Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Pai
Nosso
ICJA - Paróquia Sagrado
Coração de Jesus (Pe. Miguel)
"
Jesus nasceu num povo que sabia orar, viveu no
seio de uma família piedosa e, imerso na vida
cotidiana do Povo de Deus, também Jesus tem sua
atividade cotidiana intimamente ligada à oração.
Sua rotina brotava da oração, de tal modo que, nos
Evangelhos, ele é insistentemente descrito como
um homem de oração.
"A oração atravessa toda a
vida de Jesus, como um
canal secreto que irriga
toda a sua existência, as
relações e os gestos, e que
o guia com firmeza
progressiva, rumo ao dom
total de si mesmo,
segundo o desígnio de
amor de Deus Pai".
o Senhor, que orienta o nosso olhar Nesse movimento se pode encontrar Quem pede o pão para hoje é pobre.
para o essencial, para o "único o remédio contra a tentação do A oração pressupõe a pobreza dos
necessário", sabe também das nosso orgulho em nos darmos a vida discípulos, compreendida como
aquela disposição para o
nossas necessidades terrenas e a nós mesmos e apenas por meio do
seguimento radical da mais íntima
conhece-as. nosso próprio poder. Somente na comunidade dos discípulos, que se
abertura diante de Deus é que nos satisfaz com "o necessário para ser"
tornamos nós mesmos grandes e e que vivem, agora, no mundo e no
livres. tempo, aquela vida que todos
desejamos receber no céu e pela
eternidade.
A dimensão eucarística no quarto pedido do Pai-Nosso
O pedido do pão cotidiano também nos ajuda a ultrapassar o
simplesmente material e a pedir já agora o de amanhã, o novo pão. E, à
medida que hoje pedirmos o de amanhã, seremos aconselhados a viver
já hoje a partir do de amanhã, a partir do amor de Deus, que a todos nos
chama para a responsabilidade de uns pelos outros. S. Cipriano de
Cartago: a Eucaristia, num sentido especial, é o nosso pão, o pão dos
discípulos de Jesus Cristo. Ele diz: nós que podemos receber a Eucaristia
como nosso pão devemos, no entanto, também pedir para que ninguém
seja cortado, separado do corpo de Cristo. Por isso é que pedimos que o
nosso pão, Cristo, nos seja dado todos os dias, que nós, que
permanecemos e que vivemos em Cristo, não nos afastemos da Sua
"
força salvadora nem do Seu corpo.
Perdoai-nos as nossas
ofensas assim como
nós perdoamos a quem
nos tem ofendido.
O quinto pedido do Pai-Nosso pressupõe
um mundo no qual há culpa — culpa de
homens para com homens, culpa perante
Deus; culpa que inclui uma ferida na
verdade e no amor e que se contrapõe ao
Deus que é verdade e amor; culpa chama
vingança e que forma uma cadeia dos
culpados na qual o mal da culpa cresce
continuamente e se torna sempre mais
inevitável. Com este pedido, o Senhor nos
diz: a culpa pode ser vencida não por meio
da vingança, mas por meio do perdão.
O perdão deve ser mais do que
ignorar, mais do que simples querer
esquecer. O perdão custa alguma coisa
— em primeiro lugar para quem
perdoa: deve em si vencer o mal que
lhe aconteceu, ao mesmo tempo
queimá-lo interiormente e assim se
renovar de tal modo que então acolha
também o outro, o culpado, neste
processo de transformação, de íntima
purificação, e ambos se tornem novos
suportando e vencendo o mal. O
perdão custa o empenho do coração. O
perdão custa o empenho de toda a
nossa existência. E mesmo este
empenho não é suficiente, só pode
tornar-se eficiente por meio da
comunhão com Aquele que carregou o
peso de todos nós.
O pedido de perdão nos confronta
com o próprio Jesus Cristo: Ele nos
recorda Aquele que teve de
experimentar em si mesmo o
perdão, a descida na fadiga da
existência humana e a morte na
cruz. Ele nos chama – sobretudo
para com Ele, em profunda gratidão
– a suportarmos o mal e acabarmos
com ele por meio do amor. Ele nos
exige reconhecer quão poucas são
as nossas forças para aí chegarmos
e oferece-nos a grande consolação
de os nossos pedidos estarem
guardados na força do Seu amor e
com Ele, por Ele e n'Ele poderem
tornar-se força de salvação.
E não nos deixes cair
em tentação.
Deus não nos conduz à tentação. A tentação
vem do demônio. Para se tornar maduro, o
homem precisa de provação, para realmente
encontrar uma piedade numa sempre mais
fundamentada comunhão de ser com a
vontade de Deus. O homem precisa de
purificações, de transformações, que são
perigosas para ele, nas quais pode cair, mas
que também são caminhos indispensáveis
para chegar a si mesmo e a Deus.
O amor é sempre mais um processo
de purificações, de renúncias, de
dolorosas transformações de nós
mesmos e assim caminho de
maturidade. Aqui se evidencia a
forma psicológica da tentação, no
sentido de que ela pode acontecer
por penitência, para dominar o
nosso orgulho, para que
experimentemos de novo a pobreza
da nossa fé, da nossa esperança e do
nosso amor e não nos vangloriemos
de sermos grandes por nós mesmos.
Na nossa oração do sexto pedido do
Pai-Nosso deve estar contida, por
um lado, a disponibilidade para
tomarmos sobre nós mesmos a
carga na provação que nos está
atribuída. Mas por outro lado trata-
se precisamente do pedido para que
Deus não nos atribua mais do que
aquilo que podemos aguentar; que
Ele não nos deixe escapar das Suas
mãos. Nós dizemos esta oração na
certeza confiante para a qual S.
Paulo nos deu estas palavras: "Deus
é fiel; Ele não vai permitir que sejais
tentados acima das vossas forças.
Na tentação Ele há-de encontrar
para vós um caminho de saída, de tal
modo que a ela possais resistir" (1
Cor 10,13).
Mas livrai-nos do mal!
O último pedido do Pai-Nosso retoma o
penúltimo e transforma-o numa
proposição positiva; deste modo, ambos
os pedidos pertencem intimamente um
ao outro. Se no penúltimo pedido
domina o "nada" (não dar ao mal
espaço para além do suportável), no
último chegamos à esperança central da
nossa fé no Pai. "Salvai-nos, redimi-nos,
libertai-nos!" Trata-se em última
instância do pedido pela salvação,
especialmente, da mentira de que Deus
não passa de uma ficção, de que Ele nos
retira o tempo e a alegria de viver e de
que, por isso, não devemos nos
preocupar com ele!
Quando nos perdemos de Deus,
então, perdemos tudo. Neste
sentido, regressamos com este
último pedido aos três primeiros:
uma vez que pedimos a libertação do
poder do mal, pedimos em última
instância o Reino de Deus, a nossa
unidade com a Sua vontade, a
santificação do Seu nome. Os
orantes de todos os tempos
entenderam este pedido de um
modo ainda mais vasto. Nas aflições
do mundo pediram a Deus que
pusesse um termo às desgraças que
devastam a humanidade e a nossa
vida. E este modo muito humano de
explicar o pedido foi introduzido na
liturgia: livrais-nos de todos os
males...
Sim, nós podemos, nós devemos
pedir ao Senhor que Ele liberte o
mundo, nós mesmos e os muitos
homens e povos que sofrem das
aflições que tornam a vida quase
insuportável. Finalmente, nós
podemos e devemos conceber esta
extensão do último pedido do Pai-
Nosso como um exame de
consciência, como apelo para
colaborar para que a superpotência
do "mal" seja quebrada.
"
A comunhão com o Pai e o diálogo constante
com ele impelem Jesus a ficar atento de modo
singular às situações concretas do ser humano,
para ali levar a consolação e o amor de Deus. A
relação com o ser humano nos guia rumo à
relação com Deus, e a relação com Deus nos
orienta de novo para o próximo.
Bento XVI, Papa.