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Introdução

Tradicionalmente as doutrinas “Jusnaturalismo” – Direito Natural e “Positivismo


Jurídico” – Direito Positivo, sempre foram concebidas como opostas, ou seja, ou estão certos os
argumentos da escola positivista, ou estão corretas as concepções jusnaturalistas. Apesar desta
visão ortodoxa, que as considera teorias inconciliáveis, verdadeiras aporias, alguns doutrinadores
conseguem nelas enxergar, pelo menos, alguns pontos de contacto ou complementação; isto na
medida em que alguns princípios, não positivados e mais próximos da natureza, tornam-se
necessários para o exercício da função jurisdicional. E é com base no acatamento desses
princípios que o Direito Natural pretende constituir um critério de avaliação do Direito Positivo,
arrimando-se na ideia do justo.

O presente trabalho tem a finalidade de analisar o direito natural, de forma a transparecer


o seu conceito, fundamentos e pensadores. Fazer considerações sobre a sua concepção, o que se
entende a seu respeito, movimentos que antecederam, defensores exponenciais, os pontos
fundamentais que foram divulgados e por fim se fazer considerações, para melhor compreensão
do estudo.

1. Objectivo Geral
Analisar as perspectivas doutrinárias do Direito Natural ou Corrente Jusnaturalista.

1.1. Objectivos Específicos


 Conceituar o Direito Natural;
 Apresentar os pressupostos e fundamentos do Direito Natural e Positivo;
 Fazer uma abordagem histórica sobre a evolução do Direito Natural;
 Descrever a importância do Direito Natural.

1.2. Metodologia de Pesquisa


A Metodologia usada para o desenvolvimento do presente tema foi a seguinte: Quanto ao meio
de pesquisa socorremo-nos na pesquisa bibliográfica que consistiu no uso de material publicado
em livros, redes electrónicas, artigos científicos, isto é, material acessível ao público em geral
que abordasse sobre o Direito Natural e Positivo. Quanto aos objectivos, teve um carácter
exploratório em torno do Direito Natural o que permitiu maior familiaridade com o tema.

Direito Natural
2. Conceito do Direito Natural e Direito Positivo
Direito Natural é um conjunto de normas e ideias universalmente válidas, que ocupam
posição de supremacia em relação ao direito positivo que se opõe pela natureza humana e que a
nossa razão é capaz de descobrir pela observação e análise dessa mesma natureza. Trata-se ,
portanto , de um sistema de normas que independe do direito positivo, ou seja, independe das
variações do ordenamento da vida social ( costumes, credos, religiões ) que se originam no
Estado e por influencia deste.

Hobbes procurar conceituar o direito natural concebendo-o como “a liberdade que cada
homem tem de usar livremente o próprio poder para a conservação da vida e, portanto,
para fazer tudo aquilo que o juízo e a razão considerem como os meios idóneos para a
consecução desse fim” (Leviatã, parte 1ª, cap. XIV)

Direito natural nasce a partir do momento que surge o Homem, aparece, portanto, naturalmente
para regular a vida humana em sociedade.

O direito positivo, assim criado, é fruto da vontade soberana da sociedade, que deve impor a
todos os cidadãos normas voltadas para a assegurar às relações interpessoais a ordem e a
estabilidade necessárias para a construção de uma sociedade justa. Dessa forma, a vontade do
soberano contribui para a efectivação da justiça, de tal forma que ela deve ser observada sempre
que não colidir com os mandamentos do direito natural, pois ele é a fonte da sua legitimidade.

O conceito de direito positivo não deve ser limitado ao direito escrito nem ao legislado. O que
torna positiva uma norma não é o fato de ela ser fruto da actividade legislativa, pois essa
actividade gera apenas as leis, que as regras jurídicas caracterizada por serem impostas pela
autoridade política. Porém, são igualmente positivos os costumes e os contractos, pois ambos são
formas de criação histórica do direito, a partir do exercício do poder normativo social.

2.1. Pressupostos e Fundamentos do Direito Natural e Direito Positivo


Segundo Sabadell (2002), no desenvolvimento da história do Direito, apareceram
diversas escolas jurídicas como produto resultante de épocas e culturas jurídicas específicas. Tal
fato não implica que para cada época vivida corresponda uma determinada escola jurídica; ao
invés, quando se detêm na análise de um particular período histórico, confrontar-se-á, muitas

Direito Natural
vezes, com a existência paralela de teorias que abordam o Direito sob tendências variadas,
inclusive como antinómicas.
Por “escola jurídica” entende-se um grupo de autores que compartem determinada visão sobre a
função do direito, sobre os critérios de validade e as regras de interpretação das normas jurídicas
e, finalmente, sobre os conteúdos que o direito deveria ter. Em outras palavras, cada escola
jurídica oferece uma resposta diferente a três questões: “o que é”, “como funciona” e “como
deveria ser configurado” o direito. (SABADELL, 2002,p.21).

Conforme Gouveia (1998), principalmente a partir de fins do século XVIII, a explicação acerca
da natureza do Direito apresentava-se dividida em duas correntes (escolas) doutrinárias, a do
Direito Natural e a do Direito Positivo, que não são consideradas diferentes em relação à sua
qualidade ou qualificação, mas sim com relação ao seu grau, na medida em que uma corrente do
Direito é considerada superior à outra (como pressuposto de fundamentação ou validação), isto é,
sendo postas em planos diferentes.

Estas duas escolas jurídicas eram representadas pelas teorias: Jusnaturalistas (Direito Natural),
ou moralista segundo Sabadell (2002), e Juspositivistas (Direito Positivo).
A primeira fundamenta o Direito baseado numa autoridade específica (Deus, a natureza, a razão
humana) a qual não possui um aspecto histórico e nem é um produto político. Segundo esta
teoria o Direito é imutável, estável e permanente, é natural. Este Direito Natural tem validade em
si mesmo, legitimado por uma ética superior estabelecendo limites à própria norma estatal. Desta
forma, consoante Sabadell (2002, p. 24): “ [...], o direito natural é, ao mesmo tempo, anterior à
criação da sociedade e das instituições políticas e superior ao direito escrito, estabelecido por
cada sociedade”.

Enfim, conforme Wolkmer (1989, p.124), o Jusnaturalismo, que reivindica a existência


de uma lei natural, eterna e imutável, distinta do sistema normativo fixado por um poder
institucionalizado (Direito Positivo), engloba as mais amplas manifestações do idealismo que se
traduzem na crença de um preceito superior advindo da vontade divina, da ordem natural das
coisas, do instinto social, ou mesmo da consciência e da razão do homem.

Direito Natural
A segunda escola afirma que a fundamentação do Direito está em considerá-lo como um
produto histórico de uma específica sociedade, resultado de uma vontade política. Ela entende
que o Direito é a norma, ato emanado do Estado com carácter imperativo e força coactiva. Assim
sendo, “O Direito é explicado pela sua própria materialidade coercitiva e concreta. Toda a sua
validade e imputação fundamentam-se na própria existência de uma organização normativa e
hierarquizada (Direito Positivo) ”. (WOLKMER, 1989, p. 127).

2.2. Evolução Histórica do Direito Natural e seus Fundamentos

Direito Natural (em latim ius naturali) ou Jusnaturalismo é uma teoria que postula a
existência de um direito cujo conteúdo é estabelecido pela natureza e, portanto, valido em
qualquer lugar. O uso do direito natural, em suas sucessivas encarnações, variou
consideravelmente ao logo da historia. Há diversas teorias do direito natural, que divergem
quanto ao papel da moral na determinação da autoridade das normas legais.

O Direito Natural surge antes de mais nada pela necessidade de cada homem pautar nas
suas relações com os outros homens, seguindo determinadas normas antecipadamente
conhecidas de todos os membros da sociedade.

O homem é por natureza um ser social, o que significa que dada a sua natureza não lhe é possível
viver sem desenvolver permanentemente as suas potencialidades, realizar-se como homem se
não entrar em colaboração com os seus semelhantes.

Alguns autores, como Wolkmer (1989), consideram o Jusnaturalismo, no que tange à tradição do
pensamento jurídico-filosófico ocidental, como a principal tendência idealista verificada.
Para os componentes desta escola jurídica, existe um direito pré-determinado por leis que
controlam a existência humana. Tais leis, componentes do Direito Natural, que disciplinam e
fundamentam a existência do próprio Direito positivado, são os “ valores, princípios, obrigações
e também as regras da própria natureza, que influenciam a vida do homem em sociedade”.
(SABADELL, 2002, p. 22).

Direito Natural
Esta lei natural é concebida pela crença de princípios superiores oriundos “ da vontade divina, da
ordem natural das coisas, do instinto social, ou mesmo da consciência e da razão do homem”.
(WOLKMER, 1989, p. 124).

2.2.1. Concepções Referentes a Origem do Direito Natural


A ideologia Jusnaturalista apresenta-se sob a forma de três concepções essenciais referentes à
origem das normas do Direito Natural, dependendo de qual ente procedam. São elas:
Cosmológica, Teológica e Antropológica.

Sinteticamente, a concepção Cosmológica atribui a génese da lei natural à própria natureza das
coisas, consubstancial à ordem cósmica; desta forma:

O Direito Natural clássico dos gregos compreende uma concepção essencialista ou


substancialista do Direito Natural: a natureza contém em si a sua própria lei, fonte da ordem, em
que se processam os movimentos dos corpos, ou em que se articulam os seus elementos
constitutivos essenciais. A ordem da natureza é permanente, constante e imutável. Trata-se da
concepção cosmológica da natureza, que marcou o pensamento grego pré-socrático, destacando-
se três pensadores - Anaximandro, Parménides e Heráclito. (TEIXEIRA, 1990, p. 126).

A teoria Teológica, por sua vez, considera o Direito Natural como uma emanação divina; nesse
sentido:
O pensamento medieval e escolástico parte de um conceito teológico de natureza:
A natura não é só nem principalmente aquilo por que cada coisa tem um modo de ser próprio,
mas o modo de ser próprio de cada coisa enquanto criada por Deus. (TEIXEIRA, 1990, p. 124).

Já para a compreensão Antropológica, os preceitos do jusnaturalis são originados na própria


razão humana; assim sendo:
Deus deixa de ser visto como emanador das normas jurídicas e a natureza ocupa esse lugar, com
um adendo: não é a natureza que dá aos homens esse entendimento, mas é ele mesmo, por meio
da razão, que apreende esse conhecimento e o coloca em prática na sociedade. A partir de certos
princípios, procura-se construir, dedutivamente, rígidos e exaustivos sistemas de Direito Natural,
dotados de validade universal e perpétua. (BITTAR e ALMEIDA, 2001, p. 227).

Direito Natural
2.2.2. Jusnaturalismo na Escola do Direito Natural Racional

As alterações políticas, económicas e científicas, que marcaram a história humana a partir


do século XVI, como o desenvolvimento da economia capitalista e os avanços nas ciências
exactas e biológicas, através da utilização dos métodos experimentais, repercutiram fortemente
na cultura ocidental da época, sobretudo na Filosofia e no Direito. (SABADELL, 2002).

Tais transformações mudaram drasticamente o entendimento advindo da Escola Teológica sobre


o Direito Natural, pois, na sua fundamentação não mais se aceitavam os desígnios de Deus como
determinantes dos princípios imutáveis, estáveis e permanentes, componentes do Jusnaturalis,
mais sim a razão humana; esta compreendida como a capacidade de raciocinar, de avaliar e
meditar do homem. Assim, se para os gregos o Direito Natural é fundado na própria natureza
ordenada (concepção cosmológica), se para os filósofos medievais o Jusnaturalismo tem na razão
divina sua principal fonte (concepção teológica), para os iluministas, ou filósofos da Renascença,
o Direito Natural seria produto da própria razão humana (concepção antropológica). (LISBOA,
2002).

A esta doutrina que erigiu a razão humana, que não precisava ser justificada pela religião, como
único caminho correcto para se descobrir os fundamentos da lei natural, deu-se o nome de Escola
do Direito Natural Racional, constituindo-se em “um dos marcos da Idade Moderna e a base de
uma nova cultura laica, consolidada a partir do século XVII”. (BARROSO, 2001, p. 14).

Desta forma, para a Escola do Direito Natural Racional:

O direito constitui uma ordem preestabelecida, decorrente da natureza do homem e da sociedade.


O acesso ao direito não pode ser, porém, oferecido através de textos ou tradições “sagradas”,
como sustentava a escola teológica. O uso da razão humana é o único meio adequado para
descobrir os fundamentos da ordem natural. (SABADELL, 2002, p.27).

Direito Natural
Na doutrina racionalista do Direito Natural, ocorre a laicização da Ciência Jurídica através da
criação de uma metodologia própria, baseada na razão, em substituição aos métodos do
dogmatismo teológico.

Neste sentido:
O direito natural é uma luta contra o sistema medieval de estudo e ensino, de submissão à
tradição e aos costumes com a invocação do direito natural como arma de combate, justamente
contra o edifício jurídico institucional do Antigo Regime. Os juristas filósofos do direito natural
terão um papel ideológico relevante no processo revolucionário, porque justificarão a derrubada
da tradição medieval, incorporada seja nas instituições políticas, seja na regulação privada dos
negócios (contractos, propriedade, família e sucessões). (LOPES, 2000, p. 182).

Mas essa mudança na compreensão do Direito Natural processou-se de forma gradual, uma vez
que, para os doutrinadores dos séculos XVI e XVII, que embora defendessem a utilização
imprescindível da razão humana para chegar-se à fundamentação do Jusnaturalis, vinculavam-na
à religião em virtude de considerá-la um dom dado por Deus aos homens. Somente nos autores
do século XVIII, é que se percebe o distanciamento completo do pensamento teocrático.

Para que se possa observar a evolução do pensamento da Escola Jusnaturalista Racional,


necessário se faz analisar as ideias de três dos seus filósofos mais eminentes, que são: Hugo
Grócio, Gottfried Wilhelm Leibniz e Immanuel Kant, que se dedicaram ao exame do Direito.
Os dois primeiros ocuparam-se em exprimir um compromisso entre o pensamento teológico e o
sistema racionalista; e o último que aproveitou as ideias iluministas incorporando-as no
desenvolvimento de sua teoria. (SABADELL, 2002).

2.2.3. Doutrinadores do Direito Natural


Hugo Grócio

Na concepção doutrinária do jusfilósofo Grócio, a razão, entendida como racionalidade, é


que compõe a real natureza do homem. Em decorrência dessa premissa, ele retira dos
entendimentos filosóficos e jurídicos os preceitos e ideais teológicos, que em virtude de serem

Direito Natural
aceitos por apenas parte da humanidade perdem a característica essencial da universalidade.
Assim sendo, a utilização de quaisquer outras fontes, que não a razão, conduziria a equívocos,
pois, só ela é um elemento presente em qualquer ser humano (universalidade). (SABADELL,
2002).

Desta forma:
Cria-se assim um direito natural que resulta de uma dedução lógica e que possui validade
universal, sendo que todos os seres humanos de todas as sociedades épocas são dotados da
mesma razão. O direito que resulta da vontade de Deus ou dos homens pode ser diferente do
direito natural-universal. Porém, somente este último oferece o critério de justiça, por ser
imutável e independente de uma vontade individual. (SABADELL, 2002, p. 28).

Embora Grócio admita que a ordem justa (Jusnaturalis) seja legitimada, tão somente, pelos
ditames da razão, ele ainda sente necessidade de fazer alusão reverente aos valores
transcendentes emergentes de Deus. É o que se depreende da afirmação de Reale (1982) ao
mencionar um pensamento do filósofo holandês, no qual declara que, por absurdo que possa
parecer, se Deus não existisse, ainda assim a Justiça existiria em virtude dos fundamentos
inamovíveis da razão humana.

Assim, Grócio concebe um Direito Natural, livre das interpretações teológicas da Idade Média,
cognoscível através da acção racional do homem sobre sua própria natureza. O Direito Natural
“é um ditame da justa razão destinado a mostrar que um ato é moralmente torpe ou moralmente
necessário segundo seja ou não conforme a própria natureza do homem”. (BOBBIO, 1995, p.
20).
Para Grócio, todo homem possui gravado em seu ser o desejo de sociabilidade, que o leva
inexoravelmente à necessidade consensual de interacção harmónica com seus pares, por meio do
desenvolvimento da solidariedade, denotando uma ideia de Direito Contratualista. Tal desejo
traduz o princípio fundamental do Direito Natural, do qual os demais são decorrentes. Resultante
desse raciocínio, Grócio adopta a tese de que a vida em sociedade é regulada pelos princípios do
Direito Natural.

Direito Natural
Gottfried Wilhelm Leibniz
Assim como na concepção de Grócio, Liebniz comunga do entendimento de que a
interacção humana em sociedade é controlada por preceitos do Jusnaturalis. Mas, diferentemente
de seu antecessor, compreendia o Direito Natural como resultante da eterna razão divina, que
admitia ser a única que podia estabelecer os regramentos adequados para a vida em sociedade.

Para Leibniz, a liberdade do homem constitui aspecto imprescindível como condicionante de seu
senhorio sobre o destino. Tal visão, contudo, é teocêntrica, pois entende ser Deus o concessor
desta liberdade, e o homem seu administrador ao escolher livremente seus caminhos.

Embora Liebniz adopte uma visão teológica da sociedade, admitindo-a regulada por normas
naturais oriundas da razão divina, ele “rompe com o pensamento da estaticidade e da
predeterminação do mundo e da sua ordem. Cada homem é senhor de seu destino e determina
livremente seus actos”. (SABADELL, 2002, p. 29).

Immanuel Kant
O entendimento jusnaturalista racional de Kant, decorrente do ideário iluminista,
fundamenta o Direito na razão humana, e mesmo que na realidade isto não se verifique,
continuaria necessitando sê-lo. Ele admite a existência do Direito Positivo, enquanto leis
emanadas do Estado, condicionando-o, no entanto, ao mundo do dever ser, compreendido como
princípios reguladores da sociedade, determinados pela racionalidade humana.

Embora Kant não fundamente o Direito na natureza, sua teoria é jusnaturalista na medida em que
admite leis jurídicas, que obrigam a priori, anteriores a qualquer imposição de autoridade
humana (Direito Positivo), fundadas na metafísica dos costumes, na razão prática. (DINIZ,
2005).

Na concepção kantiana, o que distingue o justo do injusto, como medida ética da norma posta, é
a razão. Assim, o parâmetro de justo compreende a essência do Direito. Caso nesta aferição
axiológica da norma positiva em vigor constate-se o inatendimento dos preceitos do Jusnaturalis

Direito Natural
(justiça), necessitará ser alterado para produzir os efeitos éticos devidos, quando a desobediência
não é tão frontal; ou revogado, quando a incoerência for absoluta. (SABADELL, 2002).

Enquanto para Grócio o Direito Natural se ligava à sociabilidade humana, para Kant depende “da
ideia de liberdade, que é a autonomia da vontade, orientada unicamente pela razão pura, que se
preocupa apenas com os princípios gerais concebidos em si mesmos e independentes da
localização temporal”. (DINIZ, 2005, p. 43). Em sua teoria, Kant considera a liberdade uma
característica inata à condição humana, é um factor condicionante da capacidade do homem de
“acordar o seu arbítrio com o dos demais, segundo uma lei geral de liberdade”. (REALE, 1982,
p. 646).

2.3. Características do Direito Natural


Dentre várias características destacam-se as seguintes:

 Universalidade (abrange todos os homens em todos tempos e lugares);


 Apriorismo (baseia-se em principais anteriores e experiência);
 Eterno (O Direito Natural existiu, existe e sempre existirá);
 Imutável (O direito natural não muda e nem pode ser alterado pelo homem como
consequência da própria natureza humana);
 Individual (o direito natural é intrínseco, é intersubjetivo);
 Inalienável (não se pode transmitir a outrem);
 Cognoscível (pode ser conhecido naturalmente por todos homens);

Assim, o direito natural corresponderá à essência da natureza física, pois também se apoia na
ordem da necessidade, ou ao menos esta em consonância com ela. Mas corresponde antes de
mais à natureza da sociedade, fenómeno cultural, e do homem como elemento primário da
sociedade. Quando se fala em Direito Natural apela-se para uma ordem que está na essência
(natureza) destes seres.

Direito Natural
2.4. Importância do direito natural

O Direito Natural é de fundamental importância para o entendimento dos Direitos do


Homem. Sendo assim, o que se questiona é como compreender os direitos do homem pela
perspectiva do Direito Natural, por isso a necessidade de uma abordagem de suas principais
características. As leis naturais são consideradas critérios de designação do justo, pois regem a
conduta do homem. O direito natural é regido por princípios perfeitos, de conhecimento
universal, como património nato do género humano. O homem, dotado de consciência, dono do
seu destino, de forma livre e autónoma, decide sua conduta. O Direito Natural organiza as
relações sociais e fornece um fundamento par as acções humanas. Ela é a fonte de direitos
individuais.

 Dignidade Humana e Direitos Fundamentais;


 Fundamenta e legitimisa a ordenação jurídica;
 Intervêm na interpretação e na integração das lacunas e na correcção das normas
jurídicas.

2.5. Principais defensores da Teoria do Direito Natural

Será no pensamento grego que encontraremos a ideia da existência de um Direito


baseado no mais íntimo da natureza humana, como ser individual ou colectiva. Acreditavam
alguns pensadores, que existem um Direito Natural permanente e eternamente valido,
independente de legislação de convenção ou qualquer outro expediente imaginado pelo homem.
De entre vários defensores do direito natural a que destacar os seguintes:

Platão; Aristóteles; Heraclito; São Tomas de Aquino; Hugo Grotivo; Thomas hobbes; John
Locke; Christian Thomasius; Johannes Mêssner; Jean Jacques Rousseau; Emanuel Kant; Thomas
jofferson; Karl Anton Von Martine; Gotttfried Anchenwall; Murray Rothbord; Adam Friedrich
Von Glafey.

Direito Natural
Conclusão

Com base nos dados apresentados no desenvolvimento do tema podemos concluir que: o
direito natural é o cerne normativo de qualquer direito positivamente adquirido. Mas tal
capacidade tem de ser estritamente recíproca, se é para se conformar ao princípio moral da
legislabilidade universal.
Embora o direito natural seja o de mais alta hierarquia, ele é composto por normas de natureza
muito genérica, que precisam ser concretizadas em cada momento histórico. Os conceitos de
justiça e igualdade, por exemplo, mudam com o processo histórico, tal como nos mostra a
gradual construção da inadmissibilidade do trabalho escravo e da subordinação da mulher ao
homem.
O direito natural, portanto, é um conjunto de normas cuja observância é necessária, mas
insuficiente para garantir a justiça na convivência humana. Nessa medida, é uma exigência do
próprio direito natural a sua complementação pelo direito positivo, que estabelece para cada
momento histórico uma ordenação das liberdades, mediante o exercício do poder legislativo.
O direito positivo, assim criado, é fruto da vontade soberana da sociedade, que deve
impor a todos os cidadãos normas voltadas para a assegurar às relações interpessoais a ordem e a
estabilidade necessárias para a construção de uma sociedade justa. Dessa forma, a vontade do
soberano contribui para a efectivação da justiça, de tal forma que ela deve ser observada sempre
que não colidir com os mandamentos do direito natural, pois ele é a fonte da sua legitimidade.

Direito Natural
Referencia Bibliográfica
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Luso-Brasileira, 10ª edição;
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 WOLKMER, António Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 2. ed., São
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