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Questões prova

ZÉTETICA E DOGMÁTICA

1- Tércio Sampaio Ferraz Júnior analisa o fenômeno jurídico de maneira


sistêmica. Para ele, a ciência do direito deve ser percebida como um pensamento
tecnológico que dogmatiza os pontos de partida e problematiza a sua aplicabilidade
na solução dos conflitos. A ciência jurídica, por conseguinte, contém questões
dogmáticas e zetéticas. Nesse sentido, quando Ferraz Junior afirma que o direito,
como objeto, comporta a investigação filosófica, metodológica e lógica - formal das
normas, ele entende que, “desse ponto de vista, o teórico se ocupa com os
pressupostos últimos e condicionantes bem como com a crítica dos fundamentos
formais e materiais do fenômeno jurídico e do seu conhecimento”.

Essa definição, encontrada é classificada pelo autor como?

zetética analítica pura.

2- Tercio Sampaio Ferraz Jr. afirma: A questão da validade jurídica das normas
e do ordenamento é uma questão zetética, portanto aberta. Do ângulo dogmático a
questão é fechada. Por isso, sua formulação é diferente. Continua o autor: (...) Os
critérios dogmáticos de reconhecimento da validade não são os mesmos da
vigência. (...) Vigência e eficácia são qualidades distintas. (Tercio Sampaio Ferraz
Jr., Introdução ao Estudo do Direito, 8a edição, São Paulo, Atlas, 2015, pp. 158 e
159). Várias questões relacionadas ao “conceito de Direito”, à “dogmática das fontes
do Direito” e à “eficácia das leis” decorrem desses conceitos.

Responda: fundamentadamente:

1- O que é “dogmática jurídica”?


2- Do ponto de vista dogmático, o que é validade de uma norma?

3-O que é vigência de uma norma?

4-O que é “eficácia” de uma norma?

Resposta:

1) Dogmática é o estudo da norma jurídica, isto é, daquilo que há de positivo no


Direito. Ostenta certo caráter pedagógico, na medida em que visa preservar a
tradição jurídica e institucionalizar conceitos. Há quem atribua à dogmática jurídica
parcela de responsabilidade pela crise no ensino jurídico, uma vez que estimularia,
desde os bancos escolares, a reprodução irrefletida de conceitos por parte dos
operadores do Direito. Para outros, a crítica não procede. Não haveria como estudar
Direito sem um mínimo de consenso acerca de conceitos elementares como
capacidade civil, ilicitude, etc. A dogmática opõe-se, em certa medida, à zetética,
para a qual não há verdades e tudo deve ser desconstruído. Enquanto a primeira se
preocupa com o que "deve ser", a segunda indaga "o que é".

2) Do ponto de vista estritamente dogmático, validade diz com a compatibilidade de


uma norma com as normas que lhe são superiores, bem como a observância do
processo legislativo estabelecido na Constituição Federal. Há, contudo, quem,
desligando-se da dogmática, entenda que o juízo de validade de uma norma não
prescinde do exame de outros fatores, como sua compatibilidade com a moral, por
exemplo.

3) Vigência, por outro lado, significa obrigatoriedade da norma ou, em outras


palavras, a aptidão a produzir os efeitos que lhe são próprios. A Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro trata do tema em seu art. 1º, estabelecendo que, salvo
disposição em contrário, a lei começa a vigorar 45 dias após sua publicação oficial.
Ademais, a lei que não seja temporária só deixará de ter vigor quando revogada ou
modificada. Registre-se que, mesmo após ser revogada, a lei pode produzir efeitos
com relação aos fatos ocorridos durante a sua vigência. Tome-se o exemplo do
Código Civil de 1916, que segue regulando as sucessões abertas sob sua égide.

4) Eficácia, a seu turno, tem relação direta com os efeitos produzidos pela norma no
mundo fático. A norma jurídica eficaz é observada pelos seus destinatários e, caso
não o seja, deve ser dotada de meios para que isso ocorra coercitivamente.
Exemplo de norma ineficaz podia ser verificado no revogado dispositivo do Código
Penal que criminalizava o adultério. Desde muito antes de sua revogação, o artigo
não era aplicado pelos Tribunais pátrios.

3- Ambas as teorias, tanto a zetética quanto a dogmática, bebem de fontes


filosóficas para fomentar seus enfoques na ciência do direito.  Sendo assim,
defina o que é zetética e dogmática?

Zetética e dogmática são dois diferentes enfoques teóricos a serem utilizados no


estudo do Direito. Um acentua o aspecto de pergunta do problema, mantendo
abertas à dúvida suas premissas; já o outro aborda o ângulo de resposta,
estabelecendo pontos de partida e buscando um curso de ação.
JUSPOSITIVISMO E JUSNATURALISMO

1-“O marco filosófico do novo direito constitucional é o pós-positivismo. O debate


acerca de sua caracterização situa-se na confluência das duas grandes correntes do
pensamento que oferecem paradigmas opostos para o Direito: o jusnaturalismo e o
positivismo. Opostos, mas, por vezes, singularmente complementares. A quadra
atual é assinalada pela superação (...) dos modelos puros por um conjunto difuso e
abrangente de ideias, agrupadas sob o rótulo genérico de pós-positivismo."
(BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009,
p. 247)

Acerca do paradigma pós-positivista no Direito Constitucional, como esta se


caracteriza?

Caracteriza-se, entre outros aspectos, pelo reconhecimento da normatividade dos


princípios e de sua diferença qualitativa em relação às regras.

2-Desenvolva as características das correntes modernas do pensamento


jusnaturalista e positivista, a partir de uma reflexão crítica acompanhada de uma
contextualização histórica dos seus respectivos momentos de produção.

O jusnaturalismo é uma corrente de pensamento sobre o direito que foi dominante


até o século XIX, desenvolvendo uma doutrina que tem a intenção de encontrar a
origem e o fim do direito na Natureza. Dessa forma, existe nessa corrente de
pensamento a crença na existência e no valor de regras não escritas, superiores aos
homens e grupos historicamente situados, que determinam o quadro de legitimidade
das regras jurídicas positivas criadas por tais homens. Tais regras superiores não
escritas comporiam o direito natural. Uma expressão típica e datada do uso dessa
noção de direito natural é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de
1789, na França. O direito natural, para os pensadores jusnaturalistas contratualistas
modernos, não seria empiricamente observável, mas seria fruto de uma especulação
dedutiva da razão. Dessa forma, ele é deduzido racionalmente, a partir da existência
de um momento hipotético e a-histórico: o estado de natureza. Fazendo uma
abordagem crítica, acompanhada de uma contextualização histórica, podemos
ressaltar que, com efeito, a descrição que os autores jusnaturalistas fazem do
estado de natureza não é nada hipotética e a-histórica: o funcionamento deste
estado corresponde às condições iniciais de funcionamento de uma economia
capitalista. Isso significa dizer que o estado de natureza corresponde ao estado
próprio das sociedades capitalistas emergentes. Tal doutrina corresponde às
necessidades de passagem de um direito fundado sob a autoridade última de Deus,
para um direito que se afirma fruto da razão e que, dessa forma, o poder político
deve respeitar. Tendo em vista que o período Absolutista é uma composição de
forças, na qual a burguesia emergente não é hegemônica, nem exerce por seus
quadros a representação política, observa-se como a corrente jusnaturalista
corresponde a uma teoria funcional para a crítica da sociedade feudal e de seu
poder institucional, visando a uma transformação dessa estrutura social. O
positivismo é uma corrente de pensamento emergente no século XIX que considera
o direito como sendo um sistema hierarquizado de normas editado pelo Estado.
Dessa forma, o direito é fruto tão somente da decisão do Estado. Qualquer
referência à abordagem do direito que não esteja centrada na norma jurídica, na sua
estrutura (sistema jurídico) e na sua competência de edição (Estado) constitui-se
como um resíduo metafísico centrado em Deus ou na Razão. Discussões sobre
critérios de um possível direito justo para além do direito legalmente existente e
empiricamente observável são vistas como metafísicas e estranhas a uma
abordagem científica do direito. Entretanto, essa visão de um direito resumido às leis
e aos códigos, que deve ser aplicado a partir de uma suposta neutralidade dos
operadores do direito que exercem tal função (magistrados), esconde
ideologicamente o caráter de cristalização de forças em um dado momento que é
materializado pela norma jurídica. Dessa forma, muito mais do que um bloco
monolítico, o sistema de normas jurídicas é perpassado por contradições que podem
ser mobilizadas pelos atores sociais. Dessa forma, é no meio dessas contradições
que se situa o ato de julgar. Escondendo ideologicamente essas características,
observamos que, historicamente, a escola da exegese faz-se funcional para uma
concepção de direito numa sociedade que tem a burguesia recém-consolidada como
hegemônica no sistema sociopolítico. O estudo do direito e a concepção de estrutura
desse direito passam pela demarcação do sistema jurídico legalmente vigente,
proibindo-se por definição qualquer tipo de ingerência no domínio dos valores. A
corrente positivista sustenta, dessa forma, uma postura jurídica neutra no plano
político ou moral.

3- A principal tese sustentada pelo paradigma do positivismo jurídico é a validade da


norma jurídica, independentemente de um juízo moral que se possa fazer sobre o
seu conteúdo. No entanto, um dos mais influentes filósofos do direito juspositivista,
Herbert Hart, no seu pós-escrito ao livro O Conceito de Direito, sustenta a
possibilidade de um positivismo brando, eventualmente chamado de positivismo
inclusivo ou soft positivism.
 
Segundo o autor na obra em referência, o conceito de positivismo brando é?

A possibilidade de que a norma de reconhecimento de um ordenamento jurídico


incorpore, como critério de validade jurídica, a obediência a princípios morais ou
valores substantivos.

4- Ao contrário do que defende a corrente jusnaturalista, a corrente


juspositivista acredita que só pode existir o direito e a justiça através de
normas positivadas, ou seja, emanadas pelo Estado com o poder coercivo,
todas as normas escritas pelos homens por intermédio do Estado. O direito
positivo é aquele que o Estado impõe à coletividade, e que deve estar
adaptado, de certa forma, aos princípios fundamentais do direito natural.
Quais são as suas principais diferenças?

Jusnaturalismo - leis superiores, direito como produto de ideais (metafísico),


valores como pressuposto e existência de leis naturais. E o Juspositivismo-
leis impostas, leis como produto da ação humana (empírico-cultural), o
próprio ordenamento positivo como pressuposto e existência de leis formais.

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