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Phineas Franklin Bresee
Redecobrindo o Espírito
Original do Metodismo
HAROLD E. RASER

__________________________
Durante o ano de 1866, os Metodistas Americanos celebraram o centenário de
sua igreja. Historiadores Metodistas e oradores populares contaram histórias
emocionantes de um século de vitalidade espiritual e crescimento expansivo, que fez do
Metodismo de longe o maior e mais difundido movimento Protestante dos EUA.
Em muitas partes da América, o Metodismo ainda estava em expansão. Um
desses lugares era Iowa, literalmente parte da “fronteira” Americana nesse momento. A
população de Iowa havia aumentado, de menos de 200.000 pessoas, em 1850, para
quase 700.000, em 1860. O Metodismo havia se mudado com os primeiros colonos e se
estabelecido rapidamente como a maior denominação protestante no estado, e
continuava a crescer rapidamente. Muitos pregadores Metodistas de Iowa viveram a
vida dos "ciclistas" do século anterior; andavam a cavalo ou em carroças puxadas por
cavalos de assentamento a assentamento, e da fazenda à fazenda, conduzindo a
adoração e oferecendo o cuidado pastoral que podiam durante suas breves e periódicas
visitas.
Nem todos os pregadores Metodistas de Iowa, no entanto, estavam circulando
em circuitos na época do centenário. Muitos pregadores Metodistas estavam se
estabelecendo em povoados e cidades, pastoreando onde tinha apenas uma
congregação. Algumas congregações estavam se tornando grandes e afluentes o
suficiente para sustentar um ministro de tempo integral e para construir e manter
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igrejas permanentes. Além disso, os Metodistas de Iowa estavam voltando sua atenção
às necessidades futuras da igreja, especialmente a educação clerical e leiga.

MINISTÉRIO DE BRESEE EM IOWA: DA AFLIÇÃO AO EMPODERAMENTO

Destacado no Metodismo de Iowa, em 1866, estava o jovem Phineas Franklin


Bresee (1838–1915)358. Bresee se mudara para Iowa com sua família, em 1857, quando
tinha dezoito anos de idade e, em poucos meses, se tornou um pregador Metodista
ajudando um colega mais velho em um “circuito de quatro semanas” (isto é, levou
quatro semanas para visitar todos os “pontos de pregação” do circuito, que incluíam
escolas, fazendas e, pelo menos, uma cabana). Bresee se convertera ao Cristianismo em
uma "reunião de classe" Metodista em sua cidade natal no Condado de Franklin, Nova
York, apenas alguns anos antes.
Phineas Bresee começou seu ministério como o “evangelista” do circuito com a
responsabilidade especial de conduzir “reuniões prolongadas” periódicas ou
“campanhas de avivamento” através do circuito. "Avivamentos" e "reuniões de
acampamentos" ainda eram meios primários usados pelos Metodistas para chamar as
pessoas à fé Cristã e à devoção ao trabalho da igreja. Bresee se convenceu de que
“avivamentos” frequentes eram necessários para a saúde de toda congregação.
Em 1858, após um ano como pregador “assistente”, Bresee recebeu seu
primeiro circuito “solo”. Depois de servir com notável sucesso neste e em dois circuitos
subseqüentes, Bresee foi nomeado em 1862 (com apenas 23 anos de idade na época)
para uma congregação em Des Moines, onde havia um prédio permanente e uma
residência paroquial para abrigar o seu pastor. O trabalho de Bresee durante dois anos
em Des Moines lhe valeu uma nomeação como “Ancião Presidente” - um
superintendente distrital sobre um grupo de igrejas e pregadores. Esta foi uma
promoção para o jovem Bresee, mas o novo trabalho, mais uma vez, exigia viagens
quase contínuas a cavalos e charretes por toda a extensão da pradaria visitando igrejas
e pregadores sob seus cuidados. As duras viagens e a pesada responsabilidade
consumiram Bresee e, depois de dois anos, ele pediu para ser transferido como pastor.
Em 1866, foi nomeado pastor em Chariton, Iowa.

358
Existem três grandes biografias de Phineas F. Bresee: E. A. Girvin, Phineas F. Bresee: A Prince in Israel -
Phineas F. Bresee: Um Príncipe em Israel (Kansas City, MO: Nazarene, 1916); Donald P. Brickley, Man of the
Morning: the Life and Work of Phineas F. Bresee - Homem da Manhã: a Vida e Obra de Phineas F. Bresee (Cidade
do Kansas, MO: Nazareno, 1960); Carl Bangs, Phineas F. Breseee: His Life in Methodism, the Holiness Movement,
and the Church of the Nazarene - Phineas F. Breseee: Sua Vida no Metodismo, o Movimento de Santidade e a Igreja
do Nazareno (Kansas City, MOMO: Beacon Hill Press de Kansas City, 1995). O mais antigo (1916) foi escrito por
um colega pessoal próximo de Bresee e baseia-se, em grande parte, em conversas e cartas de Bresee, que se estende,
por um período, de quase vinte anos. Man of the Morning - Homem da Manhã é baseado na dissertação de
doutorado do autor. A biografia mais recente (1995) é fruto de muitos anos de pesquisa, por um historiador, cujos
pais, estavam entre a primeira geração de Nazarenos, no noroeste do Pacífico, dos Estados Unidos da América.
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Bresee seguiu regularmente pastoreando uma série de congregações maiores e


mais prestigiosas nos dezessete anos seguintes. Dessa forma, ele colocou grande parte
da história do Metodismo Americano do primeiro século em sua própria biografia.
Bresee estava mergulhado no “Metodismo da Fronteira” e no avivalismo. Sua primeira
experiência do Metodismo envolveu pregadores itinerantes, reuniões ao ar livre,
pregações fervorosas e cultos avivalistas informais. Bresee encontrou essa mesma
forma de fronteira familiar do Metodismo, mas estava entrando em um modo de
construção e consolidação. Construções de igrejas precisavam ser realizadas, escolas
Metodistas precisavam ser estabelecidas e publicações Metodistas eram necessárias
para promover a igreja, reunir e encorajar os fiéis Metodistas. Phineas Bresee se
dedicou a tudo isso, por vinte e seis anos (1857–1883).
A biografia pessoal de Phineas Bresee tomou, no entanto, uma mudança
distinta e decisiva naquele centenário do Metodismo Americano. Bresee estava
passando por um sofrimento pessoal considerável. A natureza exata dessa aflição não é
totalmente clara, contudo Bresee havia lutado por várias designações ministeriais
desafiadoras nos anos anteriores a Chariton e a congregação de Chariton, embora
relativamente grande e rica, era aparentemente bastante contenciosa. Bresee disse que
cerca de um quarto da congregação estava sempre zangado com ele por alguma coisa,
“mas não no mesmo período, posto que eles se revezavam”359. Além disso, Bresee havia
gastado seu tempo viajando nos dois anos anteriores como Ancião Presidente e,
aparentemente, encontrou autores e idéias que o perturbaram e desafiaram sua fé
Cristã.
É provável, podemos supor, que Bresee foi para Chariton mais ou menos
"queimado" no corpo e no espírito. Ele estava constantemente subindo a escada do
"sucesso" eclesiástico. Ele estava trabalhando extraordinariamente para "fazer as coisas
acontecerem". No entanto, ao mesmo tempo, estava lutando com questões pessoais
incluindo dúvidas intelectuais e anfrentado uma congregação muitas vezes combativa.
Alguns anos mais tarde, Bresee relembrou deste tempo de sua vida: “Eu sempre tive
uma grande carga de carnalidade”, a qual “tomava a forma de raiva, orgulho e ambição
mundana”. Ele, também, lembrou que “finalmente, no entanto, ela tomou a forma de
dúvida... parecia que eu duvidava de tudo" 360.
Todas essas coisas aconteceram nos primeiros meses do pastorado de Bresee,
em Chariton, e provocou uma crise pessoal em sua vida. Isso veio à tona em uma
reunião prolongada durante o primeiro inverno de Bresee ali (inverno de 1866 a 1867).
Bresee estava servindo como o "evangelista" (uma prática típica de Bresee). Era uma
noite sombria e nevada. A multidão era pequena, porém, Bresee pregou com fervor e

359
E. A. Girvin, Phineas F. Bresee: A Prince in Israel - Phineas F. Bresee: Um Príncipe em Israel (Kansas City,
MO: Nazarene, 1916); Donald P. Brickley, Man of the Morning: the Life and Work of Phineas F. Bresee - Homem
da Manhã: a Vida e Obra de Phineas F. Bresee (Cidade do Kansas, MO: Nazareno, 1960), p. 50.
360
Ibid, p. 50.
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instou os que estavam presente a dirigir-se ao banco de lamentação. Ninguém


respondeu, embora Bresee tenha se movimentado no meio da congregação, convidando
pessoalmente as pessoas a orar (outra típica prática de Bresee). Então, de repente,
Bresee declarou mais tarde, “de alguma forma, pareceu-me que era a minha vez e eu me
joguei no altar e comecei a orar por mim mesmo”. Como resultado, Bresee alegou que
experimentou um novo poder da graça divina que resolveu suas várias lutas pessoais e
profissionais. Bresee, em seus últimos anos, referiu-se a essa experiência como seu
“batismo com o Espírito Santo”, no qual “o Senhor lhe deu mais graça, liberdade e
bênção, em todos os sentidos”361. A importância dessa experiência é dupla: primeiro,
ocorreu em um ponto crítico na história do Metodismo Americano e, segundo, foi o
passo inicial para Phineas Bresee numa estrada que finalmente o conduziria para fora
do Metodismo convencional e para o papel de fundador de uma nova e importante
denominação.

BRESEE E A "SANTIDADE ORGANIZADA"

O ano do centenário do Metodismo Americano, 1866, foi o momento no qual os


Metodistas Americanos recordaram seu passado, refletiram sobre o que fora seu
movimento, o que se tornara e contemplaram sua forma futura. Não coincidentemente,
no verão de 1867, a primeira reunião de acampamento de “santidade” foi realizada na
aldeia Metodista de Vineland, Nova Jersey, organizada, conduzida e frequentada
principalmente por pastores e leigos Metodistas. O propósito especial desta reunião de
acampamento foi reviver “a obra de santidade na Igreja” ajudando os crentes cristãos a
“alcaçarem um batismo Pentecostal com o Espírito Santo” 362. No final desta reunião, a
Associação Nacional de Encontros de Acampamento para a Promoção de Santidade
(mais tarde Associação de Santidade Cristã) foi organizada.
A reunião de acampamento de “santidade”, de Vineland, e a Associação Nacional
de Encontros de Acampamento, marcaram a cristalização de um “movimento” que
vinha se construindo dentro do Metodismo Americano desde pelo menos a década de
1830. Este "Movimento de Santidade" (cujo principal porta-voz até então era Phoebe
Palmer) tinha como objetivo a preservação e a propagação da histórica doutrina
Wesleyana-Metodista da Perfeição Cristã. Os defensores deste movimento temiam que
essa doutrina Wesleyana-Metodista distinta e a vida de “santidade” séria e simples que
ela envolvia estivessem sob o risco de serem negligenciadas uma vez que o Metodismo
na América cresceu rapidamente em membresia, expandiu-se geograficamente, e

361
Ibid, p. 52.
362
Anúncio publicitário intitulado: “Encontro Geral de Acampamento”, em The Guide to Holiness - O Guia à
Santidade, julho de 1867.
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tornou-se mais rico e “mundano”. "Pessoas de santidade" se dedicaram a manter a


Perfeição Cristã no centro da identidade do Metodismo 363.
Embora a decisiva experiência religiosa de Phineas Bresee tenha ocorrido no
inverno de 1866-1867, tal como os partidários da santidade que estavam se
organizando para uma cruzada mais vigorosa para propagar a Perfeição Cristã no
futuro, Bresee não se identificou com a “santidade organizada” até quase vinte anos
depois. Foi somente em 1885 que Bresee se tornou um defensor sincero de uma
"segunda bênção" distinta da "santificação plena" conforme definido pelo Movimento
de Santidade e fez disso e da vida de "santidade" o tema central de seu ministério.
Entre 1867 e 1883 Bresee continuou servindo como ministro Metodista, em
Iowa. Ele, aparentemente continuou a desfrutar da bênção do “Batismo com o Espírito
Santo” e continuou a ocupar importantes funções ministeriais, porém não deu
qualquer indicação de apoiar o trabalho de “santidade organizada” que estava se
espalhando rapidamente pelos Estados Unidos da América durante esses anos. Em
1883, no entanto, Bresee mudou-se com sua família de Iowa para o sul da Califórnia e,
nos anos seguintes, foi nomeado pastor de uma série de grandes e proeminentes
congregações Metodistas. Foi na primeira dessas, a Igreja da Rua Fort, em Los Angeles
(também chamada de “Primeira Igreja Antiga”), que Bresee pareceu ter encontrado
pessoas fervorosas pela “santidade organizada” e começou a ser atraído por elas para o
“Movimento de Santidade”. No momento em que Bresee assumiu sua tarefa pastoral
seguinte, ele já estava dedicado inteiramente à “santidade organizada” e estava a
caminho de se tornar seu principal porta-voz no sul da Califórnia.
Menos de dez anos depois (1894), Bresee retirou-se do Metodismo onde havia
servido tão notavelmente por trinta e sete anos para se dedicar a um “trabalho de
santidade” independente e de tempo integral. Em 1895, organizou a primeira
congregação da Igreja do Nazareno, uma igreja de “santidade”, que, cem anos depois,
tinha alcançado mais de um milhão e meio de membros espalhados literalmente ao
redor do globo. Bresee serviu à Igreja do Nazareno como seu primeiro Superintendente
Geral nos últimos vinte anos de sua vida.

O "BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO" E A FORMA DO MINISTÉRIO DA


SANTIDADE

A trajetória de Phineas Bresee ao longo do Metodismo do século XIX e em um


trabalho de santidade independente ilumina algumas das tensões centrais, transições e

363
Os relatos padrão do desenvolvimento do "Movimento da Santidade" são Melvin E. Dieter, The Holiness Revival
of the Nineteenth Century - O Avivamento da Santidade do Século XIX (Metuchen, NJ: Scarecrow, 1980); e Charles
E. Jones, Perfectionist Persuasion: The Holiness Movement and American Methodism, 1867–1936 - Persuasão
Perfeccionista: o Movimento de Santidade e Metodismo Americano, 1867-1936 (Metuchen, NJ: Espantalho, 1974).
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desafios, que afetam o Metodismo Americano no final de seu primeiro século. Também
ajuda a iluminar a natureza do Movimento de Santidade Americano.
Conforme observado, Phineas Bresee nasceu na fronteira, experimentou o
Metodismo em sua forma de fronteira e começou seu ministério em Iowa sob condições
de grande fronteira. Ministros itinerantes, evangelização fervorosa, reuniões frequentes
de acampamento e reuniões prolongadas, formas avivalistas de adoração, religião
sincera e piedade simples, eram os principais elementos do Metodismo de “fronteira”.
Bresee aprendeu tudo isso cedo e valorizaria esses elementos como essenciais para o
Cristianismo autêntico pelo resto de sua vida. No entanto, em Iowa, Bresee também
experimentou uma transição Metodista, de movimento jovem para uma “denominação”
mais estabelecida. O Metodismo de Iowa estava consolidando seus ganhos - publicando
literatura religiosa, construindo igrejas permanentes, estabelecendo faculdades e
criando as estruturas necessárias da vida denominacional. Bresee parece ter também
abraçado esses aspectos de uma igreja “institucionalizada” mais estabelecida e
destacou-se nas principais congregações que refletiam largamente esse lado do
Metodismo do século dezenove. Ele também aprendeu e praticou várias habilidades de
“desenvolvimento institucional” que lhe serviram bem quando mais tarde fundou e
liderou a Igreja do Nazareno364.
Por outro lado, Phineas Bresee ficou cada vez mais desiludido durante seus
trinta e sete anos de ministério Metodista, pois apesar da crescente afluência de muitos
Metodistas ele sentia em algumas congregações certa “frieza” e “formalidade”
espiritual. Ele também foi perturbado por algumas das reavaliações teológicas
ocorridas no Metodismo na segunda metade do século XIX. Ele temia que a "Alta
Crítica" e outras formas de "racionalismo rastejante" estivessem minando o
compromisso Metodista com a ortodoxia Cristã tradicional.
O “Batismo com o Espírito Santo” de Bresee pode ser visto como um momento
decisivo para ele lidar pessoalmente com a forma mutável do Metodismo. Esse
“batismo” (linguagem que ele aparentemente não usou até ter aprendido na década de
1880 com o “Movimento organizado de Santidade”) reforçou o senso de Bresee de que
a religião autêntica é sincera e, experiencialmente, dramática. Seja o que for que uma
igreja possa ser deve ser um lugar onde as pessoas experimentem a presença de Deus e
onde expressam livremente sua resposta na adoração. A doutrina do Batismo com o
Espírito Santo que Bresee defendeu com crescente ardor a partir de meados de 1880
parece ter-lhe atraído (além do fato de que ele passou a acreditar que era bíblico e
central para o Metodismo Wesleyano) em grande parte porque maximizou a presença

364
Bresee era, notavelmente, ativo na liderança do Metodismo, de Iowa. Ele pastoreou suas maiores congregações,
serviu como Ancião Presidente foi um dos principais membros do conselho de administração da Faculdade
Simpson, durante sua reorganização, como instituição de artes liberais (seu trabalho, para a Faculdade Simpson, lhe
rendeu um título honorário "Doutor em Divindade"), serviu como uma conferência “visitante” (isto é, curador) do
Instituto Bíblico Garrett, em Evanston, Illinois e, foi editor, do Inland Advocate - Advogado do Interior, um dos
vários jornais Metodistas regionais que carregavam o nome do Advogado, entre outras coisas.
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divina na experiência humana. Ser “batizado com o Espírito Santo”, de acordo com
Bresee, significa que o Espírito Santo de Deus é “residente no homem”, limpa o coração
humano do pecado e fornece poder para o serviço ao próximo (“dinamite de Deus na
alma”).365 Após o “batismo” de Bresee, ele tornou-se cada vez mais impaciente e crítico
às tendências do Metodismo “vitoriano”, favorável a estilos mais formais de adoração
que diminuíam a ênfase na religião experiencial “avivalista”.
A convicção de Bresee de que a religião avivalista e experiencial é a essência do
Cristianismo autêntico também teve implicações para sua atitude negativa em relação à
reavaliação teológica ocorrida no Metodismo norte-americano, no final do século XIX. A
presença sentida de um Deus sobrenatural na vida de uma pessoa (e na vida de uma
congregação) atestava a autoridade e a verdade da Bíblia como tradicionalmente
interpretada. Qualquer abordagem à Bíblia ou à fé Cristã que parecesse enfraquecer seu
caráter sobrenatural e divino era, para Bresee, contraditada pela experiência do
“Espírito permanente” vivo “nas almas humanas”.
Quanto à crescente opulência de muitos Metodistas no final do século XIX,
Phineas Bresee primeiro a seguiu, mas depois a rejeitou. Ao longo de seu ministério em
Iowa, Bresee se sentiu bastante à vontade com a riqueza e cultivou relações estreitas
com seus paroquianos mais ricos e influentes. Na verdade, ele parece ter se
considerado um deles. Por quase vinte anos ele se envolveu em empreendimentos em
parceria com um amigo, um empreendedor e pregador Metodista que virou
empresário. No entanto, foi um negócio desastrosamente fracassado com esse amigo
que afastou Bresee de Iowa, ao sul da Califórnia, em 1883. Após esse desastre (e
embaraço pessoal), Bresee prometeu que nunca mais se envolveria em negócios e se
entregaria totalmente a pregação do Evangelho366.

365
Veja “To Know Him - Para conhecê-lo”, um sermão baseado em Filipenses 3:10–11, em Phineas F. Bresee, The
Certainties of Faith: Ten Sermons by the Founder of the Church of the Nazarene - Phineas F. Bresee, As Certezas
da Fé: Dez Sermões do Fundador da Igreja do Nazareno (Kansas City, MO: Nazarene, 1958) 86–87. Veja também
“The Atmosphere of the Divine Presence - A Atmosfera da Presença Divina”, um sermão baseado em Isaías 33:14
em The Certainties of Faith - As Certezas da Fé, pp. 91–95.
366
Notando as habilidades “executivas” de Bresee, Carl Bangs observa que Bresee poderia, facilmente, “ter sido
presidente de uma corporação” - veja Bangs, Phineas F. Breseee: His Life in Methodism, the Holiness Movement,
and the Church of the Nazarene - Phineas F. Breseee: Sua Vida no Metodismo, o Movimento de Santidade e a Igreja
do Nazareno (Kansas City, MOMO: Beacon Hill Press de Kansas City, 1995), p. 99. A natureza do empreendimento
“fracassado”, no qual, Bresee estava envolvido não é, totalmente, clara. O próprio Bresee culpou a má sorte e
desastres naturais (terremoto e inundação resultante de uma mina de prata) e esta é a história passada, sem
questionamento, por E. A. Girvin, Phineas F. Bresee, 72-76; Donald Brickley, Man of the Morning: the Life and
Work of Phineas F. Bresee - Homem da Manhã: a Vida e Obra de Phineas F. Bresee (Cidade do Kansas, MO:
Nazareno, 1960), pp. 82–84; e Timothy L. Smith, Called Unto Holiness: The Story of the Nazarenes, the Formative
Years - Chamado de Santidade: A História dos Nazarenos, os Anos de Formação (Kansas City, MOMO: Nazarene,
1962), pp. 94-95. No entanto, Bangs aprofundou mais as fontes e, como resultado, pinta um quadro mais complexo e
menos salgado, envolvendo fraude - embora, provavelmente, não da parte do próprio Phineas Bresee - veja Bangs,
Phineas F. Breseee: His Life in Methodism, the Holiness Movement, and the Church of the Nazarene - Phineas F.
Breseee: Sua Vida no Metodismo, o Movimento de Santidade e a Igreja do Nazareno (Kansas City, MOMO: Beacon
Hill Press de Kansas City, 1995), pp. 97–104.
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Desde essa ocasião em diante, Bresee tornou-se cada vez mais crítico da “nova”
riqueza em muitas congregações Metodistas. Ele também começou a enfatizar o fato de
que o Metodismo mais antigo se dirigiu primeiramente aos pobres e marginalizados e
que, de fato, todo o teor das Escrituras desafia as pretensões da riqueza e do poder
humano e pede cuidados especiais e proteção aos pobres, viúvas e órfãos, prisioneiros e
outras pessoas marginalizadas e sem poder. Em 1894, Bresee tornou-se tão impelido
por um fardo para o ministério aos pobres que abandonou o Metodismo para trabalhar
em tempo integral em uma missão de Santidade que servia aos pobres no centro da
cidade de Los Angeles. Quando este arranjo não funcionou conforme ele esperava,
Bresee organizou a Igreja do Nazareno para ministrar “nos bairros negligenciados das
cidades e, onde quer que também possam ser encontrados lugares de desperdício”,
através de “missões nas cidades, cultos evangelísticos, visitação nas casas, cuidado dos
pobres e conforto aos moribundos” 367.
Dessa forma, a desilusão pessoal de Phineas Bresee com a busca de riqueza, sua
experiência do sofrimento dos pobres em uma área urbana explosiva, sua experiência
religiosa e a maneira como ele chegou a interpretá-la teologicamente, concorreram
para fazê-lo ficar cada vez mais insatisfeito com a crescente opulência de grande parte
do Metodismo, do final do século XIX. Isto, junto com seus compromissos
profundamente arraigados a uma forma avivalista e experimental do Cristianismo, que
ele acreditava estar se tornando cada vez menos característica do Metodismo, levou-o -
de alguma forma, e a contragosto - do Metodismo denominacional para o papel de
fundador de uma nova Igreja de "Santidade" independente. Sua visão na Igreja do
Nazareno era “voltar à primitiva simplicidade da Igreja do Novo Testamento, em
espírito e métodos, livrar-se da maquinaria pesada dos métodos mundanos de obter
dinheiro tanto na forma quanto cerimonialmente, e ter em seu lugar o batismo
pentecostal do Espírito Santo e fogo” 368. Phineas Bresee acreditava neste Metodismo
original descrito - na verdade, o Cristianismo original - e era sua intenção que a Igreja
do Nazareno fosse uma incorporação fiel de ambos 369.

BIBLIOGRAFIA

Carl Bangs, Phineas F. Breseee: His Life in Methodism, the Holiness Movement, and the Church of the
Nazarene - Phineas F. Breseee: Sua Vida no Metodismo, o Movimento de Santidade e a Igreja do
Nazareno. Kansas City, MO: Beacon Hill Press de Kansas City, 1995.

367
Ata da Igreja Local, “Meeting of the Congregation - Reunião da Congregação”, Los Angeles, CA (30 de outubro
de 1895), p. 3.
368
The Church of the Nazarene - A Igreja do Nazareno (panfleto), Los Angeles, CA (November, 1895), p. 3.
369
Para uma análise, do lugar de Bresee, entre uma variedade de “virgens” de Santidade, no final do século XIX, ver
Harold E. Raser, “Christianizing Christianity:’ The Holiness Movement as a Church, the Church, or No Church at
All? - 'Cristianismo Cristianizado': O Movimento de Santidade como Igreja, A Igreja ou Nenhuma Igreja, Afinal?",
Wesleyan Theological Journal - Jornal Teológico Weleyano 41.1 (2006), pp. 116-147.
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E. A. Girvin, Phineas F. Bresee: A Prince in Israel - Phineas F. Bresee: Um Príncipe em Israel. Kansas
City, MO: Nazarene, 1916.
Harold E. Raser, “Christianizing Christianity:’ The Holiness Movement as a Church, the Church, or
No Church at All? - 'Cristianismo Cristianizado': O Movimento de Santidade como Igreja, A Igreja
ou Nenhuma Igreja, Afinal?", Wesleyan Theological Journal - Jornal Teológico Weleyano 41.1
(2006), pp. 116-47.
Schneider, Gregory A. The Way Of The Cross Leads Home: The Domestication of American
Methodism - O Caminho da Cruz Conduz ao Lar: a Domesticação do Metodismo Americano.
Bloomington: Indiana University Press, 1993.

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