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HISTÓRIA E IDENTIDADE DA IGREJA DO NAZARENO – AQ

Murilo dos Santos Costa

PAUTA: Analisando quais elementos você considera fundamentais na


identidade teológica da Igreja do Nazareno, apontando para suas bases
históricas e para sua relação com a atualidade (se algum(ns) desses elementos
se perdeu, enfraqueceu ou fortaleceu). Proponha caminhos práticos para a
manutenção de nossa identidade.
A identidade teológica da Igreja do Nazareno normalmente tem sua
origem resumida basicamente em dois paradigmas, o arminiano e o wesleyano.
Pode parecer reducionista resumir a identidade de toda uma denominação a
apenas dois termos ou conceitos teológicos, porém, tentarei demonstrar aqui um
pouco do significado bem mais amplo e profundo que esses dois
termos/conceitos abarcam em si e o como eles influenciaram e deram base para
o que hoje conhecemos da Igreja do Nazareno.
Primeiramente, quando falo de arminianismo, me refiro à soteriologia
desenvolvida por Jacó Armínio e posteriormente pelos Remonstrantes, em
oposição ao calvinismo, mas que na verdade tem suas bases principalmente na
revisitação e releitura da teologia de pais da igreja como Irineu de Lião,
Tertuliano e em especial Agostinho. Alguns reformadores também influenciaram
o pensamento de Armínio, dos quais destaco Philipp Melanchthon.
No geral, a teologia defendida por Armínio e pelos Remonstrantes eram
as seguintes: o pecado original (segundo a visão agostiniana), depravação total,
graça preveniente, livre-arbítrio, presciência divina, eleição condicional, expiação
limitada e segurança em cristo.
Daqui em diante darei mais ênfase ao lado wesleyano da identidade da
Igreja do Nazareno, porém tendo como base a soteriologia que foi citada
anteriormente.
O principal aspecto distintivo da teologia e da identidade wesleyana está
diretamente ligado ao correto entendimento da doutrina bíblica da santidade e/ou
santificação. Mas antes precisamos entender o contexto histórico que motivou
John Wesley a uma atitude mais incisiva em seu tempo.
A corrupção da sociedade inglesa do século XVII e o afastamento da
igreja dos ensinamentos práticos do Evangelho de Cristo foram os principais
aspectos observados por Wesley. A Igreja Anglicana não passava de um mero
braço do estado, o que praticamente acabou com a espiritualidade da época,
com isso, inevitavelmente houve um abatimento moral da sociedade inglesa. As
pessoas pareciam andar constantemente tristes e eram atraídos constantemente
pelo alcoolismo, prostituição, brigas de animais ou outras atividades
vergonhosas. Segundo Cairns, alguns historiadores acham até que a pregação
de Wesley salvou a Inglaterra de uma revolução semelhante à da França.
Após sua verdadeira conversão, em 24 de maio de 1738, John Wesley se
dedicou intensamente à piedade, pureza interior e uma visão de santidade com
forte ênfase social prática. Segundo Sawyer, uma das doutrinas distintivas
desenvolvida por Wesley, foi a da perfeição cristã. Com isso ele se referia à obra
santificadora do Espírito Santo na vida do crente, pela qual o coração é purificado
do pecado, de modo que a pessoa é capaz de viver em perfeito amor em relação
a Cristo.
O movimento de santidade, na América do Norte, surgiu em meados do
século XIX como um protesto contra o esquecimento, por parte da Igreja
Metodista, do ensino de Wesley acerca da santificação e da santidade. Desse
movimento, surgiram várias denominações que, testemunhando a miséria e o
pecado das comunidades que os cercavam, desejavam reavivar as igrejas
enfatizando a graça santificadora de Deus dentro de nós e no meio de nós, e
assim trazer reforma moral às nações. Phineas Bresee, um dos fundadores da
Igreja do Nazareno, acreditava que faltava às principais denominações a
vontade de evangelizar as "grandes massas de povos nativos e estrangeiros".
Este movimento também tem uma relação com o pentecostalismo, porém
diferente da vertente que se popularizou posteriormente, o pentecostalismo
contemporâneo ao movimento de santidade tinha muito mais relação com a
inteira santificação ou perfeição cristã, do que com os dons espirituais.
Resumidamente, a doutrina da inteira santificação, como foi adotada pela Igreja
de Nazareno, foi desenvolvida um pouco diferente da maneira que Wesley
acreditava. Wesley afirmava que esta santificação ocorria no momento da
conversão, mas posteriormente John Fletcher passou a entender que a inteira
santificação, ou o batismo com Espírito Santo, que eram na época inclusive
termos intercambiáveis, ocorria posteriormente, como uma segunda obra da
graça.
Acredito que a partir desta doutrina, com toda a base teológica citada
anteriormente, surgiram os elementos principais da identidade teológica da
Igreja do Nazareno, pois a partir da experiência da perfeição cristã, entendemos
que não somente é possível, mas inevitável, desenvolver melhor a missão e o
ministério de todo cristão aqui na terra, que é fazer discípulos à semelhança de
Cristo. É nessas bases que eu acredito que se fundamenta a identidade da
Igreja do Nazareno.
Observando a história e a atualidade, eu percebo que uma forte vertente
do movimento de santidade que foi mantida pela Igreja do Nazareno até hoje é
a ênfase na restauração social juntamente com a espiritual. Vejo no meu
contexto geográfico que a Igreja do Nazareno procura ter uma penetração nas
camadas mais carentes da sociedade da mesma forma que se aproxima das
classes tidas como as elites, entendendo que a degradação da sociedade deve
ser combatida de todas as formas, levando a presença do Reino de Deus, em
santidade à todas as esferas da humanidade e promovendo a transformação dos
corações e mentes através da pregação da Palavra de Deus e do Poder do
Espírito Santo.
Outra característica importantíssima herdade pela Igreja do Nazareno é o
entendimento de que nós somos um ramo da santa igreja de Jesus Cristo, o que
não nos permite sermos exclusivistas, sectaristas ou restauracionistas,
acreditando que nós somos a única e verdadeira igreja. Isto permite uma
aproximação e cooperação saudável com outros ramos da igreja de Deus. Duas
máximas expressam muito bem este pensamento: “No essencial, unidade; em
coisas não essenciais, liberdade; e em todas as coisas, caridade”; e “Se o seu
coração é como o meu coração, dê-me a sua mão”.
Tenho a esperança em Deus, que podemos resistir ao espírito da pós-
modernidade que tem tomado conta de boa parte dos altares e púlpitos da
atualidade, corrompendo e minando a fé e a santidade de muitas igrejas
evangélicas. Faremos isto mantendo firmes as nossas convicções na sã
doutrina, sem abrir mão da tradição, da razão e da experiência e empoderados
pelo Espírito Santo de Deus até a volta do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

Bibliografia:

Teologia de John Wesley; Kenneth J. Collins; Casa Publicadora das


Assembleias de Deus; 2010
História da Teologia Cristã; Roger Olson; Editora Vida; 2001
O Cristianismo Através dos Séculos; Earle E. Cairns; Editora Vida Nova; 2008
Uma Introdução à Teologia; M. James Sawyer; Editora Vida; 2009
Graça Para Todos; Clark H. Pinnock e John D. Wagner; Editora Reflexão; 2016
Arminianismo – A Mecânica da Salvação; Silas Daniel; Casa Publicadora das
Assembleias de Deus; 2017
Breve História da Igreja do Nazareno; Vinícius Couto; Revista Caminhando; 2019
Um só Senhor. Uma só Fé. Um só Batismo; Vários autores; Nazalivros
Publicações; 2017
Fundamentos Nazarenos; Church of the Nazarene; 2015

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