicitação dos titulares dos correspondentes direitos subjetivos. E toma
sobretudo a forma de uma reparação, da garantia de obter coativamente à
realização do interesse reconhecido por lei, ou indenização equivalente.

14. NOÇÃO DE DIREITO COMERCIAL


O Direito Empresarial/Comercial/Mercantil é o ramo do direito privado, que
regula todas as relações jurídicas advindas do comércio  (lato sensu), bem
como a situação jurídica dos comerciantes. Ou seja, inclui não só as relações
específicas e os atos em si, mas também os locais e contratos comerciais,
regulando assim, a atividade empresarial/comercial e abarcando suas
organizações.
Os comerciantes em nome individual
Podem ser comerciantes as pessoas as pessoas singulares que não estando
impedidas legalmente de exercerem uma actividade mercantil por si ou por
representante e outras pessoas jurídicas que nos termos da lei possam ser
qualificados comerciantes e as sociedades, art.º 13.º C.Com.
Para ser comerciante é necessário que se tenha para praticar actos e fazer do
comércio uma profissão. A profissionalidade significa a prática reiterada e
regular de actos de comércio por natureza ou absolutos. Ou seja, não é
necessário exclusividade na prática de actos de comércio, daí que pode ser
comerciante e a par disso exercer outra actividade em simultâneo. 
As sociedades comerciais
As sociedades comerciais são consideradas comerciantes desde que tenham
personalidade jurídica através do seu registo definitivo, art.º 13.º nº 2 C.Com.
elas podem ser: sociedade em nome coletivo – sociedade em comandita
simples – sociedade por quotas – sociedade anônima – sociedade em
comandita por ações.
As sociedades comerciais são a estrutura típica das empresas nas economias
de mercado, embora a empresa possa revestir outras formas jurídicas. Nos

33
termos do art.º 1º e 2.º da Lei das Sociedades Comerciais, as sociedades
comerciais têm necessariamente por objecto a prática de actos de comércio e
as sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio devem
revestir um dos tipos previstos no Código comercial.

Conceito de empresa
A empresa é a célula base da economia moderna. A disposição fundamental
para a determinação do conceito de empresa em Direito Comercial é o art.º
230º CCom.
Do elenco de empresas apresentado neste artigo ressalta a conjugação de
factores de produção – pessoas e bens – o exercício de actividades
económicas nos diversos sectores, e a existência de um complexo
organizacional estável.
Artigo 980º – Noção do contrato de sociedade
Contrato de sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa
actividade económica, que não sejam de mera fruição, a fim de repartirem os
lucros resultantes dessa actividade.
1. Facto jurídico: contrato de sociedade
2. Elemento pessoal: pluralidade de sócios;
3. Elemento patrimonial: obrigação de contribuir com bens ou serviços;
4. Elemento finalístico (fim imediato ou objecto): exercício em comum de
certa actividade económica que não seja de mera fruição;
5. Elemento teleológico: repartição dos lucros resultantes dessa
actividade.
O art.º 1.º e 2.º da LSC, conjugado com o art.º 13.º do CCom, aponta dois
elementos específicos do conceito de sociedade comercial:
1)     Objecto comercial: prática de actos de comércio;
2)    Tipo comercial: adopção de um dos tipos configurados e disciplinados
na lei comercial (principio da tipicidade).

15. NOÇÃO DE DIREITO DO TRABALHO


Objecto e âmbito do Direito do Trabalho
O Direito do Trabalho não é o Direito de todo o trabalho, não toma como
objecto de regulação todas as modalidades de exercício de uma actividade
humana produtiva ou socialmente útil. Como ramo de Direito, o seu domínio é
o dos fenómenos de relação. Assim, excluem-se dele as actividades
desenvolvidas pelos indivíduos para satisfação imediata de necessidades
próprias.

34
Tratar-se-á apenas de formas de trabalho livre, voluntariamente prestado.
Assim, afastam-se assim as actividades forçadas ou compelidas, isto é, de um
modo geral, aquelas que não se fundam num compromisso livremente
assumido mas numa imposição externa. Mas a “liberdade” que está em causa
na definição do objecto deste ramo de Direito é uma liberdade formal: consiste
na possibilidade abstracta de aceitar ou recusar um compromisso de trabalho,
de escolher a profissão ou género de actividade, e de concretizar tais escolhas
mediante negócios jurídicos específicos.
O Direito do Trabalho desenvolve-se em torno de um contrato – o contrato
de trabalho – que é o título jurídico típico do exercício dessa liberdade. O
trabalho livre, em proveito alheio e remunerado traduz-se sempre na
aplicação de aptidões pessoais, de natureza física, psíquica e técnica; para a
pessoa que o realiza, trata-se de “fazer render” essas aptidões, de as
concretizar de modo a obter, em contrapartida, um benefício económico.
São as relações de trabalho subordinado que delimitam o âmbito do Direito do
Trabalho. Assim, as situações caracterizadas pela autonomia de quem realiza
trabalho em proveito alheio estão fora desse domínio e são reguladas no
âmbito de outros ramos de Direito.
Em suma: o Direito do Trabalho regula as relações jurídico-privadas de
trabalho livre, remunerado e subordinado. A dependência ou subordinação que
caracteriza esse modelo de trabalho não é imposição legal, é um dado da
realidade.
O ordenamento legal do trabalho surgiu e desenvolveu-se como uma reacção
ou “resposta” às consequências da debilidade contratual de uma das partes (o
trabalhador), perante um esquema negocial originariamente paritário como
qualquer contrato jurídico-privado. Essa disparidade originária entre os
contraentes deve-se não só à diferente natureza das necessidades que levam
cada um a contratar, mas também às condições do mercado de trabalho.
O Direito do Trabalho apresenta-se, assim, ao mesmo tempo, sob o signo da
protecção ao trabalhador e como um conjunto de limitações à autonomia
privada individual. O contrato de trabalho é enquadrado por uma constelação
de normas que vão desde as condições pré-contratuais, passam pelos direitos
e deveres recíprocos das partes, atendem com particular intensidade aos
termos em que o vínculo pode cessar, e vão até aspectos pós-contratuais.
Não obstante a tipicidade da relação de trabalho subordinado como esquema
polarizador e delimitador do Direito do Trabalho, é preciso notar que nela se
não esgota o objecto deste ramo de Direito. Incluem-se nele, e com grande
saliência, as relações colectivas que se estabelecem entre organizações de
trabalhadores (as associações sindicais) e empregadores, organizados ou não.
Essas relações apresentam, entre outras, a peculiaridade de, em simultâneo,
serem objecto de regulamentação – porque exprimem a actuação de conflitos
de interesses – e de terem, elas próprias, um importante potencial normativo,

35
visto tenderem para o estabelecimento de regras aplicáveis às relações de
trabalho em certo âmbito.
As formas de acção colectiva laboral – a negociação, os meios conflituais – são
reguladas pelo ordenamento do trabalho, na dupla perspectiva da
“normalização” social e da “formalização” jurídica: as normas do chamado
direito colectivo do trabalho visam oferecer meios de racionalização e disciplina
dos conflitos de interesses colectivos profissionais e definir as condições da
recepção, na ordem jurídica, das determinações que eles venham a produzir.
Esse sector do Direito do Trabalho fundamenta-se no reconhecimento da
autonomia e da autotutela colectivas.
O objecto do Direito do Trabalho define-se em torno da prestação de trabalho
subordinado, livre, remunerado, no quadro de uma relação contratual jurídico-
privada.
Fala-se aqui de trabalho subordinado livre porque se alude a uma situação em
que a colocação de uma pessoa “sob a autoridade e direcção” de outra.
Fonte: https://docs.google.com/a/ucan.edu

15. DIREITO DA CONCORRÊNCIA


Lei n.º 5/18 de 10 de Maio, Lei da Concorrência.
Concorrência: existência das empresas, independentes entre si, que exerçam
a mesma actividade e compitam umas com as outras, em igualdade de
circunstâncias, para atrair clientela (art.º 3.º al. b) da Lei da concorrência).
(Defesa da concorrência) art.º 4º da proposta LGS.
É vedada à sociedades ou comerciantes em nome individual a adopção de
práticas concertadas de qualquer natureza, tendentes a assegurar uma posição
de domínio sobre o mercado segurador ou provocar alterações nas condições
normais de funcionamento.
2. As sociedades e comerciantes em nome individual não devem
sistematicamente aplicar condições discriminatórias em relação às empresas
do mesmo ramo, salvo existindo justificação objectiva de risco ou solvabilidade.
Em termos gerais, as políticas de concorrência actuais procuram garantir que a
concorrência nos diferentes mercados não seja restringida de uma forma que
reduza o bem-estar social constituem práticas lesivas à concorrência, como:
 O abuso de posição dominante (por ex: romper, total ou parcialmente,
uma relação comercial de forma injustificada);
 O abuso de dependência económica (por ex: impor de forma directa ou
indirecta, preços de compra, venda ou outras condições de transacção
não equitativas);

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 Práticas colectivas proibidas, nomeadamente, os acordos restritivos da
concorrência (por ex: limitar ou impedir o acesso de novas empresas no
mercado), as práticas concertadas e as decisões ou deliberações de
associações de empresas lesivas à concorrência.
Constituem infracção as práticas empresariais que assim procedam, puníveis
por lei. E a lei comina com nulidade os acordos que promovam a concorrência
desleal ou práticas restritivas da concorrência (art.º 7.º da Lei n.º 5/18 de 10 de
Maio, Lei da Concorrência.

17. DEFESA DO CONSUMIDOR


Lei n.º 15/03 de 22 de Julho, Lei da Defesa do consumidor
Nos termos do artigo 3.°, o consumidor é toda pessoa física ou jurídica a
quem sejam fornecidos bens e serviços ou transmitidos quaisquer direitos e
que os utiliza como destinatário final, por quem exerce uma actividade
económica que vise a obtenção de lucros.
Fornecedor é toda a pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem
actividades de produção, montagem, criação, construção, transportação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de bens ou prestação
de serviços.
Direitos do consumidor
Nos termos do art.º 4.º, o consumidor tem direito:
a) A qualidade dos bens e serviços;
b) A protecção da vida, saúde e segurança física contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de bens e serviços
considerados perigosos ou nocivos;
c) A informação e divulgação sobre o consumo adequado dos bens e
serviços, asseguramento à liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
d) A protecção dos interesses económicos e contra a publicidade enganosa
e abusiva;
e) A efectiva prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais,
individuais, (…) e colectivos;
f) A protecção jurídica, administrativa, técnica e a facilitação da defesa dos
seus direitos em juízo.

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BIBLIOGRAFIA.
 Amaral, Diogo Freitas do – Manual de Introdução ao Direito, Volume I,
Almedina, Coimbra, 2004 (reimpressão 2017)
 Ascensão, José de Oliveira – O Direito. Introdução e Teoria Geral, 13.ª
edição, Almedina, Coimbra, 2005 (reimpressão 2017)
 Brito, Miguel Nogueira de – Introdução ao Estudo do Direito, AAFDL,
Lisboa, 2017
 Bronze, Fernando José Pinto – Lições de Introdução ao Direito, 2.ª
edição, Coimbra Editora, Coimbra, 2006 (reimpressão 2010)
 Carlos Alberto B. Burity da Silva. Teoria geral do direito civil / - 4ª ed.,
[reimp.]. - Luanda: Ed. da Fac. de Direito da UAN, 2013;
 Chorão, Mário Bigotte – Introdução ao Direito, Volume I, O Conceito de
Direito, Almedina, Coimbra, 1998
 Duarte, Maria Luísa – Introdução ao Estudo do Direito. Sumários
Desenvolvidos, AAFDL, Lisboa, 2003
 Gomes, Nuno Sá – Introdução ao Estudo do Direito, Lexr, Lisboa, 2001
 Justo, A. Santos – Introdução ao Estudo do Direito, 8.ª edição, Coimbra
Editora, Coimbra, 2017
 Lamego, José – Elementos da Metodologia, Almedina, Coimbra, 2016
 Machado, João Baptista – Introdução ao Direito e ao Discurso
Legitimador, reimpressão, Almedina, Coimbra, 2017
 Marques, José Dias – Introdução ao Estudo do Direito, 2.ª edição,
Lisboa, 1994.
 Mendes, João Castro – Introdução ao Estudo do Direito, AAFDL, Lisboa
1994.
 Silva, Germano Marques da – Introdução ao Estudo do Direito,
Universidade Católica Editora, Lisboa, 2006 (reimpressão 2015)
 Sousa, Marcelo Rebelo de e Sofia Galvão – Introdução ao Estudo do
Direito, 5.ª edição, Lex, Lisboa, 2000
 Sousa, Miguel Teixeira de – Introdução ao Estudo do Direito, Almedina,
Coimbra, 2017

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 Telles, Inocêncio Galvão – Introdução ao Estudo do Direito, 2 Volumes,
11.ª e 10.ª edição, Coimbra Editora, Coimbra, 1999/2000 (reimpressão
2010)

LEIS
 Código Civil
 Constituição da República
 Lei n.º 15/03 de 22 de Julho, Lei da Defesa do consumidor
 Lei n.º 5/18 de 10 de Maio, Lei da Concorrência.

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