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TORÁ: A INSTRUÇÃO QUE DURA PARA

SEMPRE

XVI – SHA’UL: ZELOSO DA TORÁ OU HIPÓCRITA?

Sha’ul (Paulo) é muito mal compreendido por muitos que dizem que a Torá
não é mais válida hoje. Alguns realmente se sentem desconfortáveis com
seus escritos, tais como os antigos ebionitas, que removeram as Escrituras
de Sha’ul de seu cânon.

O ebionismo foi um dos grupos do Judaísmo do primeiro século,


constituído por judeus que creram que Yeshua é o Mashiach. Os ebionitas
defendiam a plena vigência da Torá, porém, erroneamente achavam que
Sha’ul (Paulo) pregou a abolição da Lei, razão pela qual declararam que
Sha’ul seria um herege. Eis o raciocínio dos ebionitas: 1) Yeshua não
anulou a Torá (Mt 5:17); 2) Sha’ul (Paulo) anulou a Torá; 3) logo, os
ensinos de Sha’ul são contrários às lições de Yeshua, fazendo do primeiro
um herege. Conforme será explicado, os ebionitas estavam errados29, pois
Sha’ul nunca ensinou nada contra a Torá, apenas a interpretou da maneira
correta, despida do legalismo danoso que corrompia o Judaísmo.

Até hoje a Igreja Cristã, seguindo o erro ebionita, ensina que Sha’ul
(Paulo) afirmou a anulação da Torá. Porém, existem raras exceções, já
que uma minoria de teólogos cristãos giza corretamente que Sha’ul não
contrariou a mensagem de Yeshua. Klaus Berger, Professor de Novo
Testamento da Universidade de Heildelberg (Alemanha), redigiu:

“Tese: Paulo ‘traiu’ a exigência de Jesus, qual seja, que se realize


totalmente a lei [Torá], até o jota e o til (Mt 5,17-19). Ele, como agente dos
romanos, combateu a comunidade primitiva, que era fiel à lei [Torá].
Contra essa esse: Paulo não aboliu a lei [Torá]. Ele diz expressamente
que ela é ‘santa’ e que provém do ‘Espírito de Deus’. O Espírito Santo,
concedido às pessoas cristãs, agora justamente torna possível realizar
a lei [Torá] de Deus (Rm 8,3-4). Por isso, Paulo também pode dizer que o
amor implica a realização de todos os mandamentos da lei [Torá] – afirmar
isso seria totalmente absurdo, caso não se objetivasse o cumprimento da
lei [Torá]. Aliás, Paulo nem sequer aboliu as prescrições rituais e de
penitência do Antigo Testamento” (Qumran e Jesus, Vozes, 2ª edição,
página 27).

O pensamento equivocado de que Sha’ul anulou a Torá não é exclusivo do


Cristianismo. Incidindo no mesmo engano, o Judaísmo rabínico sustenta
que Sha’ul (Paulo) foi um apóstata, por posicionar-se contra a Torá. Em
“Toledot Yeshu”, por exemplo, que se trata de uma antiga paródia rabínica
dos Evangelhos e do livro de Atos, acusa-se Sha’ul de contradizer os
ensinos de Yeshua, causando muitos problemas (Toledot Yeshu 6:16-41;
7:3-5).

Pelo menos um dispensacionalista moderno, Maurice Johhson, leciona


que o Messias não veio abolir a Torá, mas que Sha’ul (Paulo) ensinou tal
abolição anos mais tarde. Escreveu o citado dispensacionalista:

“Aparentemente, Deus permitiu que o sistema de ordenanças judaicas


fosse praticado até trinta anos da morte de Cristo, porque em Sua
paciência, Deus foi gradualmente mostrando aos judeus.

29
Os ebionitas também cometeram outros erros doutrinários: 1) apenas
usavam o evangelho de Mateus, em uma versão menor da usada
atualmente; 2) diziam que Yeshua era “um homem simples e comum,
justificado à medida em que progredia em seu caráter”, ou seja, não era
Elohim em carne; 3) parte dos ebionitas negava o nascimento virginal do
Mashiach (vide História Eclesiástica, Eusébio de Cesaréia, Novo Século,
2002, página 67).

que Seu programa [a Torá] estava mudando… Assim, Deus foi lentamente
retirando os judeus da religião judaica, e Paulo finalmente escreveu estas
gloriosas verdades libertadoras.” (Saved by “Dry” Baptism!; a pamphlet by
Maurice Johnson; pp. 9-10).
O mencionado autor se equivoca, uma vez que assevera que o ETERNO
progressivamente promoveu uma migração do Judaísmo para o
Cristianismo, e esta religião se consumou com os escritos de Paulo. Se
Yeshua não veio criar uma nova religião, já que pregava a Torá (Mt 5:17),
conclui-se com toda certeza que Sha’ul (Paulo) não adotaria uma postura
antagônica ao Mashiach.

A incompreensão acerca dos escritos de Sha’ul se deve, em parte, à


erudição de suas palavras. Aliás, Kefá (Pedro) advertiu que as Escrituras
de Sha’ul são difíceis de serem entendidas:

“De fato, ele [Sha’ul] fala sobre essas coisas em todas as suas cartas.
Elas contêm pontos difíceis de entender, coisas que os indoutos e os
instáveis distorcem, para sua destruição, como também o fazem com as
outras Escrituras.” (Kefá Beit/2ª Pedro 3:16).

Extrai-se do texto que algumas pessoas estavam distorcendo os ensinos


de Sha’ul, o que recebeu a reprovação de Kefá (Pedro). Lamentavelmente,
foram estas distorções que se instalaram no Cristianismo, e até hoje
persistem.

Sha’ul (Paulo) sabia que seus ensinos estavam sendo deturpados, pois
menciona este fato ao escrever aos romanos:

“Na verdade, por que não dizer (como algumas pessoas nos caluniam ao
afirmar que declaramos): ‘Façamos o mal, para que nos venha o bem?’ A
condenação dessas pessoas é justa!” (Ruhomayah/Romanos 3:8)

Sha’ul fala da distorção caluniadora de seus ensinamentos, dizendo:

“Portanto, devemos dizer: ‘Vamos continuar pecando para que haja mais
graça?’ De jeito nenhum!” (Ruhomayah/Romanos 6: 1- 2).

“Desse modo, a que conclusão chegamos? ‘Vamos pecar, porque não


jazemos sob o legalismo, mas debaixo da graça?’. Elohim não
o permita!” (Ruhomayah/Romanos 6:15 – tradução da Bíblia Judaica
Completa, com a substituição de “Deus” por “Elohim”).
Reflita sobre os versos citados. Sha’ul ensinou que o homem não deveria
pecar (Rm 6:1-2). Logo, se pecado significa violação da Torá, esta é a
ideia contida em Rm 6:1-2: “Portanto, devemos dizer: ‘Vamos continuar
pecando [= violando a Torá] para que haja mais graça?’ De jeito nenhum!”.

A mensagem de Sha’ul é clara como a luz do dia, qual seja, o homem


deve abandonar todo o tipo de transgressão contra a Torá (o pecado). Isto
demonstra que a lição de Sha’ul está em total harmonia com o magistério
de Yeshua, porquanto ambos pregaram a Torá.

Então, Sha’ul (Paulo) foi mal interpretado quando alguns acharam


incorretamente que, por estarmos debaixo da graça, não seria mais
preciso observar a Torá. Se Yeshua ensinou que não veio revogar a
Torá (Mt 5: 17), é óbvio que esta NÃO seria revogada por Sha’ul!!!

Após sua visita a Jerusalém em Atos 21, Sha’ul foi confrontado com a
deturpação de seus ensinamentos. Foi-lhe dito:

“Ao ouvir o relato, eles louvaram a Elohim, mas também lhe disseram:
‘Vejam, irmãos, quantas dezenas de milhares de crentes há entre os
habitantes de Yehudá, e eles são zelosos da Torá”.

“O que eles ouviram falar a seu respeito é que você [Sha’ul] está
ensinando aos judeus que vivem entre os gentios a apostatar de Moshé
[Moisés], dizendo-lhes que não mais realizem a circuncisão em seus filhos
e não sigam as tradições.” (Atos 21:20- 21).

A fim de provar que isso não era nada mais do que calúnia, Sha’ul cumpre
o voto de nazireu e vai fazer ofertas (sacrifícios30) no Templo (At 21:22-26
e Nm 6:13- 21), demonstrando que ele próprio observava a Torá:

“Que faremos? Certamente eles saberão que você [Sha’ul] chegou;

30
Obviamente, o sacrifício realizado por Sha’ul não era para a remissão de
pecados, já que este sacrifício foi realizado perfeitamente por Yeshua. Não
obstante, a Torá prevê várias espécies de sacrifícios com outras
finalidades (ex: o sacrifício de pazes/shelamim destina-se ao
reconhecimento a Elohim pelas suas generosidades e bondades em geral;
Lv 3).
portanto, faça o que lhe dizemos. Estão conosco quatro homens que
fizeram um voto.

Participe com esses homens dos rituais de purificação e pague as


despesas deles, para que rapem a cabeça. Então todos saberão que não é
verdade o que falam de você, mas que você continua vivendo em
obediência à Torá [Lei]” (Ma’assei Sh’lichim/Atos 21:22-24).

Sha’ul fez e disse muitas coisas para provar que os nazarenos mantinham
e ensinavam a Torá. Sha’ul:

1. circuncidou Timóteo (Atos 16:1-3);


2. fez o voto de nazireu (Atos 18:18; 21:17-26);
3. ensinou que fossem observadas as festas prescritas por YHWH, tais
como: a) Pessach/Páscoa (Atos 20:6)31; b) Shavuot/Pentecostes
(Atos 20:16; 1Cr 16:8.);
4. jejum no Yom Kippur (Atos 27:9)
5. guardava o shabat (At 17:2; 18:4)
6. ainda realizava sacrifícios de animais no Templo (Atos 21:17-26/
Números 6:13-21; Atos 24:17-18). Obviamente, tais sacrifícios não
eram para a remissão de pecados, pois o sacrifício de Yeshua foi
perfeito. Porém, a Torá prevê outros tipos de sacrifícios (exemplo:
ofertas de paz, Lv 3).

Há inúmeras passagens na B’rit Chadashá apontando que Sha’ul (Paulo)


cumpria a Torá. Vale citar notáveis declarações do próprio Sha’ul:

“Não cometi nenhuma ofensa contra a Torá, crida pelos judeus, nem
contra o Templo, nem contra o imperador.” (Atos 25:8).

“Eu não fiz nada contra o nosso povo ou os costumes de nossos pais.”
(Atos 28:17).

“… a Torá é santa, e o mandamento é santo, justo e bom.” (Rm 7:12).

“Porque, no eu interior, concordo totalmente com a Torá de Elohim…”


(Rm 7:22).
31
Já que pessach (páscoa) é seguida da festa das matzot (pães ázimos),
Atos 20:6 refere-se a ambas as festas.

“Segue-se então que abolimos a Torá por meio dessa fé? De maneira
nenhuma! Ao contrário, confirmamos a Torá.” (Rm 3:31).

Após serem confrontados por vários atos e ensinos de Sha’ul que


comprovam que a Torá ainda é válida e dura para sempre, aqueles que
ensinam que “a Lei acabou” acusam Sha’ul de ser um hipócrita.

Charles Ryrie, por exemplo, nos comentários de rodapé ao texto de Atos


21:24 (Bíblia de Estudo Ryrie), afirma que Sha’ul (Paulo) era um “cristão
no meio da estrada” (“em cima do muro”, ou um “meio cristão”). M.A.
DeHaan escreveu em um livro chamado “Cinco erros de Paulo” que Sha’ul
cometeu erros porque seguia a Torá. Estes professores da iniquidade
(opositores da Torá) lecionam que Paulo obedecia aos mandamentos da
Torá, mas ensinava que os outros não precisavam obedecê-la por ter sido
anulada. Em outras palavras, Sha’ul seria um hipócrita, pois guardaria a
Torá mesmo sabendo que esta não mais existe.

Vejamos o que diz o próprio Sha’ul (Paulo) acerca de sua suposta


hipocrisia:

“Por acaso busco agora a aprovação humana? Não. Desejo a aprovação


de Elohim! Ou estou tentando agradar às pessoas? Se eu ainda fizesse
isso, não seria servo do Messias” (Gl 1:10).

“Vocês mesmos sabem, irmãos, que a visita que lhes fizemos não foi
infrutífera. Ao contrário, apesar de termos sofrido e sido insultados em
Filipos, como sabem, tivemos a coragem, unidos a Elohim, de lhes
anunciar as boas-novas, em meio a grande pressão. Porque a solicitação
que fazemos não procede de erro ou de motivos impuros, tampouco
temos a intenção de enganá-los. Ao contrário, pelo fato de Elohim ter
nos testado e considerado aptos, confiou-nos as boas-novas; esta é a
razão pela qual falamos: não para obter o favor das pessoas, mas o
de Elohim, que testa o coração. Pois, como sabem, jamais
empregamos discursos lisonjeiros, nem nos mascaramos a fim de
dissimular a cobiça – Elohim é testemunha.” (1 Ts 2: 1-5).
Já que Sha’ul disse expressamente que guardava a Torá (At 25:8, Rm
3:31, Rm 7:12,22), das duas uma: ou disse a verdade ou estava mentindo
em suas epístolas.

Quem foi Paulo? Zeloso da Torá ou hipócrita? Ficamos com a primeira


opção. E você?

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