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A Piedade do Cristão 1º de julho

A Obra Duas Vezes Bendita


Pois nunca deixará de haver pobres ha terra: por isso,
eu te ordeno: livremente, abrirás a mão para o teu irmão,
para o necessitado, para o pobre na tua terra.
Deuteronômio 15:11.

"A obra de beneficência", lemos em O Maior Discurso de Cristo, "é duas vezes
bendita. Enquanto aquele dá ao necessitado beneficia a outros, é ele próprio beneficiado
em medida ainda maior. A graça de Cristo no coração desenvolve traços de caráter
opostos ao egoísmo — traços que refinarão, enobrecerão e enriquecerão a vida. Atos de
bondade praticados em segredo; ligarão corações entre si, unindo-os mais estreitamente
ao coração dAquele de quem provém todo generoso impulso. As pequeninas atenções,
os pequenos atos de amor e sacrifício, os quais emanam da vida tão suavemente como o
aroma se desprende da flor constituem parte importante das bênçãos e felicidade da
vida. E Verificar-se-á por fim que a negação do próprio eu para o bem e a felicidade dos
outros, embora humilde e não louvada aqui, é reconhecida no Céu como o sinal de
nossa união com Ele, o Rei da glória, que era rico, e contudo se tornou pobre por amor
de nós." — Págs. 82 e 83.

A obra duas vezes bendita. Que pensamento primoroso! Ao ajudar silenciosamente


aos outros, estamos ajudando a nós mesmos. Estamos desenvolvendo nosso caráter.
Estamos nos tornando mais parecidos com o Deus que foi tão generoso para conosco. E
durante o processo estamos ajudando alguém que verdadeiramente precisa de ajuda.

O ministério da ajuda silenciosa exerce influência sobre nossa própria vida. É parte
do processo pelo qual Deus toma pessoas egoístas e as transforma à Sua imagem.

Não é, porém, um processo natural. Longe disso. O natural para nós é reter o que é
nosso e construir casas cada vez maiores e comprar carros cada vez mais luxuosos. Ou
se damos algo, achamos que devemos ter ao menos um edifício ou uma sala com o
nosso nome, como lembrança de nossa generosidade.

Prestar ajuda em segredo é uma coisa bastante diferente. Mas, disse Jesus, traz sua
própria recompensa incomparável.

Ajuda-me, Senhor, a ser mais semelhante a Ti.

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A Piedade do Cristão 2 de julho

Dando com Alegria


Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o
que semeia com fartura com abundância também ceifará.
Cada um contribua segundo tiver proposto no coração,
não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama a
quem dá com alegria. II Coríntios 9:6 e 7.

É uma lei natural. Se você não planta sementes, não pode ter uma colheita. Se
planta apenas algumas sementes, terá apenas uma pequena colheita. Se planta muito,
pode esperar colher muito.

Paulo está nos dizendo que a mesma lei funciona também na esfera espiritual. Os
que são mesquinhos para com Deus e para com os outros podem esperar poucas
bênçãos em comparação a outros que são mais generosos. A generosidade é contagiosa,
e influenciamos os que estão ao nosso redor, inclusive nossos filhos. Se perceberem que
somos pães-duros, a tendência deles será crescer pães-duros e mesquinhos. O que
semeamos e como semeamos produz seus efeitos à medida que nossa influência irradia
através do espaço e do tempo.

Deus não quer apenas que demos e demos secretamente (conforme vimos nos dias
anteriores), mas quer que contribuamos com alegria.

Uma de minhas histórias bíblicas favoritas sobre dar com alegria é a história da
viúva que depositou duas pequenas moedas no tesouro do templo. O valor monetário de
sua oferta era extremamente pequeno, contudo Jesus, "chamando os Seus discípulos,
disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do
que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela,
porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento". Mar. 12:43 e 44.

Sua oferta foi reconhecida no Céu porque seu coração estava nela. Ela era uma
pessoa que dava com alegria. Isto é o que Deus quer de cada um de nós. Ele quer que
contribuamos de coração. Mais importante do que a quantidade é o espírito com que
damos nossas ofertas.

O próprio propósito de dar é tornar-nos mais semelhantes a Deus, o Pai, e Jesus, o


Filho, os quais deram de Si para que fôssemos abençoados, tanto neste mundo como no
mundo por vir. Deus deseja que eu dê com alegria.

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A Piedade do Cristão 3 de julho

O Pecado me Seguiu até à Igreja


E, quando orardes, não sereis como os hipócritas;
porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos
das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade
vos digo que eles já receberam a recompensa. Mateus 6:5.
A coisa mais chocante acerca deste texto são suas implicações a respeito da extensão
e onipresença do pecado.

Quando falamos em pecado, geralmente pensamos em algo que acontece no escuro,


num lugar distante e em segredo. Quando falamos em pecadores pensamos em viciados em
heroína, traficantes, ladrões ou adúlteros.

Mas, em Mateus 6:1-18, encontramos o pecado acontecendo justamente dentro da


igreja. Encontramo-lo em nossas devoções a Deus. Encontramo-lo em nossa oferta, em
nossa oração e em nosso jejum.

Agora você pode estar perguntando: "Se não pudermos escapar dos efeitos do pecado
na oração, onde escaparemos?" A dolorosa resposta é: Em lugar nenhum. O pecado mancha
tudo o que fazemos. O problema com os escribas e fariseus é que eles deixavam de ver a
profundidade e a extensão do pecado. Em consequência disso, o pecado os surpreendia
mesmo nos seus atos de devoção. Foi por isso que Jesus dedicou tanto tempo a esse assunto.
Em sua busca pela perfeição diante de Deus, eles caíam novamente na armadilha de
Satanás.

No Sermão do Monte, Jesus está dizendo a Seus ouvintes que os fariseus, na realidade,
não compreendiam o pecado. Pensavam que era uma ação que precisava ser evitada. Mas
repetidas vezes Ele insistiu na desconcertante verdade de que o pecado é uma tendência que
infecta toda a nossa vida. É uma egolatria vaidosa que nos segue aonde quer que vamos.
Mesmo quando alegamos estar adorando a Deus, estamos muitas vezes empenhados
ativamente na adoração de nós mesmos.

É isto que Jesus está nos dizendo por meio desses vigorosos ensinos sobre oração,
jejum e esmola. Está nos dizendo que há "pecado pecaminoso" e "pecado religioso".

As boas novas são que Ele quer nos purificar de toda a injustiça. Mas sabe que
primeiro precisamos reconhecer a gravidade do pecado, para que recorramos a Ele, através
da oração, pedindo purificação em profundidade.

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A Piedade do Cristão 4 de julho

Pecados "Vegetarianos"
Jesus declarou: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode
ver o Reino de Deus, se não nascer de novo. ... Digo-lhe a
verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, sendo
nascer da água e do Espírito." João 3:3-5, NVI.

A espécie mais esquiva e enganosa de pecado é a que se pode chamar de pecado


"vegetariano".

O que, podemos perguntar, são pecados "vegetarianos"?

São os tipos de pecados ilustrados por Jesus em Mateus 6:1-18: pecados


essencialmente ligados às práticas religiosas, tais como orar e ajudar os pobres. Eu os
chamei de vegetarianos porque eles parecem tão bons, tão saudáveis.

Mas nisto está o seu poder de pegar-nos desprevenidos. Esse pecado é enganoso
porque aparenta e dá a impressão de ser religioso. Ele pode ser verdadeiramente
religioso ou pode ser apenas outra maneira de fazer-nos sentir bem a respeito de nós
mesmos, exceto que, dessa vez, o que dá prazer não é quão ímpio eu sou, mas quão
justo sou. O poder enganador dos pecados vegetarianos reside no próprio fato de fazer-
nos sentir limpos, mesmo quando ainda estamos cheios da polpa podre do pecado: a
orgulhosa autossuficiência.

Jesus quer nos salvar até de nossa autossuficiência, até de nosso orgulho espiritual
e até mesmo da satisfação por nossas realizações na vida religiosa.

E como Ele Se propõe a fazer isso? Da mesma forma como lida com a prostituição
e o tráfico de drogas. Ele quer que nosso espirito orgulhoso caia aos pés da cruz e seja
crucificado. Ele quer que crucifiquemos as atitudes erradas da adoração e a atitude de
achar que somos superiores às pessoas das outras igrejas ou às pessoas que não têm
igreja nenhuma.

Mas além da crucificação de nossa vaidosa justiça própria, Jesus quer proporcionar
o nosso renascimento por meio da vida no Espirito. Ele quer que nasçamos de novo com
uma nova atitude. Quer que nasçamos do alto. Quer salvar-nos até mesmo dos pecados
vegetarianos. E as boas novas são que Ele é capaz de fazer isso. Ou seja, Ele pode fazê-
lo, se humildemente clamarmos, neste e em todos os dias, por Seu auxilio.

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A Piedade do Cristão 5 de julho

A Importância da Oração
Para os Fariseus
Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.
Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras
que hoje te ordeno, estarão no teu coração. Deuteronômio
6:4-6.

A passagem bíblica de hoje é importante tanto para cristãos como para judeus. Os
cristãos a reconhecem porque, quando perguntaram a Jesus acerca do maior
mandamento da lei, Ele apresentou Deuteronômio 6:5, com o seu amor a Deus.

Mas essa passagem era importante para os judeus antes de Jesus nascer. Era
importante porque fazia parte do Shema. O Shema consistia de três breves passagens da
Escritura — Deuteronômio 6:4-9; 11:13-21; e Números 15:37-41 — que tinham de ser
recitadas sob a forma de oração pelos judeus toda manhã e toda tarde.

O Shema não era a única oração que os judeus deviam recitar diariamente. Era seu
dever também recitar o que se tornou conhecido como As Dezoito, que consistiam de 18
orações. As Dezoito tinham que ser recitadas três vezes ao dia: uma vez pela manhã,
uma vez à tarde e uma vez à noite.

Os judeus eram um povo de oração. Levavam suas orações a sério. Não rezavam
apenas o Shema e As Dezoito, mas também tinham orações para quase todo
acontecimento da vida. Assim, tinham orações para antes e depois de cada refeição; e
havia orações ligadas a coisas como a luz, o fogo e o relâmpago; ao verem a lua nova,
cometas, chuva e tempestades; ao verem o mar, lagos, rios; ao receberem boas notícias;
ao usarem mobília nova; ao entrarem ou saírem de uma cidade, e assim por diante. Para
tudo havia sua oração.

Como cristãos, temos algo a aprender com isto. Precisamos também ver a
santidade de tudo que existe ou do que acontece em nossa vida. Precisamos ter o senso
da constante presença de Deus. Devemos também ter a vida inundada pela oração.

Mas também devemos acautelar-nos dos perigos nos quais os judeus caíram.
Satanás pode perverter até mesmo a oração. Mas Jesus pode fazer melhor. Pode dar
nova vida à oração e santificá-la em nossa vida diária.

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A Piedade do cristão 6 de julho

A Religião é uma Coisa Boa — Às


Vezes
Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem
vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e aumentam
as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as
primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o
serem chamados mestres pelos homens. .... [Mas] quem a si
mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se
humilhar será exaltado. Mateus 23:5-12.
A religião é uma coisa boa, às vezes. Eu digo "às vezes" porque até mesmo a
religião pode ser pervertida.

Ontem vimos que os fariseus eram praticantes entusiásticos da oração. Tinham não
apenas o Shema duas vezes por dia e As Dezoito três vezes por dia, mas também
contavam com orações específicas para quase todas as ocasiões. Isso era bom. O que
havia de mau era que alguns deles às vezes utilizavam as ocasiões de oração para se
exibirem e teatralizarem. Isso acontecia pelo menos de duas maneiras diferentes.

A primeira forma de perversão tinha que ver com o local. Já que certas orações
deviam ser recitadas em ocasiões específicas do dia, era bastante fácil para alguns
judeus planejarem as coisas de tal maneira que a hora da oração acontecesse quando
eles se encontrassem em lugar público. Assim, pareceria uma coincidência estarem eles
numa extremidade de uma rua movimentada ou num quarteirão da cidade apinhado de
gente quando chegasse a hora. O resultado: todo o mundo poderia testemunhar a
devoção de alguém orando. Era fácil, por exemplo, estar no topo da escada da entrada
para a sinagoga quando chegasse a hora. Naquele local, uma oração longa, expressiva e
fervorosa podia ser feita de um modo que muitos pudessem apreciar a piedade
envolvida.

Uma segunda forma de perversão era a maneira de fazer a oração. O sistema


judaico de oração tornava a ostentação muito fácil. O judeu orava de pé, com as mãos
estendidas, as palmas voltadas para cima e a cabeça inclinada. Quem passava não podia
deixar de ver que essa pessoa estava orando.

Os rabinos judeus mais sábios condenaram inteiramente essa teatralização. Jesus


também a condenou. Jesus sabia que orar é falar com Deus, uma experiência espiritual.
Ele quer que oremos de coração e recebamos a extensiva bênção de Deus.

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A Piedade do Cristão 7 de julho

Diferentes Maneiras de Orar


O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem
ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito,
dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos
que este desceu justificado para sua casa, e não aquele;
porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se
humilha, será exaltado. Lucas 18:13 e 14.

T alvez a melhor ilustração que Jesus apresentou para exemplificar a atitude


correta e a incorreta na oração foi a parábola do fariseu e do publicano, encontrada em
Lucas 18:9-14.

O fariseu, neste caso, era um crente superficial, aquele tipo com o qual Jesus foi
bem firme em Mateus 6 e 23. Jesus nos dá um breve, mas notável perfil desse religioso
afetado. Diz-nos que ele confiava em suas capacidades e realizações justas, e que
desprezava os outros que não haviam alcançado sua "exaltada" condição espiritual. Ele
orou, enfatizando o fato de não ser pecador como os demais, inclusive como um
cobrador de impostos que, por acaso, estava também orando nas proximidades.

O fariseu continuou a alistar suas devoções religiosas. Era dizimista fiel e jejuava
duas vezes por semana. De modo geral, ele estava bastante satisfeito consigo.

Em contraste, Jesus descreve o cobrador de impostos como alguém que,


humildemente, orava e suplicava a Deus que fosse misericordioso para com ele devido
às suas muitas faltas.

É muito interessante o que Jesus tem a dizer sobre essas orações. O fariseu, disse
Jesus, não orava a Deus, mas orava "consigo". Estava apresentando uma carta de
recomendação, e chamava isso de oração. Lembramo-nos do Rabi Simeão ben Jochai,
que afirmava: "Se houver apenas dois homens justos no mundo, esses dois somos eu e
meu filho; se houver apenas um, esse sou eu."

O publicano, por outro lado, orava a Deus. Não apenas isso, mas era ouvido por
Deus. Saiu dali justificado e perdoado, enquanto o fariseu permaneceu em seu
pecaminoso orgulho, perdido, sem ao menos dar-se conta disso.

De que maneira eu oro? É a pergunta que devo fazer depois de ler essa parábola.
Como devo orar? Como posso hoje melhorar minha vida de oração?

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A Piedade do Cristão 8 de julho

Dizer e Praticar
Então, falou Jesus às multidões e aos Seus discípulos:
Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e
fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos
disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque
dizem e não fazem. Mateus 23:1-3.
É mais fácil falar do que praticar. Todo pai sabe disso; todo marido e mulher, todo
pastor, todo chefe. Mas praticar é o ponto principal. Praticar é tudo. Ainda assim, eu
preferiria apenas falar.

E assim procediam os fariseus. Muitas de suas ideias eram bastante úteis e


verdadeiras, mas eles deixavam de viver o espírito de sua religião. Guardavam as leis e
praticavam as devoções religiosas externamente, embora demasiadas vezes lhes faltasse
profundidade interior.

Esse era o problema da oração mencionada em Mateus 6:5. Eles oravam não
somente porque desejavam falar com Deus, mas também porque queriam que os outros
pensassem que eles eram homens de oração.

O ponto importante para nós hoje é que algumas vezes agimos com a mesma
motivação dos fariseus do passado. Algumas vezes também oramos para efeitos
externos. Também somos por vezes tentados a ter a reputação de uma pessoa que ora
divinamente bem ou que é profundamente "espiritual". Jesus, no Sermão do Monte, diz
que a fonte dessa ambição não é Deus. Ao orarmos, não devemos concentrar nosso
interesse em nós mesmos ou em nossa reputação, mas nAquele a quem oramos.
Podemos não estar orando ostentosamente nas esquinas das ruas, nem fazendo tocar
trombeta diante de nós para que todos saibam que estamos orando, mas algumas vezes
permitimos que saibam que estamos cansados (ou refeitos, conforme o caso) porque
levantamos às 3:00 da madrugada para orar fervorosamente a Deus. Essa tática é sutil,
mas não é secreta.

Outros caem na armadilha da oração farisaica nas orações públicas das manhãs de
sábado. Eles gostam que os outros comentem como foi "bela" a sua oração. Tudo o que
realmente conta, seja em público ou em particular, é a oração sincera. É mais importante
que as orações sejam comoventes do que belas. É absolutamente decisivo que o ponto
focal delas seja Deus. Senhor, hoje, como no passado com Teus discípulos, nosso
coração clama: "Ensina-nos a orar."

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A Piedade do Cristão 9 de julho

Ore a Deus
Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e,
fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e
teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Mateus 6:6.
P arece estranho que eu tenha intitulado a leitura de hoje de "Ore a Deus". Mas foi
isso o que Jesus nos disse para fazer em Mateus 6:6. Deves orar a "teu Pai".

Mas, perguntará você, a quem mais poderíamos orar? Suponho que há uma porção
de respostas para essa pergunta. Jesus forneceu uma em Lucas 18:11 na história do
fariseu e do publicano. Ele disse que o fariseu orava "para si mesmo", em vez de orar a
Deus. O simples fato de passarmos tempo em oração não significa que estamos orando a
Deus.

Há vários pontos que devemos considerar ao orar a Deus. O primeiro é o que se


pode pensar como processo de exclusão. Quando oramos ao Pai, devemos excluir certas
coisas. Precisamos deixar fora a multidão de pensamentos e cuidados diários que criam
obstáculos entre nós e Deus. Precisamos nos concentrar na comunicação com Ele, assim
como prestamos atenção total a qualquer pessoa que respeitamos e com a qual nos
importamos. Na oração secreta, precisamos, por assim dizer, entrar num quarto com
Ele, a fim de que somente nós dois fiquemos conversando. Precisamos buscar a Deus e
louvá-Lo de todo o nosso coração, mente e alma. Esse quarto pode ser um aposento de
verdade ou pode ser um ônibus superlotado. Podemos orar a Deus de maneira secreta e
exclusiva em qualquer lugar.

Um segundo ponto que precisamos considerar, ao pensarmos em orar a Deus, é que


quando oramos, entramos realmente em Sua presença. Estamos na sala de audiência do
Infinito. E o Pai, sendo Pai, preocupa-Se conosco exatamente como nós nos
preocupamos com nossos filhos. Ele nos escuta!

Terceiro, quando oramos a Deus, podemos ter confiança. Podemos nos aproximar
confiantemente do trono da Graça, por causa do que Jesus fez por nós no Calvário e está
fazendo por nós no Céu. Estas são as boas novas. Por que então não orar a Deus com
maior frequência?

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A Piedade do Cristão 10 de julho

Lugar Secreto de Oração


E, despedidas as multidões, subiu ao monte, afim de
orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava Ele, só. Mateus
14:23.

Jesus era um homem de oração. O Novo Testamento chama frequentemente a


atenção para o fato de que Ele Se afastava para passar toda a noite em oração. Houve
ocasiões em que Ele orou em público, como em João 17. Ele não subestimava o papel
da oração pública, mas também acreditava na oração particular e a praticava. Algumas
vezes Ele sentiu necessidade de ficar sozinho com o Pai.

Nós temos a mesma necessidade. Precisamos afastar-nos dos cuidados da vida para
estar com Deus. Ir à igreja, aos cultos de oração e à Escola Sabatina é bom, mas todo
cristão precisa, individualmente, de um tempo especial na sala de audiência do Rei.
Precisamos disso para louvar o Seu nome, agradecer-Lhe por Sua bondade, confessar
nossos pecados, pedir força, interceder pelos outros e apenas conversar informalmente
com Aquele que Se importa.

Em resumo, cada um de nós precisa, cada dia, separar tempo sagrado para oração
em nosso lugar "secreto". Precisamos levar nossa vida devocional a sério. Precisamos
nutrir nossa natureza espiritual, assim como nos nutrimos física, social e mentalmente.
E essa nutrição exige tempo. A nutrição apropriada não é obra de um breve minuto.

Muitos acham que a melhor hora para seu período secreto com o Pai é bem cedo de
manhã. Acham que, se deixarem o momento devocional para mais tarde, o fluxo dos
deveres urgentes acabam por torna-lo impossível ou irregular.

Durante nosso momento com Deus, precisamos não apenas falar a Ele em oração,
mas ouvir o que Ele diz por meio de Suas palavras na Bíblia. Esse ouvir deve ser mais
profundo do que apenas ler a meditação matinal, algumas páginas de Ellen White ou a
lição da Escola Sabatina. Precisamos seguir o conselho de Ellen White e tornar-nos o
povo da Bíblia.

Dediquei um dia a esse assunto porque os cristãos adventistas do sétimo dia estão
ficando cada vez mais presos aos negócios deste mundo. Isto tem feito com que se dê
menos ênfase à devoção pessoal. Hoje é o dia de mudar essa situação.

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A Piedade do Cristão 11 de julho

Qualidade, e Não Quantidade


E, orando, não useis de vãs repetições, como os
gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão
ouvidos. Mateus 6:7.

E uma coisa maravilhosa orar várias vezes por dia e até mesmo ter horários fixos
para a oração particular. Daniel, em Babilônia, orava três vezes ao dia, com o rosto
voltado para Jerusalém. E os cristãos de nosso tempo dão graças pelo alimento e fazem
preces ao se levantar pela manhã e ao ir para a cama à noite.

Há, porém, um perigo nisto tudo. É fácil a oração tornar-se formal em vez de
sincera. Ela se torna algo que você faz em certas ocasiões ou em determinados
momentos. Em consequência disso, fica fácil resmungar a oração de uma maneira
ininteligível. Em minha própria vida tem havido ocasiões em que as orações à mesa ou
ao pé da cama se tornaram tão rotineiras que eu não conseguia lembrar se havia orado.

A oração rotineira tem seus perigos. Em nosso texto de hoje, Jesus fala sobre "as
vãs repetições" na oração, ou, conforme traduz a Nova Versão Internacional, alguns
"pensam que por muito falarem serão ouvidos".

Isto tem sido verdade em muitas culturas. Assim é que em I Reis 18:26 lemos que
os profetas de Baal clamaram: "Ah! Baal, responde-nos!" por quase meio dia. E em
Atos 19:34 lemos como a multidão dos efésios gritaram por quase duas horas: "Grande
é a Diana dos efésios!" E há alguns cristãos que dizem repetitivamente suas orações por
meio de um rosário, enquanto os hindus usam as contas de oração com o mesmo
propósito. Na história protestante, muitas vezes tem-se pensado que a duração de uma
oração é uma indicação de devoção.

Jesus nos diz que todas essas ideias estão erradas. Deus quer que oremos a Ele, da
mesma maneira como o fazemos quando conversamos inteligentemente com nossos
melhores amigos. Não devemos julgar nosso sucesso pelo palavreado empregado nessas
situações, nem devemos pedir as coisas num estilo repetitivo. Não. Sabemos que Deus
nos ouve e Se importa conosco. Em consequência disso, derramamos perante Ele o
nosso coração.

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A Piedade do Cristão 12 de julho

O Pai Ideal
Porque Lho Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes
necessidade, antes que peçais. Mateus 6:8.
Omito algumas palavras do início do nosso texto de hoje. Na verdade, ele começa
assim: "Não vos assemelheis, pois, a eles."

A eles, quem? Àqueles que no verso 7 pensavam que pelo seu muito falar Deus os
ouviria.

Não sejam como eles. Por quê? Porque "o vosso Pai, sabe o de que tendes
necessidade, antes que Lho peçais".

Nesse verso, a palavra "Pai" é usada em seu verdadeiro sentido. Alguns de nós que
lemos essa passagem somos pais. Outros são mães. Nenhum de nós (caso sejamos
normais) deixamos nossos filhos mendigarem aquilo que precisam na vida. Na verdade,
até os dissuadimos de implorar e choramingar para conseguirem que querem. Não
queremos reforçar esse tipo de atitude manipuladora.

Além disso, somos bastante perspicazes no que diz respeito às necessidades de


nossos filhos. Muitas vezes conhecemos suas esperanças, temores e desejos. Não apenas
fomos filhos um dia, mas temos criado esses filhos especiais desde a infância. Em geral,
sabemos do que precisam.

Mas, de qualquer jeito, gostamos que eles nos peçam. É um sinal de


reconhecimento de que somos pais cuidadosos e protetores. Além disso, é uma
indicação, da parte deles, de que nos respeitam. É importante que eles digam "por
favor" e "obrigado". O pedido e o agradecimento que fazem é para eles um lembrete de
que os amamos. Naturalmente, não damos tudo o que pedem. Nem tudo quanto desejam
seria bom para eles.

Nosso relacionamento com Deus se assemelha muito à relação saudável do pai


com o filho, exceto no aspecto de que Deus realmente sabe tudo o que desejamos e tudo
o que seria bom para nós.

Embora Ele não queira que mendiguemos as coisas, deseja que nos dirijamos a Ele
de maneira respeitosa em nossas petições. É prazer de nosso Pai atender às nossas
necessidades da maneira mais saudável e útil.

O fato de Deus ser nosso Pai é um dos ensinamentos mais importantes do Novo
Testamento. Hoje precisamos vê-Lo mais como um amante Pai do que como um juiz
vingativo. Ele é o Deus que Se importa o bastante para responder às nossas orações.

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A Piedade do Cristão 13 de julho

Pedir é Importante
Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai,
procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos
anos que te sirvo... e nunca me deste um cabrito sequer para
alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que
desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar o
novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre
estás comigo; tudo o que é meu é teu." Lucas 15:28, 29 e 31.

Que tragédia!
O filho mais velho da parábola havia ficado em casa a vida toda, mas não
compartilhara das bênçãos do pai.

Por quê? Porque nunca as pediu. Trabalhou duro para guardar a lei (verso 29) e
evitar determinados pecados (verso 30), mas deixou de compreender a generosidade do
pai. Não percebeu que o pai anelava derramar suas bênçãos sobre cada filho.

Que tragédia viver na casa do pai, mais como um empregado do que como um
filho! Precisamos lembrar-nos das palavras que o pai disse ao filho: "Tudo o que é meu
é teu."

Deus quer nos abençoar. Por que somos tão relutantes em pedir? Por que não
somos encontrados mais vezes em oração? "Tudo o que é meu é teu" é a mensagem de
Deus.

Uma das grandes lições do Sermão do Monte é a de que Deus é nosso Pai. Insiste-
se repetidamente nessa lição. Precisamos hoje tomar nosso coração e ir a Deus em
oração reivindicar nosso direito de primogenitura como filhos do Rei.

Deus quer que tenhamos "fome e sede" de Seus dons; quer que "oremos sem
cessar". Ele é nosso Pai e Se deleita em abençoar Seus filhos. Está mais pronto a dar do
que estamos para receber. Hoje é o dia em que podemos começar a crescer na oração da
fé. Aproximemo-nos de nosso Pai, buscando Sua bênção para nossa vida e para a vida
dos que estão ao nosso redor. Lembre-se: Estamos lidando com Alguém que possui
coração infinitamente mais amoroso do que o melhor pai terreno. Ele quer que nos
acheguemos a Ele com fé. Quer que vamos a Ele como filhos humanos vão aos pais
com seus pedidos.

200
A Piedade do Cristão 14 de julho

Importância da Oração
Para os Cristãos
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos
Céus, santificado seja o Teu nome. Mateus 6.9.

Entre Mateus 6:9 e 6:13 temos um dos ensinamentos mais importantes de nosso
Senhor. Encontramos aí e em Lucas 11:1-4 a Oração do Senhor (o Pai Nosso). Em
Lucas, os discípulos vieram pedir a Jesus que lhes ensinasse a orar. Afinal de contas,
alegavam, João Batista havia ensinado os discípulos dele a orar.

Esse é um intercâmbio importante. Sugere não somente a importância da oração,


mas também que a oração pode ser ensinada. E Jesus aceita essa pressuposição quando
passa a ensiná-los a orar.

Orar não é apenas um "punhado de palavras" que resmungamos de maneira


desatenciosa ou entusiástica. Não, a oração é algo com ordem e estrutura.

Examinaremos esse pensamento amanhã. Hoje queremos apenas meditar sobre a


importância da oração em nossa vida pessoal.

O tema da oração nos coloca frente a frente com um dos assuntos mais vitais e
desafiadores relacionados com a vida cristã. Certo escritor observou que "orar é, sem
sombra de dúvida, a mais elevada atividade da alma humana. O homem alcança sua
grandeza e elevação quando, pondo-se de joelhos, fica face a face com Deus".

O mesmo autor continua a observar que nenhuma atividade da vida cristã é mais
fácil e mais natural do que a oração. Grande parte dos outros aspectos da vida cristã tem
seus equivalentes entre os não cristãos. Mesmo as pessoas que jamais ouviram falar de
Jesus podem exercer autodisciplina e espírito filantrópico. Mas nada disso se compara à
oração sincera.
.
Como vão as coisas entre você e Deus? Você gosta de falar com Ele como faria a
um amigo, ou fica pouco à vontade na Sua presença? Eis agora uma questão importante.
Algumas pessoas têm muita coisa a dizer para Deus quando oram em público, mas
muito pouco em particular.

Faz sentido dizer que a oração é uma prova de nossa vida espiritual. É ali que
descobrimos se realmente amamos a Deus.

Senhor, a exemplo dos discípulos, pedimos que nos ensines a orar.

201
A Piedade do Cristão 15 de julho

Orar com a Mente


Orarei com o espírito, mas também orarei com a
mente. I Coríntios 14:15.

Algumas pessoas ficam chocadas com o fato de que algo tão espiritual quanto a
oração tenha sistema ou estrutura. Mas esse próprio fato é um dos aspectos mais
importantes na Oração do Senhor.

Quando os discípulos pediram que Cristo lhes ensinasse a orar, Ele apresentou uma
obra-prima da comunicação humana. A oração segue esse padrão. Isso fica claro a partir
das palavras introdutórias de Jesus: "Portanto, vós orareis assim" (Mat. 6:9). A seguir
Ele fornece uma oração modelo que apresenta todos os elementos essenciais de uma
oração.

Embora não seja errado recitar a Oração do Senhor caso seja feita com significado
e reflexão, é melhor considerar a Oração do Senhor como um modelo que nos fornece o
esboço contendo os elementos essenciais que devem estar presentes, tanto na oração
pública como na particular.

Como tal, a oração esboçada por Jesus é bastante parecida com o roteiro utilizado
por muitos pregadores e outros oradores públicos. Cada parte do roteiro fornece um
cabeçalho de coisas que precisam ser lembradas na oração. Cada ponto deve ser
expandido e preenchido durante oração propriamente dita.

Talvez a abrangência da Oração do Senhor seja sua característica mais ressaltada.


Ela abrange todos os elementos, tanto de nosso relacionamento com Deus e com os
outros, como de nossas necessidades pessoais.

Até mesmo a ordem das petições na Oração do Senhor é de importância decisiva


para nossas orações. As três primeiras petições têm que ver com Deus e Sua glória,
enquanto as três petições secundárias têm que ver com nossas carências e necessidades
humanas. A Deus, portanto, deve ser dado o primeiro e supremo lugar; depois, e
somente depois, devemos voltar-nos para nós mesmos e para nossas necessidades e
desejos. Somente quando Deus recebe o lugar que Lhe é devido, as outras coisas se
encaixam.

Agradecemos-Te hoje, ó Senhor, por tomares tempo para nos ensinar orar, pois
levas a sério nossas necessidades. Queremos aprender de Ti, até mesmo em nossa vida
de oração.

202
A Piedade do Cristão 16 de julho

Escolher um Pai é Importante


Ele não Se envergonha de lhes chamar irmãos.
Hebreus 2:11.

Nem todos os seres humanos possuem o mesmo pai. Jesus disse aos líderes judeus
de Seus dias: "Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos.
Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há
verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai
da mentira." João 8:44.

De acordo com a Bíblia, todos os seres humanos vêm a este mundo como membros
da família do diabo. As pessoas nascem egocêntricas, autossuficientes e orgulhosas,
precisando de conversão e transformação. Foi por isso que Jesus disse que precisamos
nascer de novo da água e do Espírito.

Entrar na família de Deus é uma escolha consciente. A Bíblia ensina que o batismo
é símbolo da morte e ressurreição dos que fazem essa escolha. Quando entramos para a
família de Deus, morremos para as velhas maneiras de pensar e de agir, e aceitamos os
princípios do reino do Céu.

Quem é que pode verdadeiramente orar a Oração do Senhor? Somente aqueles que
podem dizer com toda a sinceridade: "Pai nosso." Mas quem pode realmente orar
assim? Somente os que estão comprometidos com Jesus, somente os que nasceram do
alto, somente os que estão vivendo a vida "sobrenatural" das Bem-aventuranças.
Somente os cristãos de coração podem verdadeiramente orar a Oração do Senhor.

Parte da alegria de tornar-nos cristãos consiste no fato de que mudamos de pai e


mudamos de deus. Abandonamos nosso antigo pai, o diabo, pelo Pai de Jesus. Por causa
disso, o livro de Hebreus nos diz que Jesus nos chama de irmãos e irmãs. Passamos a
fazer parte da família de Deus. Renunciamos a nosso pai natural para sermos adotados
por nosso Pai celestial.

"Pai nosso" é uma bela expressão. Significa proximidade entre Deus e nós.
Representa o lado pessoal de Deus, o lado suave. Como um pai e uma mãe amam seus
filhos, assim Deus nos ama. É um maravilhoso privilégio ser capaz de chamar Deus de
nosso Pai.

203
A Piedade do Cristão 17 de julho

O Lado Distante de Deus


Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança
e a misericórdia para com os que Te amam e guardam os
Teus mandamentos. Daniel 9:4.

Vimos ontem que o "lado próximo" de Deus, Seu "lado suave" é representado
pela expressão "Pai nosso". Mas Deus não tem apenas um lado próximo; Ele também
tem um "lado distante", que é representado na Oração do Senhor pelas palavras "que
estás no Céu".

Uma das grandes tensões da fé cristã é que Deus está tanto perto quanto longe; Ele
é tanto imanente como transcendente; tanto "nosso Pai" como o governante do
Universo.

É importante manter ambos os lados em equilíbrio quando lemos as Escrituras e


buscamos aplicá-las em nossa vida diária. Os que enfatizam apenas o lado terno de
Deus interpretam-nO como um Papai Noel poderoso ou uma meiga vovozinha.
Contudo, os que enfatizam apenas Seu lado distante convertem-nO num juiz com mão
de ferro, destituído de toda misericórdia e brandura.

O paradoxo de Deus é que Ele tem mais de um lado. Ele é próximo e amorável,
mas, como qualquer bom pai, Ele deve ser firme. A bilateralidade de Deus se reflete na
oração de Daniel em nosso texto de hoje. Ele é verdadeiramente "grande e temível" para
aqueles que continuam a praticar esse pecado que é destruir vidas humanas, o meio
ambiente, a paz mundial e mesmo o próprio ser. Se Deus verdadeiramente é amor, Ele
terá que algum dia deter essa destruição. Para os que desconsideram Seus princípios,
Deus pode ser e será "grande e temível".

Mas, conforme Daniel observa, Deus também guarda Seu pacto de "misericórdia"
com aqueles que aceitam os Seus princípios e se unem à Sua família. Deve-se notar que
Ele deseja que todos os seres humanos entrem para Sua família e experimentem Seu
amor. Mas Ele não os forçará. O amor não pode ser obtido à força, e ainda assim
continuar sendo amor.

A verdade maravilhosa é que Deus tanto é nosso Pai como o grande Deus do
Universo. Essa grandeza não representa nenhuma ameaça para os que O amam. Como
cristãos, podemos regozijar-nos tanto na proximidade como na distância de Deus.

204
A Piedade do Cristão 18 de julho

O Formato da Oração
Um dos Seus discípulos Lhe pediu: Senhor, ensina-nos
a orar... Então, Ele os ensinou: Quando orardes, dizei:
Pai, santificado seja o Teu nome. Lucas 11:1 e2.
A oração do Senhor representa a oração ideal de Jesus. Ela foi dada porque os
discípulos pediram a Jesus que lhes ensinasse a orar. Podemos, portanto, aprender muita
coisa dessa grande oração, tão ampla em seu objetivo e, contudo, tão breve em sua
expressão.

A oração, conforme registrada em Mateus 6:9-13, é composta de sete petições:

"Santificado seja Teu nome." "Venha o Teu reino." "Faça-se a Tua vontade, assim
na Terra como no Céu." "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje." "Perdoa-nos as nossas
dívidas." "Não nos deixes cair em tentação." "Livra-nos do mal."

Examine a oração por um minuto. Que palavra você encontra em cada uma das três
primeiras petições, mas que não se acha nas quatro últimas? Da mesma forma, que
palavra você encontra nas quatro últimas, mas que se acha ausente nas três primeiras?

As respostas para essas perguntas são "Teu ou Tua" e "nos", respectivamente.


Esses pequenos pronomes nos dizem muita coisa sobre o formato da oração. A oração
tem uma ordem.

A verdadeira oração sempre começa com Deus e a adoração de Sua Pessoa. Temos
aqui uma lição. Jamais devemos começar a orar preocupados com nós mesmos.

Somente depois de nos dirigir a Deus e a Seus interesses é que a oração passa para
as petições referentes às necessidades humanas. Jesus volta a pôr o foco da oração em
Deus, onde ela deveria estar, já que Ele é a fonte de tudo quanto existe.

Descobrimos que é fácil demais deixar que nossas orações se distanciem de Deus e
dos interesses mais amplos do reino, para se centralizarem nos seres humanos. Note
que, aproximadamente, metade da oração é dedicada a petições relacionadas a Deus.

E para que, ao tomarmos essa oração como base, não cheguemos à conclusão de
que toda oração deva ser breve, precisamos lembrar que Jesus passava noites inteiras em
oração.

205
A Piedade do Cristão 19 de julho

O Significado do Nome
Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós,
porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor, nosso
Deus. Salmo 20:7.

Nos templos bíblicos o nome de uma pessoa era mais representativo do que nas
culturas modernas. O nome era símbolo de todo o caráter da pessoa.

A primeira petição da Oração do Senhor diz que o nome de Deus deve ser
santificado. Qual é Seu nome? Qual é Seu caráter?

Os nomes de Deus na Bíblia são muitos. Entre os mais comuns se encontram El ou


Elohim, que enfatiza Sua "força" ou Seu "poder". Um segundo nome comum para Deus
é Yahweh (ou Jeová), que significa "Aquele que existe por Si mesmo".

Esses nomes nos ajudam a começar a ver o caráter de Deus, mas o registro bíblico
nos apresenta mais alguns. D. Martyn Lloyd-Jones menciona diversos nomes: "O
Senhor proverá (Jeová-jireh), 'o Senhor que sara' (Jeová-rafa), 'o Senhor nossa bandeira
(Jeová-nissi), 'o Senhor nossa paz' (Jeová-Shalom), 'o Senhor nosso pastor' (Jeová-
ra'ah), 'o Senhor nossa justiça' (Jeová-tsidkenu) e ... 'o Senhor está presente' (Jeová-
shammah)."

Todos esses nomes divinos se encontram no Antigo Testamento. O nome de Deus


simboliza a natureza, o caráter e a personalidade dEle, conforme têm se revelado à
humanidade. Pelo fato de Deus ser quem é, podemos repousar seguros em nossa fé. Foi
por isso que o salmista pôde escrever: "Em Ti, pois, confiam os que conhecem o Teu
nome, porque Tu, Senhor, não desamparas os que Te buscam." Sal. 9:10. Encontramos
um pensamento semelhante sobre o fiel cuidado de Deus em nosso verso bíblico de
hoje: "Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o
nome do Senhor, nosso Deus." Sal. 20:7.

A vida de Jesus nos fornece novos significados para o nome de Deus. Em João
17:6 Jesus disse: "Manifestei o Teu nome aos homens que Me deste do mundo. Eram
Teus, Tu Mos confiaste, e eles têm guardado a Tua palavra." Jesus veio nos ajudar a
compreender mais plenamente o nome de Deus e seu significado. Veio nos ajudar a ver
o caráter de Deus.

"O nome" de Deus é rico em significado. É um nome no qual podemos depositar


fé. Mas é também um nome que merece respeito.

206
A Piedade do Cristão 20 de julho

Tratando "o Nome" Descuidadamente


Não tomarás o nome do Senhor; teu Deus, em vão,
porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu
nome em vão. Êxodo 20:7.

Ainda me lembro de como fiquei chocado. Eu estava morando num navio


mercante de treinamento fora da Baía de São Francisco, mas tinha permissão para ficar
em casa nos fins de semana.

Eu mal podia esperar para pegar o telefone e ligar para a garota que havia
encontrado em minha última saída Eu sabia que ela era cristã, de modo que exerci
bastante cuidado com minha linguagem, procurando causar uma boa impressão. Esse
asseio linguístico limitava bastante meu vocabulário comum, embora o esforço
parecesse valer a pena.

Essa foi a razão por que fiquei chocado. Depois de todo o esforço que fiz por causa
dela, ela ainda não ficou satisfeita. Afirmou, em termos bem definidos, que se eu
quisesse vê-la de novo, devia parar de tomar o nome do Senhor em vão.

Isso realmente me pegou desprevenido. "O que você quer dizer?" perguntei com
toda a sinceridade. Eu nunca havia escutado essa expressão antes.

Ela respondeu rapidamente que era errado usar palavras como "Deus" e "Jesus
Cristo" de maneira descuidada, que beirava a profanidade. Foi assim que recebi minha
primeira lição sobre a importância do "nome" de Deus.

Foi uma lição importante e que tem tido grande significado para mim através dos
anos. O nome de Deus é um belo nome. Deus é um Deus maravilhoso. Por que deveria
alguém usar o Seu nome de maneira descuidada e profana?

O modo como usamos o nome de Deus representa o modo como O consideramos.


Se eu fosse o diabo faria com que as pessoas usassem o nome divino de maneira
desleixada. Esse seria o primeiro passo para levá-los a considerar a Deus de maneira
descuidada, e por fim a viver vidas descuidadas e tratar os outros descuidadamente.

Afinal de contas, a maneira como eu me relaciono com o nome de Deus é a


maneira como eu me relaciono com o próprio Deus. O nome divino representa minha
salvação, minha esperança, meu tudo. Quero louvar o nome de Deus pelo que Ele tem
feito por nós.

207
A Piedade do Cristão 21 de julho

Santificando o Nome
Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, Lhe
exaltemos o nome. Salmo 34:3.

O que significa "santificar" o nome de Deus? Uma forma de captar o sentido é


reparar como a palavra é traduzida em diferentes versões bíblicas. O Novo Testamento
do Século Vinte diz "que Teu nome seja mantido santo". A tradução de Moffatt diz:
"Reverenciado seja Teu nome." E na tradução de Phillips a frase é "que Teu nome seja
honrado". Santificar o nome de Deus é reverenciá-lo, tratá-lo com respeito, honrá-lo. É
tratá-lo como algo santo em contraste com algo ordinário ou comum.

O significado torna-se mais claro quando vemos o modo como a palavra é


empregada. Encontramos a mesma palavra no mandamento do sábado na tradução grega
de Êxodo 20:8. O mandamento é lembrar-se do sábado para o santificar. O sábado é um
dia diferente dos outros; deve receber tratamento diferente dos outros dias. Deve ser
santificado. Outro exemplo extraído do Antigo Testamento vem da instrução para
consagrar os sacerdotes. Os sacerdotes deviam ser diferentes dos outros homens porque
eram separados para uso santo.

Assim acontece com o nome de Deus. Os cristãos devem santificar o nome de


Deus pelo fato de Deus ser quem Ele é. Ellen White sugere que "para santificarmos o
nome de Deus é necessário que as palavras em que falamos do Ser Supremo sejam
pronunciadas com reverência. 'Santo e tremendo é o Seu nome.' Salmo 111:9. Não
devemos nunca, de qualquer modo, tratar com leviandade os títulos ou nomes da
Divindade. Ao orar, penetramos na sala de audiência do Altíssimo, e devemos ir à Sua
presença possuídos de santa reverência. Os anjos velam o rosto em Sua presença. ...
Quanto mais deveríamos nós, seres finitos e pecadores, apresentar-nos de modo
reverente perante o Senhor, nosso Criador". — 0 Maior Discurso de Cristo, pág. 106.

Mas santificar o nome de Deus não se restringe apenas à hora da oração. Inclui
também nossa linguagem durante todo o dia. Além disso, santificar o nome abrange
todas as nossas ações, pois somos representantes de Deus na Terra. Em todo ato da vida
devemos manifestar-Lhe o caráter, pois portamos o Seu nome.

208
A Piedade do Cristão 22 de julho

"Temendo a Deus"
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria;
revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor
permanece para sempre. Salmo 111:10.

O que significa dizer que devemos "temer" a Deus?


Lembro-me do primeiro ano em que ensinei na Universidade Andrews. Eu tinha na
classe uma adorável jovem não cristã que acabara de sair de uma prolongada
experiência hippie. Uma das exigências para seu certificado de magistério era que
frequentasse a cadeira de filosofia da educação. Na Universidade Andrews essa filosofia
se fundamenta no contexto da visão bíblica do mundo, e pela primeira vez essa
estudante tinha a oportunidade de examinar a Bíblia.

Ela não tinha ido muito longe em sua leitura quando topou com a ideia de temer a
Deus. Na manhã seguinte ela estava me pressionando sobre o significado de temer a
Deus.

Fiquei feliz em dizer-lhe que temer a Deus não significa ficar com medo dEle, mas
ter por Ele temor reverente por causa do que Ele é. Significa profundo respeito por
Deus. Essa é a espécie de temor relacionada à santificação do Seu nome. Naturalmente,
segundo a Bíblia, os que desprezam a Deus terão finalmente de experimentar o temor do
tipo menos desejável.

Podemos aprender aqui algo dos antigos judeus. Eles jamais empregavam o nome
de Deus de modo familiar. Na verdade, o nome de Deus era tão sagrado que eles jamais
o pronunciavam, para não correrem o risco de tratá-lo de maneira leviana ou irreverente.
Eles tinham temor sagrado pelo nome de Deus.

E conquanto reconhecessem a Deus como Pai, nunca em suas orações usavam


somente o conceito de "Pai". Ao contrário, ligavam o conceito de Pai com as ideias de
Rei e Senhor. Essa prática é útil para aqueles que têm a tendência exagerada de
sentimentalizar a figura de Deus como um Pai amoroso. Ele é isso, mas é também Rei e
Senhor de toda a Terra. Como cristãos, precisamos manter o equilíbrio. Nosso
sentimentalismo jamais deve superar nossa reverência a Deus. "O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria."

209
A Piedade do Cristão 23 de julho

Reverenciando a Deus
Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as
sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra
santa. Êxodo 3:5.

Vocês devem ter um Deus pequeno — disse um muçulmano para um turista


americano.

— Não — respondeu rapidamente o americano. —Temos um Deus grande e


poderoso, a cuja palavra de ordem o Universo e tudo o que nele existe veio à existência!

— Apesar disso, creio que vocês americanos têm um Deus pequeno, pois quando
oram a Ele o fazem de maneira apática e irreverente. Quando nós muçulmanos oramos,
caímos prostrados com o rosto em terra em reconhecimento da grandeza de Deus.

Reverência. É algo sobre o qual não pensamos muito, a menos que alguém seja
irreverente conosco pessoalmente ou nos trate de maneira desrespeitosa. Mas até que
ponto somos sensíveis em nossa reverência para com Deus?

Alguns anos atrás tive a oportunidade de pregar numa pequena igreja adventista do
sétimo dia em Porto Rico. Era uma igreja de pessoas simples. Jamais esquecerei como
fiquei atônito à medida que o povo entrava na igreja. Antes de se sentarem, ajoelhavam-
se em oração individual. Haviam entrado na casa de Deus, estavam em terra santa,
haviam entrado na presença do Altíssimo, e tinham plena consciência desse fato.

Ainda que não tenhamos o costume de retirar os calçados quando entramos na


igreja ou de prostrar-nos ou de ainda curvar-nos em oração, devemos reconhecer
constantemente, por palavra e ação, que ao entrarmos na igreja entramos na presença de
Deus de maneira especial.

Mas não é somente na igreja que a reverência é importante. Durante todo o dia
preciso reconhecer a santidade do meu Deus em tudo que eu fizer ou disser. Assim, sou
cuidadoso na maneira como trato minha Bíblia, como uso o nome de Deus, como brinco
e assim por diante. Meu respeito por Deus me leva a tratar os outros respeitosamente;
ajuda-me a apreciar um pôr-do-sol.

Agradeço-Te, ó Deus, por seres quem és. Agradeço-Te por não seres Alguém que
só posso adorar na igreja, mas Alguém que faz de cada aspecto da vida uma maravilha.

210
A Piedade do Cristão 24 de julho

Reinos em Conflito
Venha o Teu reino. Mateus 6:10.

Assim como em todo o restante do Sermão do Monte, há na Oração do Senhor


uma ordem lógica. As petições seguem-se umas às outras numa sequência necessária.

A oração, por exemplo, começa pedindo que o nome de Deus seja santificado entre
os homens. Mas no momento em que essa petição é proferida, somos lembrados do fato
de que o nome e a pessoa de Deus não são assim geralmente santificados.

Por que, perguntamos nós, isso acontece? Por que Deus não é honrado como
deveria ser?

A resposta é tanto simples como complexa. A resposta simples diz que foi o
pecado que provocou esse estado de coisas. A resposta torna-se mais complexa quando
percebemos que existe outro reino estabelecido na Terra em conflito com o reino de
Deus.

Esse reino é o reino das trevas, o reino de Satanás. A Bíblia não faz rodeios ao
falar sobre o reino de Satanás. O Evangelho de João chama Satanás de "o príncipe deste
mundo" (João 12:31), enquanto Paulo o chama de "o príncipe das potestades do ar"
(Efés. 2:2). Novamente, Paulo escreve aos efésios que os cristãos precisam se revestir
de toda a armadura de Deus, porque "nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes". Efésios 6:11 e 12.

Em contraste, Jesus é chamado de o "Soberano dos reis da Terra" (Apoc. 1:5). E


Sua pregação centraliza-se com certeza na vitória de Seu reino sobre o reino das trevas.
Na verdade, Jesus veio abrir caminho para a vitória final do reino de Deus no conflito
cósmico do Universo.

"Venha o Teu reino" permanece como o centro do grande conflito entre Cristo e
Satanás. E cada ser humano (você e eu) é um soldado em um desses reinos. Estamos
ativamente empenhados ou do lado do Rei Jesus ou do lado de Satanás.

Como estou hoje? Que reino estou promovendo? Como eu sei?

211
A Piedade do Cristão 25 de julho

Um Reino em Andamento
O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos
debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do
Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e
todos os domínios o servirão e lhe obedecerão. Daniel
7:27.

Falar sobre o reino de Deus pode ser uma coisa um tanto confusa, mesmo quando
provém dos lábios de Jesus. A razão por que isso acontece é que Ele fala do reino às
vezes como estando no passado, outras vezes como estando no presente e ainda outras
vezes como estando no futuro.

Jesus deu a entender que o reino estava no passado quando sugeriu que Abraão,
Isaque, Jacó e os profetas haviam ingressado no reino em seu tempo de vida (Luc.
13:28). Jesus falou do reino como estando no presente quando observou que "o reino de
Deus está dentro de vós" (Luc.17:21). Também ensinou repetidas vezes que o reino de
Deus estava no futuro, quando mencionou a segunda vinda, e mesmo quando ordenou
aos discípulos que orassem pela vinda do reino, enquanto viveu aqui.

Como, perguntamos nós, pode o reino ser passado, presente e futuro? Como pode o
reino ser um só, e ao mesmo tempo algo que existiu, que existe e pelo qual é nosso
dever orar?

A resposta encontra-se no fato de que a vinda do reino é progressiva. A luta entre o


Príncipe de Deus (Cristo) e o príncipe deste mundo (Satanás) começou no Céu (Apoc.
12:7 e 8), e continuou na Terra durante todo o Antigo Testamento. Mesmo naquela
época, alguns ficavam ao lado do Senhor, enquanto outros a Ele se opunham. Mas com
a vinda de Jesus, a batalha pelo coração das pessoas e pelo governo de Deus entrou em
marcha acelerada. Com Jesus, o reino da graça chegara em poder. O reino da graça se
estenderá até a segunda vinda, quando Jesus voltará para restabelecer a soberania física
de Deus sobre a Terra.

Mas conquanto se possa pensar na chegada do reino como progressiva, ela não é
evolucionária. A segunda vinda trará urna drástica descontinuidade a toda a história
passada. Será Deus intervindo, de maneira inequívoca, na história para reivindicar a
Terra como Seu reino. Os cristãos esperam e oram por esse acontecimento como por
nenhum outro.

212
A Piedade Cristã 26 de julho

A Esperança Cristã
Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem;
todos os povos da Terra se lamentarão e verão o Filho do
homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita
glória. E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor
de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos
quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.
Mateus 24:30 e 31.

O grande acontecimento dos séculos é a segunda vinda de Jesus. Devemos orar de


maneira mais fervorosa por esse acontecimento, trabalhar mais diligentemente em favor
dele e pensar nele com maior frequência.

Uma das melhores descrições do advento encontra-se em O Grande Conflito.


Daremos hoje uma amostra dessa descrição. "Nenhuma pena humana pode descrever
esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor. ...

"O Rei dos reis desce sobre a nuvem, envolto em fogo chamejante. Os céus
enrolam-se como um pergaminho, e a Terra treme diante dEle, e todas as montanhas e
ilhas se movem de seu lugar. ...

"Por entre as vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a


voz do Filho de Deus chama os santos que dormem. Ele olha para a sepultura dos justos
e, levantando as mãos para o céu, brada: 'Despertai, despertai, despertai, vós que dormis
no pó, e surgir Por todo o comprimento e largura da Terra, os mortos ouvirão aquela
voz, e os que ouvirem viverão. ... Do cárcere da morte vêm eles, revestidos de glória
imortal. ... E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em prolongada e
jubilosa aclamação de vitória. ...

"Ele mudará nosso corpo vil, modelando-o conforme Seu corpo glorioso.... Os
últimos traços da maldição do pecado serão removidos. ... "Os justos vivos são
transformados 'num momento'. ... Agora tornam-se imortais, e com os santos
ressuscitados, são arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares.... Criancinhas são
levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães. Amigos há muito separados pela
Morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem, e com cânticos de alegria ascendem
juntamente para a cidade de Deus." — Págs. 641-645.

213
A piedade do Cristão 27 de julho

Trabalhar e Orar
E será pregado este evangelho do reino por todo o
mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o
fim. Mateus 24:14.

Jesus nos diz no Sermão do Monte para orarmos pela vinda do reino. Mas em
outros lugares nos diz que devemos fazer mais do que orar. Os cristãos devem ser ativos
em preparar o caminho para o reino. É disso que tratam parábolas como a dos talentos.

Ora, é verdade que o reino de Deus encontra suas raízes no coração humano
convertido. Mas também é verdade que o que está no coração flui para a vida. Isso
acontece tanto no reino de Deus quanto no reino de Satanás.

Em consequência disso, os cristãos farão mais do que apenas orar pelo reino. Eles
trabalharão ativamente, no poder do Espírito Santo, para disseminar o reino aqui na
Terra e preparar o caminho para a vinda da plenitude do reino nas nuvens do céu.

É razoável que o reino se difunda através de cada ato de bondade humana e


compartilhamento do amor de Deus. Quando vivemos os princípios cristãos, estamos
expandindo as fronteiras do reino e fazendo recuar as fronteiras do reino das trevas.

A preparação para a vinda do reino também acontece pela pregação, conforme


lemos em Mateus 24:14. Depois de citar esse versículo, Ellen White diz que o "reino [de
Cristo] não virá enquanto as boas novas de Sua graça não houverem sido levadas a toda
a Terra. Assim, quando nos entregamos a Deus, e ganhamos outras almas para Ele,
apressamos a vinda de Seu reino. Unicamente aqueles que se consagram a Seu serviço,
dizendo: 'Eis-me aqui, envia-me a mim' (Isaías 6:8), para abrir os olhos cegos, para
desviar homens 'das trevas' 'à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a
remissão dos pecados, e sorte entre os santificados' (Atos 26:18) — unicamente eles
oram com sinceridade: 'Venha o Teu reino'. — O Maior Discurso de Cristo, págs. 108 e
109.

Os reinos não vêm por acidente. Deus quer me usar hoje como agente na
divulgação de Seu reino.

214
A Piedade do Cristão 28 de julho

Fazendo a Vontade
Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.
Mateus 6:10.

Qual é a vontade de Deus que precisa ser feita? No contexto do Sermão do Monte
é, sem dúvida, "fazer" ou seguir as recomendações do próprio sermão. Assim sendo,
"faça-se a Tua vontade" significa "ponha-se em prática o Teu Sermão do Monte". E a
vontade do Sermão do Monte, em Mateus 5 e 6, é que os cristãos (1) vivam as bem-
aventuranças (5:2-12 — por exemplo, sendo humildes de espírito, mansos,
misericordiosos, pacificadores e assim por diante); (2) sejam testemunhas de Deus
como sal e luz, tanto na vida diária como em sua consciente esfera de ação evangelística
(versos 13 a 16); (3) vivam a largura e a profundidade plenas da lei, chegando mesmo
ao ponto de, como o Pai, ter maduro (ou perfeito amor) por seus inimigos (versos 17 a
48); e (4) sejam inteiramente sinceros em seus atos de devoção ao servir a Deus com um
só propósito e se relacionem com Ele como "Pai" (6:1-10).

Fazer a vontade Deus é seguir os ensinamentos de Jesus — todos eles. Os que


podem orar "venha o Teu reino", devem certamente desejar viver a vida do reino aqui
na Terra. Assim sendo, a segunda petição em Mateus 6:10 flui diretamente da primeira.
Fazer a vontade de Deus é a principal ocupação dos cidadãos do reino, tanto em sua
existência presente como no reino ainda por vir.

Fazer a vontade de Deus "na Terra como [é feita] no Céu" nos ajuda a
compreender a natureza cósmica da Oração do Senhor. Estamos fazendo uma grandiosa
oração quando oramos a Oração do Senhor. As questões em jogo transcendem a
existência terrena. Elas representam princípios de importância eterna e universal. A
expressão "como no Céu" nos ensina que Deus tem um ativo empreendimento em anda-
mento com os anjos nessa esfera espiritual, além das fronteiras de nosso planeta
lesionado pelo pecado.

Mesmo em nossa vida restrita, entramos em contato com princípios galácticos: os


próprios princípios que jazem no fundamento da saúde do Universo de Deus. Como
cristãos, estamos comprometidos em fazer a vontade de Deus em todos os aspectos de
nossa vida: na escola, na família, no trabalho, na recreação, em tudo. Senhor, continua a
nos ensinar a Tua vontade, para sermos fiéis às palavras de Tua oração.

215
A Piedade do Cristão 29 de julho

Uma Surpresa no Formato da


Oração
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Mateus 6:11.

V imos dias atrás que a primeira parte da Oração do Senhor contém as petições
dirigidas especificamente a Deus e a Seu nome. Essas eram as petições "Teu/Tua" de
Mateus 6:9 e 10.

Mas no versículo 11, chegamos a uma mudança radical. O foco se move de Deus
para nós, conforme podemos perceber pelo uso dos pronomes "nós", "nosso" e "nós".
Com o verso 11 chegamos, pois, à segunda parte da Oração do Senhor, aquela cujas
petições giram em torno das necessidades humanas. Primeiro vem Deus; depois, a
humanidade. Ambos são importantes, mas em sua devida ordem. Sem Deus, não
existiríamos. Sem Deus, não teríamos necessidades, nem como supri-las. Essa verdade é
expressa tanto nos Dez Mandamentos como na Oração do Senhor. A primazia de Deus é
uma verdade que sempre deve ser mantida diante de nossos olhos e coração.

Choca e surpreende, portanto, ver como começa a segunda parte da oração.


Alguém poderia supor que começasse com as necessidades humanas que se acham mais
próximas de Deus: nossas necessidades espirituais. Mas não é isso que ocorre. Jesus
começa a segunda parte com nossas necessidades físicas. "O pão nosso de cada dia dá-
nos hoje."

Existe aqui uma lição para nós. Quando Jesus considera nossas necessidades,
começa pelo lugar certo. Começa com o físico. Sem a saúde física, não subsistiríamos
nem teríamos necessidades espirituais. Essa ordem aparece muitas vezes no ministério
de Jesus. Primeiro Ele curava as pessoas, depois pregava para elas. Primeiro cuidava das
necessidades físicas delas, e somente depois podia atender plenamente às suas fraquezas
espirituais.

Esse é o quadro que encontramos na ordem inesperada da segunda parte. Primeiro


precisamos do pão diário. Depois que nossa necessidade é satisfeita, ficamos cônscios
de nossa culpa e necessidade espiritual de perdão. Nosso Senhor nos entende. Primeiro
oramos por pão, depois por perdão.

216
A Piedade do Cristão 30 de julho

"De Cada Dia" - uma Lição


Então, disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei
chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a
porção para cada dia, para que Eu ponha à prova se anda
na Minha lei ou não. .Êxodo 16:4.
Parece haver pouca dúvida quanto ao fato de que Jesus pensava no maná do
deserto quando nos disse para orar pelo pão nosso de cada dia. Conforme você deve
lembrar, os filhos de Israel estavam famintos no deserto, e Deus lhes enviou o maná, o
pão do Céu. Havia, porém, uma condição importante. Eles deviam recolher o suficiente
apenas para cada dia. Quando recolhiam em excesso, o alimento apodrecia antes de ser
usado. Eles tinham que se contentar com a porção suficiente para cada dia.

Mas havia uma exceção à regra. Na sexta-feira eles precisavam recolher o


suficiente para dois dias, porque no sábado não havia coleta. Foi assim que os israelitas
receberam uma dupla lição do maná quase diário. Primeiro, sua dependência diária de
Deus para todas as suas necessidades. E segundo, a excepcionalidade do sábado, o dia
que lhes foi dado como lembrete dAquele que criara o pão (e tudo o mais).

A palavra usada para "diário" em Mateus 6:11 (epiousios) trouxe para os tradutores
um mar de problemas porque até recentemente essa era a única ocorrência da palavra
em toda a literatura grega. Mas alguns anos atrás surgiu um fragmento de papiro com
essa palavra usada numa lista de compras. Ao lado de um único item da lista estava
epiousios. Era uma nota para lembrar ao comprador de comprar um determinado
alimento para o dia seguinte.

Assim, a quarta petição da Oração do Senhor pede-nos de maneira muito singela


que supliquemos a Deus que nos dê as coisas que precisamos comer no dia seguinte. É
urna oração que nos ajuda a ser capazes de obter o que é necessário em nossa lista de
compras para o dia seguinte, a fim de que nós e nossa família sejamos saciados. Temos
um Deus maravilhoso. Aquele cuja mão guia as estrelas incontáveis está preocupado
com minhas necessidades físicas diárias.

Que Deus!

217
A Piedade do Cristão 31 de julho

Diferentes Espécies de Pão Diário


Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém dele
comer, viverá eternamente; e o pão que Eu darei pela vida
do mundo é a Minha carne. João 6:51.

Embora o significado primário de Mateus 6:11 pareça ser "pão diário" físico, não
é incorreto expandir o conceito para a esfera espiritual. Assim, Ellen White pode dizer
que "a oração pelo pão de cada dia inclui, não somente o alimento para sustentar o
corpo, mas aquele pão espiritual que nos nutrirá para a vida eterna. Jesus nos ordena:
'Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida
eterna.' João 6:27. Ele diz: Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer deste
pão, viverá para sempre.' Verso 51. Nosso Salvador é o pão da vida, e é mediante a
contemplação de Seu amor, e recebendo esse amor no coração, que nos nutrimos do pão
que desceu do Céu" - O Maior Discurso de Cristo, pág. 112.

É com essa compreensão que cantamos o hino :

Ó Tu que deste o pão,


Lá junto ao mar,
Vem dá-lo a mim também,
Jesus, vem dar!
Pois, na Palavra, ó Deus,
Pão busco achar,

O santo pão que me há de sustentar. (Hinário Adventista, nº 519.)

Semelhantemente à vida física, nosso ser espiritual não se sustenta por si mesmo.
Ambos precisam abastecer-se constantemente pela ingestão dos nutrientes físicos e
espirituais apropriados. Lembramo-nos dos profetas Ezequiel e João, que comeram o
livrinho das palavras de Deus.

Precisamos "comer" diariamente a Palavra da Vida. Precisamos ver a beleza de


Seu amor, precisamos imbuir-nos de Seus caminhos, precisamos de força para viver Sua
vida.

Assim, quando oramos pelo pão nosso de cada dia, estamos reconhecendo nossa
constante e contínua dependência de Deus em tudo quanto somos, quer na esfera física,
quer na mental e espiritual.

Precisamos ter fome e sede diárias de justiça. Precisamos participar diariamente do


pão divino.

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