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UM CAMINHO DE ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

(Espiritualidade do Cotidiano)
Os itens que seguem são passos de um caminho: um rumo que você poderá assumir, se
quiser experimentar a espiritualidade cristã naquilo que ela tem de fundamental.

1º) A vida como lugar de encontro com Deus: espiritualidade do cotidiano


A humanidade de Jesus, sua encarnação, nos ensina que o lugar para encontrar Deus é o
humano. O corpo, a Pessoa, a Vida é Templo do Espírito Santo. O próprio Jesus afirma
textualmente quando fala sobre o juízo final: (Mt 25,31-46).
Deus nos espera no outro, para oferecer-nos a graça do encontro com Ele. Através de uma
relação de acolhida, afeto, carinho, escuta e reconhecimento dos valores, da experiência de vida
de cada pessoa humana, nos tornamos sinais e portadores do amor de Deus. Assim, deste
encontro de amor com pessoas de fé, brota o encontro, a amizade com Cristo, o Senhor da Vida,
o Bom Pastor, que para estar sempre próximo, dá o primeiro passo com bondade, respeito,
paciência, conhece as ovelhas e elas O conhecem (Jo 10,7-21). Trata-se de fazer experiência do
amor do Deus, Pai Materno, que nos ama sem limites.
A vida deve ser amada e experimentada como valor, como oportunidade de doar-se e
reconhecer seu criador. A realização pessoal e a valorização do outro como sujeito de sua
história, nos coloca sempre a caminho. A espiritualidade é proposta religiosa que dá sentido à
vida: vai do humano ao religioso, de uma primeira percepção de fé ao empenho total pelo Reino.
Respeita a diversidade de caminhos, itinerários que cada um assume e também a gradualidade, o
ritmo com que se caminha. Veja o exemplo de Jesus com a Samaritana (Jo 4,1-45) e com os
discípulos de Emaús (Lc 24,13-35): Jesus põe-se no caminho "com", escuta, dialoga, faz
perguntas para resgatar a experiência vivida e confronta-a com a Boa Nova que traz consigo
transformando a pessoa em mensageira da boa notícia do encontro com Ele.
Ao interpretar a realidade, o dia-a-dia e a história pessoal à luz da fé, descobrimos que o
Deus Uno e Trino sempre esteve presente com a força e o dinamismo de Seu Espírito. Pois a vida
é lugar de encontro com Deus.
O confronto cotidiano com o Projeto de vida e de justiça / salvação de Jesus Cristo nos
questiona e nos interpela a uma nova atitude pessoal e social e nos exercita na prática do
discernimento. Este processo gera em nós uma sabedoria que vem de Deus, à semelhança de
Jesus que crescia em idade, sabedoria e graça. É uma experiência prazerosa enquanto nos faz
pessoas novas e felizes e enquanto nos coloca numa atitude de alegria e ação de graças. Assim
vamos tendo, cada vez mais, uma visão e uma atitude positiva diante da vida e da história, atentos
aos sinais dos tempos, convencidos de que o Senhor aí se manifesta.

2º) Otimismo, alegria e festa: espiritualidade litúrgica, celebrativa


A vida, vivida no Senhor, animada por seu Espírito se faz oração, ação de graças, por ser
compreendida como dom gratuito de Deus. Só quem assim compreende a vida é capaz de dar
glória, louvar a Deus.
O diálogo pessoal e comunitário com o Pai Materno, no Filho pelo Espírito nos estimula a
interpretar e assumir a existência cotidiana à luz da fé em Deus. Sua Palavra revelada, a Bíblia se
torna fonte inesgotável de sabedoria e graça, que nos ilumina, nos orienta no caminho e nos faz
viver a alegria de nos sentirmos nas mãos de Deus.
Deus nos quer alegres. Por isso Ele nos convoca através do salmista: (“Alegrem-se em
Javé, ó justos, e exultem” SI 32,11); (“Cantem e fiquem alegres” SI 35,27). Jesus acrescenta:
(“Permanecendo no amor de Deus a alegria é completa” Jo 15,10-11).
A espiritualidade da alegria, da felicidade como manifestação do Espírito, comporta:
favorecer o otimismo e a confiança, porque a vida é dom e nela o Senhor age; solidarizar-se com
os que lutam e com os que sofrem; apoiar o bem, partilhar a própria alegria e assumir a dos
outros; agradecer, pois cada pessoa ao nosso lado é um dom, um presente; assumir as
dificuldades e sofrimentos com uma atitude positiva, porque são fonte de união, solidariedade,
conversão e reconciliação; assumir a própria missão com disponibilidade serviçal; valorizar as
festas comunitárias.
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Assim, os acontecimentos mais significativos da vida são celebrados festivamente em
comunidade como manifestação da Graça e do Reino de Deus.
A conversão ao Deus da vida e adesão à comunidade de fé, é motivo de alegria e louvor
para toda a comunidade que acolhe o novo membro através do Batismo (Cf. Mt 28, 19-20).
Na confirmação o Espírito Santo, já presente no coração do batizado, é por ele assumido,
como luz que ilumina e faz resplandecer nele o próprio Cristo. (At, 8,14-17).
A ação de graças, a entrega gratuita no serviço aos irmãos, a experiência da partilha da vida
e dos bens, a memória da Nova Aliança e do Mistério Pascal de Cristo como antecipação do
Reino definitivo, é celebrado na Eucaristia.
O perdão e a misericórdia de Deus são celebrados no sacramento da Penitência, da
Reconciliação, com alegria e festa, porque libertam e oferecem condições para uma vida nova em
Cristo (Cf. parábola da ovelha perdida e reencontrada: Lc 15,3-7; parábola da moeda perdida e
reencontrada: Lc 15,8-10; parábola do filho perdido e reencontrado: Lc 15,11-32).
A participação no sofrimento redentor de Cristo através da doença e dos sofrimentos
assumidos com serenidade, promovendo a esperança, a união, a solidariedade, a conversão e a
busca de sentido novo para a vida, são celebradas na Unção dos enfermos.
O amor conjugal e familiar, assim como o amor da família para com a comunidade, sinal do
amor de Cristo para com a Igreja e de sua nova Aliança para conosco, é celebrado no Matrimônio.
Pela Ordem a pessoa se consagra a Deus (que é alegria plena) para viver integralmente a
serviço da comunidade.
Quando a vida é movida pelo Espírito Santo, tudo se torna manifestação da Graça do
Senhor e tudo é santificado n'Ele. Como Ele caminha conosco devemos estar continuamente em
diálogo com Ele, falando e escutando. Todos os acontecimentos devem ser motivo de celebração,
alegria, festa.
Os sacramentos são a grande festa da vida. Celebram na memória do evento pascal de
Cristo os momentos mais significativos de nossa vida. Por isso nossas celebrações devem ser
realistas, festivas, alegres, expressão de vida da comunidade e sinais da manifestação da graça
de Deus.
Festa é lugar de afirmação da gratuidade: enquanto se festeja não se produz, vivencia-se. É
ato de esperança, antecipação do futuro. É lugar de experiência do Reino. É voltar-se sobre o dia
a dia para celebrar a vida humana integral e perceber o sentido da vida. A vida é uma festa porque
Cristo vive e o mundo está nas mãos de Deus.
A festa é fonte de solidariedade, cria novas relações e intensifica a vivência comunitária. Ela
nos congrega no presente, pelo acontecimento valorizado, nos recorda o passado e nos remete
ao futuro, fazendo-os todos presentes.

3º) Viver como Jesus viveu: espiritualidade que vai da amizade ao seguimento de Cristo
Da amizade e experiência positiva com pessoas de experiência de fé, brota a amizade com
o Senhor e o empenho pela causa do Reino. O encontro com Cristo faz descobrir uma dimensão
nova da existência, tornando a pessoa nova, com um coração novo, disposta a cumprir o que o
Senhor ordena (“Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” Jo 15,12-17). A intimidade
com Cristo dá novo sentido à vida: aos relacionamentos, aos próprios projetos, à esperança, etc...
Jesus chama cada pessoa pelo nome, e propõe o compromisso do seguimento (Mc 1,16-20).
Seguir Jesus implica deixar tudo e, na adesão pessoal ao seu projeto de amor e justiça / salvação,
segui-Io em comunidade de fé. A fé em Jesus é o núcleo da identidade cristã como fonte de
sentido, esperança de vida futura, dom de Deus e força transformadora da história. Jesus Cristo
se torna a referência, o caminho (Jo 14,6).
O caminho é de cruz (Mc 8,34-38), o ideal é de radicalidade. A atitude fundamental é de
serviço (Jo 13,1-17) e partilha (Mc 10,17-23). É necessário ser obediente, estar numa atitude
constante de escuta ao Pai para estar em sintonia e fidelidade ao projeto da Aliança (FI 2,5-8) e
estar sempre no caminho. Discípulo é aquele que se compromete com Jesus no Amor, dando
testemunho de sua fé, a ponto de dar a própria vida (Jo 13,33-38; Mc 10,46-52).
O caminho é também de felicidade. Seguir Jesus é fonte de satisfação, de realização
humana, de alegria comunitária, pois no caminho vamos nos identificando com Ele e tornando-nos
livres para amar e servir sem limites, resgatando o verdadeiro sentido da vida, para o qual fomos

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criados: ser glorificados com Cristo.
Trata-se de tomar uma decisão. De dar uma resposta consciente à proposta de Jesus (“Só
Tu tens palavra de vida eterna” - Jo 6,68-69) e definir um projeto de vida pessoal e comunitário (At
2,37- 47), unificando em torno de Cristo toda a vida: a vontade, o jeito de viver, as relações
afetivas e sociais, etc... Ele é o referencial, o caminho, diante de tantas propostas diferentes, às
vezes enganosas: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6).

4º) Comunhão e serviço na Igreja / Comunidade de fé: espiritualidade da pertença eclesial


A fé cristã é mais do que acreditar num conjunto de doutrinas. A fé é dom, presente, graça,
entrega a Deus no seguimento de Jesus Cristo, animados pelo Espírito Santo, que nos interpela,
encoraja e conduz, como fez com Jesus Cristo.
Nossa vida de cristão não se resume entre eu e Deus, ela tem uma dimensão eclesial,
comunitária, pois a fé vem transmitida historicamente pela comunidade dos seguidores de Jesus.
Ela necessita de confirmação por que Deus é inabarcável, mistério, isto é, Ele é muito mais do que
nossa capacidade racional consegue definir. Por isso, o testemunho faz crescer e fortalecer a fé
uns dos outros. A experiência pessoal de Deus precisa também ser fundamentada na
interpretação comunitária dos acontecimentos cotidianos à luz da fé (“Os nomes escritos no céu”
Lc 10,17-20).
Amar a Cristo implica em amar a comunidade que Ele convocou, a Igreja povo de Deus,
comunidade de fé, centro de unidade e comunhão de todas as forças que trabalham para o Reino
de Deus, é o próprio Corpo de Cristo, caminho privilegiado de salvação, sinal da presença do
Reino de Deus, encarnação do Espírito Santo e portadora do seu amor.
Cristo enviou o Espírito Santo à comunidade reunida e a enviou em missão (Jo 20,19-23; Mt
28,16-20; At 2,1-13). Esta experiência eclesial deve ser vivenciada na família, também chamada
Igreja doméstica, e na experiência dos grupos que se reúnem em nome da fé, porque a
experiência grupal articulada numa pastoral de conjunto desperta e prepara a pessoa para a
participação integral numa comunidade, com a qual celebra toda sua experiência de fé.
Nos pequenos grupos e comunidades eclesiais de base, as pessoas se reconhecem,
valorizam-se mutuamente, numa experiência concreta de amor e fraternidade, sustentando-se no
caminho do evangelho, como aconteceu com o grupo dos doze que conviveram com Jesus e com
a comunidade cristã primitiva. Assim, a transmissão da fé acontece mais pela possibilidade real de
uma identificação prática com pessoas e grupos, com os quais se faz uma experiência nova do
que através de formulações, documentos e enunciados da fé.
A Igreja, comunidade dos que recriam a experiência de Jesus, como uma grande família, se
torna lugar de fraternidade que antecipa o Reino de Deus, lugar de oração e celebração e
consequentemente compromisso de testemunhar a nova expressão de vida, sendo fermento, sal e
luz no mundo.
Comunidade vem de Co-munus: "missão comum" recebida no Batismo. Pelo Batismo
participamos da mesma missão de Jesus, do seu tríplice "munus" (missão, serviço), de ser
profeta, sacerdote e rei / pastor.
A missão Profética que consiste em: denunciar toda infidelidade, tudo o que gera morte e
anunciar o projeto de vida, da Aliança de Deus e de seu Reino. Missão Sacerdotal: doando,
entregando gratuitamente a própria vida e participando do sacrifício redentor de Cristo, celebrando
a vida e reconciliando as pessoas com Deus e com elas mesmas. E missão Real / Pastoral: no
sair ao encontro, acolher, escutar, aconchegar, restituir dignidade às pessoas, fazendo cumprir o
direito e a justiça, pois este é o papel do rei, o ungido do Senhor.
Esta experiência comunitária no Espírito precisa ser alimentada pela perseverança na escuta
atenta dos ensinamentos dos Apóstolos (Catequese), na comunhão fraterna (unidos no serviço e
na partilha dos bens como uma grande família), na partilha do pão (Eucaristia) e na oração (At
2,42-47).
Muitos são os dons, mas um só é o Espírito; há diversidade de ministérios / serviços, mas o
Senhor é o mesmo (1 Cor 12,4 -11). Nele devemos todos estar unidos, como co-herdeiros de sua
missão e de sua glória (Rm 8,14-17). Cristo, a verdadeira videira é o tronco no qual todos
estamos, a partir do Batismo, unidos para produzir frutos de vida eterna e sem o qual nada
podemos fazer (Jo 15,1-11).

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São Paulo exorta: "revesti-vos, como eleitos de Deus, santos e amados, de sentimentos de
misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos uns aos outros e
perdoando-vos mutuamente" (CI 3,12-17); pois a comunidade de fé deve ser expressão de um
ambiente de família, marcado pela acolhida, ternura, confiança mútua, perdão cotidiano e alegria
de tudo compartilhar, sendo assim, um sinal visível da presença do Reino de Deus.

5º) Caminho de santidade e felicidade: espiritualidade da decisão vocacional / missionária


A experiência da amizade, da solidariedade e o crescimento pessoal, realçando os traços e
aspectos positivos da vida, conduzem à alegria, ao otimismo, à auto-confiança e à esperança,
tornando a pessoa capaz de enfrentar a vida cotidiana na sua dimensão de cruz, sofrimento e a
colocar-se em atitude de escuta, acolhida e serviço aos irmãos.
O Cristianismo é a religião da salvação e da alegria. A fé cristã é o anúncio da felicidade
básica, promessa e oferta de vida eterna. Deus nos ama e nos demonstra isso em Cristo. A
descoberta do Reino e o encontro com Cristo são as bem-aventuranças do cristão. Esta
experiência fundamenta e dá razão à sua esperança (1 Pd 3,15).
A decisão vocacional / missionária é fruto de amadurecimento no caminho. Deus nos chama
e esta voz exige escuta e capacidade de resposta; torna-se diálogo, comunhão de vida com o
Senhor, participação consciente em sua obra. Trata-se de um processo contínuo rumo à doação
radical, a ponto de dizer como São Pedro: ("Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida
eterna e nós cremos e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus" Jo 6,68-69). (“Por que não
posso seguir-te agora? Darei a minha vida por Ti" Jo 13,37).
É busca de um caminho de santificação, pois esta é a vontade de Deus, como diz São Paulo
aos Efésios: (Ef 1,4). Deus nos chamou para a santidade - vocação de base para todos(as) -, para
levar uma vida de justiça e de respeito ao outro (1Ts 4,1-8; Rm 6,20-23), sendo fiel à Aliança,
santificando o nome do Senhor pelo testemunho de uma vida nova.
O convite é pessoal e a resposta também, embora deva ser dada em e na comunidade.
Compare sua resposta com o texto do juízo final em Mateus 25,31-46, onde Jesus estabelece os
critérios de salvação. Será que acreditamos verdadeiramente no caminho que Cristo nos
apresenta como caminho de realização e felicidade? Teríamos motivação para encarar as
adversidades e ser testemunho de fidelidade e alegria na fé?
Às vezes, fica evidente a incoerência quando se busca a felicidade através da auto-projeção,
auto-afirmação e satisfação pessoal no poder, nos bens e não na partilha e no serviço gratuito.
Jesus reafirma o caminho da felicidade ao apresentar como bem-aventurados, os pobres, os
mansos, os aflitos, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz e os que têm
fome e sede de justiça e por causa dela são perseguidos, porque deles é o Reino dos céus (Mt
5,1-12). Em síntese, Jesus diz: (“Felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em
prática” Lc 11,28).

6º) Uma vida inspirada em Maria, a mãe de Jesus: espiritualidade Mariana


Em Maria, a Palavra de Deus se fez carne e história. Ela é a mais perfeita seguidora de
Jesus Cristo. Estava intimamente ligada a Ele e doou a Ele sua vida. Sentiu-se e foi proclamada
bem-aventurada em sua humildade, pelo dom de Deus, por sua disponibilidade (cf. Lc 1,26-56).
Mulher forte que experimentou na carne a pobreza, o sofrimento, a fuga e o exílio (Mt 2,13-
18). Foi escolhida por Deus para colaborar na salvação da humanidade e acompanhou a Jesus
em todos os momentos de sua vida (Lc 2, 41-50; Jo 2,1-12; 19,25-27).
Acompanhou também a Igreja nascente e participa hoje, com sua maternidade, do
amadurecimento histórico da comunidade cristã e de sua missão no mundo (At 1,12-14).
Maria é presença viva, inspiradora, guia, mestra. Ela é a mãe imaculada, cheia de graça,
totalmente disponível. Ela é auxiliadora, modelo de fidelidade no serviço à Igreja e ao Reino.

Perguntas para pensar e partilhar:

1 - Qual, destes passos, está mais presente em sua vida e na caminhada de seu grupo e/ou
comunidade?
2 - Que dimensões da Espiritualidade Cristã precisam ser melhor desenvolvidas na sua vida, de
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seu grupo e de sua comunidade?
3 - Que provocação você sentiu ao ler este texto?

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