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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS HUMANAS-
SOCIOLOGIA

ADRIANO DA COSTA CARVALHO

GRANDES PROJETOS E FRONTEIRAS NO SUDOESTE MARANHENSE:


Reestruturação produtiva na colheita de eucalipto na Pré-Amazônia

IMPERATRIZ
2016
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ADRIANO DA COSTA CARVALHO

GRANDES PROJETOS E FRONTEIRAS NO SUDOESTE MARANHENSE:


Reestruturação produtiva na colheita de eucalipto na Pré-Amazônia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Ciências Humanas pela Universidade Federal do
Maranhão para obtenção do Grau de Licenciado em
Ciências Humanas/Sociologia.
Orientador: Prof. Dr. Jesus Marmanillo Pereira.

IMPERATRIZ
2016
3

ADRIANO DA COSTA CARVALHO

GRANDES PROJETOS E FRONTEIRAS NO SUDOESTE MARANHENSE:


Reestruturação produtiva na colheita de eucalipto na Pré-Amazônia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Ciências Humanas pela Universidade Federal do
Maranhão para obtenção do Grau de Licenciado em
Ciências Humanas/Sociologia.

Data da aprovação:______/_____2016.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________
Prof. Dr. Jesus Marmanillo Pereira
Orientador
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

______________________________________
Prof. Dr. Agnaldo José da Silva
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

______________________________________
Prof. Dr. Alisson Bezerra Oliveira
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)
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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Jesus Marmanillo Pereira, braço amigo de todas as etapas deste trabalho, pelas
concisas orientações na elaboração da pesquisa.
A minha família, pela confiança e motivação, especialmente minha Mãe, Maria Costa.
Aos amigos e colegas, pela força e pela vibração em relação a esta jornada.
Aos profissionais entrevistados, pela concessão de informações valiosas para a realização
deste estudo.
A todos que, com boa intenção, colaboraram para a realização e finalização deste trabalho.
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RESUMO

O Presente estudo tem por objetivo analisar as transformações nas relações de trabalho na
atividade de colheita mecanizada do eucalipto, na região da Pré-Amazônia. Busca
compreender que atividade estudada se insere dentro de um marco histórico
desenvolvimentista, marcado pela implementação do Projeto Grande Carajás (PGC) gestado
pela Companhia Vale do Rio Doce, visando extrair riquezas mineralógicas, visto que o
escoamento da produção seria por via da Estrada de Ferro Carajás (EFC) com o intuito da
criação de complexos industriais em torno da siderurgia. Pretende-se identificar as diferentes
modalidades de trabalho, da organização do mesmo e das relações com outras variáveis
econômicas e sociais, elementos que compõem o redesenho da reestruturação produtiva. A
Metodologia da Pesquisa se baseia na Observação Participante para se alcançar Método
etnográfico para o estudo de campo. Percebem-se diferentes tipos de trabalho, perfis de
trabalhadores, relações de status internalizados pelos grupos, nas suas respectivas
organizações empresariais e ambientes. Em suma, ação da restruturação produtiva fez com
que se alterassem os perfis dos operários, tipologias do trabalho resultantes no processo de
inserção tecnológica, como resultado expulsão da mão de obra, contribuindo para um
desemprego estrutural, desconstruindo os discursos oficiais que validavam os grandes
projetos.
Palavras-chave: Reestruturação Produtiva; Eucalipto; Grandes Projetos.

SUMMARY

The study aimed to analyze present transformations in labor relations in mechanized


eucalyptus harvesting activity in the Pre-Amazon region. Search understand that studied
activity falls within a developmental milestone, marked by the implementation of the Great
Carajás Project (PGC) gestated by Companhia Vale do Rio Doce in order to draw
mineralogical riches, as the flow of production would be via Railway Carajás (EFC) with the
aim of creating industrial complexes around the steel. It is intended to identify the different
types of work, the organization of the same and relations with other economic and social
variables, elements that make up the redesign of corporate restructuring. The research
methodology is based on participant observation to achieve ethnographic method to the field
of study. There are different types of work, workers' profiles, status relationships internalized
by groups in their respective business organizations and environments. In short, action
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productive restructuring made to alter the profiles of the workers, the resulting work
typologies in the technology integration process, such as expulsion result of labor,
contributing to structural unemployment, deconstructing the official speeches that validated
the major projects .
Keywords: Productive Restructuring; Eucalyptus; Large projects.
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LISTA DE SIGLAS

ASO Atestado de Saúde Ocupacional


BNDES Banco Nacional Do Desenvolvimento Social
CDVDH Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia
CELMAR Celulose Maranhão
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
EFC Estrada de Ferro Carajás
EPI Equipamento Individual de Segurança
FERGUMAR Ferro Gusa do Maranhão Ltda
FINAM Fundo de Investimentos da Amazônia
FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste
PGC Projeto Grande Carajás
SIMASA Siderúrgica do Maranhão S/A
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
UPC Unidade de Produção de Carvão
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Rede de Contato de influência 22


Origem e proporções de investimentos para os empreendimentos siderúrgicos no
Quadro 2 26
corredor de Carajás.
Quadro 3 Empresas Siderúrgicas e os seus grupos econômicos na região de Carajás 38
Quadro 4 Empresas Terceirizadas para plantio tanto na Energia-Verde como para Suzano 41
Quadro 5 Dos entrevistados na pesquisa 58
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 O trem da Vale seu itinerário do Desenvolvimento 24


Figura 2 Lenha proveniente de desmatamento, transportada para ser carbonizada 35
Figura 3 Eucaliptos na BR 010 sentido Belém a Brasília 38
Figura 4 Pavimentação da estrada 42
Figura 5 Renovação das estradas 42
Figura 6 Construção dos fornos retangulares 48
Figura 7 Gestão da Colheita 49
Figura 8 Diferentes formas de trabalho 51
Figura 9 Turma do curso de formação de operadores 52
Figura 10 Talhões Energia Verde 55
Figura 11 Preparação para o transporte da madeira 56
Figura 12 Fazenda Monte Líbano 57
Figura 13 Sala de simulação de operação nas máquinas 62
Figura 14 Harvester 64
Figura 15 Feller 65
Figura 16 Skidder 65
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
2 MÉTODOS DA PESQUISA E OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE ............................... 14
3 AÇÕES DOS GRANDES PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS EM
AÇAILÂNDIA E REGIÃO ................................................................................................... 24
4 AGENTES SOCIAIS ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL .... 4
4.1 MECANIZAÇÃO DA COLHEITA DO EUCALIPTO NA AMAZÔNIA
MARANHENSE ...................................................................................................................... 31
4.2 ANÁLISE INSTITUCIONAL DAS EMPRESAS INSERIDAS NA
RESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DA ATIVIDADE DO EUCALIPTO ............................ 38
4.3 DE R & R SERVIÇOS FLORESTAIS LTDA PARA JR SERVIÇOS FLORESTAIS
UMA MUDANÇA CONCEITUAL......................................................................................... 43
4.4 ENERGIA VERDE, UMA EMPRESA ESTRATÉGICA DENTRO DO GRUPO
QUEIROZ GALVÃO ............................................................................................................... 45
5 TRABALHADORES, FORMAS DE TRABALHO E CONDICIONANTES SOCIAIS54
5.1 PERFIS DOS OPERADORES DE MÁQUINA ................................................................ 57
5.2 TIPOS E FORMAS DE TRABALHO NA JR SERVIÇOS FLORESTAIS, SUZANO E
ENERGIA VERDE .................................................................................................................. 63
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................67
REFERÊNCIAS......................................................................................................................69
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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa visa analisar as mudanças nas relações de trabalho na colheita


mecanizada do eucalipto na região Pré-Amazônica1, com foco na compreensão de que estes
fenômenos estão relacionados com um momento histórico específico da implementação do
projeto PGC (Projeto Grande Carajás) com o encadeamento industrial gerado pelo Polo
Siderúrgico de Açailândia, através de políticas de Desenvolvimento de infraestrutura de
transporte de mineral, como exemplo, a criação da EFC (Estrada de Ferro Carajás) que gerou
os corredores do desenvolvimento propalados pelo discurso oficial.
Nesse âmbito, pretende-se identificar as diferentes modalidades de trabalho, da
organização do mesmo e relação com outras variáveis econômicas e sociais, elementos que
compõem os processos de reestruturação produtiva.
Para tanto, utilizou-se de autores como Gistelink (1988), Carneiro (2013), Santos
(2009) e Monteiro (2004) dos quais se extraíram os conceitos de Desenvolvimento no âmbito
não valorativo, mas nos seus engendramentos, o que provoca mudanças sociais, econômicas,
ambientais e culturais servindo de aportes epistemológicos importantes para as análises.
No contexto do trabalho, buscam-se os autores Antunes (2011), Gonçalves (2008),
Antunes (1986), Antunes e Alves (2004) e Oliveira e Dias (2012) para se compreenderem os
processos de reestruturação produtiva e seus reflexos nas relações de trabalho.
Para compor a parte metodológica do trabalho, utilizou-se Malinowski (1922),
Bachelard (1996) e Cavedon (1999). Nesta parte o método etnográfico foi bastante usado para
compreender se e estabelecer perfis dos grupos de operários estudados.
À luz desses conceitos foram analisadas um conjunto de fontes, obtidas por meio de
pesquisa etnográfica, e compostas por fotografias, diários de campo, entrevistas, documentos
e panfletos de empresas. Os trabalhos de campo foram realizados, através de visitas pelo viés
corporativo, com intuito de estabelecer observação participante do grupo no período de
permanência de 2012 a 2014, sobre um contato direto com os trabalhadores por partilhares de
vínculos institucionais em comum.
As redes de contatos e informantes foram de fundamental importância para o meu
retorno ao campo, para formatação de outra etapa da pesquisa seria entrevista com os
trabalhadores fora do ambiente de trabalho, visando um melhor relato fora das pressões da
empresa. As visitas de campo foram nos locais, Fazenda Nova Descoberta, no município de

1
Considerou-se o trecho que compreende os municípios de Açailândia, Imperatriz, Bom Jesus das Selvas, no
Maranhão.
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Bom Jesus das Selvas, Monte Líbano em Açailândia, próximo ao Assentamento Califórnia, de
maneira singular na Fazenda Muriaé em Nova Ipixuna, através do contato de Fabio Ramos,
como forma de estabelecer contato para acesso à Fazenda Monte Líbano.
O Primeiro capítulo consiste na inserção a campo e no método de observação para
alcançar uma etnografia do grupo de trabalhadores. O método etnográfico no estudo dos três
grupos de trabalhadores analisados. Através do método etnográfico o pesquisador adquire
características mais aguçadas como olhar, ouvir e o sentir fazendo grande diferença para
absorver costumes, comportamentos da comunidade estudada. Uma boa relação com grupo
estudado como preconiza Malinowski (1922) possibilitas analises etnográficas pautadas no
respeito ao outro, e construção de elementos que denotem as características do grupo estudado
visando os imponderáveis da vida que exprime a naturalidade da comunidade no seu cotidiano
foram do contexto formal das relações.
O segundo capítulo abrange as ações provocadas pelos grandes projetos
Desenvolvimentista na região da Pré-Amazônia, fluxos migratórios inicializados pelas
construções das rodovias federais na década de 1960, posteriormente, a construção Estrada de
Ferro Carajás, política de crédito e incentivos fiscais operadas pelas agencias de fomentos
estatais. Marcados por questões fundiárias de conflitos como relata Victor Asselin (2009) no
contexto das disputas de Terras. Ação dos Grandes Projetos previa utilização de recursos
naturais como prima, aliada de infraestrutura ferroviária – portuária para escoamento da sua
produção visando o mercado externo.
O terceiro capítulo inicia com recorte da produção de carvão no início dos anos 80 até
final da década de 90, marcado por violentos ataques às florestas nativas da região para
produção do carvão vegetal. Os atores sociais dentro desse sistema abruptos das carvoeiras
uma vez que dentro das mesmas, os trabalhadores do carvão tem violados os seus direitos.
Relata o processo de mecanização da colheita do eucalipto, o contexto atual das novas
empresas de reflorestamento e colheita mecanizada do eucalipto; a forma como as empresas
do setor de reflorestamento se estabeleceram na região, como o apêndice das siderúrgicas,
dentro de uma lógica dos grandes projetos como a (CELMAR) Celulose Maranhão, grande
área de eucaliptos plantados estrategicamente na década 80 para atrair empresas do setor
florestal para região.
No último capítulo faz-se um estudo analítico dos perfis dos trabalhadores, dos tipos
de trabalhos dentro das estruturas organizacionais de cada grupo. A Relação de trabalho
operador é maquina no tocante os condicionantes sociais disponíveis pelo diferentes grupos.
Destacam-se tipos e formas de trabalho nas empresas JR Serviços Florestais, Energia Verde e
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Suzano, dentro de um contexto da restruturação produtiva do eucalipto, implicando em novas


análises obtidas pelo reflexo das ações dessa mecanização os tipos de trabalho condicionando
as máquinas florestais e suas operações pertinentes ao contexto inserido observando uma
dualidade entre produção de carvão vegetal e papel e celulose com aproximações e
distanciamentos no tocante ao modulo de produção e a composição dos seus operadores.
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2 MÉTODOS DA PESQUISA E OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Minha inserção no campo foi favorecida por um vínculo trabalhista com a empresa JR
serviços Florestais, empresa consolidada na região sudoeste, da Pré – Amazônia por serviços
na extração de madeira em florestas plantadas. Admitido no ano de 2012, trabalhei em
Açailândia visitas nas operações da empresa na qual atuava, e a noite me deslocava para
Imperatriz para Universidade Federal do Maranhão2.
Na Empresa JR, minha função era de analista administrativo dos Recursos Humanos e
“Controle”. Ambas as atividades se caracterizavam pelo contato direto com os trabalhadores
e gestores da empresa e com alguns gestores das contratantes estabeleci uma rede contatos.
Na graduação o contato com a disciplina de Projeto de Pesquisa, fez com que tivesse em
mente logo um objeto, essa escolha do objeto de pesquisa teria que ser algo da minha região,
ou cidade, algumas visitas também no (CDVDH) Centro de Defesa da Vida e Direitos
Humanos levou à escolha temática, uma relação entre Desenvolvimento e Desigualdade
Social oriundo do Projeto Grande Carajás e suas ações para criação de riquezas proveniente
da região.
O tema Projeto Grande Carajás foi me apresentado ainda no ensino médio por um
professor que era ex-funcionário da Companhia Vale do Rio Doce, tinha formação em história
e com a experiência nessa empresa, que foi uma das maiores responsáveis pela
implementação e gestão do projeto na Amazônia Oriental, ele teve significativa influência na
minha criticidade e formação sobre a temática. Isso por conta dos inúmeros depoimentos em
sala de aula. Esses fizeram com que os alunos tomassem uma consciência crítica, um
estranhamento e desnaturalização sobre as ações dessas grandes empresas na cidade. Instigou
a problematização da questão do Pequiá de Baixo e da luta diária dos moradores, por
condições mínimas de dignidade entre outras temáticas locais que já foram naturalizadas já
pelos Açailandenses.
Com ideia do objeto desenhada em mente e, sobretudo a oportunidade de realizar uma
observação participante com os trabalhadores da colheita do eucalipto, para melhor percepção
acerca dos elementos para minha pesquisa e produção de um diário de campo. Como a minha
participação no grupo estava ligada à relação organizacional comum, a etnografia me ajudaria
nos estudos sobre o grupo de operadores.

2
No tempo cursava o terceiro período do curso de Licenciatura em Ciências Humanas com habilitação em
Sociologia; na época, o curso disponibilizava da segunda licenciatura de forma disciplinar.
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Nesse sentido, Malinowski (1922) relata que para fazer uma boa etnografia, conhecer
bem a teoria científica e estar a par de suas últimas descobertas não significa estar
sobrecarregado de ideias preconcebidas. A pessoa quando parte para uma expedição deve ter a
capacidade de levantar o maior número de problemas possível. Assim, quando o pesquisador
adentra para pesquisar um grupo ele deve se desfazer dos seus preconceitos e das suas pré-
noções para obter elementos singulares daquela comunidade observada entender suas relações
sociais e culturais.
Na minha caminhada, procure ir ao intuito de obter novas ideias sobre o grupo e não
aquelas minhas obtidas na relação dentro da empresa, ir a campo possibilitou ver os
trabalhadores nas suas totalidades com indivíduos dentro de um grupo, nas quais suas ações
têm um sentido de exterioridade do individual se incorporando no coletivo. Na empresa sede
Administrativa os trabalhadores assume um discurso padrão e organizacional muito polido
sem expressar suas verdadeiras opiniões, obedecendo a um signo da instituição e da
hierarquia.

“Os nativos obedecem a forças ou ordens do código tribal sem as


compreenderem, da mesma forma que obedecem aos seus instintos e aos
seus impulsos, sendo incapazes de enunciar uma simples lei de psicologia.
As normas das instituições nativas são um resultado automático da
interacção das forças mentais da tradição e das condições materiais do
ambiente. Tal como a um membro humilde de qualquer instituição moderna -
quer se trate do Estado, da Igreja ou do Exército -, que lhe pertence e nela
está inserido mas não tem a percepção da acção integral resultante do todo, e
ainda menos a capacidade de discursar sobre ela, também a um nativo seria
inútil questionar em termos sociológicos abstractos” (Malinowski, 1922,
p.09).

No campo em momentos de comunhão os trabalhadores, externavam opiniões e


situações que em outro local não o fariam. Para Malinowski (1922) esse comportamento seria
de origem das tradições do grupo e das condições que o ambiente produz, no caso do campo
analisado o chefe não estaria todo o tempo com eles fiscalizando dando bronca e outros
elementos que estabelecessem uma situação de hierarquia que acarretaria em punição.
Minha ida a campo esteve condicionada atividades do setor de Recursos Humanos:
explicar e recolher os cartões de ponto para fechamento da folha de pagamento, levar e
recolher os comprovantes de pagamento dos trabalhadores. Atividades de apoio no campo são
rápidas para não atrapalha a produtividade, que depois das minhas obrigações oriundas do
cargo poderia voltar para minha observação do grupo, com uma auxilio de um diário de
campo constitui novos elementos para minha pesquisa.
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Com um mês de trabalho, estive em contato com os trabalhadores da colheita do


eucalipto, tendo um regime de pelo menos dez dias no campo e o restante na sede
administrativa. Na minha participação no grupo não causava desconforto por que os
trabalhadores não me enxergavam como um problema, já que meu cargo não era considerado
do alto escalão, e não poderia oferecer punições para eles. Em vista que operadores na
colheita tem um grau de responsabilidade muito alto, por isso sua relação com os
coordenadores ou supervisor é estritamente profissional.
Eles gostavam pelo fato de tirar dúvidas com relação o preenchimento dos cartões de
ponto, e também estando ali seria uma forma de acelerar o processo de fechamento da folha
de pagamento. Devido nas fazendas não ter o ponto eletrônico os registro eram feito no cartão
de ponto manualmente, ir campo forma de agilizar os dados para setor de Recursos Humanos.
Os trabalhadores da colheita mecanizada do eucalipto estavam inseridos em processos
de socialização em pequenos espaços e intervalos: na viagem para o trabalho - dependendo
onde está operação pode ter uma duração duas horas de viagem, no intervalo de almoço- se
corte do talhão está no início então os operadores faz suas refeições em barracas no intervalo
de uma hora. Nesses momentos, eles conversavam e se descontraiam para depois retornarem
atividades. Outro momento importante era o Diálogo Diário de Segurança (DDS). Tratava-se
de mini palestras feitas antes que os trabalhadores começassem suas atividades. Versavam
sobre a temática de prevenção de acidentes e conscientização dos trabalhadores sobre o uso
correto dos Equipamentos de Segurança Individual.
Nesse sentido, considerei que o método etnográfico consiste em um processo intenso
de observação da comunidade a ser estudada deixando para outro momento parte quantitativa
da pesquisa. A pesquisa etnográfica tem a missão de ressaltar o modo de vida da comunidade,
tribo ou grupo a ser estudando objetivando o ato de melhor conhecer os seus estilos de vida e
cultura. Desenvolvendo esse argumento, Malinowski (1922) explica que no trabalho de
campo existem elementos na sua grandiosidade e totalidade não pode ser entendido apenas
por questionários, tabelas, gráficos e outros elementos quantitativos. O pesquisador terá que
disponibilizar grandes esforços no tocante ao método de observação para obter uma
configuração da plenitude da realidade.
Nessa construção da metodologia da pesquisa e do método para entender o grupo de
trabalhadores da colheita mecanizado do eucalipto procurei estabelecer na observação o ponto
alto do trabalho de campo. Dados como, por exemplo, o (CAGED) Cadastro Geral dos
Empregados e Desempregados, ferramenta do Governo Federal para mapear a situação do
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emprego formal no Brasil, passa um resultado numérico que possibilita ver o balanço mensal
dos demitidos e Admitidos da empresa a ser pesquisa.
Os números produzidos por esse software tem sua importância na captação de dados,
porém mas não descrevem a totalidade de uma realidade, cabendo utilização de outras
ferramentas por parte do pesquisador para obter a explicação dos fenômenos imponderáveis
que os questionários e programas de computadores não revelam. Sobre esse essa apreensão do
real Bachelard explica:
“O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras. Nunca
é imediato e pleno. As revelações do real são recorrentes. O real nunca é "o
que se poderia achar" mas é sempre o que se deveria ter pensado. O
pensamento empírico torna-se claro depois, quando o conjunto de
argumentos fica estabelecido. Ao retomar um passado cheio de erros,
encontra-se a verdade num autêntico arrependimento intelectual. No fundo, o
ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo
conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é
obstáculo à espiritualização” (BACHELARD,1996, p.17).

Dessa forma, ir a campo se faz pelos esvaziamentos de certezas preconcebidas,


entender outro no seu lócus, no ambiente pelo qual ele possa sair das amarras da sujeição e
imposição cultural pelos dominantes de posso deliberar suas manifestações e partilha com
seus pares costumes e comportamentos livrem de opiniões coercitivas.
Os Operários de campo, todas às vezes, que teriam que ir para sede da Empresa, para
cumprir algum compromisso de ordem burocrático ou reunião com Gestor Administrativo,
sentiam-se alheios àqueles ambientes mesmos os trabalhadores possuidores de vínculo através
de um contrato trabalhista, observa-se em seus comportamentos inquietude, como estar fosse
algo penoso.
O trabalho de campo na empresa JR Serviços Florestais foram muito rico do ponto de
vista cultural e pelos seus processos de enraizamento na cidade de Açailândia junto com seus
trabalhadores. Como foi mencionado no início desse capítulo, processo de formação dos
trabalhadores se deu de maneira de trocas de experiência por parte dos trabalhadores já
consolidado vindo de operações no Pará e outros estados com trabalhadores locais braçais,
com identidade rurais herdadas dos pais, vindo de outros lugares pelas fronteiras abertas com
alusão de melhorias oriundas do Programa Grande Carajás.
Tempo de convívio com grupo foram de um ano e onze meses, um dos pontos altos
dos estudos ocorrem em 23/06/ 2012, neste dia ouve uma fiscalização do Ministério do
Trabalho nas operações pertencentes à fazenda Nova Descoberta. Situação em que a empresa
foi notificada pela contratante Energia Verde, imediatamente formamos uma equipe eu
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(Recursos Humanos) levei os exames admissionais, Periódicos, cartões de ponto, livro de


registro dos empregados para serem auditados pelos auditores do trabalho. O técnico de
Segurança da empresa levou as fichas de (EPI) para comprovar fornecimento de Equipamento
Individual de Segurança e outros documentos do setor de Saúde e Segurança do Trabalhador,
o Coordenador e Supervisor da Colheita foram também para tomar conhecimento da auditoria
e ajudar no processo de entrega de documentos. Técnico de segurança responsável pela
organização é gestão dos exames, periódicos do trabalhador no tocante a sua renovação,
férias, retorno de trabalho caso afastamento por doença, ficha de EPI, sobre as renovações dos
materiais de segurança como um dossiê, essa documentação junto com os registros de
empregado são consultados na auditoria do trabalho.
Apresentei para auditor do trabalho os documentos, ele examinou minuciosamente por
uma hora me devolveu com visto da fiscalização. Não muito satisfeito, ele chamou três
operadores e fez um mini-interrogatório na frente de todo mundo. O que se viu foi os
trabalhadores em uma crise de nervos, sendo interrogado pelos representantes do estado,
sendo observados pelos seus superiores diretos. Ao passo que era perguntado sobre as
condições de trabalho, salário, e outros direitos os trabalhadores, respondiam olhando para os
representantes da empresa, como se estive “pisando em ovos” para não comprometer a
empresa que consequentemente sofrer uma punição severa.
Foi a partir desse fato que optei por não fazer entrevistas no ambiente de trabalho.
Assim a observação direta foi de mais valia do que um questionário fechado - que me levaria
apenas dados que já sabia por fazer parte dos Recursos Humanos: fichas de dossiês de todos
os trabalhadores. Para a presente pesquisa, o foco era compreender a dinâmica interna dos
trabalhadores, a convivência deles em grupo, as posições deles em relação aos medos e ações.
Malinowski (1922) procurou entender esses fenômenos dentro de uma realidade plena
no qual ele vai denominar de imponderáveis da vida real, modo que os trabalhadores se
comportam dentro do cotidiano quando vão comer nas barracas, suas ações corporais, as suas
brincadeiras, conversas no momento comum da sua rotina.
Para ter um melhor relato dos imponderáveis da vida rela descrito brilhantemente por
Malinowski (1922) o diário de campo foi um elemento de fundamental importância para
realizar anotações acerca dos comportamentos, e relatos do grupo a ser estudado. Faço uso
das palavras da Antropóloga e pesquisadora Neusa Rolita Cavedon fala sobre esse
importantíssimo utensílio de campo.
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“O registro desses imponderáveis da vida real devem ser feitos em um diário


de campo, onde o pesquisador narrará com acuidade todos os
acontecimentos ocorridos dia após dia. As expressões próprias daquele grupo
também serão anotadas, bem como os sentimentos do pesquisador. Por que
anotar os sentimentos do pesquisador? Ora, o diário de campo servirá de
base para a construção do texto etnográfico, de modo que as impressões
muito particulares do pesquisador poderão ser melhor compreendidas e
eliminadas por ocasião da descrição do êmico, ou seja, das categorias dos
pesquisados. Aqui cabe um destaque, embora procure-se eliminar a presença
das categorias e dos sentimentos do pesquisador, quando se está descrevendo
a visão dos pesquisados, isso não quer dizer que o pesquisador não tenha voz
no texto etnográfico, muito pelo contrário, o que se procura é não misturar as
duas falas, de modo que o êmico (categorias dos pesquisados) e o ético
(categorias do pesquisador) não se confundam'' (Cavedon, 1999, p.07).

Nesse sentido o pesquisador de campo amplia a pesquisa como o observar, olhar e o


seu diário de campo, diferente do pesquisador de gabinete cujas aspirações se constroem dos
elementos retirados do trabalho de campo de outros pesquisadores. Só pela pesquisa de campo
é possível obter os elementos centrais de uma comunidade, ou seja,

“ir para além dos dados da vida quotidiana e do comportamento comum,


que são, por assim dizer, a sua carne e sangue, também o espírito - as visões,
opiniões e expressões dos nativos - deve ser registado Isto porque, em cada
acto da vida tribal existe, em primeiro lugar, a rotina prescrita pelo costume e
tradição” (MALINOWSKI, 1922, p.18).

Em todas as visitas de campo, estive sempre com o diário, mas necessariamente um


caderno com logo da empresa, com páginas brancas simples sem causar grandes alardes,
diferente da prancheta que causa estranhezas nos operadores porque em momentos de cortes e
demissões os gestores estavam sempre com pranchetas carregadas de papéis, tabelas e
quadros. Artefatos que causavam certo constrangimento aos trabalhadores que deduziam que
estava sendo avaliados.
Observação sem levantar desconforto para os trabalhadores da JR Serviços Florestais
foi dos pontos altos do trabalho, já que pude observá-los em seus ritos e comportamentos
cotidianos deliberativos. O cargo organizacional teve uma importância para pesquisa, já que
possibilitou momentos privilegiados que outros pesquisadores jamais teriam devido às
restrições da empresa com relação a visitantes, em uma área de trabalho extremamente
perigosa por conta dos maquinários e toda a situação de corte de madeira e outros riscos que
significam danos graves a saúde. Além disso, a entrada de membros externos também exigia
Equipamentos de Segurança Individual e acompanhamento de um técnico de segurança, que
sinalizava um grande esforço da empresa, para uma situação extra cotidiana.
20

Se meu cargo fosse de Gestor da Colheita poderia causar empecilhos como comenta
Cavendon (1999) sobre o estudo de campo,

''A maneira como o pesquisador insere-se no trabalho de campo também é


importante. Se o estudioso for introduzido no campo por pessoas que
ocupam posições hierarquicamente superiores, caso os estratos inferiores não
venham a ser alertados sobre o real significado do estudo, isto poderá afetar
a pesquisa, dificultando inclusive a aceitação do pesquisador pelo grupo ou
comunidade. A entrada em campo pelas mãos de um informante-chave
também pode ser problemática, uma vez que esse indivíduo pode
contaminar, com a “sua” percepção acerca daquela cultura, a visão do
pesquisador.[...]Tem-se, ainda, um outro ponto que não pode ser ignorado
pelo etnógrafo. Trata-se da sensibilidade, da empatia que deve se estabelecer
entre pesquisador e informantes. A riqueza ou pobreza dos dados coletados
sofre uma influência muito grande desses aspectos tipicamente humanos,
além disso, a qualidade dos dados está profundamente relacionada com a
capacidade do etnógrafo'' (CAVEDON, 1999, p.07).

As habilidades do etnógrafo estão relacionadas com sua maneira que ouvir e


compreender o outro, numa perspectiva de uma alteridade de costumes, tradição e cultura
sobre lado da emoção do pesquisador /pesquisados, um etnógrafo que não passa esses
atributos pode comprometer a pesquisa pela não aceitação no grupo.
As observações na Suzano ocorreram no ano 2013 quando a mesma passou a ser
contratante da JR Serviços Florestais, para Serviços do carregamento da madeira proveniente
do eucalipto. Naquela situação, preparei os documentos para integração dos funcionários da
JR na Suzano. Esses documentos são: o Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), ficha de
registro de empregados e crachá. Eles compõem um sistema de documentos para empresa
tomadora dos serviços se prevenir que os trabalhadores das terceirizadas não estão em
condições de irregularidades.
Tive dois meses de contato com dois grupos trabalhadores da JR e Suzano na operação
localizada no município de Vila Nova dos Martírios. No grupo da JR os operadores estavam
familiarizados com o local, que eram áreas pertencentes à CELMAR. Eles já haviam
trabalhado naquele local, a serviço da CVRD, cortando eucaliptos e os transportando nos trens
para suas siderúrgicas em Marabá-PA. Eram áreas pertencentes ao Projeto CELMAR. Já no
Grupo da Suzano era tudo muito novo estava ali uma turma de operadores recém-formados,
pouca experiência e muitas dúvidas.
Na hora do almoço, nas barracas, os grupos de operadores da JR falavam de contas e
despesas domésticas, escolares e outros assuntos de responsabilidades de chefe de família.
Ouviam músicas antigas, nos celulares, em oposição. Na mesma mesa, sentavam o grupo da
21

Suzano composto por jovens com aproximadamente 20 anos de idade, chateados por trabalhar
no final de semana e perder as festas. Esses ouviam músicas atuais e mexiam em seus tablets,
notebooks e ipods - enquanto os operários da JR tinham dificuldades até em mexer no celular.
Esses grupos sinalizavam diferentes maneiras de formação de profissionais: um grupo
formado no calor da atividade com pouca teoria em oposição a outro grupo formado por uma
empresa (Suzano) que dispunha até de simuladores de máquinas equipados com joystiques
que traziam a ideia de um videogame.
O grupo da JR criticava o outro grupo pelo fato de tornarem operadores muito rápidos,
já que nas suas experiências levaram anos para transmitir o ofício enquanto os novatos com
quatro meses já eram operadores em máquinas novas, na outra empresa. Na JR, os
funcionários trabalhavam em maquinários ruins, sujeitos a punição se as máquinas
quebrassem e ocasionasse a paralização da produção. Enfim, observaram-se diferentes
processos de formação dos ofícios embora pertencessem à mesma categoria de trabalhadores.
Tive uma proposta para trabalhar na Energia Verde, através do Coordenador de
colheita Antônio Paiva, para realizar função de Analista de Benefícios. Nessa função, teria
que ir todas as fazendas ou mandar os termos adesão dos benefícios pelos encarregados para
os trabalhadores. Aceitei esse novo desafio em uma empresa já conhecida pela atuação na
terceirizada JR.
Fiz uma palestra nas unidades sobre o plano de saúde Sistema de Atendimento Médico
Empresarial (SAME), antes serviço só ofertado para trabalhadores das siderúrgicas, sendo
agora incorporado para todo o grupo, precisaria do preenchimento de termo com assinatura do
colaborador me deslocaria até as fazendas.
Como a atividade da colheita foi primarizada pude rever antigos colegas da JR que
também foram incorporados para nova empresa. Esse processo de eliminar terceirização da
atividade da colheita produziu muitos ativos. Para Oliveira e Dias (2012) esse processo seria
uma forma que as empresas obteriam rédeas de atividades fundamentais terceirizadas para
outras empresas.
O estudo de campo na empresa foi muito interessante; durou seis meses meu tempo
como efetivo; tive que sair da empresa para dar continuidade nos estágios da faculdade, pois
não seria possível conciliar as duas atividades. Contudo, isso não provocou desistência do
objeto de estudo; fez com que direcionasse outras metodologias e redes de contatos para
abordar a pesquisa com os operários das três empresas.
22

Quadro 1: Rede de contato de influência


NOME EMPRESA FUNÇÃO

Benicio Dutra Pires JR Serviços Florestais Diretor de Colheita


Antônio Paiva Energia Verde Coordenador de Colheita
Alex Silva Nunes Suzano S/A Técnico de Segurança no Trabalho
Fabio Ramos Promape Supervisor de Campo
Fonte: Dados da Pesquisa.

A rede de contatos facilitou meu retorno às visitas de campo, liberação para entrar nas
áreas das atividades. O primeiro contato foi o senhor Benício, experiente, tanto nas atividades
da Silvicultura como na Colheita do Eucalipto; trabalhou na Aracruz, na Jari Celulose e na JR.
Foi meu colega de trabalho na JR e me ensinou muito sobre as partes técnicas da atividade.
Conheci Antônio Paiva na relação entre empresa contratante e terceirizada; depois
tornamos colegas de trabalho. Foi ideia dele, promover esses sistemas de benefícios como
plano de saúde, cesta básica e bonificações por metas a todos os colaboradores do grupo.
Tive contato com Alex Silva quando preparei a documentação dos trabalhadores das
terceirizadas esse processo de integração era responsabilidade dele fiscalizar as terceirizadas
no tocante as normas trabalhistas.
Obtive o contato de Fabio, por meio do senhor Benício; Fabio era responsável
atividade campo da Promape - empresa responsável pelo transporte da madeira até a fábrica
da Suzano em Imperatriz.
Nesta nova etapa da pesquisa, os contatos com os trabalhadores ocorreram nodo
ambiente de trabalho por meio de diálogos informais e descontraídos sobre o trabalho, tendo
em vista essa relação criada por vínculo institucional.
Fábio Ramos foi fundamental para adentra nas áreas da Suzano, por meio da empresa
de transporte, ver a operação e pedir alguns contatos de operadores daquela empresa.
A pesquisa também me proporcionou fazer uma problematização do meu “eu”
trabalhador /pesquisador, exigindo a valorização da dimensão ética em todos os âmbitos.
Nesse sentido, prezei pelo sigilo quanto às atividades dos recursos humanos, devido ao alto
grau de informação oriunda das primeiras instancias da empresa. Assim, busquei seguir as
regras imposta pelos meios empresarial e científico, pois se o pesquisador necessita
problematizar as pré-noções; o empregado tem primar pela ética da sua função, buscando
também a impessoalidade.
23

A pesquisa etnográfica não foi fácil, pois o contato com pessoas expõem uma
variedade de emoções humanas, cabendo ao pesquisador se recompor e continuar na
observação para construção de um texto etnográfico- pautado no respeito ao outro, e
construção de elementos que denotem as características do grupo estudado.
A pesquisa de campo foi árdua e marcada por muitos quilômetros de viagem,, com ou
sem vínculo empregatício, para destacar elementos que só através de um estudo etnográfico
podem ser compreendidos e compartilhados.
Diferente de Malinowski (1922) que estudou uma tribo exótica, estudei um grupo de
trabalhadores em suas diferentes formas de trabalho e relações com as tecnologias. 3 A cada
viagem, ocorria uma média 250 Km de distância. Uma forma de visualizar isso é imaginar
uma ida de Açailândia até o de Bom Jesus das Selvas, para adentrar em fazendas que
contabilizam mais milhares de quilômetros. Enfim, a pesquisa foi construída através de muito
esforço tanto físico quanto mental, para expor as relações de trabalho dentro dessas empresas
que cada tempo expandir mais suas atividades e territórios.

3
Que a cada momento expulsa eles para as estatísticas do desemprego, cada momento que se faz adesão de um
maquinário novo com maiores aparatos tecnológico reduzem numero de mão de obra.
24

3 AÇÕES DOS GRANDES PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS EM


AÇAILÂNDIA E REGIÃO

O Projeto Grande Carajás tinha a missão de integração nacional para atingir o


Desenvolvimento de norte ao sul. Na região da Amazônia Oriental se destaca um corredor da
Ferrovia Carajás que serviria para o escoamento da produção até porto de Itaqui em São Luís.
Mas nesse corredor se encontra Açailândia cidade que na década de 80 já começam
internalizar as transformações provenientes dos encadeamentos indústrias, dentro da logica do
projeto.
Figura 01: O trem da Vale seu itinerário do Desenvolvimento

Fonte: Amazonia Org.

A Figura 01 mostra um antagonismo no corredor do densenvolvimento, criança,


senhoras, possível mãe, vendendo alimentos, água para ajudar no sustento familiar, essa é a
imagem comum no trajeto do Trem da Vale. Na parte de cima, passageiros do trem
comprando os produtos dos vendedores ambulantes. Essa cena já tomada como normal pelos
passageiros do trem, justifica-se nesse contexto, apenas uma forma de se consumir produtos
mais baratos.
Para pesquisador Belga Frans Gistelink (1988) a ferrovia Carajas, se caracteriza por
ocupação de terras conflituosas, as grandes empresas ficaram com uma grande área
correspondendo 90 % da terras disponíveis, suas ações predatórias de ataque a natureza sem
nenhum manejo florestal marcou negativamente o marco historico do Projeto Grande Carajás.
O corredor da ferrovia de Carajás apresenta portanto um quadro alarmante de ocupação de
terra: grandes latifúndios praticamente sem produção e milhares de lavradores sem terra
(Gistelink, 1988, p.17).
Segundo Carneiro (2013) o projeto tinha como objetivo oferecer incentivos fiscais
para empresas que se instalassem na região pertencente ao programa. Um dos resultados desse
projeto, o surgimento de grande número de siderúrgicas na região de Açailândia,
25

empreendimentos que passaram a mudar o tecido social da região nas suas mais diversas
relações como econômica, social e cultural.

“Segundo minha interpretação, principal responsável pela organização do


que veio a ser conhecido como o Programa Grande Carajás (PGC) tinha na
figura da (CVRD) Companhia Vale do Rio Doce como uma das empresas
mentora responsável pela Gestão e a Logística do projeto em toda a
Amazônia Oriental. Programa Grande Carajás e dos empreendimentos que
ficaram dessa iniciativa foi e continua sendo a Companhia Vale do Rio Doce
(CVRD, desde 2007 renomeadas para Vale), embora diversos outros agentes
estatais (SUDAM, SUDENE, governo estadual, governo federal, BNDES,
etc., tenham contribuído para instalação da exploração mineral de Carajás e
para fomento das outras atividades como a produção de ferro gusa, a
sojicultora e o plantio de florestas de eucaliptos)” (CARNEIRO, 2013, p.41).

Nesta situação observa-se que o projeto teve uma meticulosidade de agentes


envolvidos, configurando uma Parceria do Setor Público com o Privado, em prol desses
grandiosos empreendimentos na Amazônia Oriental.
Nota-se nesta análise, a união de órgãos como a SUDAM, (Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia) e a SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste). Essas duas autarquias federais tiveram fundamental importância no tocante à
promoção de incentivos fiscais, configurando uma política de concessões e isenção de
impostos com o propositivo de captação de futuros negócios e empreendimentos para Região.
Como carro chefe desse momento, o Projeto Grande Carajás possibilitou condições
para a existência de uma cadeia produtiva de negócios que se estendeu desde a Serra dos
Carajás até São Luís. Na cadeia produtiva de fabricação do Ferro-Gusa, observa-se que ela
esta inserida em outras cadeias como, por exemplo, a cadeia de produção do aço, que é mais
verticalizada. Recorrendo a Evangelista (2008),

“O processo produtivo do ferro-gusa está relacionado com a cadeia


produtiva do aço. Por sua vez, a produção guseira é apenas uma etapa dentro
dessa cadeia. A noção de cadeia produtiva parte do pressuposto de que a
produção total de bens está interconectada a toda lógica de produção e
circulação de mercadorias, no qual vários atores estão inter-relacionados por:
fluxos contínuos de materiais, capital disponível e agregado mais
informação, tendo como objetivo dar suprimento ao mercado final com os
produtos do sistema gerados pela cadeia” (EVAGELISTA, 2008, p.49).

As rodovias e ferrovias como forma de dinamizar a produção criou estabelecimentos


empresarias como Serrarias, Madeireiras, Agronegócio, Pecuária, Construtoras, entre outras.
Neste contexto, Açailândia ganharia número grande de pessoas vindas de outros
estados, na esperança de dias melhores. Esse fluxo migratório veio com alusão de uma nova
26

terra de oportunidades. Assim, Açailândia e região tiveram uma construção social e familiar
formada por pessoas de vários estados como, por exemplo, mãe Piauiense pai Baiano e filho
Maranhense. Para Evangelista (2008) esse processo migratório se deu pelas frentes de
expansões, pelo contexto da época de integração nacional exaltado pelo governo.

“A diáspora dessa leva de migrantes heterogêneos acontece devido ao


desdobramento das frentes de expansão e uma supervalorização da terra.
Para se entender tal fenômeno é necessário compreender a dinâmica espacial
e social que levam determinados sujeitos a migrarem de um local para
outro[...]. Pré-Amazônia Maranhense, que até os anos 1970 será uma região
de atração de fluxos migratórios oriundos do Nordeste e de alguns estados
do sudeste brasileiro, que, por sua vez, podem ser relacionados com as
políticas definidas pelo Estado brasileiro para a integração da região
amazônica ao espaço econômico nacional, através da construção de rodovias
e da política de incentivos fiscais” (EVANGELISTA, 2008, p.41-42).

Segundo Santos (2009), essa composição do Projeto Grande Carajás foi uma forma na
qual o Governo Federal disponibilizou um grande volume em dinheiro de empréstimos de
instituições nacionais e estrangeiras, a fim de possibilitar à infraestrutura básica: rodovias,
ferrovias, a reforma do porto e outros requisitos necessários para a instalação do referido
projeto.
Para Carneiro (2013), esses estímulos das atividades econômicas voltadas para
mercado mundial, utilizaram benfeitorias como infraestrutura, rodovias e portos para, em tese,
promover o desenvolvimento econômico e social das atividades visando uma Macro-
Economia e seus agentes envolvidos nesta esfera; os demais seriam excluídos e despossuídos
das terras.
“A reflexão que orienta a construção desse texto refere-se ao
questionamento, depois de todos esses anos, dos resultados produzidos pela
promessa de desenvolvimento econômico e social apresentada junto com a
implantação do Projeto Ferro Carajás. Perguntamos se os investimentos
realizados conseguiram criar uma estrutura produtiva capaz de dinamizar a
economia da região, se os empreendimentos incentivados criaram algum tipo
de encadeamento (linkage effects) com a economia local e se essas ações
produziram efeitos positivos sobre o mercado de trabalho, para as finanças
públicas de estados e municípios e para melhoria da qualidade de vida da
população regional” (CARNEIRO, 2013, p.42).

Quadro 2 - Origem e proporções de investimentos para os empreendimentos siderúrgicos no corredor


de Carajás

AGÊNCIA, EMPRESA,
% DO INVESTIMENTO
ORIGEM DO RECURSO INSTITUIÇÃO FINANCEIRA OU
TOTAL DE CADA GRUPO
FUNDO DE INVESTIMENTO
27

Empresa interessada no
Recurso Privado 25
empreendimento

Incentivos Fiscais 50 FINAM e FINOR

BASA, Banco do Brasil,


Financiamento Bancários 25
BNDES, Banpará
Fonte: Adaptação da obra de Carneiro (2015) e Ramalho (2015).

Na prerrogativa de atrair diversos capitais para Amazônia Oriental, o PGC se constitui


de uma politica de créditos voltados para o corredor de escoamento Carajás. No quadro,
observa-se que os recursos são oriundos principalmente de órgãos estatais, Fundo de
Investimento da Amazônia (Finam) e do Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), sendo
complementados, por recursos privados, provenientes de futuras empresas ou de instituições
financeiras e outra parcela, sendo financiamentos de bancos públicos.

“Um dos pré-requisitos para a elaboração do Projeto Grande Carajás foi uma
profunda crise financeira que assolava o país na época de sua implantação; o
governo intencionava atrair investimentos externos com o intuito de superar
a crise. Tendo por base os discursos, havia certa preocupação em realizar um
projeto capaz de integrar a Amazônia e pagar a dívida externa, para resolver
os problemas sociais e econômicos do país” (SANTOS, 2009, p.03).

Observa-se que esse Mega Projeto mineralógico foi de fundamental importância para
o país. No que tange ao seu desenvolvimento, seria uma forma de integrar regiões, antes, de
difícil acesso, para integração nacional, o que também geraria muitos empregos. Em tese, o
projeto e sua ação desenvolvimentista atuariam tanto na esfera econômica quanto na social.
A Amazônia Oriental foi dissolvida pelos discursos desenvolvimentista da época. Essa
integração nacional trouxe diversos estabelecimentos de diferentes ramos para dar suporte ao
PGC. Exemplo disso, as Guseiras para funcionar precisaria de carvão, logo compraria Carvão
das Carvoeiras, posteriormente as Carvoarias precisaria de serviços de manutenção e
mecânicos para seus caminhões, com isso o setor de serviço também terá sua demanda
posteriormente e outros.
Nas palavras de Santos (2009) faz uma reflexão do PGC, indagando se as ações dele
foram mesmo positivas para todos os atores sociais envolvidos no projeto uma espécie de
cooperação entre os entes envolvidos, ou se foram apenas indicadores econômicos para elite e
empresas que compartilha dessa política ditatorial de órgão estatal com capital estrangeiro.
28

Nesse sentido, Carneiro (2013) retoma aos clássicos da sociologia brasileira, para
explicar do termo desenvolvimento, em pais periféricos da América Latina. Em relação ao
Contexto eurocêntrico de expansão da indústria, a América Latina inseriu-se na
divisão internacional do trabalho, enquanto economia periférica Subordinada aos “centros
modernos” da economia mundial. Para Florestan Fernandes, esse pensamento dual (arcaico e
moderno) ao invés de equalizar o modo de vida da população produz uma (Inter)
dependência. Segundo o autor:

“No capitalismo dependente, a persistência de formas econômicas arcaicas


não é uma função secundária e suplementar. A exploração dessas formas, e
sua combinação com outras, mais ou menos modernas e até ultramodernas,
fazem parte do cálculo capitalista do agente econômico privilegiado”
(FERNANDES, 1975, p.53).

O Sociólogo Florestan Fernandes (1975) ressalta a forma que o capitalismo se instalou


em países da economia periférica é a forma abrupta que ele age gerando uma exploração que
combinas vários os fatores arcaicos e modernos. No sentido da pesquisa, quando foram
instaladas em Açailândia, as siderúrgicas tinham um aparato tecnológico, recursos para
promoverem manejo na produção do carvão, mas procurou investir nas florestas primárias
para atingir um lucro ainda maior.
Dessa forma, ressalta Furtado,

O aumento de produtividade média nos países “periféricos” não se traduzia,


[...] em aumento significativo da taxa de salário: mas esse aumento da
produtividade trazia necessariamente consigo elevação dos gastos em
consumo e modificação qualitativa do padrão de vida da minoria [...]
(FURTADO, p. 247).

Assim, alteram-se as relações de trabalho em uma combinação do arcaico periférico a


economia do mundo, pois segundo Furtado “o desenvolvimento se apresenta sobre a forma de
introdução de combinações mais produtivas dos fatores de produção” (p.114), ou seja, as
comunidades que antes produziam para a sua própria subsistência agora alimentam um círculo
global de exportações através da ideia de desenvolvimento que nesse cenário passa a depender
de produtos importados dos grandes centros, embora nem toda classe trabalhadora tivessem
acesso a esses bens.
O PGC criou subprojetos para alimentar sua atividade principal, criação de
siderúrgicas, de polos agropecuários, madeireiros, entre outros. As guseiras têm como um dos
principais ativos a sua produção o Ferro Gusa, sendo uma atividade que precisa do carvão
29

como combustível para produção. Neste sentido, as siderúrgicas precisariam de novos


segmentos para operar sua lógica de produção e com isso atividade do carvoejamento se torna
uma ação apêndice das guseiras.
O projeto CELMAR se constituiu com um subprojeto do PGC, por meio da plantação
foi de florestas de eucaliptos para celulose. O eucalipto ocupou áreas significativas na divisa
entre os estados do Maranhão e Tocantins. Essa alternativa econômica com base em florestas
plantadas e no reflorestamento “foi elaborada ainda no início da década de 1970, quando o
governo Médici patrocinou um gigantesco plantio de eucalipto e pinheiro com o propósito de
atrair fábricas de celulose para a região da Amazônia” (SANTOS, 2009, p.05).
Governo ofereceu uma boa política de crédito e incentivos fiscais para as empresas
serem instaladas na região para cultivo do eucalipto para celulose, como se demanda não era
suprida, alternativa foi redirecionar o plantio do eucalipto para produção de ferro gusa, ou
seja, para fabricação do carvão vegetal para alimentava os auto fornos das siderúrgicas
instaladas na região na cidade de Açailândia. Analisando contextos mais próximos dessa
questão, Santos nota que,

“Na região de Imperatriz a produção do carvão marca vigorosamente a


economia e as relações sociais, especialmente em nível tradicional ou
familiar. Na cidade de Açailândia, em meados da década de 1990, a
produção do ferro gusa atingiu um preço equivalente a metade do valor da
mesma produção no estado de Minas Gerais. Isso é um elemento importante
para se perceber o quão incentivado foi a produção dessa matéria-prima
energética” (SANTOS, 2009, p.05).

Percebe-se que tanto em Açailândia quanto em Imperatriz há agravo (PGC) nas


relações sociais e ambientais da região, tendo em vista que esses projetos não levaram a
dimensão social e regional do Projeto, não trouxeram altos indicadores de Desenvolvimento
Humano ou bens públicos para população.
Numa comparação entre Açailândia e o Estado de Minas Gerais, pode-se aludir que
Minas é um estado como mais tradição no setor mineralógico e possui número maior de
siderúrgicas, aciarias portando uma melhor estrutura no setor mineralógico. Portanto, foi um
grande feito para as Siderúrgicas de Açailândia igualar preço da sua produção.
A Amazônia Oriental foi, para governo, uma espécie de incubadora de negócios, de
onde emergiu o Projeto de Polo Florestal em zonas denominadas de reservas florestais a
margem da EFC. Por seguinte, as áreas de produção florestal também eram gerenciadas pela
CVRD. Enfim, vale ressaltar que as extensões dessas áreas acarretaram no processo de
esvaziamento da comunidade ecológica nativa como fauna e flora.
30

Para Santos (2009) a instalação da CELMAR não contou com processo de resistência
em Imperatriz por parte da população. As condições favoráveis para grandes empresas, foram
tanto na infra-instrutura, como tocante as reivindicações por melhor manejo nas plantações de
eucaliptos ou sobre questões fundiárias de grandes áreas para monocultura do eucalipto.

A CELMAR encontra, portanto, na Região Tocantina o cenário ideal à sua


definitiva implantação... Existência de extensas áreas degradadas, adequadas
à implantação do reflorestamento com eucalipto; pesquisas florestais com
eucalipto na região, realizada pela CVRD...; abundância de água (Rio
Tocantins); de energia (hidrelétrica de Tucuruí, no Pará); disponibilidade de
mão-de-obra barata; de serviços; transportes rodoviários e ferroviários
(SANTOS 2009 APUD CONCEIÇÃO, 1995, p. 144).

São notórias as condições favoráveis tanto como recursos naturais, financeiros e


tecnológicos para monocultura do eucalipto em Imperatriz e Região Tocantina. Apesar desse
aparato todo da CELMAR, com um grande esforço do governo grandes empresas do setor do
papel celulose não se instalaram na região.
Atualmente, a Suzano S/A dispõem de áreas e das florestas de eucaliptos da
CELMAR, com sede administrativa em Imperatriz. Sua fábrica também assume as grandes
fazendas de eucaliptos. Em tese, a Suzano incorporou-se a esse projeto, criado na década de
1980.
Neste capítulo será mostrada a influência dos grandes projetos nas dinâmicas
econômicas, sociais e ambientais no entorno de Açailândia e Imperatriz cidades que compõem
a Amazônia Oriental. O PGC se constituiu de maneira abrupta na região amazônica, deixando
um ranço nas relações sociais nas regiões impactadas pelo projeto, e criando uma sujeição
entre comunidade nativa e os grandes empreendimentos.
A intervenção do Estado nessa forma do PGC não levou em consideração, os anseios
da comunidade local, baseado no contexto de economia mundo, no caráter de exportação.
Nesse sentido, os atores coletivos não tinham a real dimensão de causa – efeito do projeto,
pautados apenas no discurso raso do desenvolvimento promovido pelos agentes econômicos
ávidos pelo lucro. Essas análises traduzem opiniões de (FLORESTAN, 1975; FURTADO,
S/D) essa prática de projetos são recorrente em toda a América Latina a busca do capital
sempre pelo cálculo capitalista pelos agentes econômicos privilegiados ficando com lucro e o
excedente deixando os atores coletivos marginalizados.
31

4 AGENTES SOCIAIS ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL

O polo siderúrgico para produção do ferro gusa foi instalado no bairro Pequiá, na
cidade de Açailândia. Sem tradição ou histórico na área industrial, essa área de produção
constitui os seus trabalhadores/ operários oriundos do campo sem uma experiência fabril. Tal
característica pode ser uma especificidade do processo de industrialização das regiões da
Amazônia Oriental.
Nesse formato de cadeia de produção em torno da produção industrial, regiões da
Amazônia Oriental caracterizaram-se como um polo guseiro, sem tradição ou histórico na
área industrial, constituído por trabalhadores/operários oriundos do campo sem uma
experiência fabril.
Nas criações das siderúrgicas surgem outras atividades como: serrarias, empresas de
transporte, carvoarias e fazendas para produção de carvão vegetal que são correlatas à
produção de minério, como energia para fomentar os altos-fornos.
A bandeira desse momento, foram às ações políticas e diretrizes estatais para atividade
industrial. Essas podem ser caracterizadas e compreendidas como uma espécie de mola
impulsionadora para o encadeamento de negócios diversificados voltados à transformação em
escala horizontal de produção do ferro-gusa baseado em economia de exportação industrial d
grande parcela do minério de ferro de Carajás e com isso desenvolvimento local seria
alcançado.

“Das empresas dedicadas à produção do ferro-gusa, instalaram-se e já


iniciaram as obras de seus alto-fornos quinze siderúrgicas. Para sua
instalação, a maioria dessas pequenas siderúrgicas contou com inúmeros
favores estatais. Na composição dos seus capitais, os recursos oriundos do
Fundo de Investimento da Amazônia (Finam) e do Fundo de Investimento do
Nordeste (Finor) foram extremamente relevantes, em alguns casos
representam até 75% dos capitais investidos [...] Todas produzem tão-
somente ferro-gusa, são por isso denominadas produtoras independentes,
utilizando o carvão vegetal como o seu principal insumo. O carvão vegetal,
oriundo quase que exclusivamente da floresta primária, é proveniente de
lenha de desmatamentos ou é produzido tendo por base resídua de madeira
beneficiada por serrarias que também recorrem à floresta primária”
(MONTEIRO, 2004, p.04 APUD MONTEIRO, 1998, p. 94-133).

Nesta citação o autor coloca no debate tanto as siderúrgicas de Açailândia como de


Marabá, sobre suas estruturas de funcionamento das suas atividades ligadas na produção do
ferro gusa. Os Recursos em sua maioria partem de programas estatais como (FINAM) Fundos
de Investimento da Amazônia e o (FINOR) Fundo de Financiamento do Nordeste, sendo uma
32

fusão em prol do financiamento de recursos para produção o carvão vegetal para região.
Segundo Monteiro (2004) esses Investimentos foram de fundamental importância em alguns
casos representava cerca de 75% dos capitais investidos.
Nesta análise na formação do PGC, tanto em Açailândia e região quanto em Marabá, a
formação dos empreendimentos ocorre com similaridades de agentes envolvidos em todo o
corredor do desenvolvimento. Contudo, os investidores não levaram em conta os aspectos
sociais e ambientais locais. Trataram a região como uma “pizza” que apenas foi fatiada e os
pedaços oferecidos ao grande capital-empresa que por meio da grilagem, obtive terra em
processo de expulsão e conflitos com os camponeses.
Neste aspecto, as palavras de Victor Asselin (2009) se tornam relevantes no tocante à
forma de domínios territorial do norte caracterizado por elevado índice de grilagem de terras
na região pertencente ao Programa. Com isso a desigualdade se torna uns elementos
inevitáveis realizados por esses grandes projetos em tese desenvolvimentistas que exclui
grande parte da população da terra e dos meios de reprodução das ruralidades locais e formas
de resistências ao modelo em curso.
A produção do Carvão Vegetal se constituiu da exploração das florestas primárias
trazendo em inicio grandes prejuízos ambientais. A derrubada da floresta nativa em busca da
lenha do carvão nativo para aquecer a produção do ferro gusa. Outra forma que de obtenção
de carvão vegetal característica da região de Açailândia com a utilização da serragem e
descartes das serrarias que se mostrou uma alternativa na produção do carvão dos anos 80 até
fim dos anos 90 período da produção manual do carvoejamento.
Retomando Clássicos da Sociologia, pode-se apoiar em Florestan Fernandes para
explicar essa exploração das florestas primárias. Nesse sentido, o grande capital aplica o
método da exploração de reservas naturais para obter uma lucratividade violando código
ambiental. Segundo Fernandes (1975) esse processo se chama calculo capitalista modelo
executado na América Latina dentro de uma ótica de relações desiguais de trocas.
Nos estudos de Monteiro (2004) fica nítido esse dualismo da extração da madeira
oriunda do desmatamento, como junção de madeira proveniente de manejo florestal, fazendo
parte da produção do carvão. Nesse sentido madeira ilegal era misturada com madeira
proveniente de reflorestamento, configurando uma falsa documentação, método para burlar a
legislação ambiental.

“Estimando-se que, a partir de 1999, é consumido anualmente pela


siderurgia na Amazônia Oriental brasileira 1,9 milhão de toneladas de carvão
33

vegetal; supondo-se que 40% sejam produzidos tendo por base lenha oriunda
de desmatamentos para a formação de pastagens ou de projetos de “manejo
florestal sustentado” e que os 60% restantes sejam provenientes de resíduos
de madeira utilizada pelas serrarias, já que as outras fontes de biomassa não
são praticamente utilizadas; considerando-se provável a interseção entre as
áreas das quais se extrai madeira para serrarias e as que são desmatadas com
finalidades agropecuárias, pode-se deduzir que, anualmente, os resíduos que
convergem para a produção carvoeira originam-se de uma área que atinge
570 mil hectares” (MONTEIRO, 2004 p. 17).

Na produção do Carvão Vegetal foram utilizadas fazendas, serrarias e Carvoarias


terceirizadas para siderúrgicas contratantes para produção. Em relatos da Ong (CDVDH)
Centro da Vida e Direitos Humanos4, são demonstrados grande número de denúncias de
trabalho análogo à escravidão proveniente da prática de produção do carvão, nas quais muitos
trabalhadores não tinham (EPI) Equipamento de segurança Individual, alimentação e
remuneração condizente com atividade executada.
Essas atividades desenvolvidas nas carvoeiras podem ser compreendidas como ação
mista de atividade do reflorestamento do eucalipto, com a produção da floresta nativa para
produção do carvão vegetal para burlar as legislações ambientais. No depoimento do Senhor
Raimundo Nonato fica claro esse tipo de atividade, ele atuava nas terceirizadas numa função
de “faz tudo” 5 desde ao corte com moto serra até serviços de mecânica nos caminhões.

“Eu trabalhava para uma gata6da Viena a W Sousa Reflorestamento, operava


Moto Serra, cortava eucaliptos, madeira boa também, quando acabava ia
mexer no Cheba7 velho arrumar à mecânica e as molas do bicho para
aguentar a carga para queimar no forno. Nessa época trabalhei demais no
mato só gostava de vir pegar pagamento na rua, os encarregados pegavam
muito no pé dos oreia seca8” (Raimundo Nonato, 21/10/2014).

O senhor Raimundo Nonato, tem 45 anos natural de Dom Eliseu-PA, casado pai de 3
filhos, analfabeto, possui experiência em carvoarias do Pará e do Maranhão, devido
fechamento de várias carvoarias, ele fez essa transição de trabalho, mas ressalta que ofício
atual aprendeu dentro das carvoarias pela necessidades de mecânicos ele aprendeu a profissão
na prática.
No depoimento do senhor Raimundo, observa-se a colheita do eucalipto ainda está na
zona do sistema manual, apenas com uso de motosserra. Ele assumiu uma polivalência que

44
Organização não governamental que tem sede em Açailândia
5
Profissional que executa atividade além da que tem o registro em carteira.
6
Expressão usada para falar de empresas que prestam serviços ou terceirizadas
7
Caminhão velho sem condições de trafegar em Rodovias servindo Apenas para transporte de lenha nas
Carvoarias e Fazenda.
8
Expressão usada para trabalhador sem experiência sem uma classificação dentro da atividade que está inserido.
34

pode ser compreendida como um desvio de função, já que estava atuando em função diferente
do seu contrato em carteira seu vínculo trabalhistas para a função de serviços Gerais, mas ele
atua na mecânica, forneiro e outras atividades da carvoaria.
É interessante explicar que o termo “rua”, utilizado pelo entrevistado, serve para fazer
referência à parte urbana de Açailândia, onde se localiza o escritório de contabilidade que
fornece o pagamento. Tal localização, além de ser o ponto de recebimento do salário é
também o lugar onde os trabalhadores compram mantimentos, quando saem da fazenda que
fica na Reta, região rural de Açailândia.
Atualmente, ele trabalha no Posto de Mola Xavier em Açailândia, aprendeu o ofício
nas fazendas de carvão depois da crise de 2008. Naquele momento, a empresa onde
trabalhava realizou demissão em massa, e seus colegas foram demitidos, migrando para
outros estados e áreas de atuação, como por exemplo, a construção civil.

“Em tempos de crise, apesar de um discurso preocupado e resignado à


solução inevitável da demissão dos funcionários, as siderúrgicas não pararam
de vender e lucrar. Carneiro e Ramalho (2009) sinalizam que, até o final de
2008, uma pequena redução na quantidade exportada, pouco mais de 67 mil
toneladas, foi mais do que compensada pelo valor exportado, com um
aumento de cerca de 498 milhões de dólares quando comparado ao ano
anterior. Ainda conforme os dados de Carneiro e Ramalho (2009), os dados
oficiais das exportações brasileiras demonstram de forma inequívoca que as
empresas guseiras do Pará e Maranhão finalizaram o ano de 2008 com
grandes lucros. Sem dúvida, as demissões podiam ser evitadas ou atrasadas,
sem que o peso da crise pesasse somente sobre as costas dos mais fracos”
(BOSSI, 2010, p.06).

A citação acima ressalta o momento contraditório da crise que estava sendo anunciada
no contexto econômico. Mas para Bossi, segundo dados oficiais, as siderúrgicas tinham caixa
e recursos devido ao alcance de números expressivos em 2008 e poderiam ter lutado pela
defesa dos empregos na região.
Ainda, no tocante as relações sociais no âmbito do trabalho, Monteiro explica:

“Para a produção de carvão vegetal se estabelece uma variada gama de


relações sociais, mas que em termos gerais quando a lenha é originária de
desmatamentos para a implantação de pastagens ou para outro tipo do
cultivo da terra em fazendas, em empresas latifundiárias ou mesmo em
pequenas e médias propriedades rurais, os donos da terra cedem a área e
nada cobram pela lenha retirada, exigindo, em contrapartida, que os
fornecedores de carvão entreguem a área “limpa” para o plantio, quase
sempre de capim; ou eles próprios dirigem a produção do carvão vegetal;
neste caso, são na maioria fazendeiros e médios proprietários”
(MONTEIRO, 2004, p.08).
35

Observa-se, tanto no depoimento do Senhor Raimundo quanto na análise de Monteiro


(2004) que as divisões do trabalho, impostas pela produção do carvão, seguem uma rotina na
qual:
“1) as carvoarias cortam e queimam madeira nativa para a produção de
carvão essa sua atividade principal; 2) depois se estabelece o pasto para
criação de gado, devido quando fazem as derrubadas das florestas nativas ,
sem programa de manejo florestal o que restam de maneira proposital uso do
espaço para criação de bovinos; 3) o fazendeiro ou proprietário da carvoaria
faz a gestão do Carvoejamento, consiste na derrubada da madeira, processo
de queima nos fornos; 4) o transporte da madeira em forma de lenha
“geralmente para aqueles possui um pequeno trator de pneus, ou um
caminhão. Neste caso, a remuneração vincula-se ao volume de lenha
transportada, ou mesmo ao volume de carvão produzido pela carvoaria”
(MONTEIRO,2004P.08 - fig.02).

Figura 2: Foto de lenha proveniente de desmatamento, transportada para ser carbonizada

Fonte: Maurílio Monteiro.

A figura condiz com depoimento do senhor Raimundo, de um trator ou caminhão


velho, sem condições de trafegar por vias estaduais ou federais, servido apenas para transporte
de lenha em áreas rurais, fazendo a rota para os fornos para carbonização. Os trabalhadores
refletem uma relação de hierarquia, em que o operador assume uma posição superior em
relação ao “peão”, que vai fazer a descarga das madeiras. Os pneus carecas e as estradas não
pavimentadas ressaltam bem a precariedade nas carvoarias. Este período é anterior à
modernização da atividade de reflorestamento, e foi marcado por tecido social constituído de
um modelo hierárquico dentro das carvoarias na qual as atividades se constituíam de um
modelo rudimentar organizacional.
A estrutura da produção do carvão vegetal se mostrou, em todas as etapas produtivas,
uma sucessão de irregularidades, desde corte da madeira nativa não respeitando a legislação
36

ambiental, no transporte através de tratores, caminhões e outros veículos sem condições


mínimas de rodagem em rodovias. O trabalho mesmo daqueles que possui assinatura em
Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), muitos utilizam sem EPI e sem falarmos
casos de escravidão por divida ou condições análoga de trabalho escravo.

Organograma 1: Os agentes sociais envolvidos diretamente na produção carvoeira

DONOS DA
LENHA
MOTOQUEIROS
INTERMEDIÁRIOS

OS FORNECEDORES DE
CARVÃO

GATOS

CARVOEIROS

PEÕES
Fonte: Dados da pesquisa.

Nos estudos de Monteiro (2004) a produção de carvão vegetal foi marcada por uma
estrutura arcaica no qual os donos da lenha eram tidos como figura central da produção
carvoeira. Eram arrendatários das fazendas, serrarias e áreas para retirada da lenha, em
contrapartida recebiam como gratificação: a limpeza da área, o plantio do capim (para o pasto
para criação de gado, e percentual da produção do carvão). Configuração da produção do
carvão vegetal nos ano 80 e 90 na região da Amazônia Oriental.
Os intermediários são os atores envolvidos como compradores de carvão das
carvoarias. Por possuírem caminhão varia revenda para siderúrgicas por um valor mais alto
intermediário era um corretor que vendia a produção. Os gatos são responsáveis pelo
recrutamento de trabalhadores e gerenciamentos da mão de obras são aliciadores. Segundo
Moura (2006) O trabalho do aliciador é fazer o recrutamento e seleção dos trabalhadores,
usando prerrogativas de um bom salário e benefícios no sentido de uma ação pautada na
corrupção e falsas ilusões sobre o suposto emprego. Muitas das vezes o trabalhador não tem
37

contato com empregador apenas com o gato, é o que paga, ou quem administra as dívidas do
trabalhador.

“Os carbonizadores um grupo segundo Monteiro (2004) que possui um lugar


importante na produção do carvão pelo seu ofício da carbonização tem um
papel diferenciado nas etapas produtiva do carvão “são remunerados em
relação ao volume de carvão produzido e, algumas vezes, têm participação
percentual na venda do carvão. Geralmente, lhes cabe a responsabilidade
pela remuneração da força de trabalho” (MONTEIRO, 2004, p.13).

Os peões são os trabalhadores braçais, que vende sua força de trabalho por um valor
menor que os outros atores sociais envolvidos na atividade do carvão, configurando em nível
mais baixo da hierarquia dentro das Carvoarias. Os trabalhados se alojem nas residências
imposta pelo patrão, assim ele passa ter dívidas na sua estádia com a alimentação, vestuário e
remédios “Além de terem descontados de sua remuneração o valor da alimentação, seja pela
sua condição de arranchado [...] tem suas refeições fornecidas diariamente pelo gato”
(MONTEIRO, 2004 p.13).
Quase sempre terceirizados, os motoqueiros são trabalhadores diferenciados por
possuírem técnica de manuseio dos motosserras são responsáveis pela colheita nesse sistema
manual, e remunerados por produção. Esses antecedentes da produção do carvão vegetal
foram marcados por momentos de extrema violência e crimes ambientais as florestas nativas.
O trabalho análogo à escravidão foram uma das maiores atrocidades impostas pela exploração
da mão de obra, se tornando uma superexploração da força de trabalho.

“O capitalista, mediante a compra da força de trabalho, incorporou o próprio


trabalho, como fermento vivo, aos elementos mortos constitutivos do
produto, que lhe pertencem igualmente. Do seu ponto de vista, o processo de
trabalho é apenas o consumo da mercadoria, força de trabalho por ele
comprada, que só pode, no entanto, consumir ao acrescentar-lhe meios de
produção” (MARX, 2013, p.202).

Neste sentido, a análise Marxista sobre a mais-valia está enraizada na relação dos
donos dos meios de produção com o proletariado através do salário, no qual o jogo estaria o
excedentes da produção, o que se torna mais cruel a escravidão dentro do contexto de
produção do carvão vegetal a escravidão por divida no qual o trabalhador está sujeito ficar
com débitos com dono da carvoaria. Nesse contexto de exploração a mais-valia é vista como
uma normalidade dentro de algumas carvoarias.
4.1 MECANIZAÇÃO DA COLHEITA DO EUCALIPTO NA AMAZÔNIA
MARANHENSE
38

O deserto verde9 cresce exponencialmente na região de Açailândia e Imperatriz


podendo ser vistos tanto nas rodovias federais 010 sentido Belém a Brasília quanto na rodovia
222 números altos de pés de eucaliptos dando um olhar homogêneo que outrora era vista uma
diversidade na flora local. A importância econômica que assume a cultura do eucalipto em
nosso país decorre tanto da inerente multiplicidade de seus usos e empregos de suas diferentes
espécies, como da expressiva área de florestas implantadas existentes.

Figura 3: Eucaliptos na BR 010 sentido Belém a Brasília

Fonte: Pereira, 2015.

Por não atender mais à demanda cada vez maior do mercado, o processo arcaico
manual do corte dos eucaliptos, foi recebendo cada vez mais a adesão maquinário florestal e
outros aparatos tecnológicos que possibilitaram satisfazer à demanda crescente do setor
florestal como fornecedor de matéria prima para indústria.

Quadro 3: Empresas Siderúrgicas e os seu grupos econômicos na região de Carajás


(VALOR
EXPORTADO
NOME DA EMPRESA CONTROLE LOCALIZAÇÃO N° DE FORNOS
(EM US$) EM
2007)
Viena Siderúrgica Grupo
Açailândia/MA 5 145.419.560
do Maranhão Valadares
Cia. Vale do Grupo Queiroz Açailândia/MA 3 181.313.820

9
Termo usado para descrever um sistema de monocultura que apresenta características uniforme e homogêneo
não apresentando uma biodiversidade.
39

Pindaré S/A Galvão


Siderúrgica do
Açailândia/MA 2
Maranhão S/A
Cia. Siderúrgica do
Santa Inês/MA 2
Maranhão S/A
Grupo
Gusa Nordeste S/A Açailândia/MA 3 92.905.660
Ferroeste
Ferro Gusa do
Grupo Aterpa Açailândia/MA 2 63.191. 660
Maranhão Ltda
Fonte: Carneiro (2013) apud Instituto Observatório Social (2006), SECEX/MDIC, SINDIFER.

Com base no estudo do sociólogo Carneiro (2013) acerca das siderúrgicas instaladas
na região de Carajás fez-se uma adaptação desta tabela para colocar em evidência o Grupo
Queiroz Galvão, possuidor do maior número de fornos. Tal grupo possui uma verdadeira
estratégia empresarial voltada para a demanda pelo carvão. Criou a empresa Energia Verde
Produção Rural, cuja função primordial é a produção do carvão para outras siderúrgicas do
mesmo grupo. Dessa forma o referido grupo se destaca tanto na silvicultura como na colheita
do eucaliptos.
Dessas Siderúrgicas após terrível crise de 2008 a Fergumar, pertencente ao grupo
Aterpa, teve sua atividade cessada devido a problemas de ordem econômica. Diferente das
demais, todas tem suas florestas plantadas para fornecimento de carvão vegetal, se destacando
o Grupo Queiroz com uma melhor estrutura. A Fergumar era a única que comprava carvão de
terceiros, as demais como Viena, Gusa trabalhavam com produção própria e fornecedores.
Para o Coordenador de Colheita e Carvão, Antônio Paiva, a atividade do
reflorestamento é de fundamental importância para equilibrar os custos da produção e
continuação no mercado.

“A realidade essa hoje as fazendas de eucaliptos em toda sua atividade


incluindo desde ao plantio até o transporte a pátio da siderúrgica, tem que ter
controle, recursos a demanda atual não com a décadas atrás tudo de qualquer
jeito, a logística e a qualidade do carvão, o forno não pode esfriar com
tempos atrás e muito dinheiro em jogo, infelizmente a Fergumar está de
portas fechadas, muitos pais de família desempregados atividade florestal
não admite mais amadores” (Antônio Paiva , 25/10/2015).
40

Nas palavras do Gestor de Colheita observa-se um discurso favorável à mecanização e


adesão de tecnologia nas atividades florestais para obter produtividade. Citou o caso da
Fergumar como reforço de que antes, as Siderúrgicas não tinham gestão sobre o carvão,
fazendo uso de terceiros que vendiam o carvão nativo sem nota, e sem outros requisitos que
garantem a legalidade do processo.

“A privatização do parque siderúrgico brasileiro foi um fator determinante


para o seu processo de reestruturação produtiva, no sentido de ampliar a
capacidade do setor e principalmente contribuir para a internacionalização da
indústria, que se adequou ao estágio da siderurgia mundial. A privatização
possibilitou o término de um longo período cujo enfoque principal era o
modelo de substituição de importações, em que as empresas operavam em
segmentos não concorrentes entre si. Isso gerava transtorno em termos de
preços e qualidade para os consumidores, resultante da falta de
competitividade” (SOUZA E NETO, 2005, p.67).

A restruturação produtiva anteriormente presente só na siderurgia, se incorpora


também no setor de floresta buscando uma integração sistêmica de atividades entre empresas
do mesmo grupo, terceirizadas e fornecedores.

“Com a globalização da economia, aumentou a concorrência internacional


que trouxe consigo exigências crescentes de qualidade e produtividade. Para
acompanhar o incremento da produção e garantir o abastecimento das
indústrias a custos compatíveis, as empresas, do setor da celulose, acharam
que, na maioria das vezes, a solução é aumentar o nível de mecanização das
operações de colheita de madeira para obter produções elevadas a baixos
custos. [...] setor florestal brasileiro vem-se modernizando dia a dia,
principalmente nas áreas de florestamento e reflorestamento. Essas áreas, por
serem florestas homogêneas, possuem excelentes condições para a
mecanização das atividades de colheita florestal, visando maiores
rendimentos e menores custos por metro cúbico produzido” (TARNOWSKI
et al, 1999, p.2 apud MALINOVSKI, 1993).

Para Gonçalves (2008) muitos fatores contribuíram para a mecanização, como o


aumento da produtividade aumento das Áreas de florestas Plantadas e dos custos de mão-de-
obra e a necessidade de executar o trabalho com maior segurança operacional e de redução
nos custos de produção. “Essas circunstâncias levaram empresas brasileiras a passarem da
colheita manual ou semi-mecanizada para sistemas totalmente mecanizados, com máquinas de
alta tecnologia, produtividade e elevados custos” (GONÇALVES, 2008, p.28).
Com alta demanda do eucalipto para suprir à necessidade das siderúrgicas, foi
necessária a implementação de tecnologia para aumentar a produtividade, ou seja, produzir
41

mais com menor tempo e com menor custo é a filosofia da economia mundo, divulgada pra
todos os setores a Amazônia Maranhense não foge a regra dessa globalização.
Na região, as duas grandes empresas do setor são Energia Verde e Suzano Papel e
celulose, com suas distinções para uso dos eucaliptos. Energia Verde para produção de carvão
vegetal e a Suzano para o Papel e Celulose, os sistemas de colheita de ambas são mecanizados
e de ponta, e na parte de plantio toda a atividade e terceirizada.

Quadro 4: Empresas Terceirizadas para plantio tanto na Energia Verde como para Suzano
NOME DA EMPRESA RAMO ATIVIDADE

J/S SERVIÇOS FLORESTAIS Reflorestamento Plantio

ITAJUBÁ Reflorestamento Plantio


EMFLOR´S Reflorestamento Plantio
SOLLUM EMPREENDIMENTOS
Reflorestamento Plantio
FLORESTAIS
Fonte: Dados da pesquisa.

Essas duas gigantes detentoras das maiores áreas de florestas plantadas da região da
Amazônia Maranhense possuem similaridades na forma de gestão florestal. Ambas não
tomaram como atividade fim o plantio, deixando como uma atividade meio então faz se
terceirização do serviço deixando para que as empresas do (quadro 2) execute o plantio.

“No âmbito do processo de desterceirização da produção de carvão vegetal


em Açailândia, a atividade de reflorestamento é terceirizada pelas
siderúrgicas, onde são contratadas empresas que prestam dois segmentos de
serviços nas fazendas de sua propriedade: umas que plantam e exercem a
manutenção da floresta de eucalipto, e outras que cortam e transportam o
material lenhoso, para então serem transformadas em carvão vegetal por
trabalhadores e em infraestrutura das próprias siderúrgicas” (MANCINI,
2015, p.95).

No quadro 2 como nas palavras de Mancini (2015) o plantio tem sua configuração na
forma de uma atividade terceirizada, as empresas atuam das mesmas formas nas duas frentes
de serviços respeitando a fisiologia da atividade do eucalipto para produção do carvão ou para
papel celulose.
Sobre isso, Santos (2009) e Carneiro (2013) fizeram análises detalhadas a respeito do
PGC e de seu subprojeto Celmar, focado nas áreas de plantio da monocultura do Eucalipto, de
produção de eucalipto, este subprojeto não cumpriu seu devido objetivo na cadeia produtiva,
42

já que a empresa de Papel e Celulose não se instalou na região. Nesse sentido, o trabalho da
Celmar foi reorientado para produção de Carvão.
Nos anos 2000, para acelerar a produção da colheita dos eucaliptos a CVRD atual
VALE, contrata a empresa JR Serviços Florestais para atuar na Colheita das florestas do
projeto Celmar, em Açailândia e Região. A JR é uma empresa pertencente ao grupo RR
Serviços Florestais do estado do Pará e tem se notabilizado como uma empresa referência na
colheita Florestal, em nível nacional. A JR, por seu referencial de trabalho, adquire novos
contratos com outras empresas e também o contrato com a Energia Verde e outras empresas
do setor na Terceirização da Colheita, utilizando, porém, o corte mecanizado na Amazônia
Maranhense, serviço feito apenas pela CEIMA empresa do Grupo Verne Linear numa
categoria de trabalho secundário.
A infraestrutura é o ponto chave para o manejo dos eucaliptos, as estradas são de
extrema importância para o transporte da lenha e carbonização da madeira.
As fotos (da ilustração nº 04 e 05) são da pavimentação da estrada na Fazenda Nova
Descoberta a produção do carvão exige uma estrutura logística significativa no contexto da
produtividade. As fotos mostram alto grau de investimento que é tratado atividade da colheita,
obras como essas são rotineiras dentro das Unidades de Produção do Carvão.

Figura 04: pavimentação da estrada Figura 05: renovação das estradas

Fonte: Adriano Carvalho, 2014.

A produção de carvão vegetal tem uma grande importância na fabricação do ferro


gusa, no qual se configura no alto investimento do Grupo Queiroz Galvão nas fazendas de
eucaliptos é também alto grau de investimento na colheita mecanizada do eucalipto, para
obter uma maior lucratividade proporcionada pela produtividade.
Quando se faz uma visita tanto nas siderúrgicas Simasa ou Pindaré ou na Energia
Verde se percebe a cultura organizacional do Grupo Queiroz Galvão nas placas com missão é
43

visão do grupo como uma forma de motivação para os funcionários mesmo que está nas
florestas de eucaliptos não perca o foco na sua atividade.
A colheita mecanizada do eucalipto é uma atividade de alto custo para os engenheiros
florestais, agrônomos e agrícolas, que possuem suas pesquisas direcionadas para estrutura
produtiva e tecnológica da colheita. Os atores sociais todos trabalhadores conforme
Organograma 1, ficaram marginalizados frentes às máquinas de última geração e seu alto
valor no mercado e não foram absorvido por esse modelo de produção em curso.
Os discursos vistos do contexto operacional e técnico dos engenheiros validam o
sistema mecanizado, no sentido da segurança, tempo, desgaste físico que a colheita manual
proporcionava só não problematizam as questões sociais proveniente dessa restruturação
produtiva do eucaliptos.

4.2 ANÁLISE INSTITUCIONAL DAS EMPRESAS INSERIDAS NA RESTRUTURAÇÃO


PRODUTIVA DA ATIVIDADE DO EUCALIPTO

No primeiro capítulo foi mostrada a ação dos grandes projetos desenvolvimentistas na


região da Amazônia Oriental, suas consequências no tocante aos aspectos sociais, ambientais
e econômicos, ou seja, um conjunto de eventos com agendas direcionadas para aquisições de
novos empreendimentos que em tese alavancaria economia, emprego e outras demandas
sociais naquela região caracterizada pela carência de serviços públicos.
As grandes empresas chegaram de maneira abrupta em uma conjuntura pautada no
desenvolvimentismo incorporado por capitais públicos e privados.
Alimentadas por capitais públicos e privados grande empresas como chegaram de
maneira abrupta, materializando um discurso que valorizava a indução de capitais, tecnologia
em detrimento de aspectos vinculados a defesa do ambiente e de importantes indicadores
sociais, relacionados ao desenvolvimento humano (educação, saúde, bem-estar, entre outros).
Nesse sentido, pesquisadores como Asselin (2009) explicam que a Ferrovia construída pela
CRVD gerou uma serie de acidentes, e ocasionou a grilagem das terras indígenas localizadas
próximas ao empreendimento.
Com a chegada das siderúrgicas em Açailândia, carvão se tornou um combustível para
produção do ferro Gusa em grande escala. A demanda por Carvão cresceu, as carvoarias se
tornaram algo muito comum na região. Mão de obra, em grande escala, para produção
carvoeira, fez-se em condições análogas a escravidão, ocasionando um contexto de violações
dos direitos ambientais, direitos humanos e direitos trabalhistas. Para Monteiro (2005) uma
44

forma das Guseiras produzirem um excedente ainda maior era com o ataque brutal as florestas
primarias Amazônica, favorecendo a produção do carvão vegetal nativo com um custo final
bastante favorável para produção de ferro gusa. Segundo esse autor:

“A lógica que impulsionou a mínero-metalurgia na região é a de assegurar


sua viabilidade econômica tendo por base a garantia da utilização de
vantagens comparativas decorrentes da possibilidade de acessar recursos e
serviços ambientais a baixo custo, o que não a vincula à existência ou à
necessidade de ela se integrar ou interagir com arranjos produtivos locais nos
quais, ao lado da existência de recursos naturais, o capital humano e o social
sejam elementos determinantes para o estabelecimento de vantagens
competitivas que permitam processos de desenvolvimento socialmente
enraizados” (MONTEIRO, 2005, p.13).

Nas palavras de Monteiro (2005) os grandes empreendimentos não se preocuparam


com as demandas locais, e sim com as vantagens competitivas para assegurar uma viabilidade
econômica mais longeva e acumulação capital. Seguindo o sentido contrário ao do
desenvolvimento socialmente enraizado, os grandes empreendimentos aproveitavam as
fragilidades locais para acumulação de excedente, seja na exploração das florestas nativas ou
pela mão de obra barata.
Esses foram antecedentes das ações dos grandes empreendimentos e da produção
carvoaria marcada por relatos de violações de maneira geral com a vida, que atacam desde o
meio ambiente implicando na flora e fauna até nas relações sociais.
No contexto do Neoliberalismo, essa fase ficou para trás, pois as siderúrgicas
passaram por um novo curso de produção orientada por uma economia mundial que já não
valorizava mais o ataque às florestas primárias e denúncias ambientais. Pode-se dizer que
ocorreu um processo de reestruturação produtiva no qual as siderúrgicas incorporaram, em
certa medida, uma ideia de produtividade adequada a um conjunto de normas trabalhistas e
novos parâmetros técnicos voltados para novos usos das florestas e Fornecimento de matéria
prima para produção do ferro-gusa.
Nesse momento de restruturação produtiva uma das áreas que mais teve mudança em
sua estrutura e tecnologia e social foi a colheita mecanizada do eucalipto, sofrendo uma
verdadeira metamorfose que a aproximou dos métodos de produção da Austrália- pais
considerado um exemplo de produção no segmento de florestas de eucaliptos. Sobre essa
mudança de postura no funcionamento das empresas, Souza e Pires (2009) relatam:

“As mudanças ocorridas no mercado nacional e internacional alteraram de


forma significativa a estrutura produtiva das empresas que atuam no setor
45

florestal, tornando necessária a implementação de medidas capazes de


viabilizar a adequação das mesmas aos padrões internacionais de
produtividade, qualidade e custos. Uma destas medidas é a transferência das
atividades de colheita florestal para empresas especializadas (terceirização
da colheita florestal), tendo em vista que parcela significativa do custo total
da madeira utilizada nas fábricas está relacionada ao ciclo de atividades que
compreende desde o corte das florestas até ao transporte ao consumidor
final” (SOUZA E PIRES, 2009, p.02).

Nesse contexto de restruturação produtiva da atividade da colheita do eucalipto, o


estudo etnográfico, aqui desenvolvido, buscou compreender os efeitos desse fenômeno sobre
os operadores de maquinário de ponta que outrora pertenciam uma atividade
predominantemente manual.
Nessa situação alterada pela tecnologia, o presente estudo elencará: os perfis dos
trabalhadores, os tipos de trabalho e o estudo sindical sobre atividade, dentro de três empresas
JR Serviços Florestais LTDA, Energia Verde Produção Rural LTDA e Suzano S/A,
implementar um novo modulo de maquinário, ocorreu também a alteração da ordem vigente
de trabalhadores , já que as mudanças de cunho tecnológico, também, acarretaram mudanças
nos perfis de trabalhadores da colheita mecanizada do eucalipto.

4.3 DE R & R SERVIÇOS FLORESTAIS LTDA PARA JR SERVIÇÕS FLORESTAIS LTDA


UMA MUDANÇA CONCEITUAL

A R & R Serviços Florestais LTDA é uma empresa oriunda do estado do Pará, mais
precisamente de Monte Dourado no Pará, e se caracteriza pela prestação de serviços de
extração de madeira de florestas. Essa se notabilizou em várias regiões desse estado,
principalmente por prestar serviços para o Grupo Jari,10 uma importante representante no
segmento florestal e papel celulose na região Amazônica. Segundo o site11 da própria
empresa, essa possui mais de 40 anos de atuação em operações industriais na região
conhecida como Vale do Jari, onde possui mais de 120 mil hectares de terras para o manejo de
florestas. Além de acompanhar esse grande empreendimento, a R & R Serviços Florestais
LTDA também prestou serviços para a Aracruz Celulose S.A. Para se ter noção, Malima
(2013) explica que essa empresa plantava eucalipto, no município de Aracruz, desde 1970 e

10
Segundo Malina (2013,) essa empresa chegou a adquirir 1,5 milhões de hectares contíguos ao longo do rio
Jari, passando a produzir gmelina arbórea e pinus para a utilização em serrarias, fábricas de compensados,
chapas, celulose e papel. Tal projeto se destacou por possuir um dos maiores latifúndios de estrangeiros no
Brasil.
11
www.grupojari.com.br/celulose , acessado em: 29/03/2016.
46

logo expandiu suas plantações para o norte do estado, próximo do munícipio de São Mateus e
Conceição da Barra.
Sua história em Açailândia foi iniciada no começo dos anos 2000 quando passou a
ofertar serviços numa natureza, jurídica, terceirizada da CVRD, para colheita dos eucaliptos
provenientes do projeto CELMAR (Celulose Maranhão). Em 2006, mudou seu nome para JR
serviços florestais começou a aumentar sua carteira de clientes dentre deles estão duas
grandes empresas com enormes concentrações de terras com plantação de eucaliptos: Suzano
S/A12 do segmento papel celulose e Energia Verde, empresa pertencente ao grupo Queiroz -
com missão de fornecer carvão de ótima qualidade para as siderúrgicas do grupo.
Para Souza e Pires (2009), especialistas na colheita florestal, tal processo se
configurou pela falta de conhecimentos dessas duas empresas que não acompanharam a
transição da colheita manual para Mecanizada. Esses autores notam que:

(...) satisfazer o crescente nível de exigência das empresas contratantes,


oferecendo serviços a um preço competitivo e, ao mesmo tempo, assegurar o
retorno do investimento realizado, não é o único desafio das empresas que
atuam no setor de colheita florestal, pois as características do processo
produtivo, que evoluiu da colheita manual e semimecanizada para a
mecanizada, modificou significativamente as suas estruturas de custos e, por
conseqüência, a forma de administrá-los.[...] Parise (2005) afirma que a
intensificação do processo de mecanização da colheita florestal resultou em
vários benefícios para as empresas que atuam no setor, dentre os quais pode-
se citar a redução da necessidade de mão-de-obra; maior produtividade;
melhor qualidade; possibilidade de operação durante 24 horas mesmo em
condições climáticas adversas; maior eficiência; redução dos impactos
ambientais etc. Diante dos benefícios listados pelo autor, depreende-se que a
mecanização da colheita florestal permitiu que as empresas prestadoras de
serviços passassem a oferecer um produto de maior qualidade e com
menores custos” (SOUZA E PIRES, 2009, p.03-05).

Nas palavras de Souza e Pires que são especialista no segmento da colheita


mecanizada, observa-se que o fator humano é marginalizado frente a redução da mão de obra,
que a produção em 24 horas são incorporadas em siderúrgicas e outras fábricas que trabalham
em ritmo acelerado, em um contexto em que o homem virou um apêndice da máquina. Para
Antunes (2011), neste quadro do trabalho na colheita do eucalipto, o trabalho passa de um
trabalho vivo para trabalho morto devido ao incremento tecnológico no qual máquina
desempenharia uma importância maior que o trabalhador. Diferente do artesão que total
controle sobre o seu trabalho.

12
2013 JR serviços florestais firma contrato com Suzano unidade de Imperatriz já em demanda menor
de serviço devido a Suzano ter uma cultura organizacional de primarizar atividade da colheita.
47

Nesse sentido, a empresa disponibiliza o maquinário tecnológico de acordo com


atividade: Siderúrgicas, Guseiras e Aciarias a colheita direcionada para produção do Carvão.

Tabela 01: Máquinas de colheita florestal mecanizada e semi-mecanizada

MÁQUINAS CORTE EXTRAÇÃO DESGALHAMENTO SORTIMENTO CAVAQUAMENTO

Harvester X X X X
Forwarder
Trator de esteiras X X X
Motosserra X X X
Trator agrícola X
Skidder X
Feller de Pneu X
Triciclo X
Carregador florestal X X
Fonte: Adriano Carvalho, 2015.

Na tabela nº 1 estão todos os maquinários usados no processo de colheitas semi-


mecanizadas e mecanizadas podendo variar a marca, mas sua função primordial são estas.
Alguns caíram em desuso como o motosserra tecnicamente manual e que não atingi as metas
de produção estipuladas pelo setor, antes o motosserra se caracterizava como um objeto de
extrema importância, que consolidava a profissão do operador de motosserra como uma das
mais importantes dentro do contexto das antigas carvoarias. Hoje em dia, porém, se tornou
apenas um utensílio comum, como um facão, por exemplo. O restante são máquinas florestais
mecanizadas com alta demanda para atuar em diferentes tipos de produção, como a colheita
do eucalipto, para fins de produção do carvão e da celulose.
Quando JR Serviços Florestais se instalou em Açailândia, sentiu dificuldades na
formação do capital humano especializado devido à região está numa transição produtiva do
setor florestal. Alternativa foi trazer um grupo de operadores experientes das outras empresas
do Grupo para ter uma boa produtividade e não arranha sua imagem com a contratante.
Desgalho manual foi uma das melhores soluções, e ocorreu por meio da contração de
trabalhadores braçais para retirada dos grandes galhos das árvores, e depois do corte dos
mesmos. Nessa situação, a empresa ganhava por homem-hora, e formava suas operações
dentro da própria atividade braçal oferecendo treinamento nas máquinas através dos
ensinamentos dos trabalhadores mais experiente. Nesse contexto a JR serviços Florestais
extraiu um excedente cada vez maior por que treinavam os trabalhadores braçais que dispunha
48

de machado e motosserra para fazer seu trabalho. Ao passo que o trabalhador braçal se
tornava um operador, criava um tipo de motivação nos outros trabalhadores também queria
essa promoção para fazer essa transição que foi o ponto alto da organização na região.
Dessa forma, empresa maximizava seus ganhos, reduziriam eventualmente gastos com
treinamentos e cursos, por que forja seus capitais humanos no exercício da atividade,
operação manual convivendo com atividade tecnológica uma harmonia entre o arcaico e o
moderno para aquisição do capital.

4.4 ENERGIA VERDE: UMA EMPRESA ESTRATÉGICA DENTRO DO GRUPO


QUEIROZ GALVÃO

Outra importante empresa para compreendermos a reestruturação e cadeia produtiva


da região é a Energia Verde, do Grupo Queiroz Galvão, empresa pernambucana existente
desde 1953 que se notabilizou, inicialmente, na construção civil e diversificou sua atuação em
várias partes do Brasil e em diversos projetos. Em Açailândia, ela se destacou inicialmente
com a atuação de suas siderúrgicas Cia. Vale do Pindaré S/A e Cia. Vale do Pindaré S/A
produtoras do ferro Gusa.
Sobre essa empresa, vale destacar que ela substituiu os fornos convencionais de
produção de carvão, por fornos retangulares, chegando a instalar 58 novos equipamentos nas
áreas adjacentes às fazendas de eucalipto plantadas. Segundo ela 13, um forno retangular é
capaz de produzir quase 200 toneladas de carvão vegetal mensalmente, capacidade 38 vezes
maior que a de um forno circular comum. Com tais fornos a Queiroz Galvão Siderurgia
tornou-se a primeira empresa do Grupo a produzir créditos de carbono homologados,
correspondentes à quantidade de emissões poluentes que deixaram de ser emitidas.

Figuras 6 – Construção dos fornos retangulares

Fonte: Joel Silva, 2014.

13
http://portal.queirozgalvao.com, acessado em: 23 de fevereiro de 2016.
49

Essas figuras (6) mostram a construção dentro (UPC) de fornos retangulares para
aumentar a produção de do Carvão Vegetal, as fotos que foram tiradas pelo técnico de
qualidade da empresa mostra o ritmo acelerado de trabalho coletivo em um grande canteiro de
obras. Os trabalhadores nota-se pela foto que todos estão de acordo as normas de segurança,
botas, capacetes e outros equipamentos de segurança individual.
Para suprir a demanda de carvão vegetal das siderúrgicas do grupo, a QG investiu a
formação da empresa Energia Verde que passou a funcionar em Açailândia no ano de 2007.
Uma das bandeiras utilizadas e defendidas por essa empresa é o uso de madeiras de
reflorestamento disponíveis na região. Tal empresa possui sede Administrativa em Açailândia
no mesmo prédio das siderúrgicas como uma forma de unidade organizacional até o uniforme
é do Grupo Queiroz Galvão para estabelecer relações pares entre os colaboradores empresas
pertencentes ao grupo.

Figura 07 – Gestão da Colheita

Fonte: Joel Sousa.

Na fotografia 12, é possível observar a equipe de Gestão florestal e colheita,


participando da reunião para estabelecimento de metas e produções, situação que ocorreu, na
unidade administrativa do grupo, para a delimitação das tarefas atribuídas a cada responsável.
Depois os mesmos se dirigem para as fazendas e (UPC) Unidade de Produção de Carvão para
delegar ordens aos subordinados alinhando metas para alcançar sempre uma produtividade
maior.
A colheita de eucalipto da Energia Verde foi terceirizada, por muito tempo, pela JR
serviços Florestais. Contudo, os dirigentes desta parecem ter enxergado a oportunidade
desterceirizar uma atividade tão importante para o resultado final da produção do carvão
vegetal, pois os gestores e coordenadores do setor florestal finalizaram o contrato com JR
serviços Florestais, e consequentemente, reduziram custos na produção. Eles contrataram
50

outra empresa chamada Escava Forte que terceiriza máquinas de ponta. Se, por um lado
resolveu-se o problema das máquinas, nessa nova fase produtiva, por outro, faltava um capital
humano para ser incorporado nos planos diretivo da empresa. A alternativa, tomada pela
Energia Verde, foi contratar os operadores da JR Serviços Florestais que naquele momento
estava fragilizada com perca de contrato foi facilmente assediado pela contratante começaram
fazer parte da empresa saindo da natureza jurídica de terceirizados para efetivos.
Esse processo também marcou a expulsão dos Desgalhadores Florestais da atividade
da colheita devido implementação de máquinas que faz o processo de desgalho mecanizado
otimizando o processo e diminuindo a contratação de mão de obra.

“Segundo Antunes e Alves (2004) se tratar do desemprego estrutural


proveniente da entrada de recursos tecnológicos nos processos produtivos
acarretando na expulsão da mão de obra de caráter manual, e com
“horizontalização do capital produtivo, bem como das modalidades de
flexibilização e desconcentração do espaço físico produtivo, da introdução
da máquina informatizada, [...] tem sido possível constatar uma redução do
proletariado estável” (ANTUNES E ALVES, 2004, p.03).

Neste sentido, a Energia Verde modifica e uma restruturação produtiva, lado negativo
fica pela parcela grande de trabalhadores desempregados pela mecanização da colheita pela
indução dos elementos tecnológicos no processo, criando os bolsões de excluídos. Enfim, se
a JR serviços florestais teve sua participação na cadeia produtiva, inserindo-se como empresa
terceirizada junto a outras focadas na produção de eucalipto, a Energia Verde adotou uma
estratégia diferenciada de inserção, marcada pelo processo de desterceirização, também
conhecido como primarização. Segundo Oliveira e Dias (2012) tal processo caracteriza-se na
recuperação por parte de uma determinada empresa de atividades, funções e áreas produtivas
que foram delegadas a empresas subcontratadas. Esse pesquisadores, explicam que,

A “desterceirização” é um campo de análises ainda pouco explorado pelos


pesquisadores brasileiros e, embora ela não seja uma prática tão abrangente
quanto a terceirização fora nos anos 1990 e início dos 2000, ela tem sido
realizada em grandes empresas e em setores-chave da economia, conduzindo
a importantes transformações nas relações de trabalho; por outro lado, a
“desterceirização” denota uma inflexão do processo de terceirização em
determinadas empresas e aponta para um processo contraditório em relação
às linhas de desenvolvimento e organização do trabalho até então
vigentes.[...]A análise da “desterceirização” possibilitará entender a
terceirização não como um fenômeno estático, mas dinâmico e mutável”
(OLIVEIRA E DIAS, 2012, p.03-04).

Neste a lógica da Energia Verde seria terceirização momentânea da atividade, sendo


51

uma atividade-fim delegada para outra empresa essa retomada culminou também pela
contração dos melhores operadores da terceirizada com vantagem competitiva e estratégica.
Do ponto de vista etnológico foi muito rico esse momento estudar praticamente os mesmos
trabalhadores agora sobre uma ótica de uma nova organização empresarial.

Figura 08: Diferentes formas de trabalho

Fonte: Nunes Lima.

Nessa outra figura pode observa no fundo as plantações de eucaliptos, fumaça da


queima do carvão, os operários trabalhando nessa hierarquia do operário manual e do
operador de máquinas pesadas, observa-se hierarquia das atividades. Essa figura (8) mostra
uma divisão do Trabalho, operador de maquinas e trabalhadores braçais estabelecendo uma
relação de hierarquia imposta pela habilidade que manuseia uma máquina pesada. Para
compreender a atuação da Energia Verde na região, é importante entender alguns aspectos da
produção de eucalipto da região, em especial daquela atrelada a Suzano, empresa que se
instala na região da Amazônia maranhense Suzano atraída pelo projeto CELMAR que tinha a
missão na década dos anos 80 e 90 de criar uma rede de empresa do segmento do papel e
celulose para região. Tal processo atingiu os resultados esperados e acabou sendo direcionado
para produção do carvão vegetal para abastecer as Guseiras. “O projeto florestal da Suzano
para a Região de Tocantina Polo Porto Franco vai ao encontro de uma série de planos e
programas governamentais, tanto nos níveis federais como estaduais” (RIMA , 2009, p.37).
O projeto Florestal abrangeu propriedades distribuídas em municípios, nas
microrregiões maranhaneses de Alto Mearin e Grajaú, Imperatriz, Porto Franco, Chapada das
Mangabeiras e Gerais de Balsas (Figura). Essa região considera os 21 municípios a seguir:
João Lisboa, Imperatriz, Senador La Rocque, Grajaú, Buritirana, Davinópolis, Governador
52

Edison Lobão, Sítio Novo, Ribamar Fiquene, Lageado Novo, Campestre do Maranhão, São
João do Paraíso, Porto Franco, Formosa da Serra Negra, Estreito, São Pedro dos Crentes,
Fortaleza dos Noqueiras, Feira Nova do Maranhão, Carolina, Nova Colinas, Riachão (RIMA,
2009, p.30).
Como o objeto de estudo é colheita florestal é a Suzano das grandes empresas do
segmento possui grande tradição na atividade. Diferentemente da empresa JR Serviços
Florestais, e da Queiroz Galvão, o processo de formação dos Recursos Humanos na região se
deu pela oferta de cursos de qualificação para suprir os cargos provenientes da colheita
florestal.

Figura 9 - turma do curso de formação de operadores

Fonte: TCA.

A empresa TCA foi contratada da Suzano para desenvolver cursos de formação de


operador de máquinas florestais para atender uma demanda da empresa contratante. O perfil
dos jovens gira em torno de 24 anos, com ensino médio. Promove curso de maquinários de
ultima geração, se diferenciando na sua metodologia de formação de operadores.
Ao ingressavam no curso de formação, os alunos estudavam por um período de quatro
meses de duração. Disciplinas comandas das máquinas, normas de Segurança, controle de
qualidade, entre outras, obtinham certificado de Operador Florestal, e os melhores serão
admitidos pela Suzano, para ocupar os cargos de acordo com a certificação e habilidade para
operar as máquinas. Optando pela a formação dos próprios profissionais, a Suzano
desenvolveu um caminho mais econômico do que buscar profissionais mais experientes no
53

mercado. No primeiro momento, mesclou trabalhadores experientes de outras unidades com


esses jovens operadores - assim como a JR Serviços Florestais fez quando chegou à cidade de
Açailândia. Terceirizou uma parte dos serviços para JR Serviços Florestais para uma pequena
parte da Colheita e o arraste da madeira e o carregamento. Já no transporte das toras de
eucaliptos para a fabrica no município de Imperatriz ficaram sob a responsabilidade das
empresas Rodo Real, Promape entre outras. “O projeto florestal da Suzano para a Região de
Tocantina Polo Porto Franco vai ao encontro de uma série de planos e programas
governamentais, tanto nos níveis federais como estaduais” (RIMA , 2009, p.37).
Neste capítulo, se estabelecem modelos que expõem antecedentes do profissional
operador de máquinas florestal, começo dos 2000 por não dispor de empresas de treinamentos
e formação, os operadores eram formados na prática em processo de recrutamento interno em
transição de um trabalhador braçal para um operador. No outro quadro estão os operadores de
formação em sala de aula por mídias digitais ou outros recursos tecnológicos didáticos, aulas
de simulação é um pequeno estágio, concluindo sua formação por outro lado um grupo que
perdurou muito tempo para chegar a promoção.
54

5 DENTRO DAS FAZENDAS: TRABALHADORES, FORMAS DE TRABALHO E


CONDICIONANTES SOCIAIS

Nos capítulos anteriores, foram detalhados os procedimentos da observação


participante, nas principais empresas responsáveis pela atividade de colheita mecanizada do
eucalipto: 1) a JR Serviços Florestal - nacionalmente reconhecida por contratos com grandes
empresas do setor florestal, 2) a Energia Verde (estrategicamente pertencente ao Grupo
Queiroz Galvão Siderurgia) e 3) a Suzano - grande empresa do setor de Papel e Celulose que
estabeleceu a sede da fábrica na cidade de Imperatriz, e utilizou as plantações e áreas
inicialmente do Projeto Celulose do Maranhão (CELMAR).
Esse projeto possuía a missão, no fim da década de 1980, de atrair grandes empresas
do segmento para o Maranhão, mas não atingiu sua meta. Nesse contexto, a CVRD ficou
responsável por extrair o eucalipto para fins de produção do ferro-gusa. Para tanto,
estabeleceu um contrato com a JR Serviços Florestais, marcando assim, um período no qual
ocorreram outros contratos como Energia Verde/JR e Suzano/JR. Pesquisa procurou se
debruçar sobre os elementos acerca da restruturação produtiva, da atividade da colheita do
eucalipto, estudar os tipos de trabalho e suas relações sobre uma etnografia dos trabalhadores
no ambiente de trabalho, que teve o início em 2012 se estendendo até o começo de 2014
através de uma relação institucional do pesquisador com as empresas e posteriormente com os
operadores.
Embora não houvesse, em outro momento da pesquisa, a possibilidade de utilizar as
atribuições do meu cargo para obter informações em campo, este mesmo possibilitou a
construção de vínculos e de uma rede de relações com os trabalhadores da JR Serviços
Florestais. Com a Energia Verde, os laços sociais foram construídos a partir da primarização,
e consequentemente, a incorporação de trabalhadores da JR Serviços Florestais naquela
empresa.
Enfim, a metodologia deste capítulo foi baseada nas informações extraídas dessas
redes de contatos que possibilitou o retorno ao campo como um observador sem uniformes.
Essa fase da pesquisa foi realizada em dois momentos: primeiramente com retomo ao campo,
acompanhado do(s) informante (s) provenientes das redes de contatos estabelecidas ao longo
da pesquisa e, posteriormente, com a realização de entrevistas com os trabalhadores das três
empresas, na tentativa de buscar os perfis sociais desses grupos de operários, relações e tipos
de trabalho.
55

Considerando Malinowski (1992) o estreitamento das relações com os nativos faz toda
diferença na busca de dados e informação para concretização da pesquisa. Assim, tracei um
roteiro para auxiliar o retorno a campo mediado por um informante.
Para tanto, entrei em contato com senhor Antônio Paiva, pois para entrar nas fazendas
era necessário cumprir alguns procedimentos como: agendar visita, usar equipamento de
segurança individual. Ir ao campo, sempre traz algo inacabado, as viagens continuam sempre
cansativas, mas objeto exige sempre a motivação extra do pesquisador. Para Malinowski
(1922) a etnografia tem dualidade de sentimentos assim como a vida, bons e maus momentos
fazem parte da expedição do etnólogo que busca compreender o outro na sua totalidade.
No dia seis de julho de 2014, recebi uma ligação do senhor Antônio Paiva falando
sobre a liberação para minha entrada na Unidade de Produção de Carvão - UPC-40. Logo,
retornei confirmando e, após isso, nos deslocamos para o município de Bom Jesus das Selvas,
na fazenda Nova Descoberta. Na ocasião foi realizada uma visita de campo rotineira que
14
consistia na verificação dos talhões para conferir a produção, por meio de mensurações
feitas sobre as pilhas de madeira (figura 10).

Figura 10 - talhões Energia Verde

Fonte: Adriano Carvalho, 2014.

Na figura percebemos um cenário homogêneo de uma floresta de eucalipto cortada. A


mesma também foi utilizada como ilustração no comentário do coordenador responsável pela
área, que ao fim do dia, afirmou excelência aos operadores, pelo serviço executado, o qual
representava uma boa margem a mais que a estipulada nas metas mensais de produção.

14 Área homogênea com canteiros para plantio de uma cultura.


56

Isso sinaliza que o processo de desterceirização, da atividade da colheita mecanizada


do eucalipto, foi uma ferramenta estratégica para obter uma maior produtividade. Contudo, a
escolha do capital humano fez também toda diferença pelo fato de os trabalhadores já serem
conhecedores da atividade de área de operação.
Nesse contexto de alta produtividade, Fábio Ramos, da empresa Promape, responsável
pelo transporte de madeira para fábrica da Suzano, esclareceu que a operação estava muito
adiantada no estado do Pará, pois envolvia o trabalho de muitas empresas terceirizadas
inclusive a JR e o Módulo de produção da Suzano (Máquinas Harvester e Forwarder que
executam a atividade na área da Suzano).

Figura 11- Preparação para o transporte da madeira

Fonte: Adriano Carvalho, 2015.

O relato do informante é justificado pela figura 11 que mostra o volume da produção


no carregamento com destino a fábrica em Imperatriz. Embora a fotografia aponte apenas um
caminhão localizado atrás do outro veiculo que está sendo carregado, havia uma fila enorme
de caminhões esperando o momento do recebimento da carga.
Como o movimento dos caminhões, eram formadas grandes nuvens de poeira dentro
da fazenda. Após fazer um trajeto de duas horas por essa fazenda, verificou-se que a paisagem
é sempre homogênea: pilhas de madeiras meticulosamente empilhadas, aguardando o
operador da garra para o caminhão de toque mecanizado pela ação repetidamente.
No dia 03/11, mediado por Fábio Ramos, consegui uma visita na fazenda Monte
Líbano, que fica em Açailândia, próximo ao Assentamento Califórnia. Nesse local, foi
57

possível notar que a Suzano está conseguindo desenvolver uma produção territorial mais
consistente, pois segundo Ricardo Sousa (Supervisor da área) o planejamento de corte deveria
atuar naquela na fazenda só em março de 2016, no entanto naquele momento já estavam
terminando os talhões, como mostra a figura10.

Figura 12: Fazenda Monte Líbano

Fonte: Adriano Carvalho, 2015.

Analisando as duas figuras anteriores, observa-se que o cenário apesar de serem duas
localidades diferentes, mas o contexto da figura mostra um resultado comum árvores
derrubadas sem nenhuma outra diversidade de flora no local dando ar de deserto.

5.1 PERFIS DOS OPERADORES DE MÁQUINAS

Essa última etapa da pesquisa resulta do estreitamento das relações com os


trabalhadores, adquirido através de uma boa observação e redes de contatos e outros
elementos, que configura uma boa relação entre o pesquisador e a comunidade pesquisada.
Nesse âmbito, serão demonstradas algumas características sociais dos trabalhadores
das empresas analisadas anteriormente. Por conta disso, uma estratégia de análise foi
segmentar (quadro nº 09) o grupo de entrevistados de acordo com as empresas, funções e
idade, para então explicar os diferentes perfis biográficos, formas de trabalho e a formação
desses trabalhares enquanto operadores de maquinário florestal.
58

Quadro 5: Perfil dos entrevistados na pesquisa


NOME FUNÇÃO EMPRESA IDADE
Raimundo Sousa Op. Feller JR Serviços Florestais 42
Francisco Moura Op. Garra JR Serviços Florestais 46
Antônio Alves Op. Skidder JR Serviços Florestais 39
Carlos Luiz Júnior Op. Harvester /Feller JR Serviços Florestais 37
Alessandro Morais Op.Harveste Suzano S.A 21
Marcos Paulo Op.FWD Suzano S.A 22
João Gabriel Op.Harvest /FWD Suzano S.A 27
José Mauro Op. Feller Energia Verde 45
Op.Skidder
Joaquim Feitosa Energia Verde 40

José Maria Cardoso Op.Garra Energia Verde 49


Fonte: Adriano Carvalho, 2015.

No primeiro do quadro, temos o senhor Raimundo Souza, natural de Marabá - PA,


casado, pai de quatro filhos, que reside há mais de vinte anos no município de Açailândia. Ele
trabalhou em fazendas, com roço de juquira15, como servente de pedreiro e outros serviços
braçais. Raimundo Nonato estudou até a antiga 3ª série do ensino fundamental, e tem oito
anos de profissão como operador de uma máquina chamada Feller-Buncher utilizada no corte
do eucalipto. Contudo, começou como desgalhador florestal manual e semimecanizada16 até
ocupar o presente cargo na empresa. Já Francisco Moura, é divorciado; natural de Viana-MA,
pai de três filhos. Sua escolarização foi desenvolvida até a antiga 2ª série do ensino
fundamental. Suas atividades iniciais foram: operador de motosserra, forneiro e chapa. Nas
atividades com eucalipto, também iniciou como desgalhador florestal e depois foi elevado
para o cargo de operador de garra onde atua, por sete anos, na manipulação da madeira
cortada. Com características semelhantes, também se fez contato com Antônio Alves que é
natural de Zé Doca-MA, casado e pai de cinco filhos. Sem escolarização, ele já trabalhou em
limpezas residenciais, como servente em pequenas construções e outros trabalhos sem registro
na carteira. Antônio Alves possui seis anos de profissão, e assim como os demais, começou
como Desgalhador Florestal; posteriormente, obteve uma promoção para Operador de
Skidder. O último entrevistado da JR Serviços Florestais, foi Carlos Luiz Júnior que era
natural de Miguel Alves-PI, casado e pai de três filhos. Antes, trabalhou como vaqueiro e na
limpeza de mato (Roço de Juquira ou juquireiro) e pintor, sua escolaridade é o ensino
15
Limpeza do campo para a formação de pastos, no sentido quase manual apenas com motosserra.
16
Com diferentes proporções, uma atividade cuja função também consiste em um tipo de limpeza.
59

fundamental completo. Ele possui nove anos de trabalho com eucalipto, e duas experiências
na carteira: como operador de Harvester e Feller, o que lhe possibilita executar duas funções
na empresa.
Da empresa Suzano, fez-se contato com Alessandro Morais, que é natural de
Açailândia-MA, solteiro e sem filhos. Possui experiência como balconista de farmácia,
vendedor e como auxiliar de escritório. Completou o ensino médio com habilitação em
técnico de alimentos no Instituto Federal do Maranhão (IFMA). Sua admissão na empresa
ocorreu por meio do curso de formação promovida pela empresa TCA, contratada da Suzano
pra oferta a formação e a seleção dos melhores candidatos. Sua inserção no trabalho com
eucalipto deu-se com a função de Operador de Harvester e perdura por um ano e meio de
operação.
Seguindo esse outro perfil, dialogou-se com Marcos Paulo que também é natural de
Açailândia-MA e solteiro. Antes de trabalhar na Suzano, ele dividia seu tempo entre o
trabalho na empresa da família e os estudos de Sistema de Informação pela Faculdade de
Imperatriz-FACIMP. Partilhando do mesmo caminho de Alessandro, realizou o curso de
formação na área de operação florestal é depois ingressou na empresa por meio de um
processo de seleção interno, passando a atuar como operador de Forwarder, onde já acumula
um ano e meio de experiência. O último entrevistado da Suzano foi o senhor João Gabriel que
também é natural de Açailândia-MA, solteiro e sem filhos. Ele possui o ensino médio
completo em técnico em mecânica e já trabalhou como: motorista, ajudante de mecânico e
vendedor. A inserção dele na Suzano aconteceu da mesma forma dos relatos anteriores, com
uma diferença do mesmo possuir as duas funções fundamentais do modulo de produção
(Harvester e Forwarder), executado na área da Suzano tendo apenas um ano é meio de
profissão.
Da empresa Energia Verde, destacamos José Mauro, que é natural de Santa Luzia-MA,
casado e pai de três filhos. Seu nível de escolarização vai até a antiga 4ª serie do ensino
fundamental. E suas experiências de trabalhos anteriores foram batedor de tora, forneiro e
servente. Sua atuação como operador da máquina Feller é de nove anos e sua formação inicial
aconteceu na Jr Serviços Florestais da mesma forma de progressão dos trabalhadores da JR.
Ele possui dois anos na empresa Energia Verde.
Com perfil semelhante tem-se Joaquim Feitosa que é natural de Campo Maior-PI,
casado e pai de quatro filhos. Sem escolaridade, trabalhou em diversos serviços braçais sem
assinatura em carteira assinada e atualmente é operador de Skidder, trabalho em cuja sua
experiência é de nove anos. Tendo trabalhado na JR Serviços Florestais, sua evolução nas
60

funções de trabalho também ocorreu de forma semelhante aos demais dessa empresa, e
atualmente possui um ano e meio na Energia Verde. Para finalizar esse quadro cita-se o
operador José Maria Cardoso, que é natural de Barreirinhas-MA, casado e pai de cinco filhos.
Estudou até antiga 5ª do ensino fundamental e possui uma experiência de trabalho com as
atividades de pescador, servente e operador de motosserra. Sua inserção no trabalho de corte
ocorreu de forma similar aos anteriores, e o mesmo possui dez anos de experiência como
operador de Garra ou Carregador Florestal.
Dessas descrições é possível inferir que os operadores da JR serviços Florestais e
Energia Verde possuem suas histórias marcadas pelo processo de migração que definiu o
contexto populacional de Açailândia-MA, durante a década de 1980, quando houve o “Boom”
dos empregos, que eram (in) diretamente associados à implementação e desenvolvimento do
Projeto Grande Carajás (PGC) e do encadeamento industrial de vários ramos de atividades
vindas para região através de políticas de incentivos.
Pensando tais atividades econômicas em Açailândia-MA e região próxima, com
relação ao território nacional, vale salientar o argumento de Pereira (2012) para quem as
expansões e delimitações de fronteira são elementos históricos baseado por vários fatores
como exemplo políticas governamental de integração nacional para uma integralização
nacional como o caso da Amazônia Oriental.

“Um elemento importante na construção de um pensamento social da


Amazônia que é a expansão e ocupação dos territórios do norte brasileiro
sempre demonstrando a relação de tensão entre a experiência humana e a
natureza. Numa noção de fronteira que poderia ser problematizada naqueles
espaços ainda desconhecidos, Martins (1997) considera que a mesma se
constitui sempre em contexto de conflito e enquanto lugar de alteridade”
(PEREIRA, 2012, p.164).

Assim, também partimos do pressuposto de Pereira (2012) quando explica que as


fronteiras na região da Amazônia se constituem em espaços de disputas e relações tensas
configurando uma pluralidade de visões e mundos humanos ultrapassando uma ideia de
território meramente físico. Retomando as palavras de José Martins, ele explica:

“À primeira vista é o lugar do encontro dos que por diferentes razões são
diferentes entre si, como os índios de um lado e os civilizados de outro;
como os grandes proprietários de terra, de um lado, e os camponeses pobres,
de outro. Mas, o conflito faz com que a fronteira seja essencialmente, a um
só tempo, um lugar de descoberta do outro e de desencontro. Não só o
desencontro e o conflito decorrentes das diferentes concepções de vida e
visões de mundo de cada um desses grupos humanos. O desencontro na
fronteira é o desencontro de temporalidades históricas, pois cada um desses
61

grupos está situado diversamente no tempo da História” (PEREIRA, 2012,


apud Martins, 1997: 27).

É nesse contexto que é possível pensar o processo de chegada das empresas


multinacionais ou de outros estados que se instalaram em Açailândia-MA, mas também a
relação de domínio da natureza orientada por uma “evolução” produtiva das tecnologias
empregadas no trabalho e processos de migração de trabalhadores de outros locais, com
outras experiências e expectativas. Trabalhadores como o senhor Raimundo Sousa, cuja
expectativa pode ser percebida no relata abaixo:

“Vim do Pará para o Maranhão porque sempre gostei do Maranhão e


também para ficar perto do meu pai que mora na baixada. Nunca tive medo
de serviço, nunca fiquei parado mais de um mês. Nem que seja para capinar
um quintal eu quero serviço. Ia passando na rua, vi aquele monte de gente
em frente da firma, resolvi encostar. Era monte de gente querendo fichar,
entrei na fila. O chefe falou que o serviço era para cara duro, difícil eu faltar
no serviço. Um dia, o chefe perguntou se queria treinar na máquina; eu disse
que sim; perguntou se sabia escrever e ler, eu disse que sim; ele falou que
tem que saber escrever os relatórios da máquina e até hoje estou na área, por
muitos anos, graça a Deus” (Raimundo Sousa, 14/05/2014).

A origem dos trabalhadores está configurada em arcabouços de possibilidades


oriundas desse espaço de fronteiras e dinâmicas sociais para uma nova composição social de
um lugar. Em diferentes tempos históricos. “Nesse sentido, as diferentes temporalidades,
concepção de vida e a tensão relação homem-natureza parece constituir fronteiras
permanentes no delineamento da cidade e nos diferentes modos de vida” (PEREIRA, 2012,
p165). Enfim, é o local onde o novo e o velho convivem harmoniosamente, expressos nos
machados, motosserras e Fellers.
Os grupos da JR Serviços Florestais e Energia Verde apresentam trajetórias
semelhantes, origem rural, de migração de outras regiões, uma idade média aproximada na
faixa dos quarenta anos. Suas jornadas na área florestal se faz pela inserção em atividade
braçal em correlação com atividade altamente tecnológica é mecanizada.
Para compreender essa inserção é importante ter em mente que o pré-requisito para
desempenhar a função de Desgalhador Florestal consiste em ter resistência física, por conta da
árdua atividade do desgalhamento manual das árvores de eucaliptos - realizadas pelos
iniciantes com o auxílio do machado, e com motosserra pelos mais experientes17. A promoção

17
Contudo isso não configura uma regra geral.
62

acontece pelo período de observação dos superiores, depois de um tempo alguns


desgalhadores são selecionados para fazer o treinamento nas máquinas.
Essa transição pode demorar mais de três anos, contudo nesse período o trabalhador já
está executando atividade do operador, contudo - por conta de uma estratégia lucrativa da
empresa- permanece na carteira de trabalho como desgalhador.
No grupo da JR é possível observar uma relação de status social entre os operadores,
pois o trabalhador que opera duas máquinas tem grande prestígio por parte do grupo e dos
superiores dele. Esses são geralmente apelidados de chave inglesa18. No caso da JR Serviços
Florestais esse profissional é de fundamental importância para que operação não possua
contratempos como falta ou demissão no seu quadro de funcionários, significam então uma
espécie de material humano pronto para suprir eventuais lacunas.
Os que possuem menor prestígio são os operadores de Skidder, por seus comandos
operacionais serem relativamente fáceis. Por se tratar de uma máquina que remete as
características físicas do trator, os operadores de Skidder são chamados de tratoristas por
operarem com essas máquinas de design rústico. São de menor prestígio também, porque não
fazem parte de todos os módulos de produção da colheita de eucalipto, por exemplo, atividade
da Suzano como mostra o quadro, não dispõe do profissional operador de Skidder devido as
atividades serem realizadas pela máquina Fowroard.
No Grupo da Suzano, observa-se um tecido social de indivíduos nascido na cidade de
Açailândia, com nível de escolaridade mais aprimorado em relação aos trabalhadores da JR
Serviços Florestais e Energia Verde, domínios das ferramentas digitais, internet e tecnologia.
Trata-se de um perfil de faixa etária menor como mostra figura (13).

Figura 13: Sala de simulação de operação nas máquinas

Fonte: Adriano Carvalho, 2014.

18 Pela versatilidade podendo ocupar duas funções, para suprir uma falta de outro operador ou numa situação de
crise a empresa optar por um trabalhador polivalente.
63

O perfil do trabalhador da Suzano é diferente das outras empresas: caracteriza-se


como um trabalhador jovem, com alto grau de instrução e que não foi absorvido por outros
mercados. Para Antunes (2011) os processos de expansão e transformação dessa nova fase do
trabalho cria o fenômeno desemprego estrutural, que exclui os mais jovens e os mais velhos
apenas restando empregos inferiores sua formação. Na entrevista feita com Marcos Paulo,
questionou-se o fato de ele ser portador de nível superior em um curso como Sistemas de
Informações e está trabalhando em uma atividade incompatível abaixo das suas qualificações
e formação. Ele relatou como ocorreu o processo de sua aceitação a esse trabalho.

“Inegável que optaria pela carreira na informática, mas formei, não consegui
emprego, distribui currículos, fui às entrevistas e nada. Minha atividade de
formação tem o mercado muito concorrido. Muitas vezes, a empresa já
dispõe de um responsável pelo setor tecnologia da informação, que dá
suporte a toda a instituição, sobrecarregando o profissional, ai não gera
oportunidade. Através de prova entrei para fazer o curso com bolsa até ser
efetivado (Marcos Paulo, 21/02/2014).

Segundo o relato de experiência do trabalhador, há um grande número de profissionais


com nível superior que não é absorvido pelo mercado. De acordo com o Sociólogo do
Trabalho, Ricardo Antunes (2011) esse fenômeno do desemprego estrutural ocorre na Europa
com jovens com boa formação. No Brasil isso poderia ser pensado como uma herança do
Toyotismo, já que a polivalência resulta na precarização trabalho, gerando uma sobrecarga
sobre o trabalhador e evitando a geração de oportunidades de emprego. Nesse sentido,
compreende-se que o grupo Suzano opte trabalhadores mais jovens, com salários mais baixos
por serem facilmente moldados na cultura organizacional da empresa.

5.2 TIPOS DE TRABALHO NA JR SERVIÇOS FLORESTAIS, SUZANO E ENERGIA


VERDE

A JR Serviços Florestais como é uma empresa de prestação de serviços precisa de um


grupo relativamente heterogêneo, que é formado, também, de acordo com a natureza do
contrato. Se for para colheita do eucalipto para fins de produção de carvão as máquinas são
Feller, Skidder, e Garra ou Grua. Já para a Atividade da colheita florestal para produção de
papel é celulose precisara das máquinas como Harveste, Forwarder e Garra para
carregamento. Dessa forma, a composição dos atores sociais tanto para o carvão vegetal ou
celulose também se expressa no maquinário florestal.
64

A Suzano, na sua atividade de colheita, precisará das máquinas Harveste, Forwarder e


Garra (também conhecida como Grua), faremos uma descrição das funções das máquinas na
atividade, conforme a citação de Gonçalves (2008).

“O harvester é hoje o que há de mais moderno em equipamentos florestais


quando se trata de colheita de madeira em corte raso, além do alto poder de
produtividade, o equipamento dispõe de acessórios como ar-condicionado,
som, e tem uma cabina totalmente isolada e com assento confortável, o que
propicia segurança e conforto durante a jornada de trabalho. Esta máquina
também dispõe no interior da cabine, computadores que auxiliam na
programação de performance do equipamento além de gerar relatórios de
produtividade[...] é a máquina principal, utilizada na derrubada e
processamento da madeira e, em alguns casos, no descascamento das
árvores, no desgalhamento e no corte em toras de comprimento
predeterminado, deixando as toras agrupadas e prontas para serem retiradas
da área” (GONÇALVES, 2008, p. 38).

Por meio das características do maquinário, marcado pela utilização de tecnologia


computacional, conforto e equipamentos, voltados para a elaboração de relatórios de
produtividade, é possível compreender a inserção dos cursos de capacitação, o perfil do
trabalhador e também a defesa forte de uma ideia de produtividade, que inclusive, também é
vendida pelos produtores dessas máquinas, pois, ao acessar o site19 de vendas da Harvester, é
possível verificar a seguinte frase “Na mata, o tempo de atividade é essencial. É por isso que
consultamos nossos clientes mais exigentes, madeireiros como você, para nos ajudar a
desenvolver essas novas máquinas robustas....”. Essa economia de tempo ocorre porque tal
maquina não apenas arranca a tora de eucalipto, como também a descasca, conforme registra
a figura a seguir.

Figura 14 - Harvester

Fonte: Gonçalves, 2008.

19
https://www.deere.com.br/pt_BR/products/equipment/harvesters/harvesters.page; acessado em 30 de março de
2016, às 16h36min.
65

Assim como o Harvester, o Forwarder compõe a unidade de produção da Suzano


e pode ser considerado um maquinário de fundamental importância na atividade da colheita
de eucalipto para obter uma excelente produção de papel e celulose, conforme segue:

“Após a derrubada, desgalhamento, descascamento e corte das toras de


forma. padronizada feito pelo harvester, entra em cena uma máquina
chamada forwarder para efetuar o chamado baldeio de madeira, este
equipamento é composto de uma caixa de carga onde são depositadas as
toras de madeira que são retiradas do solo com auxílio de um braço
mecânico com uma grua na ponta. Após encher a caixa de carga de madeira,
o forwarder se desloca até a beira da estrada onde inicia a formação de uma
grande pilha de madeira, para que posteriormente se carregue os caminhões
e esta matéria prima siga para a unidade fabril. [...] O forwarder chegou para
substituir os auto-carregáveis, além de ser hoje um dos equipamentos mais
modernos tratando-se de baldeio de madeira e tem uma tecnologia
formidável, sendo que todos os comandos desta são efetuados através de
joysticks e partem de uma cabina climatizada onde fica o operador da
mesma, a parte ergonômica também é destaque pois dispõe de assentos
ajustáveis e giratórios” (GONÇALVES, 2008, p.38).

Percebe-se uma divisão de trabalho entre os diferentes maquinários: uma derrubada


desgalha e descasca, e outra realiza a transferência (baldeio) das toras cortadas para as
margens das estradas, a fim de realizar o carregamento dos caminhões. Embora o Forwarder
seja munido de uma garra e uma caixa de carga que possibilitaria o baldeio, a fotografia 11
demonstra um modelo específico, com garra, realizando o carregamento dos caminhões que
carregarão a madeira até o pátio da fábrica.
Na Energia Verde cada máquina (o maquinário e o Feller, o Skidder e a Garra ou
Grua) tem função na colheita de eucalipto para produção do carvão vegetal. O Feller consiste
em um trator básico de pneu ou esteira para corte através de um sabre ou cabeçote de rotação
(conforme figura 15). O Skidder um trator com pneus para baldeio ou arrasto da madeira
(conforme figura 17) até a garra para fazer o carregamento.

Figura 15 - Feller Figura 16 - Skidder

Fonte: Adriano Carvalho, 2013. Fonte: Adriano Carvalho, 2013.


66

Enfim, os diferentes tipos de trabalhadores e maquinários, possibilitam pensar a


atividade de colheita de eucalipto de acordo com alguns pontos como: 1) as empresas, 2) do
capital tecnológico aplicado, 3) o investimento nos atores sociais e, 4) os trabalhadores que
ficam alheios a esse processo de “modernização”. Tal situação vai na mesma direção da
explicação de Antunes (1986) quando nota que, “Naturalmente, para o capitalista o que conta,
ao introduzir uma inovação tecnológica, é o aumento da produtividade dada pela proporção de
força de trabalho que a máquina substitui” (Antunes, 1986, p.53).
Fica evidente na pesquisa que o capital tecnológico altera e alterou sempre os atores
sociais, desde o período da análise de Monteiro (2004), no momento do processo do carvão na
década de 80 e 90, até os dias atuais. Para Antunes (2011) o trabalho realizado pelo operador
de máquina florestal é um trabalho morto porque retira a identidade e autonomia do operador
se tornando um trabalho morto meramente rotineiro sem elementos que expresse o
trabalhador nessa atividade.
67

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relevância dos estudos de Malinowski (1922), para explicar, por meio do método
etnográfico, as hierarquias na forma de trabalho extraídas pela inserção em campo para
compreender relação de status internalizados pelo grupo evidenciando os profissionais que
ocupa posição, cargo, polivalência de funções ou pelo fato de estar vinculado à máquina que
dispõem de maiores recursos tecnológico.
O Método etnográfico foi de fundamental importância para percepção de perfis dos
trabalhadores, descontruindo ideias preconcebidas generalizantes acerca do grupo estudado.
Evidenciando seus costumes, comportamentos baseado nos Imponderáveis da Vida par obter
dados condizentes com a realidade da comunidade a ser pesquisada para uma boa elaboração
de um texto etnográfico.
Atividade da Colheita Mecanizada dos eucaliptos, no Desenvolvimento em curso
produziu diversos fenômenos do trabalho, relação empresas terceirizadas e tomadoras de
serviços, retomada de uma atividade pela tomadora de serviço por uma atividade fim,
compreendo um processo desterceirização ou primarização das atividades como salientam
Oliveira e Dias (2012) compreensão de movimentos não estáticos estabelecendo um dualismo
terceirização/desterceirização torna-se possível dentro do mundo trabalho e evidenciado na
atividade de colheita do eucalipto entre as empresas nas suas relações contratada/contratante.
Na restruturação produtiva do segmento com a presença de elementos favoráveis para
uma logica capitalista de acumulação, transformações, desemprego estrutural segundo
Antunes (2011) e Antunes e Alves (2004) a robotização dispensa de trabalhadores
substituídos por máquinas. Altera-se a forma de formação de Recursos Humanos, baseada por
condicionantes tecnológicos que retira o trabalho vivo do homem e submete um trabalho
adoecido é morto.
Neste sentido, o trabalho na atividade da colheita mecanizada do eucalipto, está
pautado nas transformações ou metamorfoses dos seus atores sociais. Máquina que substituiu
trabalhadores braçais relatos na pesquisa como exemplo os desgalhadores da JR Serviços
Florestais agora configura outro processo de metamorfoses com a centralidade na tecnologia,
como um condicionante social, caracterizado pela expulsão da mão de obra frente é disputa
entre máquinas, homem torna-se coadjuvante na restruturação produtiva que elimina as
propriedades qualitativas do operário.
Em face do desafio teórico de estudar uma conjuntura pautada nos grandes projetos
desenvolvimentistas impostos pelo estado intervencionista. Desnaturalização das ações
68

gestada pelos mesmos compreende-se um esforço de perceber a realidade local no tocante


uma série de agravos para os atores sociais envolvidos de forma abrupta no processo de
trabalho que avilta direitos, extremamente excludente, mas não ressaltado pelo discurso
oficial, cabendo ao cientista social transpor elementos naturalizados dentro de um contexto
favorável ao desenvolvimento.
69

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