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Introdução

            Consequência do avivamento inglês do século XVII liderado por


John Wesley, George Whitefield entre outros, a Escola Dominical é
uma das ferramentas mais importantes das igrejas evangélicas no
mundo. Tem como seus principais objetivos desenvolver a
espiritualidade e o caráter cristão nos alunos e preparara-los para o
serviço de Jesus. O nome que está ligado a origem da Escola Dominical
é do Anglicano Robert Raikes (1736-1811), mas devemos mencionar
também a Metodista Anglicana Hanna Ball (1734-1792) que
desenvolveu um trabalho semelhante ao de Raikes alguns anos antes.
Ambos eram ingleses, e tinham em comum o contexto do caos social da
revolução industrial Inglesa. A princípio a Escola Dominical tinha o
propósito de alfabetizar crianças carentes que ficavam sem atividade
durante o domingo. A partir daí ela foi se desenvolvendo até os
modelos que temos atualmente.

Hanna Ball
            Hannah Ball Moore nasceu no dia 13 de março de 1734 em High
Wycombe, Inglaterra. Ela era filha de um fazendeiro. Ela nunca se
casou, mas viveu com a família e cuidava das crianças do irmão.
Quando John Wesley e outros pregadores metodistas visitaram High
Wycombe, em Bucks onde morava durante a maior parte de sua vida,
ela se sentiu atraída por seus ensinamentos. Ela aceitou a Cristo
através de um sermão de John Wesley no dia 8 de janeiro de 1765,
quando tinha 22 anos. O sermão foi sobre Mateus 15:28: “Disse Jesus:
Ó mulher, grande é a tua fé. Faça-se contigo como queres”. A partir
daquele dia ela se tornou uma grande batalhadora da fé. Após sua
conversão ela começou uma correspondência com John Wesley e eles
se tornaram amigos. Eles trocaram dezenas de cartas ao longo dos
anos. O testemunho de João Wesley ao trabalho de Hanna é eloquente.
Em muitas de suas cartas ele valoriza o trabalho por ela desenvolvido.

            Hannah tornou-se um dos principais membros da sociedade


Metodista em High Wycombe e incansavelmente ela visitava os pobres
e doentes. Em 1769, com 26 anos de idade, ela começou uma “classe”
para crianças que trabalhavam nas estalagens locais. Eles se
encontravam antes do culto de domingo para a Escola Dominical de
Estudos da Bíblia e às segundas-feiras para aprender ler e escrever. Por
esse motivo alguns consideram Hanna como a fundadora do
movimento da Escola Bíblica Dominical. Em uma carta em 1770,
Hanna relata sua experiência:
“As crianças se reúnem duas vezes por semana, aos domingos e segundas-
feiras. É um grupo meio selvagem, mas parece receptivo à instrução.
Trabalho entre eles com a ânsia de promover os interesses de Cristo.”
 Hannah morreu em 16 de agosto de 1792 e foi enterrada na igreja do
século XIII de São Pedro e São Paulo em Stokenchurch. Há uma escola
primária em High Wycombe com o nome de Hannah e a Igreja
Metodista de Sunnybank tem uma sala com seu nome também.
Robert Raikes
            Robert Raikes nasceu no dia14 de Setembro de 1735, em
Gloucester, Inglaterra, filho de Robert e Mary Raikes. Ele é conhecido
por muitos como quem originou o Movimento de Escola Dominical.
Anglicano, Raikes foi batizado na infância na Igreja Anglicana de Santa
Maria da Cripta. Tornou-se aprendiz de Jornalismo com seu pai que
era o dono do Diário de Gloucester. Quando seu pai faleceu, em 1757,
Raikes assumiu a editoria do jornal.

            Em 1780, Gloucester era uma das cidades importantes da


Inglaterra. Era um grande centro industrial no desenvolvimento da
indústria de tecelagem. A revolução industrial sacudia todo a
Inglaterra, inclusive Gloucester. As novas técnicas de produção
passaram a ser introduzidas especialmente na indústria de tecidos.
Muita gente migrava do campo e seguia para as cidades buscando
melhores condições de vida. Essa deslocamento de milhares de pessoas
gerou problemas sociais muito graves na Inglaterra. A vida não era. A
bebida tornou-se um meio de diversão para o povo em geral, dando
origem a milhares de viciados e como resultado, a criminalidade tomou
conta da cidade.

            Gloucester era uma cidade que vivia grandes contrastes: tinha
muitas igrejas mas estava entregue as delinquências. Tinha muita
riqueza, mas repleta de gente pobre, marginalizada e analfabeta. Para
piorar ainda mais a situação, as crianças da cidade estavam
abandonadas, viviam em bandos, sempre procurando brigas. Muitas
trabalhavam por várias horas do dia. Eram sujas, indisciplinadas, como
vimos no relato de Hanna Ball, praticavam furtos, estavam entregues
aos vícios e nada sabiam de Deus. Foi nesse contexto que surgiu a
Escola Dominical de Robert Raikes.

            Presenciando esse estado de decadência moral do povo, Raikes


tinha uma preocupação: melhorar o estado espiritual e social da
população, especialmente dos pobres e marginalizados pela sociedade.
Raikes resolveu criar uma escola gratuita para essas crianças de rua.
Raikes conseguiu uma equipe de quatro senhoras cristãs no bairro para
lecionar, recebendo um xelim e seis pence, cada uma. Ele recebeu
ajuda do Reverendo Thomas Stock, Ministro Anglicano, Raikes em
pouco tempo reuniu cem crianças, de seis aos doze ou quatorze anos,
nestas escolas dominicais. A primeira escola foi instalada na rua Saint
Catherine. Seu objetivo principal não era ensinar a Bíblia, mas
alfabetizar os alunos e ministrar aulas de religião com o propósito de
mudar o caos em que se encontrava a sociedade. O que Raikes buscava
era a transformação do caráter usando os princípios bíblicos.

Assim, a Escola Dominical se formou como um instituto bíblico


infantil. Raikes usava o jornal para divulgar as escolas e assumia
grande parte dos custos nos primeiros anos. Ela existia de forma
independente das igrejas, alfabetizando e ensinando Bíblia às crianças
carentes. Algumas crianças, como era de esperar, a princípio, resistiam
participar das aulas porque as suas roupas estavam muito sujas, mas
Raikes providenciou tudo de que eles precisavam, inclusive higiene
pessoal. O calendário original para as escolas, como escrito por Raikes
era:

“As crianças chegavam depois das 10h00 da manhã e ficam até o meio-dia,
elas então iam para casa e retornavam às 13h00, e depois de ler uma lição,
eram conduzidas para a Igreja. Depois da Igreja, tinham que se ocupar com
a repetição o catecismo até após às 17h00, e depois eram dispensadas, com
uma ordem de voltar para casa sem fazer qualquer barulho.”
 

Ganhavam pequenas recompensas, como livros, canetas, jogos, aqueles


que tivessem dominado a lição ou aqueles cujo comportamento
tivessem mostrado uma melhoria notável. Recebiam castigo aqueles de
mau comportamento, como era do costume pedagógico da época.

Depois de um período experimental, Raikes divulgou suas ideia e os


resultados em seu jornal, no dia 3 de Novembro de 1783, data em que
se comemora, na Inglaterra, o dia da Fundação da Escola Dominical.
Em 1784, eram impressionantes 250 mil alunos matriculados. A taxa
de criminalidade de Gloucester caiu, com o estabelecimento das escolas
dominicais de Raikes, de forma que em 1792 não houve um só caso
julgado pela comarca de Gloucester.

Houve, no entanto, uma forte oposição ao movimento de Raikes. A


escola dominical era considerada por alguns líderes religiosos como
um movimento “diabólico”, porque não era ligada ás Igrejas e era
dirigido por leigos, isto é, pessoas que não tinham formação religiosa.
O Arcebispo de Canterbury reuniu os bispos para tratar como deveriam
agir para exterminar o movimento. Chegou-se a pedir que o
Parlamento, em 1800, aprovasse um decreto para proibir o
funcionamento de escolas dominicais. Pensavam que este movimento
levaria à divisão da Igreja e que profanava “o dia do Senhor”. Tal
decreto nunca foi aprovado.

Em 1802, Raikes se aposentou, e, em 1811, após um ataque de coração,


veio a falecer. Seus alunos vieram ao funeral, na Igreja Anglicana de
Santa Maria do Filão e receberam da Sra. Raikes um xelim e uma fatia
de um grande bolo de ameixa cada um. Quando Raikes faleceu,
quatrocentos mil alunos estavam matriculados nas diversas escolas
dominicais britânicas. Nesse ano ocorreu a divisão em classes, o que
possibilitou a alfabetização de adultos. Até 1831, escolas dominicais na
Grã-Bretanha ensinavam semanalmente 1.250.000 crianças, cerca de
25% da população. Como essas escolas precederam a fundação das
primeiras escolas públicas para o público em geral, elas são vistas como
as precursoras do atual sistema escolar Inglês.

A Escola Bíblica Dominical no Brasil


            Em terras brasileiras a Escola dominical teve seu início em
meados do século XIX através dos Metodistas, Congregacionais e
Presbiterianos. Em 1836, o Reverendo Metodista Justin Spaulding
organizou no Rio de Janeiro, entre estrangeiros, uma congregação com
cerca de 40 pessoas e em junho do mesmo ano abriu uma Escola
Dominical com 30 alunos. Alguns destes alunos eram brasileiros, e os
ensinos ocorriam na sua própria língua conforme consta no relatório
enviado ao secretário correspondente da Sociedade Missionária da
Igreja Metodista. Episcopal datado de 01 de setembro de 1836:
Conseguimos organizar uma escola dominical, denominada Escola
Dominical Missionária Sul-Americana, auxiliar da União das Escolas
Dominicais da Igreja Metodista Episcopal… Mais de 40 crianças e jovens se
tornaram interessados nela (…). Está dividida em oito classes com quatro
professores e quatro professoras. Nós nos reunimos às 16:30 aos domingos.
Temos duas classes, uma fala inglês, a outra português.  Atualmente parecem
muito interessados e ansiosos por aprender. (DUNCAN A, 1984, P. 81-82)
 
O trabalho do missionário Metodista apesar de ter começado muito
bem, logo foi interrompido, a missão metodista, por diversas causas,
terminou as suas atividades no Brasil em 1841. Pouco tempo depois o
Reverendo Spaulding regressou aos Estados Unidos.
Outros missionários igualmente trouxeram a escola dominical ao Brasil
como Robert Reid Kalley (1809-1888), médico e pastor escocês e sua
esposa, Sarah Poulton Kalley (1825-1907) os dois Congregacionais. E
também o Reverendo Ashbel Green Simonton (1833-1867) que foi o
primeiro missionário presbiteriano a se estabelecer no Brasil em 12 de
agosto de 1859.

A Escola Dominical congregacional foi implantada pelo casal Kalley na


Mansão Gerheim, residência dos Kalley no distrito petropolitano de
Schweizaerthal bairro suíço em Petrópolis na tarde de 19 de agosto de
1855. Isto ocorreu com a permissão do embaixador americano Sr.
Webb, com quem o Dr. Kalley fez boa amizade. Na ocasião Sarah
Poulton Kalley leu a história do profeta Jonas, ensinou- lhes alguns
hinos e deram graças ao Senhor.

O reverendo Ashbel Green Simonton, missionário presbiteriano,


começou uma classe de Escola Dominical no Rio de Janeiro, em 22 de
abril de 1860. Os documentos utilizados com as cinco crianças
presentes, três americanas e duas alemãs, foram: A Bíblia, O Catecismo
de História Sagrada e o Progresso do Peregrino, de Bunyan.

Vale fazer menção aqui da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Teve


seu surgimento em junho de 1911, na cidade de Belém, estado do Pará,
através dos missionários Batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren. As
primeiras aulas da Escola Dominical da Assembleia de Deus foram
realizadas na casa de João Batista Carvalho na cidade de Belém, em
agosto de 1911. Algum tempo depois, em 1919, começa a ser publicado
o suplemento Estudos Dominicais, no Jornal Boa Semente, que são as
primeiras lições impressas para serem utilizadas pelos alunos da Escola
Dominical nas Assembleias de Deus.

Relevância Contemporânea
            Através da história podemos ver que a Escola Dominical teve seu
papel como agente transformador tanto na dimensão religiosa como
social. A razão de tal resultado está no fato de que a preocupação não
foi somente com o ensino bíblico, mas também na alfabetização. As
milhares de pessoas que frequentavam, em sua maioria crianças, eram
educadas nas matérias básicas e também no estudo religioso. Nosso
contexto atual é diferente. Mas ainda assim, precisamos refletir sobre
como influenciar nossa comunidade através da Educação Cristã. A
educação possui impacto em todas as áreas de nossa vida. Como seria
bom se pudéssemos ter mais cristãos Engenheiros, Advogados,
Biólogos, Físicos, Cientistas, etc. A educação cristã através da escola
Dominical pode e deve agir como motivadora de seus participantes a
buscarem novos desafios e conhecimento.

            No processo de ensino bíblico das Escolas Dominicais, as


dificuldades encontradas vão desde a falta de investimento, o preparo
do espaço adequado de ensino, passando por uma divulgação mínima e
a falta de capacitação dos professores que ministram as aulas. Diversas
igrejas tem perdido o sentido “dominical” e suas aulas são realizadas
em diferentes dias da semana, o que as vezes impossibilita a presença
de alguns participantes. Em outros casos suas aulas são substituídas
por diferentes atividades ou na pior das situações sequer a têm.

O ensino bíblico é de importância vital para a saúde espiritual da


Igreja. Vivemos um momento em que as verdades não são mais
absolutas e passam a ser relativas, teorias transitórias, fragmentação
ética, etc. Sendo assim, dentro do ambiente da Escola Dominical, o
cristão tem a oportunidade de ser instruído para argumentar e
combater certos conceitos que são contra a fé em Cristo. A escola
dominical foi, é e sempre será uma ferramenta indispensável para o
crescimento saudável da Igreja de Cristo e para o desenvolvimento
intelectual e espiritual de seus membros.

    
Referências:
Moses, Montrose J. (1907). Children’s Books and Reading. New York:
Mitchell Kennerle
RESENDE, Vieira Wesley – Manual Teológico da EBD
http://www.mymethodisthistory.org.uk
SIMONTON, Ashbel Green. O Diário de Simonton: 1852-1866. Trad. D.
R. de Moraes Barros. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2002.
Revista Ensaios Teológicos – Vol. 02 – Nº 02 – Dez/2016 – Faculdade
Batista Pioneira – ISSN 2447-4878

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