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A dignidade da Pessoa Humana

Um ser de possibilidades
A pessoa humana, quando nasce, parece diferenciar-se muito pouco de um animal. Em nada
se comporta como um ser humano. Parece que reage somente a estímulos que recebe de fora. No
entanto, em tudo é diferente do irracional, pois é um ser em esperança; tem tudo para ser pessoa,
alguém com capacidade de criar, descobrir, refletir, ser responsável, participar, desenvolver-se,
aprender, sentir, racionalizar, adaptar-se ao meio, querer e principalmente, amar.
Cada pessoa humana nasce com possibilidades que podem ser desenvolvidas. Possibilidade
de pensar, julgar e decidir antes de agir, o que a diferencia dos animais irracionais. A pessoa
humana pode escolher entre diferentes opções. Não é controlada pelos instintos. Não é programada
como o animal ou como um computador. Porém, a pessoa que age instintivamente, sem pensar,
sem julgar e decidir, despersonaliza-se, isto é, não vive como pessoa, age inconscientemente, não
está livre, não é dona de si mesma. Permanece no nível animal. É programada como computador.
Age como um robozinho. Não pode ser feliz como ser humano. Para crescer como pessoa e
desenvolver suas possibilidades, é preciso levar em conta várias coisas:

1 - Você é um ser único


Você é um ser único porque de toda a criação somente você pode pensar e escolher entre
diferentes opções. Esta dignidade está baseada também numa decisão de Deus. Você foi escolhido
como filho/filha dele. A bíblia nos faz lembrar de que foi Deus que amou você por primeiro.
Você é um ser único: tem consciência, toma suas decisões, tem seus dons e capacidades,
suas preferências, sua maneira de encarar as coisas e as situações. Em meio aos bilhões de seres
humanos que há no mundo, não existe um outro igual a você. Dizem que Deus, quando criou cada
um de nós, jogou fora a fôrma. O fato de cada pessoa ser única é uma riqueza imensa. Precisamos
de cada um do jeito que é. Cada um tem dons diferentes. No trabalho pastoral de equipe nós nos
completamos.

2 - Você é um ser social


A pessoa humana não vive isolada, mas com os outros. Nenhuma pessoa é uma ilha. Ainda
que seja único, é um ser social. Vive relacionando-se. É justamente nessa inter-relação que
crescemos, que nos desenvolvemos como pessoas.
Nascemos em uma família, primeira comunidade da pessoa humana. Depois passamos a
participar de outras comunidades mais amplas: vizinhança, escola, trabalho, onde também
crescemos. Para crescer e viver, tanto espiritual quanto fisicamente, precisamos dos outros. Basta
pensar nas coisas que usamos diariamente: não passaram pelas mãos de muitas pessoas? Tudo o
que sabemos de quem aprendemos? De nós mesmos? Dos outros? E quanto a nossa educação?
Na base de tanta riqueza que cada pessoa possui, há muitas pessoas que deram muito ou
pouco de si. Quantas coisas não desfrutamos porque outros trabalharam para que pudéssemos ter
acesso a elas! Este curso é possível porque há pessoas que pensam e estão dispostas a promover
os outros. É a mensagem da parábola dos talentos. Nosso trabalho diário sempre alcança os
outros.
Todo trabalho, tudo o que se coloca ao serviço dos outros, os talentos e as qualidades, todo
participar da comunidade humana faz com que cada pessoa cresça e se desenvolva, tanto ela, em
si, quanto a comunidade.
A pessoa crescerá como ser único e social por meio de sua vivência, colocando seus dons e
qualidades a serviço dos outros. As relações entre cada um e os outros se transformam em união e
felicidade. “Quem é o teu próximo?” é a pergunta lançada por Jesus. Ver a parábola do bom
samaritano.
São de grande importância os valores vividos nestas relações, tais como: amor, justiça,
liberdade, técnica, dinheiro, saúde, educação, sexo, fraternidade, diversão, paz, etc...

3 - Ser pessoa consciente: hierarquia de valores


A pessoa humana, chamada por Deus para cultivar e fazer crescer o mundo, pode chegar a
ser uma pessoa consciente (que pensa, julga e decide antes de agir). Muitas pessoas hoje não
pensam, são manipuladas, vivem sua vida ao redor de algumas metas superficiais e pobres. Seus

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horizontes às vezes são limitados à próxima coisa que podem comprar. Deixam de responder ao
chamado de Deus, de ampliar seus horizontes e abraçar uma causa que realmente dá sentido mais
profundo à vida.
Dentro de uma cultura pós-moderna a grande preocupação é com o presente, o bem-estar,
as sensações do momento. Não há valores universais, e sim subjetivos. A atitude de muitas pessoas
é “faço o que me dá vontade”. O critério do que é certo ou errado é sentir-me bem, é o que eu sinto.
Ignoram-se as exigências da solidariedade e de amor. O significado da vida torna-se mais
superficial. Trata-se de uma cultura do prazer. Vale tudo.
Um incidente que teve repercussão internacional em 1997 exemplifica essa nova tendência
espantosa: a incapacidade de distinguir entre o bem e o mal. Quatro jovens da classe média em
Brasília decidiram de sair a passeio de carro pela cidade. No caminho passaram pela rodoviária e
viram lá alguém dormindo num canto. “Dirigiram-se para um posto e compraram um litro de gasolina.
Ainda andaram mais de uma hora dentro do carro – tempo suficiente para repensar o que iam fazer
e mudar de idéia. Chegando à rodoviária derramaram a gasolina sobre uma pessoa que estava
dormindo e ascenderam um fósforo. Pessoas que passaram perto tentaram apagar o fogo. Os
quatro jovens fugiram. Depois de três dias de insuportável sofrimento, o homem morreu num
hospital.
O caso teve repercussão nacional e internacional porque tratava-se de um líder indígena
chamado Galdino Jesus dos Santos, que depois de uma reunião com representantes do governo,
seguida por uma festa, chegou tarde no alojamento e encontrou as portas fechadas. Então decidiu
dormir na rodoviária até o dia seguinte.
Os jornalistas perguntaram para os jovens porque haviam feito isso. Um dos jovens
respondeu: “Pensamos que fosse um mendigo”. Diante disso, surge na mente uma outra pergunta:
qual foi o sistema de valores que os adultos mais próximos transmitiram a esses jovens? Qual é o
quadro de valores de que dispõe para dar direção à vida? Não tem a capacidade de distinguir entre
o bem e o mal. Esse é o grande problema de nossa época.
Uma pessoa consciente sabe que nem tudo tem o mesmo valor, o mesmo peso. É
necessário ter uma hierarquia de valores na vida. Há valores mais profundos que dão direção à vida,
dos quais não se pode abrir mão. Sabemos que estamos sempre numa encruzilhada onde temos
que escolher entre valores e contravalores, entre o círculo da vida e o círculo da morte.
Para ser uma pessoa consciente, para saber julgar as situações ao seu redor, para ter
controle e direção na vida, precisa-se de uma hierarquia de valores. Nem tudo na vida tem o mesmo
valor, a mesma importância. Há valores essenciais e valores transitórios. Há valores e princípios que
não podemos sacrificar sobre qualquer pretexto. Não podemos falar de cristianismo, de fé, de
espiritualidade sem falar de hierarquia de valores.
A pessoa que vive conscientemente é capaz de pensar e julgar quais são os valores mais
importantes que devem ser vividos na relação com as outras pessoas, com as quais convive. É
capaz de descobrir que, em suas relações com os outros, os valores mais importantes são os
essenciais: amor, justiça, liberdade, verdade, etc... Apesar das mudanças no mundo, esses valores
não mudam nunca. Os valores relativos também são muito importantes. São aqueles que nos
ajudam a viver os valores essenciais. Alguns deles são: técnica, poder, dinheiro, prazer, etc...
Quando reivindicamos os valores transitórios como mais importantes que os valores essenciais,
então temos a raiz dos grandes problemas individuais no mundo de hoje.

4 - Desafio: Escolher entre duas opções


Nasci como um ser de possibilidades:
- Pensar-julgar-agir
- Aprender
- Descobrir novos caminhos
- Escolher
- Desenvolver-se e crescer
- Amar e ser amado
- Participar e viver em comunidade
- Transformar o nosso meio
- Comunicar-se com o criador.

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Porém, podemos escolher não desenvolver essas possibilidades. Podemos escolher outro
caminho. Pois, no transcurso de nossa vida, confrontando-nos com duas opções. Podemos
escolher:

a). O círculo da vida; ou


b). O círculo da morte.

Quando há uma correta hierarquia de valores temos um círculo de vida. Quando a hierarquia
é invertida temos o círculo de morte.
a). Círculo de vida
Sabemos que Deus nos ama e quer nossa felicidade. Ele colocou dentro de nós dinamismos
e forças internas que, concretizadas, formam o círculo de vida e, conseqüentemente, realizam nossa
felicidade. Deus quer que sejamos sujeitos e donos de nosso destino e não objetos passivos,
manipulados por outros.
Podemos representar graficamente este círculo de vida da seguinte maneira:

A desordem nessa escala afeta as relações e gera desunião (por exemplo, preferir o dinheiro
à justiça, o sexo à pessoa, a bebida à saúde, etc...). É importante que nos detenhamos um pouco
para refletir.
. No ambiente em que vivemos, há condições para que nos desenvolvamos como pessoas? A
parábola do semeador nos chama a atenção para a importância do ambiente que criamos. Há
ambientes que favorecem o crescimento humano e cristão e há outros que asfixiam a planta frágil
que nasce.
. Os valores (amor, justiça, liberdade, fraternidade) são vividos ou há uma vivência de
contravalores?
. As pessoas estão sendo ajudadas a ponto desenvolver suas possibilidades de pensar, julgar,
decidir e agir, ou tudo é entregue pronto e é dito como se deve agir?

b). O círculo da morte


Porém, há uma outra opção na vida: a opção pelo círculo da morte. Há muitas pessoas que
escolhem ou estão inseridas no círculo da morte.
Observa-se, na realidade, ao lado do crescimento contínuo das pessoas, um campo negativo
que leva as pessoas ao fracasso: guerras, roubos, violências, injustiças, ódio, doenças, miséria,
opressões, tortura, vícios, etc.... Isso é o pecado.

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No círculo da morte, há uma inversão de valores. A hierarquia de valores não é seguida,
criando-se assim um círculo que não deixa o ser humano desabrochar com os dons que recebeu do
criador. Há pessoas que colocam o lucro acima da solidariedade e da dignidade da pessoa humana
e uma das conseqüências disso atinge as crianças. Pelo menos 19,8 milhões crianças brasileiras
com 0 a 14 anos (40%) vivem em famílias consideradas pobres – cuja renda mensal é de até meio
salário mínimo por pessoa da família (dados IBGE). São crianças com pouca ou nenhuma
possibilidade de vencer e ter uma vida digna. Uma análise da vida de muitos dos jovens que lotam
nossas cadeias públicas revela a influência do ambiente de pobreza na sua vida posterior: desajuste
familiar, violência e drogas.
Algumas pessoas colocam o sexo acima do amor e do respeito. Um homem vangloriava-se
de suas conquistas diante dos colegas: “Eu sempre namorei seis ou sete mulheres ao mesmo
tempo. Cada uma pensava que fosse a única namorada. Aproveitava-me bem delas e depois as
largava. Agora, na hora de jogar fora, você tem que tomar muito cuidado. Você não pode brigar.
Uma mulher ferida é muito perigosa; ela faz tudo para se vingar. Você tem que se separar numa
boa. Você tem que ter um bom papo. Nisso eu sou um verdadeiro artista”. Não havia nenhum
sentimento de remorso, de consciência pelo dano emocional causado, pelo futuro eliminado
brutalmente, por um sonho esmagado.
No círculo de morte, não há harmonia nas relações entre as pessoas. A união e o
crescimento são prejudicados. Mostra, igualmente, a escravidão de alguns indivíduos nas mãos de
grupos, ou de um grupo nas mãos de outros grupos: escravidão interior também, no sentido de não
poder usar livremente as possibilidades de pessoas humanas (materialismo, moda, superficialidade,
analfabetismo, ignorância, vício, medo, etc...).
Quem se deixa levar pelos contravalores está impossibilitado de desenvolver-se como
pessoa humana. Enquanto existir este campo negativo, existirá também a obrigação do ser humano
de lutar contra esses contravalores, para que se torne possível o nosso desenvolvimento como
seres humanos e para que possamos ajudar os outros a se desenvolverem de acordo com a
adequada escala de valores. Precisamos, junto com os outros, romper o círculo da morte.

5 - Como construir o círculo da vida?

A construção do círculo de vida vai depender de duas coisas:

a). A conversão do pecado pessoal, e / b). Conversão do pecado estrutural.

a). Conversão do pecado pessoal


O evangelho nos chama a mudar de vida, a passar do egoísmo ao amor, do individualismo à
solidariedade.

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b). Conversão do pecado estrutural
É importante levar em conta que a implantação de uma correta hierarquia de valores não
depende unicamente da boa (ou má) vontade das pessoas para construir um círculo de vida. A
maneira de organizar a sociedade, de produzir e repartir os bens e distribuir o poder condiciona as
pessoas e determina em grande parte os valores que predominam na sociedade. É o que se chama
de pecado social ou estrutural. As estruturas sociais, “necessárias em si, tendem, freqüentemente, a
fixar-se e endurecer-se em mecanismos relativamente independentes da vontade humana,
paralisando ou pervertendo assim o desenvolvimento social e gerando injustiça.
Essa maneira injusta de organizar a sociedade, para que favoreça elites privilegiadas, faz
com que a maioria das pessoas nunca possam se desenvolver enquanto seres humanos, pois lhes
faltam as mínimas condições físicas e materiais.
Esse tema deve ser aprofundado num curso futuro, quando os participantes já houverem
alcançado um estágio mais avançado de conscientização.
O desafio é articular as preocupações e problemas do cotidiano: conflito em família, crise de
namoro, auto-imagem negativa, desemprego do pai, pai que é alcoólatra, amizade, profissão,
religião, lazer, problemas pessoais, etc... com as grandes questões em nível nacional e
internacional: a política, a economia e a sociedade.

6 - Resumo
Podemos dizer que crescemos como pessoas à medida que nos relacionamos
equilibradamente com os outros, desenvolvendo nossas possibilidades de pensar, julgar, decidir
antes de agir e escolhendo o círculo de vida e não o círculo de morte. A meta de nossos grupos e
pastorais é de criar e fortalecer o círculo de vida para que a palavra de Deus possa brotar e dar
fruto. É a vocação que recebemos de Deus. Não devemos nos contentar com pequenos vôos
quando o criador nos chamou para altos vôos. Cristo rompe o círculo de morte e dar-nos novos
horizontes de esperança. É o nosso próximo tema.

Anexo 11 A

Debate em grupos sobre o valor da pessoa humana


Grupo 1
Calcular quantas pessoas foram necessárias para fazer a camisa (ou qualquer outra peça do
vestuário) que estão usando. Pensar qual é o processo e apresentá-lo em plenário.

Grupo 2
O João-de-barro é um pássaro que constrói sua casa com barro. Vocês também constroem
suas casas. Qual a diferença fundamental entre a construção da casa do João de Barro e a de
vocês?

Grupo 3
Os seguintes valores devem estar escritos em pedaços de cartolina: trabalho, amor, justiça,
moda, amizade, alimentação, técnica, solidariedade, sexo, dinheiro, fraternidade, família.
O grupo discute a seguinte pergunta: será que esses valores são iguais em importância? Se
não, os coloquem numa hierarquia de importância e expliquem porque escolheram esta seqüência.

Grupo 4
Apresentar uma dramatização de quatro minutos que mostre um fato em que o grupo atuou
como “pessoa humana” e um outro como “pessoa animal”.

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Jesus Cristo e o ser Cristão
Na última palestra sobre a dignidade da pessoa humana, falamos da realidade negativa que
encontramos no mundo: os contravalores. Eles não somente atrasam o desenvolvimento do ser
humano, mas também ameaçam destruí-lo. Muita gente está fechada dentro de um círculo de morte.
Há um desejo de liberdade. A consciência de liberdade, da dignidade do homem, conjugada a
afirmação dos direitos inalienáveis das pessoas e dos povos é uma das características
predominantes do nosso tempo. Ora, a liberdade exige condições de ordem econômica, social,
política e cultural que tornem possível o seu exercício pleno. Desde sempre o ser humano viveu
essa angústia e pediu um salvador.

1 – Libertação do círculo da morte e dos contra valores


Surge, então, um homem que corresponde perfeitamente a essas esperanças de salvação.
Seu nome é Jesus (Deus salva) Cristo (o Ungido). Esse homem veio de Deus, é a revelação de
Deus, o Filho de Deus. Sua missão é salvar e libertar as pessoas, quer dizer, dar condições às
pessoas para que se libertem do círculo da morte, dos contravalores como o egoísmo, ódio, orgulho,
libertinagem, vícios, guerras, violência, ignorância, medo, desunião, pobreza, fome, indiferença.
Jesus revela que o plano do Pai é que todos nós vivamos uma relação de amor nas situações
concretas de nossa vida.

2 – Cristo liberta, transforma as situações da vida


Cristo convive com as pessoas de seu tempo, sente os problemas alheios e participa deles.
Vejamos como ele age. Não se trata apenas de uma história. É o Cristo real que se apresenta tal
como ele é. Ele nos fala, mostra sua maneira de ser. Um Jesus humano, plenamente pessoa, que
usa de suas possibilidades e qualidades para construir o amor – valor máximo no novo reino – entre
as pessoas humanas. Por isso, ele se comove com a dor alheia, participa dos problemas e procura
solucioná-los.
Vejamos a situação da viúva (Lc 7, 11- 17). Um enterro acompanhado por muitas pessoas. O
caminho empoeirado, muita gente triste. O morto era um jovem, filho único de uma viúva. Ela chora.
Sua dor é grande, pois perdeu seu filho único. Está sozinha, sem ninguém que cuide dela.
Cristo, acompanhado de seus discípulos e de uma grande multidão, toma conhecimento
(interessa-se: pensa, posiciona-se) do que se passa (o contrário do indiferentismo e do intimismo).
Vai ao encontro da mulher (toma uma decisão e age) e lhe diz carinhosamente: “Não chores!”
As palavras de Jesus são muito fortes. Parecem fora de contexto. Como não chorar? No
entanto, estas são as palavras de Cristo: “não chores”. Consola, mostra que não lhe é indiferente o
problema. Na verdade, ele já entrou em sua vida. E quando diz “não chores”é porque ele realmente
vai transformar a dor da viúva em alegria.
Jesus mostra do que é capaz o amor: devolve a vida ao jovem. Suas palavras, que há
poucos instantes eram de consolo, agora se fazem realidade. O amor de Cristo muda
completamente a vida da viúva. O amor transforma, leva de uma situação de desgraça para uma
situação de graça, até mesmo da morte para a vida.
O amor de Jesus não é um amor de palavras bonitas, mas um amor concreto que olha para
as necessidades dos que estão ao seu lado. Vive plenamente sua relação com os outros, em saber
escutar, falar, compreender, solucionar.

3 – Jesus liberta oferecendo uma nova oportunidade e levando a pessoa a uma mudança de vida
Cristo sempre se deixa afetar pelas pessoas que encontra. Mais que ninguém, está
convencido do valor de cada uma. Aceita-as como são, dando-lhes sempre uma nova oportunidade.
Lemos em Jo 8, 1-11, o relato da mulher adúltera que, descoberta em flagrante, foi levada
pelos escribas e os fariseus até Jesus. Segundo a lei, deveria ser apedrejada. No entanto, eles
querem saber o que Cristo pensa, ele, que parece usar outras medidas.
Jesus fica pensando. Ele sabe bem que para os escribas a lei é o valor máximo. Mas, para
Cristo, o valor máximo é o amor, a pessoa!
Pensa na mulher adúltera, e também nos escribas, e julga a situação de ambos. Todos
precisam libertar-se.

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. Os escribas e os fariseus: de uma lei que escravizava;
. A mulher adúltera: do pecado que a impede de crescer e a marginaliza cada vez mais separando-a
dos outros.
Os escribas e fariseus insistem. Cristo fala. Decide agir. “Um de vocês, aquele que não tiver
nenhum pecado, atire a primeira pedra!” Somente isso.
A atitude de Jesus e a maneira de expor o problema fazem com que os escribas e fariseus
pensem em suas próprias vidas e em suas consciências. Julgam, pois, que também são pecadores,
que seu modo de agir não é correto, ainda que se ajuste à lei. Aqui, devem fazer uma escolha: optar
pela maneira de ser e de agir de Jesus Cristo (que significa aceitar o amor como valor máximo), ou
continuar como sempre foram, julgando os demais somente de acordo com a lei, sem oferecer-lhes
uma nova oportunidade. E se retiram todos, um a um (decidem e agem), até o último, começando
pelos mais velhos, de sorte que Cristo ficou sozinho com a mulher.
Jesus então volta para mulher e diz: “Mulher, onde estão os que te acusaram? Ninguém te
condenou?”
Certamente a atitude de Cristo diante dos acusadores levou a mulher a pensar e a julgar a
sua vida, que, na verdade, não era de todo correta. A resposta dela vem cheia de esperança e, ao
mesmo tempo, também de angústia: “Será que ele vai me condenar ou vai me dá uma nova
oportunidade? Na resposta que ela dá; “Ninguém, Senhor”, está presente toda a sua vontade de
poder começar de novo.
Jesus então lhe disse: “Tão pouco eu te condeno. Vá e não tornes a pecar!” Cristo vê o que
ela tinha de bom: “Vá e aprenda a amar de verdade!”
Jesus entrou na vida dos escribas e dos fariseus e na da mulher adúltera, querendo levá-los
a uma mudança de rumo. Nos primeiros dias, fazendo-os descobrir o amor, que está acima da lei,
levando-os a uma opção pelo amor, o valor da pessoa que pode se recuperar, se reintegrar de novo
à comunidade. Na mulher, fazendo-a sair do egoísmo, do isolamento, da marginalização, para
aprender a amar de verdade.

4 – Cristo liberta pelo seu modo de ser


Jesus vive plenamente os valores da pessoa humana realizada. Nele encontramos a
perfeição do desenvolvimento das possibilidades humanas de pensar, decidir e agir, sem que os
outros possam escravizar ou provocar limitações interiores, Jesus está livre de vícios e opressões
sociais (desejo de aparecer dos fariseus, o medo etc...). Sua originalidade e liberdade lhe dão uma
autoridade fora do comum. Assim, torna-se um exemplo de uma pessoa plenamente realizada, um
ideal para todos. Sua única motivação é o amor.

5 – Cristo liberta pelo seu modo de agir


Como pessoa realizada, Jesus volta-se totalmente para os outros e convive com eles, cria
relações entre eles, cria condições de amor.
Nesse sentido, Jesus ama a quem encontra, aprecia seu valor e se esforça para eliminar as
barreiras que o separa dos outros. Cristo combate o círculo da morte e todos os contravalores que
possam escravizar as pessoas: injustiça, desunião, guerra, violência, briga, indiferença, formalismo,
mentira, opressão, tortura, miséria, fome, ignorância, enfermidade, desequilíbrio mental, vício,
pecado. Esse comportamento pode ser chamado de amor, de serviço. A vida interior de Jesus é
construir condições para que as pessoas possam se encontrar novamente, se amar e, dessa
maneira, crescer juntas como pessoas.
Esse modo de agir não escraviza o ser humano, não é outra forma de opressão nem de
dominação. Pelo contrário, cria condições para que o ser humano seja de fato “livre”, dono de si
mesmo, consciente. A liberdade do ser humano é uma tarefa, uma missão a ser cumprida e não um
mero deixar-se levar pelos impulsos instintivos, que de fato podem escravizá-lo. A salvação é um
dom de Deus colocado necessariamente, em nossas próprias mãos (por exemplo: a mulher
samaritana, em Jo 4, 1 – 30; a pecadora, em Lc 7, 36 – 50).

6 – A missão libertadora de Jesus tem uma dimensão que transcende os valores humanos
O amor com que Jesus cumpre sua missão transcende qualquer dimensão humana. Nenhum
ser humano seria capaz de amar com tanto amor. É um amor de origem divina. Sem essa dimensão,
o ser humano corre novamente o risco de se fechar sobre si mesmo.

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Mas pertence à grandeza humana reconhecer que necessita da luz divina, que ilumina as pessoas,
mostra a verdadeira hierarquia dos valores, o verdadeiro sentido de toda a criação e da história
humana.

7- Cristão é aquele que optou por Jesus Cristo


Cristão é aquele que crê na pessoa de Cristo e aceita o seu estilo de vida. Crê que o amor de
Jesus lhe dá as condições necessárias para mudar a vida e crescer. Aceita a mensagem do
evangelho conscientemente e, com coragem, vai ao encontro dos outros, criando um ambiente de
amor.
Inspirado na grande personalidade de Cristo e por seu modo de viver, o cristão é chamado a
realizar concretamente essa mesma vida. Transmite a boa mensagem do evangelho, criando
condições (pelo seu jeito de ser e de agir) para que os outros seres humanos assumam sua missão
no seio do mundo.
Em outras palavras, o cristão faz Cristo estar novamente presente, oferecendo às pessoas a
oportunidade de se amarem umas às outras.

Preparação das dramatizações

(Recortar as orientações e distribuir com cada grupo)

Grupo 1
- Ler o texto: Lc 19, 1-10 e refletir
- Que libertação nos mostra Cristo nesse texto?
- Organizar uma dramatização, de quatro minutos, sobre como Jesus nos liberta hoje da escravidão
do dinheiro.

Grupo 2
- Ler o texto: Lc 7, 36 - 50 e refletir
- Que libertação nos mostra Cristo nesse texto?
- Organizar uma dramatização, de quatro minutos, sobre como Jesus nos liberta dos preconceitos
de classe, raça, sexo ou situação econômica.

Grupo 3
- Ler o texto: Lc 10, 25 - 37 e refletir
- Que libertação nos mostra Cristo nesse texto?
- Organizar uma dramatização, de quatro minutos, sobre como Jesus nos liberta hoje do desprezo
pelos marginalizados.

Grupo 4
- Ler o texto: Mt 15, 32 – 39 e refletir
- Que libertação nos mostra Cristo nesse texto?
- Organizar uma dramatização, de quatro minutos, sobre como Jesus nos liberta hoje da fome.

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