Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A filosofia vai além da ciência, ou melhor, chega onde a ciência não ousa.
No universo da ciência, ou sociologia jurídica, o Direito surge como fato, não como
valor, será considerado como um conjunto de fatos, de fenômenos ou de dados sociais em
tudo análogos àqueles do mundo natural.
O jurista, portanto, deve estudar o direito do mesmo modo que o cientista estuda a
realidade, isto é, abstendo-se absolutamente de formular juízos de valor.
O estudo científico do Direito é uma tentativa de compreender e descrever o fenômeno
jurídico, assim como o estudo científico da Física é uma tentativa de compreender e
descrever o fenômeno da gravitação universal;
Neste sentido, o elemento preponderante dele é a norma jurídica que, para ser tal,
necessita prescrever, sancionar e ser oriunda do Estado,diferenciando-
sedeoutrasquenãotêmestaúltimacaracterística.
Já em relação à Teoria Geral do Direito, poder-se-ia afirmar que seu objeto é o mesmo
da Filosofia do Direito e da Sociologia Jurídica, que é o olhar da ciência sobre o fenômeno
jurídico, circunscrito ou limitado, por assim dizer, pelo Direito positivado.
Como estudo reflexivo, que aspira à compreensão do Direito dentro de uma visão
harmônica da realidade, a Filosofia Jurídica dispõe de um plano temário de análise que se
divide em dois grandes planos de reflexão:
A pesquisa pode situar-se no plano de lege lata (nos moldes da Lei), com a crítica ao
Direito vigente, ou no de lege ferenda (da Lei a ser criada), em um ensaio do Direito ideal a
ser criado.
Esta segunda parte está mais ligada aos imperativos da vida social e visa ao
enriquecimento da Ciência do Direito, pois julga os critérios da lei em função dos valores
humanos esociais.
Ademais, alguns autores também apontam como parte do objeto, a pesquisa histórica,
que teria a missão de averiguar os fatores determinantes da elaboração do Direito e o seu
desenvolvimento.
Conceito do Direito
Direito e Moral
O Direito se distingue dos demais instrumentos de controle social sob vários aspectos;
em primeiro lugar, apenas irá subordinar-se ao comando estatal.
Embora nem todas as normas jurídicas sejam criadas pelo Estado, haja vista as de
procedência consuetudinária, o fato é que ele exerce o controle do Direito, definindo-lhe o
sistema, além de promulgar leis.
As normas jurídicas, tanto quanto as demais espécies, impõem deveres, mas apenas
elas possuem estrutura imperativo-atributiva.
Quem desrespeita a norma moral ou a uma regra de trato social não pode ser
compelido autarquicamente a promover reparações.
A norma moral não é sancionada nem promulgada, pois essas são características de
normas estatais que se regulamentam dentro de um procedimento formal, complexo e rígido,
com o qual se dá publicidade aos mandamentos jurídicos.
Entre o direito positivo e o direito natural há notáveis diferenças. Uma delas diz
respeito à origem de ambos: enquanto o direito positivo tem sua origem no estado, o direito
natural emana da natureza espiritual do homem.
Assim definido, o Direito reúne três elementos primordiais: fato, valor enorma.
Ademais, devemos saber que a lei positiva tem sempre a possibilidade de ser injusta,
bastando para tanto, que seja elaborada em desacordo ou contrariando os princípios
superiores de direito natural.
Diferenças entre o Direito Positivo e o Direito Natural:
- Natural: Tem origem na natureza humana; é a-histórico, eterno, absoluto e imutável; nunca
pode ser coativo; jamais pode ser injusto; só pode ser conhecido através de um
contatobilateral.
Direito e Valor
O ato de viver implica em valorar; estabelecendo planos de vida, o homem atribui valor
às coisas, na medida em que, por suas prioridades, satisfaçam aos seus interesses.
Além de realizar valores, o Direito dispõe sobre valores, isto porque ao disciplinar as
relações de convivência procura exercer a proteção dos bens que possuem significado para
o ser racional.
O Direito é, simultaneamente, fato, valor e norma; ele, portanto, não é só valor, como
no direito natural, não é só fato, como para os marxistas, e não é apenas norma.
A distinção é que o direito natural emerge de fatos que são codificados em normas
pela sociedade, como expressão de algo natural ao homem, ao passo que o direito positivo
é a própria norma escrita por um ato de deliberação livre da vontade racional do legislador.
Kelsen identifica o Estado com o Direito positivo; onde há Estado, há direito positivo,
e onde há direito positivo há Estado.
Todo Estado, portanto, é Estado de Direito, a Teoria Pura não exclui regimes
autocráticos do seu escopo de estudos ereflexões.
Para Kelsen, a norma válida é aquela criada segundo procedimento anterior e que
passa a ser aplicada e obedecida pelos indivíduos no plano empírico.
Kelsen não possui uma teoria como Reale e Luhmann, que permita pensar a
transformação do direito em sua conexão com a sociedade.
Para ele, o direito se explica com recurso a ele mesmo; sendo, portanto, plenamente
autônomo.
Kant, em sua obra Kritik der Sitten, havia observado que “A produção, em um ser racional, da
capacidade de escolher os próprios fins em geral e, consequentemente, de ser livre, deve-se à
cultura.”
O problema crucial, segundo Reale, é a questão de que o Direito sempre foi visto ou analisado
sob enfoque unilateral, priorizando-se apenas um dos aspectos supracitados.
Reale critica que no decorrer da Era Contemporânea o Direito ora era restringido às normas
outorgadas pelo Estado como pensavam os positivistas na linha de Kelsen ou como fenômeno social,
na corrente historicista e sociológica, na qual o fenômeno jurídico era fruto das relações sociais ou do
espírito cultural de determinada época.
A teoria tridimensional rebate esses enfoques unilaterais.
Para Reale, o Direito não é apenas a norma ou a letra da lei, é muito mais do que a mera
vontade do Estado ou do povo, é o reflexo de um ambiente cultural de determinado lugar e época,
em que os três aspectos (fático, axiológico e normativo) se entrelaçam e se influenciam mutuamente
numa relação dialética na estrutura histórica, o que nos faz lembrar um pouco de Hegel.
Nesse sentido, Reale também rebate qualquer tipo de idealismo que faz do Direito um corpo
abstrato de teorias, geralmente omissos em relação à sua realidade sócio-cultural.
Em suma, nas palavras do jusfilósofo brasileiro: “Direito não é só norma, como quer Kelsen,
Direito, não é só fato como rezam os marxistas ou os economistas do Direito, porque Direito não é
economia.
Direito não é produção econômica, mas envolve a produção econômica e nela interfere; o
Direito não é principalmente valor, como pensam os adeptos do Direito Natural tomista, por exemplo,
porque o Direito ao mesmo tempo é norma, é fato e évalor”.
Como processo dialético, o Direito para Reale não é algo acabado, está sempre em formação.
Apesar desse historicismo, a teoria de Reale não pode ser considerada relativista como muitos
podem pensar a princípio.
Fundada na própria condição humana o Direito tem como fator essencial a liberdade com
todas suas nuances e aventuras, aos moldes de Ortega y Gasset.
O grande mérito de Miguel Reale para a Filosofia do Direito é o saber tratar o fenômeno
jurídico como parte do fenômeno cultural, alicerçado na própria postura humana, no vir a ser histórico,
ciente de que as epistemologias da Fenomenologia e da Axiologia possam contribuir sobremaneira
para o estudo mais acurado do fenômeno normativo, ao invés das visões unilaterais ainda
predominantes no pensamento jurídico contemporâneo.
A partir daí, o magistrado poderá ampliar sua visão e contemplar o mundo por trás da letra da
lei.
Dignidade da Pessoa Humana - Pensamento de Kant
Kant foi o primeiro teórico a reconhecer que ao homem não se pode atribuir valor
(assim entendido como preço), justamente na medida em que deve ser considerado como
um fim em si mesmo e em função da sua autonomia enquanto ser racional.
O sistema internacional de proteção dos direitos humanos nada mais é do que uma
tentativa de restauração do paradigma da modernidade jurídica diante da irrupção do
fenômeno totalitário.
Para Kant, a dignidade é o valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço,
ou seja, não é passível de ser substituído por um equivalente.
Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto
entes morais: na medida em que exercem de forma autônoma a sua razão prática, os seres
humanos constroem distintas personalidades humanas, cada uma delas absolutamente
individual e insubstituível.
Assim, segundo ele, a moral procede apenas da ‘voz interior’ de cada qual e não
de um mandamento exterior, enquanto o direito é uma regra de vida traçada e aplicada sob
a coerção social.
Do mesmo modo, para Kant, o direito se interessaria apenas pelas ações, pelo
‘foro exterior’, e não pelos móbeis que as inspiram, ao passo que a moral só se concentraria
nas intenções e nos motivos do homem, em seu ‘foro interior’ e não em suas ações.
Porém, no mesmo ato jurídico, o motivo de agir pode ser, além do motivo moral
de cumprir o dever, o da aversão à sanção, seja ela pena corporal ou pecuniária.
Mas, nesta hipótese, deve-se pressupor uma lei natural, de ordem ética, que
justifique a autoridade do legislador, ou seja, o seu direito de obrigar outrem por simples
decisão de sua vontade.
Tal lei natural, que é o princípio de todo direito, deriva da liberdade humana,
reconhecida por intermédio do imperativo moral categórico.
Serve a sua análise, pois, à revisão das bases teóricas do princípio da dignidade
da pessoa humana, tendo por premissa o sempre oportuno reconhecimento da primazia do
ser humano para o universo jurídico, como acentua MIGUEL REALE, ao dizer que “a pessoa
humana é o valor-fonte de todos os valores.
Kant dizia: "Sê uma pessoa e respeita os demais como pessoas", dando ao
mandamento a força de um imperativo categórico, de máxima fundamental de sua Ética,
estava reconhecendo na pessoa o valor por excelência.