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Introdução a Literatura e conceitos Judaicos

UMA LEI = UM LIVRO

Vamos nesta lição trabalhar com tópicos de livros e documentos


para, portanto rever o conceito de um livro divido com um
fundamento. Não que estejamos ignorando que Cristo veio trazer
uma Nova aliança, mas apenas que a divisão dos livros com nomes
de testamento foram apenas conceitos estratégicos.

ARGUMENTOS EQUIVOCADOS
(BASEADO NA TESE JUDAÍSMO NAZARENO)
Ressaltou-se que a Torá é eterna e deve ser cumprida, contudo, o
Cristianismo se vale de vários argumentos para defender a absurda
tese de que “a Lei foi revogada”.
As principais alegações tomam por base os textos bíblicos em que
aparecem as expressões “obras da lei” e “debaixo da lei”. Agora,
serão perscrutadas outras teses cristãs acerca da suposta “extinção
da Lei”.
1ª Falsa Tese cristã:
Paulo aboliu a Lei ao afirmar que esta chegou ao fim com Cristo
“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.”
(Romanos 10:4, Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
O vocábulo “fim” não tem o sentido de “término, extinção”, mas
sim de “finalidade, objetivo”. E esta conclusão se extrai ao se
analisar os textos em grego e em aramaico de Rm 10:4,
respectivamente:
Em grego foi usada a palavra telos (τελος) e em aramaico sake (‫הֵ כָס‬
,(sendo que ambas denotam finalidade, objetivo. Então, em Rm 10:
4, Sha’ul quer dizer que o objetivo da Torá é nos levar ao Mashiach,
e não que a Torá foi abolida por Yeshua.
2ª Falsa Tese cristã:
A Lei traz maldição “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei
estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo
aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas
no livro da lei, para fazê-las” (Gálatas 3:10, Almeida Corrigida e
Revisada Fiel)
Já vimos que o termo “obras da lei” não significa Torá (Lei), mas sim
legalismo. Então, Sha’ul afirmou que os que seguem o legalismo
estão debaixo de maldição. Por outro lado, quem cumpre a Torá
será abençoado (Dt 28:1-4 e Rm 7:12) e quem a descumpre,
amaldiçoado (Dt 28:15-68 e parte final de Gl 3:10). Por conseguinte,
a Torá não traz maldição, esta é lançada apenas para os legalistas e
desobedientes, e nunca para os fiéis.
3ª Falsa Tese cristã:
A Lei foi abolida por Cristo na cruz
“Porque ele [Yeshua] é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez
um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na
sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que
consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo
homem, fazendo a paz.” (Efésios 2:14-15, Almeida Corrigida e
Revisada Fiel).
Este texto traduzido por João Ferreira de Almeida parece indicar
que Yeshua aboliu a Lei (“na sua carne desfez a inimizade, isto é, a
lei dos mandamentos”). Todavia, como compatibilizar esta
tradução com a passagem em que Yeshua disse que não veio para
abolir a Lei (Mt 5:17) e com o ensino de Sha’ul no sentido de que a
Lei continua válida (Rm 3:31)? Estaria Sha’ul falando uma coisa (Rm
3:31) e logo depois desdizendo (Ef 2:14-15)? Como resolver esta
contradição de versículos?
Resposta: a tradução de João Ferreira de Almeida de Ef 2:14-15 não
expressa a real mensagem de Sha’ul. Se consultarmos a versão
Peshitta em aramaico, língua falada amplamente no primeiro
século em Israel, inclusive por Yeshua, enxergaremos claramente o
sentido da redação:
TRADUÇÃO DE EF 2:14-15:
“Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um;
derrubando o muro que estava no meio. E em sua carne a
inimizade, e a tradição (A palavra “namusa” pode assumir o
sentido de tradição ou costume, tal como é usada em At 28:17. Ao
comentar Ef 2:15, o aramaicista Andrew Gabriel Roth explica que
namusa se refere a “costumes” adotados pelas tradições dos
fariseus, e não a Torá - Aramaic English New Testament, 4ª
edição, página 580, nota de rodapé nº 22). de preceitos em seus
mandamentos foram abolidos, para em si mesmo poder fazer dos
dois um novo homem, estabelecendo a paz.
” O texto quer dizer que Yeshua aboliu a tradição de preceitos
(regras criadas pelos homens) por meio de seus mandamentos.
Com efeito, existem regras que não foram ditadas pelo ETERNO,
mas terminaram sendo determinadas por rabinos como se
tivessem a mesma força dos mandamentos bíblicos, tratando-se de
verdadeiro acréscimo humano às Escrituras. Ora, ninguém tem o
poder de acrescer nada à Tora (Dt 4:2 e Dt 13:1 ou Dt 12:32), razão
pela qual Yeshua anulou as tradições antibíblicas (Mc 7:8-13). E é
justamente este ponto que Sha’ul está abordando em Ef 2:14-15.
Releia a passagem traduzida do aramaico e constate que é usada a
palavra “muro”. “Muro” (ou cerca) é o mesmo vocábulo que consta
da Mishná: “... construí uma cerca protegendo a Torá” (Avot 1:1). E
o que significa?
“Cerca” (ou muro) é uma lei rabínica instituída para prevenir um
indivíduo de transgredir a Torá, formando-se, então, uma “cerca”
envolta do mandamento para evitar a sua transgressão. Exemplo:
o ETERNO proibiu que se transportassem cargas no shabat (Jr
17:21-22). Os rabinos fizeram um acréscimo (cerca/muro) dizendo
que, se algo cair de seu bolso durante o shabat (sábado), você não
poderá abaixar-se e pegar o objeto, pois este ato seria equivalente
a “transportar cargas”. Este acréscimo rabínico, chamado de
“muro” ou “cerca”, é totalmente absurdo, e por isso recebeu as
críticas de Yeshua. Forneci apenas um exemplo, mas existem
literalmente milhares de “cercas” criadas pelo Judaísmo rabínico
sem nenhum respaldo bíblico. Tem-se dito, em outros momentos,
que Sha’ul lutou contra o legalismo dentro da religião judaica, e
este é o tema de Ef 2:14-15. Novamente será citado este texto,
traduzido do aramaico, mas agora com interpolações feitas entre
colchetes:
“Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um;
derrubando o muro [tradições antibíblicas] que estava no meio. E
em sua carne a inimizade, e a tradição de preceitos [tradições
antibíblicas] em seus mandamentos foram abolidos, para em si
mesmo poder fazer dos dois um novo homem, estabelecendo a
paz”.
Destarte, Sha’ul não contesta a Torá (Lei), mas guerreia contra as
legalistas tradições!
E mais: de acordo com a tradição legalista judaica, os gentios eram
vistos como seres inferiores, existindo inclusive um muro no
Templo que impedia o acesso de gentios. Com o cumprimento da
missão de Yeshua, esta separação antibíblica acabou, e é por isso
que Sha’ul sustenta que de ambos os povos (judeus e gentios) o
Mashiach fez um (Ef 2:14), já que YHWH não faz acepção de
pessoas.
4ª Falsa Tese cristã:
O Velho Testamento foi anulado
“14. Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o
mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual
foi por Cristo abolido;
15. E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o
coração deles.
16. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará.
17. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí
há liberdade.” (2ª Coríntios 3:14-17, Almeida Corrigida e Revisada
Fiel).
Pelo texto transcrito, diz-se que Cristo aboliu o Velho Testamento.
Mais uma vez a tradução de João Ferreira de Almeida está
equivocada, caso seja contrastada com os manuscritos redigidos na
língua falada pelos nazarenos no primeiro século (As línguas
faladas em Israel no primeiro século eram o hebraico e o aramaico
e, com toda certeza, eram de domínio de Yeshua e dos nazarenos,
conforme atestam os mais abalizados historiadores.)
TRADUÇÃO de II Co 3:14-17:
14. Mas eles estão cegos em suas mentes até hoje. Quando leem
a Antiga Aliança, o véu permanece sobre eles, e não percebem que
através do Mashiach o véu é removido.
15. Até hoje, quando Moisés é lido, o véu permanece cobrindo
seus corações.
16. Porém, sempre que alguém se volta para YHWH, o véu é
removido.
17. Ora, YHWH é Ruach [o “Espírito Santo”], e onde está a Ruach
de YHWH, aí há liberdade”.
Na passagem corretamente traduzida, o Mashiach retira o véu para
que o homem consiga enxergar a verdade, e isto não tem nada que
ver com a abolição da Torá. E qual é o véu que impede o homem de
entrar em comunhão com YHWH? É o pecado, como escreveu o
profeta Yeshayahu/Isaías: “Todavia, são as suas transgressões que
os separam de Elohim; seus pecados escondem-lhe o rosto de
vocês” (Is 59:2). Assim, Sha’ul (Paulo) leciona que quando alguém
retorna para YHWH, ou seja, abandona seus pecados, então, o véu
é removido pelo Mashiach Yeshua (II Co 3:14 e 16).
Se os israelitas lerem a Torá “Antiga Aliança” (Aqui, “Antiga
Aliança” não tem o sentido de ultrapassada, revogada, e sim de
ser uma Lei datada da antiguidade. Com efeito, a Torá vigora por
milênios e, assim, é considerada um documento antigo) com
cegueira (II Co 3:14), que nada mais é do que o legalismo, o véu do
pecado continuará sobre eles. Contudo, quando há o verdadeiro
arrependimento e a pessoa retorna aos braços do ETERNO, Yeshua
extingue o véu do pecado, e as pessoas passam a desfrutar de um
verdadeiro relacionamento com YHWH. Outrora, o homem estava
escravizado pelo pecado, agora, após ser liberto deste, pode
desfrutar da presença da Ruach (Espírito) de YHWH (II Co 3:17).
Conclusão: de acordo com o texto original de II Co 3:17, Yeshua veio
para abolir o véu do pecado, e não para abolir a Torá.
5ª Falsa Tese cristã:
A Lei foi abolida, tanto é que ocorreu sua alteração
“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz
também mudança da lei. Porque aquele de quem estas coisas se
dizem pertence a outra tribo, da qual ninguém serviu ao altar,
Visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e
concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio. E
muito mais manifesto é ainda, se à semelhança de Melquisedeque
se levantar outro sacerdote, Que não foi feito segundo a lei do
mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível.
Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente,
Segundo a ordem de Melquisedeque. Porque o precedente
mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e
inutilidade.” (Hebreus 7:12-18, Almeida Corrigida e Revisada Fiel)

Analisando-s o contexto da passagem transcrita (vide Hb 4:14 a Hb


7:28), o autor de Hebreus está afirmando que o Mashiach é kohen
hagadol (sumo sacerdote) superior aos kohanim (sacerdotes) de
descendência levítica. Para justificar este raciocínio, pauta-se nos
seguintes argumentos:
a) o Mashiach é Filho de Elohim e existe desde a eternidade (Hb
5:5-6), enquanto os outros sacerdotes são apenas homens;
b) Yeshua nunca pecou (Hb 4:15), e os outros sacerdotes eram
pecadores;
c) ainda que Yeshua não seja da tribo de Levi, exerce sacerdócio,
porque MalkiTsedec (Melquisedeque) era sacerdote do ETERNO
antes da instituição do sacerdócio levítico, e Yeshua é kohen
hagadol (sumo sacerdote) à imagem de MalkiTsedec (Hb 5:5-6, 10
e 7:1-7);
d) os sacerdotes humanos eram pecadores e ofereciam sacrifícios
por si e pelo povo, Yeshua é perfeito e ofereceu a si mesmo como
sacrifício para sempre (Hb 7:23- 28).
É neste contexto que o autor de HEBREUS escreveu os versículos
acima reproduzidos: “mudando-se o sacerdócio, necessariamente
se faz também mudança da lei... Porque o precedente
mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade”
(Hb 7:12 e 18). E qual o sentido deste escrito?
Que se tornou inaplicável atualmente a regra de sacrifício de
animais para a expiação de pecados, já que o sacrifício de Yeshua
foi perfeito e definitivo. Então, o que é “ab-rogado por causa de sua
fraqueza e inutilidade” é o sacrifício de animais, e não a Torá. Por
sua vez, a “mudança de lei” está ligada à alteração do sacerdócio,
que antes era humano (levítico) e imperfeito, e que agora pertence
ao Sumo Sacerdote Yeshua HaMashiach.
CONTINUA...

Dados Bibliográficos:

Enciclopédia Católica – verbete Tertuliano


(http://oce.catholic.com/index.php?title=Tertullian)

(Aramaic English New Testament, 4ª edição, 2011).

TZADOQUE – Judaísmo Nazareno

Adaptações: Alexandre Kaman

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