CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO DISCIPLINA: FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA PROFESSOR(A): ESTHER MARIA DE SÁ CASTELO BRANCO ALUNA: ANA CLARA SOARES DE SOUSA
RESUMO CRÍTICO: ‘’ POSITIVISMO JURÍDICO’’
Norberto Bobbio
Teresina-PI Agosto/2022 Leitura e resumo crítico do texto Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito.
Aluno(a): Ana Clara Soares De Sousa
Um dos grandes pensadores do século XX, um intelectual atemporal italiano, Norberto
Bobbio, nasceu em Turim, Itália, no dia 18 de outubro de 1909. Bobbio viveu 94 anos, construiu uma carreira de sucesso e foi reconhecido em diversos países deixando um grande legado acadêmico, graduou-se em Direito e se licenciou em Filosofia do Direito pela Universidade de Turim. O italiano também foi um ativista político, unindo-se ao movimento da Resistência de grupos liberais e socialistas que buscavam combater o fascismo e chegou até mesmo ser preso em duas ocasiões distintas por motivos políticos. Em 1984, Bobbio foi considerado senador vitalício da Itália, nomeação esta entregue pelo então presidente Sandro Pertini. Em 9 de janeiro de 2004, Norberto Bobbio faleceu por influência de problemas respiratórios e cardíacos, mas as suas heranças sociais e intelectuais perduram até a contemporaneidade. A obra ‘’ Positivismo Jurídico’’, explicita, inicialmente em sua introdução, as distinções entre o direito positivo (sujeito a sofrer variações com o tempo, realista e substancialmente pragmático) e o direito natural (possui eficácia em todos os lugares e tempo, idealista e metafísico) nos pensamentos clássico, medieval, e dos jusnaturalistas, avaliando todos os critérios utilizados para a divisão. O exemplar não traz o positivismo no seu sentido filosófico, como comumente é abordado, apesar da intrínseca relação histórica. O termo ‘’ positivismo jurídico’’ oriunda-se do direito positivo, rodeado por uma justiça imanente e temporal, conhecido por sua contrariedade ao direito natural, diferenciando aquilo que é por natureza do que é por convenção. Desse modo, para um dos maiores clássicos da filosofia antiga racionalista, Platão, o termo ‘’ positivo’’ refere-se à justiça, tratando das leis naturais que constituem e regem o universo, e não de leis que regulam a vida social dos indivíduos que a ela pertencem, conhecida como justiça positiva. Porém, na percepção do filósofo grego empirista, Aristóteles, o direito positivo é abordado como ‘’ direito legal’’, utilizando-se de dois critérios cruciais para distinguir tais direitos: no primeiro critério, o filósofo afirma que, para ele, o direito natural possui a sua eficácia proporcionalmente em todos os locais, diferente do direito positivo que tem a sua eficácia restrita. O segundo critério estabelece o direito natural, o qual é transcendente e atemporal, como algo que existe de forma autônoma do querer dos indivíduos, sem levar em conta se é bom ou mau no parecer das mais variadas concepções sociais, já o direito positivo é desempenhado de acordo com o que está prescrito na lei, independentemente de ser algo que abomine uma conduta pessoal, sendo obrigatório e correto perante o ordenamento jurídico. Desse modo, as instituições pertencentes ao direito romano realizam a separação dos conceitos em jus gentium, correspondente ao termo de direito natural, posto pelo naturalis ratio; jus civile, correspondente ao direito positivo, sendo limitado a um único povo; e jus naturale que não se aplica na discussão por ser composto por leis que são aplicáveis a todo mundo, um direito concedido pela natureza. Atrelando a perspectiva anterior relacionada ao direito natural e positivo no pensamento clássico, migra-se para o cenário medieval, tendo o filósofo francês Pedro Abelardo como o primeiro a utilizar o termo jus positivum, atribuindo ao direito positivo a característica de ser posto exclusivamente pelos homens, diferentemente do direito natural que necessita de algo além do próprio homem, uma afirmação superior. Bobbio também ocupa-se em estudar as fontes do direito, explicitando que são fontes do direito aqueles fatos ou atos aos quais um determinado ordenamento jurídico atribui a competência ou a capacidade de produzir normas jurídicas. Uma norma só existe juridicamente caso ela seja produzida por uma fonte autorizada, ou seja, a doutrina juspositivista das fontes é baseada no princípio da prevalência de uma determinada a fonte do direito (a lei, a principal fonte do direito) sobre todas as outras. Entretanto, para que essa conjuntura torne-se real, é necessário que duas condições sejam estabelecidas: primeiramente, em um dado ordenamento jurídico faz-se de extrema relevância a existência de várias fontes, e que elas não estejam presentes em um mesmo plano. Essa intrínseca correlação de subordinação possui o seu embasamento em um processo de recepção quando é existente um fato social o qual precede o Estado, ou qualquer forma independente que produza regras de conduta reconhecidas pelo podes estatal; ou por intermédio de um processo de delegação. Logo, o costume, que também é considerado uma fonte do direito, mesmo que com uma força minimizada na contemporaneidade, possui sua importância no processo histórico que leva ao predomínio da lei sobre as demais fontes do direito. Por sua vez, o processo do poder judiciário como fonte do direito é em sua totalidade análoga à do costume, pois na historicidade de formação do Estado Moderno, o juiz perde a sua privilegiada posição que anteriormente detinha de principal fonte de produção de um direito que posteriormente seria um órgão estatal subordinado ao Poder Legislativo e responsável de aplicar fielmente as normas estabelecidas pelo mesmo. As diversas tentativas de definir a noção de natureza das coisas sem se pôr no plano inclinado que conduz às soluções do direito natural, quando é realizada, leva a resultados ínfimos. Diferentemente no quesito da equidade que a decisão se funda em uma valoração subjetiva do juiz, e no caso da natureza das coisas explicita que a solução é extraída do próprio fato que se deve regular, já que ele possuiria em si mesmo a disciplina necessária. Por outra vertente, Bobbio traz à tona a teoria do ordenamento jurídico, a qual encontra a sua principal expressão no pensamento de Hans Kelsen. O pensamento jurídico formulado, antes do desenvolvimento da teoria em questão, possuía escassez do estudo do direito considerado como entidade unitária constituída pelo conjunto sistemático de todas as normas vigentes, e não uma espécie de norma singular ou um acervo. Dessa forma, três características primordiais foram atribuídas como base para dar unidade a um conjunto de normas jurídicas: a unidade (para o jusnaturalismo, é relativa ao conteúdo das normas, trata-se de uma unidade material ou substancial. Já para o positivismo, é relativa ao modo de como as normas são postas, trata-se de uma unidade formal), a coerência e a completitude. A divergência, quanto a unidade para o jusnaturalismo e positivismo, segundo Hans Kelsen, é norteada por existir dois tipos de ordenamentos jurídicos diferentes: o dinâmico, que é o direito concebido de forma positiva, e o estático, que é pertencente a moral e o direito jusnaturalistas. Francesco Carnelutti , em sua Teoria Geral do Direito, expressa a relação existente entre completude do ordenamento e coerência, enfatizando que o direito pode apresentar dois vícios: um vício por deficiência (integração do próprio ordenamento) quando há a presença de lacuna, com uma norma a menos e um vício por exuberância quando há uma exacerbação de normas (purgação do ordenamento jurídico). Ademais, o princípio norteado pelas bases do positivismo jurídico consiste em inadmitir antinomias que possam ameaçar a coerência presente no ordenamento jurídico e provocar o estabelecimento de normas convergentes entre si. Tal princípio apresentado anteriormente, é assegurado por uma norma segundo a qual duas normas que sofrem incompatibilidade não podem ser ambas válidas, apenas uma poderá compor o referido ordenamento. Três critérios foram formulados para a resolução dos imbróglios em pauta, os quais encontram embasamento no direito positivo: o critério da especialidade, o critério hierárquico e o critério cronológico. Assim, das demasiadas características que norteiam a teoria do ordenamento jurídico, a da completitude é a mais importante, por ser interligada ao princípio da certeza do direito (ideologia fundamental deste movimento jurídico, conciliadora de outros dois temas juspositivista fundamentais). Além disso, a natureza cognoscitiva da jurisprudência dá início à controvérsia entre o juspositivismo (a natureza consiste em uma atividade puramente declarativa ou reprodutiva de um direito já existente anteriormente) e seus adversários (para eles, a natureza cognoscitiva consiste numa atividade também produtiva ou criativa, só que pertencente a um novo direito). Segundo Bobbio, para realizar a reconstrução expressa em lei por um determinado legislador, o positivismo jurídico se serve, especialmente, de quatro expedientes, de certa formas hermenêuticos, que são: meio léxico (ou meio gramatical), meio teológico (ou interpretação lógica), meio histórico e meio sistemático. Outrossim, o juspositivismo entende a ciência jurídica como uma ciência dedutiva e construtiva, também conhecida por dogmática do direito, consistindo na formação de conceitos jurídicos indispensáveis, extraídos da base do próprio ordenamento jurídico, sendo todos sujeitos a revisão. A partir da análise de tais conceitos, o jurista, por intermédio de uma pura operação de dedução lógica, deve extrair as normas que posteriormente servirão para solucionar os casos possíveis e necessários. Analisando o pensamento anterior e relacionando com os primórdios da formação sociocultural humana e a contemporaneidade, conclui-se que a concepção juspositivista da ciência jurídica sofreu e vem sofrendo considerável declínio no século atual. Hoje o movimento de discernimento que diz respeito ao realismo jurídico tende a conceber como afazer da jurisprudência extrair do estudo de uma determinada realidade proposições empíricas verídicas, que permitam a formulação de previsões acerca de comportamentos humanos que podem ser pressagiados. Caminhando para a finalização da célebre obra de Norberto Bobbio, em seu último capítulo, o qual aborda o positivismo jurídico como ideologia do direito, o autor realiza uma breve recapitulação do primeiro capítulo do exemplar, afirmando que assumir uma posição neutra frente ao direito é uma ambição do positivismo jurídico para que o seu estudo seja efetivamente como é, e não como deveria ser na concepção individual de cada pessoa, uma espécie de ideologia adaptável. Pode-se inferir que o positivismo jurídico não obteve o resultado almejado em ser inteiramente fiel ao seu propósito, já que ele é entendido não somente como uma teoria, mas também como uma ideologia. Os diversos comentaristas e críticos levantam a hipótese de dois diferentes aspectos: inicialmente, a jurisprudência sociológica critica os seus aspectos teóricos por não se atentar de forma realista às efetividades do direito; por outro lado, a corrente do jusnaturalismo crítica os aspectos ideológicos do juspositivismo, pois dele derivariam inúmeras consequências negativas e práticas funestas, como o exemplo de uma das causas dos regimes totalitários europeus, especialmente quando trata-se do nazismo alemão. Bem como, Bobbio apresenta o seu pensamento pessoal, enfatizando que uma considerável parcela das críticas expostas pelos antipositivistas são embasadas apenas pelo viés extremista e não pelo moderado, o que corrobora para que, em todo o decorrer da história, não seja possível encontrar um acordo perene entre positivismo jurídico e positivismo ético extremista. Assim sendo, conclui-se que o positivismo jurídico possui diversas vertentes, entretanto nem todas podem nos parecer válidas, pois o senso crítico deve ser despertado para que as concepções sejam viáveis ao contexto. Dessa forma, Bobbio utiliza-se de um completo aparato histórico para fundamentar as suas concepções acerca do mundo jurídico, considerando todos os fatores externos, temporais, sociais e culturais da época.