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O EVANGELHO DA GRAÇA

A Carta aos Gálatas

INTRODUÇÃO
Esta epístola foi escrita, provavelmente, entre os anos 49 e 55 d.C. às igrejas da região
da Galácia. Talvez seja a mais antiga escrita por Paulo. Era uma província romana da Ásia
Menor, a qual foi evangelizada por Paulo em suas viagens missionárias e, ali, se
estabeleceram várias igrejas nessa região. Portanto, a carta é endereçada não a uma
igreja, mas a igrejas.
A epístola aos Gálatas foi escrita a uma comunidade de crentes gentios que haviam
sido perturbados pelos elementos legalistas, tendo por intuito servir de tratado que lhes
reassegurasse a liberdade cristã que os crentes desfrutam em Jesus Cristo. A autoridade
apostólica de Paulo fora posta em dúvida, razão pela qual ele também procura
reestabelecer nesse livro essa sua autoridade, mostrando que aquilo que ele ensinava
não era de sua própria criação, mas antes, lhe fora dado por revelação do próprio Cristo.
A ênfase que Paulo dá à sua chamada para o apostolado, logo no primeiro versículo
desta epístola, mostra-nos que ele estava claramente na defensiva; pois embora ele
fosse o próprio progenitor espiritual das igrejas da Galácia, a sua autoridade como
ministro de Cristo fora posta em dúvida. Por essa razão é que Paulo escreveu
enfaticamente: “Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de
homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai...”. E isso a fim de assegurar aos seus
leitores que tanto a sua pessoa como a sua mensagem eram aprovadas pelos céus.

Vamos ler a Bíblia em Gálatas 1:8-10 (NVI) – “Mas ainda que nós ou um anjo do céu
pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! 9
Como já dissemos, agora repito: Se alguém lhes anuncia um evangelho diferente daquele
que já receberam, que seja amaldiçoado! 10 Acaso busco eu agora a aprovação dos
homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse
procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo”

ORAÇÃO

DESENVOLVIMENTO
O Comentário do Novo Testamento Champlin diz que... imediatamente depois de sua
primeira visita à Galácia, tendo retomado a Antioquia da Síria, Paulo ouviu notícias sobre
como os legalistas vinham perturbando as igrejas da Galácia. Estes teriam penetrado
sorrateiramente quase assim que ele partira, tendo convencido a muitos dos crentes
gálatas que Paulo era adversário de Moisés. E assim conseguiram solapar não somente o
seu prestígio entre os crentes da Galácia, mas também destruíram virtualmente a sua
mensagem sobre a graça de Deus em Cristo, misturando-a com exigências legalistas
próprias do judaísmo.
No tocante à questão dos motivos que levaram Paulo a escrever essa epístola, Lange,
em sua introdução à epístola aos Gálatas, apresenta-nos as seguintes observações: O
estado espiritual daquelas igrejas da Galácia, que a princípio fora um motivo de alegria,
havia sido tristemente perturbado por certos indivíduos cujos nomes não são revelados,
os quais, sem dúvida alguma, se diziam cristãos, embora de tendências judaizantes ou
farisaicas. Esses se declaravam em oposição direta ao ponto de vista cristão, ponto de
vista esse que, até então, prevalecera naquela igreja; e, outrossim, dirigiam seus ataques
polêmicos diretamente contra o apóstolo Paulo, como o primeiro a promulgar aqueles
pontos de vista.

1. MOTIVO DA CARTA
Um dos erros frequentes daqueles dias e, também, de hoje, é o que Paulo chamou de
‘fermento do legalismo’, então, conhecido como ‘galacianismo’. O estudo da carta aos
Gálatas é fundamental para se corrigir os erros doutrinários da fé cristã. É comum a
confusão entre a lei e a graça, onde se prega o cumprimento da lei como algo exigível
para justificação diante de Deus.
Paulo se apresenta (1:1,2) aos leitores como “apóstolo, não da parte de homem, nem
por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou
dentre os mortos”. Ele não foi comissionado nem representava alguma instituição
humana, mas unicamente Cristo. Vale dizer que, nos v.10-24, Paulo se apresenta como
alguém credenciado pelo Senhor a pregar o evangelho e, por isso, não o fazia para
agradar aos homens, mas ao Senhor. Ele faz um relato de sua vida, conversão, chamada e
capacitação para o ministério. O que ele passaria a tratar era tão relevante, que precisava
reivindicar a autoridade divina para usar suas palavras com sabedoria contra toda
estrutura religiosa, especialmente nesse caso, a judaica.

Vamos ler a Bíblia em Gálatas 1:6-7 (VIVA) – “Estou admirado de que vocês tão depressa
assim estejam desviando-se de Deus, que com o seu amor e a sua misericórdia convidou
vocês a participarem da vida eterna que Ele dá por meio de Cristo; e vocês já estão
seguindo outro “caminho para o céu” que, na verdade, não conduz absolutamente ao
céu. 7 Porque não existe outro caminho, a não ser aquele que nós lhes mostramos; vocês
estão sendo enganados por aqueles que torcem e mudam a verdade concernente a
Cristo”

Nos v.6-9, Paulo expõe a insegurança que pairava naquelas Igrejas. Depois de enaltecer
o evangelho da graça (1:4,5), ele passa a condenar o evangelho das obras. Ele se sente
(1:6,7) espantado pela rapidez com que aqueles crentes retornaram às doutrinas
judaizantes. Para ele, esse é outro evangelho que, no final das contas, não é o evangelho
da graça. Para ele (1:8,9) não era, simplesmente, fazer opção entre essa ou aquela
doutrina, mas trocar a verdade pela mentira. É bom lembrar que, não se trata apenas de
trocar o rótulo de um produto, mas sim o conteúdo todo. Destarte, era o que acontecia
e, assim, o apóstolo era tão duro ao dizer que deviam ser mesmo considerados
anátemas: amaldiçoados.
No cap.2:1-21, ele faz uma defesa contra os inimigos, os quais queriam desacreditá-lo.
Ele mostra que agia conforme todos os demais apóstolos de Cristo. Foi, então, que a
Igreja de Antioquia, bem como, a de Jerusalém não tiveram dificuldades de enviá-lo ao
ministério entre os gentios. No cumprimento da missão, depois de quatorze anos,
encontrou-se com Pedro e Tiago, e leva provas da eficácia, quando apresenta Barnabé e
Tito. Relembra um episódio da discordância e inconsistência de Pedro, o qual foi por ele
repreendido quanto à essa conduta (2:11-21).

2. O ERRO QUE FASCINA (CAP. 3)


Paulo vai mostrar como o erro fascina o ser humano e, como, até os crentes são
enganados. Ele vai reafirmar que, somente a justificação pela fé deve ser ensinada. Na
visão paulina, a promessa é superior à Lei. Nesse prisma, então, ele usa o exemplo de
Abraão, considerado o Pai da fé, e salvo porque creu e, depois, agiu. A Lei teve o
propósito básico (3:19) de mostrar ao homem sua imperfeição e incapacidade e, assim,
sentir a necessidade de um salvador.

Vamos ler a Bíblia em Gálatas 3:1-3 (JFA-RC) – “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou
para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já
representado como crucificado? 2 Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas
obras da lei ou pela pregação da fé? 3 Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo
Espírito, acabeis agora pela carne?”

@ No Livro a Mensagem de Gálatas, John Stott diz que o afastamento dos gálatas do
evangelho era não apenas uma espécie de traição espiritual, mas também um ato de
loucura. Isso porque o conteúdo do evangelho é Cristo, e este crucificado. O evangelho
oferece a justificação e o dom do Espírito. O evangelho exige não obras, mas fé.
Recebemos o Espírito pela fé e somos justificados pela fé. Assim é o verdadeiro
evangelho do Antigo e do Novo Testamento, o evangelho que o próprio Deus começou
a pregar a Abraão e que o apóstolo Paulo continuou pregando em seu tempo. E a
apresentação de Jesus Cristo crucificado diante dos olhos dos homens. Nessa base
tanto a justificação como o dom do Espírito são oferecidos. E se exige apenas a fé. Qual
é a diferença entre a lei e o evangelho? Entre as obras e a fé? A lei diz: “Faça isto”; o
evangelho diz: “Cristo já fez tudo”. A lei exige obras humanas; o evangelho exige fé na
realização de Cristo. A lei faz exigências e nos incita a obedecer; o evangelho faz
promessas e nos incita a crer. Assim a lei e o evangelho se opõem um ao outro. Na
esfera da justificação, o estabelecimento da lei é a abolição do evangelho. E por isso
que Paulo considera esse desvio da igreja uma consumada loucura.

Portanto, uma vez que Cristo chegou, nós estamos submissos a Ele e, não mais, debaixo
do jugo da Lei. É lindo saber que, em Cristo, todos somos iguais. Não há mais distinção
entre judeu e grego; escravo ou livre; homem ou mulher (3:28). As diferenças naturais
não importam mais, pois a relação com Deus depende unicamente da fé em Cristo Jesus
e da submissão ao seu senhorio. Não há mais que pensar se somos filhos da escrava
(Hagar) ou da livre (Sara) (4:21-31), uma vez que, pela fé, somos filhos de Deus (3:1-31),
gerados para sermos semelhantes a Cristo. (4:1-31).

3. A LIBERDADE CRISTÃ (5:1-15)


Qual o conceito que temos de liberdade cristã? Será livre, alguém que simplesmente
pode ‘ir’ e ‘vir’, fisicamente falando? Paulo vai tratar dessa liberdade espiritual, bem
como das emoções. Como vimos, a falta de liberdade torna o homem cativo. Uma das
coisas mais lindas que traz a justificação pela fé é a vida prática; é o fato de sermos livres
em nosso interior. Podemos até ser presos como Paulo, muitas vezes, e, mesmo assim,
podermos cantar louvores ao nosso libertador. Somente a Deus, havemos de prestar
contas e o obedecermos por amor e não por obrigação, pois sabemos que Seu caminho é
perfeito e leva à vida. Nesse viés, então, estudaremos.
Neste cap.5, a ameaça que rondava as igrejas da Galácia é de se voltar à escravidão da
Lei, desprezando dessa forma a liberdade que Cristo alcançou – liberdade do poder do
pecado e da lei mosaica, que é o caso no presente estudo. Em 5:1-4, somos exortados ao
fato de que devemos permanecer nessa liberdade, porque do contrário a obra de Cristo
torna-se em vão (v.2). Será que Cristo morreu em vão?
Todavia, é isso o que acontece, quando pensamos que podemos fazer alguma coisa ou
obedecer a alguma lei para sermos salvos. É como se substituíssemos o Salvador por nós
mesmos, ou seja, por nossas obras. A obrigação de guardar a Lei (v.3) é imperiosa. E
quem é capaz de realizar esse feito? Os falsos mestres, que andavam entre as igrejas,
ensinavam dessa forma, o que para o apóstolo era um impedimento para continuarem
bem a caminhada cristã (5:7). Paulo terá de advertir que, a liberdade não pode dar lugar
à licenciosidade, pois, uma vez que fomos chamados à liberdade, não se pode dar lugar à
carne, que leva à anarquia (5:13). Notem que é o outro extremo, a licenciosidade para
pecar.

Vamos ler a Bíblia em Gálatas 5:7-9 (JFA-RC) – “Corríeis bem; quem vos impediu, para
que não obedeçais à verdade? 8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou. 9 Um
pouco de fermento leveda toda a massa”

@ No Livro a Mensagem de Gálatas, John Stott diz que tem razão quando Paulo vê Jesus
Cristo como o libertador, a conversão como o ato de emancipação, e a vida cristã como a
vida de liberdade. Essa liberdade, como toda a Epístola e este contexto tornam claro, não
é em primeiro lugar uma libertação do pecado, mas, antes, da lei. O que Cristo fez ao nos
libertar, de acordo com a ênfase de Paulo nesta passagem, não foi tanto libertar a nossa
vontade da servidão do pecado, mas libertar a nossa consciência da culpa do pecado.
A liberdade cristã que ele descreve é a liberdade de consciência, liberdade da tirania da
lei, da luta terrível para guardar a lei com a intenção de ganhar o favor de Deus. É a
liberdade da aceitação divina do acesso a Deus através de Cristo. O Cristianismo é, de
fato, uma religião de libertação, porque Cristo anulou o poder da lei, até onde ela nos
mantinha sujeitos ao juízo de Deus, sob pena de morte eterna; e também porque Cristo
nos resgatou da tirania do pecado, de Satanás e da morte.

Em 5:16-21, Paulo chega a um ponto crucial: Quem está no comando da nossa vida: a
carne ou o Espírito? A quem estamos obedecendo? Quem está nos guiando? Importa
lembrar que, nós temos uma natureza carnal a qual, no entanto, não pode nos dominar.
Somos muito mais do que simples animais do campo; somos a imagem e semelhança de
Deus. Se, em nós, existem essas duas forças que se opõem para que não façamos o que
queremos, cabe a cada um de nós escolher quem vai nos conduzir – ou o Espírito ou a
carne. Contudo, é preciso andar pelo espírito (5:16), para não cumprir a concupiscência
da carne, a saber: os desejos maus, impulsos e apetites carnais, que dão prazer
momentâneo, mas que escraviza, e, logo adiante, leva à morte. Como tem sido a sua
conduta, boa ou má? A expressão ‘milita’ (5:17,18) demonstra que, a nossa mente se
torna o campo de batalha entre o Espírito e a carne. Aquele a quem nos submetemos e
passamos mais tempo, será o vencedor. Teremos alegria e paz, ou desilusão e dor.
Paulo tem o cuidado de relacionar algumas obras da carne, as quais podem ser assim
divididas: na área do sexo: prostituição, impureza, lascívia. Na área da religião: idolatria
e feitiçaria. Na área social: inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissenções,
facções e invejas. Na área da alimentação: bebedices e glutonaria. Será que ainda há
alguém, entre nós, escravo de algum desses pecados?
No entanto, a marca do verdadeiro cristão está em produzir o fruto do espírito (5:22-
26). Mas o fruto do espírito é: amor, alegria, paz, que são frutos produzidos no
relacionamento com Deus. Longanimidade, benignidade, bondade, que são frutos
produzidos em nosso relacionamento com os outros. Os demais frutos são produzidos
em nosso relacionamento conosco: fidelidade, mansidão e domínio próprio. Entretanto,
a conquista sobre a carne só ocorre (5:24-26), quando a carne, com suas obras más, é
crucificada, e passamos a andar no espírito. Se, de fato, temos uma nova vida em Cristo,
por obra do Espírito Santo, devemos crucificar a carne e andar no Espírito.

CONCLUSÃO
Neste estudo vimos que a situação que provocou esta carta, foi a presença de certos
falsos mestres nas igrejas da Galácia. Direta ou indiretamente, Paulo os menciona por
toda a carta. Eles estavam "perturbando" a igreja. Havia entre Paulo e os judaizantes três
pontos principais em questão, que continuam sendo vitais na igreja de hoje. O primeiro é
a questão da autoridade: como saber o quê e em quem crer ou descrer? O segundo é a
questão da salvação: como podemos ficar bem com Deus, receber o perdão de nossos
pecados e ser restaurados em seu favor e comunhão? O terceiro é a questão da
santidade: como podemos controlar os desejos pecaminosos de nossa natureza caída e
viver uma vida de justiça e amor?
Vimos também que muitas vezes, precisamos ser enérgicos na defesa da nossa fé.
Falsos mestres estavam disseminando idéias errôneas e pervertendo o evangelho, e
Paulo os enfrenta com forte indignação. Paulo não se intimidou diante dos inimigos que
perturbavam as Igrejas da Galácia, porém, com autoridade, chamou a todos à
responsabilidade diante de Deus.
Vimos também como é fácil voltar ao erro do legalismo e decair da graça. Infelizmente,
muitos irmãos estão iludidos por meio desse tipo de religiosidade, que dá uma aparência
de espiritualidade. Porém, para a liberdade, Cristo nos libertou. É preciso crucificar a
carne e suas obras malignas, bem como, não devemos abrir mão do privilégio de viver
pelo Espírito e produzir o fruto do Espírito.

PARA PENSAR E AGIR


01. O legalismo é, ainda hoje, um erro comum. Pense em como corremos o risco de
decair da graça. Que tipo de obras e atitudes legalistas são requeridas, para se ter uma
aparência de superioridade espiritual ou ajudar na salvação?
02. A licenciosidade é o outro extremo. Para muitas pessoas, a liberdade é opção para
praticar a carnalidade. As obras da carne são manifestas e a lei é dada, justamente, para
impedi-las. Como é possível conciliar a liberdade sem ferir o direito do próximo?
03. O fruto do Espírito se manifesta por meio do amor em suas diversas facetas. Pense
naqueles que, estão escravizados pelo legalismo ou mergulhados no mundanismo e,
sobretudo, como você pode atingi-los com o amor de Deus.

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