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O CARÁTER DO MINISTRO

Ap. Nivaldo Silva

DEFINIÇÃO DE CARÁTER: (ÉTICO SOCIAL)

é um conjunto de características e traços relativos à maneira de


agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza
e coerência de atitudes. O caráter é o que define a personalidade e a índole de
uma pessoa.

O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vão


determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e
firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e
comportamento.

O caráter pode ser medido pelo grau de confiança que a pessoa inspira a
partir de seu comportamento, da retidão de suas ações e pela honestidade em
suas relações.

O comportamento de uma pessoa, seu modo de agir conforme os valores


sociais e humanos, é a representação do caráter. O caráter é construído
socialmente. Ao longo da vida, a pessoa é socializada e internaliza alguns
valores fundamentais para a vida coletiva em sociedade.

Estes valores éticos e morais são responsáveis por influenciar o modo de


agir e a relação de um indivíduo com os demais e define a sua própria
personalidade.

Valores que formam o caráter:

 Honestidade

 Sinceridade

 Confiabilidade

 Responsabilidade

 Honra
Uma pessoa conhecida como "sem caráter" ou "mau caráter",
geralmente é qualificada como desonesta, pois não apresenta firmeza de
princípios ou de moral.

O CARÁTER CRISTÃO
O caráter cristão é o tipo de caráter que é moldado à imagem de Cristo. A
formação do caráter cristão ocorre quando o homem pecador, que se
encontrava completamente dominado pelo pecado, experimenta o novo
nascimento, onde ele é regenerado pelo Espírito Santo.

Após nascer de novo ninguém é mais o mesmo. Se porventura o for, na


verdade então é porque ainda tal pessoa não nasceu de novo. O redimido
possui uma conduta diferente, um caráter que aponta para Cristo, Aquele que o
resgatou. Essa mudança é infalível, pois conforme escreveu o apóstolo Pedro, o
próprio Deus é quem aperfeiçoa, firma, fortifica e fundamenta aqueles a quem
Ele chamou (1 Pedro 5:10). Nesta matéria sobre caráter do ministro, veremos
como esse processo ocorre de acordo com a Bíblia Sagrada.

Todas as pessoas possuem uma personalidade. A personalidade é


formada por um conjunto de características essenciais que inclui, por exemplo,
caráter, temperamento e hábitos. A personalidade de alguém o diferencia dos
demais; isso porque ela é sua identidade pessoal, sua originalidade, aquilo que
define e se expressa em seu padrão de comportamento.

Se a personalidade é um conceito bem amplo do indivíduo, o caráter se


refere a uma parte especifica de seu modo de ser. Isso significa que o caráter
tem a ver com índole, com ética, uma vez que ele designa o aspecto da
personalidade referente às características morais de alguém; algo que reflete
diretamente em sua conduta, pois está diretamente ligado aos seus hábitos.

A DEFORMIDADE DO CARÁTER HUMANO


O caráter revela o mais profundo do nosso ser. A questão é que a Palavra
de Deus enfatiza que, por si próprio, homem algum possuí algo de bom em seu
íntimo que possa agradar a Deus. Após a Queda do Homem no Éden
com Adão e Eva, o caráter humano foi deformado.
A consequência da contaminação com o pecado foi a condição de total
depravação, onde ninguém é capaz de fazer o bem diante de Deus. O homem
pecador foi separado de Deus, destituído de Sua glória, e tornou-se inimigo de
seu Criador. Aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus passou a
apresentar apenas uma versão distorcida e maculada dessa imagem (Gênesis
1:26,27; 5:1; 9:6; Tiago 3:9).
A deformação do caráter humano não afetou apenas seu relacionamento
com Deus; mas também afetou o seu relacionamento com o próximo e com
todo o ambiente em que ele está inserido. Podemos ver a severidade do pecado
na vida do homem logo nos primeiros anos após a Queda de Adão. Isso fica
claro na vida de Caim que assassinou de forma covarde e traiçoeira seu próprio
irmão, Abel.
Na própria história de Caim registrada na Bíblia, também percebemos
como o homem se tornou incapaz, em si mesmo, de obedecer a Deus (Gênesis
4:5-7). Além disso, ao invés de cuidar de toda a criação do Senhor na Terra, ele
passou a destruí-la das formas mais perversas possíveis.

A REDENÇÃO DO CARÁTER DO HOMEM


Se após a entrada do pecado no mundo o caráter do homem foi
deformado, em Cristo ele começa a ser reconstruído. João Calvino escreveu que
ser a imagem de Deus, no sentido de ter essa imagem restaurada, está
intimamente relacionado a tornar-se como Cristo, em justiça e retidão.

Ele chegou a essa conclusão com base no que escreveu o apóstolo


Paulo à igreja em Éfeso. O apóstolo diz: “E vos revistais do novo homem, que
segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Efésios 4:24).
O mesmo apóstolo, dessa vez escrevendo aos Colossenses, ensinou que os
verdadeiros seguidores de Cristo se revestem do novo homem, “que se renova
para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Colossenses
3:10).
Assim, podemos entender que o homem, apesar de ainda ser a imagem
de Deus, essa imagem foi distorcida pelo pecado. Em Cristo, porém, o caráter do
homem é restaurado, e essa imagem começa a ser reconstruída até alcançar
sua plenitude no dia do retorno de nosso Senhor Jesus (Romanos 8:29).

A OBRA DO ESPÍRITO NO CARÁTER CRISTÃO


Após a regeneração pelo Espírito Santo, o homem experimenta uma
profunda transformação. O cristão verdadeiro possui um caráter transformado.
Então ele não sente mais prazer nas obras da carne e não se entrega as
suas concupiscências depravadas. Aquele que tem o caráter cristão se despiu
do “velho homem com seus feitos” (Colossenses 3:9).
Ao nascer de novo, o homem pecador é capacitado pelo Espírito Santo a
demonstrar o caráter cristão que agrada a Deus; um caráter que revela o fruto
do Espírito. Sua principal marca passa a ser o amor, não um amor qualquer, mas
o amor ágape. Esse tipo de amor tem origem no próprio Deus e é derramado no
redimido que o transmite de volta a Deus e o estende ao próximo (Mateus
22:34-40).
Reconciliado com Deus e imerso em Sua graça, o homem passa a viver
uma vida de santificação. A santificação é parte fundamental do caráter cristão.
Ela é um processo que acompanha o cristão durante toda sua vida, e só alcança
a perfeição no dia da volta de Cristo.

O APERFEIÇOAMENTO CONTÍNUO DO CARÁTER CRISTÃO


Alguns pregadores já tentaram ensinar que é possível atingir um estado
de santificação total durante nossas vidas. Eles dizem que o homem pode
alcançar o nível de não mais pecar. Todavia essa não é a doutrina bíblica (1 João
1:8).

Outros, de forma também equivocada, ensinam que a santificação é algo


que nos confere a salvação. Eles ensinam que devemos nos santificar para
sermos salvos. Mas isto também está errado! O verdadeiro ensino bíblico diz
que a santificação é algo natural e esperado na vida daqueles, e apenas
daqueles, que já nasceram de novo. Isso significa que nos santificamos porque
somos salvos, e não porque queremos ser salvos.
Então para concluir, podemos resumir o processo que envolve o caráter
cristão da seguinte forma: quando o homem, que estava morto em delito e
pecado, é resgatado pela maravilhosa graça de Deus, ele experimenta uma
profunda transformação em todo o seu ser. É nesse ponto que ocorre a
formação do caráter cristão. Assim, seu caráter o revela como sendo um
cidadão do Reino de Deus; sua conduta o identifica como imitador de Cristo.
Esse caráter cristão, no entanto, continua a ser aperfeiçoado até o dia final da
vida do crente.

O MINISTRO DEVE ESPELHAR SEU CARÁTER BÍBLICO POR TODA SUA VOLTA
O preparo espiritual, administrativo e ético do ministro é indispensável
no governo da igreja de Cristo. O lar é o primeiro ambiente onde o ministro
coloca em prática o que aprende e o aplica à vida conjugal e na educação dos
filhos.
Ministros coerentes colocam o Senhor Jesus como medida padrão em
todas as áreas da vida e Lhe seguem o exemplo de homem que sempre agradou
a Deus. João 8. 29.

Uma das últimas recomendações de Jesus aos Seus discípulos que


assumiriam o pastoreio de Sua igreja foi: “Vigiai e orai”. Mateus 26. 41. A
negligência a esse alerta é fatal para o ministro. É preciso manter a vigilância em
relação aos falsos profetas e aos falsos professos para não ser um deles.
Mateus 7. 13 – 27; 12. 30; João 8. 47.

A responsabilidade dada pelo apóstolo Paulo a Tito foi desafiadora


considerando a má fama dos moradores de Creta. Eles eram conhecidos pelo
mau caráter reproduzido na forma de mentira, maledicência, glutonaria,
bebedice e imoralidade sexual. O desafio dos novos conversos para viver e
divulgar o Evangelho naquela grande ilha com populosas cidades só poderia ser
bem sucedido pela capacitação, proteção do Espírito Santo e uma vida
irrepreensível conforme o Evangelho.

Os líderes das igrejas a serem preparados e nomeados precisariam


cultivar e expressar, na vida pessoal, em família e pública, um caráter cristão
coerente a fim de que pelo seu exemplo o Evangelho tivesse acolhida entre
cretenses. É o diferente e não o igual que atrai. Quanto maior a escuridão,
maior precisa ser a luminosidade da luz.

O conselho dado por Paulo aos irmãos filipenses era autoaplicável aos
irmãos cretenses e à igreja contemporânea: “Façam tudo sem queixas nem
discussões para que sejam puros e irrepreensíveis, filhos de Deus, inculpáveis no
meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como
estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida”. Filipenses 2. 14 –
16a. (NVI). Essas palavras são a reafirmação do que Jesus Cristo pronunciou no
sermão do Monte. Mateus 5. 13 – 16.

Em nossos dias é visível a ação ostensiva da ira satânica na terra,


associada à manifestação plena da natureza pecaminosa nos ímpios. Satanás,
pelo andamento da história, sabe que pouco tempo lhe resta e por isso não se
deterá em sua ânsia de fazer o que sabe: o pior. Apocalipse 12. 12b. Seu juízo já
o aguarda. Apocalipse 20. 10. Não é difícil perceber a decadência crescente das
nações com a imoralidade em seus vários tons de cinza. São perceptíveis, mas
não muito divulgados, os ataques satânicos realizados de forma fulminante e
cruel contra as crianças, os jovens, os idosos e à família. Nesses tempos do fim a
igreja é convocada por Jesus Cristo para sair da inércia e se posicionar
corajosamente no enfrentamento dos ataques satânicos que começam a fazer
suas vítimas também dentro da igreja. Cabe a ela se manifestar
estrategicamente como luz ou de forma sutil, discreta e eficaz como o sal na
vivência e anúncio do Evangelho. É nessa sequência que a missão da igreja se
desenvolve em tempos de pleno cumprimento das últimas profecias.

Jesus disse que um dos sinais do Seu retorno ocorrerá quando a geração
desse tempo se assemelhar à geração de Noé. Olhe ao seu redor e veja que a
intervenção divina sobre os moradores da terra já foi iniciada. A natureza geme,
assim disse o apóstolo Paulo. Os que vigiam não serão surpreendidos por esse
dia. Gênesis 6. 5, 11 - 13; Mateus 24. 36 – 44; Romanos 8. 22 - 23.

Diante do que Paulo viu em Creta nos meados do século 1 e do que


vemos em nossos dias nos primeiros anos do século 21, quase dois milênios
depois, nada há de diferente senão o tempo decorrido, o avanço da ciência e da
tecnologia. Logo, o que foi exigido dos ministros de Deus do primeiro século
aplica-se sem restrições aos ministros de Deus do século atual.

O MINISTRO DEVE SER MANTER IRREPREENSÍVEL


O caráter irrepreensível é uma construção contínua que se inicia no
espírito onde se dá o relacionamento íntimo do ministro com Deus. É o
fundamento do ministério bem sucedido. Somente homens espirituais alcançam
e estão autorizados a expor as revelações que Deus lhes oferece a cada dia em
Sua Palavra. Mateus 6. 33.

Do ambiente íntimo e invisível do espírito a construção do caráter


irrepreensível prossegue no ambiente íntimo e também invisível da alma:
mente, emoções e vontade. Por fim a construção do caráter irrepreensível
ganha visibilidade através do corpo, instrumento usado pelo espírito e pela
alma para manifestar o que neles foi gerado. Esses elementos indivisíveis que
caracterizam o nosso ser foram criados maravilhosamente pelo Deus de amor,
que nos ama e deseja ser amado através da plena comunhão conosco em Cristo.
Deus nos fez para Ele a fim de que tivéssemos mais Dele em nós. Aproxima-se o
dia quando o propósito inicial do Criador, adiado pelo pecado da criatura, será
plenamente contemplado em Cristo no tempo determinado ainda na
eternidade: fazer da criatura à imagem e semelhança do Criador. Gênesis 1. 26 –
27; Isaías 43. 7, 21.

AMBIENTES DA CONSTRUÇÃO DO CARÁTER IRREPREENSÍVEL


O ministro de Deus cuida de sua saúde espiritual e o faz pela comunhão
contínua e diária com Deus através da oração, da leitura, estudo, meditação,
vivência e exposição da Palavra de Deus. Imita Moisés, o líder espiritual da
nação de Israel que todas as manhãs e bem cedo colhia com a nação de Israel o
puro maná oferecido gratuitamente por Deus e na medida reservada para cada
dia. O maná era a figura representativa do Messias, o Pão da Vida, a Água da
Vida que alimenta e dessedenta quem espiritualmente O ingere ou se apropria
dele e de sua Palavra. Imita o sacerdote Esdras quando liderou o retorno
espiritual de Israel à Deus. Esdras 7. 10. Somente a Palavra de Deus gera em
nosso espírito a dignidade que vem da santidade de Deus.

Uma vez alimentado espiritualmente pela Palavra, o ministro de Deus


recebe a sabedoria divina para administrar o que pode permanecer ou ser
descartado em sua mente. Conserva na mente apenas o que é verdadeiro,
nobre, correto, puro, amável e de boa fama porque vê neles a excelência e
motivo para adorar, louvar e servir a Deus. Filipenses 4.8.

Pensamentos impuros ou que venham gerar ansiedade, medo,


insegurança, tristeza, preocupações ou outros sentimentos negativos e ruins
para a mente são descartados. Uma mente ocupada com a adoração, louvor e
serviço a Deus atrai a saúde mental e afasta as enfermidades da alma. É na
mente que se travam as maiores batalhas da vida antes que elas se tornem
visíveis. Elas consomem nossa energia mental e uma vez fragilizados somos alvo
dos ataques satânicos que atualmente faz uso eficaz da mídia para nos afastar
de nós mesmos e de Deus. Os antigos já diziam: “Mente vazia é a oficina de
Satanás”.

A excelência na vida mental do salvo está em permitir que a mente de


Cristo nele existente o conduza em tudo o que pensa. E Ele realiza em nós essa
operação através da presença do Espírito Santo que nos revela na Palavra o que
é melhor para ocupar a nossa mente. Deus está interessado em nossa saúde
mental.

Na mente, os pensamentos têm o poder de ativar as energias da alma,


isto é, as emoções. Uma vez ativadas elas serão verbalizadas pelas expressões
de agrado e desagrado e pela fala que por sua vez nos motivarão a manifestar o
que sentimos de bem ou mal através das ações ou reações da vontade.
Acionada a vontade, o que há no interior da alma ganha visibilidade através do
corpo. O resultado dessas conexões internas pode gerar frutos de vida ou de
morte; glorificar a Deus ou entristecê-Lo; prolongar ou diminuir nossos dias;
edificar-nos, edificar nossos semelhantes ou ofendê-los; gerar guerra ou paz.
Daí a importância de se vigiar a mente. Se ela estiver submissa a Deus e Sua
Palavra gerará vida. Caso contrário será instrumento de morte em suas várias
manifestações.

Conhecedor da instabilidade das emoções o ministro de Deus usa de


sabedoria divina para expressá-las de tal maneira que glorifiquem a Deus,
edifiquem sua vida e daqueles que o cercam. Elas podem ser um bem ou um
mal. Sendo assim o ministro de Deus afastará as emoções que provocam o
egoísmo, a soberba, a arrogância e a vaidade. Não usará o tempo disponível
para alimentar discussões e conflitos inúteis. Com isso não cederá espaço ao
tratamento rude que leva à hostilidade, ao rancor, à mágoa e à retaliação que
provoca o divisionismo. Cultivará a humildade para que Deus o exalte a fim de
que se fortaleça interiormente a fim de que não se apiede ou tenha dó de si
mesmo. Manterá permanente vigilância em suas ações para que se afaste da
procrastinação (adiamentos constantes) e do improviso (falta de planejamento).
Não permitirá que as emoções o levem à manipulação, domínio e controle
daqueles que estão sob sua autoridade espiritual concedida por Deus. Reservará
para si e não para o domínio público o que lhe foi exposto da vida particular dos
membros da igreja a fim de que a relação de confiança seja uma marca em seu
caráter. Com isso não abrirá espaço para a maledicência e os laços do Maligno.

Jesus Cristo, por Sua fama, inteligência e poder não deixou de ocupar o
interesse de muitas mulheres, mas se manteve no lugar que o Pai O colocou
para que Satanás não O derrotasse nessa área tão frágil da natureza masculina.
O inimigo nos observa continuamente e não se detém em seus ataques que
normalmente são fulminantes principalmente na área sexual ou nos afetos mal
direcionados. Nessa área José e Davi tomaram decisões opostas que afetaram a
vida pessoal, em família e a autoridade espiritual e moral. Deus perdoou Davi,
mas a nação jamais se esqueceu do que fez. O peso da dignidade é
infinitamente menor que o da culpa gerada pelo pecado deliberado.
Atormentará os desobedientes até à morte. Hebreus 10. 26.

Nestes tempos onde a imoralidade sexual é alimentada a todo instante


pela mídia (meios de comunicação) em suas múltiplas plataformas e,
contraditoriamente ainda presente na vida de muitos líderes cristãos, haja vista
os escândalos, a vigilância e a oração ainda são armas eficazes.

Vinculado ao uso correto da mente e das emoções está o exercício sadio


da vontade.

A vontade direcionada pela Vontade de Deus, boa, perfeita e agradável,


realizará sempre o que Deus aprova. Romanos 12. 1 – 2.

O ministro de Deus não se isola. Procura estar junto dos seus parceiros
ministeriais para que se ajudem mutuamente. Não dispensa a assistência
pessoal de um mentor, um conselheiro de reconhecida piedade cristã,
experiência ministerial e seriedade espiritual. Afasta-se da cobiça, da
mesquinhez, do consumismo, da administração financeira irresponsável, seja
pelo desleixo ou desonestidade; busca ser uma pessoa acolhedora e hospitaleira
de forma prudente; é amigo do bem, honesto, sensato, justo, consagrado ao
Senhor e ao ministério que lhe foi entregue. É fiel à mensagem original do
Evangelho; não se intimida e nem ameaça os insubmissos e os imaturos, mas
mantém a discrição e o respeito a fim de restaurá-los à maturidade Cristo. Não
usa o tempo disponível para se envolver com debates ou comentários inúteis
principalmente na ausência das pessoas citadas; opõe-se com fundamento nas
Escrituras às mentes corrompidas que trazem para a igreja doutrinas humanas
com aparência de falsa espiritualidade. Incentiva o cultivo da pureza na igreja. 1
Pedro 5. 1 – 4.

Por fim, o ministro de Deus cuida do seu próprio corpo, habitação do


Espírito Santo, para que tenha saúde, pois é com ele que irá servir no Reino de
Deus. Mantém a santidade do corpo para que tenha autoridade espiritual e
moral para não somente anunciar e ensinar a Palavra de Deus, mas trazer a
igreja a essa mesma prática vivida por ele. Sendo assim, evita o consumo em
particular e em público de todo tipo de bebida alcoólica ou de outra substância
que venha comprometer o uso consciente de suas palavras e vontade. O inimigo
não dorme e nem tira férias. Provérbios 20. 1; 23. 31; Efésios 5. 18.

Com esse preparo os ministros cretenses apegados à sã doutrina teriam


autoridade para encorajar os fiéis a permanecerem na fé dada aos santos e
combater os insubmissos. Estes, por interesse financeiro e vaidade pessoal,
divulgavam falsos ensinamentos nos quais enfatizavam a prática do legalismo
associado à Graça de Deus. Ambos são incompatíveis entre si. Deveriam ser
reconduzidos à genuína fé evangélica para que realmente fossem cristãos, isto
é, expressassem Cristo em seu caráter.

As confrontações inúteis nada mais são que estratégias satânicas para o


desgaste dos líderes a fim de desviá-los do foco principal: o Evangelho de Cristo.
Aqueles que têm a consciência purificada pelo Evangelho buscam o que é
puro. Os insubmissos e rebeldes estão presos às impurezas que cultivam.

A diferença entre quem conhece ou não conhece a Deus é visto pelas


obras aprovadas por Deus. Mateus 7. 16.

ASPIRANTES AO MINISTÉRIO
Precisamos trabalhar melhor com os candidatos ao ministério a questão
das qualificações. Com aqueles que já foram estabelecidos, também. Leia a
descrição de Paulo:

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra


deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher,
vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho,
não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não
contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus
filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe
governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito,
para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém
também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia
em afronta, e no laço do diabo. Da mesma sorte os diáconos sejam honestos,
não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe
ganância; guardando o mistério da fé numa consciência pura. E também estes
sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. Da mesma
sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. Os
diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e
suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão
para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.” 1
Timóteo 3:1-13

A seguir, cada característica foi explicada a partir do original grego, com


comentários.

IRREPREENSÍVEL

Do grego anepileptos, que significa “não apreendido, que não pode ser
repreendido, não censurável, irrepreensível”. Não fala de ser perfeito, mas de
alguém que não anda no erro e, então, não merece ser corrigido (fl 2.15).
Aponta para o exemplo que se deve dar, seguindo o padrão ensinado por Cristo
(Jo 13.15) e também pelos apóstolos (2 Ts 3.9)

ESPOSO DE UMA SÓ MULHER

É óbvio que o texto se refere à monogamia. Um presbítero, à semelhança de


qualquer outro cristão não pode ter um caso ou relações extraconjugais.

TEMPERANTE

Do grego nephaleos, significa “sóbrio, controlado, abster-se de vinho, seja


totalmente ou pelo menos do seu uso imoderado”. Como em seguida Paulo cita
ser sóbrio e não dado ao vinho, entende-se que a temperança em questão está
relacionada ao comportamento diante das circunstâncias. A NVI traduziu
como “moderado” e a Versão Corrigida de Almeida preferiu “vigilante”,
enquanto que a Tradução Brasileira optou por “discreto”. A própria forma de
falar pode refletir temperança (Cl 4.6)

SÓBRIO

Do grego sophron, significa “de mente sã, equilibrado, que freia os próprios
desejos e impulsos, autocontrolado, moderado”. Fala de autocontrole – não só
quanto à bebida, mas também com relação a cada aspecto da vida espiritual,
emocional e física (2 Tm 4.5). A NVI traduziu o termo como “sensato”.

MODESTO

Do grego kosmios, significa “bem organizado, conveniente, modesto”. Fala de


características como organização (pessoal e de trabalho), comportamento
agradável e humildade. Versão Corrigida de Almeida traduziu como “honesto” e
a Tradução Brasileira, “circunspecto”. Já a NVI, “respeitável”.

HOSPITALEIRO

Do grego philoxenos, significa “hospitaleiro, generoso para as visitas”. É um


coração aberto e amoroso que permite que o próprio lar seja um lugar de
acolhida. Essa característica revela alguém que se importa com os outros e não
é egoísta (Hb 13.2)

APTO PARA ENSINAR

Do grego didaktikos, significa “apto e hábil no ensino”. Há um entendimento


bíblico necessário para viver e ensinar a palavra de Deus em todos os aspectos,
o que inclui a capacidade de correção e refutação do erro (Tt 1.9-11).

NÃO DADO AO VINHO

A palavra grega é paroinos e significa “dado ao vinho, bêbado”. (Ef 5.18; 1 Tm


5.23), revela a necessidade de cuidado e atenção nessa área. (Gn 9.21; Pv 20.1)

NÃO VIOLENTO

Do grego plektes, significa “brigão, pronto para um golpe, contencioso, pessoa


briguenta”. A Tradução Brasileira traduziu como “não espancador: Trata-se de
quem se domina emocionalmente e não é pavio curto” (2 Tm 2.24).

CORDATO

Do grego epieikes, significa “aparente, apropriado, conveniente, equitativo,


íntegro, suave, gentil.” Educação, amabilidade e simpatia. A NVI preferiu
traduzir como “amável”, as versões Corrigida de Almeida e Tradução
Brasileira, “moderado”.
INIMIGO DE CONTENDAS

Do grego amachos, significa “irresistível, invencível, pacífico, que se abstêm de


lutar”. A Versão Corrigida de Almeida traduziu como “não contencioso”,
enquanto que a NVI optou por “pacífico”. Fala de alguém que não tem a briga
(ainda que só verbal) ou a intriga como opção.

NÃO AVARENTO

Do grego aphilarguros, significa “que não ama o dinheiro, não avarento” A


Tradução Brasileira utiliza “não cobiçoso” e a NVI, “não apegado ao dinheiro”.
Refere-se a contentamento (Fl 4.11; Hb 13.5) e ausência de ganância (1 Pe 5.2).

QUE GOVERNE BEM A PRÓPRIA CASA

“…criando os filhos com disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não
sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)”. A família do
líder deve ser referência e modelo ao rebanho. A principal razão de Deus ter
eliminado a casa de Eli do exercício do sacerdócio foi justamente a desestrutura
familiar (1 Sm 3.12-14)

NÃO SEJA NEÓFITO

“…para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo”. A


palavra “neófito” significa “novo na fé” e foi traduzida pela NVI como “recém-
convertido” A maturidade advinda do tempo de caminhada cristã é essencial,
uma vez que a palavra “presbítero” significa “ancião” e fala, como já vimos não
de maturidade cronológica, mas espiritual (1 Tm 4.12).

TER BOM TESTEMUNHO DOS DE FORA

“a fim de não cair no opróbio e no laço do diabo”. A vida cristã deve primeiro
ganhar o respeito dos que o conhecem no dia a dia, para depois servir de
referência à igreja, caso contrário você será envergonhado e preso pelo inimigo.
DE UMA SÓ PALAVRA

A Tradução Brasileira usa expressão “não dobres em palavras” e a NVI, “homens


de palavra”. Fala de compromisso com aquilo que se diz (Sl 15.4; Mt 5.37; Tg
5.12).

Uma lista como essa facilita a avaliação própria. Que viver tais
qualificações seja a meta de todo ministro!

É importante abordar um pouco sobre o entendimento equivocado e


muito comum de que os ministros são muito “julgados”, bem como
considerados sem sua humanidade e capacidade de errar.

Em primeiro lugar, Deus não está pedindo de mais quando exige ao líder
uma conduta exemplar, até porque Ele é essencialmente justo e não pediria o
que um homem não pode dar. Ele próprio é o modelo, o socorro bem presente,
o refúgio, a força necessária para se viver de forma santa. Vale acrescentar que
não se trata de perder a humanidade, porque o ministro continua na luta diária
contra a carnalidade, afinal, ainda é homem. No entanto, assim como é
necessário possuir qualificações específicas para exercer determinadas
profissões, o ministério não pode ser exercido de qualquer forma e deve ser
levado a sério. Deus estabeleceu requisitos e eles estão mais relacionados ao
caráter do que aos dons, portanto não é opcional ter boa conduta, é
eliminatório.

Por último, não apenas os olhos de Deus estão atentos ao procedimento


do ministro, mas também os olhos dos liderados e do mundo, porque líderes
não foram feitos para ficar embaixo do alqueire, mas no velador (“…para que
vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai” Mt 5.15). Não existe
como liderar e não querer ser visto. A questão é que os olhos alheios possuem o
direito de olhar para o ministro – direito firmado pelo próprio Deus. Sim, Deus
definiu que um homem tem direito de olhar para o comportamento de seu líder
e, mais que isso, deve imitá-lo. Não há nada de errado nisso, por mais que
muitos olhem de forma errada. O próprio Jesus, que precisa definitivamente ser
tomado como referência, não reclamou de olhares; pelo contrário, Cristo atraía
para si e para suas ações olhos nem sempre amáveis, nem sempre
compreensíveis, mas sempre atentos. Isso não impediu o ministério de Cristo,
muito menos sua postura firme por santidade, ainda que muitas vezes mal
interpretada.

Por isso, ao desejar o ministério, o candidato precisa calcular o preço (Lc


14.28) custa caráter, custa qualificações sob moldes bíblicos e custa manter-se
exemplo perante outros, dentro e fora da igreja.

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