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TRÊS CRITÉRIOS DE VALORAÇÃO, A INDEPÊNDENCIA ENTRE O TRÊS CRITÉRIOS, E POSSÍVEIS

CONFUSÕES ENTRE OS TRÊS CRITÉRIOS

Justiça: Bobbio argumentou que a justiça é um princípio fundamental do direito e está


relacionada à dimensão moral e ética das normas jurídicas. Ele enfatizou que a justiça é um
ideal a ser buscado no ordenamento jurídico, e que as normas legais devem ser justas para
serem consideradas legítimas. Bobbio considerava que a justiça era um critério normativo que
estava acima da validade e eficácia das normas jurídicas.

Validade: Para Bobbio, a validade é o critério formal pelo qual as normas são consideradas
legalmente corretas. Normas válidas são aquelas que foram criadas de acordo com os
procedimentos e requisitos estabelecidos pelo sistema legal, como a Constituição e as leis
vigentes. A validade é uma condição necessária para que as normas sejam consideradas parte
do ordenamento jurídico.

Eficácia: A eficácia das normas se refere à sua capacidade de produzir efeitos na prática social.
Uma norma pode ser válida, mas não eficaz se não for aplicada ou não for cumprida na prática.
Bobbio argumentava que a eficácia das normas é uma dimensão importante do ordenamento
jurídico, pois as normas precisam ser efetivas na sociedade para cumprir seu propósito.

O texto aborda os três critérios de valoração de uma norma jurídica: justiça, validade e
eficácia.

O autor destaca que esses critérios são independentes entre si e podem ser avaliados
separadamente.

O problema da justiça diz respeito à correspondência entre a norma e os valores últimos que
inspiram um determinado ordenamento jurídico.

A validade é o problema da existência da norma como tal, independente de seu valor de


justiça, e requer investigações empírico-racionais para verificar se a norma foi emanada por
uma autoridade legítima, se não foi ab-rogada por outra norma posterior e se é compatível
com outras normas do sistema jurídico em questão.

O autor também ilustra a independência desses critérios com seis proposições. Primeiro, uma
norma pode ser considerada justa, mas não ser válida, como no caso do direito natural em que
normas derivadas de princípios universais de justiça podem ser consideradas justas, mas só se
tornam válidas quando são acolhidas por um sistema de direito positivo. Segundo, uma norma
pode ser válida, mas não ser justa, como no caso de leis que admitem a escravidão ou leis
raciais consideradas injustas, mas que ainda assim são válidas. Terceiro, uma norma pode ser
válida, mas não ser eficaz, como no caso das leis de proibição de bebidas alcoólicas nos
Estados Unidos que não foram eficazes em reduzir o consumo de bebidas alcoólicas. Quarto,
uma norma pode ser eficaz, mas não ser válida, como no caso de normas sociais, como as
regras de boa educação, que são seguidas espontaneamente, mas não fazem parte de um
sistema jurídico.

O autor também destaca que a filosofia do direito aborda três problemas fundamentais
relacionados à justiça, à validade e à eficácia, e que esses problemas delimitam campos
específicos de investigação para o filósofo do direito.

O problema da justiça envolve os valores supremos aos quais o direito tende e é estudado
como teoria da justiça. O problema da validade diz respeito à existência da norma enquanto
tal e é investigado empiricamente para verificar sua legitimidade. O problema da eficácia trata
da efetividade da norma na prática e pode ser estudado em relação à sua aplicação e
cumprimento.

Em resumo, o texto aborda os três critérios de valoração de uma norma jurídica: justiça,
validade e eficácia, destacando que são critérios independentes entre si e podem ser avaliados
separadamente. O autor ilustra essa independência com seis proposições e destaca a
importância da filosofia do direito na abordagem desses problemas fundamentais.

DIREITO NATURAL E POSITIVISMO

O texto aborda duas correntes filosóficas do pensamento jurídico: o direito natural e o


positivismo jurídico. O direito natural é definido como aquele que considera que uma lei só é
válida se estiver de acordo com a justiça. Gustav Radbruch é citado como defensor dessa
corrente, argumentando que leis que negam a justiça são inválidas e devem ser refutadas por
juristas. No entanto, o texto argumenta que a relação entre justiça e direito não é uma
realidade de fato, e que não há consenso entre os seguidores do direito natural sobre o que é
considerado justo ou injusto, tornando questionável a pretensão do jusnaturalismo de
estabelecer critérios universais de justiça.

Em contrapartida, o positivismo jurídico é apresentado como a doutrina oposta ao


jusnaturalismo, que reduz a justiça à validade das normas. Para os positivistas, uma norma é
considerada justa apenas pelo fato de ser válida, ou seja, estar de acordo com as regras e
procedimentos estabelecidos pelo sistema jurídico. Filósofos positivistas do direito, como Levi
e Kelsen, são mencionados como exemplos de pensadores que não sustentam uma visão
extremada do positivismo, reconhecendo a necessidade de distinguir entre o direito positivo e
os ideais sociais que podem levar à modificação do direito.

O texto também apresenta a doutrina política de Thomas Hobbes como uma base para o
positivismo jurídico, em que a lei positiva estabelecida pelo soberano é o único critério para
determinar o justo e o injusto. No estado de natureza hobbesiano, onde não há leis que
determinem a distribuição dos direitos, todos têm direito sobre tudo, o que leva ao conflito.
Para sair desse estado, os homens fazem um pacto entre si para estabelecer um Estado civil e
transferir seus direitos ao soberano, que passa a deter o poder de decisão sobre o que é justo
e injusto.

Em resumo, o texto apresenta a dicotomia entre o direito natural, que defende a justiça como
critério para a validade das leis, e o positivismo jurídico, que reduz a justiça à validade das
normas estabelecidas pelo sistema jurídico. Aponta-se que não há consenso sobre o que é
justo ou injusto, tornando questionável a pretensão do direito natural de estabelecer critérios
universais de justiça. O texto também destaca que filósofos positivistas, como Levi e Kelsen,
reconhecem a necessidade de distinguir entre o direito positivo e os ideais sociais. Por fim, é
mencionada a doutrina política de Hobbes como uma base para o positivismo jurídico, em que
a lei positiva estabelecida pelo soberano é o critério para o justo e o injusto.

REALISMO JURÍDICO

O realismo jurídico é um movimento histórico que surge no final do século XIX como uma
reação antijusnaturalista e antiformalista, em resposta à defasagem entre a lei escrita nos
códigos e a realidade social pós-revolução industrial. A eficácia do direito é destacada em
detrimento da justiça ou da validade. A Escola histórica do direito, representada por juristas
como Savigny e Puchta, busca combater o racionalismo abstrato do jusnaturalismo,
concebendo o direito como um fenômeno histórico e social que nasce espontaneamente do
povo, em contraposição a um direito universalmente válido deduzido de uma natureza
humana sempre igual. Nessa perspectiva, o direito consuetudinário é considerado como fonte
primária do direito, expressão genuína do sentimento jurídico popular em confronto com o
direito imposto pela vontade do grupo dominante e aqueles elaborados pelos técnicos. Outra
corrente do realismo jurídico é representada pela concepção sociológica do direito como um
todo, que evoca a eficácia do direito em contraste com sua validade formal. Essa nova
concepção surge como resultado da defasagem entre a lei escrita nos códigos e a realidade
social pós-revolução industrial, e destaca a ênfase na eficácia do direito em detrimento de sua
justiça ou validade.

Em resumo, a concepção sociológica do direito surge como uma reação antijusnaturalista e


antiformalista no século XIX, destacando a eficácia do direito em contraposição à justiça ou à
validade, e valorizando o direito consuetudinário como fonte primária do direito. Essa
concepção representa uma mudança de perspectiva no estudo do direito, que busca
compreender o direito como um fenômeno histórico e social que se forma e se transforma
na realidade social.

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