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Publicadora das Assembléias de Deus.

Capa: Hudson Silva

248.3 - Vida Cristã

Santos, Ismael dos

SANa A Caminho da Maturidade.../Ismael dos Santos

1. ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.

p.64. cm.14x21

ISBN 85-263-0013-X 1. Vida Cristã

CDD

248.3 - Vida Cristã

Casa Publicadora das Assembléias de Deus.

Caixa Postal 331

20001-970, Rio de Janeiro

1ª Edição/1995
Introdução

1. Desafios a um Cristão em Crescimento

2. Obstáculos à Maturidade

3. Um Atalho Fatal

4. Frutos da Maturidade

5. A Dor Faz Crescer

6. O Compromisso com a Glória do Senhor

Conclusão

Aos meus amigos, companheiros na alegria, solidários na tribulação, irmãos na fé, na


esperança, no amor.
Era o mês de julho de 1989.

Alguns minutos antes de encerrarmos a reunião de oração, fomos agraciados por Deus
com esta mensagem profética:

“... o meu povo precisa chegar à estatura de varão perfeito. Voltai-vos para mim, crescei
no poder e na graça do meu nome."

Foram estas palavras, mais do que qualquer outra coisa, que me levaram a buscar os
princípios bíblicos do crescimento espiritual. É disso que trataremos neste livro.

Ao me introduzir no universo da literatura evangélica, escrevi Adoração em Chamas,


com ênfase à prática do louvor. Depois, cintilou no prelo Para que Todos Sejam Um,
basicamente uma cartilha da fraternidade cristã.

Agora, suponho ter bosquejado um dos temas mais palpitantes do cristianismo: a


santidade que se traduz num estilo de vida irrepreensível diante de Deus e dos homens.
Aqui, almejo questionar, juntamente com você, a dimensão da nossa espiritualidade.

Não existe, a rigor, uma teologia da maturidade. Amadurecer é matéria prática.


Entretanto, isto não nos impede de, sob a luz esclarecedora do Espírito Santo,
explorarmos os traços de um cristão verdadeiramente crescido no Senhor.

No coração do Pai Celestial, há, para cada um de nós, um projeto de maturidade,


basicamente sintetizado em três grandes metas: 1) Ajustar-se a Deus e a sua Palavra; 2)
Obter real conhecimento interior em Cristo Jesus; e, 3) Avançar para uma completa
submissão à liderança do Espírito do Senhor.

É chegada a hora de se dar um imperativo "basta" a essa insípida rotina cristã, tantas
vezes por nós tolerada. Já é tempo de se reativar, com atos e palavras, nossas antigas
perspectivas de crescimento em Cristo.

Vire a página.

Comece a ouvir o chamado de Deus. Caminhe rumo à maturidade!


"Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo,
frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus" (Cl 1.10).

- Estamos no endereço certo! - Gritei, em meio à multidão, ao colega brasileiro ao


avistar a famosa casa de John Wesley, em Londres.

É um prédio pequeno. Ali, por muitos anos, residiu esse homem de Deus, responsável
por um dos maiores reavivamento da história da Igreja. Logo que entramos, fiquei
fascinado com um pequeno quarto, onde nenhum centímetro era desperdiçado. Aquele
era o local, onde Wesley passava horas e horas buscando ao Senhor. Um lugar perfeito
para se estar em comunhão com Deus.

Numa outra sala, acha-se um expositor com inúmeras correspondências escritas pelo
próprio punho do evangelista inglês. E, junto à biblioteca, um farto arquivo com
sermões publicados durante os quase cinqüenta anos de seu ministério.

Tive o cuidado de transcrever algumas frases daquele material. Uma delas, trago
anotada na primeira página de minha Bíblia:

"Quanto mais alto tenha subido o homem, por mais elevado que seja o grau de sua
perfeição, ele ainda tem necessidade de crescer na graça e avançar diariamente no
conhecimento e no amor de Deus seu Salvador."

Era esse o segredo do homem que revolucionou a Inglaterra com a Palavra de Deus.
Para John Wesley, tudo o que um cristão necessita para crescer é aceitar, a cada dia, o
desafio de conhecer ao Senhor, e identificar-se com os seus atributos.

Wesley tinha plena consciência de que a maturidade somente é alcançada através de


uma incessante busca de Deus. À semelhança desse herói da fé, de um passado não
muito distante, também devemos entender que qualquer tentativa direcionada ao
amadurecimento, que marginalize a necessária compreensão de Deus, resultará numa
espiritualidade doentia e até pervertida.

O Criador de todas as coisas e Senhor absoluto de tudo é, para a nossa felicidade, um


Deus acessível. Só não o conhece quem não o procura, ou quem se desvia da rola tão
solidamente delineada pelas marcas deixadas por Cristo no madeiro.

Só no Novo Testamento, encontramos mais de duas centenas de desafios para se


conhecer melhor o Altíssimo.

Aceitando qualquer um deles, desencadeamos um exuberante processo de crescimento


espiritual.

Todavia, tenhamos cuidado!


Não basta uma busca frenética de Deus. E preciso conhecê-lo bem! Se enxergarmos a
Deus de forma ingênua e evasiva, jamais firmaremos qualquer compromisso com Ele.

O mundo está infestado de tolas fantasias em torno de Deus. Mesmo nós, crentes
amadurecidos no evangelho, temos cometido o erro de formular conceitos
microscopicamente inaceitáveis e até comprometedores acerca da pessoa do Senhor.
São as mais distorcidas imagens insufladas por crendices e idéias materialistas, onde
tudo conspira para a violação da identidade divina. Conseqüentemente, muitas pessoas,
ao se depararem com um deus permissivo, sádico e adulador, acabam por atrofiar a
própria alma, ansiosa por conhecer o Deus único, perfeito e real.

Vê-se, pois, que um dos maiores - se não o maior! -desafios a nós, cristãos do presente
século, não poderia ser outro que uma constante busca pela reconquista do pleno
conhecimento de Deus. Não um saber apreciativo, resultado de uma ciência analítica
qualquer, mas vivencial, que possibilite uma correta compreensão do Senhor.

O que sabemos a respeito de Deus é a mais fiel revelação do grau de nosso


relacionamento com ele. Logo, assegure-se de que o seu conhecimento está cada vez
mais próximo daquilo que, em verdade, o Senhor é. Tal conciliação abrange um saber
positivo de suas atitudes e atividades. Implica, ainda, numa correta preocupação para
com os atributos a Ele inerentes.

Não temos alternativa. Se pretendermos crescer em Deus, teremos de estabelecer uma


permanente e seriíssima sondagem de sua natureza.

Suspeito que nem todos os cristãos consigam vislumbrar quer nas páginas da Bíblia,
quer na criação, ou mesmo na história, o Deus receptivo, atencioso, perdoador; o Deus
cuja justiça é imparcial; cuja santidade é imaculada; cuja compaixão foge a qualquer
medida humana; cuja realidade é inatacável. Seu amor, singelo e pessoal, excede a todo
entendimento.

E por isso que muitos assistem, passivamente, a transição dos tempos e estações, sem
um conceito teológico de Deus capaz de produzir efeitos transformadores. Precisamos
repensar nossa imagem do Criador. Uma visão correta de Deus é algo muito poderoso.
Causa profunda metamorfose interior, capaz de corrigir nossa trajetória em direção às
alturas da espiritualidade cristã.

O apóstolo Pedro, sabedor da necessidade de se crescer mais e mais no relacionamento


unipessoal com Deus, valeu-se de sua experiência para conclamar os contemporâneos:
"Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2 Pe
3.18). Tal exortação nunca se fez tão atual. Este é o conhecimento que gera maturidade!

Alguns crentes acolhem a idéia de que o aprofundamento de seu conceito de Deus seja
suficiente para a evolução espiritual. Entendamos, porém, que, na vertente do
crescimento com Deus, paira a imagem que formulamos dele. Por isso, é necessário
evitarmos o erro de uma precoce satisfação.

Sigamos em frente. Um novo e mais veemente desafio nos aguarda; a identificação


prática com o Senhor, traduzida numa comunhão crescente com os seus atributos.

O ponto é este. Nossa caminhada deve conduzir-nos a viver literalmente a vida


realizadora de Cristo em nosso interior. O custo é elevadíssimo! Porém, confessar-se
cristão e permanecer alheio ao ideal de conformidade com a imagem do Senhor Jesus,
equivale a acomodar-se a um cristianismo despigmentado, sem nenhuma inferência no
mundo das forças espirituais.

O plano divino visa, essencialmente, que o homem reconquiste a primitiva imagem


perdida no Éden. O florescimento e a frutificação do caráter de Deus em nós, leva-nos a
reaver aquilo que o apóstolo Paulo chamou de mistério dos séculos: "Cristo em vós,
esperança da glória" (Cl 1.27).

Creio ser necessário insistir na concreta existência de um padrão de perfeição, com o


qual temos de nos identificar: o caráter de Jesus Cristo! Logicamente, não se trata de
uma estéril e sofrível tentativa de se imitar a Cristo. Mas significa uma espontânea
permissão para que a vida dele seja refletida através de nossa conduta cristã.

Deve estar bem claro que a mais importante prova de amadurecimento é aquela
manifesta por uma vida que reflete fiel e insistentemente o caráter de Jesus: "Até que
todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do filho de Deus, a varão perfeito,
à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais meninos
inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens
que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em caridade,
cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo" (Ef 4.13,14).

Daí por diante, o amadurecimento vem para ficar! A egolatria é mortificada. O divino é
implantado na inabalável solidez da convicção espiritual; o senhorio de Jesus é
ampliado através do ângulo da fé. Tornamo-nos, enfim, um referencial das palavras e
promessas do Senhor.
"Portanto, nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de
testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e
corramos com paciência à carreira que nos está proposta" (Hb 12.1).

Você jamais crescerá sem a intervenção dos céus. É a norma divina para se manter
inviolável a dependência da criatura perante o seu Criador. Vida madura é vida
sobrenatural. A essência da verdadeira espiritualidade reside no fato de que o próprio
Deus está interessado em conceder-nos o crescimento.

Cabe-nos, porém, preencher certas condições que demonstram nossa voluntária


submissão aos preceitos básicos de seu governo. Sob que motivos pode ser anulada
nossa maturidade? Quais os obstáculos potenciais? Que lipos de empecilhos podem
surgir ao longo do processo de maturação espiritual? Se você conseguir responder lais
perguntas, desobstruindo o acesso rumo à estabilidade na fé, nada o deterá nesta
ascendente jornada.

Todos fomos gerados em pecado, e estamos sujeitos a diversos impedimentos que se


apresentam, às vezes, de maneira ardilosa. O fardo é interno, "porque do coração
procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos e blasfêmias" (Mt 15.19). Logo, a preocupação primária do cristão deve ser
a de escrutinar o próprio coração, e ter a certeza de que está cada vez mais próximo da
perfeição em Cristo Jesus.

Ao entrar numa perfumaria, surpreendeu-me o anúncio inserido no rótulo de um dos


produtos: "Tão original quanto o pecado". Era uma grotesca paródia de um postulado
teológico, camuflada sob o verniz do marketing. Embora aparentemente inofensivo,
indica a ignorância da humanidade quanto à natureza do pecado.

Todo pecado é violação à santidade divina. Isso ocorre quando nos afastamos da vereda
traçada pelo Senhor. Cruzar a fronteira, e deixar de seguir fielmente a Cristo, é fatal. Na
superfície, algumas concessões parecem insignificantes. No entanto, a complacência
para com hábitos pervertidos, penalizar-nos-á com uma vida cristã artificial, marcada
por uma sucessão de derrotas e tropeços.

Conta-se que um grupo de estudantes foi conhecer uma mina de carvão. No trajeto, a
professora, olhando para o traje de uma garota, interveio:

- Não podes descer a mina com este vestido branco. A menina não entendeu o recado, e
ao achar-se na recepção foi logo indagando:

- Não posso descer à mina com este vestido branco?


- É claro que sim, senhorita -, respondeu o mineiro-chefe. Você pode descerrem
problemas, mas o que não creio é que você subirá com o mesmo branco no vestido.

Isto deve despertar-nos à realidade de que não podemos participar de tudo o que o
mundo nos apresenta, para não comprometermos a santidade de nossa vida. Pecar é
muito mais que paralisar o amadurecimento, congelar o avanço ou provocar desajustes
espirituais; pecar é retroceder. Eis o motivo porque tantos cristãos continuam como
crianças espirituais.

Se você está disposto a crescer no Senhor, fuja daquilo que contraria sua vontade. Não
seja um infante à mercê das trapaças do vil inimigo. Busque fazer a vontade de Deus, e
rejeite sumariamente o que Ele reprova. Mesmo vivendo em meio ao caos deste mundo
- que nada mais é que um mosaico de caricaturas polidas - firme seus valores no temor
do Eterno. Afinal, quem teme a Deus, aborrece o mal (Pv 8.13).

O preço da maturidade está na rejeição de conceitos e práticas que venham a projetar o


domínio do pecado sobre nós (Rm 6.14). Abster-se de coisas e atos que entristecem ao
Senhor, é requisito básico da dieta espiritual. Onde deixamos nossa bandeira de
oposição ao mal?

Naturalmente, estamos sujeitos às provocações do pecado. Ser maduro não equivale a


perfeição absoluta. Longe disto! O tempo e a história têm revelado que até mesmo os
gigantes na fé ficaram circunstancialmente sob os açoites do pecado. O que fazer,
então?

Uma resposta reflexiva deve ecoar no recôndito de nossas almas todos os dias: Voltar à
cruz! Ela possibilita um novo começo. Não é preciso comprometer sua vida de
santidade. Deus apenas espera que você se recuse a (içar caído, pois "os passos de um
homem bom são confirmados pelo Senhor, e Ele deleita-se no seu caminho. Ainda que
caia, não ficará prostrado pois o Senhor o sustém com a sua mão" (SI 37.23,24).

Em última análise, Deus já fez tudo para que todos cheguemos ao pleno conhecimento
da sua vontade. Se não avançamos, algo está errado. Em tudo o que se diz sobre quedas
e retrocessos, deve existir uma base de compreensão de que o ser humano, independente
de seu grau de maturidade, continua a manter sobre si o estigma do pecador necessitado.
E, como tal, necessita desesperadamente de um Salvador suficiente: Jesus.

Conta-se que Newton, um dos mais célebres cientistas, teve no crepúsculo de sua
existência freqüentes perdas de memória. Por isso, balbuciava insistentemente: "Que eu
possa ao menos conservar a recordação destas duas coisas; que sou um grande pecador,
e. que Jesus á um grande Saltador". À semelhança de Newton, todos deveríamos correr
para os braços do Mestre sempre que sentíssemos estar ameaçada a santidade de nossa
vida. Se assim o fizermos, a maturidade cristã tornar-se-á realidade em nosso ser.
A fé sintetiza a expressão de nosso amadurecimento. Nada é tão prejudicial à
maturidade como a incapacidade de crer. Somente assim, desenvolveremos com êxito o
plano divino a nosso respeito. Se a fé entrar em decadência, romperemos a ligação com
a única fonte capaz de nos fazer crescer - Deus. Se você deseja cursar a escola da
maturidade, esteja pronto a submeter-se ao teste da confiança.

Vamos a um exemplo clássico. Refiro-me a histórica peregrinação dos israelitas durante


quarenta anos pelo deserto, deixando de usufruir, durante todo esse tempo, a prometida
Canaã, onde manava leite e mel. O que originou tanto atraso? Na epístola aos hebreus
encontramos a resposta: "por causa da sua incredulidade" (Hb 3.19). Foram reprovados
no teste da fé!

Na tradução inglesa, o verso 41 do Salmo 78 é colocado da seguinte forma: "Limitaram


o Santo de Israel". A nação judaica, ocultando os feitos e as promessas de Deus sob o
manto escuro da descrença, acabou por limitar a intervenção dos céus nas páginas de
sua história. Em sua incredulidade, Israel restringiu as manifestações do poder de Jeová.

Muitos crentes vivem num estado de menoridade espiritual, porque teimam em


permanecer enclausurados na masmorra da dúvida. Sentem necessidade de Deus, do seu
auxílio, poder e manifestações, mas acabam por desfalecer num pântano de temores.

É imediato concluir que o ritmo de nosso crescimento é diretamente influenciado pela


cadência de nossa fé. A dúvida decreta a "lei da incredulidade", sob a vigência da qual
não há como crescer. Se você almeja um relacionamento cada vez mais íntimo com o
Senhor, lembre-se de reavaliar com maior assiduidade como está sua confiança nEle.
Existe alguma razão para acalentar uma fé de segunda mão? Entende-se por fé
secundária aquela que, emergindo dos escombros do passado, ignora as possibilidades
do presente. Sem perder contato com os exemplos do passado, é preciso que o brado "o
justo viverá pela fé" (Hb 10.38), se renove a cada novo dia.

É decisivo que nossos intentos e ações sejam justificados pela fé. Sempre haverá algo de
surpreendente nas atitudes de quem age pela fé. Se você estiver disposto a sulcar o
coração com o arado da confiança no Senhor, os frutos serão alvissareiros. Não
precisamos de um mero sentimento religioso. É necessário possuir uma fé inabalável,
que não vacile diante das oscilações de nossos sentimentos.

Quando Deus retém-nos suas bênçãos, somos invadidos por um sentimento de dúvida
em relação às suas promessas. Eis porque não podemos ignorar que, no processo de
amadurecimento, há estádios intermediários, fases cíclicas de maior ou menor afluência
da fé. Mas isto não pode nos impelir a retroceder aos primeiros estágios da carreira
cristã. Na segurança de uma vida crescente com Cristo, não há ocasião para ter medo.

Por que retroceder? Por que ficar pasmado? Por que aceitar passivamente uma fé
secundária? O patriarca Jó deve ter sacudido as estruturas do inferno quando, em meio
às densas ruínas de sua dolorosa provação, perpetuou uma das mais convictas e solenes
declarações de fé de todos os tempos: "Ainda que Ele me mate, nele esperarei" (Jó
13.15).

A fé genuína vai além da lógica do tempo e das contingências humanas. Brota de uma
irrestrita segurança na presença de Deus; difunde-se em sinceras expressões de louvor,
antevendo o livramento divino (veja Jz 7.15). Você foi convocado, pois, a andar "em
novidade de vida" (Rm 6.4b). A fonte deste viver é a confiança sempre renovada no
Senhor.

Há um terceiro entrave responsável por nossa lentidão espiritual. É a relutância em se


buscar "as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus" (Cl 3.1).

Maturidade não é uma virtude que surge abrupta e repentinamente. Não se pode
alcançá-la da noite para o dia. Não existe um "toque de mágica" capaz de nos
transformar de anões espirituais, em gigantes da fé.

Reconhecemos que crescer implica num esforço titânico numa escala também titânica.
Há um processo gradativo para se chegar à presença de Deus. Isto exige determinação.
E o triunfo da fé persistente sobre nossa negligente natureza. Esta tomada de posição
deixa claro que o progresso espiritual é, prioritariamente, um ato de invasão. É inútil
supor que o crescimento virá a nós subitamente. Temos de persegui-lo até conquistar o
direito de posse. Cada passo que você der neste território, trará consigo nova
oportunidade de ascendência espiritual.

Para quem faz sua opção por Cristo, mas permanece distante das verdades fundamentais
do Evangelho, sem responsabilidades definidas quanto aos ditames de se tomar a cruz,
negar-se a si mesmo e seguir a Cristo bem de perto, resta um inglório fim: seu caminho
não prosperará. Que diremos então? É mais que óbvio que Deus dará um crescimento na
proporção exata de nossa disposição de avançar.

Por que é que alguns cristãos continuam bebês espirituais, enquanto outros avançam na
direção da maturidade?

Às vezes penso que se deve à diferença de personalidade, pois alguns parecem mais
religiosos que outros, e mais propensos às coisas do Espírito. Outras vezes, acho que a
diferença reside na salvação do homem, ou em sua experiência com Cristo, pois alguns
chafurdaram-se de tal modo no pecado, e experimentaram tão grande transformação,
que agora só pensam em agradar a Deus. Penso também que a diferença reside ainda no
fato de alguns haverem sido criados num lar cristão, e terem aprendido de Cristo desde a
mais tenra infância.

Todavia, quando lemos em Mateus 5.6, descobrimos o segredo do gigantismo espiritual:


"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos". Jesus
revelou que o segredo do crescimento espiritual está no apetite voraz pela Palavra de
Deus. Os que satisfazem esse apetite, alimentando-se da Palavra e comungando com
Cristo, já usufruem de real maturidade espiritual; já se fazem gigantes na fé. (J. Dwight
Pentecost - O Sermão da Montanha - Ed. Vida, p.34).

Vê-se, pois, que uma das principais causas de uma vida cristã medíocre é a negligência
espiritual.

Com inquietação, ouvi certa vez alguém desabafar: "Irmão, você devia conhecer o
fervor de minha congregação quando me converti. Nossos cultos eram bem parecidos
com aqueles da Igreja Primitiva... Sabe, era uma bênção!" Certamente você já ouviu
incontáveis "testemunhos" semelhantes a este. São crentes que procuram derramar luz
sobre o presente, revivendo saudosamente às experiências do passado.

Aparentemente, não há nenhum problema em recordar o passado. Mas cedo


descobrimos que o grande mal de muitos saudosistas é que, tragicamente, estacionaram
no tempo. Como é sua vida com Deus agora? Poucos respondem. É importante lembrar
a ordenança aos levitas da antiga aliança: "O fogo arderá continuamente sobre o altar,
não se apagará" (Lv 6.11). É irrelevante festejar hoje as conquistas do passado, mesmo
que tenham sido monumentais. Passado é sinônimo de cinzas. Na vida de comunhão
com Deus, as memórias de ontem são incapazes de manter o fogo acesso hoje. Deus
procura brasas e não cinzas. A perspectiva do Senhor para conosco é de que tenhamos
aventuras diárias e vibrantes com os céus.

Sejam quais forem nossas experiências, não podemos atribuir consideração demasiada
ao passado. O fato de termos uma considerável soma de realizações em nossa "folha de
serviço cristão", não nos concede o direito de ser mais um no rol dos inativos
espirituais. Na constituição do Reino dos Céus, nunca houve aposentadoria por tempo
de serviço.

Refute tal idéia. Você não pode simplesmente relacionar maturidade com idade
cronológica, nem tampouco com a soma dos anos que tenha passado nos bancos da
igreja. "Deus, não o tempo, produz santos". ( A.W. Tozer - Esse Cristão Incrível - Ed.
Mundo Cristão, p. 11).

Eliú, amigo de Jó, não ousava abrir a boca: "Falem os dias e a multidão dos anos ensine
sabedoria" (Jó 32.7), pensava o jovem filósofo. Logo, porém, percebeu que a somatória
de horas, dias, meses ou anos, não torna necessariamente alguém maduro. Nesta
questão, a teologia de Eliú foi perfeita: "Na verdade, há um espírito no homem, e a
inspiração do Todo-poderoso os faz entendidos" (Jó 32.8). A comunhão com o Doador
da vida é a única prova conclusiva do nosso desenvolvimento.

Liberte-se, pois, das amarras do saudosismo. Pare de narrar às vitórias do passado como
se jamais pudessem ser revividas no presente. Somente conservamos a chama da
maturidade quando aceitamos entusiasticamente os novos desafios propostos pelo
Espírito.

Dentre minhas histórias bíblicas prediletas, sempre vibro com a bravura e dinamismo de
Calebe. Certo dia, não obstante detentor de incríveis experiências, o calejado guerreiro
dirigiu-se ao seu companheiro Josué e confessou: "...eis que já sou da idade de oitenta e
cinco anos. E ainda hoje sou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual a
minha força então era, tal é agora a minha força, para a guerra, e para sair e para entrar"
(Js 14.10,11).

Calebe é a imagem fiel do cristão emancipado. Avança, a despeito da idade. Aceita


nova e ousadas metas, mesmo que se apresentem como os enaquins, os gigantes que
Calebe se dispôs a derrotar na ocasião deste seu diálogo com Josué.

Não é sem razão que, no relacionamento com Deus, nunca cresceremos o bastante, pois,
"a verdadeira maturidade espiritual leva-nos a uma simplicidade não simplista; e a
humildade da espiritualidade integral à atitude da criança, que é simples, que é humilde,
mas que não despreza e tem uma consciência total de que está crescendo. O maior sinal
de imaturidade é quando o indivíduo acha que não tem muito mais o que saber". (Caio
Fábio D'Araújo Filho - Um Projeto de Espiritualidade Integral - Ed. Sião.p.72)

Temos muita coisa a aprender com Calebe. Sua curta, mas valiosa biografia, registra
que, até ao final de seus dias, ele prosseguiu explorando situações e experiências,
mediante as quais pudesse manter-se identificado com os interesses de Deus.

Em contraste, temos Rubem, outro personagem do Antigo Testamento. O primogênito


de Jacó é o protótipo perfeito do bebê espiritual. Dele foi dito ser "inconstante como a
água" (Gn 49.4). Mesmo munido de todos os direitos legais para herdar a
primogenitura, seu instável temperamento levou-o à ruína. Era muito jovem? Não!
Nessa época, Rubem estava com quarenta anos. Todavia, prosseguia tomando
resoluções desgovernadas e incoerentes. Ele representa muito bem o crente que, apesar
do tempo de fé, satisfaz-se com um círculo vicioso e estéril de vida espiritual.

Tiago adverte: "O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos”
(Tg 1.8). E o apóstolo Paulo recomenda a não sermos "meninos inconstantes levados em
roda por todo vento de doutrina" (Ef 4.14).

O fato é que as lembranças do passado sem a vivacidade do presente degeneram em


saudosismo doentio, que milita contra a estabilidade espiritual. Alguém afirmou que a
vida cristã é como andar de bicicleta: parou, caiu!

Você não precisa pôr limites à sua busca de novas descobertas em Cristo. Simplesmente
prossiga "para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp
3.14). A beleza da vida secreta com Deus fica expressa precisamente na aventura de
extrairmos, de cada nova experiência com Ele, graça para aprofundarmos as raízes de
nossa espiritualidade.
"Se, pois estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos
carregam de ordenanças, como se vivêsseis no mundo" (Cl 2.20).

Semblante caído, mãos suplicantes (e até cabeça aureolada!), eis a fachada de um


cristão piedoso na concepção de alguns. Semelhantes a essa, existem inúmeras outras
imagens de maturidade que grassam nossas igrejas. A pior de todas, certamente, é uma
pseudomaturidade, cujo fundamento é um irrefletido legalismo carnal.

Alimentado por infindável lista de observâncias superficial, e endossada por reprovável


misticismo, o legalista insiste em dogmas que, por se situarem na periferia da fé, em
nada contribuem "para a paz e para edificação de uns para com os outros" (Rm 14.19).

Não é de causar admiração que apreciável parcela desta geração de crentes esteja
apresentando visíveis sintomas de exaustão espiritual. São crentes regenerados, mas que
se debatem num relacionamento mórbido e desanimador com Deus. Suas pilastras
espirituais foram erigidas sobre o solo movediço de normas relativas e duvidosas.

A fé que muitos agasalham está direcionada a uma ortodoxia estéril; tão inútil quanto
uma nuvem sem chuva. Talvez seja esta a explicação do angustiante caos em que vivem
certos crentes. A graça de Deus é tanto a raiz quanto o alvo da experiência cristã. Se
você deseja chegar ao porto seguro da maturidade, rejeite veementemente o sinuoso
atalho dos rudimentos carnais. Trivialidades legalistas são incompatíveis com uma
crescente vida com Deus.

Nem sempre é fácil distinguir princípios salutares no legalismo carnal. Todavia,


sejamos corajosos para reconhecer: considerável parte da tradição observada em muitas
igrejas não passa de um cristianismo mal assimilado, que aflora em invencionices. Se o
que está na Palavra é o bastante para tornar-nos idoneamente crescidos, então, para que
dogmatizar um jugo espiritual incrustado de ordenanças meramente humanas? Para
preencher supostas lacunas bíblicas? Mesmo admitindo isto, não se deveria, porventura,
dar ouvidos a imutável voz divina? "Tudo o que eu te ordeno, observarás nada lhe
acrescentarás nem diminuirás" (Dt 12.32).

Escreveu Russel Champlin: "Por certo que o pior vício dos sistemas religiosos é que
transformam os preceitos humanos em leis divinas, e não reconhecem a diferença. Então
passam a forçar sobre os outros os absurdos por eles mesmos inventados". Isto é forte,
não é? Mas não expressa a verdade? Maturidade acarreta suficiente idoneidade para
discernir as observâncias que nos chegam diretamente da Palavra, e as que vêm até nós
pela formação religiosa ou cultural. Enfrentamos uma guerra espiritual. E lógico que
não será com armas moldadas nas forjas das tradições humanas que triunfaremos nesta
decisiva batalha.

Santidade exibida de um pedestal normativo é um pesado fardo. A vida cristã é


fundamentalmente livre, e "só um forte relacionamento pessoal com o Deus vivo, pode
impedir que tal compromisso se torne opressivo e legalista. João, o apóstolo do amor,
escreve que os mandamentos de Deus não são pesados. A vida piedosa não é cansativa,
pois a pessoa piedosa é, antes de tudo, devotada a Deus". (Jcrry Bridges - Exercita-te na
Piedade - Ed Vida, p. 16)

Compreende-se, então, a falácia dos preceitos humanos, exposta inequivocadamente nas


palavras que o Senhor endereçou aos líderes religiosos de sua época: 'Bem profetizou
Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim. Em vão, porém me honram, ensinando doutrinas
que são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a
tradição dos homens: como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas
semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardares
a vossa tradição (Mc 7.6-9).

Cristo sabia perfeitamente que a complexa legislação farisaica (cerca de seiscentos


preceitos) tornava o relacionamento com Deus extremamente laborioso e,
paradoxalmente, inútil. De fato, não passava de uma muleta religiosa (e duvido que
alguém possa chegar ao céu escorado numa muleta!). Conseqüentemente, os fariseus,
graças às suas imposições, distanciavam as pessoas da genuína prática de uma vida
interior com Deus.

Parece mais fácil e atraente, para alguns, observar regras do que permanecer sob o
controle de Cristo. Iludindo-se a si mesmo, simulam maturidade, medindo o grau de
crescimento, não pela força da vida que Jesus coloca em nosso interior, mas pela
aparência que ostentam diante dos homens. Confundem "fermento" com
desenvolvimento (leia 1 Co 5.6-8). O externalismo a ninguém faz crescer. Estes,
"procurando estabelecer a sua própria justiça" (Rm 10.3), dogmatizam esfarrapados
jugos. O resultado é uma espiritualidade desfigurada.

O legalista é atrevido. Apregoa o senhorio das regras em detrimento do senhorio de


Cristo. Apresenta-se como detentor absoluto da verdade, mas não passa de um
abominável mercenário. Ele coloca no "mercado da saúde religiosa" fortificantes que
apenas debilitam o organismo espiritual. O caminho da maturidade está muito acima da
mera retidão moral. O que nos associa a Deus é uma radical intervenção de sua
misericórdia em nosso caráter.

Em contraste, o enganoso atalho dos preceitos humanos, suscetível a tendências sempre


mutáveis, oscila entre uma regra e outra, numa malograda tentativa de restaurar a
comunhão com Deus. A cegueira legalista constitui-se numa impiedosa violência contra
o dom da graça de Deus.

A propósito das leis humanas, Paulo advertiu seriamente aos Colossenses: "Se, pois,
estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda
de ordenanças, como se vivêsseis no mundo. Tais como: não toques, não proves, não
manuseies? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção
voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para
a satisfação da carne" (Cl 2.20-23).

Prescindir das amarras do legalismo não significa ter um viver libertino, pois "Deus não
nos chamou para vivermos na impureza nem cheios de imoralidade, mas para sermos
santos e puros" (1Ts 4.7).

Diversamente do antinomianismo (doutrina que apregoa ser a salvação divorciada da


responsabilidade para com a lei moral), cremos firmemente num cristianismo que sabe
fazer perfeito exercício da liberdade

Pode se constatar, entretanto, que a multiplicidade de normas tende a conduzir-nos a


uma regressão espiritual. O problema imediato é que "a verdadeira vida cristã, a
verdadeira espiritualidade, não é meramente um não fazer negativista de uma pequena
lista de coisas das quais é bom acautelar-nos em determinada condição histórica;
precisamos salientar que a vida cristã, a vida espiritual autêntica, é mais do que abster-
se de alguma lista externa de tabus, de modo mecânico". (Francis A. Shaffer - A
Verdadeira Espiritualidade - Ed. Fiel p. 11)

Por mais brilhante, que pareça a discussão em torno, deste tema, é improvável que
consigamos esgotá-lo. Insistir não nos conduziria muito abaixo da superfície. Mas
podemos concluir que a maturidade não se acha em estado de submissão a qualquer
ordenança carnal. Para os maduros só há um limite: "ser exemplo na conversa, na
conduta, no amor, na fé e na pureza" (1Tm 4.12). É pui este caminho, e nunca pelo
atalho do legalismo, que lia veremos de ferir a sensibilidade do mundo atual.

Enquanto o neófito desgasta-se esterilmente à cata de sinais de maturidade por trás de


uma espessa parede de preceitos humanos, o cristão nutrido pelo Espírito, mesmo
coabitando numa sociedade dissoluta, evidencia, a cada passo, a marcante e inocultável
presença de DEUS!
"Medita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a
todos" (1Tm 4.15).

- Hora da janta! - dizia mamãe assim que eu entrava na cozinha. - Depressa, vá chamar
o visitante!

Cenas como esta jamais se apagarão da minha memória. Nasci e fui criado morando em
casas pastorais anexas aos templos. Assim, todas as semanas tínhamos um novo
hóspede. Ano após ano sentava-me à mesa, na hora das refeições, olhando para rostos
desconhecidos.

Gente simples, vinda do interior para tratamento medico. Gente famosa, vinda de outros
países. Não tenho boa lembrança da fisionomia de todos aqueles visitantes, apenas que
eram membros de algumas das nossas congregações, ou então evangelistas itinerantes,
pregadores, cantores, conferencistas, escritores, missionários e, de vez enquanto, alguns
mercenários lambem.

O que nos garantia que o próximo hóspede, seria um homem de Deus? Entretanto, ao
longo do ministério pastoral de meu pai, aprendi com ele a não emitir opiniões pré-
concebidas sobre pessoas.

- Deixe que seus frutos mostrem que espécie de árvore, são eles - aconselhava papai.

Como aferir o grau de maturidade de alguém? Seria possível estabelecer um princípio


único, fixo, na abordagem dos fatores que determinam o crescimento espiritual?

De modo nenhum!

Não obstante, a maturidade sempre trará consigo as marcas perceptíveis de um viver


produtivo no Senhor. Na concepção bíblica, crescimento evoca frutificação. O processo
de amadurecimento, sobretudo, inscreverá indelevelmente, no espírito do crente, os
inconfundíveis traços de um homem de Deus. A fim de se lançar alguma luz sobre um
possível roteiro para se atingir a estatura de varão perfeito, importa atentar para os
meios que possibilitam tal crescimento.

Visitei recentemente um amigo, diretor de uma transportadora. Logo que entrei no seu
escritório, um pequeno cartaz captou-me a atenção:

"57 regras para o sucesso:

1) Despache as mercadorias.

2) Esqueça as outras 56, não são importantes.


Eu não pediria que você esquecesse os outros itens que tratarei neste capítulo. Mas, com
absoluta convicção, ouso dizer que, principiar pelo amor, é mais que fundamental.
George Muller afirmou: "O vigor de nossa vida espiritual está na proporção exata do
lugar que a Bíblia ocupa em nossos pensamentos". Nada é mais importante para um
viver saudável diante de Deus do que a nossa disposição em aplicar a sua palavra a
todos os aspectos de nossa existência. Somente ela, fluindo como água cristalina em
nosso interior, nos fará florescer e crescer no Senhor.

Convém notar, paralelamente, que o analfabetismo bíblico tem sido um tirano


implacável, conseguindo acorrentar, no calabouço da apatia e do desânimo, um
significativo número de cristãos.

Nem poderia ser de outro modo. Não há substituto para a Palavra; ou transformamos
nossos púlpitos numa poderosa tribuna de exposição dos ensinos bíblicos, ou breve
naufragaremos no mar da ignorância e das trevas espirituais. Não podemos nos
esquecer, de igual modo, do estudo particular e devocional das Escrituras. A Palavra
comunica vida, suprindo-nos da força necessária para, em Cristo, nos aproximarmos de
Deus como seus filhos especiais.

Há, também, outra verdade a considerar. Determinadas partes das Escrituras estarão
sempre ofuscadas aos imaturos. O escritor da Epístola aos Hebreus propõe que o "o
alimento sólido é para os perfeitos, os quais em razão do costume têm os sentidos
exercitados para discernir tanto o bem como o mal" (Hb 5.16), e conclama seus leitores:
"pondo de parte os princípios elementares tia doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para
o que é perfeito" (Hb 6.1).

Você pode ter boas intenções quanto ao avanço espiritual. Porém, se não houver
aplicabilidade pessoal à Palavra, acrescida de uma revolucionária sujeição à sua
autoridade, seu relacionamento com Deus estará seriamente comprometido. Davi
admitia ter atingido um grau de maturação mais elevado que os seus próprios
professores. Não por causa de sua vocação poética, realeza ou reconhecida bravura. Sua
superioridade de espírito lhe foi conferida graças a uma incessante meditação nos
preceitos do Senhor. Confiramos o que ele próprio registrou: "Tenho mais entendimento
que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais prudente que
os velhos, porque guardo os teus preceitos" (SI 119.98).

O que aprendemos com essa declaração? A Palavra é à base de todo crescimento


espiritual. Embora pareça mais confortável, e até mais seguro, seguir nossos
sentimentos, tão-somente a dependência do conselho divino, e a inabalável decisão de
conhecer e viver sob o efeito da Palavra poderá corrigir-nos as motivações, e
posicionar-nos diante de Deus.

Certa vez, um telegrafista desempregado foi à estação de trens responder a um anúncio


da empresa ferroviária. Encontrou a sala cheia de candidatos. De repente, em meio ao
ruído de trens e ao vozerio dos passageiros, ele ouviu uma mensagem transmitida em
código Morse: "O primeiro a entrar no escritório, conseguirá o emprego". O rapaz
estava atento. Ouviu a mensagem, entrou e foi contratado.

Você quer saber o que é maturidade? É poder ouvir a voz de Deus mesmo em meio ao
barulho e a confusão do presente século. A experiência de uma vida bem ajustada com
Cristo compreende a faculdade de ver, ouvir, entender e reagir adequadamente às
realidades espirituais.

Já a imaturidade situa-se, exatamente, no extremo oposto.

O imaturo olha, mas não enxerga; ouve, mas não entende. Aproxima-se do
florescimento, mas não frutifica.

Embaraçado pelas paixões, procura alcançar a glória da completa conformidade com o


Filho de Deus, mas só consegue caminhar... tropeçando.

A primeira e mais importante tarefa do candidato ao crescimento espiritual é a de


apossar-se dos valores eternos. E a supremacia da lei do Espírito que nos levará a
descobrir o método de Deus em aguçar-nos devidamente os sentidos. A espiritualidade
autêntica é regida por uma perpicaz capacidade de discernir o divino do humano, o que
procede do espírito do que procede da carne, o que agrada e o que ofende a glória
divina.

Permanecer como "menino no entendimento" (1 Co 14.20) é sujeitar-se infantilmente à


autoridade da velha natureza adâmica. Você já observou uma criança faminta? Tanto
poderá ingerir comida boa e saudável como alimento deteriorado. Falta-lhe seletividade.
Não menos ingênuo é o garoto que, vendo o colega chutar uma bola de couro, faz o
mesmo com o seu frágil balão e..."plaft". Era uma vez um balão. Tudo porque não teve
capacidade para calcular o grau de resistência entre ambos os objetos.

Poderíamos citar outros exemplos, mas estas ilustrações, embora singelas, servem para
exteriorizar a percepção de muitos cristãos em relação ao mundo espiritual.

Diante deste dilema, o apóstolo dos gentios não cessava de interceder pelos efésios
"para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu
conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do
vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as
riquezas da glória da sua herança nos santos; qual a sobreexcelente grandeza do seu
poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder" (Ef 1.17-
19).

Parece-nos algo difícil uma correta avaliação desta súplica. Imagine o tipo de pessoa
que você seria se colocasse essa oração em seus lábios todas as manhãs. Faça uma
experiência! Você receberá uma inexplicável porção de luz interior e uma comunhão
cada vez mais ampla com os céus.
Se você deixar o Espírito tocá-lo, dispondo-se a viver sob seu controle, Ele exercitará
constantemente sua percepção espiritual, tornando-o apto a discernir "a boa, agradável,
e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.26).

Meu filho, de cinco anos, possui um bauzinho de plástico. Nele são colocados pequenos
objetos que o garoto acha interessante: tampas de garrafa, moedas, papéis rabiscados,
selos de carta, conchas do mar. Quando a caixa começa a transbordar é hora de ajudá-lo
a fazer a escolha: o que fica e o que vai para o lixo.

Nossa mente é também uma espécie de caixa onde colocamos nossas emoções,
relacionamentos, conquistas, traumas, sonhos e projetos. A cada novo dia, precisamos
vasculhar este complexo e minucioso laboratório, onde se processam nossas ações
imediatas ou posteriores.

Tudo principia pela mente! Ela armazena grande quantidade de experiências negativas.
Ora, não podemos esperar que Deus nos dê crescimento se, deliberadamente, nos
colocamos à sombra de pensamentos regidos por uma natureza pecaminosa e decaída.

No desenvolvimento de nossa vida com Deus, uma das mais importantes decisões a
tomar é a de seguir a recomendação do apóstolo Paulo: "Não vos conformeis com este
mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento" (Rm 12.2). Não há
defesa para a menoridade espiritual. Se almejarmos ter acesso a uma vida espiritual
plena e mais rica, o Senhor nos aponta um caminho certo e seguro. Existe uma opção
sublime. A dificuldade para manter a mente pura pode ser resolvida.

Os que desfrutam as bênçãos de uma vida crescente com Deus, já descobriram o


segredo para se ter uma mente renovada. A chave está na segunda carta aos coríntios:
"Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de
Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo" (2 Co 1 0.5).
Agindo assim, sob o efeito da fé e no poder eficaz da Palavra, você não terá necessidade
alguma de ser anfitrião de pensamentos condenáveis à luz da santidade divina.

Você é capaz de se lembrar de um sermão intitulado: "Um Hóspede Maldito?". É claro


que você não estava naquela reunião. Felizmente, a mensagem ficou registrada. Foi
escrita por volta do ano 587 a.C. por alguém que testemunhou a queda de uma nação
que se permitiu escravizar por idéias fundadas numa religião falsa e corrompida.

Jeremias estava convicto quanto à causa do colapso do Reino do Sul, cuja capital era
Jerusalém. Havia uma resposta incontestável à ruína: a complacência para com um
maldito hóspede instalado no mais íntimo da alma do povo. E, colocando seu dedo em
riste, o profeta das lamentações inquire: "Até quando permanecerão no meio de ti os
teus maus pensamentos?" (Lm 4.14).
Mas, como poderíamos condená-los se, freqüentemente, negamos nossa maturidade,
descuidando das condições ambientais de nossa mente, permitindo que pensamentos
espúrios reclamem nossa sujeição?

A aliança que Deus estabeleceu conosco reivindica que nos tornemos fiéis hospedeiros
de "tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo tudo o que é puro
tudo o que é de boa fama" (Fp 4.8). Afinal, uma mente insubmissa a Cristo, e
indiferente à disciplina de sua Palavra, não consegue perseverar no caminho da
ascensão espiritual. A estabilidade de um cristão é comprovada na manifestação
contínua e transparente de uma mente renovada.

A tremenda revolução ocorrida na vida de quem está crescendo em Deus deve incluir,
necessariamente, um magnetismo espiritual irrefutável. Refiro-me à fragrância
sobrenatural que o apóstolo Paulo denominou de "o bom perfume de Cristo" (2 Co
2.15).

Era firme sua convicção de que os idôneos na fé revelam, na conduta diária, o mesmo
poder e autoridade evidenciada na vida de Jesus. A maturidade cristã preenche uma
função específica, fazendo com que o homem de Deus seja sal que provoque sede, e luz
que difunda a glória dos céus. Como o mundo necessita de homens assim!

Muitos equívocos teriam sido evitados ao longo da história da Igreja, se a fragrância do


Cristo redivivo retivesse o lugar central a que tem direito. O que o mundo vê é superior
ao que escuta de nós. Evidentemente, podemos partir do testemunho verbal; porém,
importa ultrapassá-lo, pontilhando nossa carreira com um testemunho vivo e marcante.

Costumo visualizar este bom perfume de Cristo numa delicada rosa de muitas pétalas;
de agradabilíssimo aroma. Sobressaem as pétalas da alegria, do amor e do serviço
realizado para o louvor do Pai, em Cristo Jesus. As primeiras são a vitrine da
maturidade. Sim, a alegria é testemunho externo e triunfante de quão intensa é a nossa
comunhão com Deus.

Uma plaquinha afixada na porta do hospital avisava: "Se não sabes sorrir, não entres". O
homem feito à imagem do seu Criador, ao permitir seja o seu coração regado pela água
da vida, descobre razões para sorrir. Aliás, ser feliz no meio de tudo e a despeito das
piores coisas que possam nos sobrevir, é a essência dos que progrediram na fé.

Observe a afirmação do salmista: "Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e


alegremo-nos nele" (SI 118.24). Que dia é este? Para quem está na trilha da perfeição,
cada dia é um convite para saciar-se à fonte de todo júbilo e contentamento: Deus!

Mais uma vez citamos Paulo: “... já aprendi a contentar-me com o que tenho" (Fp 4.11).
Não obstante os açoites, apedrejamentos, nudez, fome, naufrágios, calúnias e
incompreensões, o apóstolo podia alinhar seus infortúnios ao conceito de alegria. Para
ele, a felicidade não repousava nas circunstâncias. Deus era seu oásis maior.
O mundo jamais ficará indiferente ao perfume de Cristo. Mesmo exalado de um cristão,
sujeito às muitas limitações humanas, permanece firmemente enraizado na ordenança
paulina: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" (Fp 4.4).
Outra pétala que dá aroma à vida abundante - o amor - é a mais significativa prova de
amadurecimento.

Crescer em Cristo pressupõe crescer no amor. Uma vez cessado o amor, cessará
também qualquer possibilidade de desenvolvimento. Crescer e amar são, em derradeira
análise, uma coisa só. Em conseqüência, se todo crescimento depende prioritariamente
do amor, o avanço rumo à estatura de varão perfeito apenas se concretiza quando o
amor transpõe limites e atinge novas fronteiras.

Nós, que somos de Cristo, precisamos viver sob o domínio de seu amor a fim de nos
tornarmos profetas da cruz, falando e vivendo aquilo que governa o próprio coração de
Deus. Ora, a mensagem nele contida é de compaixão pelos caídos e de refúgio aos
forasteiros que já perderam a esperança no amanhã.

Já é tempo de estarmos imersos no grande oceano deste amor que se dá liberalmente


para que nos seja franqueado o caminho à maturidade. Por último, temos a pétala do
serviço fiel e diligente. Se o amor precede o crescimento, o serviço deve estar na sua
origem também. Você não pode amar sem o compromisso de servir... Sempre com
amor!

As multidões recorriam a Jesus em virtude, sobretudo, da agradável fragrância que


exalava de sua dedicação e cuidado para com os que a Ele se chegavam. O próprio
Mestre sentenciou: "Qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja o vosso servo;
bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua
vida em resgate de muitos" (Mt 20.27,28).

A maturidade revelada requer serviço e tudo fazer como se ao Pai fizesse, procurando
realizar algo sempre além da rotina, para não se cair na inércia de um servo inútil.

Por outro lado, isto conduz a consideração de que muitos possuem uma distorcida
filosofia de vida espiritual desenvolvida. Pensam que aqueles que detêm o poder da
Palavra, dos dons, da liderança, são necessariamente os mais maduros. Cumpre lembrar,
porém, que a espiritualidade não pode ser medida pelo número de sermões que alguém
prega, nem pelo número de seus liderados, nem tampouco pela quantidade de sonhos ou
visões recebidos, mas, sim, pelos pés de discípulos de Cristo que se tenha lavado. De
fato, uma das dimensões da maturidade é a descoberta do "princípio da toalha" (veja Jo
13.5).

Obviamente, não estamos nos referindo a um mero ato ritualístico de lava-pés. O que
realmente importa é a proeminência do serviço cristão traduzido num positivo interesse
pelo bem-estar dos outros.

A emancipação espiritual constitui-se, fundamentalmente, no "amarás ao Senhor teu


Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o
teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lc 10.27). A disposição de
servir terá de ser uma atitude solene e constante ao longo da jornada cristã.

Vê-se, pois, que o lugar do serviço é absolutamente central no processo de crescimento.


Não se pode esperar menos de alguém que vive em sintonia com Deus.

A maturidade jamais será uma experiência isolada, solitária. É um processo dinâmico,


contínuo, contagiante, no qual Cristo é honrado mediante um fruto extremamente
prático: o serviço que prestamos ao nosso semelhante.
"Depois de terdes sofrido por um pouco, Deus mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar,
fortificar e fundamentar" (1 Pe 5.10).

Se Deus é bom e justo, por que permite a dor? Se é soberano, possuidor de todo o poder,
por que não elimina a angústia e a miséria que desfilam, implacavelmente, no palco
sombrio de nosso caótico planeta?

Creio que, enquanto nos encontrarmos nos limites desta vida, dificilmente teremos uma
resposta satisfatória para o tão discutido problema do sofrimento. Teólogos, filósofos e
toda uma plêiade de eruditos, buscaram respostas, e no-las deram, as mais variadas (e
até absurdas), sem chegarem, porém a qualquer conclusão convincente.

Tudo o que se pode afirmar é que, desde o Éden, vem o sofrimento marcando presença
na história da civilização. Todavia, para os que cremos ser a Bíblia a Palavra de Deus,
há uma luz a espargir-se sobre a questão. Sabemos que o sofrimento é conseqüência
imediata da rebelião do homem contra Deus. Os princípios divinos, pois, uma vez
desprezados, resultam em trágicos dissabores.

O livre-arbítrio deixa franqueado à criatura humana o direito de escolher tanto o bem


quanto o mal. Contudo, se a nossa escolha ferir à vontade divina, resta-nos apenas
aflições e lágrimas. Em muitos casos, o sofrimento é fruto da resistência humana quanto
aos preceitos de Deus. Prevalece, aqui, a lei da semeadura c da colheita (Gl 6.7). Sob
este prisma, não seria difícil justificar a dor daqueles que se atrevem a zombar de Deus.
Mas isto não explica tudo.

O que dizer do crente que procura agradar a Deus em todas as coisas, mas acaba por ter
a vida minada pela dor? Pode, por acaso, o mais amargo sofrimento trazer consigo a
possibilidade de crescimento com Deus? Talvez, sirva de algum proveito compartilhar a
experiência que vivi nos primeiros anos de casamento.

Recordo-me que os ponteiros do pequeno relógio, junto à cabeceira da cama, indicavam


meia-noite. Mas, em meu coração, batia um "tic-tac" descompassado. Ansiava por saber
qual dos dois indicaria primeiro o raiar do novo dia.

Era o inverno de 1987.

Na época, com pouco mais de vinte anos, considerava-me relativamente bem sucedido.
Duas faculdades concluídas; um livro publicado, e uma segunda obra em fase de
conclusão. Situação econômica razoavelmente equilibrada e inúmeros convites para
pregar em diversas cidades do país. O que mais poderia almejar um jovem? Surge,
então, cruel e repentinamente, o difícil transe.

A bela esposa que, com absoluta convicção eu sabia, me fora dada por Deus, mergulha
inexplicavelmente num estado depressivo, perdendo até a razão. O que fazer? Os dias,
multiplicados em semanas, começaram a condicionar o meu relacionamento com Deus a
uma aguda e impertinente indagação: "Por que, meu Pai?".

Os recursos da medicina tinham sido acionados sem qualquer resultado. Não menos
vigorosa era a dor provocada pela pressão psicológica de certos irmãos na fé, que sequer
admitiam a simples idéia de um crente em Jesus se defrontar com tão dramática
situação.

Foi então que me lembrei do patriarca Jó.

Naquela inesquecível meia-noite, ao lado de minha esposa, buscava desesperadamente


uma resposta. Você pode imaginar o que significa contemplar alguém que sempre
sorrira, e repentinamente, vê-la desmanchar-se em prantos... Após três meses (que
pareceram séculos), os primeiros raios de vitória começaram a cintilar no horizonte.
Mais precisamente, a brisa refrescante da graça divina pôs-se a soprar suavemente numa
manhã consagrada ao jejum e à oração.

Para mim foi extremamente vital a orientação recebida para meditar em dois textos do
Antigo Testamento. Primeiro, na confissão do salmista: “... na angústia me deste
largueza" (SI 4.1). Depois, o Senhor despertou minha atenção para o discurso de Eliú, o
mais jovem dos conselheiros de Jó. Lá encontrei esta memorável reflexão: "Ao aflito
livra da sua aflição, e na opressão se revela aos seus ouvidos. Assim também te desviará
da angústia para um lugar espaçoso, em que não há aperto, e as iguarias da lua mesa
serão cheias de gordura" (Jó 36.15,16).

Foi como se uma fantástica descoberta houvesse acontecido naquele instante. Com
cristalina clareza o Espírito me confidenciava: "A dor te fará crescer!" Ressalto tão fiel
relato, porque, até então, havia encarado aqueles últimos dias como um doloroso
desperdício de recursos, energia, tempo. Essa, portanto, era uma mensagem essencial: a
dor teria a virtude de produzir o que os dias de bonança foram incapazes de realizar.

Naturalmente, o Pai Celeste quer suprir-nos toda e qualquer necessidade. Porém, se


você tiver a impressão de que paira sobre si um "céu de bronze", hermeticamente
fechado ao seu clamor, atribua tal situação ao fato maior de que Ele, na sua presciência
e infinita misericórdia, está arquitetando um grandioso projeto de maturidade, que nem
sempre é possível visualizar através das quase sempre ofuscadas janelas do presente.

Não raro, esse modo divino de agir e proceder o conduzirá por caminhos que nunca
antes você imaginou passar (Leia Josué 3.4). Lugares tenebrosos. Desertos causticantes.
Mesmo que já não haja mais forças, descanse em suas promessas. Logo você
reconquistará novas e rijas fibras para resistir e vencer a impetuosa tempestade.

Que a cirurgia seja lenta; não importa. Deus é criativo e originalíssimo. Ele
proporciona-nos exercícios espirituais distintos. Conhece perfeitamente nossas
diferenças e limitações. Seja como for, uma coisa é absolutamente certa: o bisturi
invisível de Deus corta profundo. A notável poetisa do século dezesseis na França,
Jeane Guyon, perseguida pela igreja oficial, foi parar na prisão. De lá escreveu para uma
amiga sobre as dores e tristezas inerentes à vida terrestre, concluindo: "Remédios
amargos, é verdade; mas tomando-os honraremos a obra da cruz".

Não será exagero admitir que o Senhor chegue até mesmo a exigir que você deixe os
pastos verdejantes como nesta passagem: "Levanta-te, e vai para a banda... que está
deserta" (At 8.26). Obedeça sem temores, confiando na promessa de que Ele o fará
"cavalgar sobre as alturas da terra" (Is 58.14). Ser maduro é possuir serenidade e
convicção mesmo em meio aos vendavais. E substituir o medo pela coragem, a dúvida
pela certeza de que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus"
(Rm 8.28).

Já diziam os romanos: "per angusta ad augusta". Pelos caminhos estreitos chega-se às


regiões de amplos horizontes. Você está disposto a acreditar que "as aflições deste
tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm
8.19)? Confie! Não obstante o impetuoso mar, Deus permanece no comando de tudo.
Esta visão determinará o seu crescimento mesmo na tribulação.

Se nas circunstâncias adversas você se recusar a descansar na soberania e no amor do


Pai celeste, estará desprezando a singular pedagogia da dor: conduzir-nos a uma efetiva
união com Cristo. "Na verdade, toda correção ao presente, não parece ser de gozo,
senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por
ela" (Hb 12.11).

Tenha sempre em mente a noção do controle de Deus sobre todas as coisas. Não queira
questionar sua onipotência quanto às circunstâncias.

Já nos referimos a Jó. O patriarca julgou-se no direito de questionar os meios que o


Altíssimo usava para executar seu propósito disciplinar. Dispôs-se, então, o Senhor a
fazer-lhe umas setenta indagações sobre o Universo. Jó, percebendo sua insensatez,
reconhece finalmente que as lições impostas pelo sofrimento, e reforçadas por um
pressuposto silêncio, serviriam para refinar-lhe o caráter, e firmar-lhe os pés numa
progressão instrutiva de fé e compreensão espiritual.

Se suas experiências, na busca de maturidade, forem assinaladas pela própria dor,


interprete-as como prova da presença disciplinadora “do Senhor. Simplesmente, abra
bem os lábios, e faça ecoar pelos espaços a canção do salmista: "Quem é Deus senão o
Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? “Deus é que me cinge de força e
aperfeiçoa o meu caminho" (SI 18.31,32).
"Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade; ora
bendigam o nome da tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor" (Ne
9.5b).

Os traços característicos de um cristão agigantam-se quando este define sua posição de


fé e louvor à glória de Deus.

A promoção espiritual segue uma trajetória que sempre culminará num eficaz
compromisso com a glória divina. Para sermos precisos, a autêntica espiritualidade
inicia-se no Calvário, passa por uma abnegação completa e efetiva-se num estilo de vida
expresso em atos de reverência e exaltação ao Senhor. Aliás, todos os princípios e
conceitos de maturidade até aqui abordados, apenas adquirem real valor à luz destes
compromissos para com a glória de Deus.

A maturidade, corretamente compreendida, tem seu nascedouro na cruz de Cristo. Não


há conexão entre Deus e a espiritualidade que se acha fora dos domínios do Gólgota.
Reflete-se aqui um aspecto do princípio biológico. Se o crescimento é de fato a
evidência definitiva de que estamos vivos, como poderia alguém desenvolver-se alheio
ao processo da concepção? Logo, onde existe crescimento, existe vida!

Nosso Senhor deu ênfase, repetida e insistentemente, sobre a necessidade de um novo


nascimento. Seu discurso consistia fundamentalmente em instruir os seguidores,
interessados em palmilhar o caminho da vida com Deus, a nascerem "da água e do
Espírito" (Jo 3.5).

É certo, então, que o amadurecimento é uma obra sobrenatural que se segue


imediatamente à conversão do indivíduo. Nascendo sob a égide da cruz, uma vibrante
inclinação à maturidade reivindicará seu lugar no coração humano. A nova vida em
Cristo toma a precedência da vida no Reino, mas não é um fim em si mesmo. Tal como
sucede no campo natural, a semente da vida destina-se, única e diretamente, ao
crescimento.

No Gólgota, foi o homem agraciado com a chave que lhe dá acesso às planícies
espirituais. Na cruz, a vitória de Cristo promoveu uma mudança radical no caráter
humano. Uma base sólida para que os vestígios do velho homem sejam erradicados. E
ali que nos apropriamos da própria mente de Cristo e do poder do Espírito para
conquistar as alturas espirituais que nos colocarão ao alcance dos tesouros celestiais.

A inalterável vontade do Senhor, em relação ao calvário, é de que o homem, contrito e


decidido ao pé da cruz, seja convencido pelo Espírito a crescer numa intimidade
exuberante com Ele em sua glória.
Deus não vive de aluguel! Não aluga, nem se aluga. A cruz deu-lhe o direito de tornar-
se proprietário legal do coração humano. Com tão fortes credenciais, Ele se acha no
direito de habitar ali.

Qualquer pessoa que fundamenta sua fé em Cristo reconhece a necessidade de permitir


a ação do Espírito em desalojar tendências e maus hábitos do antigo inquilino "para em
todas as coisas ter (Jesus Cristo) a primazia" (Cl 1.18). O plano divino, através dos
séculos, não visa apenas libertar o homem do reino das trevas, mas acima de tudo,
provocar na natureza humana uma crescente identificação com o caráter de Deus.

A expectativa de Deus é que, num ato de rendição total, nossos impulsos, sonhos e
intenções, permaneçam sob seu governo. Se desejarmos, de fato, experimentar a
liberdade e a graça operante de Cristo, teremos de nos render à sua vontade.

No decurso da caminhada para o florescimento espiritual, não pode haver mais


persuasiva e límpida rendição do que aquela capaz de projetar, no agir e no falar, a
inconfundível presença de Deus. Com razão, os que vivem comprometidos com a glória
do Senhor, são facilmente identificados como o profeta Eliseu o foi pela Sunamita: "Eis
que tenho observado que este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus"
(2Rs 4.9)

O mundo lá fora curva-se, torna-se sensível à nitidez de tais testemunhos. A


autenticação da mensagem de Cristo passa pelo crivo do estilo de vida dos que se dizem
seus discípulos. Habitados por Deus, e exercitados numa progressiva e total sujeição ao
Espírito Santo, veremos emergir de nosso ser uma inimitável vida cristã.
Verdadeiramente, de que valeria possuir Deus sem ser por Ele possuído? Qual o lucro
de um suposto progresso espiritual sem a experiência de uma completa rendição a
Cristo?

Um dos cenários de maior atração na Terra Santa é o Monte Moriá, em Jerusalém. Um


repositório natural de eventos significativos para judeus, árabes e cristãos. Quando lá
estivemos, o guia referiu-se à suposta ascensão de Maomé, num cavalo celestial, ali
ocorrida. Contou-nos também do orgulho muçulmano pela mesquita erigida naquele
sítio em 619 d.C. pelo califa de Damasco.

Esgotados seus comentários, principiamos nossas observações sobre um outro e mais


significativo edifício construído no mesmo Moriá há cerca de três mil anos. Tentamos
historiar a epopéia dos homens que ergueram o Templo de Salomão. E foi difícil ocultar
nossas emoções ao narrarmos ao amigo árabe como se deu a inauguração daquela
suntuosa casa de adoração.
A glória do Deus Todo-poderoso descera sobre aquele edifício, com tal veemência, que
os sacerdotes sequer podiam posicionar-se para ministrar (confira 1Rs 8.11). Creio,
porém, que o mais importante é que, nesta que foi a maior cerimônia religiosa do antigo
concerto, tudo estava centralizado no louvor a Deus. A glória do Senhor invadiu aquele
lugar, porque os adoradores estavam lá para tributar honras ao Deus Jeová, o Senhor da
glória.

Depois, afastando-me discretamente do grupo, sentei-me nas escadarias que dão acesso
à Cúpula da Rocha.

Dei, então, asas à imaginação e, velozmente, atravessei alguns séculos de história. De


súbito, deparei-me com outra narrativa envolvendo a glória de Deus. Refiro-me ao
episódio de Herodes Agripa I. Por três anos, graças à sua amizade com o imperador
Cláudio, reinara em toda Palestina.

Na incontida ânsia por mais popularidade, sentenciou Tiago à morte, e ordenou o


encarceramento de Pedro. Certo dia, em Cesaréia, patrocinou um imponente espetáculo
em honra à própria grandeza. Trajando a vestimenta real, Herodes fazia inflamado
discurso ao povo, que o aclamava como se ele fora um deus. Repentinamente, porém, o
anjo do Senhor o feriu. Comido de bichos, expirou no apogeu da glória.

A ilusória e trágica realeza de Herodes oferece-nos fulminante conclusão: jamais


pleiteemos a honra que é devida exclusivamente a Deus. Ele mesmo assim o diz: "Eu
sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória pois a outrem não darei" (Is 42.8a).
Que declaração! Deus não nos dará crescimento algum se, em nossas intenções, houver
resquícios que contrariem sua glória.

O louvor à glória divina representa a única garantia de prosperidade espiritual. Com


efeito, um cristão crescido na fé tudo faz "para louvor e glória da sua graça" (Ef 1.6a).
Adoração não é formalidade. É um espontâneo reconhecimento à excelsitude de Cristo
Jesus. Celebramos a maturidade quando direcionamos nossa vida à honra do Senhor.

Se você realmente deseja um crescimento espiritual expressivo, assuma o compromisso


de sinalizar todas as áreas de sua vida com a contrita confissão de que a glória pertence
somente a Deus e "dEle e por Ele, são todas as coisas; glória pois a Ele eternamente.
Amém" (Rm 11.36).
Qual o segredo de uma vida cristã cheia de graça, equilíbrio e testemunho?

Parece-nos impossível prescrever medidas específicas para se atingir a plena


maturidade. Pois a maturidade é o resultado de um acúmulo de experiências e práticas
com Deus. Mas, não obstante os inúteis atalhos há um caminho rumo aos píncaros da fé.

Rogo a Deus que você avance e apodere-se desta vida plena que Cristo oferece. E que
este caminhar não seja uma experiência esporádica, mas algo que esteja em seu dia-a-
dia. O resultado será surpreendente. Uma nova e profunda percepção da presença divina
marcará todo o seu estilo de vida.

O momento é agora!

Por que adiar o projeto de maturação espiritual que Ele lhe reservou? Ouça o chamado
dos céus e viva diuturnamente em profundas regiões espirituais. Crescer é o desafio
supremo que o Espírito Santo lhe dá neste momento.

A Caminho da Maturidade

Intimidade crescente com Deus!

Esta é a recompensa dos que andam a todo instante no caminho da maturidade.

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