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TORÁ: A INSTRUÇÃO QUE DURA PARA

SEMPRE

XIV – MANDAMENTOS VINCULADOS A CIRCUNSTÂNCIAS HISTÓRICAS

Temos visto que a Torá, os cinco primeiros livros de Moshé, é a instrução


de YHWH para toda a humanidade, cujos mandamentos (mitsvot) duram
para sempre, e que Yeshua não anulou a Torá. Não obstante, existem
mitsvot que foram criadas pelo ETERNO para vigorarem apenas por
determinado período de tempo, em função de certas circunstâncias.
Desaparecidas estas circunstâncias, tais mandamentos se tornam
inaplicáveis.

Em outras palavras, há dois grandes grupos de leis contidas na Torá: a)


normas desvinculadas de qualquer tipo de circunstância, cujos efeitos são
para sempre (leis permanentes); b) normas vinculadas a determinadas
circunstâncias, que perdem a eficácia na hipótese de desparecimento das
circunstâncias que abalizaram sua edição (leis
circunstanciais/temporárias). Enquanto no primeiro grupo estão
mandamentos que serão vigentes e aplicáveis durante toda a história da
humanidade, no segundo situam-se aqueles que são reputados leis
circunstancias, isto é, irão vigorar apenas durante o período histórico em
que estiverem presentes as circunstâncias que fundamentaram sua
instituição. Vejamos alguns exemplos.

São exemplos de leis permanentes: a) não terás outros deuses diante de


YHWH; b) não matarás e c) não adulterarás (Dt 5:7,17 e 18). Estes
mandamentos são leis permanentes, porque nunca irão desparecer, seus
efeitos se protraem no tempo. A grande maioria das leis da Torá são
permanentes.

Por outro lado, são exemplos de leis circunstanciais/temporárias: a) regras


acerca da compra de escravos (Lv 25:44); b) proibição de encostar-se à
mulher ou mesmo em sua cama durante o período de menstrual (Lv
15:23). Estes mandamentos, apesar de constarem na Torá, se tornaram
inaplicáveis aos dias de hoje, porquanto inexistem as circunstâncias
históricas que lhe deram causa.

Em relação à escravidão, nunca foi desejo do ETERNO que esta


deplorável instituição permanecesse, porém, quando foi ditada a Torá, de
fato vigorava o regime escravocrata, e a dureza no coração do ser humano
era tão grande que não adiantaria sua abolição imediata por YHWH.
Então, o ETERNO criou regras para proteção dos escravos, não por que
aprovasse a escravidão, mas sim pelo fato de desejar limitar e restringir ao
máximo os efeitos deletérios da escravatura, até que a humanidade
evoluísse e a escravidão desaparecesse. Em uma sociedade cruel, a Torá
contém o primoroso e ético mandamento de amar os escravos
estrangeiros como a si próprios (Lv 19:34), preceito que não se encontra
em nenhuma legislação da antiguidade, e nem mesmo em leis dos povos
ocidentais. Assim, as normas da Torá acerca dos escravos eram aplicáveis
apenas durante a vigência de certa circunstância: a escravidão. Com o fim
do regime escravocrata, que foi do desiderato de YHWH, tais leis
temporárias perderam a razão de ser e, consequentemente, são
inaplicáveis.

Do mesmo modo deve ser tratada a regra que impedia alguém encostar-se
à mulher durante o ciclo menstrual, ou até mesmo em sua cama (Lv
15:23). Esta norma foi estabelecida para fins higiênicos, evitando-se a
contaminação por doenças transmissíveis pelo sangue, já que era
deficiente o sistema higiênico (ex: não havia absorvente íntimo nem água
em abundância), lembrando-se que o povo recebeu a Torá quando estava
no deserto. Atualmente, ainda que a mulher esteja no período menstrual,
seu marido pode se deitar na mesma cama, sem o perigo de
contaminação, uma vez que os métodos higiênicos de hoje são mais
avançados. Por conseguinte, havendo o desparecimento da circunstância
que impedia o homem de simplesmente tocar na cama (precárias
condições de salubridade), torna-se inaplicável a regra de Lv 15:23.

Em síntese, a Torá é a instrução de YHWH que dura para sempre, mas o


próprio ETERNO estatui leis circunstanciais (temporárias) que, em certo
momento histórico, iriam deixar de produzir efeitos.
Isto não significa que a Torá foi revogada, mas tão somente que algumas
leis foram criadas desde o princípio com prazos de validade, determinados
de acordo com as circunstâncias que lhes são afetas. Alguns teólogos
cristãos usam maldosamente estas leis circunstancias para tentar provar
que Yeshua anulou a Torá. Ora, a perda de eficácia de muitas leis
circunstanciais nada tem que ver com o Mashiach ou com sua mensagem,
bastando lembrar que o fim da escravidão e a evolução das regras de
higiene não se relacionam com o ministério de Yeshua, razão pela qual
este não é o responsável pela inaplicabilidade das leis insertas em Lv
25:44 e Lv 15:23. Estes mandamentos não mais produzem efeitos em
função da mutação das circunstâncias históricas, e não por causa do
ensino do Mashiach.

Por outro lado, há mandamentos que são hoje inaplicáveis em decorrência


direta da vida e da obra de Yeshua HaMashiach. Por exemplo: a expiação
de pecados não depende do sacrifício de animais, pois o sacrifício de
Yeshua foi prefeito, inferindo- se daí que, ainda que hoje houvesse o
Templo em Jerusalém, seria inócua a imolação de animais com este
propósito.

Alguém poderia perguntar: “Se Yeshua disse que não veio para revogar a
Torá (Mt 5:17), por que foi anulado o mandamento dos sacrifícios de
animais para expiação de pecados?” A explicação é extremamente fácil: o
mandamento sobre o sacrifício de animais para remissão de pecados é
uma lei temporária/circunstancial, cujos efeitos estavam vinculados a
determinado cenário, sendo certo que o ETERNO a instituiu já sabendo de
antemão que um dia chegaria ao fim. Com a morte e a ressurreição de
Yeshua, houve a alteração das circunstâncias, e a lei do sacrifício de
animais perdeu sua aplicabilidade. Logo, não foi revogada a lei dos
sacrifícios expiatórios, mas apenas ocorreu a perda de aplicabilidade pela
superveniência de um fato novo – o sacrifício único e perfeito de Yeshua
HaMashiach. Porém, o princípio continua o mesmo, como escreveu o autor
de Ivrim/Hebreus:

“Pois, segundo a Torá, quase todas as coisas são purificadas com sangue;
de fato, sem derramamento de sangue não há perdão de pecados.”
(Hb 9:22; vide Lv 17:11).
Portanto, antes e depois de Yeshua o princípio permanece, qual seja, o
derramamento de sangue é meio para o perdão dos pecados, porém,
agora temos o sangue de Yeshua!!!

“Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.

(…)

Mas este [Yeshua], quando acabou de oferecer, para sempre, um único


sacrifício pelos pecados, sentou-se à direta de Elohim e passou a esperar,
daí em diante, até que seus inimigos sejam colocados como estrado dos
seus pés. Por meio de um único sacrifício, ele conduziu ao objetivo, de
uma vez por todas, os que estão sendo separados por Elohim para serem
santos.” (Ivrim/Hebreus 10:4, 12-14).

Examinemos, agora, outras leis circunstanciais que não são mais


aplicadas nos dias de hoje, em decorrência da alteração das
circunstâncias fáticas.

Tendo sido destruído o Beit Hamikdash (Templo) pelos romanos no ano 70


D.C, são inaplicáveis as leis referentes ao Templo e aos kohanim
(sacerdotes), como, por exemplo, os mandamentos de Nm 18:23; Ex
30:19; Ex 27:21; Ex 25:30; Ex 30:7; Lv 6:6; Lv 6:3; Lv 21:8; Ex 28:2 etc.

Também perderam a eficácia os mandamentos acerca dos sacrifícios: Nm


28:3; Lv 6:13; Nm 28:9; Lv 23:26; Lv 23:10; Nm 28:26-27; Nm 29:7-8; Nm
29:13; Ex 23:14; Ex 34:23; Dt 16:14; Ex 12:6; Nm 10:9-10; Lv 22:27; Lv
22:21; Lv 2:13; Lv 1:2; Lv 6:18; Lv 4:13 etc.

Rituais de purificação que necessitam dos sacerdotes e do Templo são


inaplicáveis atualmente: Lv 13:13; Lv 13:51: Lv 14:44; Lv 14:2, 9 etc.

Não mais podem ser exigidas as doações que eram dirigidas ao Templo:
Lv 27:2-8; Lv 27:11-12; Lv 27:14, 16; Lv 5:16; Ex 23:19; Dt 18:4; Dt 14:22;
Nm 18:26; Dt 26:13; Dt 26:5; Nm 15:20 etc.

São leis circunstanciais, atualmente desprovidas de eficácia, as proibições


relativas a certos eventos históricos: Dt 17:16; Dt 20:16; Dt 23:4; Dt 23:7;
Dt 25:19 etc.
Outra questão importante diz respeito à determinação da Torá para que
seja aplicada a pena de morte em alguns casos (ex: idolatria, feitiçaria,
consulta aos mortos, adultério, homossexualismo). Será que hoje alguém
deveria matar os feiticeiros? A resposta é negativa. No antigo Estado de
Israel, o sistema era teocrático, ou seja, o ETERNO reinava sobre o povo e
impunha a pena de morte a pecados considerados gravíssimos.
Atualmente, os Estados são laicos, dirigidos por homens e por leis
humanas, e não pelo ETERNO e pela Torá – a lei celestial. Se, por
exemplo, alguém matar um feiticeiro no Brasil, será condenado pelo crime
de homicídio. Por outro lado, no antigo Israel, quando um juiz sentenciava
um homossexual à morte, a decisão era legítima porque contava com o
aval do ETERNO. Porém, mesmo na antiguidade, os crimes punidos com
pena de morte podiam ser perdoados, caso houvesse o verdadeiro
arrependimento. Como exemplo, recorda-se que o rei David cometeu
adultério e, em tese, deveria ser sancionado com a morte, porém,
arrependeu-se, recebendo o perdão de YHWH.

Com isto, nos Estados laicos contemporâneos é inviável a aplicação da


pena de morte, até pelo fato de as sociedades permitirem as condutas da
idolatria, feitiçaria, homossexualismo, adultério etc. Porém, todos estes
elementos continuam sendo reputados pecados gravíssimos aos olhos do
ETERNO. Se vivêssemos em um Estado religioso, regido pela Torá, então,
não haveria espaço para feiticeiros, idólatras, adúlteros, homossexuais e
demais pessoas que se rebelam contra YHWH. Quando Yeshua voltar
para reinar sobre toda a terra, haverá a condenação daqueles que optaram
por viver na impiedade. Segundo o livro de Guilyana (Apocalipse), aqueles
que cometeram pecados puníveis com a morte serão condenados ao lago
de fogo e enxofre (exceto se houver arrependimento):

“Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que


cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e
todos os mentirosos — o lugar deles será no lago de fogo que arde com
enxofre. Esta é a segunda morte.” (Ap 21:8).

Logo, o fato de não se poder aplicar a pena de morte nos dias de hoje não
é sinal de que o ETERNO aprove condutas nefastas, tais como idolatria,
feitiçaria, consulta aos mortos, adultério e homossexualismo. Tais práticas
continuam sendo definidas como pecado, porque a Torá é eterna, mas
somente não se impõe a pena capital pela alteração de circunstâncias
fáticas e jurídicas (o Estado religioso se tonou laico). Com o retorno de
Yeshua como Rei dos reis e Senhor dos senhores, será implantado o
Reino de Elohim na terra durante o milênio de paz, e novamente o Estado
será religioso. Amen!!!

Foram ilustrados apenas alguns exemplos de leis circunstanciais para


demonstrar que o praticante da Torá deve interpretá-la adequadamente,
não podendo adotar comportamentos absurdos com um suposto aval da
Lei. Exemplo: alguns incautos querem justificar a poligamia alegando que
a Torá é eterna e que vários homens da Bíblia tinham mais de uma mulher.
Ora, é verdade que a Torá é eterna, porém, também é verídico que a Torá
instituiu leis circunstanciais (com duração temporária), que desapareceram
em função da evolução da humanidade. E este é justamente o caso da
poligamia, conduta que era aceitável no passado, mas que não faz parte
do plano do ETERNO para as famílias. Tanto é que em Bereshit (Gênesis),
o primeiro livro da Torá, YHWH criou um homem e uma mulher, e declarou
que os dois seriam uma só carne, mandamento repetido por Yeshua (Gn
2:24 e Mt 19:5). Como se percebe, a instituição da primeira família foi
monogâmica, e não poligâmica.

Como distinguir e saber qual mandamento é eterno e qual mandamento é


circunstancial?

Em regra, todos os mandamentos do ETERNO estão em vigor. Este


princípio é fundamental: devemos nos esforçar para cumprir tudo o que foi
prescrito por YHWH. Somente poderão ser considerados mandamentos
temporários e desprovidos de eficácia aqueles que não puderem ser
cumpridos atualmente pelo desaparecimento de pressupostos fáticos (ex:
leis do Templo e dos sacerdotes; leis sobre a escravidão; leis sacrificiais;
leis de purificação que dependam dos sacerdotes e do Templo). Logo, a
regra é o cumprimento de todos os mandamentos, e somente em
situações excepcionais certos preceitos podem ser considerados
inaplicáveis. Havendo dúvida sobre o caráter permanente ou temporário de
determinada lei, é melhor cumpri-la do que se arriscar e cair em
desobediência.

Quanto ao aspecto das leis permanentes e temporárias (circunstanciais), o


Cristianismo causa uma grande confusão, porque parte da errônea
premissa de que “a Lei foi anulada” e, consequentemente, termina por
ensinar a desobediência a mandamentos que estão em vigor! Assim
procedendo, leva muitos cristãos a viver em pecado, definido como
transgressão à Torá.

A título exemplificativo, e sem a pretensão de enumerar uma lista


completa, serão indicados alguns mandamentos ainda vigentes, mas
que são ignorados pela grande massa de cristãos:

1. Temer YHWH (Dt 6:3). Muitos cristãos aprendem apenas a amar


YHWH, mas não são ensinados sobre o conceito de “temor”,
bem como sobre a ira do ETERNO para com os desobedientes;
2. Andar nos caminhos de YHWH (Dt 28:9). Se a Torá é o
“caminho” de YHWH e os cristãos recebem o ensino que a Torá
não precisa ser cumprida, então, passam a andar fora do
caminho do ETERNO;
3. Estudar e ensinar a Torá (Dt 6:7);
4. Santificar o nome de YHWH (Lv 22:32). São poucos os cristãos
que cumprem este mandamento;
5. Guardar o shabat/sábado (Dt 5:12-15). A grande maioria do
Cristianismo não cumpre o shabat, porém, há Igrejas Cristãs
que observam fielmente o dia sagrado;
6. Guardar as festas bíblicas (Lv 23). É triste saber que os cristãos
celebram festas pagãs, deixando de lado inúmeros festivais
determinados pelo ETERNO;
7. Manter a virgindade antes do casamento (Dt 22:20-21). YHWH
chama de prostituta a mulher que perde a virgindade antes do
casamento. Atualmente, no meio cristão, são raríssimas as
mulheres que preservam a virgindade;
8. Observar as leis alimentares (Lv 11);
9. Abster-se de relações sexuais com a mulher durante o período
menstrual (Lv 15:19 e 24);
10. Recitação do “Shemá” na parte da manhã e à noite (Dt 6:7);
11. Usar tsitsit azul (Nm 15:38-41);
12. Afixar a mezuzá em suas portas (Dt 6:9).

Estes são apenas alguns exemplos de mandamentos que, via de regra,


são descumpridos pelos cristãos. Este descumprimento não decorre,
muitas vezes, da rebeldia ou má-fé dos cristãos. Não! Há pessoas sinceras
e honestas que não cumprem certos mandamentos porque receberam o
falso ensino de que “a Lei foi abolida”. Por isto, é extremamente relevante
que os cristãos de hoje façam o mesmo que seus irmãos cristãos do
primeiro século fizeram: estudar a Torá. Como explicado no primeiro
capítulo deste livro, no início do Judaísmo Nazareno, nazarenos (judeus) e
cristãos (gentios) estavam unidos e em perfeita comunhão, estudando a
Torá de Moisés e frequentando as sinagogas em cada shabat (sábado),
consoante afirma o livro de Ma’assei Sh’lichim (Atos dos Emissários):

“Portanto, minha opinião é que não devemos pôr obstáculos no caminho


dos gentios que estão se voltando para Elohim.

(…)

Porque, desde os tempos antigos, Moshé [Moisés] é anunciado em todas


as cidades, e suas palavras são lidas nas sinagogas a cada shabat.” (At
15:19, 21).

Nos versos transcritos, Ya’akov (Tiago) explica que os gentios estavam


voltando para Elohim e, por isso, estariam nas sinagogas a cada shabat
para aprender as palavras de Moshé (Moisés), isto é, os cinco livros da
Torá. Daí, torna-se premente que os cristãos do século XXI retornem ao
estudo da Torá e às práticas do Judaísmo Nazareno, religião praticada
pelos discípulos originais de Yeshua.

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