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CURSO DE DIREITO- FMF

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO
DIREITO
IED

PROFESSORA: THANDRA PESSOA DE SENA


Material complementar
Manaus -2023

UNIDADE I: Direito – Conceito de Direito; Direito Objetivo e Subjetivo; Direito e Moral.

1 – CONCEITO DE DIREITO:
Na linguagem comum e na linguagem científica, o vocábulo direito é
empregado com significações diferentes. Ele tem sentido nitidamente diverso nas

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seguintes expressões:
1. o direito brasileiro proíbe o duelo;
2. o Estado tem direito de cobrar impostos;
3. o salário é direito do trabalhador;
4. o direito é um setor da realidade social;
5. o estudo do direito requer métodos próprios.
Cada uma dessas frases emprega uma das significações fundamentais do
direito. Na primeira, direito significa a lei ou norma jurídica (direito-norma). Na segunda,
direito tem o sentido de faculdade ou poder de agir (direito-faculdade ou direito-poder). Na
terceira, indica o que é devido por justiça (direito-justo). Na quarta, o direito é considerado
como fenômeno social (direito-fato social). Na última, ele é referido como disciplina
científica (direito-ciência).
Direito em seu critério etimológico significa palavra tem sua origem num
vocábulo latim: directum ou rectum, que significa "direito" ou "reto". Rectum ou directum é
o que é conforme "Directum" a uma régua. Mas, ao lado desse, existe outro conjunto de
palavras que, nas línguas modernas, liga-se à noção de direito. Esse conjunto é
representado pelos vocábulos: "jurídico", "jurisconsulto", "judicial", "judiciário',
"jurisprudência" etc., que encontram, também, similar em quase todas as línguas
modernas.
Qual a origem desses vocábulos?
É visível que a etimologia dessas palavras encontra-se no termo latino “jus
Guris”, que significa "Jus": "direito".
O Direito comporta cinco realidades diferentes:
Norma: a regra social obrigatória.
Faculdade: a prerrogativa que o Estado tem de criar leis.
Justo: o que é devido por justiça.
Ciência: a sistematização teórica e racional do Direito.
Fato Social: está ligado aos fatos sociais – econômicos, artísticos,
culturais, esportivos, etc.
O estudo da História revela que o homem nunca procurou ficar
completamente isolado dos seus semelhantes para viver e sobreviver. Ou seja, o homem
nunca adotou a solidão como forma habitual de vida, demonstrando que a sociabilidade
é característica fundamental de nossa espécie. De fato, se não fosse à sociabilidade,
gerando a união entre os grupos humanos, talvez nossa espécie não conseguisse superar
os perigos e dificuldades da vida primitiva.
Por viver em sociedade, a ação de uma pessoa interfere na vida de outras
pessoas, provocando, conseqüentemente, a reação dos seus semelhantes. Para que
essa interferência de condutas tivesse um sentido construtivo, foi necessária a criação
de regras capazes de preservar a paz no convívio social. Assim nasceu o Direito. Nasceu
da necessidade de se estabelecer um conjunto de regras que dessem uma certa ordem à
vida em sociedade, afinal, nenhuma sociedade, como escreveu o jurista Miguel Reale,
subsistiria sem um mínimo de ordem, direção e solidariedade.
Portanto, podemos concluir que o convívio em sociedade é essencial ao
homem, e que nenhuma sociedade funcionaria sem a adoção de regras de Direito. Por
isso, afirmavam os antigos romanos: ubi societas, ibi jus - onde houver sociedade, aí
estará o Direito. Assim, de forma simples e concisa, podemos elaborar a seguinte
conceituação:
“Direito é um conjunto de regras obrigatórias que disciplinam o
convívio social humano”. Essas regras obrigatórias serão chamadas de normas
jurídicas. O Direito é uma ciência social. O direito sempre existe onde houver sociedade,
visto que não há sociedade sem direito. Os romanos foram os maiores juristas da
Antiguidade.
A norma jurídica é elemento fundamental para a constituição e existência do
Direito.

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Epistemologia jurídica:
Ao estudar o direito como ciência, devemos naturalmente examinar sua
definição, assim como o lugar que ele ocupa no conjunto das ciências e a natureza de seu
objeto. Tais problemas pertencem ao campo da Epistemologia Jurídica. Epistemologia, do
grego epistême (ciência) e logos (estudo), significa etimologicamente “teoria da ciência”.
O direito se ocupa com o estudo das normas que disciplinam a conduta do
homem em sociedade, visando à harmonia do convívio e ao bem comum.
Num sentido mais prático pode-se dizer que é a ordenação da conduta
humana em sociedade, por meio de normas coercitivamente impostas pelo Estado e
garantidas por um sistema de sanções peculiares.
Uma das características naturais do homem é a vida em sociedade. Já
Aristóteles dizia que o homem é um animal político. Ora vivendo em sociedade, tendem
os homens a viver em conflito para predomínio de seus interesses pessoais. Daí a
necessidade das regras de direito para que não haja desordem, e sim harmonia. Tais
regras restringem, de certa forma, a liberdade individual, porém garantem o bem-estar
coletivo.
O direito, portanto, mantém o equilíbrio nas relações humanas para que a
sociedade se conserve e não pereça. Por isso é que se costuma simbolizar o direito com
uma balança – que é o equilíbrio – e uma espada que sustenta a balança e que garante,
pela força (ou sanção), o cumprimento das normas jurídicas.

O direito encontra seu fundamento na própria natureza humana, pois é


natural que o homem tenda para o bem, para o que é justo, e isto é a finalidade do
direito.

CONCEITO: É um conjunto de normas de conduta social, imposto pelo


Estado, para a realização da segurança, segundo os critérios de justiça (bem comum).

2 – DIREITO E RELIGIÃO:
Por muito tempo, desde as épocas mais recuadas da história, a Religião
exerceu um domínio absoluto sobre as coisas humanas. A falta de conhecimento era
suprida pela fé. As crenças religiosas formulavam as explicações necessárias. Segundo o
pensamento da época, Deus não só acompanhava os acontecimentos terrestres, mas
neles interferia. Por sua vontade e determinação, ocorriam fenômenos que afetavam os
interesses humanos; assim, diante das tragédias, viam-se os castigos divinos. O Direito
era considerado como expressão da vontade divina. Em seus oráculos, os sacerdotes
recebiam de Deus as leis e os códigos.
Nesse largo período em que o Direito se achava mergulhado na Religião, a
classe sacerdotal possuía o monopólio do conhecimento jurídico. As fórmulas mais
simples eram divulgadas entre o povo, e os casos mais complexos tinha de ser levados à
autoridade religiosa. Os textos não eram divulgados. Durante a Idade Média, ficaram
famosos os juízos de Deus, que se fundavam na crença de que Deus acompanhava os
julgamentos e interferia na justiça. O movimento de separação entre o Direito e a Religião
cresceu ao longo do século XVIII, especialmente na França, nos anos que antecederam a
Revolução Francesa.

3 – DIREITO E MORAL:
Distingue-se o direito da moral. Esta é mais ampla, embora vários pontos
comuns existam entre ambos, uma vez que constituem regras de conduta e neles se nota
a finalidade de conseguir o bem-estar individual e coletivo. O direito se preocupa com a
licitude da conduta das pessoas, a moral visa à honestidade dessa conduta.

“nem tudo que é licito é honesto”?

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A moral se estende aos deveres da pessoa para consigo mesmo, para com
as outras e para com Deus. Pode-se analisar os preceitos de ordem moral sob três
aspectos:

- regras morais da pessoa perante Deus: moral religiosa;


- regras morais da pessoa perante si mesma: moral individual;
- regras morais da pessoa perante a sociedade: moral social.

A maior distinção entre o homem e a moral reside na sanção. A sanção


moral é restrita ao foro íntimo. Se a pessoa comete um erro de natureza moral, o castigo
lhe será dado apenas por sua consciência.
Encaradas sob o aspecto pragmático, as normas morais, enquanto
estabelecem regras de conduta, são consideradas éticas. Destinam-se a reger a conduta
livre da pessoa para a consecução de fins próprios. Sendo que o direito também tem um
cunho ético.
E o direito tende a transformar em regras suas os preceitos da moral: cada
vez mais o direito tem que se moralizar, quando, por exemplo, aplicar os princípios da
boa-fé, igualdade, na proteção do mais fraco (consumidor, empregado).
O direito conta com sanção de ordem coercitiva, que é a força ou o poder de
obrigar o indivíduo a agir em conformidade com a norma jurídica. A força, a coercibilidade
ou a sanção são inseparáveis do direito e procuram garantir a justiça nas relações
humanas. Portanto, os atributos do direito mais importantes são a coercibilidade e a
sanção, a primeira se entende como a característica de comando de uma norma a par da
obrigatoriedade de seu cumprimento independente da vontade do obrigado. Seu
descumprimento pode gerar a aplicação de uma sanção.
Enfim, a moral se preocupa mais com a intenção e o direito com a ação.

Em síntese:
- a moral estabelece norma de conduta destinadas a uma ordem “moral”
entre os tendentes à consecução do bem;
- o direito também estabelece norma de conduta inspiradas pela ordem
moral, mas de natureza exterior;
- as normas de direito recebem uma sanção mais genérica, exterior e por via
coercitiva, pode impor, ou impõe o respeito;
- uma vez sancionadas, as normas de direito se destacam das normas
morais, que lhe serviram de fundamento, passando a operar dentro da ordem jurídica;
- a moral pretende que o homem fuja do mal e pratique o bem; o direito
exige que o indivíduo não prejudique seu semelhante (paz social).

NOÇÕES DE DIREITO

A primeira ideia que devemos trabalhar é a de adaptação, adaptação do


homem a si próprio e ao meio em que vive. O ser humano, a fim de realizar seus ideais,
tem que se adaptar à natureza. Cria seu mundo cultural e a ele se submete. Nesse afã de
se adaptar, utiliza-se o homem de dois processos distintos. Segundo estes processos,
haverá dois tipos de adaptação humana, a interna e a externa.
Adaptação interna é a orgânica, que se processa através dos órgãos do
corpo, sem a intervenção do elemento vontade. Adaptação externa consiste em tudo
aquilo que o homem constrói, complementando a natureza, em consequência de seu
esforço, perspicácia e imaginação.
Mas onde entra o Direito?
Para responder essa pergunta, carece analisar a relação humana com a
sociedade em seu duplo aspecto de adaptação: de um lado, o Direito ajuda o homem a se

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adaptar às condições do meio; de outro, é o homem que deve adaptar-se ao Direito,
preestabelecido segundo suas próprias aspirações.
A vida em sociedade só é possível com organização, daí a necessidade do
Direito. A sociedade cria o Direito para formular as bases da justiça e segurança. Mas o
Direito não gera o bem-estar social sozinho. Seus valores não são inventados pelo
legislador, sendo, ao contrário, expressão da vontade social. Se o Direito é fator de
adaptação social, surgido da necessidade de ordem, justiça e segurança, caso a natureza
humana atingisse nível supremo de perfeição, sem dúvida alguma o Direito tenderia a
desaparecer.
Em poucas palavras, o Direito não corresponde às necessidades
individuais de cada pessoa. Corresponde sim a uma carência da coletividade de
paz, ordem e bem comum.
Para o indivíduo e para a sociedade, o Direito não constitui fim em si
mesmo, mas apenas meio para tornar possível a convivência e o progresso social. Nesse
sentido, o Direito deve estar sempre se refazendo, de acordo com a mobilidade social,
pois só assim será instrumento eficaz na garantia do equilíbrio e da harmonia social.
Mas é por intermédio de normas jurídicas que o Direito promove seus
objetivos. Normas são modelos de comportamento que fixam limites à liberdade humana,
impondo determinadas condutas e sanções àqueles que as violarem.
É lógico que o Direito não pode e não deve absorver todos os atos e
manifestações dos humanos. Seu escopo é apenas o de zelar e promover a segurança e
justiça nas relações sociais. Assim, não visa ao aperfeiçoamento do homem, de que bem
se incumbe a Moral. Tampouco pretende ligar o homem a Deus. Esta é tarefa da Religião.
E, por fim, não se preocupa em incentivar o cavalheirismo e as boas maneiras, disto
cuidando a Etiqueta. O homem é ser social. Na concepção aristotélica, o homem,
considerado fora da sociedade, seria ou um bruto ou um Deus.
A conclusão é que, fora da sociedade, não há condições de vida para o
homem. Estudá-lo apartadamente seria como estudar a física sem as leis da gravidade.
Estudo que só ajudaria a provar a impossibilidade da vida fora da sociedade.
Examinando o fenômeno social, vemos que as pessoas e os grupos
interagem, a todo momento, na busca de seus objetivos, para o bem comum.

INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL

Para viver em sociedade, o ser humano emprega vários instrumentos com o


intuito de regrar, limitar as relações interpessoais. São os denominados instrumentos de
controle social. O Direito é, sem dúvida, um deles, mas não o único. A Moral, a Religião e
a Etiqueta são também processos normativos que acabam por atingir esse fim. De todos,
porém, é o Direito o que melhor cumpre este papel, em razão de sua força coercitiva.
Devido a isso, a essa força de coerção, deve ser muito bem delineado o
campo de atuação do Direito. Se for irrestrito, corremos o risco de ter o Direito como força
escravizadora, ao invés de libertadora. Já analisados na apostila anterior, mas nunca é de
mais repassar textos (conteúdos) que correlacione o Direito em face dos outros
instrumentos de controle social.

DIREITO E RELIGIÃO

No início, a Religião exercia domínio absoluto sobre o homem. O Direito


nada mais era do que expressão da vontade divina. A classe sacerdotal possuía o
monopólio do conhecimento jurídico. Durante a Idade Média, ficaram famosos os Juízos
de Deus com suas ordálias. As decisões ficavam condicionadas a jogo de sorte e azar,
pois Deus interferia diretamente no julgamento. Um prato de louça era jogado ao alto. Se
ao cair se quebrasse, o réu seria considerado culpado, caso o prato não se quebrasse,

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absolvia-se o infeliz.
Foi só a partir do século XVII que o Direito começou a se laicizar.
Realmente, Direito e Religião, apesar de fazerem parte da Ética, têm
campos distintos. Temos, para diferenciá-los, que partir de seus objetivos. O objetivo da
Religião é o de integrar o homem com a divindade. Cuidar do mundo espiritual. Sua
preocupação fundamental é a de orientar os homens na busca e conquista da felicidade
eterna.
Já o objetivo do Direito é o bem comum da sociedade. É orientar o homem
na busca da harmonia e felicidade terrenas. Para isso, ele tenta, com seus instrumentos
normativos, promover a paz, a segurança e a ordem sociais.
Vemos, assim, que Direito e Religião são fenômenos distintos. Não obstante,
a todo momento, buscam inspiração um no outro. Há normas jurídicas de conteúdo
religioso, como a proibição do aborto, da bigamia etc. Ora, ao tentar organizar a vida em
sociedade, o Direito não pode se esquecer das preocupações de cunho religioso, tão
importantes para o homem. Além do mais, a preocupação com o bem é inerente a ambos,
Direito e Religião.
Podemos dizer, pois, que a Religião forma com o Direito um conjunto de
círculos secantes, em que o Direito busca inspiração na Religião.

DIREITO E MORAL

Neste momento, recorremos ao socorro do maior de todos, Edgar de Godói


da Mata-Machado, o qual passamos a transcrever. Ninguém, mais habilmente que o
mestre, sintetizou, em tão poucas palavras, acepção tão honesta e clara das relações
entre Moral e Direito.
"Contemplado em sua exterioridade, a agir, em sua existência cotidiana,
naquilo a que se pode chamar a sua condição existencial, o homem patenteia as
características de um ente social, de um animal político". Mas não é ele apenas um
animal político. Pelo que possui de mais nobre, a inteligência e a vontade, o homem é
também o que se chama uma pessoa. Há em sua vida como que um núcleo privado, uma
zona propriamente de mistério. Embora membro da sociedade, é dono de si mesmo e
pode conservar em seu interior, no mais profundo de sua intimidade, algo que não sofre,
pelo menos diretamente, a pressão das forças que atuam na sociedade. E ainda quando
as sofre, ele pode verificar a presença delas, calculá-las, criticá-las. Ao decidir-se, ao
optar — 'agirei desta e não daquela forma — farei isto e não aquilo' — o homem é capaz
até mesmo de assinalar o quanto influi a pressão social sobre a sua razão e sobre a sua
vontade. Recebe a pressão, aceita-a de boa mente ou contrariado, recusa-a ou a ela se
submete, em qualquer hipótese consciente dos motivos da sua ação ou da sua omissão.
Nessa área intangível à pressão social ou em que a pressão social é verificada, calculada,
criticada, nessa parcela de nós mesmos em que nos vemos a nós mesmos donos do que
decidimos e do que fazemos, existem regras limitativas de nossa atividade?
Nesse mundo interior, é o homem um ser absolutamente autárquico ou,
ainda aí, está ele submetido a alguma regra?
Resposta cabal a essas perguntas levar-nos-ia ao exame do que se chama
a ordem moral e, a seguir, de suas relações com a ordem jurídica, matéria que exige
reflexão e elaboração científica, mais própria da Filosofia que da Ciência do Direito. Aqui,
ainda no plano do conhecimento espontâneo, em que temos situado nossas noções
preliminares de Direito, parece-nos possível justificar uma resposta afirmativa àquelas
perguntas. É evidente que o homem não aspira a fazer o mal. O mal se lhe apresenta,
precisamente, como aquilo que deve ser evitado; o que deve ser feito pelo homem é o
bem. Por mais que nos esforçássemos para definir o bem, não conseguiríamos exprimi-lo
melhor do que ao afirmar: o bem é aquilo que deve ser feito. E o mal? É precisamente
aquilo que deve ser evitado.

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De certo, dá-se muitas vezes que vemos o bem que deve ser feito e
procedemos de maneira oposta: mas é por enxergarmos 'algum' bem no mal. Aí está,
aliás, um dos mais evidentes privilégios do homem: o de fazer o mal, em virtude de sua
capacidade de colocar no mal um aspecto do bem. Nem por outra razão se considera livre
o homem. Ao contrário dos outros seres obrigados a fazer o bem à natureza de cada um,
o homem constrói como que o próprio bem, ainda que se servindo de elementos que
antes constituem o mal. Mesmo, porém, quando 'faz o mal' o homem 'sabe', no íntimo de
sua consciência, que faz o que deve ser evitado. E se não o sabe imediatamente, isto é,
no exato momento da ação, tantas vezes praticada por força de impulso irresistível, sabê-
lo-á mais tarde quando tomar conhecimento do que fez e verificar não ter sido bom que o
houvesse feito.
Sabê-lo-á mesmo, de certo modo, em relação ao futuro, quando confere o
ato praticado ou a praticar com os esquemas de ação que preparou e que ofereceu a si
próprio como modelo. Daí porque os vícios, as violações da regra, o delito são outras
tantas demonstrações da verdade deste primeiro princípio: o bem deve ser feito, o mal
deve ser evitado.
Eis o primeiro princípio da moralidade, eis a raiz de todas as regras de
conduta do homem, eis a razão por que o homem aceita um regime de proibições, de
permissões e de mandatos. [...]
Diremos que do primeiro princípio da moralidade pende toda a força das
regras de conduta social, incluindo as jurídicas. Estas só podem determinar ações a fazer
e ações a evitar - ações e omissões, ordens e proibições, faculdades e deveres — na
medida em que o homem sabe que há coisas que devem ser feitas, porque boas,
convenientes, úteis ou justas, e coisas que devem ser evitadas, porque más,
inconvenientes, prejudiciais. O Poder, que as emite, tem de apresentá-las sempre, com
sinceridade ou por malícia, como úteis, necessárias, convenientes, justas, isto é, para o
bem ou para algum bem da comunidade.
Assim, a relação fundamental entre o mundo ético e o mundo jurídico é a
que existe entre o primeiro princípio de moralidade e a sua explicitação, o seu
desenvolvimento, a sua projeção, assinaláveis num número indefinido de regras a que o
homem deve submeter a sua conduta, não apenas no que toca ao seu bem individual,
mas ao bem do outro, do sócio, do membro da sociedade." (MATA-MACHADO, Edgar de Godói
de. Elementos de teoria geral do direito. Belo Horizonte: Vega, 1981, p. 27-30).

DIREITO E REGRAS DE TRATO SOCIAL

As regras de trato social são padrões de conduta social. Elaboradas pela


sociedade, têm por fim tornar o convívio social mais agradável e ameno. Seu conjunto
denomina-se Etiqueta.
A questão sobre a autonomia das regras de trato social é extremamente
discutida. Alguns pensadores negam sua autonomia, afirmando que não passam de
normas morais ou religiosas. Outros há que afirmam sua autonomia pelo fim a que visam.
Ora, as normas de trato social têm por escopo aprimorar o nível das relações sociais,
dando-lhes o polimento necessário para tornar o convívio entre os homens o mais
agradável possível. As regras de trato social cuidam, assim, do aspecto externo. A Moral
visa a aprimorar o homem em si mesmo, do ponto de vista da consciência interna. A
Religião tem por fim o aprimoramento do homem para que alcance a divindade. Tem,
também, aspecto externo, porque a conduta do homem para com seu próximo o aproxima
ou afasta de Deus. E o Direito almeja ao estabelecimento da ordem, da paz e da
harmonia social. Tem aspecto externo.
Examinando-as mais de perto, apontamos as seguintes características das
regras de trato social:
a) têm aspecto social, por só serem possíveis em contexto social, em face

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do outro;
b) exterioridade;
c) unilateralidade, pois têm caráter apenas imperativo, não dando ao outro o
direito de exigi-las. Não possuem o caráter imperativo-atributivo do Direito;
d) heteronomia, porque nascem do convívio social, se impondo à vontade
individual;
e) incoercibilidade, porquanto não possam ser exigidas coercitivamente pelo
aparato estatal, como as normas jurídicas. Se em algum momento puderem, ou seja, se
forem dotadas de coerção, passam a ser jurídicas, como o fardamento dos militares;
f) sanção difusa, uma vez que a pena para seu descumprimento consiste
somente na reprovação pelo grupo social. Não é prefixada, como no Direito e na Religião.
A verdade é que as regras de trato social formam com o Direito e com a
Religião um conjunto de círculos secantes. Há normas jurídicas de caráter tipicamente de
trato social e há normas de trato social de conteúdo religioso. A Moral a todos coordena,
uma vez que dela pende toda a força das demais.

DIREITO E JUSTIÇA

Definir o que seja justiça é tarefa árdua, se não impossível. Aristóteles,


seguindo a orientação de seu mestre, Platão, conceituava justiça como a máxima virtude
do indivíduo e do Estado. Para ele existiam dois tipos de justiça, a geral e a particular.
A justiça geral nada mais é que a virtude inata às pessoas, que faz com que
pratiquem o bem e evitem o mal.
A justiça particular, a seu turno, deve ser definida segundo duas espécies. A
primeira, a distributiva, consiste na repartição proporcional das honras e bens entre os
indivíduos, de acordo com o mérito de cada um.
A segunda, a corretiva, procura equilibrar as relações entre os indivíduos,
impondo condutas e sanções.
A definição de justiça mais importante, até hoje formulada, foi a de Ulpiano,
jurista romano, com base na concepção aristotélica. Logo abrindo as Instituições do
Corpus Iuris Civilis, formula Ulpiano: Justiça é a vontade constante e perpétua de dar a
cada um o seu direito.
A definição de Ulpiano é formal, não indicando o conteúdo do seu de cada
um. É que aquilo que deve ser atribuído a cada um varia no tempo e no espaço. Ora, o
seu representa algo próprio de cada pessoa. Configura-se em várias hipóteses: receber o
que se deu emprestado; pena proporcional ao crime; salário proporcional ao trabalho etc.

A idéia de justiça não é apanágio do Direito, encontrando-se, também, na


Moral, na Religião e, com menos freqüência, na Etiqueta.
Justiça é algo absoluto ou relativo?
Os defensores do caráter relativo da justiça dizem ser óbvio que a idéia de
justo varie no tempo e no espaço. Já os defensores do caráter absoluto dizem que, de
fato, o que varia é a idéia de justiça, mas não a justiça, que viria diretamente do Direito
Natural, não variando, pois. Além disso, se partirmos do pressuposto de que a justiça é
relativa, poderíamos, perigosamente, concluir, que não existem leis injustas.
Façam uma análise em relação ao ideal de Justiça.

NATUREZA DA NORMA JURÍDICA

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O direito difere das demais normas de conduta pela existência de uma


sanção pelo seu descumprimento. Na foto, policiais prendem um suspeito.
A vida em sociedade e as conseqüentes interrelações pessoais exigem a
formulação de regras de conduta que disciplinem a interação entre as pessoas, com o
objetivo de alcançar o bem comum e a paz e a organização sociais. Tais regras,
chamadas normas éticas ou de conduta, podem ser de natureza moral, religiosa e
jurídica. A norma do direito, chamada "norma jurídica", difere das demais, porém, por
dirigir-se à conduta externa do indivíduo, exigindo-lhe que faça ou deixe de fazer algo,
objetivamente, e atribuindo responsabilidades, direitos e obrigações. Compare-se com as
normas morais e religiosas, dirigidas precipuamente à intenção interna, ao processo
psicológico.

Outra característica a distinguir a norma jurídica é a existência de uma


sanção obrigatória para o caso de seu descumprimento, imposta por uma autoridade
constituída pela sociedade organizada, enquanto que a sanção aplicada pelo
descumprimento da regra moral não é organizada, sendo, ao revés, difusa por toda a
sociedade.
Nem toda norma de conduta, portanto, é jurídica. A sociedade atribui a
proteção máxima do direito a apenas alguns valores que ela julga essenciais e que os
juristas chamam de "o mínimo ético".
O direito constitui, portanto, um conjunto de normas de conduta
estabelecidas para regular as relações sociais e garantidas pela intervenção do poder
público (isto é, a sanção que a autoridade central - no mundo moderno, o Estado - impõe).
É portanto da natureza da norma do direito a existência de uma ameaça pelo seu não-
cumprimento (sanção) e a sua imposição por uma autoridade pública (modernamente, o
Estado) com o objetivo de atender ao interesse geral (o bem comum, a paz e a
organização sociais).
As normas jurídicas têm por objetivo criar direitos e obrigações para
pessoas, quer sejam pessoas naturais, quer pessoas jurídicas. Isto não significa que o
direito não discipline as coisas e os animais, por exemplo, mas o faz com o propósito de
proteger direitos ou gerar obrigações para pessoas.
Embora a sanção não seja da essência do Direito, já que a essência do
Direito é o justo, a sanção compõe a natureza do Direito. Toda norma jurídica contém um
preceito secundário explícito, dentro do sistema jurídico. A norma jurídica dispõe,
portanto, naturalmente de sanção que nem sempre está atrelada ao preceito primário,
competindo ao intérprete, por meio de um processo integrativo, quer no corpo legal onde
se encontra o preceito primário, quer noutro corpo legal qualquer, encontrar a sanção
adequada.
Assim, podemos citar, como exemplo, o caso de um locatário que, revoltado
com o despejo decretado pelo juiz, passa a destruir a casa locada. A Lei n. 8.245, de 18
de outubro de 1991, que dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os
procedimentos a elas pertinentes, não prevê a sanção para essa conduta. Porém, em
outro corpo normativo, a saber, no novo Código Civil, mais precisamente em seu artigo
186, está prevista a sanção para a hipótese, estabelecendo o preceito secundário das
perdas e danos para a conduta mencionada.

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DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO

Dá-se o nome de direito positivo ao conjunto de normas em vigor ditadas e


impostas por um Estado em dado território. É portanto um conceito muito próximo aos de
ordem jurídica e de direito objetivo. O direito positivo, gerado por um determinado Estado,
é necessariamente peculiar àquele Estado e que varia segundo as condições sociais de
uma determinada época.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada durante a
Revolução Francesa, é um exemplo da incorporação de princípios do direito natural ao
direito positivo.
Os filósofos gregos foram os primeiros a postular uma distinção entre o
direito positivo, fundado na lei posta pelos homens, e o direito natural, que teria em toda
parte a mesma eficácia e não dependeria da opinião dos homens para ser efetivo. O
direito romano também acolheu a distinção, contrapondo o ius civile (posto pelos cidadãos
de um lugar e apenas a estes aplicável) ao ius gentium, definido como o direito posto pela
razão natural, observado entre todos os povos e de conteúdo imutável, o que corresponde
à definição de direito natural. Na Idade Média, os juristas identificavam a natureza ou
Deus como fundamento do direito natural, e São Tomás de Aquino, dentre outros,
afirmava que as normas de direito positivo derivariam do direito natural.
Embora o conceito de direito natural surja na Grécia antiga e seja tratado
pelos juristas romanos, sua importância para o direito contemporâneo advém do
movimento racionalista jurídico do século XVIII, que concebia a razão como base do
direito e propugnava a existência de um direito natural (por exemplo, os direitos
fundamentais do homem) acima do direito positivo. Este direito natural seria válido e
obrigatório por si mesmo. A distinção perdeu parte de sua força após a incorporação dos
direitos e liberdades fundamentais ao direito positivo (em geral, nas constituições
modernas) e com a consolidação do Estado moderno e o seu monopólio sobre a
produção jurídica.
Os que defendem a existência do direito natural e o estudam denominam-se
"jusnaturalistas". Contrapõem-se a estes os "juspositivistas", que só reconhecem a
existência do direito positivo. Rejeitam, portanto, a tese da existência de um direito eterno,
imutável e geral para todos os povos, afirmando que direito é apenas o que é imposto
pela autoridade.
Direito Positivo é o conjunto de normas jurídicas vigentes em determinado
lugar, em determinada época; é a Lei (ou o próprio Direito Objetivo). Mas existem normas
que não são criadas por nós. Assim, o Direito Natural é o composto pelo conjunto de
regras imutáveis e necessárias, capazes de conduzir o homem a sua perfeição. O
jusnaturalismo seria como o fiel da balança, pois prega a existência do Direito Positivo,
mas entende que o mesmo deva ser objeto de uma valoração, inspirada num sistema
superior de princípios ou preceitos imutáveis (o Direito Natural), que corresponde a uma
justiça maior, anterior e superior ao Estado e que emana da própria ordem equilibrada da
natureza (ou mesmo de Deus).
No entanto deixo claro que muitos autores negam a existência de qualquer
outro direito que não seja a norma posta (ou imposta). Para esta forte corrente, Direito é o
que está na lei. E pronto.
Portanto, o Direito Positivo é o conjunto de normas jurídicas vigentes em
determinado lugar, em determinada época. Em palavras mais corriqueiras, é a Lei. Santo
Tomás de Aquino bem o definiu como o Direito criado pelo homem, a fim de atender a
exigências específicas do convívio social harmônico.
Jusnaturalismo seria, assim, a corrente de pensamento que reúne todas as
idéias que surgiram, no correr da história, em torno do Direito Natural. As várias correntes
jusnaturalistas concordam em que há um Direito ideal, perfeito, expressão mesma do

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justo, além do Direito Positivo. É esse Direito supremo que deve servir de modelo ao
legislador. Para os teólogos medievais, vinha de Deus. Para os racionalistas, o Direito
Natural é produto da razão humana. Na atualidade, segundo Paulo Nader, o pensamento
dominante é o de que o Direito Natural se fundamenta na natureza humana.
Segundo esta última corrente, o raciocínio que nos conduz à idéia de Direito
Natural parte do pressuposto de que todo ser é dotado de uma natureza e de um fim. A
natureza, ou seja, as propriedades que compõem o ser, define o fim a que este tende.
A origem do Direito Natural, portanto, se localiza no próprio homem, em sua
dimensão social, e o seu conhecimento se faz pela conjugação da experiência com a
razão. É observando a natureza humana, verificando o que lhe é peculiar e essencial, que
a razão nos induz aos princípios do Direito Natural.
O Direito Natural tem íntima relação com o Direito Positivo. Há normas de
Direito Natural que já são dotadas de sanção. Se deixar de comer, e a necessidade de
comer é norma de Direito Natural, morrerei. Dessas normas não tem que se ocupar o
Direito Positivo. Mas se desobedecer à necessidade de preservar a espécie e matar meu
semelhante, desobedecendo norma de Direito Natural, não serei punido por sanção do
próprio Direito Natural. Neste caso, e em vários outros, foi necessário que o homem,
através do Direito Positivo, impusesse uma sanção.
O Direito Natural, por suas características, é universal por ser comum a
todos os povos. Afinal, a natureza humana é uma só. É também perpétuo, pois vale em
todas as épocas. É imutável e irrenunciável. É indelével, uma vez que não pode ser
apagado da natureza do homem. É igual e obrigatório para todos, sem distinção. Ninguém
vive sem ele. Seus princípios são sempre válidos.

Direito Natural é constituído pelos princípios que servem de fundamento ao


Direitopositivo.

Direito Positivo é constituído pelo conjunto de normas elaboradas por uma


sociedade determinada, para reger sua vida interna, com a proteção da força social.

DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO

Direito Objetivo é norma. Assim já o definiam os romanos: norma agendi -


o Direito é norma de agir. O Direito Objetivo estabelece normas de conduta social. De
acordo com elas, devem agir os indivíduos.
Direito Subjetivo é faculdade: facultas agendi. Quando se diz que alguém
tem direito a alguma coisa, está-se referindo a direito subjetivo seu, a faculdade que
possui. Logicamente, os direitos subjetivos encontram proteção na norma, no Direito
Objetivo. É este que os garante. Em outras palavras, é o Direito Objetivo que confere às
pessoas direitos subjetivos.
Tomemos, como exemplo, a norma do Código Civil: "O devedor que paga
tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada."
Trata-se aqui de norma de conduta, norma agendi, de Direito Objetivo,
portanto. Esta norma confere ao devedor uma faculdade, um poder de agir -facultas
agendi, qual seja, a faculdade, o poder de exigir quitação, no momento em que pagar.

Em suma:
"Norma agendi" (direito objetivo)
Norma agendi é a norma de agir. São as disposições típicas do sistema
jurídico. É considerada, por muitos, como o direito estático, porque não há incidência em
casos concretos, havendo apenas abstração normativa, positivada e vigente no
ordenamento jurídico .
"Facultas agendi" (direito subjetivo)

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Facultas agendi é a faculdade de agir. Para alguns autores é o direito
subjetivo; é a subsunção da norma ao caso concreto. É também considerada parte do
juízo de concreção (concretiza a norma abstrata através do fato).
A norma agendi, que é estática, dinamiza-se na facultas agendi.

FONTES DO DIREITO

Fonte é o vocábulo que designa concretamente o lugar onde brota alguma


coisa, como fonte d'água ou nascente. Usada metaforicamente, por translação de sentido,
a expressão fonte do direito indica o lugar de onde provém à norma jurídica, donde nasce
regra jurídica que ainda não existia na sociedade humana. O termo fonte cria uma
metáfora bastante precisa, porque remontar à fonte de um rio é procurar o lugar de onde
suas águas saem da terra."

“é a expressão que significa tudo aquilo que origina, que produz algo,
nascente. Assim, para o direito indica, desde logo, as formas pelas quais o direito se
manifesta, surgindo às normas jurídicas e os princípios gerais do direito”.

A produção das regras jurídicas se faz pelas fontes do direito.

A expressão fonte vem do latim fons, fontis, nascente, significando tudo


aquilo que origina, que produz algo. assim, a expressão fontes do direito indica, desde
logo, as formas pelas quais o direito se manifesta. apresentam, basicamente, três
espécies:

1) FONTES MATERIAIS: são os fatos sociais, as próprias forças sociais


criadoras do direito. Constituem a matéria-prima da elaboração deste, pois são os valores
sociais que informam o conteúdo das normas jurídicas. As fontes materiais não são ainda
o direito pronto, perfeito, mas para a formação deste concorrem sob a forma de fatos
sociais econômicos, políticos, religiosos, morais.
Como exemplo de fato econômico inspirador do direito, podemos citar a
quebra da bolsa de Nova Yorque em 1929, que acarretou uma depressão econômica
profunda, com efeitos jurídicos sensíveis.
Nos fatos sociais de natureza política encontraremos no papel inegável das
ideologias políticas, ao originarem movimentos políticos de fato, como as revoluções e as
quarteladas.
Na religião encontra-se uma fonte destacada do direito, haja vista a
Antigüidade oriental e a clássica, nas quais encontramos direito e religião confundidos. A
própria pena imposta ao faltoso tinha caráter de expiação, pois o crime, antes de ser um
ilícito, era um pecado, razão pela qual, no antigo Egito, aquele que atentava contra o
Faraó cometia não apenas crime, mas também sacrilégio. A grande luta travada pela
igreja, nos países católicos, contra o divórcio, influenciando, com sua autoridade, durante
muito tempo, a decisão dos parlamentares a respeito. Já como exemplo de fatores morais
na elaboração do direito, citem-se as virtudes morais como o decoro, a decência, a
fidelidade, o respeito ao próximo.
E como fatores naturais, citemos o clima, o solo, a raça, a geografia, a
população, a constituição anatômica dos povos. Já Montesquieu, em sua obra máxima, o
espírito das leis, informou, com muita graça e clareza, sobre a influência das condições
mesológicas sobre os povos e suas leis, que deveriam ser àquelas apropriadas.

2) FONTES HISTÓRICAS: são os documentos jurídicos e coleções coletivas


do passado que, mercê de sua sabedoria, continuam a influir nas legislações do presente.

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como exemplo, poderiam ser citados: a lei das doze tábuas, em Roma; o célebre código
de hamurabi, com sua pena de talião, na babilônia; a famosa compilação de Justiniano
etc. são fontes históricas do direito brasileiro, por exemplo, o direito romano, o direito
canônico, as ordenações Afonsina, manuelinas e Filipinas, o código de Napoleão, a
legislação da Itália fascista sobre o trabalho.

3) FONTES FORMAIS: seriam a lei, os costumes, a jurisprudência e a


doutrina. O estado cria a lei e dá, ao costume e à jurisprudência, a força desta. O
positivismo jurídico defende a idéia de que fora do estado não há direito, sendo aquele a
única fonte deste. As forças sociais, os fatos sociais seriam tão-somente causa material
do direito, a matéria-prima de sua elaboração, ficando esta sempre a cargo do próprio
estado, como causa eficiente.

A lei seria causa formal do direito, a forma de manifestação deste.

As fontes formais vêm a ser as artérias por onde correm e se manifestam às


fontes materiais.

DE PRODUÇÃO ESTADO
FONTES
IMEDIATA LEI
DO (DIRETA) COSTUMES

DIREITO DE CONHECIMENTO MEDIATA DOUTRINA


(INDIRETA) JURISPRUDÊNCIA

ANALOGIA
DE EXPLICITAÇÃO
OU INTEGRAÇÃO PRINCÍPIOS
GERAIS DO
DIREITO

Para efeito do estudo, as fontes do direito são divididas em dois grupos:


fontes imediatas (diretas) e fontes mediatas (indiretas).

São fontes diretas do direito:

LEIS - normas gerais e impressas, valendo para o futuro e editada para um


número ilimitado de pessoas;

COSTUMES - norma jurídica não escrita, que o uso continuado consagra.


respeitando pela sociedade onde se instala como se tivesse força de lei, o costume é
oriundo de uma convicção do grupo social, que o cumpre com rigor.

São fontes indiretas do direito:

DOUTRINA - trabalhos teóricos desenvolvidos por estudiosos do direito, que


visam à interpretação das leis e dos preceitos jurídicos;

JURISPRUDÊNCIA - conjunto de decisões proferidas pelos tribunais de


segunda instância nos casos concretos sob sua responsabilidade.

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ORDEM JURÍDICA: É a expressão que coloca em destaque uma das
qualidades essenciais do direito positivo, que é a agrupar normas que se ajustam entre si
e formam um todo harmônico e coerente de preceitos.

FONTES DO DIREITO

1) LEI

Lei é o preceito jurídico escrito, emanado do legislador e dotado de caráter


geral e obrigatório. É, portanto, toda norma geral de conduta, que disciplina as relações
de fato incidentes no Direito, cuja observância é imposta pelo poder estatal.

1.1) FORMAÇÃO DAS LEIS:


De acordo com o Direito Constitucional, três são os poderes da República:
Legislativo, Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si. A lei emana do
Poder Legislativo, que é o órgão competente para elaborá-la; mas antes de entra em
vigor, ela passa pelos seguintes trâmites:
1º - Apresentação do projeto de lei;
2º - Comissões técnicas;
3º - Discussão e aprovação;
4º - Sanção;
5º - Promulgação;
6º - Publicação.

O processo legislativo compreende o conjunto de atos observados na


proposta e na elaboração de emendas a Constituição, leis complementares, leis
ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções
(artigo 59 da Constituição Federal).

1.2) Eficácia:
É o seu vigor e abrangência no tempo e no espaço, ainda sem efeitos.

1.3) Eficiência:
É a aptidão que a lei tem para produzir efeitos, sendo utilizada.

1.4) Interpretação:
A arte de interpretar as leis chama-se hermenêutica. Hermenêutica jurídica
é a ciência e a arte da interpretação da linguagem jurídica.
Serve para trazer os princípios e as regras que são as ferramentas do
intérprete. A aplicação, a prática das regras hermenêuticas, é chamada exegese.
Espécies de Interpretação:
Sob o critério da natureza, ou meios de fazê-la, temos as seguintes espécies
de interpretação :
gramatical: busca o significado literal da linguagem, aplicando regras de
sistematização da língua;
lógica, contextual ou sistemática: busca contextualizar a norma, visando
o seu alcance, e tem por base as normas anteriores e posteriores e o sistema em que
está incluída;
histórica: busca a intenção do legislador tanto no momento da feitura da
norma quanto na origem do seu instituto, preponderando à análise da situação fática
existente quando da edição do texto legal;

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teleológica (sociológica): busca a adaptação da norma ao contexto social
existente ao tempo de sua aplicação, alcançando a denominada interpretação evolutiva.

Passos na interpretação e integração da lei. São cinco os passos utilizados


na interpretação da lei:
primeiro passo: interpretação literal (gramatical);
segundo passo: verificação dos outros critérios (lógica + histórica +
teleológica);
terceiro passo: utilização da analogia, e no tocante a esta aplicação,
cumpre informar a existência de regra básica de hermenêutica apta a informar a aplicação
do meio integrativo analógico (onde há a mesma razão, aplica-se a mesma disposição);
quarto passo: uso das fontes secundárias (costumes + doutrina
+jurisprudência);
quinto passo: utilização dos princípios gerais do Direito.

2) EFICÁCIA DA LEI NO TEMPO:

2.1) PRINCÍPIOS:
Os princípios que regem a eficácia da lei no tempo são os seguintes:
Principio da obrigatoriedade (artigo 3º da Lei de Introdução ao Código
Civil): segundo esse princípio, somente a norma jurídica publicada é obrigatória a todos e
ninguém poderá descumpri-la alegando ignorância. Portanto, o erro de direito é
inescusável.
Princípio da continuidade (artigo 2º, "caput", da Lei de Introdução ao
Código Civil): tal postulado estabelece que uma norma permanente só perderá a eficácia
se outra, de mesma ou superior hierarquia, vier modificá-la ou revogá-la. Portanto, a
norma jurídica não perde vigência pelo mero decurso do tempo.
Princípio da irretroatividade (artigo 6º da Lei de Introdução ao Código
Civil): a lei nova não pode retroagir para abarcar situações consolidadas por lei anterior.
Visa estabelecer a segurança jurídica do sistema, por intermédio do direito adquirido, do
ato jurídico perfeito e da coisa julgada.

2.2) VACATIO LEGIS:


CONCEITO: denomina-se vacatio legis o período de tempo que se estabelece entre a
publicação e a entrada em vigor da lei. A lei não produzirá efeitos durante a vacatio legis
(artigo 1º, caput, da Lei de Introdução ao Código Civil), incidindo a lei anterior no sistema.
Existem dois motivos para sua existência:
Cognitivo: para que a lei seja levada ao conhecimento do destinatário antes
de sua vigência;
Instrumental: para que os órgãos da Administração se aparelhem, para que
a norma ganhe efetividade.

CONTAGEM: A Lei Complementar nº 107/01 estabelece em seu artigo 8º, 5 1 .O, o


seguinte:
“A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam
período de vacância far-se-á com a inclusão da data de publicação e do último dia do
prazo, entrando em vigor no dia subseqüente a sua consumação integral”. Pode-se citar
como exemplo uma lei que estabeleça "esta lei entrará em vigor cinco dias após sua
publicação". Caso a lei seja publicada no dia 05 de março, far-se-á a contagem incluindo
o dia 05 e incluindo também o dia 09, último dia do prazo. Como a lei entra em vigor no
dia subseqüente à consumação integral do prazo, só entrará em vigor no dia 10 de março,
mais precisamente as 00:00 horas.
2.4) REVOGAÇÃO DA NORMA:

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É a hipótese em que a norma jurídica perde a vigência porque outra norma
veio modificá-la ou revogá-la. A norma jurídica é permanente e só poderá deixar de surtir
efeitos se a ela sobrevier outra norma que a revogue. Implica, portanto, na cessação da
existência da norma obrigatória, fazendo cessar, por conseguinte, sua eficácia. O desuso
não implica a perda da vigência da norma, e sim, a perda de sua efetividade. A revogação
de uma norma jurídica pode ser feita de duas formas:
Revogação expressa: um novo comando normativo dispõe expressamente
a respeito da perda da eficácia da norma anterior. A título de exemplo, temos o novo
Código Civil, que revogou expressamente o Código Civil de 1916.
Revogação tácita: a nova norma jurídica se torna incompatível com a
norma anterior, ficando esta última revogada. Como exemplo, citamos também o novo
Código Civil, que revogou tacitamente a Lei do Divórcio. Essas duas modalidades de
revogação podem se dar por ab-rogação ou derrogação:
ab-rogação: é a revogação total da norma, ou seja, a norma antiga perde
sua eficácia na totalidade;
derrogação: é a revogação parcial da norma, ou seja, a norma antiga
continua vigorando com alguns pontos.
Para a verificação de revogação das normas, três critérios devem ser
utilizados:
hierárquico: verificar qual das normas é superior, independentemente da
data de vigência das duas normas (exemplo: um regulamento não poderá revogar uma lei
ainda que entre em vigor após esta);
cronológico: a norma que entrar em vigor posteriormente irá revogar a
norma anterior que estava em vigor; especialidade: as normas gerais não podem revogar
ou derrogar preceito ou regra disposta e instituída em norma especial.
especialidade: as normas gerais não podem revogar ou derrogar preceito
ou regra disposta e instituída em norma especial.

3) CLASSIFICAÇÃO DAS LEIS:


A classificação das leis, para o nosso estudo, tem por objetivo resolver o
problema da antinomia, ou seja, o problema do conflito e da contradição das normas,
hipótese em que mais de uma norma incide sobre o caso concreto. Antinomia deve,
normalmente, ser resolvida por meio dos critérios mencionados a seguir, já que o
hermeneuta (intérprete) só deve se valer de uma única norma para a solução de um
determinado caso concreto, devendo eliminar as demais.

3.1) QUANTO À HIERARQUIA:


As leis não estão todas no mesmo plano, ou seja, existe uma hierarquia
entre elas. Como forma ilustrativa, podemos adotar o sistema piramidal preconizado por
Kelsen, simbolizando a estrutura hierárquica das normas.


- CONSTITUIÇÃO FEDERAL
- EMENDAS À CONSTITUIÇÃO
- LEIS COMPLEMENTARES E LEIS ORDINÁRIAS
- LEIS DELEGADAS
- MEDIDAS PROVISÓRIAS
- DECRETOS LEGISLATIVOS
- RESOLUÇÕES
No topo da pirâmide, temos o Texto Constitucional. Abaixo da Constituição
Federal e das emendas, temos as leis complementares e as leis ordinárias, ambas como
substrato da Constituição Federal, havendo divergência na doutrina a respeito da
supremacia das leis complementares em relação às leis ordinárias, ou da igualdade entre
estas, existindo apenas campos diferenciados de competência. Encontramos, ainda, as

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leis delegadas, medidas provisórias, as normas regulamentares, base do sistema
piramidal, formadas por decretos, resoluções, portarias e outros atos administrativos.
Existem alguns juristas que colocam as leis complementares em uma
posição hierarquicamente superior às leis ordinárias, pelo fato dessas terem um processo
de elaboração mais rígido, com um quorum maior para aprovação. Outros juristas
entendem que as leis complementares e as leis ordinárias estão situadas em um mesmo
nível hierárquico, uma vez que ambas retiram eficácia direta do Texto Constitucional. Não
há uma posição melhor, devendo o intérprete adotar uma das existentes.
Na realidade, além da diferença formal quanto ao quorum de aprovação
entre leis ordinárias e complementares, existe uma diferença material, já que o Texto
Constitucional, quando exige elaboração de norma complementar, menciona
expressamente "mediante lei complementar", porém quando faz referência à lei ordinária
cita apenas "lei". Por fim, na base da pirâmide estão os decretos e as portarias, além de
todos os demais atos administrativos, sendo o substrato de todo o sistema
hierarquicamente inferior às leis.

3.2) QUANTO A ESPECIALIDADE:


O critério hierárquico, acima explanado, é o primeiro instrumento do
intérprete para resolver o fenômeno da antinomia e prevalece, inclusive, diante dos
demais critérios de solução. Porém, tal critério é insuficiente ante o fato da grande maioria
dos conflitos de normas ocorrer entre normas de mesmo nível hierárquico. O segundo
critério de classificação leva em consideração a amplitude das normas, tendo por
postulado o fato de que se o legislador tratou com maior acuidade de um determinado
ponto do Direito, ele deve prevalecer sobre outro tratado de maneira geral.
Normas gerais: são as normas que discorrem sobre todo um ramo do
Direito. Temos, como exemplo, o Código Civil que é a norma geral do ramo civil.
Normas especiais: são as que regulam determinado ramo do Direito.
Exemplo claro é a Lei n. 8.009/90, que trata da impenhorabilidade do bem de família, que
é aspecto dentro do ramo civil.
A lei especial revoga a lei geral, ante o fato de a primeira ter sido
elaborada com maior rigor pelo jurista, versando sobre uma determinada matéria com
maior acuidade.

3.3) QUANTO A CRONOLOGIA:


O critério cronológico leva em consideração o momento em que a norma
jurídica entra em vigor, passando a regulamentar uma determinada matéria e revogando
as normas de igual conteúdo que já estavam no sistema jurídico. É a exata regra do artigo
2º, § 1º, da Lei de Introdução ao Código Civil. Tal critério só incide sobre as leis
permanentes, já que as temporárias apresentam um regime jurídico próprio.
Leis permanentes: não têm prazo certo para vigorar, ou seja, têm prazo de
vigência indeterminado, vigendo até que outra a modifique ou a revogue (artigo 2º, caput,
da Lei de Introdução ao Código Civil).
Leis temporárias: têm prazo certo para vigência, subdividindo-se em:
- expressas: os prazos de vigência estão expressamente disciplinados na
própria norma. Nesse caso, a norma tem conteúdo auto-revogatório (leis de vigência
temporária);
- tácitas: apesar de tais normas não terem prazo de vigência, são leis que
vigoram apenas para uma situação especial. Com a cessação do fato, ou da situação,
cessa também a norma (leis excepcionais). A norma poderá ser eficaz e não ser efetiva,
como no caso da Lei de Proteção Ambiental, no local onde o ambiente foi totalmente
degradado. Trata-se de uma norma eficaz, considerando sua não-revogação; no entanto,
não é efetiva, pois caiu em desuso.
O princípio fundamental é de que a lei posterior revoga a anterior.

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3.4) ANTINOMIA DAS LEIS:


Como já mencionado, a classificação só tem interesse para resolver o
fenômeno da antinomia, ou seja, o conflito de leis. Todo conflito de leis tem solução, já
que o juiz é obrigado a decidir o caso concreto (artigo 4º da Lei de Introdução ao Código
Civil-LICC). Alguns conflitos não podem seguir um critério rígido de solução, devendo ser
resolvidos caso a caso (conflito real).
Outros conflitos, porém, adotam os princípios fundamentais para a solução,
podendo ser seguido um critério uniforme de solução, chamado conflito aparente de
normas. Assim, os critérios que podem ser adotados são:
critério hierárquico: a lei superior revoga a inferior;
critério da especialidade: a lei especial revoga a geral;
critério cronológico: a lei posterior revoga a anterior.

4) ANALOGIA:
Trata-se da aplicação a um caso não regulado de modo direto por uma
norma jurídica, de uma prescrição normativa prevista por uma hipótese distinta, mas
semelhante ao caso não contemplado, fundando-se na identidade do motivo da norma e
não na identidade do fato. Envolve, portanto, a constatação de uma semelhança entre
fatos-tipos diferentes e um juízo de valor que vem apontar a predominância das
semelhanças sobre as diferenças.

5) COSTUMES:
O Direito Consuetudinário ou Costumeiro pode ser conceituado como a
norma aceita como obrigatória pela consciência do povo, sem que o Poder Público a
tenha estabelecido. O Direito Costumeiro apresenta os seguintes requisitos:
Subjetivo: é a crença na obrigatoriedade, isto é, a crença que, em caso de
descumprimento, incide sanção.
Objetivo: constância na realização do ato. A diferença existente entre o
costume e o hábito está no elemento subjetivo, que inexiste neste último. Isso significa
que no hábito existe a prática constante, porém, sem a crença da sua obrigatoriedade.
Os costumes classificam-se em:
"Contra legem": o costume não respeita as normas constantes do sistema
jurídico. É a desobediência reiterada do comando legal com a crença na inefetividade da
lei. Temos, como exemplo, o costume de não respeitar o sinal vermelho, por questão de
segurança, após um determinado horário.
"Praeter legem": é aquele que amplia o preceito da lei. É previsão de uma
conduta paralela, não prevista pela lei, porém, não proibida por esta, podendo-se citar,
como exemplo, o cheque que, apesar de ser uma ordem de pagamento à vista, funciona
como uma garantia de pagamento, respeitando-se sua dupla condição. O cheque pós-
datado deve respeitar a data consignada para apresentação junto ao sacado, embora a
apresentação à vista garanta o pagamento.
"Secundum legem": é o estabelecido nas hipóteses em que o próprio texto
da lei delega ao costume a solução do caso concreto. Esse caso é exemplificado pelo
artigo 569, inciso II, do Código Civil, que determina ao locatário pagar pontualmente o
aluguel segundo o costume do lugar, quando não houver ajuste expresso.

6) JURISPRUDÊNCIA:
A jurisprudência é uma função atípica da jurisdição. São decisões
reiteradas, constantes e pacíficas do Poder Judiciário sobre determinada matéria num
determinado sentido. Não há necessidade de a jurisprudência ser sumulada para ser
fonte. Aqui, cabe ressaltar que a jurisprudência não pode ser confundida com a orientação
jurisprudencial, que é qualquer decisão do Poder Judiciário que esclareça a norma legal.

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7) SÚMULA VINCULANTE:

SÚMULA VINCULANTE

PONTOS FAVORÁVEIS PONTOS DESFAVORÁRIVEIS

IGUALDADE SISTÊMICA TORNA O DIREITO ESTÁTICO

LIMITA O NÚMERO DE
RECUSOS:
DESAFOGANDO
JUDICIÁRIO

8) DOUTRINA:

Chamada Direito Científico, é o conjunto de indagações, pesquisas e


pareceres dos cientistas do Direito. Há incidência da doutrina em matérias não-
codificadas, como no Direito Administrativo e em matérias de Direito estrangeiro, não
previstas na legislação pátria.

9) PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO:


São postulados que estão implícita ou explicitamente expostos no sistema
jurídico, contendo um conjunto de regras. Os princípios gerais de Direito são a última
salvaguarda do intérprete, pois este precisa se socorrer deles para integrar o fato ao
sistema. Princípios são vetores de interpretação, que, por sua generalidade e amplitude,
informam as demais regras, constituindo a base de todo o ramo do Direito ao qual se
aplica.

RAMOS DO DIREITO

DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO

O Direito é um fato histórico-cultural, dinâmico e dialético, que se forma e se


desenvolve, estrutura-se e aperfeiçoa-se em um esforço permanente, no tempo e no
espaço, modelando-se numa unidade sistemática, num todo orgânico, refletindo a vida do
homem em sociedade, na sua homogeneidade e diversificação. Configura uma realidade
humana e universal, ordenada normativamente, objeto de conhecimento científico,
enquanto fato social, bem como filosófico, enquanto ideia, conceito, produto da razão, do
sentimento de justiça, da consciência e experiência jurídica, enfim, o Direito na sua
imanência e transcendência, na sua ontologia e nos seus valores. Sua importância
consiste na disciplina da convivência social e da conduta do homem, enquanto membro
da sociedade política, a realização dos compromissos com os ideais de justiça e de
respeito a dignidade humana, sendo de acentuasse que a experiência jurídica desdobra-
se, amplia-se, afirma-se e reafirma-se numa tensão contínua de valores, que se implicam
e se exigem, numa íntima correlação, num nexo lógico entre o Direito e a vida.

No seu processo institucional e sociológico de criação e de evolução, na sua

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elaboração científica e construção lógica, na sua fenomenologia geral, exposto às
transformações políticas, culturais e sócio-econômicas, em diferentes épocas e lugares, o
Direito, alternando teses e antíteses, compondo sínteses, estrutura-se em princípios
induzidos do seu sistema orgânico, formula regras dispositivas e coativas, modela, formal
e materialmente, seus institutos, normatiza fatos e valores, concebe doutrinas que o
informam e edita jurisprudência que o fecunda e renova.

Nesse quadro, prevendo e provendo, sustenta-se na sua validade, vigência e


eficácia, na sua efetividade, na certeza e na segurança jurídica que oferece, concretiza-
se, em densificação crescente, na lei, na sentença, nos atos de governo e de
administração, nos ajustes entre as partes, regula as relações humanas, interesses e
negócios, e, em tentativas múltiplas, procura adequar-se às novas realidades
circundantes, para o que suscita reflexões renovadas que o enriquecem e atualizam. Ou,
em outras palavras, a vivência jurídica é um momento significativo da experiência do
homem, nos vários estágios da civilização e da cultura, constituindo sempre o Direito uma
realidade, espelhando as incertezas e oscilações do homem, frente aos desafios, em
demanda da racionalização do poder político, da realização das liberdades públicas e da
afirmação da consciência da constitucionalidade e da cidadania, da construção de uma
sociedade livre, solidária e justa, numa visão.

A tradicional dicotomia do direito em direito público e direito privado remonta


aos antigos romanos, com base na distinção entre os interesses da esfera particular,
entre duas ou mais pessoas, e os interesses públicos, que são relativos ao Estado e à
sociedade e que merecem ter posição privilegiada. Trata-se de distinção que perdura até
hoje, por vezes nebulosa, em especial na zona limítrofe entre os dois grupos.

Há diversos critérios para diferenciar regras de direito público e de direito


privado. Os três mais difundidos são:

Critério do interesse: predominância do interesse público ou do interesse


privado;

Critério da qualidade dos sujeitos: intervenção do Estado ou de outros


entes públicos na relação jurídica;

Critério da posição dos sujeitos: se o Estado age como ente soberano, com
ius imperii, ou se age de igual para igual com os demais os sujeitos da relação jurídica.

Público (Estado)

Privado (Particular)

Nos ensina o Prof. Miguel Reale que há duas maneiras de fazer-se a distinção
entre direito público e privado, uma atendendo ao conteúdo, a outra com base no
elemento formal, como abaixo:

Quanto ao conteúdo ou objeto da relação jurídica:

- quando é visado imediata e prevalecente o interesse geral, o direito é


público;

- quando imediato e prevalente o interesse particular, o direito é privado.

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Quanto à forma da relação:

- se a relação é de coordenação, trata-se, geralmente, de direito privado;

- se a relação é de subordinação, trata-se, geralmente, de direito público.

DIREITO PÚBLICO - São as regras que organizam politicamente a sociedade


e que conferem, tanto aos órgãos públicos como aos particulares em geral, direitos e
deveres de cumprimento obrigatório, visando a melhor organização social. Compete ao
direito público organizar os interesses gerais da coletividade, garantir os direitos
individuais dos cidadãos, reprimir os delitos e estabelecer as normas de relações
internacionais, ou seja, de um país como os demais.

Como regra geral, entendem-se como pertencentes ao direito público as


normas que regulam as relações em que o Estado exerce a soberania, imperium, em que
o indivíduo é um súdito. Por outro lado, quando o Estado age de igual para igual com o
indivíduo (por exemplo, no caso de empresas estatais), a matéria poderá ser da alçada do
direito privado. Pertencem ao direito público ramos como o direito constitucional, o direito
administrativo, o direito penal e o direito processual.

DIREITO PRIVADO - Conjunto de normas que regulam as relações


horizontais dos particulares entre si, situados todos no mesmo plano. Compete ao direito
privado estabelecer um conjunto de normas, de cumprimento obrigatório, que organiza as
relações dos indivíduos, nacionais ou estrangeiros, em suas atividades cotidianas e em
suas relações pessoais ou comerciais. assim, compete ao mesmo estabelecer normas
para o casamento entre as pessoas, o direito de propriedade, o direito de sucessão, o
exercício da atividade empresarial e comercial, entre outros.

O direito privado não cuida apenas dos interesses individuais mas inclui
também a proteção de valores caros à sociedade e de interesse coletivo, como a família.
Pertencem ao direito privado ramos como o direito civil e o direito comercial.

O direito privado baseia-se no princípio da autonomia da vontade, isto é, as


pessoas gozam da faculdade de estabelecer entre si as normas que desejarem. Já o
direito público segue princípio diverso, o da legalidade estrita, pelo qual o Estado somente
pode fazer o que é previsto em lei. A autonomia da vontade também está sujeita ao
princípio da legalidade, mas em menor grau - em direito privado, tudo que não é proibido
é permitido.

O direito divide-se em ramos de grande diversidade. A relação a seguir não é


exaustiva:

Direito Internacional Direito Penal Direito Direito


(Público e Privado) Constitucional Administrativo
Direito Tributário Direito Processual Direito Civil Direito Empresarial
Direito Trabalhista Direito Ambiental Direito Militar Direito Econômico

São ramos do direito público:

DIREITO CONSTITUCIONAL - Regulamenta a estrutura básica do estado,


disciplinando sua organização e seus poderes, a função de cada um deles, e a relação
entre governantes e governados.

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DIREITO ADMINISTRATIVO - Conjunto de normas que regulam a atividade
estatal, definindo a forma como se dará à atuação governamental, a administração dos
bens públicos, a estrutura e atuação do funcionalismo público, entre outras.

DIREITO PENAL - Conjunto de normas que definem os crimes e as


contravenções, bem como as sanções a elas aplicáveis.

DIREITO PROCESSUAL - Subdivide-se em direito processual civil, direito


processual penal e direito processual do trabalho - conjunto de normas que organizam a
atividade judiciária, estabelecendo a organização do poder judiciário e suas formas de
atuação.

DIREITO INTERNACIONAL (PÚBLICO OU PRIVADO) - O público cuida das


relações entre os estados e os organismos internacionais; o privado cuida das relações
do estado com os cidadãos pertencentes a outros estados;

DIREITO DO TRABALHO - Conjunto de normas jurídicas que organiza as


relações de trabalho em um determinado estado, em especial as relações entre
empregadores e empregados.

O DIREITO PRIVADO se subdivide em DIREITO CIVIL E DIREITO


COMERCIAL (EMPRESARIAL).

DIREITO CIVIL - Reger as relações familiares, patrimoniais e obrigacionais


que se estabelecem entre os indivíduos de uma determinada sociedade.

"é o direito comum a todas as pessoas, por disciplinar o seu modo de


ser e de agir, sem quaisquer referências às condições sociais ou culturais." (Maria
Helena Diniz, compêndio de introdução ao estudo do direito, editora saraiva, p.
242).

DIREITO COMERCIAL (EMPRESARIAL) - Regular as relações entre as


diversas categorias de comerciantes, em sua atividade profissional.

"é a disciplina jurídica reguladora dos atos de empresa e, ao mesmo


tempo, dos direitos e obrigações das pessoas que os exercem profissionalmente, e
dos seus auxiliares." (Maria Helena Diniz, compêndio de introdução ao estudo do
direito, editora saraiva, p. 242).

Importante destacar que toda essa divisão tem função puramente didática,
não significando sob nenhuma hipótese que um ramo do direito tenha maior importância
que outro, posto que todos se destinam a agir em uníssono, visando a organização e o
bem estar da sociedade onde se aplicam.

Referências Bibliográficas

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 21.ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do direito. 9. ed. 2009.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2010

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