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SEXUALIDADE, NAMORO, CASAMENTO E FAMÍLIA

1. Introdução: Novas transformações na vida do jovem


Nascemos frágeis e dependentes. Com o desenvolvimento e crescimento, o vínculo familiar,
que era estreito e dependente, se afrouxa e, passo a passo, nos tornamos independentes.
Justamente nesse momento, começam a acontecer mudanças e transformações físicas e
emocionais, que o adolescente não consegue, de início, entender e lidar. É a fase de ebulição dos
hormônios, desejos e impulsos. Surge o desafio: como lidar com essas mudanças?
Os desejos e impulsos poderão gerar angústias e anseios. Será que sou bonito(a) e
atraente o suficiente? Às vezes sabe a atitude mais adequada a tomar, outras vezes precisa dos
palpites dos amigos ou dos pais. Se antes gostava de brincar somente com os meninos e achava as
meninas umas "frescas", agora acham-nas sexys e atraentes. E as meninas achavam os meninos
brutos e "grosseirões". Agora acham-nos fortes, belos e atraentes. O agravante é que esses desejos
não podem ser resolvidos e saciados imediatamente.
Às vezes acham que tem um poder absoluto, outras vezes ficam inseguros. Será que sou
sexualmente adequado? Estou de acordo com o padrão de beleza estabelecido? Esses
questionamentos podem gerar dúvidas e angústias. Serei aceito, desejado e apreciado?
Com o passar do tempo e amadurecimento o jovem vai aprendendo a lidar com sua
própria sexualidade e identidade e vai sedimentando as regras do convívio social, onde aprende,
também, a lidar com sua liberdade. Aprofundaremos, agora, alguns temas que podem nos ajudar
neste processo de crescimento e amadurecimento.

2. A Sexualidade Humana
Acontecem mudanças e transformações físicas e emocionais, que o adolescente não
consegue, de início, entender e lidar. É a fase de ebulição dos hormônios, desejos e impulsos. Como
lidar com essas mudanças? É difícil entender como funciona nosso próprio corpo e nossas emoções,
quanto mais entender o sexo oposto, que tem suas próprias características. O primeiro passo é
entender a si próprio para depois procurar entender o outro.
Simultaneamente a essas incertezas, existe nos jovens uma enorme e poderosa curiosidade e
desejo de experimentação, que pode causar muitos problemas. Somam-se a isso às regras
familiares, do grupo e da sociedade e as expectativas que se vê impulsionado a corresponder.
A sexualidade humana é uma força poderosa de prazer e de frustrações. Além das diferenças
físicas, que são evidentes, homens e mulheres são diferentes no comportamento e na expressão do
afeto. Dizem, por exemplo, que as mulheres são sensíveis, românticas e mais frágeis e os homens
práticos, objetivos e mais fortes.
Homens e mulheres possuem percepções, potencialidades e compreensões distintas. Na
realidade as diferenças não são tão simples. Muito dessas diferenças é fruto do contexto social, que
dita comportamentos para ele e ela. O conhecimento e entendimento das diferenças entre homens e
mulheres facilitam o relacionamento. Os atritos poderão ser minimizados e o convívio tornar-se
harmônico e prazeroso.

3. Mitos sobre a Sexualidade


Nesse período conturbado, de dúvidas, busca de libertação, auto-afirmação, inquietações,
confrontos, o despertar da libido, de novos desejos e emoções, os adolescentes e jovens sofrem
pressões de todos os lados, deparando-se com alguns mitos:
• Absolutização do sexo como fórmula de felicidade. Este mito é propagado, sobretudo, através
dos meios de comunicação: televisão, rádios, revistas, filmes, músicas, propaganda, e programas
variados, com estereótipos sexuais, dando a falsa ideia de poder, sucesso e felicidade. Os "ídolos"
fabricados para a juventude esbanjam dinheiro, fama, beleza e promiscuidade. Parecem estar acima
de qualquer crítica e impedimento. Contudo, quando as câmeras estão desligadas, a vida real dos
"ídolos" frequentemente é outra. Às vezes, são personalidades, muito frágeis e imaturas que passam
de uma crise a outra, enfrentando constantes frustrações e desentendimentos.
• A Sexualidade não pode ser reduzida a genitalidade. A sexualidade engloba bem mais que
nossos órgãos sexuais ou nossas características físicas. Os hormônios sexuais progesterona,
testosterona, estrógeno dentre outros, determinam nossa identidade sexual, própria de cada gênero
humano. Sexualidade é um componente fundamental da personalidade através de que nós, como
macho e fêmea sentimos nossa relação consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus.
Determina o tipo de voz, a maneira de andar, de se relacionar, e de compreender o mundo ao nosso
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redor. Aqui somos diferentes do mundo animal.
• O certo e o errado não se aplicam aqui. Tudo é cor de rosa. Hoje, os jovens são colocados em
uma estrada onde não existem faixas de segurança. Não há sinais de atenção. Nos
cruzamentos, escolhem trilhas que podem levar a desgostos enormes, ao sofrimento e a
caminhos sem retorno. As estatísticas revelam que decisões tomadas em determinadas
situações podem causar felicidade ou grande frustração no futuro.

4. O contexto em que o jovem vive hoje


• Desde cedo vive num ambiente erotizado.
• Saúde - A promiscuidade facilita a transmissão das Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST incluindo a temida AIDS. As estatísticas são alarmantes).
• Os desafios da puberdade - o despertar de novas emoções e desejos.
• A propaganda e a mídia manipulam e banalizam o sexo.
• Vivemos em uma sociedade caracterizada por uma crise de valores. Há duas tendências
dentro de nós: para o bem e para o mal, para o altruísmo e para o egoísmo. Dentro da
sexualidade isso também se aplica. Nesta área há uma tendência forte de nos iludir.
• Por outro lado, hoje há uma atitude mais sadia diante do sexo do que antigamente, não o
considerando como algo sujo e pecaminoso. Além de um conhecimento fisiológico bem maior.
Sabemos muito mais sobre corpo, emoções, doenças, desejos, enfim, sobre questões dessa
natureza do que no passado. E as descobertas não param.

5. Desafio de elaborar um código moral pessoal


a). Juventude: Etapa de elaborar um código moral a partir de convicções pessoais.
Enquanto a consciência moral da criança depende da autoridade dos adultos para lhe
dizer o que está certo e o que está errado, a juventude se caracteriza pelo esforço de elaborar
um código moral a partir de convicções pessoais. A tarefa fundamental dos educadores é
ajudar os jovens a desenvolver sua capacidade de raciocínio moral, de saber distinguir o que é
certo do que é errado. Num primeiro momento, nesta fase de transição, há rejeição do código
moral dos adultos para afirmar sua própria personalidade. Há um jogo de queda de braços. No
momento de transição o jovem pode ficar sem pontos de referência. Porém, quando bem
conduzido o processo muitos dos valores rejeitados são assimilados de novo, agora a partir de
convicções pessoais - o que é muito mais sadio.
Entretanto, um código moral baseado na autoridade dos outros não irá perdurar diante dos
ventos de modernidade que sopram na sociedade atual. Daí a necessidade do jovem desenvolver
um código moral pessoal caso queira assumir o controle da sua própria vida. Precisa fazer isso no
contexto da mentalidade pós-moderna que sustenta: "o que é bom é o que faz com que eu me
sinta bem". Hoje, o meio ambiente que descarta, cada vez mais, um critério objetivo como sendo
necessário para um raciocínio moral molda a mentalidade dos jovens. Isso é especialmente verdade
no que tange à sexualidade. A tendência moderna é negar que qualquer coisa ligada ao sexo
possa estar errada e ignorar a realidade dos fatos.
Trata-se de uma sexualidade cada vez mais desligada do amor e do compromisso. O sexo é
visto como uma droga a ser usada quando precisam sentir-se no alto. Os jovens estão confusos,
uma vez que estão à procura da definição de um sistema de valores que lhes dará direção para
suas vidas e os ajudará a construir um futuro sólido. Praticamente, a única orientação que
recebem vem da televisão, de novelas, dos ídolos populares e de colegas que frequentemente
incentivam a promiscuidade e depois critica os jovens pelas consequências: a gravidez na
adolescência, o aborto, as doenças sexualmente transmissíveis, a temida AIDS, os sonhos desfeitos,
a solidão, os estudos abandonados. Vivem sua sexualidade sem tabus, mas com muito medo.
Obviamente, como educadores da juventude, não devemos restringir o desenvolvimento do
raciocínio moral com relação à sexualidade. A área da justiça, da honestidade, da corrupção, por
exemplo, tanto social como pessoalmente, é de fundamental importância se tivermos de preparar
jovens para que construam um mundo melhor.

b). Qual seu projeto de vida e de sociedade?


A Sexualidade deve ser integrada em um Projeto de Vida mais amplo. A sexualidade é um
elemento fundamental da personalidade e aponta para a relação com nós mesmos, com os outros,
com o mundo e com Deus. Nós nos complementamos (Livro de Gênesis).

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Há dois caminhos:
a). Viver no presente uma sexualidade sem compromisso ou
b). Optar por um projeto de vida em longo prazo, optando por uma vida de consagração especial a
Deus ou pelo matrimônio. O significado da vida se encontra na capacidade de dar e receber amor.
Coloca-se a mesma questão para o consagrado e o casado: como estou sendo chamado a amar?
Mesmo contando com a possibilidade de uma vida de especial consagração, a opção da
maioria dos jovens é de escolher o Matrimônio. Tem consciência que está dentro de um processo em
que precisa escolher um(a) futuro(a) parceiro(a) que vai ser companheiro(a) para a vida toda e,
também, mãe ou pai de seus filhos. Tem consciência que precisa fazer uma das opções mais
importantes na sua vida. A falta de seriedade e de critérios neste campo pode remeter o jovem por
caminhos que não tem volta.
O ambiente onde o jovem vai fazer esta escolha é também, importante. Obviamente um
ambiente de comunidade, de pastoral, de jovens que comungam os mesmos valores e ideais e que
estão unidos pela mesma fé no mesmo Deus tem suas vantagens sobre um ambiente de
promiscuidade.
Uma vez traçada a meta de longo prazo, devo fazer a pergunta: de que devo abrir mão para
chegar lá? Toda escolha envolve renúncia (a capacidade de adiar o prazer do momento para
conseguir um prazer maior e mais profundo, em longo prazo). Há necessidade de educar o desejo,
de se treinar para alcançar uma felicidade mais profunda e duradoura, em longo prazo. Se os
demais desejos humanos (agredir, comer, raiva) não podem ser deixados a solta, por que seria
diferente com o desejo sexual? Se não há outro interesse a não ser a satisfação do desejo pessoal,
reduz-se o outro a algo descartável, consumível e estamos construindo a casa em cima da areia. Um
dos pilares de um casamento feliz e duradouro é a fidelidade. Se não se treinar antes de casar, há
pouca possibilidade de ser fiel depois de casar. E há uma forte tendência de se iludir nesta área.

6. Levar em conta três níveis de vivência da sexualidade


I. Nível Biológico. Um namoro onde existe somente interesse erótico desmorona ao primeiro
contratempo. É o sexo vivido como redução do outro a simples objeto de prazer sexual. Se não há
outro interesse a não ser satisfazer o desejo pessoal leva-se a enjoar do parceiro. Como alguém que
chupa o caldo de uma laranja e depois deixa o bagaço de lado. Muitos descobrem, por vezes tarde
demais, que o sexo, que foi feito para aproximar, pode também levar à solidão, à dominação, à
falsidade, à manipulação, o desejo de vingança e à alienação.
O ficar, comum nas relações dos jovens, hoje, é experimentação sem compromisso e
aprofundamento. A relação é física e efêmera. É uma fase de imaturidade emocional que pode
passar e evoluir ou não para relacionamentos mais profundos.
O sexo que é separado do amor e do compromisso contribui para o aumento da taxa de
divórcio, violência, estupro, pedofilia e rejeição. O sexo sem responsabilidade pode significar uma
sentença de morte. A promiscuidade é um caminho para as DST’s.
II. Nível Sentimental. Corresponde ao plano psicológico-afetivo. Trabalha o relacionamento
afetivo. A base do relacionamento tem que ser a amizade. O marido ou esposa precisa ter a
capacidade de dizer: "Ela é minha melhor amiga, ele é meu melhor amigo".
III. Nível Personalizante. Corresponde ao nível espiritual. Considera o outro em sua totalidade:
corpo, mente e espírito. A sexualidade é uma energia que vem de Deus e aponta para a relação. O
matrimônio é um dos sete sacramentos da Igreja.
A integração sexual acontece quando a pessoa começa a conseguir um equilíbrio melhor na
sua vida. Os desejos sexuais são integrados com outros desejos: a paternidade, a maternidade,
a carreira, a amizade, a pastoral, a luta pela justiça. Outros valores encontram seu peso devido, o que
é sinal da sua capacidade de integrar os diferentes impulsos e necessidades, especialmente sexuais,
dentro do contexto da vida como um todo.
Só este terceiro nível traduz a sexualidade como abertura, comunhão e criatividade,
proporcionando ao casal realização e felicidade.

7. Sexualidade e Espiritualidade
A sexualidade não pode estar desassociada da espiritualidade, dessa energia que vem de
Deus e aponta para uma relação. Deus que criou o homem por amor, também o chamou para o
amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano. (Catecismo Igreja Católica nº 1604).
O casamento é um sacramento da igreja. Sacramento que o casal celebra sob testemunha
da comunidade e do Sacerdote ou Diácono. É a graça de Deus, que abençoa a união entre duas
pessoas que se amam e se respeitam. É um compromisso de vida nos bons momentos e também
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nas dificuldades. É, a pequena célula comunitária onde o amor proposto por Deus torna-se
realidade. Experimentado e disseminado. "Cristo quis nascer e crescer no seio de uma família"... (CIC
nº 1604).
Quem exerce cargo na Igreja sente a necessidade de dar bom exemplo. A sociedade espera
e exige mais de quem exerce uma função específica na Igreja .

8. Namoro
O namoro frequentemente começa com a paixão. A paixão é um sentimento forte,
avassalador e passageiro. A paixão é projeção dos nossos desejos no outro. Muitas vezes nos
apaixonamos pela imagem que criamos do outro e não pela pessoa real. O sentimento da paixão é
um tempero especial do início do relacionamento, porém este deve evoluir para ligações afetivas
mais elaboradas.
O namoro é um espaço para se conhecer, para testar o outro e desenvolver um amor
profundo. É treinamento para convivência a dois, onde o diálogo é ferramenta fundamental. É
momento de autoconhecimento e conhecimento mútuo; de aceitar o outro com seus defeitos e
qualidades. O namoro possibilita o exercício de perceber os limites fundamentais para a vivência da
liberdade e deve ajudar a entender que ninguém é dono de ninguém.
O prazer de estar juntos, da companhia, o respeito, admiração, e a confiança entre os pares
são passos que levam a estruturação, crescimento e aprofundamento do amor. O respeito é chave
em relacionamentos bem sucedidos, onde a preservação do espaço particular de cada um faz
crescer o amor e ampliar as possibilidades de sucesso. O equilíbrio é conseguido pela
complementação das diferenças individuais.
O relacionamento só será perfeito se baseado em pessoas inteiras, com auto-estima
preservada e alimentada por trocas afetivas. Quanto maiores as diferenças, maiores as
possibilidades de ganho.

9. Casamento e Família
O casamento e a família passam por forte crise na atual conjuntura do país, de modo especial
no meio mais pobre. "O impacto da pobreza, em uma sociedade que sacraliza o consumo, relativiza
os valores, atinge a família, o primeiro lugar de socialização do jovem. Cresce o número de homens e
mulheres que não fundam lares estáveis, levando o núcleo familiar a se desintegrar. Essa situação
deixa fortes cicatrizes emocionais na personalidade de muitos jovens em um momento crítico de suas
vidas. Impressiona o número de jovens nas comunidades juvenis que enfrentam problemas
emocionais sérios (Doc. CNBB 85,33)."
Em muitas situações ao seu redor os jovens vêem relacionamentos frios, infiéis,
desrespeitosos, imaturos, a anulação do outro. O que deveria ser construção da vida a dois,
adaptação afetiva e sexual, com objetivos comuns, uma vida de cumplicidade, torna-se um martírio.
Perpetuando o senso de desvalorização do casamento para os filhos, já que é esse o exemplo que
eles vêem e testemunham.
Também, hoje o senso de família mudou. Aquele modelo antigo, tradicional, patriarcal, nos
moldes rurais em que a autoridade dos pais era inquestionável, o respeito, a benção, os papéis bem
definidos dos pais e filhos foi substituído pela mentalidade pós-moderna de direitos iguais. Os filhos
hoje querem menos palpites dos pais.
Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são
de importância primordial. É esse farol num mundo conturbado, desorientado e esfacelado por tantas
outras propostas, de tantos outros gurus modernos. Deve dar exemplo da existência de Deus e da
possibilidade do amor real.
As pessoas quando se casam trazem uma rica bagagem, fruto da educação e de
características da personalidade de cada um. No casamento se revelam manias, defeitos, qualidades,
valores, crenças e principalmente atitudes e posicionamentos frente às dificuldades. O casal deve
procurar constantemente adaptação afetiva, conhecendo um as necessidades do outro. O amor, a
caridade e o respeito mútuo são fundamentais para o sucesso da relação. O respeito é chave em
relacionamentos bem sucedidos, onde a preservação do espaço particular de cada um faz crescer o
amor e ampliar as possibilidades de sucesso. O equilíbrio é conseguido pela complementação das
diferenças.
Tão importante quanto à adaptação afetiva é a adaptação sexual. O casal deve falar
abertamente do que gosta e o que não gosta em matéria de sexo. Tanto o homem quanto a mulher
devem estar atentos às diferenças na expressão de afeto. As mulheres são consideradas mais
românticas e dão grande importância às carícias. Os homens costumam ser mais apressados, de
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modo a saciar rapidamente seus desejos.
O exemplo dos pais é a base da educação dos filhos. Não devemos transferir essa
responsabilidade para a escola ou mesmo para as mídias. Os valores e crenças do casal são
fundamentais para a formação dos filhos, que dessa forma estarão preparados para enfrentar os
desafios de uma sociedade cada vez mais competitiva e cruel. Devemos educar nossos filhos para a
vida, mostrando a necessidade das pessoas serem felizes.
Os casamentos bem sucedidos são reconhecidos pelos sinais de felicidade, serenidade e
realização. Isto nada tem a ver com realização material. O casamento é união de duas pessoas que
se amam e que pouco a pouco não mais são reconhecidas individualmente. É como se parte de um,
lentamente, se transferisse para o outro. Esse processo dura toda uma existência. 1 O sucesso do
casamento depende de perseverança, persistência e capacidade do casal de compreender as
carências um do outro. Também depende de como administram o exercício do perdão. A
fidelidade dos cônjuges é uma das principais forças que mantém o pacto do casamento. A
graça de Deus se manifesta na família cristã, sendo percebida pelas suas atitudes, em todos os
momentos de sua vida, felizes ou não. As pequenas ações, vividas no dia a dia, revelam a
manifestação do Espírito de Deus.
Uma recente pesquisa feita sobre 60 casamentos bem sucedidos indica uma das fórmulas. O
casamento bem sucedido é como um jardim saudável que requer atenção contínua e nutrição. Todos
nós somos pessoas imperfeitas. O relacionamento que sustenta um compromisso para a vida toda
não acontece por acaso.
A verdadeira família cristã está ligada à comunidade e aberta, também, a dar sua
contribuição à construção de outro mundo possível. Não se fecha dentro de um mundo
individualista. Quanto maior a partilha dos dons, maior a recompensa. O prazer em poder dividir o
que temos, na forma de serviço é a gênese do amor. A família não pode existir isolada, porque estará
fadada ao fracasso. A graça de Deus se manifesta na família cristã, sendo percebida pelas suas
atitudes, em todos os momentos de sua vida, felizes ou não. As pequenas ações, vividas no dia a dia,
revelam a manifestação do Espírito de Deus.

10. Diversidade Comportamental


A Igreja oficial não é favorável à promiscuidade sexual. A sociedade contemporânea,
caracterizada pela mistura de crenças e posturas éticas, tende ser tolerante com comportamentos
sexuais que não são necessariamente aqueles postulados pela ética da Igreja. Os próprios cristãos,
como membros dessa mesma sociedade, questionam certas regras de conduta da Igreja, que
estariam desatualizadas face às necessidades do mundo moderno. Na Igreja, como na sociedade
existem várias tendências, que vão das mais liberais às fundamentalistas.
Entendemos que a moral cristã não deve ser volúvel, alterando sua ética ao sabor de
mudanças sociais, garantindo assim a integridade de sua estrutura dogmática. Entretanto a visão
moral cristã não deve perder de vista seu fundamento que é o amor e a caridade, traduzida no
respeito da pessoa humana como filho(a) de Deus.
O cristão não deve discriminar diferentes modos de viver e agir, mesmo fora de sua ética
moral. "Nem todos se equivalem quanto à capacidade física, intelectual e moral, mas contraria o
propósito divino e deve ser rejeitada e superada a discriminação por causa do sexo, da raça, da cor,
da condição social, da língua, da religião, que afeta os direitos fundamentais da pessoa, tanto
pessoais como sociais".2 Jesus Cristo aceitou a todos, incluindo aquelas pessoas consideradas
marginais pela sociedade da Palestina, como prostitutas, mendigos, doentes, deficientes e pobres em
geral. E a nossa missão como discípulos é de imitar esse comportamento e postura que pode ser
traduzido como amor e caridade. "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros.
Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros".3
Considerando que a moral cristã é voltada para homens perfeitos e santos, esta não é
plenamente assimilada pelas pessoas comuns. O pleno entendimento e prática consciente dos
ensinamentos deve ser objetivo máximo de toda uma vida. Faz parte desse crescimento o estudo da
palavra de Deus e a correta interpretação de seus mandamentos.
Questões polêmicas como a virgindade, relações sexuais pré e extraconjugais e
práticas homossexuais devem ser profundamente analisadas levando-se em consideração os
1
Mt 19,6 "De modo que já não são dois, mas uma só carne". Gn 2,24 "Por isso um homem deixa seu pai e
sua mãe, se une a sua mulher, e eles se tornam uma só carne."
2
Mensagens e discursos - Vaticano II - 1406 - 29 20 Jo 13,34
3
1Pd 1,15-16 "Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos também vós santos em todo vosso
comportamento, porque está escrito: Sêde santos, porque eu, Iahweh, vosso Deus, sou santo (Lv 19,2b)".
5
benefícios e prejuízos em relação à moral cristã, principalmente no que concerne aos seus
fundamentos originais. Não devemos nos prender a falsos conceitos morais, elaborados em
diferentes épocas e com objetivos às vezes diversos da interpretação corrente.
Na nossa sociedade, a virgindade feminina é frequentemente considerada tabu e por
outro lado, a virgindade masculina, nunca foi vista com bons olhos. São preceitos da velha moral
patriarcal que tinha como objetivo a submissão feminina. Será que hoje em dia com o avanço
das conquistas femininas no campo do trabalho, da política e da sexualidade essa visão
machista não deveria também ser atualizada? Por que não defender a virgindade para os dois
sexos como forma de preservar o corpo e a mente para uma relação plena com o parceiro
escolhido para a convivência pelo resto de suas vidas? Essa seria uma solução para os graves
problemas atuais de gravidez precoce e de doenças sexualmente transmissíveis. Porém a
influência da sociedade é muito forte assim como o apelo sexual, levando muitas vezes às
pessoas dúvidas, angústias e incertezas, principalmente na adolescência. A virgindade, portanto
deve ser opção consciente de pessoas de livre arbítrio e não vivida como uma imposição de
outros.
Frente à ameaça da epidemia de AIDS e de doenças sexualmente transmissíveis, alguns
grupos e governos propõem uma estratégia, de três frentes, chamada de estratégia ABC.
A: Abstinência (é extremamente eficaz)
B: Seja fiel a um parceiro - inglês, "Be faithful" (depende do parceiro)
C: Usar a camisinha (eficácia 80-90%)
O método mais seguro é a abstinência. Outros métodos podem falhar. Uma segunda
estratégia para as pessoas que não aceitam esta opção propõe fidelidade a um parceiro só. E
para as pessoas promíscuas se propõe uma terceira estratégia, a utilização da camisinha.
A relação sexual extraconjugal, além de incorporar aspectos anteriormente tratados, traz
outro de fundamental importância para nós cristãos: trata-se da quebra do pacto assumido no
sacramento do matrimônio.4 A fidelidade é o pilar de um casamento bem sucedido. A fidelidade é
um ato de amor assumido entre duas pessoas e que sustenta a relação. A quebra desse pacto abala
profundamente a crença no sucesso do projeto a dois, que é a construção de uma família. Aqui se
revela a falta de preparação para a tomada de decisão para o casamento. Atualmente muitas famílias
são desfeitas com base na quebra de confiança entre os parceiros. A Igreja prescreve a
indissolubilidade do casamento, como forma de proteger a instituição da família, de garantir a
educação e segurança dos filhos e no aspecto divino corresponder à graça recebida no sacramento
do matrimônio.5
Este é o ideal proposto pela Igreja que nem todos conseguem alcançar. Frente às pessoas
que não conseguem viver o ideal, a atitude pastoral deve ser de acolhida e de apoio, como foi a
atitude de Jesus.
Em conclusão, há o desafio de integrar a sexualidade num projeto mais amplo de
crescimento e maturidade. Há necessidade de evitar dois extremos: de um lado, uma atitude de culpa
e medo exagerados, provocados por tabus e repressão, e, de outro lado, a ilusão de felicidade
prometida pela irrestrita promiscuidade. O documento 85 orienta: "A sexualidade, dom de Deus, é
uma dimensão constitutiva da pessoa humana, que nos impulsiona para a realização afetiva no
relacionamento com o outro. Porém os jovens vivem, hoje, em um ambiente erotizado em que a
sexualidade é, infelizmente, banalizada e frequentemente transformada em meio egoísta de prazer e
de manipulação e corrupção das relações mais profundas entre as pessoas.
Neste contexto é importante desenvolver um programa de educação para o amor que integre
a sexualidade em um projeto mais amplo de crescimento e maturidade onde ela: seja baseada na
liberdade e não no medo; leve em conta as exigências da ética cristã; leve ao amor e à
responsabilidade; desperte para a auto-estima, principalmente, no cuidado com o corpo do próprio
jovem e dos outros; tenha Deus, criador da vida, da sexualidade e da alegria, como sua fonte de
inspiração" (Doc. 85, 102).

4
Catecismo Igreja Católica nº 2381 "O adultério é uma injustiça. Quem o comete falta com seus
compromissos. Fere o sinal da Aliança que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e
prejudica a instituição do casamento, violando o contrato que o fundamenta. Compromete o bem da
geração humana e dos filhos, que têm necessidade da união estável dos pais."
5
Código Direito Canônico - cân 1141 "O matrimônio ratificado e consumado não pode ser dissolvido por
nenhum poder humano e por nenhuma causa, exceto a morte."
6

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