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Estamos estudando ultimamente Tito 1: 5-9, que fala sobre as qualificações de um

pastor. É um pouco difícil para eu pregar sobre esse assunto porque estou falando
sobre o que eu faço. E eu quero que você entenda que eu trato desse assunto
humildemente, entendendo que, sob a autoridade do que a Escritura diz, devo trazer
isso para minha própria vida.

Eu tenho lido este texto por muitos dias e o Senhor vasculhou meu próprio coração.
Tudo o que Deus fez em minha vida, no ministério, tudo o que ele está fazendo e fará
no futuro, é estritamente e somente devido à Sua graça,

Paulo descreve o caráter necessário para um pastor ou presbítero. Estamos


examinando que tipo de homem o Senhor quer que lidere Sua igreja. Esta instrução é
explícita, indiscutível, não é negociável. É simples e direta.

Ela nos diz precisamente, sem equívocos, que há certos homens que se encaixam
como líderes na igreja do Senhor e há certos homens que não.

É crucial para a vida da igreja, e seu futuro, que ela possa continuar a se tornar cada
vez mais semelhante a Jesus Cristo, que os homens certos sejam seus pastores,
presbíteros, supervisores e líderes.

Tito 1
5 Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes,
bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:
6 alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes
que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.
7 Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus,
não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe
ganância;
8 antes, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio de si,
9 apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto
para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem.

Em geral, o papel da liderança é o exemplo, por trás de qualquer coisa que dizemos
está o que somos. E é por isso que neste texto, começando no versículo 5 e descendo
até o versículo 9, você não ouve nada sobre ensino até chegar ao versículo 9.

Somente como última categoria de discussão o apóstolo Paulo fala sobre homens que
são hábeis em apresentar a Palavra fiel. Até então, tudo o que Paulo fala é sobre o
caráter do pastor.

O caráter do homem é o fundamento de sua pregação e ensino porque o padrão de


sua vida é a plataforma para sua proclamação. Liderança é principalmente exemplo.
Somos chamados a viver o que pregamos e ensinamos. Devemos estabelecer um
padrão para os outros seguirem em nossas próprias vidas, bem como o que dizemos.

Há diversas referências a essa verdade no Novo Testamento:


Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes
em nós (Filipenses 3:17)
Torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza (1
Timóteo 4:12)
Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus… imitai a fé
que tiveram… (Hebreus 13:7)
Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo (1 Coríntios 11:1)
… mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.
(2 Tessalonicenses 3:9)
Pedro descreve de forma inequívoca essa verdade:

Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha
dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada:
pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas
espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;
nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos
do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível
coroa da glória (1 Pedro 5:1-4)

E quando Paulo quer encontrar uma maneira de ilustrar esse tipo de liderança, ele
escolhe a família.

1 Tessalonicenses 2
6 Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros.
7 Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção,
todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos;
10 Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, justa e irrepreensivelmente
procedemos em relação a vós outros, que credes.
11 E sabeis, ainda, de que maneira, como pai a seus filhos, a cada um de vós,
12 exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus,
que vos chama para o seu reino e glória.

Paulo aqui está descrevendo aos Tessalonicenses a natureza de seu ministério. Ele
começa dizendo o seu carinho pelos irmãos, comparando:

A uma mãe que amamenta ternamente e cuida de seus próprios filhos.


Depois ele disse que a relação com cada um deles foi como a de um pai a seus filhos.
Ele fala que esse serviço como de pai e mãe em relações aos irmãos envolvia carinho,
cuidado, afeição, entrega, exemplo reto e irrepreensível, exortação, encorajamento e
admoestação, para que eles vivessem de modo digno do chamado de Deus.

Essa é a imagem de um líder na igreja. Ele não é um mero dirigente. Ele é uma
combinação do papel de pai e mãe na figura de um pai espiritual. E, para que exerça
sua função, ele vive uma vida para ser imitada.
Ele não é um faz tudo, não é um ativista e nem um gerente de pessoas, ele é um líder,
é alguém que vive uma vida que os outros querem copiar. Isso é o que é liderança
espiritual.

Ele não está na posição para organizar, estruturar e mobilizar a igreja para algum
objetivo a ser alcançado. Todos os pastores e presbíteros estão na igreja para se
tornarem padrões de vida, para refletirem com suas vidas o que ensinam da Palavra de
Deus. E não há melhor maneira de ver isso do que na analogia da paternidade.

Quando você tem a responsabilidade de conduzir pessoas a Cristo, à santificação e ao


serviço, você está gerando, nutrindo, educando, e movendo essas pessoas. Sua vida
deve respaldar o que você diz, se quiser ter o poder da integridade e credibilidade
nesse esforço.

Liderança no lar

Tito 1
6 alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes
que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.

Se você quer ser um líder da igreja do Senhor, se você quer ser um pai para a família
de Deus, a melhor maneira para você se qualificar é provando sua liderança espiritual
em sua própria família.

A integridade, credibilidade e piedade de um líder é revelada nos relacionamentos


mais íntimos na vida dele. Neles podemos verificar seu testemunho, virtude e
confiabilidade.

O que você pode fazer em seu serviço na igreja é diretamente proporcional a seu papel
junto àqueles que convivem com você na intimidade.

Um homem tem integridade e virtude?


Tem verdadeira piedade e justiça em todos os seus caminhos?
Os princípios que ele quer ensinar são vividos da maneira mais íntima em sua própria
vida?
Ele é capaz de levar alguém a Cristo pelo poder de seu testemunho e consistência?
Ele é confiável? Ele é divino? Ele é virtuoso?
Você quer saber a resposta para essas perguntas honestas?

Olhe para a família dele e você encontrará a resposta nas pessoas que o conhecem
intimamente, que o veem mais de perto, que entendem cada parte dele. Se você
quiser encontrar a resposta sobre que tipo de homem ele é, pergunte às pessoas que o
conhecem melhor.

Há muitos pais que trabalham duro, administram bem sua casa, mantêm tudo sob
controle, mas não conduzem seus filhos a Cristo, à piedade e a servir ao Senhor. Esses
não podem exercer o ministério. Isso é uma implicação do que Paulo diz a Tito.
A liderança espiritual é um tipo de paternidade onde você não apenas fala, mas vive.
Em que você deve ser capaz de conduzir as pessoas por sua vida, bem como seus
preceitos, a um certo nível de compreensão da verdade que leva à salvação, santidade
e serviço. O lar é o campo de observação do homem apto a tudo isso.

Agora, este é um conceito um tanto provocativo, eu entendo. E você pode estar tendo
todos os tipos de pensamentos, nem todos os quais tentarei responder mais do que
este texto. Mas a afirmação simples aqui é que o homem que deve ser considerado
para a liderança na igreja é um homem que provou sua liderança espiritual no lugar
mais íntimo: em sua própria família.

Paulo está instruindo Tito dizendo: “Constitua presbíteros, conforme te prescrevi” (Tito
1:5). Ele está simplesmente escrevendo o que eles já haviam conversado antes. Paulo
estava pensando na saúde das igrejas nas quais Tito iria fazer seu trabalho.

Não era uma tarefa fácil, a igreja poderia ter dúvidas sobre quem seria escolhido.
Assim, para maior segurança e eficácia do serviço de Tito, o Senhor inspira Paulo a
escrever as qualificações muito específicas de um presbítero.

Essas qualificações então em Tito 1: 6-9, e podem ser divididas em quatro categorias:

Moralidade sexual (v.6),


Liderança familiar (v.6),
Caráter geral (v. 7-8)
Habilidade para ensinar (v.9).
Se alguém for um presbítero ou pastor, deve se qualificar em todas as quatro
categorias. E quando um homem o faz, é claro, em geral ele será um homem
irrepreensível, como diz os versículos 6 e 7. Se alguém não estiver qualificado em uma
das quatro categorias, está desqualificado.

Estamos olhando agora para a questão da liderança familiar, e, em outras palavras,


Paulo está dizendo:

A instrução é simples, Tito, um pastor ou presbítero deve ser um homem que


demonstrou sua capacidade de liderança e integridade, levando sua família à verdade,
que é a mesma coisa que ele deve fazer na igreja.

A família torna-se então o campo de provas para a liderança. O pretenso líder está
qualificado? Olhe para os filhos dele. Sua liderança na família será o lugar mais óbvio
para encontrar a resposta.

Pode ser que você, como pai, tenha feito todo esforço possível para levar seus filhos à
fé em Cristo e não viu os frutos que desejava. Você não é responsável pela rejeição de
seu filho diante de Deus, mas também não está qualificado para ser um presbítero ou
pastor na igreja.
O pastor pode ser solteiro?

Não há nada nas Escrituras que impeça um homem solteiro ou que não tenha filhos a
ser um presbítero. Ele pode ter sua qualificação medida em outros campos disponíveis
para avaliação. Tem que haver outras áreas nas quais se possa ver o impacto e a
virtude de sua vida.

Mas se esse não for o caso, em Tito 1: 6 e 7 Paulo fala de o presbítero ser
irrepreensível em seu caráter e ter reconhecido testemunho de vida e liderança
familiar. Há claramente uma ideia daquilo que não pode ser visto na vida de um
pastor. E um desse pontos é: “que tenha filhos crentes que não são acusados de
dissolução, nem são insubordinados” (Tito 1:6). Não é difícil entender isso.

A família como campo de provas da integridade de um pastor

A família é o campo de provas onde um homem demonstra sua liderança espiritual. Se


os filhos de um pastor são ímpios ou são acusados de dissolução e insubordinação, sua
integridade está comprometida, bem como o respaldo de sua liderança espiritual.

Um pastor desqualificado tentando ensinar, diz: “É assim que se vive, é assim que se
comporta, é o padrão santo de Deus, é isso que Deus espera de você, é assim que você
deve criar seus filhos e liderar sua casa, é assim que você transmite piedade de uma
geração para a outra”.

Mas as pessoas perguntam: “Espere um minuto, seus filhos rejeitam o evangelho,


vivem no pecado e são insubordinados, com qual autoridade você está nos dizendo
como liderar nossas famílias?

Como alguém pode pretender liderar a igreja vivendo uma tragédia espiritual em sua
casa? Pregar a verdade vai trazer reprovação sobre a vida de um pastor desqualificado.
Há um descrédito na integridade e credibilidade de sua posição e de sua mensagem. Se
o pastor fracassou em liderar sua casa, a tragédia espiritual de sua família torna-se um
opróbrio sobre ele.

Em outras palavras, Paulo está reafirmando a Tito o que havia dito a ele antes:

Constitua presbíteros apenas entre homens que tenham boa reputação e que não
sejam desacreditados por seus filhos incrédulos, ou que dizem crer, mas são
indisciplinados e rebeldes. Isso destrói sua autoridade e o padrão de virtude piedosa
que ele deve apresentar diante de todos.

O pastor deve refletir uma vida piedosa e ser protegido de escândalos embaraçosos
por parte de filhos rebeldes. Ambas são perspectivas essenciais para estar no
ministério.

A eleição soberana é motivo se relativizar esse assunto?


Alguns querem relativizar isso em função da eleição soberana. Mas essa relativização é
uma abordagem antibíblica. A eleição é uma questão exclusiva de Deus em sua
soberania, pela qual lhe damos glória, mas não é algo a ser considerado quando
tratamos do testemunho fiel e o impacto de uma vida piedosa.

Deus quis que a salvação chegasse aos homens através de vidas piedosas
testemunhando o evangelho. Por toda a Escritura somos ensinados que uma vida
piedosa leva as pessoas à salvação e edifica a igreja do Senhor.

Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a
glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios,
nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser
agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que
sejam salvos (1 Coríntios 10:31-33)

Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. (Mateus 5:16)

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas


orações. louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos (Atos 2:42,47)

Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com
todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do
evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. (1 Coríntios 9:22,23)

Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de
uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo,
preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não
corri em vão, nem me esforcei inutilmente (Filipenses 2:15,16)

Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na
palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. Tem cuidado de ti mesmo e da
doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo
como aos teus ouvintes. (1 Timóteo 4: 12,16)

Há muitos outros exemplos na Bíblica sobre o poder de uma vida virtuosa. Deus salva
as pessoas por meio da piedade na vida dos outros. O homem que está à frente da
igreja deve ser um modelo de vida piedosa e não pode ter seu testemunho
questionável por causa de seus filhos.

A paternidade piedosa é uma norma para os cristãos. Isso é ilustrado pessoalmente na


vida de Timóteo.

Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação
pela fé em Cristo Jesus (2 Timóteo 3:15)
Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente,
habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti (2
Timóteo 1:5)

Loide era uma mulher piedosa e criou uma filha piedosa chamada Eunice, que criou
um filho piedoso chamado Timóteo. A piedade passou de uma geração para outra. É
um padrão maravilhoso e magnífico. Deus projetou que a família seja um instrumento
de transmitir a piedade de uma geração para outra.

Não podemos conduzir isso como uma questão de eleição, pois é um assunto exclusivo
da soberania de Deus. A Escritura diz que as pessoas são convertidas como resultado
de como vivemos e do que pregamos. E uma vida piedosa, proclamando a verdade,
vivendo com integridade, terá um tremendo impacto na conversão de outras pessoas,
e você verá isso na família, no lar.

É interessante que Paulo não fala com Timóteo sobre esposa convertida. Penso que
isso já é um assunto muito claro, ou seja, um cristão se une com uma mulher cristã,
não pode haver um jugo desigual (2 Coríntios 6:14). Paulo disse ao Coríntios:

Não temos nós o direito de comer e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de


uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? (1
Coríntios 9:4,5)

Há uma declaração enfática. Qualquer pessoa no ministério cristão tem o direito de ter
uma esposa crente. Ele está simplesmente dizendo: “Temos o direito de nos casar”,
mas deixa bem claro que ela é uma esposa crente. Era uma realidade assumida.

Uma vida verdadeiramente piedosa é a ferramenta mais poderosa que Deus tem para
salvar pecadores. Como podemos levar as pessoas à conversão? Como podemos levar
as pessoas à santidade a menos que possamos mostrar-lhes o poder disso em nossas
vidas? E o que devemos fazer na igreja? Devemos ensiná-la a criar uma geração
piedosa. Como podemos ensiná-lo a criar uma geração piedosa se não podemos fazê-
lo?

Um pastor deve ser esse tipo de homem acima de qualquer reprovação

Por isso Paulo diz a Tito:

Alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes
que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. Porque é indispensável
que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus (Tito 1:6,7)

No original o sentido de “filhos” não está limitado a idade, pode ser desde criança até
adultos. A palavra que Paulo usou foi a mesma pela qual ele chamou Tito de “filho”
(Tito 1:4).
E de um modo geral o tom do texto trata de filhos adultos. Principalmente por se
referir a acusação de dissipação ou rebelião. Se Paulo quisesse se referir a filhos
pequenos, teria usado outra palavra grega. Mas ele usou uma palavra geral para
descendentes, ou seja, filhos.

Não era uma questão de idade, mas sobre a fé dos filhos. Que eles não fossem
acusados de dissolução e de insubordinação, seja qual for a idade em que eles
estivessem na vida.

Filhos Fiéis

Agora, vamos olhar de perto para a frase “filhos fiéis”, em Tito 1:6 (outras versões, em
português, trazem “filhos crentes”). Isso tem sido muito debatido ao longo dos anos. A
fim de tentar ajudar a trazer alguma clareza a esse debate, vou tecer algumas
considerações sobre essa questão.

a) Alguns dizem que a frase “filhos fiéis” significa que eles devem ser apenas
obedientes aos pais, mas que eles não precisam ser cristãos. Eles só precisam ser
obedientes aos pais.

Bem, isso suporia, então, que o texto está se referindo a crianças, não é? Por que os
filhos adultos precisam ser obedientes aos pais? Não.
Porém, como esse texto pode estar relacionado a crianças pequenas, se diz que eles
não devem ser acusados de dissolução ou rebelião?
Esses termos são descrições muito gráficas de uma vida selvagem, indisciplinada,
sórdida e lasciva, que seria muito mais característica de filhos mais velhos do que de
crianças pequenas.
É seguro dizer que o texto está se referindo a filhos adultos, que não vão escandalizar
o ministério do pai por sua vida indisciplinada e desregrada.

b) Alguns interpretam que a expressão significa “filhos crentes” ou “filhos que creem”,
como está traduzido corretamente na Bíblia New American Standard e outros dizem
“significa apenas filhos obedientes e fiéis, eles não precisam ser convertidos”.

Você diz: “Bem, agora espere um minuto. E se os filhos de algum líder não se encaixam
nesta categoria, porque não têm idade suficiente para crer, por que ainda são crianças
pequenas?” Eu penso que 1 Timóteo 3 trata sobre isso. Paulo dando requisitos para
alguém que é presbítero, no versículo 4, 1 Timóteo 3, diz: “Que governe bem a sua
própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia”.

Isso claramente deve se referir a crianças mais novas, porque você não mantém seus
filhos adultos sob sujeição; você não exerce o mesmo papel com eles que você já
exerceu. E então, a ênfase de 1 Timóteo 3 está no controle da casa, no controle dos
filhos “com toda a modéstia”, e falarei mais sobre isso em um momento. Já a ênfase
em Tito é quanto aos filhos mais velhos, que devem crer no Senhor, e cujas vidas
devem respaldar essa crença, não sendo acusados de nada que escandalize o
ministério do pai.
Dito tudo isso, a palavra usada no texto original em grego, traduzida como crer, é
“pistos” – palavra muito importante, você precisa entender – significa “crer”. O oposto
dela é a palavra grega “apistos”, que significa “não crer, descrer”. Portanto, a melhor
interpretação do texto é ver o sentido dessa palavra, a qual significa simplesmente
“crer”.

Você diz: “Bem, a palavra grega ‘pistos’ não pode ser traduzida como ‘fiel’, no sentido
de ‘leal’ ou ‘confiável?'” Sim, pode, e deixe-me explicar isso para você.

Existe o que os comentaristas chamam de sentido ativo e passivo da palavra.


A ideia ativa de “pistos” é “aquele que acredita”.
A ideia passiva é “alguém em quem se deve acreditar” ou, em outras palavras, “alguém
em quem se confia” ou “alguém em quem se deve confiar”.
Com base nisso, alguns entendem que a expressão traduzida em algumas versões
como “filhos fiéis” significa apenas “alguém em quem se pode confiar”, “alguém em
quem se pode acreditar”, “alguém que é leal ao pai, que é um filho obediente”.

Segundo essa interpretação, o termo “pistos” traduzido como “fiel” seria usado para
se aplicar a qualquer pessoa, mesmo que não seja crente, enfatizando o lado leal dela,
o seu caráter confiável.

Porém, a falha dessa interpretação está no fato de que não se pode enfatizar o sentido
ativo da palavra grega “pistos” – ou seja, “crer” – sem o sentido passivo – “alguém em
quem se pode confiar”. São dois lados da mesma moeda.

Em outras palavras, se o texto significasse “ter filhos fiéis”, imediatamente faríamos a


pergunta: “Fiéis a quê?” Bem, a resposta teria que ser “fiéis ao que seu pai lhes
ensinou”, e a coisa mais preciosa e prioritária que o pai teria ensinado a seus filhos
seria o quê? O evangelho, a verdade.

Embora a palavra “fiel” seja usada várias vezes no Novo Testamento para objetos
inanimados – como, p.ex., “ditos fiéis” ou “palavra fiel”, usada cinco vezes nas
epístolas – é usada quase sempre para se referir a indivíduos, pessoas.
É usada, p. ex., para o fiel Deus-Criador, que é fiel ao que Ele sabe ser a verdade, o fiel
sumo sacerdote, Jesus Cristo, que é fiel ao que Ele sabe ser a verdade. Você tem que
ser fiel a algo.
Mas, na maioria das vezes, é usada para indivíduos e descreve alguém que é confiável
e leal àquilo que acredita, àquilo que é verdadeiro.
Para ver a palavra grega “pistos” em contraste, compare-a com o seu negativo,
“apistos”. O prefixo “a” gera o sentido negativo. Em João 20:27, temos os dois
sentidos, positivo e negativo: “Não seja incrédulo (‘apistos’), mas crente (‘pistos’).” O
oposto da crença é a incredulidade.

Tais palavras poderiam ser traduzidas também como fidelidade [‘pistos’] e como
infidelidade [‘apistos’], o que significaria rejeição à verdade. 2 Coríntios 6:15 diz: “Que
parte tem um fiel (‘pistō’) com um infiel (‘apistou’)?”, ou “Que parte tem um crente
com um incrédulo?” Assim, a palavra em sua forma negativa sempre significa
incredulidade.

A palavra em sua forma positiva pode significar “confiável” ou “fiel”, mas nunca estará
desconectada da crença, isto é, ser fiel ao que a pessoa crê. Essa é a ideia.

Por exemplo, deixe-me ilustrar isso:

Efésios 1:1, “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos que
estão em Éfeso e que são fiéis em Cristo Jesus”. A única maneira de ser fiel é estar em
Cristo Jesus. Eles são santos fiéis que estão em Cristo Jesus. O sentido ativo e o passivo
se unem ali.
Em Colossenses 1:2, temos o mesmo, quando Paulo está se dirigindo ao povo: “Aos
santos e irmãos fiéis em Cristo, que estão em Colossos: Graça a vós, e paz da parte de
Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.” Você sempre vê “fiel” associado a “crentes”:
crentes fiéis.
Vamos olhar as cartas pastorais e ver como “fiel” é usado nelas.

Em 1 Timóteo 1:12, lemos: “E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus
Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério”. O que ele quer dizer
com “fiel”? Significa “leal àquilo em que ele cria”, “leal à verdade”. Você não pode
divorciar “fidelidade” de “crença”.
No capítulo 3 de 1 Timóteo, versículo 11, temos: “Da mesma sorte as mulheres sejam
honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo.” “Mulheres” aí se refere às
mulheres que devem servir na igreja. Elas devem ser “fiéis em tudo“. O que isso
significa? Simplesmente “obedientes”? Não. Significa que elas devem ser crentes
verdadeiras, que estão vivendo obedientemente, fiéis ao que sabem ser a verdade.
Veja outros exemplos:

Olhe para o capítulo 4 de 1 Timóteo, versículo 3, onde Paulo está advertindo sobre
certos homens que, dentre outras coisas, ensinam que você deve evitar o casamento,
e eles agem “Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que
Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com
ações de graças“. Nas Escrituras, então, os fiéis são aqueles que creem e os crentes
devem sempre ser fiéis.
Abaixo, no versículo 10: “Porque para isto trabalhamos e somos injuriados, pois
esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos
fiéis.” Em outras traduções aparece assim: “principalmente dos que creem”. No
versículo 12, lemos: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis,
na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza.” Em outras versões,
aparece assim: “mas sê exemplo para os que creem”.
Mais alguns exemplos:

No capítulo 5, versículo 16, novamente: “Se algum crente ou alguma crente tem
viúvas, socorra-as, e não se sobrecarregue a igreja, para que possa sustentar as que
deveras são viúvas.” Em outras versões, é traduzido assim: “se algum fiel tem viúvas
em casa…”.
No capítulo 6, versículo 2, também temos: “E os que têm senhores crentes não os
desprezem, por serem irmãos; antes os sirvam melhor, porque eles, que participam do
benefício, são crentes e amados. Isto ensina e exorta.” Em outras traduções, temos:
“são fiéis e amados”.
Assim, os tradutores ora usam “crentes”, ora “fiéis”. Porém, sempre os “fiéis” são
“crentes” e os “crentes” são “fiéis”. Eles são termos intercambiáveis.

Pegar a palavra fiel, tirá-la do contexto da crença, isolá-la como se significasse apenas
“submisso à liderança do pai”, sem “crer naquilo que o pai ensinou”, seria distorcer a
palavra.

Todas as passagens do Novo Testamento que eu pesquisei – eu peguei todas onde a


palavra “pistos” é usada – sempre se referem a crentes, a menos que esteja se
referindo a um objeto inanimado, ou Deus, ou Cristo.

Por exemplo:

O “servo fiel”, de Mateus 24 e Lucas 12, é um crente.


O “servo bom e fiel”, de Mateus 25 e Lucas 19, é um crente.
A “pessoa fiel”, de Lucas 16, é um crente.
A “mãe fiel”, de Timóteo, Atos 16:1, é uma crente.
Os “mordomos fiéis”, de 1 Coríntios 4, são crentes.
O “fiel Timóteo”, de 1 Coríntios 4:17, é um crente.
Os “ministros fiéis”, de Colossenses 1:7 e 4:7, são crentes.
O “fiel Onésimo”, de Colossenses 4:9, é um crente.
O “fiel Moisés”, de Hebreus 3:5, era um crente.
O “fiel Silvano” era um crente, 1 Pedro 5:12.
E os “mártires fiéis”, incluindo “Antipas”, de Apocalipse 2, eram crentes.
Sempre são chamados de fiéis porque são crentes. O termo nunca é usado no Novo
Testamento para alguém que não seja crente.

Então, o que Paulo está dizendo? Ele está dizendo que não só o pastor deve “ter filhos
que creem”, mas filhos que também sejam “fiéis àquilo em que acreditam”. Isso é o
que está implícito no resto da afirmação, “não acusados de dissolução ou rebelião” –
eles creem e vivem de acordo com o que creem.

Muitas pessoas querem interpretar o texto de Tito 1:6 deixando esse assunto de
salvação de lado e dizendo que o líder não precisa ter os filhos salvos, bastando que
eles simplesmente se submetam. Bem, como os filhos podem ser chamados de “fiéis”
se não acreditam no que devem ser fiéis? E no caso de filhos adultos, que certamente
já não estariam debaixo da sujeição do pai, a palavra “fiel”, assim, não significaria
nada.

O que quer dizer “toda a modéstia” em 1 Tim. 3:4?

Em 1 Timóteo 3:4, lemos sobre o pastor: “Que governe bem a sua própria casa, tendo
seus filhos em sujeição, com toda a modéstia.” Eu acredito que o texto se refira aos
filhos jovens, pequenos, significando que eles devem ser obedientes, estar sob
controle.

O que significa “com toda modéstia”? Significa que o pai mantém sua compostura, sua
humildade, sua gentileza, ele tem o respeito de seus filhos, tem sua admiração, tem o
reconhecimento de sua autoridade.

Em outras palavras, não é um controle prepotente, dominador, abusivo. Ele controla


seus filhos com respeito e admiração, para que eles olhem para ele e o admirem,
queiram ser como ele, aspirem a ser o que ele é e o amem.

Eles lhe obedecem por prazer, alegria e respeito. E o versículo 5 de 1 Timóteo 3


acrescenta que se ele não pode controlar sua família dessa maneira, como ele vai
administrar a igreja? Então, eu acredito que quando os filhos são pequenos, eles
seguem o exemplo do pai.

E se os filhos não possuem idade suficiente para serem salvos?

Você diz: “Você está dizendo que se os filhos não têm idade suficiente para serem
salvos, um homem não pode ser um líder na igreja?”

Não estou dizendo isso. O que estou dizendo é: quando os filhos dos líderes são mais
novos, eles devem estar sob controle, e eles acreditam em tudo que seus pequenos
corações podem acreditar, eles afirmam tudo que eles podem entender, e eles vivem
de acordo com os princípios que são ensinados a eles pelos pais. E algum dia isso
poderá florescer em fé salvadora.

A igreja deve ser capaz de olhar para a vida daquele homem e ver aquele processo
acontecendo, ver aquelas criancinhas afirmando, acreditando tanto quanto seus
corações simples podem acreditar – poderíamos dizer, crendo com uma fé simples,
progredindo para uma fé salvífica. Mas, quando chegarem ao ponto de terem idade
suficiente para crer, devem ser fiéis à verdade que lhes foi ensinada.

Como eu disse, então, o lar é a unidade básica da sociedade de Deus para passar a
justiça de uma geração para a próxima e, portanto, torna-se o campo de provas para
os líderes espirituais. Devemos ter filhos fiéis ao que nos é mais precioso.

Agora, esses filhos já mais crescidos não devem ser apenas crentes, mas crentes fiéis.
Deixe-me tocar neste ponto mais uma vez, olhando para essas palavras do verso 6 de
Tito 1, dissolução e desobediência (ou rebelião): “Aquele que for irrepreensível,
marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de
dissolução nem são desobedientes.”

Dissolução e desobedientes em Tito 1:6

A palavra grega traduzida como “dissolução” é “asōtia”. É usada em Efésios 5:18,


associada à embriaguez, farra selvagem e festivais pagãos. Significa “selvagem,
esbanjador”. Literalmente, alguém que age “sem economizar, não economizando
nada”, apenas “jogando fora, indulgente”.

E o segundo termo que aparece no final do verso 6 é “desobedientes”, que significa


fora de controle, selvagens, indisciplinados.

Conclusão

Assim, os filhos dos líderes devem ser crentes fiéis, que vivem obedientemente, sob
controle, quando são pequenos, seguindo a fé de seu pai, até que essa fé emerja em
sua própria fé e, nesse ponto, eles não vivem de maneira selvagem e rebelde, sem
controle, uma vida indisciplinada, perdulária, mas vivem uma vida cristã fiel.

Um homem que tenha filhos que são selvagens, autoindulgentes, desobedientes e


rebeldes, mesmo que tais filhos afirmem ser cristãos, não é adequado para ser um
presbítero ou pastor. Esse é o padrão das Escrituras.

Um homem que é escolhido para ser um presbítero ou pastor exibe a liderança e


integridade de vida para levar as pessoas à salvação, santificação e serviço a Deus,
porque ele fez isso ou está fazendo isso no campo de provas de sua própria família.

Ele deve ser conhecido como alguém que tem filhos obedientes e controlados, que
creem – de acordo com o nível de entendimento de quando ainda são crianças – na
verdade do evangelho cristão e vivem de acordo com seu princípio. E sua fé simples de
quando são ainda muito jovens estará emergindo em uma fé salvadora em algum
momento. Essas crianças se tornarão a prova da liderança espiritual daquele homem.

Até quando seus filhos são pequeninos, eles devem crer naquilo que são ensinados. Eu
olho para trás, para quando nossos filhos eram pequeninos, enquanto eles cresciam e
os vejo continuando a afirmar sua fé em Cristo, seu amor por Cristo.

Embora quando muito novos sua fé ainda não fosse uma fé salvadora, era uma simples
afirmação das verdades preciosas que recebiam do pai e da mãe e, à medida que
cresciam, essa fé se tornou uma fé salvadora.

A família é o campo de provas. É o lugar onde o homem é testado. Um homem apto ao


ministério não é alguém superior aos outros, ou que se ache mais virtuoso. Mas ele é
um homem que se adequa exclusivamente ao ministério.

Outros homens podem ser piedosos, fiéis, leais e, talvez, tenham filhos rebeldes. Isso
não impede seu relacionamento com o próprio Senhor, porque ele não é responsável
pelo que seus filhos escolhem fazer. Porém, tal homem não está qualificado para o
papel de liderança.

Assim, nós, que somos qualificados para o ministério, de acordo com o padrão bíblico,
precisamos de uma porção especial e abundante da graça de Deus, por causa da
singularidade de nossa tarefa. E nossa qualificação é pura, simplesmente e somente
por causa da graça de Deus.

Assim, o apóstolo Paulo fornece a Tito os parâmetros da qualificação para a liderança.


Eles são absolutamente fundamentais para o ministério. E onde eles não existam, a
igreja permanecerá em um nível baixo, porque o padrão elevado dos líderes eleva o
padrão da igreja, pois eles são modelos para a igreja.

Precisamos orar por nossos líderes, orar por todos nós, todos aqueles que lideram a
igreja, para que possam ser esse tipo de homem que conhece esse tipo de graça, para
que a igreja do Senhor seja o que deve ser para agradar mais a Ele.

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