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com RODRIGO SILVA

Sumário

Liberdade e proteçã 3

A origem da Pásco 3

Observância em tempos posteriore 5

O Seder de Pessac 5

A Páscoa Cristã 9
A Verdadeira Páscoa
A Páscoa é uma das principais celebrações do cristianismo, mas a história

desta data começa muito antes do nascimento de Jesus. O livro do Êxodo

registra a trajetória dos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, o povo de

Israel, e é importante relembrar essa história tão conhecida para

compreendermos o verdadeiro significado da Páscoa.

Após anos de fartura, um período de sete anos de seca obrigou todas as

nações vizinhas a comprarem mantimentos do Egito, inclusive a família de José

que morava em Canaã. Apesar de ter sido vendido como escravo por seus

próprios irmãos, Deus tinha grandes planos para a vida de José, e foi

justamente esse episódio traumático que o colocou no lugar certo para garantir

a sobrevivência de toda a sua família.

Se você já conhece essa história, sabe que José passou de um simples servo

para o cargo de governador do Egito, a posição de maior poder e destaque

abaixo do faraó. E após o episódio de reconciliação e perdão narrado em

Gênesis 45, toda a família de José fixou residência no Egito. 

O que começou com uma família reunida, mudou e tomou proporções

inimagináveis ao longo dos anos. O povo hebreu cresceu tanto que o novo

faraó, que sequer havia conhecido José, se incomodou e passou a enxergá-los

como uma ameaça ao seu poder e influência. A partir de então, os

descendentes de Abraão viveram como escravos em terra estrangeira,

subjugados pela força dos egípcios.

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Conheça a história
¹ Então José, não conseguindo se
conter diante de todos os que
estavam com ele, gritou:

Liberdade e proteção
Ao escolher Moisés como guia e libertador do
— Saiam todos da minha presença!

E ninguém ficou com ele, quando


povo, o próprio Deus interveio usando as
José se deu a conhecer a seus forças da natureza para mostrar ao mundo
irmãos.
que somente Ele é Deus. Talvez você já
² E levantou a voz em choro, de conheça o relato bíblico das pragas que foram
maneira que os egípcios o ouviam e
também a casa de Faraó.

lançadas sobre o Egito, mas a última das


³ E disse a seus irmãos:
pragas merece uma atenção especial: a morte
— Eu sou José. Meu pai ainda está dos primogênitos.
vivo?

E seus irmãos não lhe puderam “Porque o Senhor passará para matar os
responder, de tão assustados que
ficaram diante dele.
egípcios. Quando, porém, enxergar o sangue na
⁴ E José disse aos seus irmãos:
viga superior da porta e em ambas as ombreiras,
— Agora cheguem perto de mim.

E eles chegaram. Então ele disse:

o Senhor passará por cima da porta e não


— Eu sou José, o irmão de vocês, permitirá que o Destruidor entre na casa de
que vocês venderam para o Egito.
vocês para matá-los.”
⁵ Agora, pois, não fiquem tristes Êxodo 12:23
nem irritados contra vocês mesmos
por terem me vendido para cá,
porque foi para a preservação da A orientação divina para os hebreus era de que
vida que Deus me enviou adiante de um cordeiro fosse sacrificado e seu sangue
vocês.

⁶ Porque já houve dois anos de espalhado pelos umbrais das portas. Assim,
fome na terra, e ainda restam cinco quando o “anjo da morte” viesse buscar os
anos em que não haverá lavoura primogênitos, ele passaria por cima das casas
nem colheita.

⁷ Deus me enviou adiante de vocês,


dos hebreus mantendo as famílias fiéis em
para que fosse conservado para segurança. Esse é justamente o significado da
vocês um remanescente na terra e palavra “pessach”, que dá nome à celebração.

para que a vida de vocês fosse salva


por meio de um grande livramento.

⁸ Assim, não foram vocês que me


Na cultura egípcia, os umbrais das portas
enviaram para cá, e sim Deus, que possuíam uma grande importância na proteção
fez de mim como que um pai de das casas e continham diversos dizeres
Faraó, e senhor de toda a sua casa, “mágicos” escritos na estrutura. Infelizmente,
e como governador em toda a terra
do Egito.

muitos hebreus se esqueceram de suas raízes e


⁹ Voltem depressa para junto de incorporaram costumes pagãos à sua própria
meu pai e digam a ele: "Assim cultura e religião, deixando as orientações
manda dizer o seu filho José: Deus divinas em segundo plano.

me pôs por senhor em toda a terra


do Egito. Venha para junto de mim; Em sua infinita sabedoria, Deus ordenou que o
não demore.

¹⁰ O senhor habitará na terra de sangue do cordeiro fosse passado por cima de


Gósen e estará perto de mim — o tudo o que os hebreus consideravam que os
senhor, os seus filhos, os filhos de
seus filhos, os seus rebanhos, o seu protegeria, afinal, Ele protege o Seu povo, e os
gado e tudo o que lhe pertence. deuses dos egípcios não poderiam fazer nada
Gênesis 45:1-10 por eles.
4
A origem da Páscoa
De acordo com a Bíblia, a origem da Páscoa está intimamente ligada com a

décima praga, assim como a libertação do povo de Deus, que aconteceu logo em

seguida. O jantar preparado na noite que antecedeu o êxodo seguiu à risca cada

orientação divina e essa tradição permaneceu ao longo de centenas de anos,

perpetuando a lembrança da libertação dentro da cultura judaica.

Diferentemente de celebrações agrícolas ou festivais característicos do povo de

Israel, a Páscoa no contexto bíblico é marcada pela intervenção divina direta. Deus

não apenas guia seu povo para fora da opressão no Egito, mas também protege

suas casas durante a praga dos primogênitos, conforme descrito em Êxodo 12:27:

É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de

Israel no Egito, quando matou os egípcios e livrou as nossas casas.Então o povo se

inclinou e adorou.”  

A Páscoa, ou "pessach" em hebraico, é celebrada no mês de Nisan (março a abril),

começando no 14º dia e estendendo-se até o 21º. Esta festividade foi estabelecida

como um memorial perpétuo da saída dos israelitas do Egito, conforme descrito

em várias passagens do Pentateuco, tais como Êxodo 12:1-51, Levítico 23:4-14 e

Números 9:1-14. A festa não apenas comemora a libertação física dos israelitas,

mas também sua origem como uma nação dedicada a servir ao Deus vivo.

O próprio Deus instruiu Moisés e Arão sobre como a primeira Páscoa deveria ser celebrada:

¹ O Senhor disse a Moisés e a Arão na terra do Egito:

² — Este mês será para vocês o principal dos meses; será o primeiro mês do ano.

³ Falem a toda a congregação de Israel, dizendo: No dia dez deste mês, cada um tomará para

si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família.

⁴ Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então o chefe da família convidará o seu

vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas. Conforme o que cada um puder comer,

por aí vocês calcularão quantos são necessários para o cordeiro.

⁵ O cordeiro será sem defeito, macho de um ano, podendo também ser um cabrito.

⁶ Vocês guardarão o cordeiro até o décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da

congregação de Israel o matará no crepúsculo da tarde.

⁷ Pegarão um pouco do sangue e o passarão nas duas ombreiras e na viga superior da porta,

nas casas em que o comerem.

⁸ — Naquela noite, comerão a carne assada no fogo, com pães sem fermento e ervas amargas.

⁹ Não comam do animal nada cru, nem cozido em água, porém assado ao fogo: a cabeça, as

pernas e as vísceras.

¹⁰ Não deixem nada do cordeiro até pela manhã; o que, porém, ficar até pela manhã, queimem.

¹¹ É assim que vocês devem comê-lo: já prontos para viajar, com as sandálias nos pés e o

cajado na mão. Comam depressa. É a Páscoa do Senhor.

¹² Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e matarei na terra do Egito todos os

primogênitos, tanto das pessoas como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses

do Egito. Eu sou o Senhor.

¹³ — O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês se encontram. Quando eu vir o

sangue, passarei por vocês, e não haverá entre vocês praga destruidora, quando eu ferir a

terra do Egito.

Êxodo 12:1-13

5
Este trecho da Palavra de Deus destaca a
O que é o Talmude: importância do cordeiro pascal e do sangue

O Talmude é uma obra como símbolo de proteção e pacto entre Deus


fundamental do judaísmo,
e Seu povo. A urgência e seriedade com que a
compreendendo uma extensa
refeição deveria ser consumida, "(...) já prontos
coleção de leis, tradições e

ensinamentos rabínicos,
para viajar, com as sandálias nos pés e o cajado

desenvolvida entre o terceiro e na mão (Êxodo 12:11), refletem a prontidão para


sexto séculos. Seu nome, que
a jornada de libertação que se seguiria.
significa "aprendizado" em

hebraico, reflete sua importância

central no estudo religioso judaico,

atraindo indivíduos ao longo das

gerações para se dedicarem

seu domínio. A espinha dorsal do


ao
Observância em tempos posteriores
Talmude é a Mishná, um conjunto
A prática da Páscoa, conforme descrita na
de ensinamentos rabínicos
Escritura, não é estática, mas sim um reflexo
sistematizados pelo rabino

Yehuda, conhecido como o


das mudanças culturais e religiosas pelas quais

príncipe, após a destruição do o povo de Israel passou. Inicialmente, a


Segundo Templo em Jerusalém.
celebração envolvia o sacrifício de um cordeiro
Esta coleção, escrita em hebraico,
e a marcação das ombreiras das portas com
visa consolidar a sabedoria oral

judaica em uma forma acessível seu sangue para proteger as famílias israelitas.

para estudo e prática. Com o tempo, novos elementos rituais foram

adicionados e as práticas ajustadas para refletir

tanto a evolução da compreensão religiosa

quanto às mudanças nas condições de vida e

no contexto social dos israelitas.

Com o estabelecimento do sacerdócio e a construção do Tabernáculo, por

exemplo, a maneira de celebrar a Páscoa foi adaptada para o contexto do

sacerdócio. No entanto, o cerne da celebração, a memória da libertação divina

do povo de Israel, permaneceu inalterado. As instruções detalhadas para a

observância da Páscoa em tempos posteriores reforçam a continuidade da

celebração e a importância de transmitir a história e o significado da libertação a

cada geração.

No judaísmo do século V a.C., a prática da Páscoa já era bem estabelecida, como

indicam os Papiros de Elefantina, que mencionam a celebração da festa pela

colônia judaica no Egito. Com a destruição do Segundo Templo em 70 d.C. e o

desenvolvimento do judaísmo rabínico, a necessidade de adaptar a celebração

da Páscoa à ausência de sacrifícios no Templo levou a uma ênfase maior nos

aspectos simbólicos e educativos da festa. O Talmude e outros textos rabínicos

oferecem orientações detalhadas sobre como observar a Páscoa sem o sacrifício

do cordeiro, destacando a leitura da Hagadá e a realização do Seder como

formas de reviver a experiência do êxodo.

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O que é a Hagadá?
A Hagadá de Pessach é um texto
O Seder de Pessach
litúrgico judaico utilizado durante
Ainda hoje, o Seder de Pessach, central na
o Seder de Pessach, que celebra a

libertação dos israelitas da


celebração da Páscoa judaica, é repleto de

escravidão no Egito. Este texto simbolismo que remete à história de libertação


contém a narrativa do Êxodo,
do povo de Israel. Cada elemento consumido
instruções para a realização do
ou exposto na mesa tem um significado
Seder, bênçãos, hinos e discussões

rabínicas. Ela tem como objetivo profundo, contribuindo para a narrativa

cumprir o mandamento bíblico de coletiva de fé, esperança e renovação. A


contar aos filhos a história da
seguir, conheça alguns dos detalhes desse
libertação do Egito, destacando a
ritual tão solene.
importância da memória, da

gratidão e da liberdade.

Matsá: Este pão ázimo, sem fermento, é talvez o mais reconhecido dos

alimentos do Seder. Na pressa da fuga do Egito, os judeus não tiveram tempo

de esperar o pão fermentar. Por isso, o matsá é feito de uma massa muito fina,

simbolizando a prontidão e a urgência da libertação.

7
Vinho: Durante o Seder, são servidas quatro taças de um vinho especial, não
fermentado, cada uma simbolizando as promessas de Deus à Israel: libertação,
salvação, redenção e aceitação. Este vinho, distinto pelo seu preparo e
significado, marca os momentos chave da cerimônia.

Zeroá: No Sêder, o Zeroá geralmente é simbolizado por um osso de galinha


ou cordeiro com um pouco de carne nele, ou até mesmo um pescoço de
galinha assado. É importante notar que o Zeroá não é comido durante o
Sêder. Ele serve como um símbolo e um lembrete das práticas antigas e da
história do povo judeu.

Maror: A raiz amarga, geralmente representada pela raiz-forte, e a alface


chazeret, consumida durante o Seder, remetem à amargura da escravidão no
Egito. Este sabor agudo evoca a dura realidade enfrentada pelos ancestrais
hebreus.

Charósset: Esta pasta doce feita de maçãs, nozes e vinho, que pode também
incluir tâmaras, canela e outros ingredientes, simboliza a argamassa usada
pelos escravos hebreus. Seu sabor doce contrasta com o amargo do maror,
representando a esperança e a doçura da liberdade.

Água Salgada: Um recipiente com água salgada simboliza as lágrimas e o suor


derramado pelos hebreus durante os anos de cativeiro. Batatas cozidas,
mergulhadas nesta água antes de serem consumidas, relembram o sofrimento
de nossos antepassados.

8
Beitzá: O ovo cozido presente na mesa do Seder simboliza o luto pela
destruição do Templo de Salomão, mas também a esperança e o ciclo da vida,
a renovação e a continuidade da fé através das gerações.

Estes elementos, quando reunidos, não apenas contam a história do êxodo de


forma viva e sensorial, mas também conectam os participantes do Seder a suas
raízes e tradições. Em nossos costumes, assim como na tradição judaica, a
Páscoa cristã ecoa temas de sacrifício, libertação e renovação da fé.

A Páscoa Cristã
A celebração da Páscoa transcende sua origem como um memorial histórico
do êxodo judaico, e se estende como um anúncio da redenção oferecida por
Cristo conforme interpretado pelo cristianismo. O apóstolo Paulo, em sua
epístola aos Coríntios (1 Coríntios 5:7), estabelece um paralelo direto ao
declarar: "Joguem fora o velho fermento, para que vocês sejam nova massa,
como, de fato, já são, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro
pascal, foi sacrificado.” 

Esta associação destaca como o sacrifício de Cristo, em uma comparação com


o sangue do cordeiro pascal que protegeu os israelitas, é considerado o meio
pelo qual a salvação é disponibilizada à humanidade. Tal perspectiva não
apenas reforça a continuidade do propósito de salvação da Páscoa, mas
também amplia seu alcance espiritual além das fronteiras do judaísmo para
abraçar uma promessa universal de redenção.

9
Nesse contexto, o cristianismo primitivo reinterpretou a Páscoa, mantendo sua
essência de liberdade e renovação, ao passo que redefiniu seu cerne para
celebrar a ressurreição de Jesus Cristo, o "cordeiro pascal" cujo sacrifício é
considerado o ponto culminante da promessa de salvação. 

A Páscoa cristã, conhecida também como Domingo da Ressurreição, é uma das


celebrações mais importantes do cristianismo. Ela comemora a ressurreição de
Jesus Cristo ao terceiro dia após sua crucificação, um evento fundamental na fé
cristã que simboliza a vitória sobre o pecado e a morte. A data da Páscoa varia
anualmente, sendo calculada com base em ciclos lunares, e é celebrada no
primeiro domingo após a lua cheia que ocorre no equinócio de março ou
imediatamente após.

Essa transformação da interpretação e da prática da Páscoa reflete não apenas


a adaptação de uma antiga tradição judaica às crenças cristãs, mas também
sublinha a universalidade do tema da libertação e da renovação espiritual.
Dessa forma, a Páscoa se estabelece como um elo entre o judaísmo e o
cristianismo, unindo-os na celebração compartilhada da intervenção divina na
história humana para a libertação e a salvação eterna.

Através dessas tradições milenares, seja no Seder de Pessach ou nas


celebrações da Páscoa cristã, somos lembrados do poder da fé, da esperança e
do amor divino. Ao celebrarmos a Páscoa, renovamos nosso compromisso com
os valores de liberdade, justiça e compaixão, reconhecendo a interconexão de
nossa história comum e a continuidade da promessa de redenção.

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