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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS


CURSO DE DIREITO

RESENHA DA OBRA: TEORIA DA NORMA JURÍDICA

São Luís
2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS
CURSO DE DIREITO

RESENHA DA OBRA: TEORIA DA NORMA JURÍDICA

Resenha formulada pelos alunos do 2º período do Curso de Direito,


para a obtenção da segunda nota da disciplina Introdução ao Estudo do
Direito II, ministrada pelo Profº Dr. Thiago Alisson Cardoso de Jesus.

São Luís
2022
ADRIANA GREICY LUSO DE ALMEIDA
ANA CAROLINA SOUSA SANTOS
ANTONIO LISBOA DE AGUIAR JUNIOR
ALEXIA CUNHA DE CASTRO
AMANDA CRISTINA SANTOS CORRÊA
CLEITON DOS SANTOS VIEIRA
ESTER AMETISTA MARQUES MENDES
FRANCISCA MARIA FARIAS DUARTE
HANNA CALVET DE MELLO BOAHID
LAÍS LEAL PENICHE
LUCAS GABRIEL DE SOUSA MARTINS
MICKAEL DOS SANTOS COSTA
NICOLE VITÓRIA SOARES FERNANDES
RAFAELA MELO GONÇALVES
SAMANTHA SILVA CASTELO BRANCO
SARAH RAFAELLE MENDES DOS SANTOS
VICTOR EMMANUEL ESPÍNDOLA LEMOS
VALDECIR GARRE SILVA FILHO
WEINA GONCALVES DA SILVEIRA
YASMIN JOKEBED CORRÊA ARAUJO
BOBBIO, Noberto. Teoria da Norma Jurídica. São Paulo: Edipro, 2001.
Nascido em 18 de outubro de 1909 em Turim, cidade localizada ao norte da Itália, crescido em
um lar tradicional burguês, Norberto Bobbio formou-se pela universidade de Turim em Direito
no ano de 1991 e em Filosofia em 1933, no ano de 1935, tornou-se livre-docente em Filosofia
do Direito, a partir daí ensinou nas universidades de Camerino, Siena e Pádua até o momento
em que retornou a sua cidade natal. Na mesma instituição em que contemplou as graduações
Bobbio foi professor de Filosofia do Direito, entre 1948 e 1972, e de filosofia política nos anos
de 1972 a 1979. Com o fim da sua participação na docência, o autor dedicou-se a desenvolver
através da escrita seus estudos, colaborando com jornais e revistas por meio de ensaios. Sendo
assim considerado um dos pensadores mais importantes do século passado.
Bobbio se intitulava um empirista, observador e analista independente, sempre
preocupado em buscar fatos. Em Teoria da Norma Jurídica apresenta uma parte de sua teoria
geral do direito, de caráter formal, tornando-a semelhante à concepção normativista de base
kelseniana, afastando questões axiológicas e sociais. Trata-se de um livro com 192 páginas,
organizado em: Sumário- elemento pré-textual; O Direito como regra de conduta; Justiça,
validade e eficácia; as proposições prescritivas; As prescrições e o Direito; às prescrições
jurídicas; Classificação das normas; Bibliografia.
No capítulo 1, ‘o direito como regra de conduta’, para justificar o aspecto normativo
como condição necessária e suficiente para a formação de uma ordem jurídica, Bobbio também
apresenta, além da teoria normativista, as teorias da instituição e da relação demonstrando que
estas podem ser consideradas como aspectos complementares e que o pressuposto de validade
de ambas é a norma. Conforme disposição do capítulo, no primeiro tópico, ‘um mundo de
normas’, o autor explica que o entendimento do direito, sob o ponto de vista normativo, é um
conjunto de normas, ou regras de conduta.
Sendo assim, é importante destacar que a nossa vida se desenvolve em um mundo de
normas, desse modo é ilusório acreditar que somos livres, visto que estamos envoltos em uma
rede espessa de regras de conduta que, desde o nascimento até a morte, dirigem nesta ou naquela
direção as nossas ações. Portanto, muitas destas regras se tornam habituais, visto que a
presenciamos desde o nosso processo de socialização. Isto significa reconhecer o caráter
normativo da própria existência humana, coletiva e individualmente. Ao reconhecê-lo, a
perspectiva normativista elege como objeto de sua análise as regras de conduta de uma
determinada sociedade, isto é, suas normas. Outrossim, o direito é a parte mais notável da nossa
experiência normativa, em outras palavras, pode-se enxergar as regras de conduta, de qualquer
natureza, como barragens que impõe limites aos interesses, instintos e paixões para que assim
possa-se formar uma civilização. Por conseguinte, os ordenamentos de cada civilização contêm
a sua história e como se organizam, logo, caracteriza determinada sociedade.
Importante destacar que a atividade normativa humana não se restringe à norma jurídica
estatal. Vale ressalta a defesa do autor em relação a concepção do direito estatal vinculado a um
movimento histórico, denominado como um processo de centralização do poder normativo e
coativo que caracterizou o surgimento do Estado nacional moderno. Observamos que a partir
do momento que identificamos o direito como o sistema jurídico estatal, estamos reproduzindo
o ponto de vista que o próprio Estado tem de si mesmo e da experiência normativa.
Estabelecida essa compreensão, no segundo tópico, ‘variedade e multiplicidade das
normas’, observa-se que todo indivíduo pertence a diversos grupos sociais, dessa forma, além
dele se submeter às normas jurídicas que já existem, o indivíduo também se submete a vários
outros preceitos como religiosos, morais, sociais, costumeiros e assim em diante. Destarte, cada
indivíduo formula para a sua própria vida programas individuais de ação. De forma resumida,
podemos observar que o mundo das normas é múltiplo, e essas normas possuem a finalidade de
influenciar o comportamento dos indivíduos e dos grupos.
No terceiro tópico do presente capítulo, ‘o direito é instituição? ’, Bobbio admite a
existência de teorias diversas da normatividade que consideram elementos característicos da
experiência jurídica fatos diversos das regras de conduta, destacando como objeto de análise a
teoria do direito como instituição e a teoria do direito como relação.
Como explicação da teoria da instituição, Bobbio menciona que no livro “O ordenamento
jurídico” de Santi Romano, ele lamenta a insuficiência e os equívocos da teoria normativa e
contrapõe à concepção de direito como norma, a concepção de direito como instituição,
devendo assim o direito conter o conceito de sociedade, ordem social, organização, estrutura e
unidade. Sendo a sociedade, como a base de fato sobre a qual o direito ganha existência; a
ordem, como fim a que tende o direito; e a organização, como meio para realizar a ordem. Esta
sociedade ordenada e organizada é aquilo que Romano chama de instituição. Sendo assim, a
organização é o elemento primordial, visto que sem ela o direito não seria o que é. Nesse
sentido, pode-se admitir que o direito pressupunha a sociedade, ou que seja o produto da vida
social, mas não se pode admitir que toda sociedade seja jurídica. Seguindo-se a análise da
teoria da instituição, no tópico ‘o pluralismo jurídico’, Bobbio ressalta que a teoria
institucionalista promoveu um rompimento com a teoria estatalista do direito, uma vez que
ampliou a perspectiva acerca da experiência jurídica, a qual, na teoria estatalista, é restrita
apenas ao Estado e que considera apenas o direito estatal. Em contrapartida, para a teoria
institucionalista, qualquer associação de indivíduos, desde que organizada com o objetivo de
manter a ordem entre os membros, constitui um ordenamento jurídico.
Outrossim, o tópico sobre o pluralismo jurídico versa que a teoria estatalista provém da
dissolução da sociedade medieval, na qual havia um pluralismo e diversos ordenamentos
jurídicos, e da formação dos grandes Estados modernos, que deram início ao processo de
monopolização da produção jurídica. Nesse sentido, diante do processo de centralização do
poder normativo e coativo, o Estado moderno acarretou a eliminação de todo o centro de
produção jurídica que não fosse o próprio Estado. Portanto, entende-se que a teoria
institucionalista constitui uma reação ao estatalismo.
Antes de mencionar a teoria da relação, no tópico seguinte, ‘observações críticas’, tem-
se a teoria da instituição analisada sob uma ótica de teoria científica, ou seja, como ela se propõe
oferecer meios diferentes e melhores do que os são oferecidos pela teoria normativa para a
compreensão do fenômeno jurídico. Nessa conjuntura, Bobbio versa sobre o valor científico da
teoria da instituição, ou seja, se a consideração do direito como instituição é válida para
substituir a teoria normativa na compreensão e explicação do fenômeno jurídico, e propõe duas
críticas. Na primeira, alega que a teoria normativa não coincide com a teoria estatalista, visto
que a teoria normativa se limita à afirmação de que o fenômeno originário da experiência
jurídica é a regra de conduta, já a teoria estatalista afirma que o direito é um compilado de regras
e que elas possuem características particulares, como a coação, o que as tornam distintas das
outras regras de conduta. Além disso, Bobbio preleciona que não há razão para que ocorra a
rejeição da ideia de que a teoria normativa também pode ser compatível com o pluralismo
jurídico, uma vez que “não há motivo para restringir a palavra ‘norma’, assim como é usada
pela teoria normativa, somente às normas do Estado”.
Outrossim, na segunda crítica, ele teoriza que não é verdadeiro que a organização
preceda as normas, mas o contrário disso, que as normas antecedem a organização. Dessa
forma, a instituição surge onde há uma certa disciplina de condutas individuais, destinadas a
conduzi-las a um fim comum. O filósofo italiano ainda destaca três condições para que ocorra
o processo de institucionalização que transforma um grupo inorgânico em um grupo
organizado: a primeira condição é que sejam definidas as finalidades que a instituição deverá
almejar, a segunda condição é que sejam estabelecidos os meios apropriados para alcançar tais
finalidades e a terceira condição recai sobre a atribuição das funções específicas dos indivíduos
que formam o grupo, para que cada um colabore na obtenção do fim. Na esteira desse raciocínio,
é evidente que a delimitação dos fins, dos meios e das funções é realizada por meio de regras.
Assim, para Bobbio, existe uma relação: se instituição equivale a ordenamento jurídico,
ordenamento jurídico equivale a complexo de normas.
Partindo para a análise da teoria da relação, no tópico “o direito é relação intersubjetiva?
”, Bobbio esclarece que assim como a teoria da instituição, a teoria da relação tem a
compreensão de que o direito é um fenômeno social cuja origem está na sociedade.
Considerando a crítica dos institucionalistas à teoria da relação, segundo se afirmava que era
inspirada em uma concepção individualista do direito, predominante no jusnaturalismo dos
séculos XVII e XVIII, como um produto da vontade de indivíduos isolados, Bobbio apresenta
como contraprova a Doutrina do Direito exposta por Immanuel que compreende uma relação
jurídica a que se refere a um sujeito que tem direitos e deveres com outro que tem direitos e
deveres.
Outra contraprova é a concepção de Giorgio Del Vecchio, um neokantiano na filosofia
do direito, cuja síntese do direito pode ser vista “como um conjunto de relações entre sujeitos,
onde se um tem o poder de executar uma certa ação, o outro tem o dever de não a impedir”
(p.40). Ademais, no tópico ‘exame de uma teoria’, Bobbio analisa, como teoria mais recente do
direito como relação a obra Teoria Geral do Direito de Alessandro Levi que define relação
jurídica como “uma relação intersubjetiva, quer dizer, entre dois sujeitos dos quais um é titular
de uma obrigação e o outro de um direito” (p.40). Contudo, Bobbio expressa seu receio de que
Levi não foi bem sucedido em sua intenção de construir uma teoria geral do direito fundada no
conceito de ‘relação jurídica’ exatamente porque não buscou responder aos problemas
fundamentais do direito com o conceito de relação jurídica, ao contrário, considerava a norma
como fonte ideal da relação jurídica, além disso, segundo Bobbio, Levi indicou características
constitutivas da relação jurídica que na realidade são reguladas por uma norma jurídica, neste
sentido, o jus filósofo argumenta que é a norma que constitui a relação jurídica,
consequentemente, assim como a teoria da instituição, a teoria da relação desemboca na teoria
normativa. Assim, para fechar o primeiro capítulo, no último tópico, ‘observações críticas’,
Bobbio retoma os argumentos em relação a teoria da instituição e da relação para apresentar a
conclusão que “a teoria da instituição e a da relação não excluem, mas incluem a teoria
normativa, o que equivale a dizer que a teoria normativa permanece válida não obstante a teoria
da instituição e a da relação, ou melhor, ela é o pressuposto de validade de ambas” (p.44).
No capítulo 2, a fim de que se estabeleça uma teoria de norma jurídica com fundamentos
sólidos, aborda-se a importância de que toda norma jurídica seja submetida a três valorações
distintas, que devem ser independentes umas das outras. Por conseguinte, ao analisar uma
norma jurídica, existem três perspectivas que devem ser analisadas, uma tríplice ordem de
problemas, primeiro se a norma é justa ou injusta, se ela é válida ou inválida e se é eficaz ou
ineficaz. Nesse sentido, trata-se de três problemas distintos no que tange à justiça, à validade e
à eficácia de uma norma jurídica.
Em primeiro ponto, ao analisar a questão acerca do problema de justiça, também
conhecido como problema deontológico, evidencia-se que se trata análise da correspondência
ou não da norma aos valores últimos ou finais que inspiram um ordenamento jurídico, ou seja,
busca-se compreender se ela está de acordo com os fins e os valores do ordenamento jurídico.
Dessa forma, existe uma contraposição entre o mundo ideal e o mundo real, entre o que deve
ser e o que é, assim, a norma justa é a que deve ser e a injusta não deveria ser. Logo, ao analisar
se uma norma é justa, evidencia-se o estabelecimento de um juízo de valor.
Outrossim, no que tange ao problema da validade jurídica, busca-se compreender se
determinada norma existe de fato como regra jurídica no ordenamento vigente. Nesse sentido,
para analisar se uma norma é de fato válida, deve-se analisar três pontos fundamentais, o
primeiro é se a autoridade que emanou aquela lei é de fato legítima para tal ato. Em segundo
ponto, é de suma importância averiguar se não foi ab-rogada, pois uma norma pode ter sido
emanada de um poder autorizado, porém não está mais vigente. Em último ponto, é necessário
analisar se a lei não é incompatível com as outras normas do sistema (o que se conhece por ab-
rogação implícita), visto que duas normas incompatíveis não podem ser válidas em um mesmo
ordenamento, de modo que as leis ordinárias devem estar em conformidade com todo o conjunto
de leis constitucionais. Portanto, o problema da validade da norma é compreendido como
problema ontológico.
Ademais, ao analisar o problema da eficácia trata-se de compreender se a norma foi ou
não seguida pelos destinatários da norma jurídica. Nessa conjuntura, caso a norma seja violada,
é de suma importância o uso do poder coercitivo por parte da autoridade. Por conseguinte,
evidencia-se que o fato de uma norma existir não significa que ela é seguida. Nesse sentido, a
investigação para determinar a eficácia ou não de uma norma é de carácter histórico-
sociológico, no qual é feito o estudo do comportamento dos membros de um determinado grupo
social, ou seja, trata-se do problema fenomenológico do direito.
Desse modo, ao analisar os três critérios de valoração, chega-se à conclusão de que são
três problemas de ordens distintas e independentes um do outro. Logo, uma norma pode ser
justa sem que seja válida, elas só seriam de fato válidas se estiverem presentes no ordenamento
jurídico. Por tanto, o direito natural busca a ideia de ser justa por natureza, mas em
contrapartida, isso não significa que por ser justo será válido. Evidencia-se também que uma
norma pode ser válida sem ser justa, haja vista que nenhum sistema jurídico é perfeito, ou seja,
sempre há uma inconformidade entre o ideal de justiça e a realidade prática.
Nesse contexto, cabe analisar que uma norma pode ser válida e não ser eficaz, assim,
tratam-se de leis que emanam de autoridades competentes, todavia, não são eficazes. Sendo
assim, existem casos de não aplicação da constituição, em que frente à normas jurídicas válidas,
evidencia-se a ineficácia. Exemplo disso, fora a proibição de bebidas alcoólicas na América do
Norte que virou 20 anos no período entre guerras, mas que depois, ao analisar os dados, os
regime proibitivo do consumo de bebidas alcoólicas teve os mesmos índices de consumo do
período imediatamente sucessivo, quando a proibição foi abolida.
Ademais, cabe analisar que, uma norma pode ser eficaz sem ser válida, o que é
perceptível nas relações interpessoais, em que as pessoas agem com bons modos e baseadas em
princípios, que não necessariamente estão presentes no ordenamento jurídico vigente, logo,
não adquirem validade jurídica. Nessa perspectiva, uma norma pode ser justa sem eficácia, uma
vez que algumas regras que são justas não são válidas, tampouco são eficazes, ou seja, elas não
são seguidas pela sociedade.
Outrossim, uma norma pode ser eficaz sem ser justa, pois o fato de uma norma ser
universalmente seguida não demonstra sua justiça e nem o fato de não ser absolutamente
obedecida representa que a norma não é injusta. Em síntese, a concepção no que tange à justiça
é independente tanto da validade quanto da eficácia.
No tópico “possíveis confusões entre os três critérios”, fala-se de como esses três
critérios apresentados (justiça, validade e eficácia) ocasionam um campo bem terminado de
investigação para o filósofo do direito, uma vez que, ao verificar que o problema da justiça visar
atingir os valores supremos do Direito, ou seja, seus fins sociais, surge nesse sentido a filosofia
do direito como teoria da justiça; que o problema da validade visa determinar em que consiste
o Direito enquanto regra obrigatória e coativa, quais são as características essenciais dos
ordenamentos jurídicos que os diferenciam de outras regras como a moral.
Daí a filosofia do direito nasce com Teoria Geral do Direito; que o problema da eficácia
está vinculado diretamente à aplicação das normas jurídicas e à correspondência dos homens
que vivem em sociedade a estas normas, suas ações e reações frente à autoridade. Surge então
o estudo da filosofia do direito mais voltado para a sociologia jurídica.
Bobbio menciona que essa tripartição de problemas está diretamente atribuída às três
funções da filosofia do direito, funções estas deontológica, ontológica e fenomenológica,
analisadas principalmente durante o século XX por muitos filósofos do direito em todo o
mundo. O autor cita exemplos de três nomes importantes para os estudos jurídicos situados em
lugares e em culturas diferentes. Um desses nomes mencionados foi o de Julius Stone, professor
da Universidade de Sidney, onde aborda em seu escrito “O Campo e a Função do Direito como
Lógica, Justiça e Controle Social” que o estudo do Direito se sustenta nessas três partes:
jurisprudência analítica que é aquela que chamaremos de teoria geral do direito, ou seja, o
estudo formal do Direito; jurisprudência crítica ou ética que é aquela que estuda os vários ideais
de justiça, a correspondência do direito real para com o direito ideal e coincide com a parte da
filosofia do direito que chamamos de teoria da justiça; jurisprudência sociológica que estuda o
Direito vigente na sociedade e corresponde ao ramo da sociologia jurídica.
Percebe-se então que para entender a experiência jurídica, é necessário considerar que
ela é parte da experiência humana e não pode ser reduzida somente a um desses três valores,
visto que para se chegar ao problema central que é de fato o da melhor organização da vida das
pessoas em sociedade, é fundamental a existência dos elementos constitutivos: ideais de justiça
a realizar, instituições normativas para realizá-los, ações e reações dos homens frente àqueles
ideais e a estas instituições. No entanto, para o filósofo, encontram-se teorias que reduzem ora
um, ora outro dos três aspectos, ocasionando assim, o que para ele é conhecido no ramo da
filosofia como um “reducionismo”. Pode-se citar exemplos dessas teorias:
1) a jusnaturalista, que reduz a validade à justiça, pois afirma que uma norma só é válida se for
justa;
2) a juspositivista, que reduz a justiça à validade da norma ao afirmar que a norma já é justa
somente pelo fato de ser válida, ou seja, faz depender a justiça da validade;
3) as correntes realistas da jurisprudência americana, uma vez que reduzem a validade à eficácia,
afirmando que uma norma só pode ser considerada válida, se for assimilada e correspondida
na sociedade, aquelas que os homens efetivamente aplicam em suas relações cotidianas.
Portanto, nota-se que estas três concepções estão anulando, ou pelo menos ofuscando um dos
três elementos constitutivos da experiência jurídica.
Ademais, para demonstrar que a corrente do direito natural tem certa tendência entre
seus teóricos em geral de reduzir a validade à justiça, ou seja, uma lei, para ser lei tem que ser
obrigatoriamente justa, Bobbio, neste tópico, apresenta alguns problemas diante dessa
tendência.
Primeiro, Bobbio alega que é um ideal a ser alcançado quando se pretende que o Direito
caminhe sempre com a justiça, mas não uma realidade de fato, pois quando nos perguntamos o
que é o Direito, estamos nos referindo que na realidade vale como direito também o direito
injusto e que não existe nenhum ordenamento perfeitamente justo.
Menciona ademais que a pretensão do jusnaturalismo sempre foi a de reconhecer o direito
unicamente justo, como se este fosse uma verdade evidente, como uma verdade matemática.
Como um outro posicionamento sobre este mesmo tema, o filósofo alega que o direito natural
se considera capaz de estabelecer o que é justo e o que é injusto de modo universalmente válido,
no entanto para Bobbio isto não tem fundamento, pois ao analisar as controvérsias do que é
justo e injusto entre os próprios seguidores do direito natural, percebeu que o que é natural para
um jusnaturalista pode não ser natural pra outro (excluindo assim, o estabelecimento do que é
justo e do que é injusto como algo universalmente válido). Coloca vários exemplos, entre ele
os de Kant e o de Aristóteles, visto que para aquele natural seria a liberdade e para este natural
seria a escravidão. Deste modo, Bobbio conclui este mesmo posicionamento que de fato não
pode ser definido o que é justo e injusto apenas pela a observação da natureza de maneira
universal, e que essa redução da validade á justiça traz uma grave consequência: a destruição
de um dos valores fundamentais sobre a qual se apoia o direito positivo (direito entendido como
válido), o valor da certeza.
Por fim, o filósofo Norberto Bobbio diz que nesta mesma corrente do direito natural a
redução da validade à justiça seja mais afirmada do que de fato aplicada e encontra dentro dessa
mesma corrente explicações para esta afirmação. A primeira é que, antes de viver na vida civil
(regida pelo direito natural), o homem deveria viver em seu estado de natureza, regido apenas
pelas leis naturais e conforme a doutrina aceita, o estado de natureza é impossível e dele se deve
sair para fundar o Estado.
Interpreta-se então que o direito natural não cumpre a função de direito positivo, ou seja,
se chamarmos “direito” o direito positivo não podemos considerar “direito” da mesma forma o
direito natural, dando a entender que somente o direito positivo era direito no sentindo que está
impregnado na palavra.
A segunda explicação é que é doutrina comum para os jusnaturalistas que o direito
positivo em desconformidade com o direito positivo é considerado injusto, porém, não obstante
deve ser obedecido, ou seja, obedecido no sentido de aceitar a norma como vinculante, existente
em determinado ordenamento jurídico e, portanto, válida. Em outras palavras, é aceitável pelos
jusnaturalistas que mesmo a norma sendo considerada injusta por um critério de valoração deve
ser obedecida.
Desta forma, conclui-se que, mesmo indiretamente, o direito natural chegou à mesma
conclusão que Bobbio teve no começo do presente capítulo: a justiça e a validade de uma norma
são duas coisas distintas e devem ser analisadas de modo independente.
O positivismo para Bobbio é citado como aquela teoria que reduz a justiça à validade.
Entende que apesar dos estudiosos geralmente não serem tão radicais em suas teses, partem
dessa mesma premissa. Ratifica que uma teoria juspositivista completa é a Hobbesiana, na qual
a transição do estado de natureza para o estado civil demonstra que a justiça não é natural, mas
sim convencionada -antítese da doutrina jusnaturalista- pois no estado de natureza não existe
direito válido ou critério de justiça.
No entanto, a teoria de Hobbes reduz a justiça à força. Nesse ponto, o autor entende que
devesse separar a justiça da validade, pois é o que torna possível diferenciar o justo do mais
forte. Recorrendo ao pensamento de Rousseau, que sintetiza a crítica ao mais forte como justo,
aborda que obedecer ao mais forte é um ato de necessidade ou prudência, não derivando
moralidade, assim, não é um dever. Quanto ao realismo jurídico, no século XX diversos
estudiosos decidiram afastar-se dos ideais de justiça e buscar na realidade social a essência do
fenômeno jurídico. Observaram mais profundamente a eficácia do que a validade ou se era
justo. Essa corrente se distinguia tanto do jusnaturalismo, quanto do positivismo em sentido
mais estrito. Essa antítese, em duas frentes, foi chamada, respectivamente, de realistas e
conteudistas.
Pois não buscam o direito como ele deveria ser, mas sim como efetivamente é, ademais,
não o observam como um emaranhado de normas válidas, mas como as normas que são
efetivamente aplicadas em uma determinada sociedade. Por este prisma, também elucidam o
contraste entre direito imposto e aquele efetivamente aplicado, e consideram isso o direito em
sua plenitude, não buscando a justiça jusnaturalista ou somente a validade formal.
Assim, Bobbio individualiza três momentos marcantes do séc XIX, em que surgiram
marcos para o pensamento jurídico.
O primeiro momento é representado pela expressão romântica da Escola Histórica do
Direito, dos juristas Friedrich Carl von Savigny e Friedrich Puchta, na qual o direito não se
deduz dos princípios racionais, mas é um fenômeno histórico e social que nasce do espírito do
povo e leva em consideração o direito consuetudinário como fonte principal, assim o costume
advindo do povo confrontaria o direito imposto.
O segundo momento traz a concepção sociológica do direito, que surgiu da disparidade
entre os códigos e a realidade social, e distingue-se, pois, denota o direito judiciário, como
constituinte atento às necessidades reais da população, com juízes adaptando as leis ao
cotidiano.
O terceiro e mais radical momento seria aquele que logrou êxito o na primeira metade
do século passado nos Estados Unidos da América, influenciado principalmente por Oliver
Wendell Holmes (1841 - 1935), que mesmo sendo juiz, repudiava o tradicionalismo jurídico
das cortes, preferia uma interpretação evolutiva do direito, que identificasse a consciência
social. A jurisprudência sociológica também teve participação fundamental de Roscoe Pound,
que defendia o jurista ser também sociólogo, pois o direito deveria levar em conta o contexto
no qual se insere. O mais radical, Jerome Frank, defendia plena liberdade criativa do juiz para
decidir um impasse, sendo a certeza jurídica um mito a ser superado. Em contraste ao
extremismo, o realismo americano contribuiu para impedir o engessamento do sistema jurídico
à mera dogmática não evolutiva.
Fica o questionamento de qual a relação entre eficácia e validade. Bobbio aponta que no
sistema consuetudinário, apesar de parecer que todo costume seria obrigatoriamente o uma
norma válida por ser eficaz, na verdade, é preciso adorná-la com uma forma jurídica, isto é,
além da repetição, deveria ser adotada pelo sistema do local, tornando-se validada
posteriormente. Tal qual, nas correntes sociológicas do direito que defendem o juiz como
criador do direito, observa que devesse diferenciar fontes de cognição e fontes de qualificação,
pois um direito cotidiano seria mero complexo de fatos, não sendo o direito vivente norma
jurídica até que o juiz assim a reconheça. Enfatiza que nessa teoria, o direito vivente é fonte
cognição jurídica, e somente o juiz - legislador são fontes de qualificação.
No capítulo 3, o autor retoma o ponto de vista que foi adotado para analisar o direito,
analisando a norma jurídica do seu ponto de vista formal. Tal reiteração considera a norma
jurídica não seu conteúdo, mas no que concerne a sua estrutura, ou seja, aqui se analisará a
norma jurídica na sua estrutura lógico-linguística. Tal análise é puramente um modo de estudar
o fenômeno jurídico na sua complexidade, o qual não exclui, mas exige os demais com o intuito
de se obter conhecimento integral da experiência jurídica.
Do ponto de vista formal, as normas jurídicas podem ser consideradas como
proposições, sendo que a forma mais evidente de uma proposição é o juízo, desse modo,
exprimindo um pensamento de sentido completo. Por conseguinte, se a frase não trouxer
consigo um sentido completo, não poderá ser entendida como uma proposição.
Quando se diz que a norma jurídica pode ser considerara uma proposição, significa que é um
conjunto de palavras possuidor de significado, o qual é a única coisa que interessa ao jurista
quando interpreta uma lei. Como as proposições em geral podem ter significados, mas serem
falsas, também as proposições normativas podem ter significado, mas, além de poderem ser
falsas, serem inválidas ou injustas.
Existem diferentes tipos de proposições, mas para facilitar o entendimento, elas são
divididas considerando dois grupos distintos, a forma gramatical e a função. Em relação a
forma gramatical, podem ser: declarativas, interrogativas, imperativas e exclamativas. Em
relação a função, podem ser: asserções, perguntas, comandos e exclamações. A que interessa
mais ao Direito são os comandos, que são proposições com função de influir sobre o
comportamento alheio para modificá-lo.
Da linguagem, é possível reconhecer três funções fundamentais, que são: a descritiva, a
expressiva e a prescritiva, que apesar de não serem encontradas em seu estado puro, darão
origem a linguagens bem diferenciadas, a científica, poética e normativa. Sendo a função
prescritiva, própria da função normativa, enquadrada num conjunto de leis e regulamentos que
influenciam o comportamento alheio, enquanto a função descritiva, própria da linguagem
cientifica, consiste na transmissão do saber, ou seja, em fazer conhecer e a função expressiva,
própria da linguagem poética, transmite e evidencia sentimentos para envolvimento dos outros
naquela situação sentimental.
Sob esse viés, existe uma problemática acerca da distinção entre as funções descritiva e
prescritiva, estabelecendo-se três aspectos e características diferenciais de tais proposições,
quanto a função, quanto ao comportamento do destinatário e quanto ao critério de valoração.
No que diz respeito a função, podemos diferenciar as duas proposições, uma vez que a
proposição descritiva tem o caráter apenas informativo e a prescritiva pode modificar o
comportamento de outras pessoas, entretanto o critério que parece ser decisivo é o da valoração
já que nas proposições descritivas podemos fazer classificações e de certa forma atribuir valor
de verdadeiro ou falso, entretanto, as prescritivas não se encaixam nesse critério de valoração,
ou seja, das normas jurídicas podemos conferir valores morais e éticas (justas) ou formal
(válidas).
Sendo assim, as proposições prescritiva e descritiva são dois tipos de funções com status
diferentes, logo a diferença entre as duas é irredutível, pois para a tese reducionista, uma
determinada proposição pode ser reduzida a outra proposição alternativa, sendo que está
redução repousa sobre o pressuposto de que ordenar implicaria sempre em ameaça de uma
sanção.
Entretanto, a tese é meramente sugestiva e não aceita pelo autor, levando-se em
consideração três aspectos. O primeiro seria pela dificuldade de confirmação através dos fatos
de que todo comando teria uma sanção. O segundo, pelo fato de que o estímulo para a mudança
do comportamento não seria mais dado pelo comando, e sim pelo juízo de valor, ou seja, pela
consequência que dele decorreria em caso de violação. E por fim, o terceiro seria atribuído pela
inexecução e não como efeito ligado de forma natural, e que o imperativo da primeira parte da
prescrição encontra-se ainda que implicitamente na segunda parte da prescrição.
Como já se tem conhecimento, a partir das discussões acima, as proposições expressivas
dizem respeito a evidenciar sentimentos de modo a evocá-los no outro indivíduo, sendo
predominantemente encontradas na linguagem poética. Enquanto as proposições prescritivas
partem da linguagem normativa, ou seja, linguagem utilizada para dar comandos, conselhos,
recomendações etc. de modo a levar o outro indivíduo a executar alguma ação.
Dessa forma, não se faz convincente reduzir as prescritivas em expressivas porque 1)
não se pode distinguir os tipos de proposições pela forma como elas são expressas, mas na
funcionalidade que elas desempenham; 2) um comando se perfaz no resultado que consegue
alcançar independentemente do sentimento que evoca no outro a que se destina; e 3) por fim
uma lei dura no tempo, e ao longo de sua trajetória ela se distingue da vontade do legislador,
no entanto, continua a ter seu valor e portanto, determinando comportamentos dos cidadãos.
Seguindo com os estudos a respeito das proposições prescritivas o autor passa a analisar
alguns binômios, trazidos por Kant, que dizem respeitos as proposições descritivas, passadas a
serem chamadas de imperativos com base na terminologia kantiana. Quais sejam, neste
primeiro momento: imperativos autônomos e imperativos heterônomos que sejam diferentes
entre si no que diz respeito sujeito ativo e sujeito passivo. Imperativos autônomos são
caracterizados por imperativos em que o sujeito que formula a norma é o mesmo sujeito que a
executa, já os imperativos heterônomos consistem no fato em que um sujeito formula a norma
e um diferente a executa.
A partir daí, decorre o confronto entre os imperativos morais dos demais imperativos,
pois para Kant, apenas os imperativos morais são autônomos, pois se fundamenta no fato de
que a moral está atrelada aos comandos que o homem dá a si próprio e não recebe de nenhuma
outra autoridade, senão de sua própria razão.
.
É importante fazer essa diferenciação entre imperativos autônomos e heterônomos no
que diz respeito aos estudos do direito pois se consagra, dentre outros, como um critério de
distinção entre moral e justiça, pois para Kant, a moral, todavia se faz através de imperativos
autônomos e o direito em heterônomos, haja vista que o formulador de normas da moral é
interno e o jurídico é externo.
Outro binômio que remonta Kant, e que também foi utilizado para distinguir a moral do
direito, é o dos imperativos categóricos e dos imperativos hipotéticos, sendo verificada, essa
distinção ao analisar a forma em que o comando é expresso.
Os imperativos categóricos se consolidam a partir das normas éticas, pois segundo Kant,
são próprios da legislação moral, sendo àqueles que prescrevem algo que é bom em si próprio
e que devem ser cumpridos incondicionalmente, não tendo como outro fim senão àquele
enquanto ação devida (ex.: você não deve mentir – normas éticas).
Já os imperativos hipotéticos se consagram nas prescrições que são boas para se atingir
um determinado fim, ou seja, uma ação que não é boa em si mesma, mas boa somente quando
se deseja atingir um determinado fim, que não tem dentro de si um valor, mas que tem seu valor
para se alcançar algo.
Os imperativos hipotéticos são subdivididos em duas espécies, em se tratando do fim a
que a norma se refere: 1) um fim possível/real chamado por Kant de habilidade (ex.: se você
quiser aprender a dançar reggae, deve praticar com regularidade – norma técnica) e 2) um fim
que o homem não pode deixar de perseguir, chamado de prudência (ex.: se você quer segurança
no trânsito, deve dirigir com responsabilidade – norma pragmática).
O último critério de distinção no que se refere às proposições pousa sobre a força
vinculante, onde a delimitação dessa força está contida dentro dos imperativos (comandos), a
qual reverbera em uma relação convergente entre o ato de comandar e o ideal de
obrigatoriedade, à medida que com a existência de um, se sucede a vivência do outro.
Entretanto, nem todas as proposições seguem a lógica da obrigação, além de que há formas
mais leves de assegurar a obrigatoriedade de um comportamento. Nesse ínterim, o autor
apresenta a distinção entre os conceitos de conselhos e comandos, averiguando a partir de
narrativas históricas e de autores renomados a legitimidade dessa divergência conceitual.
Diante desse cenário, ocorre uma análise sobre as perspectivas hobbesianas sobre a
temática dos conselhos e dos comandos, fato que expõe a consideração do autor por alguns dos
fatores utilizados para a distinção entre os termos, que alegam a convicção do ato de comando
pressupor um comportamento visto como obrigatório e com repercussão para quem veiculou
tal proposta, em casos de violação , e o conselho seria acolhido pelo seu destinatário com viés
facultativo, sem repercussão ou responsabilidade para o indivíduo aconselhador, na situação de
não haver seguimento da recomendação.
Outrossim, há a exposição da teoria dos atos jurídicos, cujas exposições repercutem
distinção entre os atos de vontades e atos de sentimentos, estruturando, assim, um sistema que
propõe a ordem como um fruto de vontade, e o conselho como um ato de representação, já que
seu objetivo precípuo é pura e unicamente a tarefa de aconselhar. Sendo assim, diante do quadro
de que nem todas as proposições normativas possuem a tarefa de comando, os órgãos
consultivos aparecem como exemplificação do panorama e tornam visível o plano de menor
eficácia dos conselhos pertinente à ação vinculante, não obstante tenha a mesma funcionalidade
dos comandos de orientação e guia. Logo, verifica-se a visibilidade conferida aos órgãos
consultivos em detrimento dos legislativos, a qual apresenta-se como menor ou secundária
perante a imperatividade dos demais.
Além das ambientações realizadas, Norberto Bobbio comento acerca da definição das
instâncias, proposições que tem menor força vinculante em comparação aos comandos e são
oriundas da nossa pretensão em fazer com que alguém faça alguma coisa em nosso favor, sem
vinculação. Sob esse viés, em forma majoritária, as instâncias são movidas por particulares,
com fim de corroborar somente uma provocação das deliberações e em matéria de deflagração
de diferenças diante do comando, pode-se salientar como caráter identitário e constitutivo da
instância, a ausência do direito de se obter aquilo que se pede. Consoante a divisão proposta
entre conselho e exortação, a instância se desdobra em espécies inspiradas em modelos
informativos e emotivos, como as súplicas e as invocações.
No capítulo 4 intitulado “As prescrições do Direito” foi analisado pelo autor de forma
aprofundada a questão da imperatividade do direito; dos imperativos positivos e negativos; dos
comandos e imperativos pessoais; do direito como norma técnica; dos destinatários da norma
jurídica, basicamente o capítulo é um exame analítico que Bobbio faz sobre as diversas teorias
e formulações jurídicas.
No tópico 27 é tratado epistemologicamente O problema da imperatividade do Direito,
que Bobbio contextualiza no momento em que as proposições compõem um ordenamento
jurídico pertencente à esfera da linguagem prescritiva da doutrina tradicional ou clássica do
Direito. Em seguida são apresentados conceito da lei de jurisconsultos da Antiguidade, como,
por exemplo Cícero afirmando que: “A lei é algo de terno, que rege todas as nações, com
sabedoria para ordenar e proibir, sendo capaz de prescrever e dissuadir. ”
Em seguida são diferenciados os conceitos de teoria imperativista (no sentido de se
impor, onde a imperatividade é elevada ao caráter constitutivo do direito), doutrinas mistas
(quando apenas uma parte das preposições que compõem um ordenamento jurídico são
imperativas) e negativas (as proposições que compõem um ordenamento jurídico não são
imperativas).
O jurista alemão Augusto Thon propôs uma formulação da doutrina imperativista na
obra Norma giuridica e diritto soggestivo (1878), considerado por Bobbio uma das três grandes
obras da teoria geral do Direito. Foi na década de 1870 e 1880, que houveram publicação de
obras que deram base às doutrinas e discussões entre juristas em torno dos conceitos
fundamentais da ciência jurídica. Segundo Thon: “Todo o direito de uma sociedade não passa
de um complexo de imperativos, os quais estão uns aos outros tão estreitamente ligados, que a
desobediência de um constitui [...] o pressuposto do que é por outro comandado”.
Analisando a teoria imperativista, Bobbio cita conceitos ou aspectos da teoria
estatualista e da coacionista, sendo a primeira vinculada com normas jurídicas emanadas pelo
Estado, e a última pela coercibilidade (empregado forçadamente) ou coação (imposto por
pressão). Bobbio observa que a teoria imperativa caminha simultaneamente com a estatualista,
todavia Thon reconhece que podem existir ordenamentos jurídicos diversos dos estatais, e não
é nem estatualista nem coacionista como era Ihering que considerava a coação um elemento
indispensável para distinguir a norma jurídica da não-jurídica.
Bobbio ressalta também que a teoria imperativista estando livre de compromissos
epistemológicos com outras teorias como a estatualista e a coativista, tal desvinculação teria
contribuído ao declínio da imperativista. Já Francesco Carnelutti na sua Teoria generale del
diritto (1946) escreve: “Com a fórmula da imperatividade deseja-se detonar que o comando é
o elemento indefectível do ordenamento jurídico ou, [...] já afirmou-se que o ordenamento fosse
um organismo, o comando representaria a célula” (p. 67 – 68 apud BOBBIO, 2001, p. 107 -
108).
Ao apresentar Giorgio Del Vecchio (1953) lê-se o seguinte: “Importantíssimo e
essencial ao caráter da norma jurídica é a imperatividade. Não podemos conceber uma norma
que não tenha caráter imperativo [...]. O comando (positivo ou negativo) é um elemento
integrante do conceito de direito, [...]. Impor um dever significa precisamente imperar. ” (P.
230 apud BOBBIO, 2001, p. 108).
De forma geral Bobbio reafirma que tanto Thon, Del Vecchio e Carnelutti adotam como
ponto de partida dos requisitos da norma jurídica a imperatividade, lembrando que tais
requisitos são três: a imperatividade, a estatualidade e a coatividade. Porém, Thon acolhe só a
imperatividade, já Del Vecchio a imperatividade e estatualidade e Carnelutti os três elementos
que são requisitos para serem considerados norma jurídica.
Já no tópico 28 dos “Imperativos positivos e negativos”, Bobbio inicialmente procede a
uma classificação dos imperativos em positivos (comandos de fazer) e negativos (comandos de
não fazer ou proibições), para fazer um questionamento: o direito se compõe de imperativos de
ambas espécies? Para Bobbio há quem respondeu tal pergunta sustentando que a característica
do direito, em relação à moral, é ser constituído apenas por imperativos negativos. A pergunta
em questão é dirigida não a uma norma jurídica em partícula, mas ao Direito em seu conjunto,
surgindo uma outra questão: existe um critério geral para distinguir as normas jurídicas das
morais? Eis uma das questões centrais do Direito que permite distinguir os imperativos em
comandos e proibições.
Segundo Bobbio alguns jusnaturalistas como Christianus Thomasius afirmaram que a
distinção fundamental entre direito e a moral resulta na seguinte constatação: “ a moral comanda
e o direito proíbe, e, portanto, a característica do direito é de ser constituído por imperativos
apenas negativos. Resumidamente Thomasius conclui que a moralidade consiste no preceito de
fazer o bem, enquanto que o Direito em se abster de fazer o mal. Todavia, para o autor de
“Teoria da Norma Jurídica”, tal distinção entre direito e moral é considerada inaceitável, pois
preceitos positivos e negativos misturam-se na moral e no direito.
Na crítica a Thomasius, Bobbio apresenta a teoria de Leibniz: “Thomasius foi criticado
[...] devido a essa distinção, por Leibniz, que ressaltou que não se poderia [...] reduzir o direito
à obrigatoriedade negativa: ao contrário, [...] não fazer mal aos outros somente pelo temor de
receber o mal não é obra de justiça, mas apenas de prudência. ” Na tese de Leibniz, segundo
Bobbio há dois aspectos básicos: 1) que os governantes de um Estado são tidos como justos
quando se empenham em fazer o bem, pois Leibniz tinha uma concepção positiva da função do
Estado. 2) a constatação de que nenhum de nós se satisfaz quando os outros não nos causam
danos, mas em caso de necessidade, desejamos ser ajudados, e que nos lamentamos com justiça,
se nós somos abandonados em nossa miséria.
O autor de “Teoria da Norma Jurídica” destaca também que a teoria do direito como um
conjunto de proibições nascia de uma concepção muito restrita da função do direito e do Estado,
como seria por exemplo a doutrina jusnaturalista da passagem do Estado de natureza ao estado
civil de Thomasius.
E o tópico 29 intitulado “Comandos e imperativos pessoais”, a doutrina a ser analisada
nessa parte introduz uma distinção entre comandos e imperativos jurídicos, onde as normas
jurídicas pertenceriam a categorias dos imperativos e não dos comandos. Tal tese foi defendida
pelo jurista sueco Karl Olivecrona no livro intitulado “Direito como Fato” publicado em 1939.
Olivecrona, segundo Bobbio, parte de uma definição restrita de comando afirmando que “um
comando pressupõe uma pessoa que comanda e outra a quem o comando é endereçado. (P. 35)
”.
A teoria de Olivecrona se propõe como uma epistemologia do Direito realista que busca
limpar o terreno de todas as tradicionais ficções que impediram de levar em consideração o
fenômeno jurídico na sua concretude. Uma dessas ficções seria a identificação da lei com o
comando, que teria originado a teoria imperativista do direito. Olivercrona destaca também que
as normas jurídicas, mesmo não sendo comandos reais, elas não são dados de forma descritiva,
já que os imperativos não deviam ser confundidos com comandos que funcionam
independentemente de uma pessoa que comanda, ou seja, são imperativos independentes, que
se distinguiriam dos comandos por duas razões: por não se voltarem a uma pessoa determinada
“enquanto não dizem: ‘você deve fazer isto’, mas ‘Esta ação deve ser realizada’. ”
Bobbio (2001, p. 113 - 114) enfatiza que a “teoria de Olivecrona é uma das tantas
tentativas que foram feitas, no domínio da teoria geral do direito, de encontrar o traço
característico da norma jurídica em relação aos outros tipos de normas [...]”. E também que o
que seria novo na teoria de Olivecrona é que mesmo não abandonando a via formal da norma
jurídica, buscou caracterizá-la no sujeito ativo, não no sujeito passivo ou na ação-objeto.
Todavia, para o autor de “Teoria da Norma Jurídica”, a teoria de Olivecrona fracassa
basicamente por duas razões:
“1) o ordenamento jurídico é um conjunto de regras [...]: toda teoria reducionista, que julga
[...] identificar a norma jurídica como um só tipo de imperativos, é unilateral e está destinada a
empobrecer [...] a riqueza da experiência jurídica.
2) quando também se consegue fixar um tipo de imperativo que [...] nos possa ser considerado
como prevalente no direito, é bem difícil que não se encontre em outras esferas normativas
diversas da jurídica.” (BOBBIO, 2001, p. 114)
Bobbio conclui o tópico 29 afirmando que esses dois argumentos são aplicáveis à
doutrina dos imperativos pessoais ser “muito difícil demostrar que todos os imperativos
jurídicos são impessoais, [...] por outro lado, embora admitindo que todos os imperativos
impessoais existam em outros sistemas normativos, e bastaria recordar os dez mandamentos ,
citados [...] pelo próprio Olivecrona, e as denominadas normas sociais em que a impessoalidade
é ainda mais evidente do que nas leis emanadas de um parlamento.” (BOBBIO, 2001, p. 114 -
115). Ou seja, a impessoalidade da norma não é sinônimo de ser uma norma vinculada ou
emanada do Estado ou do Poder Público.
No item 30, Bobbio disserta outro exemplo de teoria imperativista, sob a perspectiva de
Adolfo Ravà, segundo a qual o direito é um conjunto de imperativos, que Kant chamava de
"normas técnicas". Os argumentos adotados por Ravà para sustentar a sua tese são
principalmente três:
1) as normas jurídicas atribuem não só obrigações, mas também direitos subjetivos: a figura do
direito subjetivo é incompatível com uma norma ética que estabelece apenas obrigações, mas
não faculdades.
2) o direito é coercitivo: uma conduta em que é lícito impor com a força, não pode ser boa em si
mesma, porque quando um comando é acompanhado de uma sanção eu posso sempre escolher
desobedecer ao comando e submeter-me a pena.
3) em todo ordenamento jurídico, há muitas normas, como aquelas que estabelecem os prazos, as
quais ordenam manifestamente meios para atingir um fim, e não uma ação boa em si mesma,
e exatamente por este caráter técnico, constituem aquele aspecto de elaboração de um
ordenamento denominado tecnicismo jurídico.
Ravà chega então a conclusão de que as normas jurídicas não impõem ações boas em si
mesmas e, portanto, categóricas, mas ações que são boas para atingir certos fins, e logo
hipotéticas. Segundo Bobbio, para tornar plausível a doutrina de Ravà, é preciso distinguir dois
planos sob os quais ela se coloca, sendo um deles o plano do ordenamento jurídico no seu
complexo, enquanto distinto de um ordenamento moral, a doutrina de Ravá significa que o
ordenamento jurídico é um instrumento para atingir um certo objetivo (a paz social). Se o direito
no seu complexo é uma técnica, pode-se bem dizer que as normas que o compõem são normas
técnicas, que estabelecem ações boas para atingir aquele determinado fim a que todo o direito
é endereçado. Porém, aqui é lícita uma objeção: se o direito em seu complexo é um ordenamento
normativo técnico, não se distingue mais de modo algum de ordenamentos normativos como o
do jogo e o das regras sociais. Para todos estes ordenamentos, pode-se dizer, que são
ordenamentos normativos instrumentais. Resta observar se não é possível introduzir uma
ulterior especificação, tendo presente a distinção, feita por Kant, entre regras instrumentais de
um fim real (ou normas pragmáticas) e regras instrumentais de um fim possível (ou normas
técnicas em sentido estrito).
Além disso, o autor distingue também o plano das normas singulares que compõem um
ordenamento jurídico, para ele, sustentar que elas são normas técnicas significa outra coisa. Não
significa mais que elas objetivam atingir a paz social, mas que elas deixam aberta uma
alternativa entre seguir o preceito e não atingir o objetivo (praticar um ato, contrair matrimônio,
transmitir os próprios bens a outros…), ou então entre seguir o preceito e ir de encontro a um
objetivo que não se desejava atingir (uma reparação, um ressarcimento de danos, uma multa,
uma pena detentiva). Em outras palavras, quando se faz referência às normas, significa que toda
norma jurídica é caracterizada pelo fato de que à sua transgressão segue uma consequência, que
se denomina sanção. Então, teoria do direito como norma técnica e teoria da sanção como
caráter constitutivo do direito vêm a se conjugar, ou seja, uma norma sancionada é sempre
reduzível a uma norma técnica, na qual a ação prevista como meio é regulada pela norma
primária, e a ação posta como fim é regulada pela norma secundária. São expostas duas
formulações típicas das normas jurídicas como normas técnicas em que o legislador faz operar
a sanção. Se nós definirmos a sanção como uma consequência desagradável imputada a quem
transgrida a norma primária, o objetivo de atribuir uma consequência desagradável ao
transgressor pode ser atingido de dois modos: 1) fazendo de modo que violando a norma não
se alcance o fim a que se propunha; 2) fazendo de modo que violando a norma se alcance um
fim oposto àquele que se propunha.
Trará então Bobbio questões no tópico 31 sobre a controvérsia relativa ao sujeito passivo.
Sabemos que a alguém a norma deve se dirigir, para que seja uma norma, um imperativo, mas
a quem ela se dirige? O problema dos destinatários, se tornou agudo quando um jurista da
autoridade de lhering, sustenta que os destinatários das normas jurídicas não são os cidadãos,
mas os órgãos jurídicos encarregados de exercitar o poder coativo. O que distinguia, segundo
lhering, uma norma jurídica não era sua eficácia externa por parte do povo, mas sua eficácia
interna por parte do Estado, o que fazia transformar em jurídica uma proposição normativa era
o fato dos juízes disporem do poder e do dever de fazê-la respeitar. A última frase de Allorio
expressa o núcleo de verdade da teoria que considera como norma jurídica apenas aquelas
voltadas aos órgãos encarregados de fazer valer o poder coativo. Posto o ordenamento jurídico
como ordenamento coativo, ele pode consistir exclusivamente em normas voltadas aos órgãos
do Estado, pode-se imaginar um ordenamento jurídico em que não haja outras normas além
daquelas que se costuma chamar de secundárias, o que significa que as normas voltadas aos
súditos, ou seja, as normas primárias, não são necessárias. No entanto, um ordenamento
constituído apenas por normas primárias não poderia ser considerado um ordenamento jurídico,
se por ordenamento jurídico entende-se um ordenamento com a eficácia reforçada através da
sanção que implica o cumprimento das normas dirigidas aos juízes.
Bobbio traz algumas objeções sobre a questão dos órgãos estatais como único
destinatário:

a. É possível um ordenamento jurídico composto de normas voltadas apenas aos


órgãos judiciais, porém mesmo os ordenamentos jurídicos estatais
compreendem normas voltadas tanto aos juízes quanto aos cidadãos; se
deixarmos de lado as leis penais e vislumbrarmos o Código Civil, veremos
normas voltadas aos cidadãos, normas primárias que estabelecem não um tipo
de sanção, mas um tipo de comportamento, cuja violação implica (não
necessariamente) uma sanção;
b. Dizer que estas normas existem, mas que não são normas jurídicas, significa
sustentar que a juridicidade de uma norma depende do fato do comportamento
contrário do esperado implicar a consequências atribuídas pela norma
secundária;
c. As normas secundárias não são normas últimas, porque são seguidas de normas
terciárias. Se respondêssemos que neste caso a norma jurídica fosse a terciária e
não mais a secundária, arriscaríamos ter que retomar sempre mais atrás e
acabaríamos obrigados a sustentar que a única norma jurídica do sistema seria a
norma fundamental porque a sua transgressão não reenvia a nenhuma outra
norma do sistema. O ordenamento jurídico é, no entanto, um ordenamento
normativo com eficácia reforçada, não exclui que ele conte também com a
eficácia simples, com a adesão às normas voltadas aos cidadãos, ditas primárias,
e na realidade, todo sistema jurídico, mesmo que não as apresente
explicitamente, as pressupõe e conta com a sua eficácia.
Em Imperativos e permissões, intitulado assim o tópico 32, Norberto Bobbio coloca em pauta
a relação entre imperativos e permissões como fruto de uma teoria mista, que considera não
apenas os deveres no sistema jurídico, mas também as faculdades. A princípio, há a tentativa
falha de desassociar completamente o direito e as normas dos imperativos, à exemplo da tese
de Fichte (Lineamentos do Direito Natural, 1796) que argumenta sobre a diferença entre direito
e moral ao passo em que estabelece que não é de natureza da lei jurídica que se ordene o
exercício de um direito e que a lei moral vai além do simples ato de fazer com que apenas aquilo
que é desejado seja cumprido. Porém tal teoria não é justificável justamente porque a atribuição
de um direito e a ordenação de um dever convergem e são recíprocos entre si na esfera jurídica.
Isto é, permitir e comandar caminham juntos e são sempre correlativos. Portanto, não somente
a teoria permissiva exclusiva, mas também a teoria permissiva parcial não é razoável.
Dessa forma, percebe-se que em todo ordenamento jurídico, é possível encontrar normas
permissivas juntas com normas imperativas. Na verdade, as normas permissivas pressupõem as
normas imperativas, uma vez que a função daquela é de eliminar um imperativo de certa
situação. Isto é, sem as imperativas, não haveria necessidade de permitir algo ou não. Sem um
sistema imperativo, é permitido o que não reivindica norma outra alguma para sua existência e
reconhecimento. Por outro lado, onde há a permissividade, há também um sistema imperativo
capaz de exceções, de acordo com o postulado "Tudo é proibido ou comandado, exceto o que
é expressamente permitido". Por exemplo, no art. 65 do Código Civil italiano, que permite o
novo matrimônio em caso de cônjuge com morte presumida, há a proibição pressuposta de que
não é possível casar novamente enquanto o cônjuge ainda vive.
Além disso, quando as normas permissivas eliminam um imperativo precedente no
tempo, elas são ab-rogantes, mas no caso de um imperativo contemporâneo, fala-se de normas
derrogantes. Por último, as normas permissivas podem ser negativas (permitem não fazer e
negam o imperativo positivo ou comando) ou positivas (permitem fazer e negam o imperativo
negativo ou proibição). As ações previstas pelas positivas chamam-se permitidas, enquanto as
ações previstas pelas negativas chamam-se facultativas.
Para além do que foi comentado anteriormente, onde não é pressuposto um sistema de
imperativos, a permissão é consequência da falta de norma, isto é, se permite tudo o que não é
proibido ou comandado. As normas imperativas limitam a situação originária de licitude,
enquanto as permissivas limitam as situações obrigatórias advindas de normas imperativas.
Apresenta-se a partir daqui algumas hipóteses expostas no tópico 33 que serão citadas abaixo.
Em primeiro lugar, em uma situação hipotética sem um sistema normativo, tudo é lícito,
tal como expôs a teoria do estado de natureza hobbesiano, em um estado que não possui deveres,
apenas direitos, inclusive o de cada indivíduo sobre todas as coisas. Ao passar para o estado
civil, há então uma limitação da esfera da licitude natural, sendo essa limitação efeito da criação
de normas imperativas, respectivamente negativas e positivas. Então, surge a divisão da esfera
do proibido, a esfera do comandado e a esfera do lícito, sendo que as duas primeiras se estendem
em detrimento da terceira. Logo, seria possível que a esfera do lícito desaparecesse, tendo
espaço assim apenas para o que é proibido e o que é comandado.
Dessa forma, surge a hipótese de um Estado totalitário, onde tudo é obrigatório, de
acordo com as normas imperativas. Norberto Bobbio afirma não ser possível que um Estado
seja tão poderoso sempre a ponto de controlar o comportamento de todo e cada cidadão, assim
como não é possível uma condição em que não há imperativos com papel limitador da liberdade
de cada indivíduo.
Agora, com as normas permissivas ab-rogativas e derrogativas, as imperativas se
limitam entre as obrigações positivas e as obrigações negativas, onde surge novamente a
questão do que é proibido, do que é lícito e do que é comandado. Aqui a esfera do lícito é
definida pela limitação dos imperativos por parte das normas permissivas. Isto é, agora, tudo é
proibido ou comandado, exceto o que é permitido.
De forma exemplificada e resumida, neste Estado socialista, a propriedade individual é
inicialmente proibida, exceto em casos permissivos, isto é, a esfera da obrigação prevalece
sobre a da permissão. Enquanto no Estado de liberdade, a propriedade individual é inata a cada
homem e cabe ao Estado realizar uma regulação por meio da imperatividade, ou seja, a esfera
da permissão prevalece sobre a da obrigação.
Entretanto, é importante ressaltar que essa definição por separação exige cautela, uma
vez que é possível que ambas as situações estejam presentes em um mesmo estado, por
exemplo, havendo a prevalência de uma apenas ou não. Ademais, as distinções feitas acimas
podem corresponder, de forma superficial ainda, às distinções do direito privado e do direito
público. Por exemplo, em um Código Civil, estabelece-se tudo aquilo que é permitido, já em
uma Constituição, pressupõe-se proibições. Isto é, de acordo com esse pensamento, no direito
privado ganha destaque o postulado de que tudo é permitido, exceto o que é proibido, enquanto
no direito público, fala-se do postulado oposto.
Em Imperativos e Regras Finais, assim intitulado o tópico 34, observamos que muitos
foram os autores que se dedicaram a criticar em parte ou no todo a teoria tradicional
imperativista. Dentre eles, Bobbio, neste tópico, concentra-se em explicar aquela formulada por
Brunetti, a teoria das regras finais. Não sendo pelo autor considerada como teoria mista, mas
sim uma teoria de caráter jurídico geral, Brunetti traz à tona a ideia de que se em um
ordenamento houver regras técnicas (ou finais) esse mesmo ordenamento perde o seu caráter
imperativo
Para tanto, tomou como exemplo básico de regra final, a modalidade do testamento,
onde buscou mostrar como uma regra do ordenamento que não possui teor imperativo, deixa
ao indivíduo a faculdade de fazê-lo ou não. Dessa forma, em outras palavras, a teoria das regras
finais admite a possibilidade de não realizar uma ação sem ser por isso considerado como ato
ilícito.
A gênese do pensamento ínsito das regras finais, portanto, é perceber que da mesma
forma que se formularam os imperativos hipotéticos de Kant, as regras finais não possuem, de
fato, uma necessidade absoluta, mas sim apenas uma única finalidade, ou seja, é caracterizada
como uma ação necessária para se alcançar um fim devido.
Buscando distinguir o conceito técnico das regras finais da doutrina imperativista,
Brunetti explica que ambas não se confundem com base no conceito que ele chama de “dever
livre”, ou seja, as regras finais não limitam a liberdade de um indivíduo de agir, deixando-o
livre para escolher o fim que lhe for agradável, de forma que isto não se constitua em um ilícito.
Brunetti explica que as normas imperativas frente à sua execução criam um ambiente
onde o sujeito de uma sociedade inserido num contexto normativo, age de acordo com um
comando estabelecido, mas que possuía faculdade de poder violá-lo. Diferentemente, nas regras
finais a liberdade observada na execução da norma parte do pressuposto desse mesmo sujeito
ter a possibilidade de não fazer o que a norma manda e mesmo assim não agir de forma ilícita.
Bobbio, por sua vez, nega a inexistência de imperatividade das normas, uma vez que
credita à teoria das regras finais a incapacidade de afetar de forma significativa a doutrina
imperativa, julgando ser de fato as normas técnicas verdadeiros imperativos. A negação da
teoria de Brunetti parte do pressuposto da contradição do “dever livre”, uma vez que, o que é
livre de fato nas regras finais é o fim da ação, que por contradição, deixa de ser livre assim que
é escolhido.
Já no tópico 35 Bobbio discorre sobre as teorias que negam que as normas jurídicas sejam
imperativos. A primeira e mais radical formulação das teorias negativas nos direciona a
Zitelmann, segundo este autor, toda proposição jurídica pode se resolver na fórmula: "Se você
deve". Uma proposição deste gênero tem o caráter de um juízo, em particular de um juízo
hipotético e um juízo, segundo os ditames da lógica clássica, não é um comando.
A tese da norma jurídica como juízo hipotético foi acolhida por Kelsen que desenvolveu
alguns argumentos críticos contra o imperativismo, o seu ponto de partida era uma definição
bem mais restrita do que ele entendia por "comando": a expressão de uma vontade voltada à
modificação de uma vontade alheia, e com isto introduzia uma limitação que era da natureza
dos comandos não conter nenhuma garantia que o comportamento alheio fosse efetivamente
modificado. Desta definição concluía que se poderia falar em "comando" em relação aos
imperativos morais, porque, sendo autônomos, não existe uma vontade dirigida a uma vontade
alheia, mas não se poderia falar em relação às normas jurídicas que, sendo heterônomas têm
necessidade de uma garantia de que a vontade dos súditos se adeque à do Estado, garantia que
o comando enquanto tal não pode dar, e que pode ser alcançada somente através da sanção.
Uma vez definida a sanção, o que o Estado deseja não é mais aquele determinado
comportamento dos súditos, mas um determinado comportamento dos próprios órgãos
encarregados de exercitar a coação.
A crítica às teorias imperativistas, de um lado, entendida como teoria que via nas leis
um comando dirigido aos súditos, e a interdependência estabelecida entre o conceito de direito
e aquele de sanção. Kelsen assim atribui à norma jurídica o caráter não mais de comando, mas
de juízo hipotético, voltado a estabelecer um nexo entre uma condição e uma consequência na
seguinte fórmula: "Se é A, deve ser B" (onde A representa o ilícito e B a sanção).
Essa redução da norma jurídica servia para Kelsen resolver a questão da diferença entre
direito e moral: as normas morais, são comandos, enquanto as normas jurídicas são juízos.
Distinguindo as normas jurídicas das leis morais, e das leis científicas. Mesmo estas últimas
podem se transformar em juízos hipotéticos que estabelecem uma relação constante entre uma
condição e uma consequência, mas o que une as duas partes do juízo é constituída pelo verbo
ser, enquanto em uma norma é o verbo dever.
Não estamos sublinhando a importância entre relação de causalidade e relação de
imputação para a compreensão da diferença entre ordem física e ordem normativa. A
importância se revela, sobretudo, quando ganhamos consciência dos erros nascentes da
confusão entre as duas ordens, que Kelsen atribui à mentalidade primitiva. O que para nós
importa sublinhar é que esta diferença entre relação causal e relação de imputação traz a
diferença entre o descritivo e o prescritivo que a polêmica contra o imperativismo levou muitos
a crer que tivesse sido abandonada por Kelsen. Pode-se dizer que a distinção das duas relações
está no fato de que a primeira não é voluntária, não depende de uma autoridade que a tenha
colocado, e a segunda é voluntária, depende de uma autoridade que a coloque; e ainda, a
primeira reenvia a uma determinação necessária, a segunda a uma estatuição voluntária, e,
portanto, a uma prescrição.
Deste modo, resulta que a diferença entre a norma jurídica e a lei natural é uma diferença
essencial, no sentido em que uma e outra pertencem a duas ordens diversas, no sentido em que
a lei moral é uma prescrição com eficácia imediata, e a lei jurídica é uma prescrição com eficácia
mediata, isto é, uma prescrição cuja eficácia depende não da norma que prescreve um
comportamento, mas da norma que prescreve a consequência desfavorável (a sanção) de um
comportamento considerado como ilícito. Em suma, a teoria anti-imperativista de Kelsen não
pode ser considerada uma teoria negativa, mas só no sentido limitado, que faz delas prescrições
distintas das morais, e isto é o que mais importa até o fim da nossa investigação.
No item seguinte chamado Imperativos e Juízos de Valor, vemos mais uma teoria que buscou
contrapor a imperatividade do direito, foi a que creditou às normas jurídicas o caráter de valor,
ou valoração, muito utilizada por doutrinadores italianos. A valoração da norma, quando
percebida em certos fatos, significa dizer que qualificou estes mesmos fatos à condição de
juridicidade, ou seja, que resultou em consequências jurídicas ou melhor dizendo, em
obrigações.
No entanto, perceber que determinados fatos possuem consequências jurídicas, é
reconhecer que estas possuem caráter obrigatório apenas por que são prescritas na norma, ou
seja, em nada diferem do comportamento anteriormente visto em qualquer objetivo de uma
prescrição. Fica, portanto, o questionamento contraditório de como uma norma poderia resultar
em consequências jurídicas se não fosse por seu caráter sumariamente obrigatório, onde Bobbio
acredita ser a norma não um objeto que tende a expor as consequências jurídicas, mas um canal
que as coloca para funcionar.
O juízo de valor, portanto, nada mais é que um ponto evolutivo do poder imperativo do
direito, que apesar de primeiramente negar a definição tradicional, logo comportou-se como um
progressivo desenvolvimento lógico. Dessa forma, apesar de diminuída, a imperatividade do
direito encontra-se inserida no conceito de valoração da norma, que nada mais foi uma mudança
de nome, mas permanência de significado.
Bobbio encerra, portanto, analisando que essa mesma conclusão extraída da teoria de
valoração da norma, aplica-se a todas as outras teorias que se propuseram a criticar em parte ou
em todo o poder imperativo do direito, mas que apesar da força, não permaneceu de todo
intocável. O antigo imperativismo decorreu da teoria do comando advinda do soberano, que era
um pensamento muito restrito à ideia de obediência plena, que não poderia resistir intacta aos
diversos estudos jurídicos ao longo do tempo.
No entanto, o processo de crítica levado à ideia do direito como comandos tornou-se irracional,
quando, segundo Bobbio, a negação prescritiva da norma, levou a crer que as normas jurídicas
não eram nem comandos, nem imperativos em seu sentido amplo, mas juízos de valor,
pertencentes a uma linguagem não compatível com a normatividade, mas com a ciência, que
apesar dos esforços nunca conseguiu combater a fortaleza construída pela linguagem
prescritiva da norma, presente até os dias atuais.
No desenvolvimento do capítulo 5, Norberto Bobbio apregoa que pelo fato das normas
jurídicas serem oriundas de uma linguagem prescritiva, tem-se interessantes questões não
apenas a natureza da norma jurídica, mas também sobre a sua função e lógica. Ainda a respeito
desta temática, Bobbio disserta a existência de uma problemática sobre a qual muitos juristas e
filósofos do direito enfrentam e tentam, assim, solucionar: a diferenciação entre as normas
jurídicas frente a outros tipos de normas — conhecidas como “características diferenciais” da
norma jurídica. Assim, muito do que será trabalhado neste segundo capítulo é calcado na análise
do impasse em torno desta busca pela diferenciação.
Observa-se, a princípio, que a complexidade em resolver esse problema, advém, em
muito, da necessidade de alcançar distinções das proposições normativas em razão de sua
natureza de prescrições ante a outras proposições normativas. Assim, tomando como base a
impossibilidade de resolução presente na diferença entre a norma jurídica e outros tipos de
normas, Norberto Bobbio tenta buscar alguns critérios que possam possibilitar a resolução desse
problema.
Partindo dessa perspectiva, o primeiro critério analisado pelo filósofo italiano é quanto
ao conteúdo da norma jurídica e seu caráter de regular, de forma cabal, as relações antrópicas
intersubjetiva e bilateral, ou seja, realizada entre pessoas e não as relações que se exercem entre
uma pessoa e uma coisa. Contudo, Bobbio apregoa que a efetivação deste critério analisado não
consagraria uma distinção do direito das chamadas normais sociais, apenas o direito da moral,
visto que as normas socias possuem características de regulação das relações intersubjetivas.
O segundo preceito que Norberto Bobbio apresenta diz respeito ao fim a que o sistema
de normas do âmbito jurídico realiza no embate com todos os ordenamentos normativos
presente em um determinado meio social. O critério do fim possibilita a promoção das
especificidades que constitui as relações intersubjetivas pelas quais o direito regula.
Trazendo um novo critério para ser analisado, Bobbio apregoa a resposta à violação,
que se caracteriza como um fator que provoca uma consequência, uma noção de sanção, uma
vez que uma norma prescreve o que deve ser. O ilícito, enquanto violação, pode ser entendido
por uma ação quando a norma é um imperativo negativo e imperativo positivo quando a norma
for em caso de uma omissão. O escritor busca, assim, utilizando o critério da resposta à violação
para diferenciar normas morais de normas sociais e normas jurídica.
O pensador italiano, trabalha em seu texto três tipos de sanção: a moral, social e jurídica.
Na violação de norma moral, observa-se uma sanção interior, isto é, que obriga em consciência,
em que se tem o sentimento de culpa como consequência pelo não cumprimento dessa norma.
Em uma linguagem da ética, vê-se o “remorso” ou “arrependimento” em uma percepção de
angústia de uma pessoa que viola a norma moral. Essa sanção moral, segundo Bobbio, pode ser
vista em dois tipos de sociedades: em organização social em que os seres são cabalmente
racionais e, outrossim, em uma coletividade de indivíduos perfeitamente dominados e
manipulados, em escassez de liberdade. Tendo como ponto de entendimento que o fim da
sanção é a eficácia da norma, Bobbio pontua que este é o defeito da sanção interior: ser
escassamente eficaz.
Em contrapartida com a observada interioridade da sanção moral, a consequência de
uma norma social é exterior, com a finalidade de possibilitar a convivência entre as pessoas em
sociedade mais fácil ou menos difícil. Proveniente, muita das vezes, de um grupo social sob
forma de costumes, essa sanção social responde como uma desaprovação da coletividade frente
a sua violação. A forma mais grave de uma consequência social é o linchamento — uma sanção
em grupo, exercida de forma primitiva, espontânea e irrefletida de uma multidão. De fato, a
sanção social possui grande efetividade, porém, o seu defeito é a falta de proporção entre a
violação e respostas, provocada pela falta de sua institucionalização.
Para que se possa não apenas alcançar a eficácia da sanção, mas também evitar a falta
de proporção entre violação e resposta, o grupo social regula os comportamentos de todos os
indivíduos e a reação aos comportamentos contrários, institucionalizando, desse modo, a
sanção. Essa institucionalização desenvolve uma sanção jurídica — consequência externa e
institucionalizada, garantindo considerar a este tipo de sanção como um novo critério para
identificar as normas jurídicas.
No capítulo 6, são abordados, a priori, os critérios de classificações das normas jurídicas,
sendo consideradas quanto ao conteúdo, modo, natureza ou estrutura. Porém, o critério
evidenciado na obra é o formal, que consiste na estruturação lógica das proposições prescritivas
e estas, podem ser fundamentais ou tradicionais.
Desse modo, é posto que a distinção elementar classifica as normas jurídicas em normas
universais e singulares, sendo as universais aquelas proposições em que o sujeito representa
uma classe composta por vários membros, como por exemplo “Os homens são mortais”.
Enquanto que nas proposições singulares, o sujeito representa um sujeito singular, como
“Sócrates é mortal”. Diante disso, toda proposição assim como as normas jurídicas são
formadas por dois elementos constitutivos: o sujeito/destinatário e o objeto da prescrição, ou
seja, a ação prescrita, isso leva a entender que não existe prescrição sem ter alguém como
destinatário e uma ação de comportamento a ser regulado.
Entretanto, há possibilidade que em uma mesma norma jurídica existam quatro
proposições, ou seja, tanto o sujeito/destinatário como a ação podem se apresentar sob forma
universal e singular, formando prescrições com destinatário universal, prescrições com
destinatário singular, prescrições com ação universal, e outra com ação singular. O exemplo de
normas com destinatário universal pode ser interpretado no caput do artigo 5º da Constituição
Federal, “Todos são iguais [...]”. Bem como um exemplo de normas com destinatário singular,
se dá quando o juiz manda o réu juntar documentos num processo, pois a relativa norma se
dirige a ele apenas.
Ademais, as normas com ação universal têm como exemplo o artigo 1634 do Código
Civil: “Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício
do poder familiar, que consiste em [...]”, observa-se que a ação não se exaure, pois, o poder de
família se prolonga no tempo, preservando-se em todas as situações que surgirem. No que se
refere ao exemplo da norma de ação singular, este, é o mesmo usado para exemplificar o de
destinatário singular, o que muda é a fundamentação, pois uma vez que a norma é cumprida e
a documentação exigida pelo juiz é providenciada pelo réu, ela perde sua eficácia, pois foi
consumada.
Diante de alguns termos utilizados, tais como: generalidade e abstração, surgem
questionamentos, pois esta doutrina não esclarece os mesmos como sinônimos ou se possuem
significados diferentes. Porém, percebe-se que é mais satisfatório chamar as normais “gerais”
aquelas que são universais em relação aos destinatários, e “abstratas” aquelas universais em
relação a ação. Então, as normas gerais se dirigem a uma classe de pessoas; se contrapondo a
normas que possuem como destinatário um indivíduo singular, e por isso chamam-se de normas
individuais. De outro modo, as normas abstratas regulam uma ação-tipo, ou mesmo uma classe
de ações, se contrapondo às que regulam uma ação singular, e dessa forma, definem- se normas
concretas, e, portanto, estes termos estão interligados.
Dessa forma, a abordagem da generalidade e abstração são requisitos essenciais da
norma jurídica, para o autor, entende-se mais como uma questão ideológica e não lógica,
chegando à conclusão que são requisitos da norma justa e nem tanto da norma jurídica. Em
relação a prescrição geral o que se tende a buscar é a igualdade, que a norma se dirija a todos
os indivíduos da mesma forma. Em relação a prescrição abstrata, esta busca a certeza, ou seja,
o que recairá sobre um comportamento através dos efeitos de uma norma do ordenamento.
“Assim como a generalidade da norma é a garantia da igualdade, a abstração é a garantia da
certeza. ” (p.182, 183).
Dessa forma, a abordagem da generalidade e abstração são requisitos essenciais da
norma jurídica, para o autor, entende-se mais como uma questão ideológica e não lógica,
chegando à conclusão que são requisitos da norma justa e nem tanto da norma jurídica. Em
relação a prescrição geral o que se tende a buscar é a igualdade, que a norma se dirija a todos
os indivíduos da mesma forma. Em relação a prescrição abstrata, esta busca a certeza, ou seja,
o que recairá sobre um comportamento através dos efeitos de uma norma do ordenamento.
“Assim como a generalidade da norma é a garantia da igualdade, a abstração é a garantia da
certeza. ” (p.182, 183).

Por fim, agrupando os requisitos apresentados conclui-se que as normas jurídicas podem ser de
quatro tipos:
1. Normas gerais e abstratas: (a maior parte das leis é desse tipo).
2. Normas gerais e concretas: Ex: Uma lei que preveja um plebiscito único numa
determinada data.
3. Normas individuais e abstratas: Ex: uma lei que atribui um cargo a um indivíduo.
4. Normas individuais e concretas. Ex: sentença judicial.
Posteriormente, é apontada outra distinção clássica: entre as normas afirmativas e as
normas negativas, que são basicamente uma distinção tradicional da lógica clássica, podendo,
estas, serem utilizadas por meio de respectivas proposições que podem obter diversas outras
proposições distintas com o uso do termo “não”. Logo, toda proposição estabelecida pelo
homem tem por consequência sua contrária, que se identifica por um oposto com menor força
do não é a sua contraditória, que possui uma força um pouco maior que as demais.
Em vista disso, duas proposições são contrárias quando não podem ser ambas
verdadeiras, nem ambas falsas, podendo ser subalternas, que consiste na dedução da verdade
ou falsidade de uma através da outra. E nos casos de incompatibilidade, há então, dois
contraditórios. Com uma relação de alternativa entre duas normas subcontrárias, haverá uma
relação de disjunção e, consequentemente, entre a norma que for subordinada e a que for
subordinante, existirá uma relação de subtendidos entre elas. Logo, percebe-se que, entre uma
obrigação e uma permissão, se perfaz uma diferença entre duas negações, sendo as perspectivas
afirmativas referentes aos comandos e as negativas consistem nas proibições, formando uma
contradição mutuamente.
Então, a obra esclarece uma terceira distinção: entre normas categóricas e hipotéticas.
A norma categórica é aquela que estabelece uma determinada ação que deve ser realizada,
enquanto a norma hipotética é aquela que estabelece que uma determinada ação deve ser
realizada com determinada condição. É posto pelo autor que todas as normas reforçadas por
sanções podem ser formuladas com preposições hipotéticas, assim, a aceitação ou rejeição das
consequências podem ser atribuídas pela norma sancionadora como uma condição para que se
cumpra a obrigação imposta pela norma fundamental. Destarte, quanto as normas hipotéticas,
é valido ressaltar que podem ser divididas em instrumentais e finais. As instrumentais têm sua
ação como um meio para cumprir um objetivo e as denominadas normas finais, possuem sua
ação como um propósito de finalização.
Por desfecho, a obra demonstra que as normas jurídicas se distinguem em quatro
modelos: normas universais e normas singulares, a primeira referindo-se às proposições em que
o sujeito representa uma classe composta por vários membros e a segunda são aquelas em que
o sujeito representa o sujeito singular; generalidades e abstração, na qual norma geral são
normas que se dirige a uma classe de pessoas, e abstratas são aquelas que regulam um tipo de
ação ou ações. Além das normas afirmativas e negativas, em que se adquire outra com as
variáveis do termo “não”. Bem como as normas categóricas e hipotéticas, onde a categórica é
uma determinada ação que deve ser cumprida não havendo condição enquanto a hipotética é
uma determinada ação que deve ser cumprida existindo certa condição.
Sendo assim, observamos a construção da Teoria Geral do Direito por Bobbio, através
principalmente, de duas obras: Teoria da Norma jurídica e Teoria do Ordenamento Jurídico.
Enquanto a segunda obra estuda o conjunto de normas que constituem o ordenamento jurídico,
a primeira estuda de forma mais restrita a norma jurídica. Sob essa perspectiva, elucidamos as
questões tratadas por Bobbio nessa obra e entendemos a partir do ponto de vista científico a
grande relevância que o autor italiano apresenta ao mundo jurídico.
Por fim, percebemos que na obra em questão, Teoria da norma jurídica, o autor faz uma
exposição e explanação acerca das teorias que trazem explicações sobre o conceito do direito,
não obstante a isso, faz uma crítica, chegando a concluir que as teorias se integram, porém, a
teoria normativa pressupõe as demais no que diz respeito a representar pressuposto de validação
para as demais.
Por conseguinte, Bobbio trabalha com três formas de valorar a norma jurídica, com base
em três critérios diferentes, que levam em consideração a investigação do objeto com base no
viés adotado, mostrando os diferentes caminhos de análise. Tais quais: 1) quando a norma é
vista pelo aspecto do justo, que tem como consequência a identificação do fim e do valor; 2)
quando a norma é vista pelos pressupostos da validade; e 3) sobre o aspecto da eficácia, quando
ele questiona se a investigação se preocupa com a eficácia da norma.
Tais normas, como vimos de forma mais abrangente no presente estudo, são conteúdos
das regras, os modos de condutas dados por cada sociedade, relacionado de forma estrita com
os grupos sociais existentes, vemos, então, claramente uma junção científica entre um estudo
social e jurídico.
Na construção da análise crítica das temáticas em sua obra, o desenvolvimento do
raciocínio de Norberto Bobbio caracteriza-se afastando teorias e concepções que se encontram
opostas ao que ele tece em defesa em sua obra, tendo em vista que na medida que ele se distância
das ideias opostas, Bobbio apresenta a sua opinião a cerca de cada questão discutida e analisada.
Destarte, é possível ratificar a imperiosidade da teoria do ordenamento jurídico tecido
por Bobbio para o campo do estudo do direito, visto não somente a importância que as
concepções existentes em sua obra ainda repercutem e são estudas nas mais variadas instituições
jurídicas criadas, mas também pela capacidade que o entendimento das normas possibilitou o
estudo do processo de elaboração do Direito e a profunda análise das consequências do
comportamento humano e sua repercussão nas relações dos tecidos socias.
Por fim, encerramos a presente resenha reiterando a necessidade e importância do estudo
abordado por Bobbio, no que é considerado uma das obras mais importantes, de pesquisa jus
filosófica, escritas no século XX. Além de evidenciar um momento da evolução do pensamento
do autor, também proporciona um aprofundamento nos estudos jurídicos na medida em que,
evidencia aspectos da experiência jurídica, despertando tanto a compreensão sobre teorias do
passado, quanto o questionamento e vislumbre do Direito no presente e um futuro possível e
não distante.

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