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OS LAÇOS DA INTEGRIDADE MORAL E MINISTERIAL

Flávio Cardoso de Pádua


Poimênica – Donaldo Monteiro Bueno (Luiz Fernando dos Santos)

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de apresentar uma breve análise de como a integridade moral
concorre diretamente com a integridade ministerial, usando como exemplos o relato
bíblico sobre o pecado do rei Davi e o relato de um pastor contemporâneo, Paul Tripp,
citado em seu livro Vocação Perigosa.
Palavras-chave: integridade, moral, ministerial.

Introdução

Durante toda a História, pode-se observar que o ser humano vive buscando as mais
variadas coisas que, aos seus olhos, possam ser valorosas. Alguns têm buscado por fama,
enquanto outros têm buscado por riquezas e ainda há aqueles que têm buscado prazeres
carnais. Mas será que essas coisas possuem algum valor em si mesmas? Salomão, no livro
de Provérbios, diz que “melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso,
nos seus caminhos, ainda que seja rico. (Provérbios 28.6)”. Portanto, de acordo com o
sábio rei israelita, a integridade de um homem vale mais do que minas de ouro! Se essa
virtude é valorosa para um homem comum, quão valoroso deveria ser a integridade para
aqueles que foram chamados para liderar o povo de Deus durante a sua jornada por esta
Terra?
Segundo Hernandes Dias Lopes (2008), “o que autentica o trabalho do pastor no
púlpito, no gabinete pastoral e nas demais áreas do ministério é sua integridade moral,
sua piedade pessoal e sua responsabilidade administrativa” (LOPES, p. 30). Além de
Hernandes, o rev. Paul Tripp diz que nós, ministros do evangelho, “não podemos nos
permitir viver uma vida ministerial à qual faltam consistência e integridade” (TRIPP,
2014, p. 175). Por essa ótica, vemos que um homem, que foi chamado por Deus para ser
um líder espiritual, que deseja preservar sua vida ministerial, antes, precisará ter boas
relações com sua integridade moral. Como pode ser isso? Existem algumas histórias
bíblicas e contemporâneas que podem exemplificar essa relação de integridades. Esse é o
objetivo do trabalho.
O pecado do rei Davi

De acordo com Hermisten Maia “o caminho do mal sempre parece ser mais eficaz
e rápido. Ele tende a nos fascinar pelo resultado mais fácil e imediatamente compensador”
(COSTA, 2016, p.85). E foi esse o caminho escolhido por Davi, o homem segundo o
coração de Deus (1 Samuel 13.14). Davi era um homem belo (1Sm 16.12), corajoso (1Sm
17), temente ao Senhor (Sl 32) e também, assim como todo ser humano, um pecador
miserável (2Sm 11). Davi deveria ter saído para a guerra, segundo o costume dos reis, em
vez disso, ele envia seu servo em seu lugar. Acontece que ficando em casa, cometeu
adultério com a mulher de Urias (um de seus guerreiros). Davi continuou trilhando o
caminho do mal, pois ficara sabendo que a mulher de Urias estava grávida. Então, com
essa informação, ele faz de tudo para que Urias se deite com sua mulher, para enganá-lo,
de modo que viesse a pensar que o filho fosse seu. Porém, isso não acontece e Davi
continua sua jornada por esse caminho perverso, decidindo acabar com a vida de Urias.
Enquanto Urias, um simples servo, escolheu o caminho de integridade, Davi,
aquele que fora ungido para ser o rei de Israel e a linhagem do Messias, escolhe o caminho
do mal. Davi, chamado por Deus para liderar a nação do Senhor, perde sua integridade
moral enquanto buscava seus interesses pessoais (interesses pecaminosos). Com isso,
vemos na sequência qual foram as consequências na vida ministerial de Davi: torna-se
repreensível (2Sm 12.1-15); Deus não atende suas orações (2Sm 12.16-25); houve crise
em sua família (2Sm 13); foi destituído do trono por seu próprio filho (2Sm 15); foi
amaldiçoado enquanto fugia de Absalão (2Sm 16.5-14); teve seu leito profanado por seu
filho (2Sm 16.20-23); e ainda perde seu terceiro filho, Absalão (2Sm 18.9-18).

O relato do rev. Paul Tripp


No ministério do pastor norte-americano Paul Tripp ocorreu a mesma dicotomia
perigosa que acontecera com Davi. Paul era um homem muito iracundo, e não percebia o
quanto isso afetava o seu casamento e, também, a sua vida ministerial. Pela graça de Deus,
Paul conseguiu ver o grande mal que isso estava lhe causando. Então, ele achou
conveniente salientar sobre esse perigo em seu livro Vocação Perigosa. Após o rev. Tripp
entender que a sua vida ministerial estava inteiramente interligada com a sua integridade
moral, ele afirma o seguinte:

“Hoje, ao olhar para trás, aflijo-me vendo que eu era um homem que
caminhava rumo ao desastre. Eu estava a meio caminho de destruir meu
casamento e meu ministério e não tinha a menor ideia disso. Havia uma
incoerência enorme entre a minha pessoa particular e a minha vida
ministerial pública. O homem impaciente e irritável de casa era um cara
bem diferente do pastor gracioso e paciente que a nossa congregação
via naqueles ambientes de culto e ministério público onde me
encontravam na maior parte das vezes. Eu estava cada vez mais à
vontade com coisas que deviam ter me assombrado e convencido. Eu
estava satisfeito com as coisas como estavam. Eu sentia pouca
necessidade de mudança. Eu apenas não via a esquizofrenia espiritual
em que a vida de ministério pessoal havia se tornado” (TRIPP, 2014, p.
14-15).

Paul retrata ao longo de seu livro que não mudou da noite para o dia, mas que essa
mudança foi gradual. Se ele continuasse com sua antiga conduta, teria colocado tudo a
perder, toda a sua vida ministerial e matrimonial. Por isso Paul alerta os ministros desse
perigo:

Tudo isso acarreta uma dicotomia perigosa e enganosa. É a crença,


consciente ou não, de que a minha vida ministerial e a minha vida
privada não estão conectadas de modo íntimo e causal. É começar a crer
que um homem que não tem vida devocional pessoal pode liderar as
pessoas no culto a Deus. É crer que uma pessoa que não tem gratidão
vertical possa liderar outras em serem agradecidas. É crer que uma
pessoa orgulhosa seja qualificada para liderar uma congregação para ser
humilde. É o pensamento de que você pode distribuir no ministério
aquilo que você não tem. [...]
[...] Você é uma pessoa. Os limites de vida e ministério não são
separados e definidos. Você não se torna uma pessoa diferente quando
entra em algum tipo de função ministerial. Eu e você estamos de posse
de somente um coração e, assim, a condição do nosso coração é uma
questão enorme em nosso ministério. Eu sei que isso parece muito
óbvio, mas temo que não seja tão funcionalmente óbvio em nossas
igrejas. (TRIPP, 2014, p. 162)

Conclusão
Esses foram apenas alguns exemplos do perigo que uma vida imoral, no particular,
não pode sustentar uma vida ministerial. Quando abandonamos a integridade pessoal, que
é o Caminho de Deus, tudo em nosso ministério tende para o fracasso. Tripp ainda diz em
seu livro:

Veja, existem momentos muito importantes no ministério da igreja


local em que a igreja é abençoada e protegida não porque a pessoa que
está liderando sabe todas as coisas certas, mas porque aquela pessoa
traz o coração certo para o momento. Assim, ele é capaz de lidar
sabiamente com acusação, ou pacientemente com aqueles que querem
controlar, ou humildemente com aqueles que o idolatram mais do que
deviam. Ele não está apenas preparado para ensinar, mas também para
evitar as minas terrestres da tentação que estão aos pés de todos que
ministram a pessoas caídas neste mundo defeituoso. Se você trabalha
diariamente para guardar o seu coração, você está, ao mesmo tempo,
fazendo um compromisso diário de pastorear e proteger o seu povo. As
duas coisas simplesmente não podem ser separadas. E quando a
síndrome de celebridade enfraquece a sua necessidade de guardar o seu
próprio coração, você coloca as pessoas a quem Deus o chamou para
pastorear em perigo também (TRIPP, 2014, p. 163).

Por isso é válido lembrar da Palavra de Deus que diz: “Tem cuidado de ti mesmo e da
doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como
aos teus ouvintes” (1Tm 4.16).
Porém, mesmo que os ministros ainda falhem, Deus continua cuidando deles e em
prol da Sua igreja. Portanto, louvado seja Deus por sua infinita misericórdia! Assim como
Deus não desistiu de Davi, e de muitos outros, Ele também não desiste de seus ministros
hoje em dia, pois mesmo que esses sejam infiéis, Deus permanecerá fiel para sempre!

Referência Bibliográfica

BÍBLIA Sagrada. 2ª ed. rev. e atualizada no Brasil. Trad. João Ferreira de Almeida.
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Vivendo com integridade: um estudo do salmo 15.
São José dos Campos, São Paulo: Fiel, 2016.

LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor: princípios para ser um pastor segundo o
coração de Deus. São Paulo: Hagnos, 2008.

TRIPP, Paul. Vocação Perigosa: Os tremendos desafios do ministério pastoral. Trad.


Meire Pontes Santos. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

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